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Metodologia científica

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METODOLOGIA DA PESQUISA E DIDÁTICA
MÓDULO 1
Fundamentos da Metodologia Científica
1.1 – Por que estudar metodologia cientifica?
Todo o trabalho acadêmico, seja ele desenvolvido nas universidades ou em instituições de pesquisa, baseia-se no conhecimento científico. E este, como veremos, resulta da utilização de uma ferramenta muito útil chamada método científico. 
A metodologia científica é a disciplina que ensina a utilizar essa ferramenta. O conhecimento científico é produto da pesquisa científica. 
A metodologia científica visa ensinar:
O que é o conhecimento científico.
Como se organiza esse conhecimento.
Qual a diferença entre o conhecimento científico e os outros tipos de conhecimento.
Como se planeja e se executa uma pesquisa científica.
Em cursos superiores de graduação ou pós-graduação, é comum e, por sinal, muito pertinente a realização de uma pesquisa científica para obter o grau acadêmico desejado. 
Por isso, os cursos universitários incluem em seu currículo a disciplina Metodologia científica. E é por isso que vocês estão aqui para estudar essa disciplina.
1.2 Os quatro tipos de conhecimento
A Ciência busca explicar e compreender o mundo em que vivemos. Mas não é somente o conhecimento científico que tem essa preocupação. 
Veja ao lado os meios envolvidos em compreender os segredos do mundo. 
Conhecimento filosófico.
Conhecimento científico.
Conhecimento místico-religioso.
Senso comum.
Sem dúvida, como toda atividade humana, ela também tem falhas e limitações. Mas, ainda assim, a Ciência alcança uma verdade, dado o seu método baseado na observação da realidade, no raciocínio lógico e no mecanismo de autocorreção.
É importante dizer que nenhum desses tipos de conhecimento é o retrato fiel da realidade. 
Antes de detalharmos os tipos de conhecimento existentes, vamos aprender o conceito de processos cognitivos.
Segundo o psicólogo suíço Carl Gustav Jung, os processos cognitivos dividem-se em dois tipos: Processos de percepção e Processos de julgamento.
Os Processos de percepção funcionam como a entrada de dados em um computador. Já os Processos de julgamento, como o processamento de dados de um programa de computador.
Os processos de percepção constituem-se nos canais de entrada das informações na mente. 
Comparando com o computador, podemos dizer que os processos de percepção correspondem ao input, isto é, à entrada de dados na máquina. 
Há dois tipos de processos de percepção: a sensação e a intuição.
A sensação consiste nos cinco sentidos básicos do ser humano: visão, audição, tato, olfato e paladar. 
A intuição constitui uma espécie de “sexto sentido” e manifesta-se por meio de lampejos, insights, momentos de inspiração, etc. Todas as idéias que afloram à nossa consciência e que não provêm diretamente de estímulos externos ou do raciocínio são fruto da intuição. 
A intuição nada mais é do que a emergência ao nível consciente de memórias estocadas no inconsciente. Levando em conta que:
- As memórias inconscientes não podem ser acessadas diretamente pela consciência.
- As memórias subconscientes podem ser resgatadas a qualquer momento. 
O conteúdo do inconsciente revela-se à consciência por meio de sonhos, práticas meditativas, e também pode vir aleatoriamente, como quando temos um “estalo” e descobrimos, de modo não-intencional, algo que não tínhamos nos dado conta.
Uma vez que a consciência tenha captado informações provenientes do meio externo (através dos sentidos) ou do inconsciente (por meio da intuição), a mente agora precisa processar essas informações. É aí que entram em ação os processos de julgamento. 
Eles são os responsáveis pelo processamento dessas informações no cérebro e equivalem, na metáfora computacional, ao throughput, isto é, ao processamento dos dados dos programas de computador. 
A mente humana processa as informações da consciência por meio de dois “programas” básicos: 
A razão (isto é, o pensamento, o raciocínio).
A emoção (isto é, os sentimentos). 
Isso significa que, quando uma informação qualquer chega à nossa mente via sensações ou intuição, ela gera em nós pensamentos e/ou sentimentos. 
A resposta a esses pensamentos e sentimentos que surgem em nossa mente não é um processo cognitivo, mas uma reação aos estímulos que as informações do meio produzem em nós. É em geral uma conduta motora, isto é, uma ação. Fechando a metáfora do computador equivaleria ao output, ou seja, a saída de dados.
Por exemplo, ao ouvirmos (sensação auditiva) alguém nos pedir para fechar a porta, compreendemos intelectualmente esse pedido por meio do pensamento e respondemos com a ação motora de caminhar até a porta e fechá-la. 
Quando assistimos a um filme triste (sensações visual e auditiva), surgem pensamentos e emoções em nossa mente e, eventualmente, podemos responder com a ação de chorar.
Segundo Pierre Weil, se dispusermos os processos cognitivos num quadrado e os articularmos dois a dois – um processo de percepção e um de julgamento –, obteremos os quatro grandes sistemas de interpretação do mundo criados pelo homem: a arte, a religião, a filosofia e a ciência. Observe:
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Tendo como base a teoria de Yung e Pierre Weil, podemos, a partir de agora, detalhar os quatro tipos de conhecimento que falamos: o senso comum, o conhecimento místico-religioso, o conhecimento filosófico e conhecimento científico.
Conhecimento sensível ou vulgar (ou simplesmente senso comum)
Você já disse que chá de camomila faz bem para o estômago? 
Já ouviu que ingerir leite alivia os sintomas de intoxicação por fumaça? 
Essas duas perguntas são exemplos clássicos de regras que são determinadas através do sendo comum.
Mas o que é o senso comum? 
O senso comum é a primeira e mais primitiva forma de conhecimento de que o homem dispôs. Já na Pré-História o ser humano aprendia com a sua própria experiência cotidiana. O senso comum é determinado por uma situação casual e, portanto, não-intencional, já que muitas vezes o indivíduo descobre alguma coisa que não estava buscando. 
Atualmente, o conhecimento sensível fundamenta-se na popularização dos demais tipos de conhecimento. O senso comum inclui informações que, descobertas empiricamente, podem ser comprovadas cientificamente, ou transformadas em mitos, por não terem nenhum fundamento científico. 
Conhecimento místico-religioso (ou conhecimento teológico)
Desde cedo o homem recorreu à imaginação, à fantasia, à existência de divindades e de espíritos bons e maus para explicar aquilo que ele observava. A boa sorte na caça ou a boa safra pareciam dádivas superiores, assim como as doenças, as pragas e a má colheita pareciam castigos vindos dos céus. 
Os fenômenos grandiosos e inexplicáveis da natureza seriam comandados por criaturas extremamente poderosas. Para agradar os Deuses, os homens passam a realizar rituais, sacrifícios e oferendas. 
Surge assim o conhecimento místico, embasado em crendices, superstições, lendas, mitologias e, finalmente, religiões.
O conhecimento místico também é chamado de conhecimento revelado pois se refere sempre a um ato de “revelação”. Nesse momento, por exemplo, um místico, sacerdote, profeta ou xamã, normalmente em estado de transe, entra em contato com um plano transcendente, ou plano divino. 
Dessa forma, o místico comunica-se com as divindades e recebe delas o conhecimento sobre as causas primeiras e os fins últimos da existência, bem como instruções sobre de que modo os homens devem proceder em sua vida diária. 
O conhecimento místico-religioso é, em sua própria essência, dogmático, pois cria verdades absolutas, inquestionáveis, embora jamais demonstráveis pela experiência. 
O sacerdote garante a credibilidade do discurso místico-religioso, já que é o representante do divino na Terra. Essa credibilidade é extrínseca,já que não provém do conhecimento em si, mas sim de quem o enuncia.
Os processos cognitivos envolvidos no conhecimento religioso são a intuição, materializada na inspiração divina, e a emoção presente no transe místico.
Conhecimento filosófico
É importante lembrar que, na Grécia Antiga, o conhecimento filosófico era um conhecimento não-empírico, isto é, não necessariamente baseado na observação dos fatos. 
Nesse sentido, o pensamento filosófico grego era bastante idealista, baseando-se em grande parte nas opiniões e crenças dos filósofos a respeito da realidade. Por essa razão, muitas das explicações oferecidas pela filosofia, embora pautadas pela lógica e pelo bom senso, estavam simplesmente erradas. 
A idéia de que os planetas giram em torno do Sol em órbitas perfeitamente circulares foi desmentida pela astronomia do século XVII. 
Os filósofos antigos, assim como os medievais, não dispunham de tecnologia suficiente para realizar certos experimentos ou observações que pudessem comprovar suas teses. 
Mas também muitos desses pensadores achavam dispensáveis tais observações e experimentos, para eles, o simples fato de uma teoria possuir coerência lógica já era por si só prova de sua validade.
A filosofia é fundamentalmente dedutiva, parte de premissas gerais, para chegar a conclusões particulares. Exemplo disso é o silogismo. 
Premissa maior: Todos os homens são mortais.
Premissa menor: Ora, Sócrates é homem.
Conclusão: Logo, Sócrates é mortal.
O grande problema do silogismo é que no mundo material não sabemos até que ponto podemos fazer generalizações. “Todo leite é branco”, por exemplo, é uma generalização baseada em nossa experiência cotidiana. Porém, o que nos garante que não podemos, a qualquer momento, descobrir na natureza algum mamífero até então desconhecido cujo leite não seja branco? 
