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6 Formação do Estado - Dalmo de Abreu

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CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO
FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO
REFLEXÕES SOBRE AS ANTIGAS FORMAS DE GOVERNO 
A síntese a seguir, dessas distintas formas de governo e de exercício do poder político de governo que se desenvolveram nos antigos núcleos humanos (nas antigas civilizações), foi extraída da obra de Dalmo de Abreu Dallari, Elementos da Teoria Geral do Estado (20ª edição, São Paulo, Saraiva, 1998
A estrutura jurídica e política que, atualmente, reveste a instituição conhecida e reconhecida como “Estado”, é um fenômeno historicamente recente, de não mais de três séculos de existência, uma vez que sua consolidação se deu nos momentos históricos posteriores às Revoluções Liberais Burguesas dos séculos XVII e XVIII, principalmente com elaboração da Constituição escrita que formalizou a independência e o “nascimento”dos Estados Unidos da América e a instalação da República presidencialista como forma de governo desse Estado recém-nascido, e com elaboração da Constituição escrita que formalizou e instituiu a República da França pós-revolucionária (anteriormente, já havia sido estabilizada a Monarquia Parlamentarista na Grã-Bretanha/Inglaterra).
Antes da consolidação desse denominado “Estado Moderno (Estado de Direito/Estado Constitucional)”, os núcleos urbanos resultantes do processo histórico civilizatório sempre foram orientados e mantidos sob distintas formas de governo e de exercício do poder político de governo (governantes e governados).
ESTADO ANTIGO, ORIENTAL OU TEOCRÁTICO
Trata-se de forma de governo percebida nos primórdios da civilização humana, ainda na transposição do estágio do nomadismo para o sedentarismo dos principais núcleos humanos (da superação das primeiras tribos que se apossaram das extensões territoriais para as civilizações assentadas em espaços geográficos próprios, com o desenvolvimento da agricultura, da pecuária e da construção das primeiras obras civis de engenharia – casas, “prédios público”, “prédios para cultos religiosos”. 
Acredita-se que esses primeiros assentamentos desenvolveram-se, primeira e principalmente, na região mediterrânea. A grande característica dessa primeira forma de governo era a 	unidade geral, não admitindo divisão anterior, nem territorial, nem de funções: nesses primeiros núcleos humanos não havia ainda a noção do individualismo, da propriedade pessoal e oponível a terceiros (de instrumentos ou de porções de terras). Vivia-se, ainda, a transposição do comunismo primitivo para o processo civilizatório. O “sistema de governo” e de exercício do poder político ainda se confundia e se mesclava com o fator religioso.
A religião possuía grande influência na organização desses primeiros núcleos (por isso que alguns autores denominam esse época de Estado Teocrático). Entendia-se que as normas individuais de conduta e também as decisões e condutas dos governantes derivavam da vontade divina (estreita relação entre o Estado e o Divino). Havia duas principais formas de expressão dessa correlação:
—o próprio governante era o elo entre “os deuses” (o divino) e o Estado; sua vontade e suas condutas representavam a vontade dos próprios deuses, derivando dessa mescla a intangibilidade do seu poder de governo e de suas condutas de governante, até mesmo as arbitrárias e as contrárias às condutas exigidas dos demais integrantes do corpo social;
—os “deuses” limitavam o poder e o agir dos governantes por meio de seus representantes nos núcleos humanos (os sacerdotes religiosos), e isso, no suceder dos tempos, reforçou o poder espiritual, político e de força da classe sacerdotal (a religião sempre esteve ao lado do poder político de governo e, em muitos estágios do processo civilizatório, até mesmo se confundiam), e sua capacidade de interferir na condução dos negócios do Estado.
ESTADO GREGO
É preciso entender que a Grécia Antiga não se constituía em uma única entidade política gerida sob um governo central único. Na realidade, esse denominado Estado Grego constituía-se de várias cidades (Cidades-Estados= Atenas, Creta, Esparta, Tebas e Tróia são sempre citadas como as mais importantes) que possuía autonomia e condições políticas e econômicas de se auto-governarem (autarquia), e possuíam entre si características que poderiam ser consideradas como “características comuns”, embora houvesse enormes diferenças entre elas, principalmente na forma de governo e de condução dos seus negócios.
A principal característica desse Estado Grego eram, justamente, essas Cidades-Estados (polis) como sociedade política de maior expressão, constituída por outros núcleos sociais que contribuíam para a auto-suficiência administrativa, econômica e política (e esse modo de organização se manteve até mesmo quando houve a conquista de novos povos por essas polis = não ocorreu a incorporação e integração das sociedades conquistas à essas sociedades conquistadoras). 
Nesse Estado Grego desenvolveu-se o embrião do sistema que, no futuro, seria tomado como regime democrático: “...uma elite, que compõe a classe política, com intensa participação nas decisões do Estado, a respeito dos assuntos de caráter privado...”. Muito embora fosse uma minoria (homens livres) em relação ao corpo social (haja vista que, nessa época, o povo grego já era um povo escravagista, e os escravos não eram nem mesmo considerados humanos), já se mostrava a incipiente participação dos cidadãos na condução dos negócios públicos.
ESTADO ROMANO
É quase impossível tratar de características uniformes em uma civilização que perdurou de 765 a.C. até, no mínimo, por volta do século VI, com diversos estágios político-sociais, e que evoluiu de simples tribo de pastores para a conquista e consolidação do maior império até então conhecido.
“...O domínio sobre uma grande extensão territorial e sobretudo o cristianismo iriam determinar a superação da cidade-Estado, promovendo o advento de novas formas de sociedade política, englobando o conceito de Estado Medieval. Uma das peculiaridades mais importantes do Estado Romano é a base familiar de organização, havendo mesmo quem sustente que o primitivo Estado, a civitas, resultou da união de grupos familiares (as gens), razão pela qual sempre se concederam privilégios especiais aos membros das famílias patrícias, compostas pelos descendentes dos fundadores do Estado...”.
	No Estado Romano surgiram conceitos e instituições políticas importantes: a res publica como conceito de interesses coletivos distintos dos interesses e direitos privados, e esse conceito evoluiu para o sistema político de governo denominado República; o senatus (Senado), como o conselho de cidadãos livres, influentes e representativos no corpo social, já experientes em anos de vida e em relações (bélicas e políticas) com outros povos. 
	Nos seus primórdios, havia a participação o povo na condução dos negócios públicos, mas, a noção de povo era muito restrita: cidadãos livres, proprietários e descendentes das famílias patrícias. Entretanto, com os séculos, e com o crescimento demográfico derivado do próprio processo civilizatório e, principalmente, com o engrandecimento da população escrava, e com a constante insatisfação e revoltas sociais advindas em decorrência dessa segmentação social, foram sendo abrandados os institutos jurídicos e possibilitando a ascensão política e social das classes plebéias, até que, por decisão política, foi dada a cidadania romana a todos aqueles que se encontravam sob a jurisdição de Roma (por volta do século III.
	A ascensão do Império Romano e a extensão de suas conquistas e jurisdição até os limites geográficos que lhes foram possíveis, foi também uma das causas de sua derrocada: o modelo sustentado na conquista de povos e territórios e na cobrança de tributos, na subjugação dos conquistados, e na expansão dos gastos das classes nobres e das classes políticas em cerimônias e luxos, e na ausência de qualquer produção de bens que sustentassem a economia, gerou processo inflacionário, insatisfaçãosocial, enfraquecimento dos centros políticos de governo e das forças militares, situações essas que minaram o poder e a resistência romana e possibilitaram a conquista de seus territórios por populações bárbaras, até a efetiva queda de Roma em 576.
	Como resultado histórico, restou a consolidação da Igreja de Roma – cristianismo -, que estendeu seus interesses e poder religioso e bélico por toda a extensão européia, e a divisão das terras romanas em territórios sob a posse de conquistadores bárbaros e de famílias locais que mantiveram, à força bélica, suas extensões de terra quando da queda do Império. Essa confluência de fatos históricos deu origem a uma nova forma de organização política, econômica e social na Europa Ocidental, sustentada nos feudos: o Feudalismo, que perdurou por toda a Idade Média (séculos V a XVIII).
ESTADO MEDIEVAL
Não é possível concentrar treze séculos de história, no mínimo, em poucas linhas acadêmicas, mas, mesmo assim, pode-se sintetizar a época feudal (Idade Média) existente e vivenciada na Europa Ocidental entre a queda do Império Romano do Ocidente (século V) e o surgimento do denominado Estado Moderno, no período pós Revoluções Burguesas dos séculos XVII e XVIII. “...podem-se indicar e analisar separadamente os principais elementos que se fizeram presentes na sociedade política medieval, conjugando-se para a caracterização do Estado Medieval, que foram o cristianismo, as invasões bárbaras e o feudalismo.
	Cristianismo= com a queda do Império Romano Ocidental, a única instituição oficial que, praticamente, manteve-se intacta foi a Igreja de Roma – uma vez que o cristianismo havia se tornado a religião oficial do Império desde o século IV —, que expandiu seu poder espiritual, político e bélico por todos os feudos europeus. Havia a concepção ideológica de tornar cristã toda a humanidade, mesmo que sob o império da força, da violência. Mas, durante todos os séculos, o poder religioso também enfrentou resistências do próprio poder político então oficial nos respectivos territórios feudais, e, não raro, eram os confrontos entre as autoridades laicas e as autoridades religiosas. Muitos reis insistiam em não reconhecer o poder religioso como superior aos seus próprios, mas enfrentavam a ideologia reinante do poder divino como origem do poder terreno. Essa superação se deu nos finais da Idade Média, por volta dos séculos XIII em diante, quando os reis se impuseram como poder central nos reinos que já unificavam sob o poder central e absoluto de um governante autoritário e absolutista.
