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1 MATERIAL COMPLEMENTAR TEMA: AS PRINCIPAIS INOVAÇÕES DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. LOCAL: OAB RIO BRANCO 2 SUMÁRIO 1.OS OBJETIVOS DO NOVO CÓDIGO ................................................................................ 4 2.A ESTRUTURA DO NOVO CPC ......................................................................................... 8 3.DIREITO INTERTEMPORAL .............................................................................................. 11 4.PROCURADORES ............................................................................................................... 15 4.1 Deveres das partes e dos procuradores .................................................................... 22 4.2 Responsabilidade por dano processual ..................................................................... 28 5.HONORÁRIOS ...................................................................................................................... 30 5.1 Cabimento dos honorários ........................................................................................... 30 5.2 Possibilidade de majoração dos honorários na fase recursal ................................ 30 5.3 Compensação nos casos de sucumbência recíproca e cobrança autônoma de honorários não fixados na sentença.................................................................................. 31 5.4 Novos parâmetros para fixação dos honorários em desfavor da Fazenda Pública ................................................................................................................................................. 32 6.ATOS PROCESSUAIS ........................................................................................................ 36 6.1 Negócio jurídico processual e calendarização .......................................................... 36 6.2 Prazos processuais ....................................................................................................... 39 6.3 Comunicação dos atos processuais: citações e intimações ................................... 53 7.PROCEDIMENTO COMUM ................................................................................................ 55 7.1 Petição inicial: requisitos, emenda, indeferimento e juízo de retratação .............. 55 7.2 Improcedência liminar do pedido ................................................................................ 63 7.3 Audiência de conciliação .............................................................................................. 70 7.4 Contestação e Reconvenção ....................................................................................... 70 8. TUTELA PROVISÓRIA ...................................................................................................... 77 8.1 Espécies .......................................................................................................................... 77 8.2 Requisitos ....................................................................................................................... 77 8.3 Procedimentos ............................................................................................................... 81 8.3.1 Tutela cautelar ........................................................................................................ 82 8.3.2 Tutela antecipada ................................................................................................... 93 8.3.3 Tutela da Evidência .............................................................................................. 110 9. PROCESSOS NOS TRIBUNAIS .................................................................................... 118 9.1 Incidente de resolução de demandas repetitivas ................................................... 118 3 10. RECURSOS – PRINCIPAIS MUDANÇAS .................................................................. 122 11. ARTIGOS .......................................................................................................................... 135 11.1 ARTIGO 1: SERÁ O FIM DA CATEGORIA “CONDIÇÕES DA AÇÃO”? UM ELOGIO AO PROJETO DO NOVO CPC. ...................................................................... 135 11.2 ARTIGO 2: NOVO CPC QUEBRA PARADIGMA DAS “CONDIÇÕES DA AÇÃO” .................................................................................................................................. 