É exatamente esse impasse que vai dar origem, no século XVII, a uma nova forma de conhecimento, do qual trataremos a seguir: a ciência.
A filosofia renascentista já começava a esboçar o que viria a ser a principal ferramenta da ciência: o chamado método científico. 
Por isso mesmo, a ciência nasce do seio da filosofia. Até meados do século XVIII, o termo filosofia designava tanto o pensamento filosófico tradicional quanto essa nova forma de buscar a verdade que então surgia. 
Antes de vermos as características específicas do método científico, é importante recordarmos um pouquinho da história. 
Com o fim da Idade Média e do predomínio absoluto da fé religiosa cristã como verdade absoluta, começa a surgir em vários pensadores europeus a inquietação de investigar a natureza e de duvidar dos antigos sábios e teólogos.
O advento da Reforma Protestante fez com que a busca do conhecimento adotasse uma nova estratégia, já que promoveu o fim da Inquisição e a censura que ela impunha ao livre pensamento e a invenção de novos artefatos tecnológicos, como o telescópio e o microscópio.
É claro que, já na Antigüidade, havia sábios que se valiam da observação e mesmo da experimentação. O grego Arquimedes, por sinal, foi um deles. Mas esse procedimento não era, até então, geral nem sistemático. 
A ciência moderna, cujo nascimento pode ser situado no século XVII, deriva, pois, do pensamento filosófico pela incorporação do já citado método científico, experimental e observacional, à lógica e à reflexão.
Conheça algumas características do método científico.
Método indutivo-dedutivo: parte de fatos particulares para enunciar leis universalmente verdadeiras. Essas leis serão testadas através da observação e/ou experimentação, e assim sucessivamente.
Produz um conhecimento realista, analítico e, acima de tudo, verificável empiricamente.
Trabalha com hipóteses, as chamadas teorias. Veicula enunciados tidos como verdades provisórias, sujeitas a validação e possível rejeição. 
Dotada de um mecanismo de autocorreção: toda vez que o resultado da experiência contradiz a teoria até então vigente, modifica-se ou abandona-se a teoria. Portanto, na ciência a realidade dos fatos tem precedência sobre as teorias.
De certa forma, podemos comparar a pesquisa científica a uma investigação policial. 
Objetivo principal: Descobrir por que a realidade é como é.
Objetivo principal: Descobrir o autor de um crime.
Utilização de pistas: Quando não é possível realizar um experimento para testar uma hipótese, a ciência se vale de pistas, evidências indiretas do fato, vestígios que ele deixa ou deixou e que podemos examinar para tentar reconstituir o cenário em que ele ocorre ou ocorreu. 
Utilização de pistas: Provas materiais colhidas pelo perito policial na cena do crime. Como se sabe, provas materiais são a evidência mais forte e convincente de uma teoria policial. Freqüentemente, elas valem mais perante um júri do que provas testemunhais, já que as testemunhas muitas vezes mentem ou se enganam.
De onde viemos?
O debate sobre a origem da vida na Terra é algo amplo e contraditório. Você verá agora duas hipóteses que sobre a origem da vida: a evolucionista e a criacionista. É importante levar em conta que nenhuma delas está totalmente comprovada.
Teoria Evolucionista
Há inúmeras evidências que parecem confirmar, com grande grau de certeza, que a teoria evolucionista está mais próxima do que realmente acontece na natureza. 
Embora não possamos voltar no tempo e assistir à origem da vida no planeta Terra, podemos simular em laboratório esse processo, bem como podemos verificar os princípios básicos dessa teoria – a mutação genética, a adaptação ao meio ambiente e a seleção natural – em ação nos dias de hoje, além de podermos contar com os registros fósseis. Trata-se de provas materiais. 
Teoria Criacionista
Tem como únicos argumentos a seu favor a narrativa bíblica – uma prova testemunhal – e a afirmação de que a vida só poderia ter sido criada por um Ser superior – na verdade, muito mais uma convicção pessoal do que uma hipótese a ser provada cientificamente. 
A teoria criacionista é, portanto, um exemplo de conhecimento místico-religioso e não de conhecimento científico.
Os processos cognitivos envolvidos na pesquisa científica são:
A sensação, isto é, a observação da realidade e/ou a experimentação sobre essa realidade.
 A razão, ou seja, raciocínio lógico (por vezes lógico-matemático). 
1.3 Definição de Ciência
Com base no que já vimos, podemos ensaiar uma definição do que seja a Ciência. 
 
A Ciência é um processo de busca, produção e transmissão do conhecimento sobre a realidade material ou psíquica, concreta ou abstrata por meio da observação e/ou manipulação dessa realidade e da elaboração de modelos mentais de caráter exclusivamente racional. 
Ela é um processo dentre vários, evidentemente não o único. Além disso, constitui uma busca da verdade, que não se confunde com a própria verdade. Por isso mesmo, é uma (re)construção permanente do conhecimento, não um conhecimento pronto e acabado.
É também um processo de transmissão do conhecimento, pois descobrir e não comunicar aos outros não é fazer ciência. Esse conhecimento se restringe à realidade imanente; nada diz, por exemplo, sobre o sexo dos anjos, embora possa dizer quando e onde os anjos foram citados pela primeira vez e até mesmo quem os citou. A ciência não pode estudar anjos como uma realidade em si, mas pode estudá-los enquanto figuras que habitam o imaginário humano.
1.4 O processo da pesquisa científica
O esquema abaixo representa o processo da pesquisa científica.
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Saber 1 
O Saber que serve de premissa ao trabalho científico é um modelo mental da realidade. Só é possível conhecermos uma pequena parcela dessa realidade. Essa percepção está sujeita a dois diferentes processos de filtragem: 
Biológica:determinada pela limitação dos nossos órgãos sensoriais em perceber a realidade.
Ideológica: diz respeito ao modo particular como pensamos a realidade que percebemos.
Manipulação
O trabalho científico consiste então em tomar o modelo mental de uma determinada realidade e submetê-lo a um processo de manipulação e/ou experimentação, em que agora temos um corpus, formado de objetos concretos ou abstratos.
Análise subjetiva
Faz-se uma comparação entre a parcela da realidade observada e o modelo mental.
Saber 2
Todo discurso científico produz um novo saber, mais amplo que o saber do qual parte. É isso que chamamos de descoberta científica. 
No processo de manipulação você viu que se determina um corpus para análise de uma determinada realidade. 
Veja alguns exemplos de corpus:
Amostra de material radioativo.
Conjunto de cobaias.
Constelação de corpos celestes.
Coleção de documentos históricos.
População de pessoas (e mesmo a sociedade como um todo).
Cadeia de idéias. 
A manipulação desse corpus pode ser material, como no caso das amostras radioativas ou das cobaias, ou intelectual, como no caso dos corpos celestes ou das idéias.
1.5 Funções da pesquisa científica
Por que se faz pesquisa científica? Para que serve a Ciência? Com base no que foi visto até aqui, podemos concluir que a ciência tem quatro funções básicas: 
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1. Realimentar o próprio processo científico, produzindo um conhecimento disponível para pesquisas subseqüentes na mesma especialidade;
2. Alimentar (isto é, contribuir com informações para) a pesquisa científica de outras especialidades;
3. Satisfazer a curiosidade humana, proporcionando uma ampliação da visão de mundo e um enriquecimento intelectual e espiritual do ser humano (isto é, geração de cultura);
4. Gerar aplicações na solução de problemas práticos do ser humano (isto é, geração de tecnologia).
As duas primeiras dessas funções correspondem à produção de bibliografia que ficará à disposição para que outros investigadores possam iniciar seu trabalho a partir do conhecimento já efetivamente produzido. 
Nesse sentido, o saber científico é cumulativo, pois cada pesquisador contribui com uma parcela do conhecimento, e essas parcelas vão se somando na constituição de um patrimônio incomensurável de informações. 
O conhecimento prévio do assunto que um pesquisador precisa ter ao iniciar sua pesquisa é chamado de fundamentação teórica. Todo trabalho de pesquisa requer uma bibliografia básica.
A terceira função da ciência é o que chamamos de função hedônica da ciência: produzir prazer no intelecto humano por meio da satisfação da curiosidade e da ampliação de seu horizonte de visão.
Sem dúvida, a posse do conhecimento é fonte de grande prazer e constitui, mesmo, uma forma de entretenimento comparável às artes e esportes. 
Por isso, a divulgação do conhecimento científico ao público leigo, por meio de livros, revistas, documentários, palestras e exposições, pode ser legitimamente incluída no rol das atividades culturais.
A quarta função da ciência é chamada de função pragmática da ciência: o desenvolvimento de soluções para os problemas práticos do ser humano, como a sobrevivência física, a diminuição do esforço, o aumento da eficiência na realização de tarefas, o aumento da produção de bens e a diminuição dos custos dessa produção, etc. Numa palavra, isso se chama tecnologia.
É preciso ter claro que toda solução de problemas de derive da aplicação do conhecimento gerado pela ciência é uma tecnologia. Por isso, a tecnologia não se restringe como pensam muitos, às aplicações das ciências exatas ou biológicas. Até mesmo o desenvolvimento de um novo método de ensino de línguas é uma tecnologia.