	Invasões bárbaras = essas invasões dos povos germanos, eslavos e godos, principal mas não exclusivamente, às terras do Império Romano se fizeram continuamente nos anos de diversos séculos; não se deu de forma abrupta. Enquanto Roma possuia forças e poder para se impor aos bárbaros (aqueles povos guerreiros ainda não conquistados, e que ainda viviam sob regime nômade), eles se mantiveram nas bordas do Império, embora tecendo relações sociais e comerciais com as populações romanas ali situadas. No entanto, diante do enfraquecimento administrativo, político e militar de Roma, que também enfrentou convulsões internas como os povos de territórios já conquistados, as populações bárbaras adentraram às terras romanas, até conquistar sua capital, Roma, em 576. As invasões ao Império, que resultaram no seu esfacelamento, se deu no processo histórico, e não como resultado de fato isolado. A queda do Império Romano do Ocidente iniciou nova forma de organização política, econômica e social na Europa Ocidental.
	Feudalismo=	o ambiente hostil vivenciado nos períodos pós queda de Roma, trouxeram incertezas no sistema político instalado nos diversos milhares de domínios que se constituíram em terras européias. A terra, como instrumento de produção de bens de consumo, tornou-se o referencial máximo de fonte de riqueza. “...Assim, toda a vida social passa a depender da propriedade ou da posse da terra, desenvolvendo-se um sistema administrativo e uma organização militar estreitamente ligados à situação patrimonial...”. Característica dessa forma de organização social, política, econômica e religiosa é a completa confusão entre o privado e o público na condução dos negócios da instituição política, e ela se dá “...sobretudo através de três institutos jurídicos...”:
—vassalagem=	“...os proprietários menos poderosos colocavam-se a serviço dos senhor feudal, obrigando-se a dar-lhe apoio nas guerras e a entregar-lhe uma contribuição pecuniária, recebendo em troca sua proteção...”. Tratava-se de uma relação jurídica de caráter pessoal;
—servidão por meio do benefício=	o qual era contratado entre o senhor feudal e o chefe de família que não possuía patrimônio, que, desde então, recebia uma faixa de terra para cultivar, dela extraindo o sustento, conquanto entregasse ao senhor feudal parcela da produção. Com o contrato de benefício, o servo passava a ser tratado como parte da gleba, dela inseparável, e o senhor feudal adquiria sobre ele e sua família o poder de vida e morte, estabelecendo, inclusive, regras de comportamento e de condutas. Constituía-se Em relação jurídica de direito real;
—imunidade=	o senhor feudal isentava de tributos as terras sujeitas ao instituto do benefício.
	Esses institutos contribuíram para que os senhores feudais fortalecessem seus poderes políticos, e para que seus feudos construíssem e mantivessem ordens jurídicas próprias, independentemente de quaisquer poderes do Estado, “...os próprios agentes do poder político, ligando o exercício de suas funções à propriedade ou à posse da terra, afirmavam a independência em relação a qualquer autoridade maior, embora nominalmente integrados num Estado de dimensões muito vastas, ainda que imprecisas...”:
—	o poder do Imperador exercido sobre uma pluralidade de poderes inferiores, no entanto, sem hierarquia definida;
—	multiplicidade de ordens jurídicas, equivalendo dizer que cada feudo, cada reino, possuía sua própria ordem jurídica, podendo ser mencionadas as ordens jurídicas imperial, a eclesiástica, a monárquica inferior, a comunal, as dos respectivos feudos, e as das corporações de ofícios estabelecidas no final da Idade Média.
“...Esse quadro [...] era causa e conseqüência de uma permanente instabilidade política, econômica e social, gerando uma intensa necessidade de orem e de autoridade, que seria o germe do Estado Moderno...”.
REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE ESTADO
Com o sentido de uma sociedade organizada política e juridicamente com poder de mando e de governo sobre determinada população em território certo, o termo status (Estado) foi utilizado pela primeira vez por Nicolau Maquiavel (Niccolò di Bernardo Machiavelli – 1469 a 1527) quando ele, refletindo sobre a consolidação dos antigos feudos e reinos em instituições políticas nacionais, e sobre as formas de aquisição e manutenção do poder político de governo nessas instituições políticas nacionais, afirmou: 
“...Tutti li stati, tutti e' dominii che hanno avuto et hanno imperio sopra li uomini, sono stati e sono o repubbliche o principati. E' principati sono o ereditarii [...] o e' sono nuovi...”�.
Esse conceito/entendimento precede em, aproximadamente, dois séculos, a consolidação do Estado moderno como hoje conhecido, caracterizado pela tripartição de Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e pela declaração de direitos e garantias fundamentais, expressas em Constituições nacionais escritas e elaboradas por representantes eleitos pelo corpo social, cujo poder político de governo passou a ser exercido sob forma representativa (por mandatos eletivos temporários, obtidos em eleições periódicas). 
Esse tipo de Estado formou e se consolidou no seio das Revoluções Liberais Burguesas — séculos XVII e XVIII ─ acontecidas, principalmente, na Inglaterra (Revolução Gloriosa – 1688 a 1689), nos Estados Unidos (Guerra de Independência das treze colônias inglesas na América – 1776) e na França (Revolução Francesa – 1789). 
Noentanto, formas de governo de sociedades humanas sempre existiram, desde que houve a segmentação da sociedade em classes sociais com fundamento, principalmente, na ascendência e na consanguinidade ou na posse e acumulação de bens materiais (proprietários e não proprietários), ou, ainda, na ideia do sobrenatural e nas crenças religiosas. 
Essas formas de governo constituíram e representaram os primórdios da ordem política, que, na evolução, resultaria no Estado como sociedade política e jurídica ora conhecida. 
Muito embora sempre tenha existido essa ordem política que respondia pelo governo das sociedades, nem sempre ela possuiu essa moderna configuração do Estado. A título de exemplo, pode ser citada a polis grega e a civitas romana:
”...polis dos gregos ou civitas e a respublica dos romanos eram vozes que traduziam a idéia do Estado, principalmente pelo aspecto de personificação do vínculo comunitário, de aderência imediata à ordem política e de cidadania. No Império Romano, durante o apogeu da expansão, e mais tarde entre os germânicos invasores, os vocábulos Imperium e Regnum, então de uso corrente,passaram a exprimir a idéia de Estado, nomeadamente como organização de domínio e poder. Daí se chega à Idade Média, que, empregando, o termo Laender (“Países) traz na idéia de Estado sobretudo a reminiscência do território...”�
ESTADO MODERNO
A consolidação do que se nomina Estado Moderno representou a superação tanto do regime feudal que se instalara na Europa Ocidental desde a queda de Roma em 576, quanto, também, a superação das monarquias absolutistas que se consolidaram nos territórios europeus à custa da unificação dos reinos e feudos sob as mãos fortes de monarcas autoritários, que governavam de modo despótico e absoluto, sob o manto da origem divina de seus poderes políticos (e de suas próprias existências). 
No processo histórico em que esse Estado Moderno superou as antigas ordens políticas, econômicas, religiosas, sociais e ideológicas feudais (laicas e eclesiásticas), houve a institucionalização e consolidação, no contexto das Revoluções Liberais Burguesas dos séculos XVII e XVIII, do Estado de Direito (também denominado Estado Constitucional), com características próprias, peculiares, e nada parecida ou semelhante à qualquer outra conhecida pela história humana:
	—a fonte do poder político consolidou-se como sendo derivada da vontade do povo;
	—a lei (o direito positivo) passou a ser o parâmetro de conduta social e de aquisição de direitos civis;
	—a Constituição escrita (lei maior), tornou-se o instrumento jurídico de organização política do Estado;
	—a forma de governo deixou de ser pessoal, tornando-se representativa;
	—o exercício do poder político de governo tomou a forma de mandato eletivo temporário;
	—os governantes adquiriam o direito ao mandato político pela vontade do povo (eleições livres);
	—os direitos do individuo em face do Estado tornaram-se cláusulas irrevogáveis nas Constituições;
	—governantes, governados e o próprio Estado foram postos sob a submissão do direito positivo;
	—o modo de produção capitalista sucedeu às formas econômicas feudais de produção de riquezas.
Essa instituição jurídica, política e ideológica constituída a partir das Revoluções Liberais dos séculos XVII e XVIII sob o nome de Estado, é a instituição jurídica, política e ideológica que, atualmente, rege as relações jurídicas no mundo contemporâneo. 
Esse ESTADO MODERNO, também denominado ESTADO DE DIREITO e ESTADO CONSTITUCIONAL também é contemporâneo do sistema capitalista (modo de produção capitalista). Não existia o capitalismo nas anteriores formas de governo.