141 11.3 NO NOVO CPC DEMANDAR CONTRA PRECEDENTE É LITIGÂNCIA DE MÁ- FÉ? ....................................................................................................................................... 147 11.4 SISTEMA DE PRECEDENTES DO NOVO CPC TERÁ IMPACTO EM EMPRESAS ......................................................................................................................... 151 11.5 REGISTRO TORRENS: COMO TORNAR INDISCUTÍVEL O SEU DIREITO DE PROPRIEDADE .................................................................................................................. 155 4 1. OS OBJETIVOS DO NOVO CÓDIGO A positivação na Parte Geral de princípios como o da igualdade, da razoável duração do processo, da publicidade, do direito de participação das partes e do dever de cooperação é reflexo da metodologia jurídica atual, que reconhece a força normativa dos princípios constitucionais e a necessidade de se enxergar o processo civil (e outros ramos do Direito) sob a ótica constitucional. A interpretação das normas processuais atrelada à Constituição Federal é o principal fundamento do chamado “neoprocessualismo”, o qual podemos considerar como um sistema ou um modelo constitucional do processo, que elenca os direitos fundamentais como valores norteadores de todo o ordenamento jurídico. Diante deste cenário, não se pode mais levar em conta simplesmente o artigo de lei para conter e resolver os litígios levados ao conhecimento do Poder Judiciário1. É preciso que, à luz do inteiro ordenamento e de seus princípios fundamentais, seja proporcionado aos jurisdicionados o verdadeiro acesso à justiça. É de se lembrar que, havendo precedente firmado sobre determinada questão jurídica, não é dado ao julgador utilizar de outra espécie normativa senão o precedente para valorar o fato jurídico. Semelhante ao que dispõe o art. 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro2, o novo CPC também consagra uma cláusula geral, na qual o juiz, ao aplicar a lei, terá que atender aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência (art. 8º). A tutela jurisdicional deve, portanto, ser proporcionada através da observância dessa e de outras cláusulas gerais, que apesar de 1 PERLINGIERI, Pietro. Perfis do Direito Civil. Introdução ao Direito Civil Constitucional. Tradução de Maria Cristina de Cicco. 3. Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. 2 Art. 5º, LINDB: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.5 darem certa margem de interpretação ao julgador, possibilitam a adoção de medidas mais adequadas para cada caso concreto. A nova legislação assegura, ainda, o tratamento igualitário das partes (art. 7º). Trata-se não somente de igualdade formal, a qual estabelece que todos são iguais perante a lei (art. 5º, CF/88), mas de igualdade material “no tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, ao ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais”3. Esse tratamento isonômico também se revela na adoção da regra da distribuição dinâmica do ônus da prova (art. 373, § 1º) em contraposição à regra da distribuição estática, bem como na ampliação e organização das normas relativas à gratuidade da justiça (arts. 98 a 102). Também está formulada a regra segundo a qual o juiz, mesmo quando estiver diante de uma matéria de ordem pública, deve oportunizar previamente o contraditório (art. 10). Isso permite que a parte exerça plenamente o seu direito de defesa e evita que questões processuais sejam levadas até as instâncias superiores. Além de normas de caráter principiol gico, a parte geral traz regramento sobre as mat rias atinentes jurisdição. Dentre elas merece destaque as que se referem à cooperação internacional. As disposições constantes no arts. 26 a 41 servirão para facilitar o auxílio mútuo entre os Estados para assegurar o efetivo exercício da Jurisdição. No âmbito interno, a cooperação também é tema abordado pelo novo CPC. No Livro III, ainda da parte geral, pode-se dizer que a grande inovação se refere à fixação dos honorários sucumbenciais. Em breves linhas, nas ações envolvendo a Fazenda Pública os percentuais serão fixados com base no valor da causa – e não por apreciação equitativa do juiz – e serão reduzidos gradativamente, conforme o aumento do valor da condenação ou do proveito 3 LOURENÇO, Haroldo. O neoprocessualismo, o formalismo-valorativo e suas influências no novo CPC. Revista da EMERJ, v. 14. N. 56. p. 74-107, out-dez. 2011. 