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Transformação de energia na célula As células necessitam de um constante suprimento de energia para gerar e manter a ordem biológica que as mantém vivas. Essa energia provém da energia das ligações químicas das moléculas de alimento, por exemplo, dos carboidratos (açúcares), as quais servem de combustível para as células. As plantas produzem seus próprios açúcares a partir do CO2 (dióxido de carbono) pela fotossíntese. Os animais obtêm os açúcares e outras moléculas alimentando-se de outros organismos. No entanto, o processo pelo qual esses açúcares são metabolizados para gerar energia é muito semelhante nos animais e nas plantas. Em ambos os casos, as células que formam o organismo obtém energia útil a partir da energia das ligações químicas contidas, por exemplo, nos açúcares, quando a molécula de açúcar é quebrada e oxidada a CO2 e H2O (água). As células utilizam não diretamente a energia liberada destes compostos, mas utilizam um composto intermediário, a adenosina trifosfato (ATP), o qual é produzido durante o catabolismo (“quebra” de compostos como os açúcares resultando na geração de energia utilizável para a célula, ou seja, produzindo ATP). O ATP quando hidrolisado libera uma grande quantidade de energia, para que assim várias reações enzimáticas na célula possam ocorrer. O ATP é uma molécula instável e facilmente utilizada, pois as ATPases (enzima que rompe a molécula de ATP) são abundantes na célula. Cerca de 10 9 moléculas de ATP são utilizados na célula por segundo, assim, entre 1-2 minutos, todo o ATP celular é renovado. Outras moléculas como os ácidos graxos e as proteínas também podem servir de fonte de energia se forem convergidas pelas vias enzimáticas apropriadas. As proteínas, os lipídeos e os carboidratos que compõem a maior parte do alimento que consumimos devem ser antes quebrados em moléculas menores para que nossas células possam utilizá-los para a geração de energia. Figura 1. A, Fontes de energia para as células. B, Estrutura da molécula de ATP. Nos animais, os ácidos graxos são, do ponto de vista quantitativo, uma fonte energética mais importante do que os carboidratos. Enquanto uma molécula-grama (mol) de glicose gera como resultado líquido cerca de 30 mols de ATP, uma de ácido palmítico (um ácido graxo) gera 126 mols de ATP. Um homem adulto tem energia armazenada na forma de glicogênio suficiente apenas para um dia, mas gordura (ácidos graxos) suficiente para fornecer energia durante 1 mês. Quando o organismo está em repouso, as células usam mais glicose, proveniente do glicogênio, prém, durante o exercício físico, há mobilização os ácidos graxos depositados nas gorduras (na forma de triacilgliceróis, nas células adiposas). Em condições aeróbias, ou seja, na presença de O2, o catabolismo dos carboidratos inicia no citosol (glicólise) e termina na mitocôndria (ciclo de Krebs e cadeia respiratória). É importante ressaltar que o NADH e o FADH2 são produzidos principalmente pelo ciclo de Krebs. O NADH e o FADH2 são coenzimas reduzidas importantes para a geração de energia utilizável, pois doam seus elétrons para a cadeia respiratória, que tem como aceptor final de elétrons o O2, resultando na produção de ATP, como veremos adiante. Figura 2. Resumo das reações do catabolismo da glicose que ocorrem durante condições aeróbias. Em condições anaeróbias, ou seja, quando não há a presença de O2, ocorre a glicólise no citosol, mas o produto da glicólise (piruvato) não “entra” na mitocôndria para completar o seu catabolismo. Nas bactérias e no músculo estriado esquelético durante o exercício físico, o piruvato é metabolizado a ácido lático (lactato), em um processo denominado de fermentação lática. Já em leveduras, o piruvato é metabolizado a etanol, em um processo denominado de fermentação alcóolica. Estes processos de fermentação, também conhecidos como glicólise anaeróbia, produzem como resultado líquido somente 2 moléculas de ATP para cada molécula de glicose