CONCEITO DE ESTADO, SEGUNDO DALMO DE ABREU DALLARI:
“...parece-nos que se poderá conceituar o Estado como a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território. [...] A noção de poder está implícita na de soberania, que, no entanto, é referida como característica da própria ordem jurídica. A politicidade do Estado é afirmada na referência expressa ao bem comum, com a vinculação deste a um certo povo e, finalmente, está presente na menção a determinado território...” — Elementos da Teoria Geral do Estado. 20ª ed. — São Paulo : Malheiros, 1998, p. 118
SURGIMENTO E FORMAÇÃO DO ESTADO
TEORIAS SOBRE A ÉPOCA DE SURGIMENTO DO ESTADO
a corrente teórica que acredita que a própria sociedade sempre existiu, e que, nessa organização social, sempre existiu um princípio unificador, organizador e dotado de poder para regrar o comportamento do grupo social , sendo ele presente e característico de toda sociedade humana, e corporificado na instituição do Estado, embora sob roupagem própria de cada época histórica.
a corrente doutrinária que afirma que a sociedade humana pré-existiu ao Estado, e existiu poder determinado período sem o Estado, e, posteriormente, por divesos motivos, constituiu-se o Estado para atender necessidades e conveniências dos respectivos grupos sociais,sem que, no entanto, houvesse concomitância na formação do Estado nos diversos territórios e nos diversos grupos sociais; 
a corrente dos autores que não aceitam a existência do Estado nas anteriores formas de governo, somente o aceitando aplicável às sociedades políticas dotadas de características bem definidas, apresentadas a partir dos séculos XVII e XVIII.
SOBRE A FORMAÇÃO DOS ESTADOS, PODE-SE DIVIDIR EM
FORMAÇÃO ORIGINÁRIA E FORMAÇÃO DERIVADA
TEORIAS SOBRE A FORMAÇÃO ORIGINÁRIA DO ESTADO
—TEORIA SOBRE A FORMAÇÃO NATURAL OU ESPONTÂNEA (teoria naturalista)
Embora existam diversas correntes que se subsumem a esse corrente teórica, seus seguidores entendem, em síntese, que o Estado se formou espontaneamente, concomitantemente com a formação do Estado
—TEORIA SOBRE A FORMAÇÃO CONTRATUAL (teoria contratualista)
Também há diversas correntes sob essa corrente teórica (de filósofos como Thomas Hobbes, John Locke, Jean-Jacques Rousseau, dentre tantos), mas, de modo geral, defendem que o Estado se formou a partir da vontade dos homens, que, por razões relativas, principalmente, à segurança, formalizaram um “contrato social” constituindo o Estado para zelar pelas regras de comportamento e pela paz do corpo social
—SÍNTESE DAS TEORIAS NÃO CONTRATUALISTAS
—teorias da origem familiar ou patriarcal=	as teorias que seguem essa linha de entendimento afirmam a origem na entidade familiar primitiva, que se ampliou (clãs, gens, polis, civitas, cidades) e deu origem ao Estado
—teorias na origem em atos de força, de violência ou de conquista= apregoam que o Estado surgiu da relação de domínio em que grupos sociais mais fortes submeteram outros grupos mais fracos, pondo-os sob seu comando
—teorias na origem em causas econômicas ou patrimoniais= seus seguidores defendem que o Estado teria se formado para que fossem aproveitados os benefícios das diferentes atividades econômicas e profissionais decorrentes, especialmente, da apropriação de terras, que terminou por gerar as noções de propriedade e de poder. Essas teorias negam que Estado tenha surgido com a sociedade, e afirmam ser ele fruto da sociedade . Dentre essas teorias econômicas, a que mais se destaca é defendida por Karl Heinrich Marx e Friederich Engels, os quais dizem ser o Estado fruto e instrumento da sociedade capitalista. Ambos são considerados os principais teóricos do sistema comunista.
—teorias na origem no desenvolvimento interno da sociedade: seus defensores entendem que a formação do Estado não deriva de nenhuma razão externa à sociedade, mas, sim, da própria evolução dela. Nas sociedades primitivas, inexiste a instituição estatal, entretanto, quando elas evoluem e se tornam complexas, ressentem-se da estrutura do Estado, que se constitui para ordenar as diversas espécies de relações sociais e jurídicas
Atualmente, não mais se pode dizer que haja formação originária de Estados, uma vez que essa formação originária somentese percebe (somente se percebeu) na fase inicial, embrionária, dessa instituição jurídica e política. Nos dias atuais, quando todos os espaços geográficos do planeta já se encontram partilhados entre os diversos Estados existentes, somente se pode cogitar de formação derivada do Estado.
FORMAÇÃO DERIVADA DO ESTADO
Entende-se por formação derivada do Estado a formação de novos Estados a partir dos Estados já pré-existentes; sendo os processos mais comuns o fracionamento ou a união.
——formação derivada por fracionamento de Estado já existente ocorre quando:
—uma parte do Estado já existente se desmembra
	—para constituir um novo Estado, situação essa muito comum com o fim da colonização. Exemplo: o Brasil, que se separou de Portugal, e se constituiu em um novo Estado, primeiramente como Império, e, depois, como República Federativa;
—para se integrar a um outro Estado já existente, a exemplo da região da CRIMÉIA, que se separou da UCRÁNIA para se integrar à RUSSIA), 
—um Estado se fraciona em vários outros Estados, a exemplo da Iugoslávia, que se desintegrou e resultou na formação de vários Estados= Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Macedônia, Montenegro, Sérvia) e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, que se dissolveu, em 1991, em 15 novos Estados: Rússia, Ucrânia,Moldávia, Bielorrúsia, Estónia, Letónia, Lituânia, Geórgia, Arménia, Azerbaijão, Cazaquistão, Turquemenistão, Quirguistão, Usbequistão; Tajiquistão
——formação derivada por união de Estados já existentes ocorre quando vários Estados decidem constituir um novo e único Estado, adotando Constituição comum e soberania única, desaparecendo aqueloutros Estados originais. Exemplo clássico: as treze colônias inglesas na América do Norte, que se tornaram independentes da Coroa Britânica, e, ao invés de continuarem como Estados livres, resolveram pela união e formação dos Estados Unidos da América – USA.
——formação derivada atípica, não usual e imprevisível é fenômeno raramente observável, mas, geralmente, ocorre ao término de grandes conflitos, guerras, quanto os Estados vencedores (a título de minimizarem tragédias e resolver conflitos étnicos ou religiosos, ou para enfraquecer o potencial bélico e político dos Estados vencidos) promovem alterações territoriais nos subjugados e criar novos Estados, a exemplo de Israel, criado após a Segunda Grande Guerra Mundial, e a exemplo da Alemanha, dividida em duas (Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental), também ao final da Segunda Guerra Mundial.
MUDANÇAS DO ESTADO POR REFORMA OU REVOLUÇÃO,
na concepção da Dalmo de Abreu Dallari, em Elementos de Teoria Geral do Estado
Entendendo-se que se trata o Estado de uma sociedade organizada administrativa, jurídica e politicamente, regida pelo Direito por ela mesma estabelecido por intermédio de suas instituições, órgãos e agentes, detentora, por tempo indeterminado, do poder legal do uso da força, com soberania (jurisdição) sobre certo território e sobre as coisas e pessoas que se encontram nesse território, deve-se entender que não se trata ele de uma estrutura estática e imutável ao longo do processo histórico. Por não ser estático, haja vista tratar-se de uma sociedade que influencia e se influencia pelas relações interpessoais (sociais, culturais, afetivas, jurídicas, políticas etc.) que se desenvolvem em seu interior, o Estado também se modifica, à medida que se modificam suas estruturas orgânicas e se renova o quadro de seus agentes.
Como ordem jurídica institucionalizada, dotada de personalidade jurídica, regida pelo Direito que ele próprio elabora por intermédio de suas estruturas orgânicas de dos seus agentes políticos, o Estado não se confunde com a vontade de seus agentes (políticos ou técnico-administrativos), os quais, quando atuam como agentes do Estado, manifestam vontade e conduta não pessoais, mas, sim, refletem condutas e vontades do próprio Estado: o Estado age e se conduz pela conduta e vontade de seus agentes.
Nesse contexto social, político, jurídico e ideológico, o Estado atual (Estado de Direito; Estado Constitucional) se torna objeto de mudanças em sua concepção e estrutura jurídica e política, tendendo, sempre, à evolução (embora, muitas vezes e no contexto histórico, haja involuções, como, por exemplo, quando o Estado deixa de se reger pelo Direito e se possibilita reger pela arbitrariedade de seus dirigentes, assim como ocorre nas ditaduras sanguinárias). Essas mudanças na concepção e na estrutura jurídica e política do Estado pode se dar por meio de:
REFORMAS =	que se prestam a alterar, principalmente, concepções, estruturas, instituições, e legislação, sempre observando as regras do Direito estabelecido e as noções de ética, moral e de crenças já estabelecidas, adaptando-se às atuais e potenciais aspirações ou necessidades do corpo social. Essa é a forma habitual como se dá a modificação e a evolução da ordem administrativa, jurídica e política nos Estados contemporâneos
REVOLUÇÃO:	que, em termo simples, significa a quebra, a desconstituição de uma ordem jurídica, para substituí-la por outra ordem jurídica e política, que apresenta novos ideais políticos e jurídicos. A revolução, por quebrar a ordem jurídica e política estabelecida, é sempre ilegal sob o ponto de vista de ordem anterior. É o que dá, por exemplo e por simples analogia, com os denominados “golpes de Estado”, em que um grupo de fora do poder assume, pela força, o poder de governo, destituindo a burocracia que então governava. No entanto, Revolução é muito mais profunda que “golpes de Estado”, por representar, justamente, a substituição de uma ordem constituída (social, cultural, administrativa, jurídica, politica e historicamente), por uma ordem, cuja configuração é oposta àqueloutra. Exemplo se dá quando desconstitui-se os Estados Democráticos e de Direito, para se constituir os Estados Comunistas ou Socialistas.
