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FICHAMENTO STENGERS, I

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Universidade Federal Fluminense
Instituto de Geociências – Departamento de Geografia
Metodologia da pesquisa em Geografia – 2016.1
Professora: Juliana Nunes
 Aluna: Dafne Fonseca Vinhaes 
STENGERS, Isabelle. As ciências e seus intérpretes.
In: STENGERS, Isabelle. A invenção das ciências modernas. São Paulo: Editora 34, cap. 1, pp. 11 – 29, 2002.
 No presente capítulo, a autora discorre sobre como a sociedade e a sociologia, junto a outras filosofias das ciências, pretendem interferir nas ciências tidas como puras, além de analisar o comportamento dos agentes da produção científica. Por ser o primeiro capítulo, este tem caráter introdutório para a análise da formação e do modus operandi das ciências modernas, recorrendo a Thomas Kuhn e Gottfried Wilhelm Leibniz para pautar suas ideias.
ESCÂNDALOS
 Um grupo de estudiosos, conhecidos por fazer uma “antropologia das ciências”, propõe que a separação entre as ciências e a sociedade seja desfeita, e que a ciência seja analisada como uma parte da sociedade como outra qualquer, com os mesmos problemas e questões que outros grupos sociais enfrentam. Os cientistas, no entanto, discordam dessa visão, e fazem uso do clássico argumento de que a sociologia também é uma ciência, sendo assim, está se contradizendo ao querer se impor como superior e estudar as demais.
 “Ora, a sociologia é uma ciência e, no caso, uma ciência que ambiciona tornar-se super-ciência, aquela que explica todas as demais. Mas como escaparia da desqualificação que lança sobre as outras? Ela se desqualifica portanto a si própria e não pode pretender impor o seu próprio plano de leitura.” (p. 12).
 Esse desconforto entre as ciências exatas e as sociais já foi abordada por outros autores, como Thomas Kuhn ao apresentar a ideia de “ciência normal” em 1962. Para o historiador, “O cientista faz o que aprendeu a fazer”, isto é, trata as questões de sua área seguindo um método pré-estabelecido. Esse paradigma também indica quais serão os resultados possíveis, pois está subornado à comunidade em que está inserido. Aqui podemos fazer uma correlação com o texto “Falando em sociedades”, que discute as variadas formas de representação da sociedade (etnografia, fotografia, mapas, dramaturgias), e que elas também estão, assim como as ciências, enquadradas nas sociedades em que se desenvolvem, sendo reflexo delas. Kuhn afirma ainda que essa subordinação não é necessariamente ruim, mas ao contrário, propicia o progresso científico. Sem ela, há disputas de superioridade, que resulta em diferentes linhas de pensamento, que pouco conversam entre si. 
 Os filósofos das ciências se opuseram a essa visão, enquanto os cientistas concordaram com Kuhn, apesar de este ter afirmado que um cientista deve ser visto como um membro da sociedade, e não um indivíduo racional e lúcido isoladamente. A autora constrói sua reflexão a partir deste contrassenso.
AUTONOMIA
 Para Thomas Kuhn, o cientista não deve explicações da sua pesquisa e de seus métodos (paradigmas) para a sociedade, a fim de que seja preservado o progresso científico, pois a sociedade e a cultura em que os cientistas vivem acaba por limitar seu trabalho. “É pelo fato de o paradigma não ser objeto de um recuo crítico que os cientistas abordam com confiança os fenômenos mais desconcertantes” (p. 14). Kuhn propõe, assim, uma dissociação da comunidade científica da sociedade. Uma produz e reproduz o saber das ciências, ou seja, se retroalimenta, baseado na sua formação e instrumentos específicos, enquanto a outra se beneficia dos resultados da primeira. Logo, o ideal é que não interfira nos métodos e questões científicas.
 A divergência entre os cientistas e os filósofos parece ser o ponto chave deste tópico, no que se refere ao status dessas categorias: enquanto entende-se que uma não precisa passar por questionamentos para ser validada, a outra é constantemente analisada, debatida e contestada, não detém a autoridade de distinguir a ciência da não-ciência.