metabolizada, enquanto que a completa oxidação da glicose (pelo metabolismo oxidativo, durante condições aeróbias) fornece um ganho líquido de cerca de 30 ATPs. Desta forma, a presença das mitocôndrias nas células torna o processo de obtenção de energia muito mais eficiente. Figura 3. Resumo das reações do catabolismo da glicose (fermentação) que ocorrem durante condições anaeróbias. Exemplo: a partir dos carboidratos Não somente as mitocôndrias participam deste processo de obtenção de energia. Nos vegetais, os cloroplastos são importantes organelas que utilizam a energia solar para a geração de seus próprios açúcares, que serão metabolizados via glicólise no citosol e ciclo de Krebs e respiração na mitocôndria para a geração de ATP. Os peroxissomos participam da degradação dos ácidos graxos para a obtenção de energia em células animais e vegetais. Os peroxissomos também têm importantes funções nas células vegetais, participando da fotorrespiração em algumas plantas e da formação do glioxalato em sementes e plantas de oleaginosas. Este conjunto de atividades metabólicas da célula relacionadas com a transformação de energia é denominado de metabolismo energético. A seguir comentaremos mais aspectos sobre esses processos tão importantes para a manutenção da vida no planeta, e sobre as organelas que participam nestes processos. Mitocôndrias Morfologia mitocondrial As mitocôndrias estão presentes em quase todas as células eucarióticas - em plantas, animais e na maioria dos microrganismos eucarióticos. A maior parte do ATP celular é produzido nestas organelas. Sem elas, os eucariotos atuais seriam dependentes do processo relativamente ineficiente de glicólise anaeróbia para a produção de seu ATP e parece improvável que organismos multicelulares poderiam ter surgido dessa maneira. A mitocôndria está delimitada por duas membranas, a membrana externa e a membrana interna; entre ambas é encontrado um espaço denominado espaço intermembranoso. A membrana externa contém proteínas de transporte denominadas porinas. Essa proteína forma canais aquosos através da bicamada lipídica da membrana mitocondrial externa, tornando-a assim permeável a todas as moléculas de até 5 KDa. A membrana interna é formada por pregas que se invaginam para o interior da matriz mitocondrial, denominadas cristas mitocondriais. Ainda, a membrana interna delimita a matriz mitocondrial, um componente solúvel, onde são encontradas principalmente as enzimas responsáveis pelo ciclo de Krebs, pela β-oxidação e pela oxidação de aminoácidos, além do DNA mitocondrial. A membrana interna é impermeável à passagem de íons e à maioria de pequenas moléculas, exceto para as moléculas que possuem proteínas que realizam seu transporte para a matriz mitocondrial, como por exemplo, o piruvato (produto da glicólise que ocorre no citosol). Na membrana interna também estão localizados os cinco complexos enzimáticos responsáveis pela produção de energia, denominados de cadeia respiratória (complexos I-V), além dos carreadores móveis coenzima Q e citocromo c. Os complexos I-IV, juntamente com os carreadores móveis, podem ser denominados de cadeia transportadora de elétrons, enquanto que o complexo V (também conhecido como ATP sintase) é o responsável pela produção de ATP propriamente dita. Como o ATP é produzido veremos no tópico “Fisiologia mitocondrial”. Figura 4. A, Desenho esquemático da morfologiamitocondrial. B, Ultraestrutura da mitocôndria, observada em microscopia eletrônica de transmissão. A matriz mitocondrial, a porção “interna” da mitocôndria, é um componente solúvel onde são encontradas principalmente as enzimas responsáveis pelo ciclo de Krebs, pela β-oxidação e pela oxidação de aminoácidos, além do DNA mitocondrial e ribossomos que realizam a produção de algumas proteínas mitocondriais, que são codificadas pelo DNA mitocondrial. O DNA mitocondrial é uma molécula circular, que possui 37 genes que codificam para RNA e 13 genes que codificam para proteínas da cadeia respiratória