FORMAS DE ESTADO
A Constituição Federal de 1988 adotou, para o Estado brasileiro, a forma federativa, forma essa que, primeiramente, foi constitucionalmente adotada por meio da primeira Constituição Republicana, de 1889. 
Segundo a atual Constituição Federal, a “...República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito...” (art. 1º, caput).
“...O federalismo, como expressão do Direito Constitucional, nasceu com a Constituição norte-americana de 1787. Baseia-se na união de coletividades políticas autônomas. Quando se fala em federalismo, em Direito Constitucional, quer-se referir a uma forma de Estado, denominada federação ou Estado federal, caracterizada pela união de coletividades públicas dotadas de autonomia político-constitucional, autonomia federativa. O Brasil [...] assumiu a forma de Estado federal em 1889, com a proclamação da República, o que foi mantido nas constituições posteriores, embora o federalismo da Constituição de 1967 e de sua Emenda 1/69 tenha sido apenas nominal...”�.
No federalismo brasileiro, reconhece-se a soberania apenas à União, que representa o Estado da República Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, mas, internamente, reconhece-se autonomia administrativa, jurídica e política aos Estados-membros, ao Distrito Federal e aos Municípios. A delimitação das autonomias dos entes políticos federados brasileiros é dada pela partição de competências outorgadas pela Constituição Federal.
O que distingue a forma de Estado unitário da forma de Estado federal é, justamente, a existência ou não de coletividades regionais dotadas de autonomias político-administrativas, mais ou menos amplas conforme seja a conformação histórica, política e jurídico-constitucional do Estado em questão.
— ESTADO UNITÁRIO:	constitui-se de um único centro de poder político com atuação por todo o território, população e coletividades regionais do Estado, e as eventuais descentralizações administrativas regionais e locais caracterizam-se porserem apenas autárquicas e não autônomas e nem políticas. Exemplos: Chile, França, Uruguai, Paraguai).
— ESTADO FEDERAL:	possui por maior característica a partição do poder entre unidades regionais situadas no território sobre o qual mantém a jurisdição. A par do poder central (que atua sobre todo o território e sobre toda a população do Estado), há, também, centros de poder regionais que desfrutam de autonomias administrativas, jurídicas e políticas, mais ou menos amplas conforme seja a conformação histórica, política e jurídico-constitucional do Estado em questão. Nos Estados Unidos, é ampla a autonomia dos Estados federados, ao passo em que, no Brasil, essa autonomia é bastante mais reduzida. Não obstante as autonomias regionais, somente o poder central detém a soberania e a representatividade perante a comunidade internacional. Exemplos: Estados Unidos, Brasil.
— ESTADO AUTONÔMICO (OU ESTADO REGIONAL): no entremeio entre o Estado unitário e o Estado federal, o Estado autonômico se constitui em alternativa à secessão em decorrências de razões étnicas, históricas, religiosas, políticas ou de quaisquer outras que, eventualmente, possam causar a separação de parte de determinado Estado já existente (unitário ou federal), tal como aconteceu as ex Iugoslávia, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Para evitar a separação, e como forma de manter o Estado constituído, resolve-se (administrativa, jurídica e politicamente), conceder maiores poderes e autonomias às regiões internas, que passam a deter maiores poderes administrativos, políticos e jurídicos, a exemplo do que se tem em Estados como a Espanha, a Itália e, mais recentemente, com a Grã-Bretanha, que decidiu conceder maior autonomia à Escócia, quando essa decidiu, em plebiscito realizado em setembro de 2014, manter-se unida ao Reino Inglês.
A INSTITUCIONALIÇÃO DO PODER
E O SURGIMENTO DO ESTADO
Tem-se que os grupos humanos evoluíram a partir da família nuclear (casal e sua prole), para o ajuntamento de famílias, formando os clãs, de cuja junção surgem as tribos (grupos gentílicos), e, do ajuntamento delas surge uma NAÇÃO. O ESTADO é forma ainda mais complexa do que a NAÇÃO.
Entende a doutrina que o ESTADO NASCE NO MOMENTO EM QUE HÁ UMA CLARA DEFINIÇÃO DO NÚCLEO DE PODER (GOVERNO) DA SOCIEDADE (UMA OU MAIS NAÇÕES), E FONTES SUBJETIVAS E OBJETIVAS DE NORMAS DE CONDUTA (ORGÃOS INSTITUCIONAIS QUE CRIAM AS NORMAS, E AS PRÓPRIAS NORMAS, ASSIM CONSIDERADAS AS LEIS EM SENTIDO AMPLO).
O ESTADO surge com a INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PODER.
A INSTITUCIONALIAÇÃO DO PODER DIZ RESPEITO A ELE DEIXAR DE SER PERSONALIZADO, DESGARRANDO-SE DA PESSOA OU DAS PESSOAS QUE O EXERCEM. 
Com a institucionalização, o PODER passa a existir independentemente de quem o exerça ou deixe de exercê-lo, e deixa de ser despersonalizado (não é mais difuso e mutável com as repentinas mudanças sociais).
Nesse estágio, e com o Poder institucionalizado, o DIREITO também deixa de ser difuso, ditado por costumes e tradições, e passa ser constituído a partir de fonte subjetiva própria, de fonte também institucionalizada, qual seja, os órgãos estatais com função legislativa = o Poder Legislativo.
É por essa razão que correntes doutrinárias professam que o Estado, como conhecido hodiernamente, surgiu no seio das Revoluções Liberais Burguesas dos séculos XVII e XVIII, notadamente com a formação dos Estados Unidos da América (1776) e com a Revolução Francesa (1779), pois foi a partir de então que houve a institucionalização da tripartição de poderes, do governo representativo, do mandato eletivo temporário, das eleições políticas livres, gerais e secretas, do voto secreto, das declarações de direitos do cidadão em face do poder governamental e, principalmente, da lei positivada como fonte do direito e da elaboração de Constituições escritas por representantes políticos livremente eleitos por seus pares para esse mister.
No mesmo contexto cultural, histórico, jurídico, político e social evoluíram, de estágios mais simples, o sistema capitalista e o Estado de Direito/Estado Constitucional.
ELEMENTOS ESSENCIAIS DO ESTADO
Segundo Dalmo de Abreu de Dallari�, são elementos característicos conformadores do Estado Moderno:
		—soberania
		—território
		—povo
		—finalidade
SOBERANIA
A noção de soberania como poder máximo, supremo, do governante e ou da própria instituição política (polis grega, civitas romana) não foi conhecida na Antiguidade. Na Grécia, tinha-se, à época, a noção de autarquia, que se referia à auto-suficiência para se governar, tanto no aspecto econômico como bélico (de garantir sua própria segurança).
Na Idade Média, no regime feudal, as relações sobrepostas de ordens jurídicas (feudos, principados, reinos) e as dificuldades de se estabelecer normas uniformes de tributação, e a necessidade histórica de padronização derivada da intensificação das relações econômicas, fizeram surgir as bases políticas e ideológicas que consolidaram a noção de soberania como poder do monarca, que o sobrepunha a todos os demais poderes políticos, até mesmo ao poder papal.
Essa noção foi sendo construindo nos acontecimentos cotidianos da história, em processo que evoluiu por, aproximadamente, cinco séculos, e, “...no final da Idade Média os monarcas já têm supremacia, ninguém lhes disputa o poder, sua vontade não sofre qualquer limitação, tornando-se patente o atributo que os teóricos logo iriam perceber, a soberania...”�.
Com os filósofos contratualistas, especialmente com Jean-Jacques Rousseau, em O Contrato Social, a noção de soberania foi ofertada à vontade do povo...à vontade geral, formalizada no “contrato social”, e se torna a fonte do poder soberano, e esse poder soberano ganha contornos de indivisibilidade e de inalienabilidade. No processo histórico, já adentrando ao século XIX, essa soberania (indivisível e inalienável) foi sendo transmutada como característica intrínseca do Estado, agora já dotado de personalidade jurídica.
conceito de soberania
Entendendo-se que os “...fenômenos do Estado são, indissoluvelmente, sociais, jurídicos e políticos...”, tem-se, então, o entendimento de que a soberania, quando referida ao Estado, diz respeito ao “...poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer dentro de seu território a universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência...” (MIGUEL REALE)
—nesse conceito estão expressas as ideias de que:
	—a soberania não é a simples expressão de um poder de fato;
	—não se encontra integralmente submetida ao Direito;
	—possui limites nos fins éticos de convivência social, compreendidos na noção de bem comum
—nesses limites, o poder soberano possui a faculdade de utilizar a coerção para impor suas decisões.
CARACTERÍSTICAS DA SOBERANIA
Segundo os doutrinadores, são características da soberania, como elemento essencial do Estado:
—a soberania é una
—a soberania é indivisível
—a soberania é inalienável
—a soberania é imprescritível
—a soberania é originária
—a soberania é incondicionada
—a soberania é exclusiva
—a soberania é coativa
A SOBERANIA E A CARACTERÍSTICA DA UNICIDADE
A soberania é entendida como sendo o poder maior possuído pelo Estado em seu território, por ele exercido sobre a população que o habita. Não se admite, no mesmo Estado (no mesmo país), duas ou mais soberanias, porque não se admite a convivência de duas forças de iguais poderes no mesmo território (se a soberania é o poder máximo, não pode haver, no mesmo local, outro poder máximo). 
A soberania é poder incontrastável (ninguém pode contestá-lo ou confrontá-lo, e ele não se submete a qualquer outro poder). E ela é incontrastável tanto como última instância de decisão, quanto no poder de elaborar normas de direito e de condutas. 