MÓDULO 2
Ciência, Tecnologia, Cultura e Universidade
2.1. A Ciência no contexto da Cultura
O conhecimento científico constitui uma forma de cultura porque serve, dentre outras coisas, para o enriquecimento intelectual e espiritual do ser humano. Mas, num sentido amplo, tudo o que o homem faz é cultura, e assim as atividades técnicas em geral, isto é, aquelas que utilizam tecnologia para resolver problemas, também fazem parte da cultura. Isso se dá porque a palavra cultura tem muitos significados. Passamos a partir de agora a discutir o lugar da ciência e da tecnologia no âmbito da cultura. Mas para isso é preciso primeiramente conceituar o que vem a ser cultura.
É comum ouvirmos falar na cultura dos povos, das empresas e das mídias. Acompanhamos os estudos das culturas primitivas e civilizadas, a discussão sobre a democratização do acesso à cultura e sobre as leis de incentivo às atividades culturais... 
Toda essa discussão envolve um grande número de pesquisadores... 
Os jornais transformaram seus antigos cadernos literários em cadernos de cultura. Muitos dos problemas econômicos, sociais e ambientais que enfrentamos hoje são relacionados ao modo particular de vida de cada sociedade e, em outras palavras, são problemas de cultura, ou mesmo, de falta de cultura. 
Biólogos, antropólogos, psicólogos e cientistas cognitivos investigam quanto dos atributos que nos fazem humanos são produto da natureza, isto é, da herança genética e do meio físico, e quanto são produto da cultura, isto é, da criação e do meio social.
Você viu que a palavra cultura se relaciona a diferentes conceitos. Pode-se considerar que a cultura possui dois tipos de interpretação: Denotativa e Conotativa. 
Denotativa 
Remete diretamente à etimologia da palavra Cultura, que significa “cultivo, lavoura”.
Exemplos: 
-Agricultura. 
- Cultura de cereais. 
-Cultura de microorganismos. 
- Cultura de tecidos. 
Conotativa
Remete ao “cultivo do homem”, em que está presente a idéia de crescimento e de melhoramento. 
Exemplos: 
- Cultivo do corpo, ou cultura física (também chamada de fisiculturismo).
- Culto aos deuses. 
- Cultivo do espírito, ou cultivo da mente, realizado por meio do estudo, do aprendizado e da tentativa de compreensão da realidade, e também por meio da imaginação, da criação estética, da fruição da beleza, da alimentação do intelecto através dos sentidos.
Os diferentes significados da palavra cultura conduziram a uma concepção ainda mais ampla e abrangente: Cultura é tudo aquilo que não é produto exclusivo da natureza, tudo o que é criado ou modificado intencionalmente pelo homem, tudo o que, no próprio ser humano, não é exclusivamente biológico. 
Todos esses significados conotativos de cultura referentes ao domínio da espécie humana podem ser reduzidos a um sentido amplo e um sentido estrito de cultura. 
Sentido amplo
Cultura entendida como tudo o que é próprio do homem, tudo o que o distingue dos animais e da natureza.
Sentido estrito
Cultura encarada como um pequeno conjunto de manifestações e práticas humanas de caráter não-utilitário, ligadas ao corpo, aos sentidos, ao intelecto e ao espírito. 
Antes de detalharmos cada um dos sentidos da cultura, amplo e estrito, vamos relembrar um pouco de história. 
Originalmente, o conceito de cultura restringia-se ao sentido estrito da palavra Cultura. Até o século XVIII, a cultura era vista como atividade intelectual ou artística por excelência, sendo considerada um atributo exclusivo da elite, a única classe social a ter acesso aos bens estéticos e intelectuais e a única teoricamente capaz de produzi-los.
A cultura equivalia a um saber, mas não qualquer saber. Ser um bom apreciador de vinhos ou de obras de arte, conhecer literatura e filosofia eram indícios de cultura. Por outro lado, lavrar a terra ou consertar carruagens não seria considerado cultura, sendo um conhecimento meramente técnico, que qualquer plebeu podia adquirir. 
No século XVIII, Jean-Jacques Rousseau sustentou que não só a aristocracia possuía cultura, mas também as classes baixas e os povos primitivos. Para ele, a dança ritualdos selvagens, a cura de doenças por meio de ervas, o conhecimento dos mitos ancestrais, a capacidade de reconhecer diferentes espécies de animais, tudo isso era cultura, tanto quanto os conhecimentos de filosofia e mitologia grega. 
Surgia assim o conceito amplo de cultura e tornou-se necessário distinguir entre a cultura em seu sentido tradicional, como ocupação intelectual e estética sem propósitos práticos, e a cultura em seu sentido socioantropológico, como o conjunto de tudo o que o homem cria, seja com que propósito for.
Embora alguns pensadores questionem e tentem abolir a distinção entre as concepções ampla e estrita de cultura, o fato é que ela está tão profundamente arraigada no senso comum que qualquer proposta de explicação do fenômeno da cultura tem de levá-la em conta.
Cultura num sentido amplo, isto é, antropológico.
Tudo o que o homem cria ou transforma, tudo o que ele acrescenta à natureza, bem como tudo o que, no próprio homem, não é exclusivamente produto do instinto biológico.
Cultura num sentido estrito, isto é, tradicional. 
Conjunto das atividades voltadas ao espírito, ao lazer, ao enriquecimento pessoal (físico, intelectual ou espiritual) do ser humano. 
As atividades que fazem parte da cultura são praticadas como um fim em si e não como um meio para atingir outros fins e são motivadas pela busca do prazer (cultura pura) e não pela necessidade de resolver problemas.
De um modo mais geral, temos a cultura pura, que produz conhecimento pelo conhecimento; a cultura aplicada, que produz conhecimento com objetivos práticos; e a técnica, que utiliza o conhecimento produzido pela cultura aplicada na solução de problemas.
	 
	CIÊNCIA PURA
	CIÊNCIA APLICADA
	TECNOLOGIA
	FUNÇÃO
	Buscar o conhecimento pelo conhecimento
	Gerar tecnologia para resolver problemas práticos
	Resolver problemas práticos
	EXEMPLOS
	Matemática, física, astronomia.
	Astronáutica
	Navegação espacial
	 
	Matemática, economia, sociologia, psicologia.
	Teoria geral da administração
	Administração de empresas
2.2 O lugar da ciência na Universidade
Vamos agora pensar na Universidade e em como a ciência se insere nesse meio acadêmico.
Nascida na Idade Média como uma corporação de professores e estudantes, a Universidade define-se como um conjunto de faculdades e institutos cujo objetivo é a produção intelectual no campo das ciências, humanidades, letras e artes, como também a formação de profissionais de nível superior. Ela une ensino, pesquisa e prestação de serviços à sociedade. 
A universidade é concebida como o local da produção e da transmissão do conhecimento científico, tanto puro quanto aplicado, da arte pura e aplicada, da formação dos profissionais científicos, artísticos e técnicos de nível superior e da disponibilização de soluções tecnológicas para os problemas e carências da sociedade. 
A Universidade, pela própria complexidade de relação que existe nela, tem sido fonte de algumas contradições. 
A universidade não parece ser o principal lugar de produção artística. A arte se desenvolve bem mais e melhor fora do ambiente universitário, restando à universidade a pesquisa científica sobre a arte. 
Quanto à prestação de serviços à comunidade, a participação universitária é pequena, embora qualitativamente importante. Sobretudo, não é exclusividade da universidade prestar serviços médicos, odontológicos, jurídicos, jornalísticos e outros. 
O principal problema da universidade é que o ensino profissional tem sido priorizado e a pesquisa científica, apesar de importante e mesmo obrigatória, acaba sendo exercida a reboque dos interesses do ensino. Ou seja, a produção do conhecimento busca em primeiro lugar a formação profissional dos alunos. Dessa maneira, é natural que se privilegie o desenvolvimento de tecnologias que os estudantes possam levar ao mercado de trabalho.
A universidade é o lugar de convivência e de conflito entre os discursos científico, tecnológico e pedagógico. Tanto pesquisadores científicos quanto pesquisadores tecnológicos e educadores trabalham com a mesma matéria-prima: o conhecimento.
Para entendermos de que maneira cada um desses profissionais lida com o conhecimento, precisamos compreender os seus discursos. Para isso, teremos de lançar mão de uma ciência chamada sociossemiótica.
2.3 A Sociossemiótica e os discursos sociais
A teoria sociossemiótica estuda os discursos sociais. Discurso é todo ato de comunicação por meio da linguagem. Uma conversa, uma aula, uma entrevista são atos de comunicação em que há um ou mais emissores e receptores. 
O que diferencia os discursos e permite sua classificação é exatamente o número de receptores da mensagem. 
Comunicação Intrapessoal
O diálogo interior que estabelecemos com nós mesmos quando estamos pensando configura a chamada comunicação intrapessoal. 
Uma conversa entre duas ou mais pessoas é uma comunicação interpessoal. 
Até aqui não há hierarquia entre as funções emissor e receptor, ou seja, todos têm igual oportunidade de falar e de ouvir. 
Comunicação Grupal
Uma aula é um exemplo de comunicação grupal, em que todos os participantes se conhecem e estão presentes no ato comunicacional.
Nesse caso, um indivíduo (o professor) assume predominantemente a função de emissor e os demais (os alunos), a função predominante de receptores.
Comunicação Corporativa
Os comunicados internos e ofícios circulares de uma empresa, os murais de avisos de instituições, os jornais internos e as redes intranet das organizações são todos exemplos da comunicação corporativa.