mitocondrial. O DNA mitocondrial é de herança materna, já que somente as mitocôndrias maternas são herdadas. A maioria das proteínas mitocondriais é sintetizada a partir do genoma nuclear, sendo produzidas nos ribossomos citoplasmáticos. Estas proteínas são enviadas para a mitocôndria posteriormente, que são transportadas através da membrana mitocondrial externa e interna por proteínas translocadoras. As mitocôndrias são organelas que podem alterar sua forma de acordo com as necessidades energéticas da célula, de acordo com os processos de fusão e fissão mitocondrial. O processo de fusão mitocondrial consiste na união de duas ou mais mitocôndrias formando uma rede mitocondrial, a qual é caracterizada por mitocôndrias maiores e alongadas. Já o processo de fissão consiste na divisão mitocondrial, por exemplo, formando duas mitocôndrias a partir de uma, e é caracterizado por mitocôndrias menores e arredondadas. Desta forma, em um tecido podemos encontrar mitocôndrias de diferentes formas e tamanhos (Figura 6). Figura 5. Fusão e fissão da mitocôndria. Figura 6. Observar as mitocôndrias com diferentes morfologias. Devido à sua função, as mitocôndrias são abundantes em células que possuem alta demanda energética, ou seja, que necessitam de grandes quantidades de ATP, como por exemplo, no tecido muscular, nos espermatozoides e no tecido nervoso. Figura 7. A, Desenho esquemático do tecido muscular cardíaco, com muitas mitocôndrias. B, Desenho esquemático da cauda de um espermatozoide, o qual necessita grande quantidade de energia para o movimento flagelar. C, Fotomicrografia de tecido muscular estriado esquelético, com grande quantidade de mitocôndrias. Fisiologia mitocondrial O catabolismo dos principais substratos energéticos, glicose, aminoácidos, ácidos graxos etc., gera as coenzimas ricas em energia, NADH e FADH2, principalmente através do ciclo de Krebs. O NADH e o FADH2 podem doar um par de elétrons para o complexo I ou II, respectivamente. Após esta entrada de elétrons através dos complexos I ou II, os elétrons seguem pela cadeia transportadora de elétrons de acordo com o potencial de oxidação/redução das proteínas presentes nesta cadeia (potencial de oxidação/redução é a tendência de uma espécie química em adquirir elétrons). Desta forma, após passarem pelo complexo I ou II, os elétrons seguem para a coenzima Q, complexo III, citocromo c e complexo IV, o qual reduz o O2, que é convertido em H2O, liberando CO2. Desta forma, dizemos que o O2 é o aceptor final de elétrons na cadeia respiratória mitocondrial. O processo de transferência de elétrons na cadeia transportadora de elétrons encontra-se acoplado à translocação simultânea de prótons pelos complexos desta cadeia, que bombeiam prótons a partir da matriz mitocondrial para o espaço intermembranoso, criando um gradiente de prótons. Estes prótons retornam à matriz mitocondrial através da ATP sintase, que forma o ATP a partir de ADP e fosfato inorgânico. Para melhor entender este processo, veja o seguinte link: http://profdorival.com.br/downloads/files/Cadeia%20Respiratoria.swf, ou observe a animação “Cadeia transportadora de elétrons”. Figura 8. Cadeia transportadora de elétrons e produção de ATP. Cloroplastos Morfologia Os cloroplastos são organelas encontradas somente em células eucariontes vegetais. Estas organelas são as responsáveis pela fotossíntese e são limitadas por dupla membrana. Esta dupla membrana pode ser chamada também de envelope do cloroplasto. O espaço existente entre as duas membranas é denominado espaço intermembranoso. A membrana externa é altamente permeável a metabólitos com baixo peso molecular e a membrana interna é impermeável a muitas substâncias. O transporte dessas substâncias ocorre mediante a presença de transportadores de membrana específicos. As duas membranas são totalmente permeáveis ao CO2, substrato para a síntese de carboidratos durante a fotossíntese. A membrana interna delimita o interior do cloroplasto, denominado de estroma. O estroma