A soberania possui em si mesma, como característica intrínseca e própria do Estado, o poder de elaborar o Direito, de exigir o Direito e de executar o Direito dapopulação que vive ou que habita no território sob sua jurisdição. No entanto, nos Estados de Direito (como o Brasil – Constituição Federal, artigo 1º), o próprio Estado deve se submeter e obedecer ao Direito por ele mesmo elaborado.
A SOBERANIA E A CARACTERÍSTICA DA INDIVISIBILIDADE
Como característica do poder do Estado, a soberania é indivisível porque ela se aplica e ela atua sobre todos os atos e fatos que ocorrem ou que acontecem no território e com a população sob sua jurisdição.
Se fosse possível a divisão da soberania, ela, então, não seria una; ela não seria o poder máximo do Estado. A sua indivisibilidade é garantia de sua unicidade e de sua superioridade em face de quaisquer outros poderes que possam existir no território do Estado.
A divisão de poderes que se tem na estrutura política e jurídica do Estado (Poderes Judiciário, Executivo e Legislativo) não se trata de divisão da soberania; trata-se, sim, da divisão de funções e atividades próprias do Estado: função legislativa, de elaborar as leis, o Direito Positivo (Poder Legislativo), função de prestar a tutela jurisdicional, de realizar a prestação jurisdicional (Poder Judiciário) e função de realizar atos de governo e de prestar serviços públicos e serviços de interesse público (Poder Executivo).
A SOBERANIA E A CARACTERÍSTICA DA INALINABILIDADE
A soberania de um Estado é inalienável (não pode ser alienada, nem a título gratuito e nem a titulo oneroso). Um Estado sem soberania não é um Estado, mais sim uma entidade política submetida a outra entidade política (esta sim, um Estado). Sem soberania o Estado desaparece, e passa a ser um apêndice (uma província, uma região, um departamento etc.) de outro Estado.
A SOBERANIA E A CARACTERÍSTICA DA IMPRESCRITIBILIDADE
A soberania não possui e nem pode possuir prazo de validade, porque, se tivesse, não seria um poder superior (porque outro poder maior é que lhe teria imposto essa sua duração). Todo Estado (e toda soberania) tende à eternidade, e ele somente desaparece (e a soberania somente desaparece) por motivo maior, seja porque outro Estado o conquistou, seja porque se desfez e deixou de ser um Estado.
A SOBERANIA E A CARACTERÍSTICA ORIGINÁRIA
A soberania é originária porque nasce tão logo nasça o Estado. Ela é umbilicalmente ao Estado, e o Estado não existe sem ela. A soberania é um atributo inseparável do Estado.
A SOBERANIA E A CARACTERÍSTICA DA EXCLUSIVIDADE
Não há outra instituição política, jurídica, civil ou religiosa que possua soberania, pois a soberania é atributo do Estado: nenhuma outra instituição a possui.
A SOBERANIA E A CARACTERÍSTICA DA INCONDICIONALIDADE
A soberania não existe sob condições; nenhuma instituição impõe condições para que a soberania exista. Somente o Estado, por meio do direito por ele elaborado, pode impor algum limite à soberania.
A SOBERANIA E A CARACTERÍSTICA DA COATIVIDADE
O Estado, no exercício de sua soberania, de seu poder soberano, elabora o seu Direito, aplica o seu Direito e exige o cumprimento do seu Direito. No exercício do seu poder de soberania, o Estado possui os meios (materiais e jurídicos) de exigir o cumprimento forçado de suas ordens, e de impor sanções àqueles que deixam de cumprir as normas e exigências por ele estabelecidas.
TEORIAS QUE JUSTIFICAM A SOBERANIA 
TEORIAS TEOCRÁTICAS: evoluíram a partir da concepção cristã de que “todo o poder emana de Deus” (ominis potestas a Deo). Essa concepção passou a justificar o poder dos governantes (dos príncipes, dos reis, dos monarcas), afirmando-o como de origem divina: os governantes adquiriam seu poder de governo pela vontade de Deus. No entanto, como indiretamente ela provinha da aceitação do povo, ela apresentava imperfeições (justificando, assim, os erros, malfeitos e maldades de alguns príncipes, reis ou monarcas). Nesses tempos, mais ao final da Idade Média, a soberania significava o poder do monarca, o qual exercia seu poder de forma soberana, absoluta.
TEORIAS DEMOCRÁTICAS: essas teorias, paulatinamente, sucederam aquelas teorias teocráticas, e transmutaram a soberania de origem divina para a soberania de fonte terrena. Muito contribuíram para essa transmutação as ideias, estudos e obras de filósofos racionalistas e iluministas dos séculos XV em diante. Essas ideias, estudos e obras contribuíram, e muito, para a formação e fundamentação do ideal burguês revolucionário que, nos séculos XVII e XVIII, iria convulsionar a Europa e a América, e propiciar a fundamentação teórica tanto para as Revoluções Liberais Burguesas quanto para o surgimento do denominado Estado Moderno (que sucedeu ao Antigo Regime Monárquico-Feudal) e para o surgimento do modo capitalista de produção (que sucedeu o modelo feudal de relações sociais, econômicas, culturais, religiosas e políticas existentes na Europa Ocidental deste a queda do Império Romano, época em que Roma foi tomada pelos invasores bárbaros. 
—primeiramente, as ideias racionalistas e filosóficas transmutaram a soberania para o povo: o povo, como formador do Estado, detinha, em seu nome próprio, a soberania, e ela era exercida conforme sua vontade (mas, como entender a vontade do povo, se ele não era mais que uma massa sem identificação individualizada?);
—na segunda fase, afirmada já no contexto da Revolução Francesa de 1776-1789 (século XVIII), e possuindo como um de seus grandes idealizadores o escritor, eclesiástico e político francés Emmanuel Joseph Sieyès, a soberanía foi reconhecida como pertencente à nação: cada um do povo, onde quer estivesse ou que se encontrasse, integrava e representava a nação, e a nação, por ser soberana e por possuir a soberanía, poderia expressar como desejava ser governada. O povo não poderia governar como um todo, mas, como cada pessoa do povo representava a nação, o povo poderia governar por meio de representantes que ele mesmo elegeria para o governo: aqueles eleitos representariam a vontade do povo, a vontade de todos, a vontade de nação. Essa foi a base e esse foi o fundamento ideológico e teórico para o surgimento, instalação e consolidação do governo representativo, da forma de representação política que ainda nos tempos atuais vigora em todos os Estados Democráticos e de Direito;
—na terceira fase, a partir da metade do século XIX, houve a consolidação da soberania sob a titularidade do Estado, por ser ele um ente político dotado de personalidade jurídica (e, por essa personalidade jurídica, que lhe possibilitava adquirir direitos e contrair obrigações, ele passou a deter a soberanía). Com a soberanía sendo reconhecida ao Estado, ela ganha um status jurídico e democrático. O Estado é o soberano, detentor do poder soberano, e ele adquiria essa soberanía no mesmo instante em que “nasce”, em que se constitui, e essa soberanía, por ser um conceito e atributo jurídico, ela é notável nos Estados de Direito = o poder do Estado, derivado do seu poder soberano, é um poder de direito, que suplanta o poder de fato pela legitimação que lhe é dada pelo corpo social (povo; nação), que reconhece o Estado como detentor de toda soberanía em seu territorio.
OBJETO E SIGNIFICAÇÃO DA SOBERANIA
O poder soberano do Estado é exercido, na forma do Direito, sobre todo o território e sobre todo o povo sob sua jurisdição. Os indivíduos estão sempre sujeitos ao poder do Estado, havendo hipóteses em que mesmo estando fora do território dele ainda assim são alcançados pelo seu poder, pelo seu direito. E esse poder soberano é, em muitas hipóteses, exercido até mesmo sobre indivíduos que não são cidadãos do Estado.
“...Afirmando o poder soberano, isto significa que, dentro dos limites territoriais do Estado, tal poder é superior a todos os demais, tanto dos indivíduos quanto dos grupos sociais existentes no âmbito do Estado. E com relação aos demais Estados a afirmação de soberania tem a significação de independência, admitindo que haja outros poderes iguais, nenhum, porém que lhe seja superior. [...] A conceituação jurídica de soberania, noentanto, considera irrelevante, em princípio, o potencial de força material, uma vez que se baseia na igualdade jurídica dos Estados e pressupõe o respeito recíproco, como regra de convivência...”.
TERRITÓRIO
O território não chega a ser componente do Estado, mas é o espaço no qual se circunscreve a ordem jurídica estatal, pois, embora a ordem jurídica possa ter eficácia além dos limites territoriais, validade dessas normas como ordem jurídica estatal depende de um espaço certo, ocupado com exclusividade. 
Historicamente, o território tornou-se elemento importante na configuração constitutiva do Estado.
Na Antiguidade, nas cidades-estados gregas e nas civilizações que a precederam e que também lhes foram contemporâneas, não havia a ideia de território com a noção delimitada que se tem atualmente.
Essas civilizações ocupavam e defendiam as terras próximas aos seus centros urbanos e aos seus arredores, mas sem a noção de exercer um poder centralizador (soberania) sobre esse espaço geográfico. A ocupação se dava por necessidade e a defesa se dava para se manter e não ser destruída pelo invasor.
Na Idade Média, os conflitos entre as diversas autoridades (reis, papas, bispos, duques, viscondes, senhores feudais etc.) deu ensejo ao surgimento de concepção de exercício de poder sobre os bens móveis, imóveis e pessoas situadas sob determinado espaço geográfico (território). Esse poder sobre o povo e o território foi, em determinadas épocas e reinos, reconhecido ao próprio monarca, que governava de modo soberano, exercendo a soberania sobre todos os que se encontravam no espaço geográfico (território) que se lhe reconhecia como seu, sob seu poder de governo.