Nesse caso, o conjunto dos receptores, embora ainda seja um grupo fechado, começa a ficar tão grande que torna inviável a comunicação direta, presencial. 
Comunicação em Massa
Um artigo publicado num jornal ou revista, um livro, um programa de rádio ou televisão, um site da internet, uma palestra pública, uma representação teatral, e assim por diante, são atos de comunicação cujos receptores constituem um grupo aberto e indeterminado de indivíduos, o qual chamamos de público ou massa.
Na comunicação em massa qualquer pessoa pode fazer parte do grupo. Esse grupo é indeterminado porque não é possível saber quantos são e muito menos quem são os seus componentes. 
Temos, assim, atos de comunicação social ou de massa ou, em outros termos, discursos sociais. Para estudar esses discursos sociais é que utilizamos a sociossemiótica.
São vários os chamados discursos sociais. Por exemplo, o discurso:
Científico
Político
Jornalístico
Religioso
Artístico
Pedagógico
Esses discursos são voltados ao público em geral. Por isso, podemos dizer que a ciência, a arte, a religião, a política, o jornalismo, o ensino são atividades públicas. 
Cada uma dessas atividades possui uma diferente função social, atribuída pela própria sociedade. A função social determina as características típicas de cada um dos discursos, configurando assim um modelo a ser seguido por todo e qualquer discurso produzido. 
Segundo a teoria sociossemiótica, a partir da investigação de um sem-número de discursos sociais, chegou-se à conclusão de que todo discurso pertencente a uma mesma classe possui uma mesma estrutura. 
Por exemplo, os textos jornalísticos têm características comuns que nos permitem reconhecê-los como tais. Esses textos representam um mesmo modelo, a que damos o nome de discurso jornalístico. 
Como todo discurso é uma prática social, podemos relacionar a função social de cada discurso a uma ação. A ação é lingüisticamente representada por um verbo responsável por determinar o seu objetivo.
Assim, as diferentes funções sociais dos discursos podem ser resumidas em verbos como informar, convencer, persuadir, seduzir, obrigar, etc. 
Importante!
Todo discurso tem em sua base uma estrutura formada pela combinação de modalidadessimples, que são o querer, o dever, o poder, o saber, o fazer, o ter, o ser e o parecer. 
Essa estrutura recebe o nome técnico de ESTRUTURA MODAL do discurso.
2.4 O discurso científico e pedagógico
A ciência pura e a ciência aplicada referem-se a um processo de busca da verdade e de construção e transmissão do saber, por meios exclusivamente lógico-racionais. 
Porém, a ciência pura tem uma função predominantemente hedônica, ou seja, o saber pelo saber, já a ciência aplicada uma função predominantemente pragmática, ou seja, o saber prático.
A partir agora, vamos ver qual é a estrutura modal dos seguintes discursos:
Discurso da Ciência Pura.
Discurso da Ciência Aplicada.
Discurso Pedagógico.
Todo discurso científico, seja ele puro ou aplicado, constrói e difunde um saber, assim esse discurso faz saber. Isso significa que o discurso científico caminha em duas frentes: faz (isto é, constrói) um saber, produz um novo conhecimento, e também faz alguém saber alguma coisa. 
A ciência pura visa saciar a curiosidade de forma desinteressada, objeto da função hedônica, que se traduz por fazer ter prazer, o que vale é o conhecimento pelo conhecimento. 
Ao realimentar o processo científico outros pesquisadores podem produzir novos discursos a partir de um discurso dado, ou, em termos de modalidades, fazer fazer saber: O discurso da ciência pura faz com que outro discurso científico faça saber, isto é, produza novo conhecimento, reiniciando o ciclo. 
Quanto à conscientização da opinião pública e à tomada de posição, podemos dizer que o discurso científico informa para persuadir ou convencer, isto é, faz o público saber para fazê-lo querer algo (como o combate à poluição ou o fim dos testes nucleares).
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A ciência aplicada tem basicamente por missão a produção de tecnologia para a solução dos problemas do homem. Produzir tecnologia significa descobrir uma técnica para fazer alguma coisa, tanto para as grandes aplicações industriais e médicas da tecnologia quanto para qualquer aplicação doméstica. 
Se um problema prático é a impossibilidade de fazer algo, seja por não poder ou não saber fazer, então, solucionar o problema é fazer poder fazer e fazer saber fazer. Como o objetivo da geração de tecnologia é a solução de problemas, tal função se traduz por fazer não ter dor.
Agora que já vimos as estruturas dos discursos científicos, vamos ver a estrutura do discurso pedagógico. 
Podemos dizer que há no Brasil dois tipos de ensino: o ensino básico (fundamental e médio), destinado a todos os cidadãos, e o ensino especializado, destinado a uma parcela específica dos cidadãos, correspondendo ao ensino superior, ao ensino técnico-profissionalizante e ao ensino livre. Vejamos sua estrutura modal:
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O ensino básico forma o cidadão e o torna apto ao convívio no fazer saber para (ensinar), para fazer não ter dor (proporcionar uma vida digna), fazer saber fazer (conferir competência) e fazer poder (conferir cidadania). 
A modalidade fundamental do ensino especializado é fazer saber fazer para fazer não ter dor, ou seja, ensinar o indivíduo a fazer algo, a desempenhar uma atividade para que ele possa exercer essa atividade por necessidade ou por lazer.
MÓDULO 3
Metodologia e Método Científico
3.1. As duas perspectivas da Ciência
Quando falamos em ciência, estamos na verdade falando de duas coisas: a atividade que produz o conhecimento e o próprio conhecimento produzido. A ciência é, pois, um processo e um produto.
Enquanto processo, a ciência é um conjunto de práticas e operações que busca e constrói um conhecimento. Esse conjunto seria a nossa pesquisa científica. E a metodologia científica é que vai analisar os métodos e processos que nos ensinam a fazer essa pesquisa.
Já enquanto produto, a ciência é um conjunto de enunciados que resumem o estágio de conhecimento de uma determinada época. É o conhecimento científico, como objeto da epistemologia, que estuda as teorias e modelos científicos, as “verdades” científicas, sempre falíveis e provisórias. 
Compete à epistemologia descrever as ciências em termos de seu objeto de estudo, de suas subdivisões (os ramos ou especialidades), bem como das diversas correntes teóricas que orientam seu trabalho. 
O ramo ou especialidade nos diz que objeto o cientista pesquisa, enquanto a corrente de pensamento nos diz como ele pesquisa tal objeto. 
Ramos ou especialidade 
Correspondem às subdivisões de seu objeto de estudo. 
Exemplo: 
Objeto de estudo da lingüística = linguagem verbal.
Subdivisões (ramos): Cada um dos níveis de análise dessa linguagem — fonético, morfológico, léxico, fraseológico.
Correntes de pensamento
Correspondem ao modelo ideológico no qual diferentes teorias elaboradas se inspiram. Os trabalhos dos pesquisadores de uma época dada costumam seguir um modelo ideológico. 
Exemplos: o positivismo, o marxismo, o liberalismo, o existencialismo, o estruturalismo, a Escola de Frankfurt. 
Todo modelo teórico é uma espécie de metáfora que o cientista adota para falar da realidade. Assim, cada corrente ou escola adota uma diferente metáfora. A economia, por exemplo, ora será descrita como um organismo vivo, ora como uma máquina, ora como um sistema planetário, e assim por diante. 
O objeto, no caso a economia, pode ser descrito de forma diferente dependendo do modelo teórico escolhido. É evidente que cada um desses modelos tem seu poder de explicação, mas também suas limitações. 
Por isso, após ser exaustivamente explorado, é natural que o modelo se esgote, tornando necessária a instituição de um novo modelo. A esse momento de transição entre modelos teóricos dá-se o nome de ruptura epistemológica.
3.2 Classificação das ciências e do trabalho científico
A partir do Renascimento e, sobretudo do século XVII, com o advento da ciência moderna, o conhecimento racional começa a crescer a ponto de tornar-se necessária a especialização, isto é, a divisão do conhecimento em áreas ou especialidades. 
O fato é que o conhecimento tem de ser compartimentado para que se possa dividir as tarefas de pesquisa. Por isso, hoje temos ciências e não ciência. E, por isso, podemos dividi-las e classificá-las segundo vários critérios. Vamos analisar os critérios do quadro e ver as classificações do trabalho científico daí resultantes.
Quanto à natureza material do objeto de estudo.
Quanto ao domínio a que pertence o objeto de estudo.
Quanto à perspectiva temporal do objeto.
Quanto à função social do conhecimento produzido.
Quanto ao método de estudo.
Quanto à natureza material do objeto de estudo, as ciências podem ser factuais ou formais. 
Ciências factuais - estudam objetos concretos, pertencentes ao mundo real, ou mundo fenomênico. 
Exemplos: Física, a Química, a Astronomia, a Arqueologia, a Antropologia, a Lingüística, etc. 
Ciências formais - estudam objetos abstratos, de existência puramente intelectual, isto é, objetos que têm forma, mas não substância, como relações abstratas, grandezas, formas geométricas, padrões matemáticos ou operações lógicas. 
Exemplos: a lógica e a matemática.
Quanto ao domínio a que pertence o objeto de estudo, as ciências se dividem em naturais e humanas ou culturais. 
Ciências Naturais - estudam os objetos, sejam eles criações humanas ou produtos da natureza, do ponto de vista de suas propriedades intrínsecas, independentes do homem. 