contém diversas enzimas solúveis, grãos de amido, ribossomos, moléculas de DNA circular e RNA. Suspensos no estroma encontram-se pilhas de pequenas bolsas achatadas, os tilacoides. A membrana do tilacoide delimita um espaço interno denominado luz ou espaço do tilacoide. Um número variável de tilacoides empilhados forma o granum e o conjunto de granum de um cloroplasto é denominado de grana. Figura 10. A, Desenho esquemático da estrutura dos cloroplastos. B, Fotomicrografia de um cloroplasto. As membranas dos tilacoides possuem pigmentos responsáveis pela absorção da luz. As plantas apresentam clorofilas a e b, cuja estrutura é semelhante e apresentam um anel de porfirina tetrapirrólico com um íon magnésio e uma cadeia longa chamada de fitol. A clorofila contém uma série de duplas ligações que absorvem a energia luminosa principalmente nos comprimentos de onda do violeta ao azul e também do vermelho. Além dos pigmentos, as membranas dos tilacoides também possuem proteínas inseridas: o complexo ATP sintase, o fotossistema I (FSI), o fotossistema II (FSII), citocromo, plastoquinonas, proteínas ferro-enxofre e a RuBisCo. Todas essas proteínas são essenciais para a ocorrência das reações da fotossíntese. O cloroplasto, assim como as mitocôndrias, possuem DNA na forma circular. Este DNA codifica cerca de 120 genes para RNA e 40 genes para proteínas. A maioria das proteínas do cloroplasto é sintetizada a partir do genoma nuclear. Assim como as mitocôndrias, os cloroplastos possuem proteínas translocadoras na membrana externa e na membrana interna para que estas proteínas sejam transportadas para o interior do cloroplasto. Todos os tipos de plastos parecem estar relacionados. Em muito casos pode ocorrer a transformação de um tipo em outro e todos são derivados de plastídeos muito pequenos, indiferenciados e incolores, denominados de proplastos ou proplastídios. A figura abaixo representa a diferenciação de plastos, a partir do proplasto, em plantas cultivadas na presença e na ausência de luz. A conversão de um plastídeo em outro é um processo muito frequente. Por exemplo, os amiloplastos podem se transformar em cloroplastos, como acontece com a batata, que, após alguns dias de luminosidade, vai adquirindo cor verde à medida que os amiloplastos passam por modificações estruturais. Figura 11. Desenvolvimento dos diferentes tipos de plastos a partir de proplastos. Os leucoplastos são plastos especializados no armazenamento de substâncias, como o amido (amiloplastos), óleos (oleoplastos ou elaioplastos), proteínas (proteinoplastos ou proteoplastos). Figura 12. Fotomicrografia de um amiloplasto. Fotossíntese A fotossíntese é uma complexa cadeia de reações, realizada através da energialuminosa absorvida por pigmentos específicos como a clorofila, que resulta na síntese de compostos orgânicos (açúcares) a partir de CO2 e H2O. Todos os demais compostos, essenciais para a estrutura e metabolismo celular da planta são produzidos a partir desses compostos resultantes da fotossíntese. Assim, todos os organismos dependem do processo fotossintético, tanto para a obtenção dos seus componentes estruturais como para a obtenção da energia. Sem a fotossíntese, a vida na biosfera cessaria por completo. As clorofilas constituem unidades funcionais dos fotossistemas. Cada fotossistema é composto por um centro de reação e um complexo antena. O centro de reação é formado por unidades especializadas em transferir elétrons e por um par de moléculas de clorofila a. O complexo antena é formado por moléculas de clorofila e carotenóides. O fotossistema I possui um par especial de moléculas de clorofila a que absorvem luz na faixa dos 700nm, por isso, a clorofila desse fotossistema é chamada de P700. Já o fotossistema II possui um par de clorofilas a que absorvem luz na faixa dos 680nm, sendo denominado, portanto de P680. As reações que ocorrem durante a fotossíntese podem ser divididas em duas fases, como resumido na figura abaixo e descrito a seguir. Figura 