PRINCIPAIS TEORIAS RELATIVAS
AO RELACIONAMENTO DO ESTADO COM SEU TERRITÓRIO
--TEORIA DA RELAÇÃO DE DOMÍNIO
A relação de domínio encontra-se estabelecida na circunstância de que o Estado pode usar o território e até dispor dele, com poder absoluto e exclusivo. O Estado seria proprietário do seu território, exercendo o domínio total sobre ele.
Essa relação de domínio estatal difere da relação de domínio do direito privado, porque essa relação de domínio estatal sobre o espaço geográfico se caracteriza como um direito real de natureza pública, exercido pelo Estado sobre o território, independentemente de ele ser o não ocupado.
--TEORIA DO DIREITO REAL INSTITUCIONAL
Discorda da teoria da relação de domínio porque não aceita que se possa reconhecer um direito de propriedade diferente das relações de propriedade do direito privado.
Por essa teoria do direito real institucional, o direito do Estado é exercido diretamente sobre o solo, e o conteúdo desse direito é determinado pelas próprias exigências e necessidades do Estado. E, nesse caso, o Estado exerceria um domínio eminente sobre todo o território, e os proprietários individuais (pessoas jurídicas de direito público e pessoas jurídicas de direito privado, pessoas físicas) exercem o domínio útil sobre cada porção do território que lhes pertencem.
--TEORIA DO PODER DE IMPÉRIO DO ESTADO SOBRE AS PESSOAS
Segundo as normas de Direito Público, a relação de domínio (de propriedade) exercida pelo Estado sobre o seu território deriva do seu poder de império, e, por isso, o Estado exerce o poder sobre as pessoas, e é através desse direito sobre as pessoas que ele possui poder sobre o território.
Nesse sentido, o direito do Estado ao território é apenas reflexo do seu poder de dominação sobre as pessoas (seria, então, um poder reflexo do Estado sobre o território). Por essa teoria, as invasões de territórios são consideradas ofensas à personalidade jurídica do Estado, e não violação ao seu direito real.
No tocante as partes desabitadas do território, a qualquer tempo o Estado poderia exercer sobre elas o seu direito; ou tão logo fosse habitada por, ao menos, uma pessoa, o Estado poderia, desde logo, estender seu poder sobre essas áreas.
--TEORIA DO PODER DE IMPÉRIO DO ESTADO SOBRE O TERRITÓRIO
Segundo essa teoria, o território é o espaço sobre o qual o Estado exerce seu poder de império. Esse poder de império o Estado exerce sobre tudo, pessoas e coisas, que se encontre em seu território. Por essa teoria, afasta-se a ideia de que o poder de império do Estado só se exerce sobre pessoas, e resolve a situação das áreas não habitadas ou pouco habitadas, e se resolve a coincidência de domínios (quando o Estado exerce um direito real sobre o território, e os particulares também possuem direito real sobre porção desse território).
SÍNTESE DAS TEORIAS, SEGUNDO PAULO BONAVIDES�
—Teoria do território-patrimônio = típica do Estado Medieval, com reflexos em teorias modernas, e concebe o poder do Estado sobre o território como direito de qualquer proprietário sobre um imóvel;
—Teoria do território-objeto = o território seria o objeto de um direito real de caráter público; a relação do Estado com seu território seria uma relação de domínio, de propriedade;
—Teoria do território-espaço = o território seria a extensão espacial da soberania do Estado. O Estado possuiria uma direito de caráter pessoal, implícito na ideia do poder de império. 
—Teoria do território-competência = o território seria o espaço no qual a ordem jurídica do Estado possui validade.
CONCEPÇÕES A RESPEITO DE TERRITÓRIO SOBRE AS QUAIS OS HÁ CONCORDÂNCIA
——NÃO EXISTE ESTADO SEM TERRITÓRIO:	no momento em que se constitui, o Estado integra um conjunto inseparável de elementos, dentre os quais o território, do qual não se separa e do qual não pode ser privado definitivamente, sob pena de deixar de ser Estado se não conseguir reintegrar seu território (ou parte dele) aos seus demais elementos constitutivos;
——O TERRITÓRIO ESTABELECE A DELIMITAÇÃO DA AÇÃO SOBERANA DO ESTADO:	no seu território, o Estado exerce, com eficácia, a sua ordem jurídica, por ser dotada de soberania. O Estado pode ou não admitir que em seu território sejam válidas normas jurídicas provindas do exterior. Há casos, no entanto, em que a ordem jurídica do Estado, que objetivem atingir situação pessoal dos indivíduos, podem atuar além dos limites territoriais desse Estado, entretanto, para se concretizar qualquer providência externa, dependerá da permissão do outro Estado no qual se encontre o individuo que se pretende atingir.
——O TERRITÓRIO É ELEMENTO CONSTITUTIVO DO ESTADO, É O ÂMBITO DA ATUAÇÃO SOBERANA DO ESTADO, E TAMBÉM É O OBJETO DE DIREITOS DO ESTADO:	e sendo o território objeto de direito do Estado, em tese, caso haja interesse do povo, o Estado poderá até alienar parte do seu território, podendo, inclusive, usar o território sem qualquer limitação, até mesmo em prejuízo dos direitos de particulares sobre porções determinadas.
PRINCÍPIOS SOBRE A SOBERANIA DO ESTADO SOBRE O TERRITÓRIO
—princípio da impenetrabilidade:	o Estado possui o monopólio da ocupação de determinado espaço geográfico (território), sendo impossível que no mesmo lugar e ao mesmo tempo convivam duas soberanias (é impossível dois Estados ao mesmo tempo no mesmo território);
—princípio da significação jurídica negativa:	a significação jurídica negativa relativamente ao território significa que o Estado exclui outras ordens soberanas nesse seu espaço, mas se obriga a agir sempre que se verifiquem determinadas circunstâncias nesse território, para proteger-se como instituição política e jurídica, como também para proteger seu povo e seu território; 
—princípio da significação jurídica positiva:	que assegura ao Estado o poder-faculdade de agir soberanamente no seu campo de ação.
POVO
O elemento humano é essencial para a constituição e existência do Estado.
O Estado existe para o elemento humano. Sem o elemento humano não existe o Estado.
O povo é o elemento que dá condições ao Estado de formar e externar sua vontade.
POVO não se confunde com POPULAÇÃO e nem com NAÇÃO.
População é meramente expressão numérica, demográfica ou econômica, tratando-sedo conjunto de pessoas que vive ou que se encontre no território do Estado, mas que com ele não possui, necessariamente, qualquer vínculo jurídico.
Nação é termo com que se designa uma comunidade de base histórico-cultural, normalmente a ela pertencendo os que nascem em determinado ambiente cultural comum composto de tradições, costumes, língua, conceito idêntico de vida e dinamizado nas mesmas aspirações de futuro e os mesmos ideais coletivos (Dalmo de Abreu Dallari)
POVO, como noção jurídica, é conceito bastante recente, consolidando-se a partir do século XVIII.
Nos tempos da Grécia Antiga e de Roma (República e Império), o termo cidadão designava o indivíduo que mantinha vínculos políticos com a polis, com a civitas. Nesses tempos, era um conceito elitista, aristocrático, abarcando apenas pequena parte dos habitantes da cidade-Estado e de Roma (os indivíduos que mantinham o vínculo político, sem considerar os demais homens livres e os escravos).
Na Idade Média, houve o espraiamento do conceito, que, com os séculos, foi perdendo seu sentido aristocrático, adaptando-se a um novo conceito mais democrático, que se firmou na consolidação do Estado Moderno, a partir do século XVIII, ainda nos tempos das monarquias absolutistas. 
Com a ascensão da burguesia ao poder político, no seio das Revoluções Liberais Burguesas, o conceito se inclui, também, nas constituições que passaram a ser escritas como forma de organização do Estado e de garantir direitos aos cidadãos. Nesse tempo, o conceito de povo já não continha a discriminação social, e passou a se referir a todos aqueles que ocupavam o território do Estado e com ele mantinha vínculos.
Para tanto, a doutrina (filosófica e jurídica) contribuiu para formar e consolidar o conceito de universalidade. 
Um dos expoentes, foi Jean-Jacques Rousseau, que concebeu, em O Contrato Social, os homens como associados, compondo a sociedade e o Estado, recebendo, de forma coletiva, a designação de povo, e de modo individual, a designação de cidadãos, quando participam das atividades do Estado, e de sujeitos, quando submetidos às leis do Estado. 
DISTINÇÃO ENTRE OS ASPECTOS DO CONCEITO DO POVO
SEGUNDO GEORG JELLINEK
ASPECTO SUBJETIVO:	o elemento humano, como parte componente do Estado, participa da condição de sujeito do poder político de que se reveste o Estado;
ASPECTO OBJETIVO:	encontra-se no fato-circunstância de ser o povo o objeto da atividade do Estado.
Mas, para compor o Estado, não basta um ajuntamento de indivíduos; necessita-se que também haja um vínculo jurídico a unificá-los sob uma autoridade comum: o Estado.
Os indivíduos, enquanto objetos do poder do Estado, estão numa relação de subordinação em relação a ele, e são sujeito de deveres.
Os indivíduos, enquanto membros do Estado, estão numa relação de coordenação em relação a ele, e são sujeitos de direitos.