Exemplo: a geografia física que estuda um território do ponto de vista de seu relevo, de seu clima, de seus acidentes geográficos.
Ciências Humanas - estudam os objetos, sejam eles criações humanas ou produtos da natureza, do ponto de vista de seu valor simbólico para o ser humano, enquanto elementos do domínio da cultura e, portanto, dependentes dojulgamento humano.
Exemplo: a geografia humana que estuda o território do ponto de vista de sua ocupação pelo homem, de sua divisão política, de sua influência na economia.
As ciências naturais dividem-se em:
Ciências matemáticas: matemática, estatística, ciência da computação;
Ciências da matéria: física, química;
Ciências da terra (ou geociências): geologia, geografia física, geofísica, oceanografia, meteorologia;
Ciências do universo: astronomia, cosmologia, astrofísica;
Ciências da vida (ou biociências): biologia, genética, psicologia biológica, paleontologia, antropologia biológica, paleoantropologia, neurociência.
As ciências humanas dividem-se em:
Ciências sociais: sociologia, antropologia social, ciência política, economia, história, arqueologia, geografia humana;
Ciências da linguagem: lingüística, semiótica, filologia, ciência da literatura, ciência da comunicação, estética, musicologia;
Ciências da cognição: psicologia social, psicanálise, pedagogia.
Quanto à perspectiva temporal do objeto, temos duas possibilidades de análise: um estudo diacrônico ou histórico e um estudo sincrônico ou descritivo. Clique em cada item para ver a sua descrição e levando em conta que algumas ciências podem adotar ambas as perspectivas. 
Estudo Histórico - estuda o objeto ao longo de sua história, procurando compreender como as mudanças se processam e como cada estágio evolutivo influi na formação do estágio seguinte.
Exemplos: história, paleontologia, geologia, a arqueologia, a história da arte.
Estudo Descritivo - estuda o objeto num momento qualquer de sua evolução histórica, busca descrevê-lo, compreender seu funcionamento, sua estrutura, suas propriedades, o modo como cada uma de suas partes se relaciona com o todo e o modo como esse objeto se relaciona com os demais. Abstrai-se qualquer noção de evolução temporal.
Exemplos: Física, Astronomia, a zoologia, a botânica. 
Quanto à função social do conhecimento produzido, a pesquisa pode ser básica (também chamada de pesquisa pura ou fundamental) ou aplicada (também chamada de pesquisa tecnológica). 
Pesquisa Básica - Produz o conhecimento como um fim em si mesmo, para satisfazer a curiosidade humana, aumentar o conhecimento e a gerar cultura. 
Exemplo: pesquisas em arqueologia ou cosmologia não visam objetivos práticos, ou seja, a solução de problemas. Seu interesse está no conhecimento em si, nas respostas que podem dar às nossas perguntas. 
Pesquisa Aplicada - Produz o conhecimento como um meio para atingir outros fins, especialmente fins utilitários, isto é, a geração de tecnologias para solucionar problemas. 
Exemplo: pesquisas em medicina ou educação são fundamentalmente aplicativas e, portanto, tecnológicas. 
Quanto ao método de estudo, isto é, à abordagem do objeto, temos duas situações. 
Objeto Formal - existe somente em nosso intelecto, então só podemos estudá-lo mentalmente, com o raciocínio. A pesquisa que estuda um objeto ou fenômeno formalmente, por meio da abstração, chama-se pesquisa teórica. 
Objeto Factual - existe no mundo real, podemos estudá-lo de duas maneiras: 
-De forma concreta, por meio da observação e/ou da experimentação.
- De forma hipotética, por meio do raciocínio, como se fosse um objeto formal. 
A pesquisa que estuda um objeto ou fenômeno factual observando-o diretamente e mesmo submetendo-o a testes (experimentação) é a chamada pesquisa empírica.
3.3 O método científico
Ao contrário do que se possa pensar, a ciência não estuda fatos e sim fenômenos. 
Fato é qualquer evento que ocorre na realidade, independente de ser conhecido ou não, independente de ter sido alguma vez observado ou não. Certamente existem muitas estrelas tão distantes de nós que nunca as vimos nem mesmo com os mais potentes telescópios. Elas constituem um fato, mas não um fenômeno. 
Nesse sentido, um fenômeno é um fato que é percebido por um observador. Quando um astrônomo observa pela primeira vez uma nova estrela, ela passa a ser um fenômeno (do grego phainómenon, “coisa aparente”, “coisa visível”, “aquilo que se mostra”).
O mesmo fato pode ser observado de diferentes maneiras, por diferentes observadores, gerando diferentes fenômenos, segundo cada ponto de vista. 
O ponto de vista particular sob o qual um fenômeno é visto ou analisado é o que chamamos anteriormente de paradigma. 
Se olharmos o sistema econômico de uma sociedade e nela virmos um conjunto de agentes que disputam entre si os recursos materiais, a riqueza, tal como organismos vivos lutam por alimento, temos um paradigma. 
Se olharmos para o mesmo sistema como uma máquina em que cada agente econômico funciona como uma engrenagem, temos outro paradigma. 
O paradigma é o referencial teórico que orienta a escolha do método de investigação. Esse referencial vai nortear a produção das teorias científicas. Então, vamos falar agora sobre essa teoria. 
Teoria Científica
Modelo hipotético que procura explicar, de maneira abstrata e geral, a estrutura, o funcionamento ou a evolução de um objeto. Utiliza a linguagem verbal ou outras linguagens, como a matemática, por exemplo, para explicar como e por que os fenômenos ocorrem tais como observados. 
Discurso narrativo ou descritivo que procura relacionar as partes ao todo sem precisar apelar para elementos externos à realidade, isto é, sobrenaturais, metafísicos.
Modo específico de se obter um conhecimento, a técnica de pesquisa, o conjunto de procedimentos adotados para chegar a um resultado. 
Expressão lógica do raciocínio associada à argumentos convincentes. Já que, tudo o que a ciência afirma deve resultar da aplicação do método científico e deve ser provado mais cedo ou mais tarde. 
Afirmações já provadas constituem leis. Ou seja, a lei científica refere-se ao que foi primeiramente afirmado pela ciência e posteriormente comprovado.
As afirmações que ainda não foram comprovadas e aguardam o momento propício de ser postas à prova são hipóteses ou conjecturas.
Uma teoria deve ser convincente no sentido de oferecer provas às suas afirmações. Mas existe uma distância entre a teoria e a verdade, resultante das próprias limitações da pesquisa científica. 
Por isso, uma teoria nem sempre convence a todos, e sempre há os que propõem uma teoria alternativa para explicar o mesmo fenômeno. 
Uma boa teoria deve ter argumentos que convençam a maioria dos membros da comunidade científica e também o homem comum, que não entende muito de ciência. 
Uma teoria científica é como dissemos, um discurso narrativo ou descritivo que procura explicar como e por que algo acontece ou aconteceu. Para fazer isso de forma eficiente, ela se vale de conceitos e termos.
Conceitos - representações mentais de certas propriedades dos fenômenos.
Termos - representam lingüisticamente tais conceitos. 
Os conceitos são uma espécie de idealização e abstração do objeto de estudo. Para que o discurso científico seja eficiente, esses conceitos devem ter um significado preciso, de modo a não permitir ambigüidades ou interpretações errôneas. 
Isso se consegue por meio das definições dos conceitos, isto é, das expressões lingüísticas que explicam de forma inequívoca o significado de cada termo. 
O conjunto dos termos de uma determinada especialidade científica e de suas definições constitui o vocabulário técnico dessa especialidade, também chamado de terminologia científica, jargão ou tecnoleto.
O princípio fundamental do conhecimento científico é o chamado princípio da causalidade, ou princípio do determinismo científico, segundo o qual a mesma causa produz sempre o mesmo efeito.
Esse princípio é expressado por meio de leis, isto é, de enunciados lingüísticos ou matemáticos que associam a causa e o efeito. Um exemplo é a Segunda lei de Newton: F = ma. 
Toda vez que se aplica uma força F a um corpo demassa m, obtém-se uma aceleração a. A presença de aceleração é indício da existência de uma força atuando. 
O método científico é um conjunto de procedimentos e critérios de análise que procura dar sustentação a pesquisa de modo a garantir que os resultados obtidos condigam com a realidade. 
Processos de apoio do Método Científico:
 Técnicas de observação da realidade, seja diretamente ou por meio de instrumentação.
 Técnicas de raciocínio, isto é, o uso das leis da lógica e seus procedimentos: a dedução, a indução, a análise e a síntese.
 Roteiros predeterminados de ações para abordar um problema qualquer.
O método científico faz uso de roteiros predeterminados para abordar um determinado problema. Veja como esses roteiros podem ser divididos:
- Roteiro de formulação de problema
Reconhecimento dos fatos – Exame dos fatos para classificação e seleção.
Descoberta do problema – Identificação daquilo que ainda não se sabe a respeito dos fatos.
Formulação do problema – Formulação de uma pergunta que resuma o problema em questão.
Roteiro de construção de modelo teórico
Seleção dos fatores pertinentes – Elaboração de suposições plausíveis em relação às variáveis envolvidas no problema.
Elaboração de hipóteses centrais e auxiliares – Formulação das suposições que, além de se articularem entre si, fornecem uma explicação plausível para o problema.
Tradução matemática – Quando possível transformação das hipóteses em fórmulas matemáticas.