13. Resumo das etapas que ocorrem durante a fotossíntese. -Reações da cadeia transportadora de elétrons (etapa fotoquímica): transforma energia luminosa em energia química, na forma de NADPH e ATP, com produção de O2. A captação de energia luminosa é realizado pelos pigmentos existentes no complexo antena, como a clorofila. A luz absorvida pelo fotossistema I provoca a transferência de um par de elétrons da clorofila para a ferrodoxina. A ferrodoxina transfere os elétrons até o NADP + através da NADP + redutase, reduzindo o NADP + a NADPH. Essa perda de elétrons da clorofila presente no fotossistema I permite que ela ganhe novamente elétrons, que provém do fotossistema II, que também está sendo energizado pela luz. Os elétrons fluem do fotossistema II até o fotossistema I por meio de uma cadeia transportadora de elétrons, gerando ATP no processo. Vamos observar como ocorre este processo: Os elétrons provenientes do fotossistema II (devido à sua excitação pela luz) reduzem a plastoquinona, que “entrega” os elétrons para o citocromo, que além de transferir os elétrons para a plastocianina, bombeia prótons para o interior (luz) do tilacoide. Os elétrons da plastocianina seguem para o fotossistema I, o qual reduz a ferrodoxina, que por sua vez reduz o NADP + a NADPH através da NADP + redutase. Neste caso, a fotofosforilação é chamada de fotofosforilação acicíclica ou não cíclica. Concomitantemente a este processo, os elétrons ejetados do fotossistema II são substituídos por elétrons removidos da água. Quando os elétrons são extraídos da água, esta dissocia-se em prótons e em O2, em uma reação denominada de fotooxidação (ou fotólise) da água. O bombeamento de prótons realizado pelo citocromo permite a geração de um gradiente de prótons na luz do tilacoide. Estes prótons retornam ao estroma do cloroplasto através da ATP sintase, presente na membrana do tilacoide, gerando ATP. Há situações em que o fotossistema I pode trabalhar independentemente do fotossistema II. O processo se dá por um fluxo cíclico de elétrons da ferrodoxina para o citocromo, e após retornando para o fotossistema I. Neste processo, o único produto formado é o ATP, não há a formação de O2 e de NADPH. Para melhor entender como ocorre esta fase da fotossíntese, veja a animação no link: http://highered.mcgraw-hill.com/olc/dl/120072/bio13.swf. Cabe ressaltar que o ATP e o NADPH formados durante este processo são utilizados pelo próprio cloroplasto, por exemplo, durante o ciclo de Calvin que veremos adiante. O ATP necessário para as demais reações da célula vegetal (no citoplasma e em demais organelas) são produzidos pela mitocôndria. Figura 14. Captação da energia luminosa, transferência de elétrons pelas proteínas presentes na membrana do tilacoide e geração de ATP e NADPH. PS II: fotossistema II; PQ: plastoquinona; Cyt: citocromo; PC: plastocianina; PS I: fotossistema I; Fd: ferrodoxina. -Reações de fixação de carbono (etapa bioquímica): o ATP e o NADPH, produzidos na etapa fotoquímica, são utilizados como fonte de energia e poder redutor para a conversão de CO2 em carboidratos através do ciclo de Calvin. Essa etapa ocorre no estroma. De acordo com o primeiro produto estável formado após a fixação do CO2, as plantas podem ser divididas em plantas C3, C4 e CAM. Plantas C3: A fixação do CO2 é realizada pela enzima ribulose-1,5-bifosfato carboxilase (RuBisCo, RuBP). A partir de CO2 e de ribulose-1,5-bifosfato (um composto contendo 5 carbonos), a RuBisCo forma um composto intermediário de 6 carbonos, que prontamente é clivado em um composto estável de 3 carbonos, o qual será metabolizado no ciclo de Calvin para a formação de açúcares. 85% das plantas possui o metabolismo do tipo C3. 