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Resumo simples evolução e humanização das penas

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Eixo Temático 1 (Propedêutica Jurídica)
HISTÓRIA DO DIREITO: EVOLUÇÃO E HUMANIZAÇÃO
CAERAN, Aline Ferrari
Especialista em Ciências Penais e Mestranda em Direito da URI/SAN
BERTOTTI, Iziane Luiza
Acadêmica do I Semestre de Direito da URI/FW
RESUMO: Emerge das sociedades antigas um direito fortemente vinculado a preceitos religiosos, que influenciavam na tipificação de crimes e na sua consequente penalização. Os costumes e tradições de cada época, que aos poucos ganham forma por meio da lei escrita, disciplinam condutas sociais e preceitos, que uma vez descumpridos, são rigorosamente punidos.
Busca-se, com a presente pesquisa, observar se houve uma evolução significativa na área jurídica no que tange as condutas que se mantém tipificadas como crimes e, ainda, na sua penalização, se é possível conceber a humanização das penas.
Ressalta-se que, na antiguidade, as penas eram aplicadas, na maior parte dos casos, de forma cruel e desumana, permitindo-se torturas e a aplicação da pena de morte com frequência. Além disso, a punição levava em consideração até mesmo a classe social do infrator e da vítima, as pessoas de classes inferiores como os escravos, eram submissas às pessoas de classe superior, sendo obrigados a trabalharem e seguirem as ordens emanadas.
Fazendo alusão ao Código de Hamurabi, depreende-se que não se buscava observar as causas, consequências ou o modo como foi praticado o crime, aplicavam-se penas de forma tortuosa. Cite-se que em casos de supostos erros médicos, havia a responsabilização, sem, contudo, se analisar se houve negligência ou imperícia na conduta do profissional. A título de exemplo verifica-se a seguinte passagem do Código de Hamurabi: “Art. 218. Se um médico fez uma incisão difícil com lanceta de bronze em um homem livre ou se lhe abriu a região superciliar em um homem livre e destruiu o olho do homem livre, eles cortarão a sua mão” (LIMA, 1983, p.25). Muito embora o dispositivo diga que se trata de uma incisão difícil, havendo qualquer lesão no paciente, o profissional médico seria responsabilizado, independente de culpa. Já o artigo 219 do mesmo Código, refere que “Se um médico fez uma incisão difícil com lanceta de bronze no escravo de um homem vulgar e causou sua morte, ele deverá restituir um escravo idêntico ao escravo morto” (LIMA, 1983, p.25).
Pelos transcritos artigos, verifica-se que além de não haver a análise do instituto da culpa, também havia a diferenciação na aplicação das penas em razão do ofendido, haja vista a diferenciação de classes sociais. Pode-se citar os escravos que possuíam valor econômico, sendo considerados como coisa, sem qualquer direito.
Não obstante, o misticismo também se vislumbrava, uma vez que nos casos de acusação de feitiçaria, o acusado era submetido à morte por afogamento, sendo jogado no rio. Na hipótese de sobreviver, não era considerado culpado. Não prevalecia o direito a vida e sim a “vontade dos deuses” mostrando a forte influência religiosa da época.
Gize-se que a religião prevaleceu em várias sociedades, na Índia, por exemplo, o Hinduísmo ainda prevalece, com forte interferência na regulação social. Na época em que vigorava o Código de Manu, acreditava-se que as pessoas só podiam evoluir após a morte, com a reencarnação, se tivessem cumprido uma vida voltada para o bem na casta social a que pertencessem. Para os Hindus, a mistura de castas gerava o caos, então as pessoas eram submetidas a viver e morrer na casta em que nasceram, não havendo possibilidade de mobilidade social. 
Por conseguinte, a mulher era submissa ao homem, ela não tinha manifestação de suas próprias vontades. Na Índia, onde vigorou o código de Manu, o divórcio poderia ser requerido apenas pelo marido, conforme observamos em um dos trechos do referido código: “Art. 494º Durante um ano inteiro, que o marido suporta a aversão de sua mulher, mas, depois de um ano, se ela continua a odiá-lo, que ele tome o que ela possui em particular, lhe dê somente o que subsistir e vestir-se, e deixe de habitar com ela.” (COSTA, 2014).
Ainda, acerca das mulheres, quando da ocorrência do delito de adultério, no Direito Hebreu, verifica-se a diferenciação nas penalidades se fosse cometido por uma mulher da classe do povo ou da classe sacerdotal. No caso do crime de adultério ser cometido por uma mulher do povo, esta seria apedrejada viva, contudo, se fosse da corte ou sacerdotisa, seria queimada viva. Ocorre que, tais punições não eram aplicadas aos homens, até mesmo porque naquela época se admitia a bigamia, o que quer dizer que os homens podiam possuir várias mulheres e repudiar as que tivessem. Nos dias atuais, importa destacar que o adultério não é mais penalizado e a bigamia não é permitida.
Outro ponto importante que se pode destacar nos Códigos antigos, é a chamada Lei de Talião, que para a época apresentava certa evolução social, na medida em que a punição do infrator tinha de ser proporcional ao dano causado a vitima. A par disso, podemos citar a Lei Mosaica, conhecida como o Pentateuco de Moises e relativa ao Direito Hebreu, onde está expresso que “se alguém ferir o seu próximo, deverá ser feito para aquilo que ele fez para o outro: fratura por fratura, olho por olho, dente por dente.” (Levítico, capítulo 24, versículo 19-22).
Na obra intitulada “Dos delitos e das Penas”, de Cesare Beccaria, observa-se que o autor tem posição contrária quanto ao modo de aplicação do Direito na época. Beccaria foi injustiçado pelo pai, pois este era contra ao seu casamento e acusou-o, levando-o à prisão. O autor defende que as leis são reguladoras da sociedade, e as penas surgiram para fazer as pessoas cumprirem as leis, porém estas devem se efetivar de forma rápida e justa, sendo aplicadas a todos sem desigualdades e sem métodos de tortura. Para o autor, “quanto mais rápida for a pena e mais próxima do crime cometido, tanto mais será ela justa e tanto mais útil...”, (BECCARIA, 1996, p. 71).
Ainda, Beccaria refere-se à tortura como um método ineficaz, pois a pessoa para livrar-se da mesma irá confessar o crime, pois caso não o faça, a tortura não será cessada. Diz, também que “[...] ou o delito é certo ou incerto. Se é certo, não lhe convém outra pena se não a estabelecida pelas leis, e inúteis são os tormentos, pois é inútil a confissão de réu. Se é incerto, não se deveria atormentar o inocente, pois é inocente, segundo a lei, o homem cujos delitos não são provados.” (BECCARIA, 1996. p. 61). Também, se posiciona no sentido de que os delitos devem ser prevenidos, onde a educação, segurança, saúde e todos os direitos devem ser garantidos de forma igualitária pelo Estado.
Por fim, frise-se que embora a presente pesquisa ainda esteja em fase de desenvolvimento, no intuito de responder a indagação antes feita e observar se realmente pode-se aferir que houve uma humanização na esfera do direito, no que tange a penalização dos delitos, já se pode conceber que houve grande evolução social no tocante das penalizações e as práticas tidas como delituosas, em que pese o sistema jurídico, em especial, o sistema penal, ainda seja carecedor de evoluções no aspecto humanitário. Não obstante, o método de abordagem utilizado foi o dedutivo, utilizando-se da técnica de pesquisa bibliográfica.
PALAVRAS – CHAVE: Direito antigo; Penas; Humanização; Religião.

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