- Roteiro de dedução de conseqüências particulares
Busca de suportes racionais – Dedução de conseqüências particulares que possam ter sido verificadas no mesmo campo ou em campos próximos.
Busca de suportes empíricos – Elaboração de predições com base no modelo teórico e nos dados empíricos.
Roteiro de prova de hipótese.
Plano da prova – Planejamento dos meios para pôr à prova as predições.
Execução da prova – Realização das operações (isto é, dos testes) e coleta de dados.
Elaboração dos dados – Classificação, análise, avaliação, redução, etc.
Inferência da conclusão – Interpretação dos dados elaborados à luz do modelo teórico.
- Roteiro de introdução de conclusões em teorias
Comparação das conclusões com as predições – Confronto dos resultados da prova com as conseqüências do modelo teórico, precisando em que medida pode ele ser confirmado ou rejeitado.
Reajuste do modelo – Correção ou substituição do modelo adotado.
Sugestões acerca de trabalho ulterior – Busca de lacunas ou erros na teoria ou nos procedimentos empíricos, se o modelo for rejeitado; exame de possíveis extensões e conseqüências em outros campos do conhecimento, se o modelo for confirmado.
Os procedimentos determinados pelo método científico são obrigatórios. Portanto, uma pesquisa só é considerada e seus resultados só serão aceitos sem contestação pela comunidade acadêmica se ela obedecer a esses procedimentos.
A ciência é uma busca incessante da verdade; por isso, toda idéia científica deve ser provada por meios racionais, isto é, com o emprego da lógica e das evidências materiais. Assim, uma idéia deve ser posta à prova, até que seja confirmada ou rejeitada. 
3.4 Os processos do método científico
Nas ciências factuais, toda pesquisa se inicia com a observação de um fenômeno. Essa observação pode ser assistemática (também chamada de não-estruturada ou não-controlada) ou sistemática (estruturada ou controlada). 
Observação assistemática 
Ocorre quando não é possível isolar o fenômeno de outros que porventura possam interferir nele. Não costuma contar com o auxílio de ferramentas adequadas. 
Exemplo: A observação de um eclipse a olho nu é um exemplo de observação não-estruturada.
Observação sistemática 
Ocorre em campo ou em laboratório, mas sempre em condições de controle, em que todas as variáveis do problema podem ser medidas, influências externas podem ser eliminadas e equipamentos de observação e medida de precisão podem ser utilizados.
Exemplo: As observações feitas a partir de experimentos de laboratório ou de testes em amostras (como no caso do teste de um medicamento) são observações estruturadas.
Em algumas pesquisas, podemos não apenas observar um fenômeno que ocorre espontaneamente, mas podemos provocar esse fenômeno ou simulá-lo em laboratório. Podemos ainda utilizar amostras de material e submetê-las a testes. Esses procedimentos constituem experimentos. 
Nas ciências humanas, a experimentação consiste quase sempre em simulações onde o informante responde a um questionário em que se apresenta uma situação hipotética e se pede que ele diga o que faria se tal situação fosse verdadeira. 
Também é possível submeter informantes a uma situação real, desde que não fira princípios éticos, sem que eles tenham ciência de que estão participando de um experimento. 
Feita a observação e/ou experimentação do objeto, parte-se para a formulação de hipóteses que expliquem o comportamento observado. Esse procedimento se chama indução científica. 
A indução é uma forma de raciocínio lógico que parte de dados particulares para construir uma fórmula geral.
 
Indução formal (ou completa) enunciada pela primeira vez por Aristóteles e muito usada em sistemas formais. 
Exemplo: Pode-se provar que o conjunto dos números naturais é infinito: dado um número natural qualquer n, é sempre possível obter um novo número natural n + 1. Colocando-se n + 1 no lugar de n, repete-se o procedimento e obtém-se (n + 1) + 1, e assim indefinidamente. 
Indução científica (ou incompleta) formulada principalmente por Galileu Galilei e Francis Bacon no século XVII.
Não importa quantas vezes se repita um procedimento experimental e se obtenha o mesmo resultado, nada garante que numa nova tentativa não se possa obter um resultado que contradiga a expectativa teórica. 
Isso porque a realidade factual, diferentemente dos sistemas formais, é muito mais ampla do que os sentidos humanos conseguem perceber. Por isso, nossos resultados se apóiam em amostras que, por maiores que sejam, nunca englobam o todo da realidade. 
Uma vez feita a observação do fenômeno e formulada uma hipótese geral, é preciso testar essa hipótese em novas observações. Isso significa pôr à prova a teoria para verificar se ela resiste aos dados empíricos. 
Quando passamos da teoria geral para um novo experimento particular, estamos realizando uma dedução, algo como “se isso é verdade em todos os casos, deve ser verdade neste novo caso também”. 
Muitas vezes, para compreendermos a natureza e a estrutura interna de um objeto, temos de desmontá-lo e estudar separadamente cada uma de suas partes constituintes. Em seguida, para verificarmos se realmente compreendemos como essas partes se articulam no todo, temos de remontar o objeto. 
O processo de decomposição do todo em partes se chama análise e o processo inverso – recomposição das partes no todo – se chama síntese. 
Exemplo: 
-A dissecção de animais ou plantas. 
- A separação dos elementos químicos que compõem uma substância. 
Nesse processo de montagem e desmontagem, é preciso levar em conta qual é a relação entre cada uma das partes. Para termos certeza da existência de um nexo causal entre dois eventos, é preciso testar diferentes hipóteses, a de que A é causa de B e a de que A não é causa de B. 
Esta última hipótese é chamada de hipótese nula. O método experimental que testa simultaneamente ambas as hipóteses é chamado de método da diferença. 
Um exemplo de método da diferença é o teste de medicamentos em seres humanos. Ou seja, um laboratório farmacêutico precisa saber se uma nova droga é ou não eficaz no tratamento de uma doença. 
No teste para confirmar a eficácia do medicamento, será preciso selecionar dois grupos de voluntários portadores da doença e tratar um deles com a nova droga enquanto o outro é tratado comuma terapia tradicional ou com um placebo, isto é, uma substância sem nenhum efeito terapêutico. 
	Nova Droga (grupo de teste)
	Placebo (grupo de controle)
	Cura
	Cura
	Não cura
	Não cura
	Cura
	Não cura
	Não cura
	Cura
Dois primeiros casos - o uso da nova droga não demonstra maior eficácia que a sua não utilização.
Terceiro caso - a droga se mostra eficaz.
Quarto caso – a droga parece ser mais prejudicial do que benéfica.
Esse mesmo raciocínio pode ser estendido a qualquer teste em que se queira verificar a eficácia de alguma coisa: pode ser um medicamento, um método de ensino, uma ferramenta, um procedimento administrativo, etc.
MÓDULO 4
O que é Didática?
4.1 Introdução
Ao falar em didática, costumamos associá-la à educação ou às práticas educativas que compõem o ato de ensinar e de aprender simultânea e interdependentemente.
Vamos ver a definição de didática segundo duas importantes fontes:
Michaelis:
Didática é a arte de ensinar. 
Wikipédia:
Didática é a parte da pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de ensino e que coloca em prática as diretrizes da teoria pedagógica. A didática estuda os processos de ensino e aprendizagem.
Podemos dizer que a didática é um conjunto de regras que guiam a prática educativa. Ela também sugeri ações reflexivas sobre o ensinar e o aprender, sob aspectos filosóficos, biológicos, psicológicos e sociais .
4.2 Breve trajetória da educação
Para entender o homem e sua forma de aprender e dialogar, precisamos resgatar a história da humanidade.
Em qualquer época da civilização houve distinção entre os detentores e os fabricantes de riqueza, levando ao surgimento de classes sociais distintas, que através da aquisição de conhecimento procuravam manter-se na pirâmide social, buscando o topo.
Essa dualidade nas classes sociais, também se refletiu na educação e influenciou algumas das mais importantes civilizações do mundo, como:
Civilização Egípcia
A aprendizagem da escrita tinha caráter essencialmente sagrado e era destinada apenas a práticas sobre agronomia, matemática, biologia e outras áreas pertinentes aquele povo. Aos poucos foi aparecendo o dualismo escolar: escola para a plebe e escola para os nobres.
Civilização Indiana
Para cada casta, isto é, classe, havia um tipo de educação. As castas eram divididas em: brâmanes (religiosos e nobres), os xatrias (guerreiros), os vaixias (camponeses e comerciantes) e os sudras (escravos). À margem dessa estrutura havia os párias, sem casta ou intocáveis.
Civilização Chinesa
A educação se dividia em elementar e superior. 
- Educação elementar - marcada pela dificuldade em aprender a leitura e escrita.
- Educação superior - destinada à formação de mandarins, responsáveis por manter a hierarquia e o poder do imperador.
Não havia uma preocupação com propostas pedagógicas e sim em usar a educação como ferramenta para manter o poder e a riqueza de determinadas classes sociais. 
Algumas transformações nessa visão foram se solidificando no decorrer dos tempos. No caso dos gregos, aconteceram quando eles começaram a se aproximar da ciência e fugir do mito. E com os Romanos, com o surgimento do cristianismo, com a atividade religiosa na Idade Média, e por fim, com o Renascimento.
O Renascimento marca uma forte tendência antropocêntrica manifestada nas artes, nas ciências e na filosofia. Nesse período, houve muitos marcos que contam a história do homem de uma maneira reflexiva.