CONSEQUÊNCIAS DO VÍNCULO JURÍDICO ENTRE O ESTADO E OS MEMBROS DO POVO, AINDA SEGUNDO A CONCEPÇÃO DE GEORG JELLINEK
Há, pelo menos, três exigências para o Estado:
prestações negativas:	a subordinação dos indivíduos ao Estado é disciplinada pelo direito, impedindo o Estado de ir além dos limites postos pela lei (pela legislação);
atitudes positivas:	o Estado é obrigado a agir para proteger e favorecer os indivíduos;
atitudes de reconhecimento:	o Estado é obrigado a reconhecer como órgãos seus os indivíduos que agem o interesse do próprio Estado (e isso corresponde a reconhecer a alguém a condição de cidadão ativo, a exemplo do reconhecimento do eleitor ou do jurado)
==A aquisição da cidadania condiciona-se ao direito estabelecido pelo próprio Estado:
——	pode ser estabelecida pelo próprio nascimento em determinadas circunstâncias;
——	pode ser estabelecida por quaisquer circunstâncias estabelecidas pelo direito do Estado.
A condição de cidadão acompanha o indivíduo mesmo quando ele se encontra fora do Estado.
O Estado pode, inclusive, estabelecer condições nas quais o cidadão pode perder esse status.
No Brasil, a Constituição Federal estabelece essas condições nos seus artigos 12 13 (direitos de nacionalidade) e nos artigos 14 a 16 (direitos políticos).
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Art. 12. São brasileiros: 
I -	natos:
a)	os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b)	os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c)	os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; 
II -	naturalizados: 
a)	os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b)	os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. 
§ 1º	Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. 
§ 2º	A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.
Art. 14.	A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: 
I -	plebiscito;
II -	referendo;
III -	iniciativa popular.
§ 1º -	O alistamento eleitoral e o voto são: 
I -	obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II -	facultativos para:
a)	os analfabetos;
b)	os maiores de setenta anos;
c)	os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
§ 2º	Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.
§ 3º	São condições de elegibilidade, na forma da lei: 
I -	a nacionalidade brasileira;
II -	o pleno exercício dos direitos políticos;
III -	o alistamento eleitoral;
IV -	o domicílio eleitoral na circunscrição;
V -	a filiação partidária;
VI -	a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.
§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
FINALIDADES E FUNÇÕES DO ESTADO
Embora haja discordância entre os doutrinadores quanto a se incluir as finalidades do Estado no campo de estudos da Teoria Geral do Estado, tantos outros entendem que assim seja, porque, segundo estes a defesa a ordem, o bem-estar e o progresso constituem o conteúdo de toda atividade estatal, determinando a estrutura fundamental do Estado.
—FINS OBJETIVOS:	há filósofos e doutrinadores que entendem que o Estado possui fins certos a serem atingidos, e são duas as correntes: fins objetivos universais e fins objetivos particulares.
—fins objetivos universais=	os quais seriam os fins comuns a todos os Estados. Os que assim entendem, acreditam que os Estados possuem finalidades comuns a serem atingidas (a proteção e a defesa do território, ou a segurança do povo, por exemplo). Citam-se como integrantes dessa corrente Platão, Aristóteles e o próprio cristianismo (muito embora esse procurasse os fins do Estado na teologia, contribuiu para a formação da ideia de que os fatos da História desenvolvem-se para alcançar objetivos). 
	Há forte entendimento contrário a essa linha de pensamento, principalmente entre as correntes dos pensadores evolucionistas. 
Osadeptos da Teoria Organicista de formação do Estado negam a existência de objetivos comuns aos Estados, porque entendem que o Estado possui uma finalidade em si mesmo. 
Os adeptos da Teoria Mecanicistas (inclusos os materialistas) afirmam que os fatos da vida se sucedem de modo não organizado e nem ordenado, que não tendem a fim algum.
—fins objetivos particulares=	os seus seguidores afirmam que cada Estado possui seus próprios fins, resultantes de como se formaram e de como se constroem suas histórias. 
A crítica a essas “...teorias que aceitam a existência de missões históricas dos Estados, confundem os fins com os interesses desses Estados, ou até mesmo de seus governos...” (Dallari)
—FINS SUBJETIVOS:	há filósofos e doutrinadores que entendem que os fins do Estado devem coincidir com os fins particulares dos seus indivíduos e de suas instituições, porque “...sendo a vida do Estado uma série ininterrupta de ações humanas, e sendo estas, por sua vez sempre determinadas por um fim, é lógico que os fins do Estado deverão ser a síntese dos fins individuais...”. Seria por essa que as instituições do Estado não são iguais – e diferem entre si – nos vários Estados.
“...as instituições do Estado não são poderes cegos da natureza, mas nascem e se transformam por influência da vontade humana e em vista de fins a atingir...”
—FINS EXPANSIVOS:	são teorias (diversas) que aceitam o expansionismo do Estado a tal ponto de anular as individualidades, e fundamentam, principalmente, os Estados totalitários, autoritários. São duas as suas espécies:
	—utilitárias=	 seus seguidores apregoam o desenvolvimento material como o fim máximo a ser alcançado por meio do Estado (Estado do bem-estar), mesmo que isso implique no cerceamento de liberdades individuais. Esses pensadores afirmam que os fins do Estado é proporcionar o bem- comum, sendo esse bem-comum entendido apenas no sentido material (e não no sentido filosófico ou no sentido cristão como atualmente se o entende). O bem-comum seriam as condições materiais oferecidas pelo Estado para comodidade das pessoas, mesmo que, para a existência dessas comodidades, seja necessário cercear liberdades individuais (de pensamento, de crença, de ir-e-vir, de imprensa etc.). São teorias totalitárias e autoritárias.
	—éticas=	seus seguidores apregoam rejeitam aquelas teorias utilitaristas, porque entendem o Estado como sendo a fonte da moral (Estado ético), não aceitando comportamentos que não se enquadrem na moral oficial. Essa linha de pensamento conduz ao moralismo extremado, ditado, por óbvio, pelas classes governantes. Essas teorias também possuem viés totalitárito e autoritário.
—FINS LIMITADOS:	são teorias (diversas) que pregam a menor interferência do Estado na vida social e na vida individual de seus integrantes, e, regra geral, aceitando que o Estado apenas zele pela ordem social, sem interferência na seara econômica. Possuem duas correntes doutrinárias:
	—Estado polícia:	apregoam a atuação estatal apenas na preservação da segurança dos indivíduos em casos de ameaças externas ou de convulsões sociais internas (seria, por analogia, um Estado vigilante da ordem social)
	—Estado liberal:	cujos seguidores insistem em que a atuação estatal se dê somente para proteger a liberdade individual, assim entendida de forma bastante ampla, não aceitando que as liberdades individuais sofram restrições a favor de quaisquer terceiros (indivíduos, coletividade ou Estado), não aceitando, inclusive, que o Estado atue na seara econômica (não aceitam o Estado intervencionista e nem o Estado empresário).
	—Estado de Direito:	sustentado em teorias contratualistas de formação do Estado (na linha apregoada por Hobbes e Rousseau), afirmam que “...cada indivíduo é titular de direitos naturais, com base nos quais nasceram a sociedade e o Estado. Mas ao convencionar a formação do Estado e, ao mesmo tempo, a criação de um governo, os indivíduos abriram mão de certos direitos, mantendo, entretanto, possibilidade de exercer os poderes soberanos, de tal sorte que todas as leis continuam a ser a emanação da vontade do povo. Assim, o que se exige é que o Estado seja um aplicador rigoroso do direito...” (Dallari).
	Esse entendimento, na prática, conduz apenas à concepção formal do direito, não se questionando se a norma de direito é justa ou injusta (bastando a mera aplicação e obediência da norma jurídica). “...Também aqui se verifica uma grave distorção, pois os dirigentes do Estado declaram como direito aquilo que lhes convém e depois atuam segundo esse mesmo direito...” (Dallari).
—FINS RELATIVOS:	tendo por base as teorias solidaristas, afirmam a necessidade “...de uma atitude nova dos indivíduos no seu relacionamento recíproco, bem como nas relações entre o Estado e os indivíduos. Entendem as ações humanas como expressão da solidariedade dos indivíduos, e o Estado deve possibilitar “...as manifestações sistemáticas da vida solidária dos homens. Conservar, ordenar e ajudar são as três categorias a que se pode reduzir a vida do Estado...” (Dallari). Combatem o igualitarismo apenas jurídico, formal, e apregoam, além disso, a igualdade de todos na condições iniciais da vida social (igualdade material).
—FINS EXCLUSIVOS:	cujos seguidores entendem que o Estado, em favor dos seus integrantes, deve se preocupar apenas com a segurança interna e externa de seu território, sendo esses os seus fins essenciais. Em tal sentido, entendem que os fins complementares, que o Estado “...deve buscar para favorecer desenvolvimento e o progresso da vida social...” (Dallari) —educação, cultura, saúde – fins concorrentes — são importantes socialmente, mas não exigem que o Estado trate deles com exclusividade, podendo deixar sob a atuação de outras sociedades.
SÍNTESE DAS FINALIDADES DO ESTADO OFERECIDA POR DALMO DE ABREU DALLARI: “...o Estado, como sociedade política, tem um fim geral, constituindo-se em meio para que os indivíduos e as demais sociedades possam atingir seus respectivos fins particulares [...] busca o bem comum de um certo povo, situado em determinado território. Assim, pois, o desenvolvimento integral da personalidade dos integrantes desse povo é que deve ser o objetivo, o que determina uma concepção particular de bem comum para cada Estado, em função das peculiaridades de cada povo...”.