6 econômico obtido. Os advogados públicos também receberão honorários nas causas em que a Fazenda Pública se consagrar vencedora. Sobre o tema intervenção de terceiros, teremos regras especiais para a intervenção da figura do amicus curiae, que poderá se fazer presente em todos os graus de jurisdição e não somente nos tribunais superiores. A desconsideração da personalidade jurídica estará expressamente prevista como mais uma modalidade de intervenção, a qual será cabível, incidentalmente, em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial. As disposições do novo Código também revelam uma valorização dos mecanismos de autocomposição. Além da previsão genérica segundo a qual “o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos” (art. 3º, § 2º), a legislação processual civil traz diversos artigos que refletem a intenção de se priorizar a conciliação e a mediação, inclusive com a postergação da apresentação da contestação para um novo momento processual, que se dará após uma prévia tentativa de conciliação. Sobre os prazos, a principal alteração é que eles passarão a ser contados apenas em dias úteis. Além disso, os prazos processuais serão suspensos entre o período de 20 de janeiro e 20 de dezembro. Essa é mais uma conquista para a advocacia, notadamente para aqueles advogados que exercem a profissão de forma autônoma ou em pequena sociedade e que necessitam de um descanso como qualquer outro profissional. Quanto forma dos atos processuais e comunicação, a nova legislação privilegia a utilização dos meios eletr nicos de modo a aferir maior celeridade ao trâmite processual. Ainda no campo da celeridade, o novo CPC aprimora o sistema de julgamento de demandas repetitivas, que também foi estendido ao juízo de primeiro grau. Os processos que gravitam em torno da mesma questão de direito deverão ser decididos de forma conjunta, de modo a priorizar a razoável duração do processo, a segurança jurídica e a isonomia das partes perante o 7 Direito. Somente desta forma será possível evitar contradições entre as decisões de tribunais, diversos ou não, sobre uma mesma questão jurídica. Com a finalidade de simplificação, foram extintos diversos incidentes processuais e optou-se, como dito, pela instituição de um procedimento de conhecimento único, excluindo-se, portanto, o procedimento sumário. Sobre os aspectos recursais, uniformizou-se o prazo para todos os recursos (15 dias), com exceção dos embargos de declaração (05 dias). Para os recursos interpostos com intuito meramente protelatório, o Código prevê o agravamento de ônus financeiro para coibir tais casos. No campo dos recursos em espécie, o agravo retido foi excluído do sistema. Assim, quando não couber agravo de instrumento, as decisões anteriores à sentença poderão ser impugnadas na própria apelação. Explica- se, de antemão, que não haverá restrição ao exercício do direito de defesa, pois o que mudou foi apenas o momento da impugnação, já que a decisão da qual se recorria através do agravo retido só era alterada ou mantida quando do julgamento da apelação. Também foram extintos os embargos infringentes, o que já tinha sido proposto por Alfredo Buzaid4, transformando o que antes era recurso em técnica de julgamento. Em síntese, o novo Código de Processo Civil preocupou-se em garantir essencialmente: 1) a sintonia entre a legislação infraconstitucional e a Constituição Federal; 2) a simplificação dos procedimentos; 3) a organicidade do sistema, de forma a facilitar a sua compreensão; e 4) a solução de conflitos com o menor número de processos possíveis, sem que isso prejudique a efetividade na tutela jurisdicional. 4 “A existência de um voto vencido não basta por si só para justificar a criação de tal recurso; porque, por tal razão, se devia admitir um segundo recurso de embargos toda vez que houvesse mais de um voto vencido; desta forma poderia arrastar-se a verificação por largo tempo, vindo o ideal de justiça a ser sacrificado pelo desejo de aperfeiçoar a decisão” (BUZAID, Alfredo. Ensaio para uma revisão do sistema de recursos no Código de Processo Civil. In Estudos de Direito. São Paulo: Saraiva, 1972, p. 111). 