700 nm 680 nm Figura 15. Ciclo de Calvin. Plantas C4: A fixação do CO2 é realizada pela enzima fosfoenolpiruvato (PEP) carboxilase pelas células do mesófilo (veja na figura abaixo a estrutura tecidual foliar destas plantas). O 1º produto da fixação de CO2 nestas células é o oxaloacetato (com 4 carbonos), formado pela reação catalisada pela PEP carboxilase, a partir de CO2 e fosfoenolpiruvato. O oxaloacetato é convertido a malato. O malato é enviado para as células da bainha do feixe vascular, onde é descarboxilado, liberando o CO2 para que este seja utilizado pela RuBisCo e inicie o ciclo de Calvin. Desta forma, a fixação do CO2 ocorre em uma célula e o ciclo de Calvin em outra. Estas plantas são comuns em regiões tropicais, possuem altas taxas de crescimento e alta eficiência fotossintética. Gramíneas comerciais que tem alta capacidade produtiva, como o milho e a cana de açúcar, pertencem a este grupo. Figura 16. A, Estrutura tecidual das plantas C4. B, Fixação do CO2 e ciclo de Calvin e plantas C4. Plantas CAM: Estas plantas são encontradas em ambientes muito áridos. Seus estômatos permanecem fechados durante o dia para evitar a perda de água. Nas plantas CAM (plantas com metabolismo ácido das crassuláceas), a fixação do CO2 é realizada durante à noite, pois é o período onde os estômatos permanecem abertos. A PEP carboxilase forma oxaloacetato a partir de fosfoenolpiruvato e CO2, o qual é convertido a malato. O malato é estocado em vacúolos, para ser utilizado durante o dia, quando seus estômatos estão fechados. O malato é descarboxilado liberando CO2, para que este seja utilizado pela RuBisCo e inicie o ciclo de Calvin. Ou seja, nas plantas CAM, a fixação do CO2 e o ciclo de Calvin ocorrem na mesma célula, mas são temporalmente separados. Figura 17. Fase escura da fotossíntese em plantas CAM. A maior parte do carbono fixado no ciclo de Calvin (que resulta em um composto denominado de gliceraldeído-3-fosfato) é transferida para o citosol e por meio de uma série de reações químicas é convertida em sacarose (um dissacarídeo formado por uma glicose e uma frutose) que é a principal forma de transporte de açúcares nas plantas. Parte do gliceraldeído-3-fosfato é utilizado no ciclo para regenerar a ribulose- 1,5-bifosfato. No citosol, o gliceraldeído-3-fosfato também pode ser utilizado para a síntese de aminoácidos, metabólitos secundários como o látex, celulose ou entrar na via glicolítica, produzindo piruvato. No cloroplasto,durante os períodos de intensa fotossíntese, a maior parte das moléculas de gliceraldeído-3-fosfato, que não são utilizadas na regeneração de ribulose- 1,5-bifosfato, é convertida em amido. Pela noite a sacarose é produzida a partir da degradação do amido sendo transportada das folhas para outras regiões da planta, podendo ser utilizada para a síntese de outras substâncias necessárias à planta. Peroxissomos O peroxissomo é uma estrutura esférica, constituída por uma matriz finamente granular envolvida por uma única membrana. Ocorre em quase todas as células eucarióticas. Em geral, apresentam um diâmetro de 0,2 a 1µm. A matriz peroxissomal contém várias enzimas responsáveis por diversas funções. A membrana peroxissomal é lipoprotéica e contém algumas enzimas funcionais na face interna, embora a maioria das enzimas esteja dispersa na matriz dessas organelas. A composição enzimática dos peroxissomos e consequentemente as reações metabólicas variam muito conforme o tipo celular e as condições fisiológicas consideradas. Figura 18. Peroxissomos Em células animais Em células vegetais Cristalóide (deposição de catalase e/ou urato oxidase) Os peroxissomos são abundantes em células hepáticas e renais. Sua biogênese (origem) envolve um peroxissomo pré-existente, onde um peroxissomo cresce e se divide (fissão). As enzimas presentes em seu interior são oriundas do citosol e, portanto, devem passar por um mecanismo de transporte através da membrana da organela. Funções dos peroxissomos A) Degradação de peróxido de hidrogênio (células vegetais e animais) Várias oxidases que participam do catabolismo peroxissomal como a acil oxidase, urato oxidase, etc produzem peróxido de hidrogênio (H2O2). Essa molécula é extremamente tóxica, promovendo a oxidação de vários compostos, como as proteínas. No peroxissomo, o H2O2 é degradado