O PODER DO ESTADO
—as sociedades humanas, mesmo as rudimentares, caracterizam-se pela existência de um centro de poder e de uma ordem jurídica;
—o Estado, como uma espécie de sociedade humana, também se caracteriza por possuir uma ordem jurídica (por ele mesmo elaborada), e pela existência de um centro de poder (por ele mesmo exercido, de modo até mesmo coercitivo)
—há estudiosos/doutrinadores que entendem que o Estado é um/o poder= o poder é mais que essencial para o Estado, pois ele seria o próprio Estado como expressão ordenada da ideia de convivência que prepondera no grupo (Dalmo de Abreu Dallari, citando Georges Burdeau)
—uma das mais características peculiaridades do poder estatal (do poder do Estado) é a soberania
—há correntes doutrinárias que classificam o poder estatal como um poder político, incondicionado e preocupado em assegurar sua eficácia sem limitações
O PODER ESTATAL
SEGUNDO GEORGE JELLINEK (citado por Dalmo de Abreu Dallari)
Segundo George Jellinek:
—	há duas espécies de poder, o poder dominante e o poder não-dominante
—	o poder-não dominante encontra-se em todas as sociedades humanas, mas não no Estado
— o poder-não dominante, presente nas sociedades humanas (e não no Estado), não possui forças jurídicas para obrigar com seus próprios meios a execução de suas ordens (uma igreja ou um clube social não podem obrigar seus fieis ou seus associados contribuírem com valores para seus caixas)
—no Estado, há o poder dominante, característica marcante a dominação
—o poder estatal é um poder dominante
—o poder dominante possui duas características, éoriginário e irresistível
—o poder estatal é originário porque o Estado, por direito que ele atribui a si mesmo, dispõe, no território dele, e segundo as leis por ele mesmo elaboradas, de todo o poder de dominação; o Estado possui poder próprio, do qual derivam todos os demais poderes;
—o poder estatal é irresistível por ser um poder dominante, que possibilita ao Estado mandar de modo incondicionado e exercer a coação para o cumprimento de suas ordens, sendo impossível aos que se acham sob sua dominação resistirem ao seu poder, sendo praticamente impossível alguém quebrar o vínculo de submissão ao Estado.
Nos Estados de Direito, o poder estatal é contido pela ordem jurídica, manifestadamente pela ordem jurídica constitucional, a qual delimita atuação do Estado por meio de seus agentes, órgãos e entidades.
NOÇÕES ELEMENTARES SOBRE “DIREITO”
A discussão sobre o que é o “Direito” permeia a preocupação dos filósofos desde os primórdios das civilizações. Inicialmente, entendia-se que o conceito de “Direito” confundia-se com o conceito de “Justiça”: era Direito o que era justo; a Justiça representava o ideal objetivado pelo Direito. Não se concebia o apartamento desses conceitos, pois ambos se imiscuíam e se confundiam.
E essa visão perdurou dos tempos gregos até por volta dos séculos XVII a XX, quando, no contexto histórico dos movimentos iluministas e positivistas, apartaram-se os conceitos, e o Direito passou a ser entendido, simplesmente, como o regramento positivado pelo Estado, haja vista que os filósofos positivistas do Direito, a exemplo de Hans Kelsen (Teoria Pura do Direito – 1934), preocuparam-se em excluir do âmbito da norma jurídica qualquer ilação que não fosse jurídica:
“...O dever-ser jurídico não se enraíza em qualquer fato social, histórico; não é condicionado por nada que possa perverter sua natureza de puro dever-ser; Kelsen desenraiza o Direito de qualquer origem fenomênica, a título de compreendê-lo autonomamente em sua mecânica. Então, a atitude do jurista, segundo Kelsen, deve consistir num partir da norma jurídica dada, para chegar à própria norma jurídica dada. Essa postura é nitidamente contrária à que procura questionar os valores que antecederam à elaboração da norma jurídica [...], ou que seria possível de se conceber após a elaboração da norma jurídica [...]. Para o positivismo kelseniano, a norma jurídica é o alfa [...] e o ômega [...] do sistema normativo, ou seja, o principio e o fim de todo o sistema...” — BITTAR, Eduardo. C. B.; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de Filosofia do Direito. 10ª ed. — São Paulo : Atlas, 2012, p 399
Ainda na teoria de Kelsen, “...a noção de Estado identifica-se com a noção de Direito, sendo que este consiste no ordenamento de normas jurídicas coercitivas da conduta. Assim, todo Estado é um ordenamento jurídico, mas nem toda ordem jurídica é um Estado. Apenas a ordem jurídica centralizada pode ser dita Estado...” — BITTAR; ALMEIDA, op. cit., p. 399/400
Essa ênfase no distanciamento entre Direito e Justiça também se mostram presentes no distanciamento buscado entre o Direito e Moral, entretanto, já se concebe que 
“...o Direito se alimenta da moral, tem seu surgimento a partir da moral, e convive com a moral continuamente, enviando-lhe novos conceitos e normas, e recebendo novos conceitos e normas. A moral é, e deve sempre ser, o fim do Direito. Com isso, pode-se chegar à conclusão de que o Direito sem moral, ou Direito contrário às aspirações morais de uma comunidade, é puro arbítrio, e não Direito...” — BITTAR; ALMEIDA, op. cit., p. 534 e 535.
À parte as discussões filosóficas acerca das questões afetas à Moral e à Justiça que rondam e que se inserem no conceito e no sentido do que seja, efetivamente, Direito, tem-se que, hodiernamente, o Direito é entendido como a ordem jurídica positivada pelo Estado por meio de leis aprovadas pelo seu Poder Legislativo, na forma prevista também por seu próprio ordenamento, cuja imperatividade sobre a população que habita no território sobre o qual ele mantém jurisdição decorre da soberania que lhe é reconhecida.
Desde a conformação do Estado de Direito como ordem política e jurídica prevalente nos Estados que se estabeleceram no contexto e períodos pós Revoluções Liberais Burguesas dos séculos XVII e XVIII, apoiada, substancialmente, no ideário dos filósofos contratualistas, que a noção do Direito reflete o conceito da Lei, sendo essa a proposição estatal votada e aprovada pelo Parlamento (Poder Legislativo), ideologicamente havido como a representação da vontade geral do povo que habita o Estado.
Na tripartição das funções do Estado, na típica materialização da idealização de Montesquieu, ao Poder Legislativo coube a incumbência precípua de elaborar as leis e construir o ordenamento jurídico estatal, ao passo que, ao Executivo, se reservou a incumbência de concretizar as políticas públicas almejadas pelo corpo social, dando efetividade às normas elaborados pela Casa Legislativa, restando, ao Poder Judiciário, aplicar as normas aos casos concretos, dirimindo conflitos sociais e aplicando as penas previstas em lei àqueles que, porventura, fossem autores de condutas contrárias à normatividade imposta coercitivamente pelo poder estatal.
Na estruturação do Estado de Direito, além da tripartição das funções estatais para não possibilitar o centralismo e o absolutismo já então superado, outro importante marco foi a elaboração e a constitucionalização das declarações de direitos do cidadão em face dos governantes e em face do Poder do Estado. 
Essas declarações de direitos dos cidadãos (constitucionalizadas em textos formais), aos braços com a própria ordem jurídico-democrática, limitaram a discricionariedade do Poder Público e também as condutas discricionárias dos agentes públicos.
De então, a discricionariedade do Poder Público limita-se ao espaço que lhe reserva a própria lei estatal regente da matéria em exame, sobrevindo, daí, o conteúdo do princípio da legalidade, que permite ao Poder Público (aos agentes públicos; ao Estado) agir somente nos limites que lhe faculta a lei, sendo que o excesso configura, na ordem do direito brasileiro, excesso ou abuso de poder, hipótese essa que macula e vicia o ato administrativo e a conduta do agente público.
Nesse contexto, a Administração Pública somente pode agir conforme e em conformidade com a autorizativa constante da lei (constitucional ou infraconstitucional) – princípio da legalidade.
CONCEITOS SOBRE ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ESTADO
Sob a ótica do Direito Constitucional, tem-se que o Estado é a instituição política e jurídica dotada de personalidade jurídica e de soberania, com jurisdição sobre determinado território e sobre a população que nele habita.
GOVERNO
É o conjunto de Poderes e órgãos constitucionais responsáveis pela execução das funções do Estado, assim como também as atividades que eles exercem no sentido de conduzir politicamente o Estado. Entende-se o Governo como o responsável por definir, com ampla discricionariedade as diretrizes políticas do Estado. 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
É entendida como sendo o conjunto de órgãos, entidades, bens e servidores públicos, direcionados para a materialização de atividades do Estado por meio de atos objetivos, concretos e executórios, para a realização efetiva do interesse público, suprindo as carências de que se ressente a população. 
NAÇÃO
REFLEÇÕES SOBRE O CONCEITO DE NAÇÃO
O termo nacionalidade está unido ao conceito de nação, o qual, por sua vez, assenta-se, paralelamente, aos conceitos de povo, de território e ao de Estado, e todos possuem significados equívocos, polissêmicos, a depender do contexto que deles se serve, ou da linha doutrinária que se segue, mas, em síntese, pode-se conceituar:
—	ESTADO= segundo Machiavel, em O Príncipe, “...Todos os Estados, todos os domínios que têm tido ou têm império sobre os homens são Estados, e são repúblicas ou

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