8 2. A ESTRUTURA DO NOVO CPC A primeira mudança que se observa na disposição dos livros que comp em o novo CPC. O Código está divido em PARTE GERAL, PARTE ESPECIAL e LIVRO COMPLEMENTAR (disposições finais e transitórias). A PARTE GERAL é composta por seis Livros. O LIVRO I, que trata das normas processuais civis, é composto por um título único, que abarca todas as normas fundamentais do processo, notadamente os princípios aplicáveis ao direito processual civil. Por aqui já se nota uma guinada. O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República, observando-se as disposições deste Código. Essa disposição, constante no art. 1º, bem denota quais as espéciesde normas estabelecem o modelo processual que passa a viger com a entrada em vigor da Lei nº. 13.105/2015. O primeiro critério de apreciação do direito deve ser encontrado nos precedentes. Se houver precedente sobre a matéria posta em juízo, o julgador dele não pode se afastar, a menos que faça a devida distinção. Com relação à atividade postulatória, igualmente o advogado, num primeiro momento, deve buscar os fundamentos jurídicos para a postulação – na petição inicial, na resposta, na fase recursal ou nas manifestações das partes de um modo geral – nos precedentes. Da mesma forma, creio eu, deve o professor contemplar essa fonte normativa por excelência em suas lições. Em não havendo precedente, aí sim, os atores (do processo e da cátedra) estão autorizados a lançar mão da lei. Da interpretação da lei, joeirada ou confrontada pelos princípios, deve-se extrair a norma que vai valorar os fatos objetos da postulação. Com relação ao precedente, cabe mais uma advertência. Em tese o precedente é estabelecido com base na lei – se lei houver, é claro –, interpretada segundo a principiologia imperante. Entretanto, uma vez estabelecido o precedente, ele da lei se descola, passando a ser fonte normativa autônoma. De forma que é vedado ao julgador afastar o precedente sob o pretexto de que ele é contrário à legislação. Somente ao tribunal 9 legitimado – de regra, tribunal superior, exceto nos casos de IRDR e IAC – se admite revogar o precedente, o que se denomina overruling, na teoria dos precedentes, desenvolvida no e para o sistema da common Law. O LIVRO II dispõe sobre a função jurisdicional. Nele estão inseridas as regras sobre a competência da jurisdição brasileira, bem como os atos de cooperação internacional e nacional – que constituem a principal inovação nesta parte do Código – bem como sobre a competência interna. O LIVRO III contém sete títulos (Das partes e dos Procuradores; do Litisconsórcio; da Intervenção de Terceiros; Do juiz e dos auxiliares da justiça; Do Ministério Público; Da Advocacia Pública; e Da Defensoria Pública). É de se lembrar que a Advocacia Pública e a Defensoria, esta que sequer era lembrada no Código revogado, saíram valorizadas no novo Código. Ressalte-se que a Defensoria, pela importância do trabalho social que desempenha, em status e prerrogativas, de certa forma foi equiparada ao Ministério Público. No LIVRO IV encontram-se as regras sobre a forma, tempo, lugar e comunicação dos atos processuais, além das disposições acerca das nulidades, da distribuição e registro dos processos e do valor da causa. O LIVRO V trata das tutelas provisórias. Como elas poderão se fundamentar na urgência ou na evidência, o CPC/2015 estabelece um título específico para cada uma, o que facilita a compreensão do operador. O processo eletrônico, um desconhecido para o Código revogado, ainda que de forma tímida, mereceu a atenção do legislador do Código de 2015. O LIVRO VI dispõe sobre da formação, suspensão e extinção do processo. Esse é o último livro antes da Parte Especial. Na segunda parte do Código estão dispostas as regras relativas ao processo de conhecimento e ao cumprimento de sentença (LIVRO I). Numa tentativa de simplificação, optou-se pela instituição de um procedimento de conhecimento único, denominado procedimento comum, de regra desenvolvido em duas fases, sendo uma perante o conciliador ou mediador e outra perante o juiz. Exclui-se, portanto, o procedimento sumário. Após os dois primeiros títulos (do procedimento comum e do cumprimento de sentença), o Código trata dos 10 procedimentos especiais e dos procedimentos de jurisdição voluntária (Título III). O LIVRO II, por sua vez, trata do processo de execução. De todos, esse livro é o que experimentou menos alterações, tendo em vista que a Lei nº. 11.382/2006 já havia operado grandes mudanças no processo executivo. O LIVRO III, que encerra a parte especial, dispõe sobre os processos perante os tribunais e sobre os meios de impugnação das decisões judiciais. Vê-se que há um livro autônomo para os procedimentos recursais e outros meios de impugnação das decisões judiciais, o que se afigura mais lógico do que a inserção no livro do processo de conhecimento, como ocorre no Código revogado – o qual, para o leigo, passa a impressão de que somente as decisões