Um dos marcos mais importantes para a educação seria o surgimento da imprensa e do papel. Esse marco amplia a difusão do saber e as novas necessidades de conhecimento dos símbolos e signos escritos, influenciando diretamente a aquisição da cultura, da expansão dos horizontes físicos e mentais e da divulgação de idéias que até então eram restritas às classes dominantes.
A criação da bússola foi importante, pois ocasionou o desenvolvimento das grandes navegações, o comércio entre continentes e o surgimento da burguesia. Isso provocou a decadência do feudalismo e do poder papal, incentivados pela Reforma Protestante e pela Contra-Reforma, causando nas esferas sociais, políticas e científicas um avanço considerável em termos de tempo. 
Os séculos XV e XVI, sem dúvida nenhuma, foram os mais produtivos em termos de artes (pintura, escultura e arquitetura), medicina, astronomia (com as idéias de Copérnico).
Tudo isso regido por um senso cético perante determinadas “verdades” que a Igreja impunha e, por uma questão de expansão de conhecimento e senso crítico, tornaram-se discutíveis.
O que não aconteceu durante séculos anteriores aconteceu em duzentos anos.
Novas práticas para a aquisição de conhecimento começaram a surgir, e elas consideravam que o homem deveria estar preparado para o “novo mundo”. 
Surgem, então, os colégios que visavam preparar melhor as crianças, e as academias que viriam a substituir as universidades em decadência.
Características:
Educação extremamente rígida.
Castigos corporais utilizados para ensinar as virtudes e para controlar instintos naturais das crianças.
Conteúdo pedagógico era memorizado pelos alunos.
Por meio da filosofia foi possível conceber o homem enquanto “ser” ilimitado em suas significações que foram posteriormente explicadas e ordenadas de maneira criteriosa pela sociologia, biologia, e pela psicologia numa dinâmica mutante, dialética, e epistemológica.
4.3 Correntes Filosóficas
Diante da “sede” de conhecimento que emergia no Renascimento e de como o homem passou a ver o saber, surgem algumas correntes filosóficas que influenciam a forma como o ser humano lida com o mundo e consigo mesmo.
Veja abaixo a linha do tempo com as correntes filosóficas que contribuíram para a pedagogia.
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Humanismo - Contribuição pedagógica
Defende o cuidado com o corpo.
Observa fatos e experiências.
Enfatiza a importância dos pais na educação.
Idealiza a “escola para todos”, isto é, para crianças, adultos e idosos, que até o inicio da Idade Moderna, tinha propósitos elitistas e servia apenas aos interesses da igreja e dos nobres.
Defende a idéia de que a educação começa na infância e se estende até a velhice. 
Principal representante: Juan Luis Vives.
Racionalismo - Contribuição pedagógica
Afirma que a razão só é alcançada através da verdade.
Questiona a situação social e marco da depreciação do poder dos nobres e da Igreja, por conta do novo paradigma científico que surge com a idéia de que o homem tem capacidade para pensar, mas está adormecida. 
Principal representante: René Descartes. 
Empirismo - Contribuição pedagógica
Afirma que a mente é como uma tabula rasa, que só começa a ser escrita através das impressões que os sentidos captam e a reflexão processa. 
Defende que o conhecimento adquirido pelo ser humano é adquirido por meio dos sentidos.
Afirma que a diferença entre as pessoas se dá pela forma como cada uma processa o conhecimento adquirido.
Carrega grande carga de significados para a ciência, pois um dos tripés para a comprovação de um fenômeno depende de hipótese-observação-comprovação. 
Principal representante: John Locke. 
Iluminismo
Contribuição pedagógica
Surgimento das escolas laicas, que não vinculam religião com educação,
Surgimento das escolas destinadas a todos, independentemente das classes sociais.
Transformações sociais, envolvendo a gratuidade do ensino, a educação a cargo do Estado, ensino da língua materna e das ciências, das técnicas e dos ofícios.
Naturalismo - Contribuição pedagógica
Destaca como deveria ser a educação de um jovem conforme sua natureza.
Enfatiza o “educador” ideal e uma formação afastada das mazelas sociais da época, que envolvia o períodofeudal.
Afirma que antes da idade da razão (15 anos), existe uma “razão sensitiva”.
Defende que é preciso não abafar os sentidos, os instintos e os sentimentos que são anteriores ao próprio pensamento elaborado. 
Principal representante: Jean-Jacques Rousseau.
Idealismo - Contribuição pedagógica
Revoluciona a forma de pensar a educação, inserindo questões como o que é conhecimento e o que é a moral. 
Afirma que se deve agir sempre pelo dever e não pela condição que a ação impõe, ou seja, punições ou recompensas. 
Defende que o importante é o autoconhecimento a fim do autocontrole. 
Principal representante: Immanuel Kant.
Positivismo - Contribuição pedagógica
Caracteriza-se como afirmação social das ciências experimentais. 
Afirma que o homem era guiado pelo teocentrismo e pela metafísica.. 
Propõe à existência humana valores completamente humanos, afastando radicalmente teologia ou metafísica.
Principal representante: Augusto Comte.
MÓDULO 5
Contribuições das Ciências para a Educação
5.1 Introdução
A educação tomou um rumo didático à medida que abandonou as reflexões filosóficas e adentrou o mundo da sociologia, da biologia e da psicologia.
Essas ciências, nascidas no século XX, têm em sua base o tripé que sustenta a ciência enquanto tal: hipótese, experiência e comprovação. E esse tripé é o que caracteriza um método científico.
“A prática educativa, portanto, é parte integrante da dinâmica das relações sociais, das formas de organização social. Suas finalidades e processos são determinados por interesses antagônicos das classes sociais. No trabalho docente, sendo manifestação da prática educativa, estão presentes interesses de toda ordem – sociais, políticos, econômicos, culturais – que precisam ser compreendidos pelos professores. 
Por outro lado, é preciso compreender também que as relações sociais existentes na nossa sociedade não são estáticas, imutáveis, estabelecidas para sempre. Elas são dinâmicas, uma vez que se constituem pela ação humana na vida social. Isso significa que as relações sociais podem ser transformadas pelos próprios indivíduos que as integram.” (LIBÂNEO, 1992, p. 21)
5.2 O Movimento da Escola Nova
O movimento da Escola Nova foi criado sem a intenção de apontar um método de ensino, mas sim de estabelecer novas bases para a educação, pautadas na biologia, na sociologia e na psicologia.
Surgida na Europa, a Escola Nova teve como principal intenção reestruturar a atividade pedagógico-didática, a fim de promover e preparar melhor a sociedade para o novo contexto social e político que se instaurou após a Revolução Industrial.
Pregava um ensino que respeitasse as diferenças entre as pessoas.
Defendia um ensino dinâmico e não passivo que valorizasse o trabalho manual e que fosse centrado no aluno e não mais no mestre. 
Incentivava a comunicação e a cooperação.
5.3 Piaget e o Processo de Aprendizagem
Piaget se dedicou à psicologia do desenvolvimento humano, introduzindo a psicologia no universo pedagogo. Ele introduziu três expressões de uso comum na área pedagógica: adaptação, assimilação e acomodação.
- Adaptação: mudança ocasionada pela ação do indivíduo com o meio. Cada vez que o individuo interage com o mundo ao redor, influencia o meio e é influenciado por ele. 
- Assimilação: quando há a incorporação de novos esquemas e experiências anteriores e a aplicação dos mesmos a novas situações.
- Acomodação: quando há uma reorganização dos esquemas anteriores a fim de ajustá-los a novas experiências e situações.
Outro processo descrito por Piaget e que também é muito importante para a pedagogia é a equilibração. 
A equilibração é o processo de desconforto que um indivíduo sofre diante de uma situação desafiadora que ainda não pode resolver.
Ele então explora o meio em busca desse ferramental, proporcionando um momento de assimilação para, aí sim, acomodar novas ferramentas e usá-las para resolver a situação que lhe causava desconforto.
Na realidade, esse processo é o mais importante em termos de desenvolvimento de aprendizagem é o que ocorre ou deveria ocorrer com mais freqüência num processo de ensino-aprendizagem.
A aprendizagem nada mais é do que um contínuo processo de equilibração que visa o desenvolvimento mental de maneira contínua e gradativa.
Segundo Haidt “conhecer um objeto é agir mentalmente sobre ele, transformando-o”.
O desenvolvimento mental baseia-se em:
 Maturação biológica - sistema nervoso e corporal.
 Ambiente físico - se é estimulador ou não.
 Ambiente social - se é atrativo e estimulador ou não.
 Processo de equilibração constante e crescente.
A idéia central é que a aprendizagem é a interação com o meio, que mobiliza seus esquemas mentais e reordena idéias para adaptar-se, assimilando e acomodando dados para voltar a atuar e modificar esse meio. 
MÓDULO 6
Didática como prática educativa
6.1 Introdução
Para falar em didática é preciso falar em pedagogia. A didática é um ramo da pedagogia que estuda objetivos, conteúdos e meios para que ocorra a aprendizagem. 
A didática nos encaminha para as seguintes perguntas:
O quê?
Como?
Onde?
Para quê?
Todo ambiente educativo tem diferenças sociais. O ser humano em processo educativo traz de fora das fronteiras da escola os aspectos que influenciam sua formação como indivíduo. 
Podemos dizer que o meio influencia a educação e vice-versa., pois numa atividade educacional, não podemos ignorar o que o indivíduo nos traz em termos de comportamento, práticas e idéias.