 Aqueles que estudam os cientistas, devem, segundo Kuhn, se basear no “princípio de simetria”, que parte do princípio de que “nenhuma norma metodológica geral pode justificar a diferença entre vencedores e vencidos ao fim de uma controvérsia.”, pois deve-se considerar a posição dos vencidos para entender a construção do conhecimento final, e o que levou a descartar certas ideias em detrimento de outras. É preciso sempre levar em conta os possíveis desvios na produção do conhecimento, como jogos de poder, disponibilidade de recursos, interesses econômicos, etc.
 “O paradigma garantia a autonomia das comunidades e se limitava a se interpretrar de outro modo aquilo que caracteriza tradicionalmente o ideal de uma “verdadeira” ciência” (p. 17).
 Sendo assim, essa completa autonomia científica deve ser debatida, uma vez que não há produção de saberes sem interesses externos. Deve-se observar o que o cientista faz, pois, na história, há diversos fatores que inteferiram drasticamente nas ciências.
UMA CIÊNCIA DESTRUTIVA?
 De fato, os sociólogos não pretendem “denunciar” a ciência, mas apenas tratar seus pesquisadores como um grupo social comum, sem privilégios. A postura arredia dos cientistas, segundo Stengers, acaba legitimando a análise sociológica que se pretende fazer. Volta-se então ao argumento inicial, de que a sociologia também é uma ciência. Por que nem todas as leituras feitas por diversas áreas incomodam tanto os cientistas quanto a sociológica? A autora usa dois exemplos de críticas à ciência diferentes para responder a questão.
 A primeira crítica refere-se às “tecnociências”, que indicam a racionalidade científica resumida a seus produtos, como cálculos e instrumentos, e não mais à produção e pesquisa científica-tecnológica em si. Em outras palavras, a ciência seria reconhecida apenas pela sua funcionalidade final, isto é, os resultados úteis para serem usados pela sociedade.
 Já a crítica feminista radical sinaliza que a ciência tal como conhecemos está pautada em valores tidos como masculinos (rivalidade intensa, dedicação intensa a questões abstratas, etc), o que resulta em “desvios” em relação às questões femininas.
 Apesar de partirem de argumentos diferentes, ambas as críticas apontam para seus atores – os cientistas - e para a possibilidade de uma ciência nova, que talvez só fosse possível sem o envolvimento destes. Entretanto, as críticas à racionalidade corroboram a importância da posição de alguma autoridade dos cientistas, que participariam dessas novas mudanças especuladas na ciência. Para a autora, “então os cientistas, os técnicos, os experts não estão em questão, estão à espera, como todos os demais, dos limites do poder de expansão de uma dinâmica que os define para além das suas intenções e de seus mitos.” (p. 21).
 “O problema específico da abordagem sociológica relativista das ciências é portanto que ela parece dever colidir frontalmente com a concepção de ciência que os próprios cientistas alimentam.” (p. 23). Este trecho responde porque os cientistas se incomodam tanto com a crítica sociológica de suas atividades. A autora então define os protestos do meio científico em relação à sociologia relativista em três aspectos: ferimento, por no fundo saberem que os sociólogos têm razão, ainda que em parte, nas críticas que fazem; revolta, por reconhecer neles a capacidade de argumentação superior, o que pode influenciar na visão do que é ciência para a sociedade; e inquietação, pelos recursos usados para criticar que tem sua origem na própria ciência, que se voltam contra si, se tornando inutilizáveis.
A RESTRIÇÃO LEIBNIZIANA
 A autora explica sua intenção, ao escrever o livro, de articular os conceitos de ciência moderna e política, sem ferir os “sentimentos” estabelecidos para esses conceitos, baseando-se na premissa de Leibniz de não “subverter os sentimentos estabelecidos”, levando em conta aforma como são colocadas as palavras, e o princípio de irredução de Latour, que fala do ímpeto de definir os conceitos e ideias reduzindo-os a algo ou opor irredutivelmente duas colocações, como se fossem totalmente opostas, cuja finalidade não deve ser denunciar ou atacar diretamente, e sim propor um debate de ideias.
 O que não significa, de forma alguma, tratar as questões que aparecerão de forma rasa, mas sim de analisá-las de modo crítico. “Quero tornar-me capaz – e estimular outras pessoas a tornarem-se capazes – de intervir nessa história sem ressucitar um passado em que outras maiorias morais dominavam.” (p. 28).

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