a O2 e H2O pela ação da enzima catalase, enzima que representa 40% das enzimas do interior dessa organela. Figura 19. Reação catalisada pela catalase. B) Metabolismo de lipídeos (células animais e vegetais) Os peroxissomos também realizam a β-oxidação de ácidos graxos. Em microrganismos eucarióticos como as leveduras, os peroxissomos são os responsáveis por toda a degradação de ácidos graxos. Na célula vegetal essa atividade ocorre predominantemente nos peroxissomos, embora também ocorra nas mitocôndrias. Nas células animais, os peroxissomos são responsáveis pela degradação de ácidos graxos que possuem cadeias longas e muito longas. A β-oxidação de ácidos graxos nos peroxissomos é interrompida quando a cadeia atinge tamanho médio, diferindo do processo que ocorre nas mitocôndrias, onde o processo é completamente realizado gerando moléculas de Acetil-CoA, que irão para o ciclo de Krebs. Dessa forma, nos peroxissomos, a degradação de ácidos graxos serve como um sistema de encurtamento de cadeias que serão oxidadas nas mitocôndrias. Os peroxissomos de células animais também participam de algumas vias biossintéticas, como a do colesterol, em conjunto com o retículo endoplasmático liso. C) Degradação de ácido úrico (algumas células animais) Nessa degradação participa a enzima urato oxidase que converte o ácido úrico em alantoína. A alantoína é degradada nas mitocôndrias e no citosol, gerando alantoato, uréia e amônia. A urato oxidase está ausente em humanos, aves e alguns répteis. D) Ciclo do ácido glioxílico (algumas células vegetais) Em sementes que contém lipídeos de reserva, e em plântulas que se desenvolvem a partir destas sementes, existem peroxissomos especializados chamados de glioxissomos. Estes apresentam algumas enzimas do ciclo do ácido glioxílico, uma variante do ciclo de Krebs. Esse ciclo permite a conversão de lipídeos de reserva em carboidratos, auxiliando no processo de germinação de sementes. Figura 20. Ciclo do ácido glioxílico nos glioxissomos. E) Fotorrespiração (algumas células vegetais) Nas folhas de plantas C3, os peroxissomos participam de um processo denominado fotorrespiração. Esse processo também envolve a participação de enzimas presentes nos cloroplastos e nas mitocôndrias. Este processo ocorre devido à dupla atividade realizada pela enzima RuBisCo nessas plantas. Tal enzima, presente nos cloroplastos, além de exercer a atividade de carboxilase, que dá início ao ciclo de Calvin (reações independentes de luz), exerce também uma atividade de oxidase. Nesses dois casos a RuBisCo tem com substrato a ribulose-1,5-bifosfato. A enzima possui afinidades diferentes por O2 e CO2. Nas concentrações atmosféricas de CO2 e O2, realiza preferencialmente a sua atividade carboxilase. Quando a planta precisa fechar seus estômatos, em condições de alta luminosidade e temperatura, evitando a desidratação, a concentração de O2 sobe muito e a RuBisCo intensifica sua atividade de oxigenase que origina o fosfoglicerato e o fosfoglicolato. Em climas quentes e secos, a fotorrespiração pode ser um vantajoso mecanismo de proteção da plantas C3 contra a fotooxidação e fotoinibição. Ela seria importante para dissipar o excesso de ATP e o poder redutor das reações de luz e, assim, impedir que o aparelho fotossintético seja danificado pela ação das espécies reativas de oxigênio (radicais livres) que se formam sob alta incidência luminosa. Também admite-se que seja um mecanismo de desintoxicação das plantas, por eliminar acúmulos de glicolato que seriam tóxicos. No entanto, ainda hoje não se conhece satisfatoriamente o significado biológico da fotorrespiração. A associação morfológica entre cloroplastos, peroxissomos e mitocôndrias, comumente observada em células dessas plantas evidencia a participação conjunta dessas organelas no processo de fotorrespiração. Figura 21. A, Fotorrespiração. B, Fotomicrografia demonstrando a localização de cloroplastos, peroxissomos e mitocôndrias.
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