O papel da educação é o de orientar as ações, fazendo o indivíduo refletir, e assim, antecipar as conseqüências de seus possíveis atos sobre o mundo, para que ele possa “testar”, “experimentar”, “argumentar”.
A ação pedagógica deve ser anterior à ação individual, e o planejamento pedagógico anterior à ação.
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A partir de agora vamos focar nossa atenção no papel do professor. Ele também é marcado por influências do meio. Além de receber também uma carga de teorias que contribuem para que ele desempenhe seu papel de formador e orientador. 
A didática relaciona-se diretamente com outras disciplinas como a filosofia, a história e a biologia para dar uma visão ampla de como o professor deve agir. 
O professor deve ser reflexivo em suas práticas, deve saber, por exemplo, quando deu uma boa aula. Ele deve usar bases científicas e não “achismos” baseados em experiências próprias.
“O processo didático efetiva a mediação escolar de objetivos, conteúdos e métodos das matérias de ensino. A Didática:
- descreve e explica os nexos, relações e ligações entre o ensino e a aprendizagem.
- indica princípios, condições e meios de direção do ensino, tendo em vista a aprendizagem, que são comuns ao ensino das diferentes disciplinas de conteúdos específicos. 
- recorre às contribuições das ciências auxiliares da educação e das próprias metodologias específicas. 
É, pois, uma matéria de estudo que integra e articula conhecimentos teóricos e práticos obtidos nas disciplinas de formação acadêmica, formação pedagógica e formação teórico-prática, provendo o que é comum, básico e indispensável para o ensino de todas as demais disciplinas de conteúdo.
 (LIBÂNEO, 1992, p. 28)”
6.2 Diferença entre Educação, Instrução e Ensino
Existem diferenças entre os termos educação, instrução e ensino, apesar de hoje os três termos serem bastante utilizados como sinônimos. 
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Educação
Engloba tanto a instrução como o ensino. Refere-se ao contexto de influências sociais para a formação psíquica, de caráter e de personalidade dos indivíduos, levando-os a refletir e praticar valores, crenças e idéias. Segundo Libâneo (1992) aeducação é produto quando traz os resultados obtidos na ação educativa e é processo, pois se constitui de transformações sucessivas.
Instrução 
É o processo que está mais relacionado à questão da formação e desenvolvimento de capacidades e habilidades ligadas a um conhecimento sistematizado.
Ensino
É o processo que une as ações e os meios para que ocorra a instrução.
Se dissemos até agora que as dinâmicas sociais fazem parte do processo educativo, que dirá a relação professor-aluno, que é estreita num contexto de ensino-aprendizagem?
Se, por um lado, há a exigência de um cumprimento de currículo, aplicação de matérias e provas, por outro, não podemos esquecer do contexto social da convivência entre a sala e o professor; momentos alegres, tristes, conversas, descontração, vários momentos que serão relembrados, impactando o desenvolvimento posterior.
Você viu que a relação professor-aluno foi unilateral e que hoje há uma forte tendência de se construir conhecimento juntos. Os conteúdos não podem somente ser transmitidos e memorizados e sim questionados e entendidos. 
O professor que permite um diálogo aberto facilita a transferência de informações e o relacionamento. Ele passa uma imagem segura do seu conhecimento e do ato de educar e “fazer pensar”. Mostra-se aberto a novas idéias e os alunos podem atuar de maneira livre e segura.
6.3 Planejamento
Podemos dizer que planejar significa responder a determinadas perguntas que perfazem ação-reflexão dentro do processo educativo: o que, como, quando e por que realizar tais ações.
Segundo Nérici (1983), a didática divide-se em quatro partes: metas ou objetivos, planejamento, execução e avaliação.
Segundo Libâneo (1992, p. 22. 2), “o planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social”.
Segundo Haidt (1994, p. 94), “planejar é analisar uma dada realidade, refletindo sobre as condições existentes, e prever as formas alternativas de ação para superar as dificuldades ou alcançar os objetivos desejados”.
Temos vários tipos de planejamento, veja a descrição do planejamento educacional, escolar, curricular e didático.
O planejamento educacional se refere às diretrizes curriculares estabelecidas pelas políticas de educação nacionais, estaduais e municipais.
O planejamento escolar ou de ensino prevê o processo geral de condução das atividades institucionais em relação ao ensino e a administração. 
O resultado desse planejamento é o plano escolar, que faz o levantamento de recursos humanos e materiais e a avaliação geral da escola ou instituição: evasão, inadimplência, aprovações e reprovações, avaliações internas, grade curricular, calendário escolar, agrupamentos de alunos, exames e dependências, funções de cada membro da equipe.
O plano visa à melhoria da instituição e a detecção dos problemas.
O planejamento curricular se refere à estruturação dos componentes curriculares dos cursos referentes a cada ano ou semestre letivo. 
A elaboração desse planejamento segue as normas deliberadas pelo Conselho Federal de Educação, que instrui sobre os componentes obrigatórios, e pelo Conselho Estadual de Educação, que escolhe quais componentes formarão a parte diversificada, atendendo às necessidades locais da instituição.
O planejamento didático é um roteiro que prevê as ações e procedimentos que o professor realizará com seus alunos ao longo de um semestre ou ano letivo.
Ele deve conter os seguintes itens: objetivos, conteúdos, procedimentos ou estratégias, recursos e avaliações.
A forma escrita e delimitada do planejamento didático é chamada de plano didático ou plano de aula. 
O plano de ensino deve ser capaz de resgatar conhecimentos vistos anteriormente, para que seja possível fazer a ponte entre o adquirido antes e o novo conhecimento. 
“Um bom plano de aula é aquele que apresenta coerência e unidade, dá continuidade ou seqüência aos assuntos abordados anteriormente, tem flexibilidade, é prático, objetivo e claro. 
(HAIDT, 1994).”.
Quando dizemos que o plano deve ser flexível, significa que pode ser adaptado a situações não previstas. Um professor que tem uma aula planejada tem total autonomia para mudar o plano, desde que atenda às necessidades do planejamento. 
Exemplo:
O professor de geografia planejou a aula que daria na próxima semana, que seria sobre abalos sísmicos.
Porém, no fim de semana ocorreu um tsunami em um país da Ásia. Todas as mídias noticiam o ocorrido.
Com isso, o professor resolve abordar o fato ocorrido na sala de aula, pois terá a oportunidade de falar sobre um assunto que os alunos estão acompanhando na mídia e teve impacto mundial.
O plano de aula refere-se ao menor grau do planejamento, ou seja, a parte final, a aula propriamente dita. O plano de aula mal elaborado tende a inviabilizar a aula e o cumprimento dos objetivos do planejamento.
Exemplo:
O professor de biologia planejou uma aula no zoológico para os alunos observarem os seres vivos no seu habitat.
Ele pede à diretora que disponibilize um ônibus para levar os alunos ao zoológico.
A diretora diz que a escola não tem verba para conseguir um ônibus. Sendo assim, o plano de aula tornou-se inviável. 
O plano deve ser colocado em prática para facilitar a vida do professor e para documentar a efetivação dos objetivos dentro do processo de ensino-aprendizagem.
Segundo Piletti (1987, p. 65), objetivos são “a descrição clara do que se pretende alcançar como resultado da nossa atividade”. 
Dentre os objetivos de um plano de aula, temos os objetivos gerais e objetivos específicos. O objetivo geral deve ser atingido a longo prazo, ao longo de um ano ou semestre letivo.
Para definir os objetivos gerais temos que perguntar o porquê, o para quê e o como.
O objetivo específico é um objetivo que deve ser atingido a curto prazo, aula a aula. Elaborar este tipo de objetivo ajuda o professor a ter mais clareza sobre o que abordar e como abordar.
Quando os objetivos são atingidos, pode-se dizer que houve aprendizagem. Portanto, a delimitação de objetivos, além de facilitar a abordagem diária do professor, encaminha o processo de ensino-aprendizagem de maneira coerente, sistêmica e ordenada.
Quando falamos em escolha de conteúdos, os professores devem considerar o desenvolvimento do pensamento e as habilidades mentais e a troca de informações.
Conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida. 
Segundo Libâneo (1992), existem alguns critérios mais específicos para que os conteúdos sejam escolhidos. Veja:
- Correspondência entre objetivos gerais e conteúdos
Leva-se em consideração o que se quer atingir com aquela aula ou matéria.
- Acessibilidade e solidez
 Avaliar se o conteúdo é adequado ao nível de desenvolvimento dos alunos.
- Caráter científico 
Partes mais importantes e mais relevantes de determinado tema ou conhecimento, sem que isso fragmente o todo a ser ensinado.
- Caráter sistemático 
Interligação dos assuntos entre si.
-Relevância social 
Articulação do conteúdo aprendido com a aplicação prática, permite que o aluno aplique o que aprendeu em experiências reais, excluindo a memorização e valorizando a articulação mental e o desenvolvimento de competências.
É importante que o professor a cada ano reveja os conteúdos a serem abordados em cada disciplina. Como o mundo muda a cada dia, novas informações chegam de maneira rápida e dinâmica, novas descobertas vão sendo feitas e divulgadas.
6.4 Procedimentos ou estratégias 
Abordaremos os procedimentos e técnicas empregadas por um professor para atingir os objetivos propostos.
Segundo Turra, procedimentos

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