proferidas no processo de conhecimento são impugnáveis. E, finalmente, o Livro Complementar contém as disposições finais e transitórias, que, entre outros aspectos, regula a transição do Código velho para o novo. 11 3. DIREITO INTERTEMPORAL Assim que o novo Código entrar em vigor os seus dispositivos serão imediatamente aplicado aos processos em curso, afastando-se a aplicação das normas do CPC/73. Ordinariamente o que ocorre é a revogação e portanto a cessação da eficácia das normas do Código velho. Contudo, a mudança de um sistema para outro não se dá de forma abrupta, pois não é desejável a quebra total de uma regra que até então vinha regulando determinadas situações. Em situações específicas, a eficácia das normas do CPC/73 perdurará, criando-se um problema de compatibilidade das leis em um mesmo tempo. A título de exemplo, citem os processos que correm sob o rito sumário. Esse rito não mais é contemplado no novo Código, no entanto o legislador achou por bem que os processos iniciados e não sentenciados até a entrada em vigor da Lei no. 13.105/2015 devem ser concluídos de acordo com o regramento constante no CPC/73. O Direito intertemporal cuida dessa transição, estabelecendo uma ponte entre o velho e o novo e evitando que o completo rompimento das regras – entrada em vigor de um Código e revogação do anterior – deixe determinadas situações no limbo. O direito intertemporal – contemplado no Livro Complementar, que trata “Das Disposiç es Finais e Transit rias” – constitui essa ponte, na medida em que estabelece a regra a ser aplicada em situações nas quais possa surgir alguma dúvida acerca da necessidade de aplicação imediata (ou não) do novo CPC. O legislador estabeleceu um período de vacatio legis5 de um ano (art. 1.045), durante o qual deverão ser aplicadas as disposições constantes na Lei nº. 5.869/1973 (CPC/73). Apenas depois de decorrido o referido período é que o novo CPC será desde logo aplicado a todos os processos pendentes (art. 5 É o espaço de tempo entre a data da publicação da nova lei e a sua efetiva vigência. 12 1.046). Mesmo depois desse prazo, algumas normas do CPC/73 terão sua eficácia preservada. Vejamos, então, quais as principais regras de direito intertemporal deverão ser observadas: a) Processos em trâmite sob os procedimentos sumário e especial O legislador processual, afora os procedimentos especiais, optou pela instituição de um procedimento de conhecimento único no novo CPC, excluindo o procedimento sumário que estava previsto nos arts. 275 a 281 do CPC de 1973. No procedimento sumário, os requisitos pertinentes à petição inicial,à resposta do réu, às provas, ao julgamento e aos recursos eram complementados com as disposições relativas ao procedimento ordinário. Além disso, caso a parte assim desejasse, a demanda, ainda que enquadrada em uma das hipóteses do art. 275, I e II, do CPC de 1973, poderia ser proposta pelo rito mais genérico – no caso, o ordinário. No novo CPC, o procedimento ordinário e o procedimento sumário foram fundidos num só procedimento, denominado procedimento comum. Assim, todas as ações propostas a partir de 18/03/2016 – data da entrada em vigor do novo Código – deverão tramitar de acordo com as regras desse procedimento, salvo se houver previsão de rito especial no próprio Código ou em legislação especial. Quanto aos processos pendentes, ou seja, que ainda estejam em fase de tramitação até 18/03/2016, o art. 1.046, §1º, soluciona a questão. As disposições do CPC/73 relativas ao procedimento sumário e aos procedimentos especiais que forem revogadas serão aplicadas às ações propostas e não sentenciadas até o início da vigência do novo Código. Trata-se de uma hipótese de ultratividade da lei processual civil revogada. Assim, se, por exemplo, o autor propuser ação de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre (art. 275, II, “d”, CPC/73) antes da entrada em vigor do novo Código, a demanda tramitará pelo 13 rito sumário, devendo o juiz, após a instrução, proferir a sentença na própria audiência, ou no prazo de 10 dias (art. 281, CPC/73). Se, no entanto, já tiver sido proferida sentença quando da entrada em vigor da nova legislação, o processo seguirá o rito único (procedimento comum). A mesma regra será aplicada aos procedimentos especiais previstos no CPC de 1973. Exemplo: proposta ação de anulação e substituição de títulos ao portador antes de 18/03/2016, o processo seguirá, até a sentença, as regras dispostas nos arts. 907 a 913 do CPC/73. Se, no entanto, após 18/03/2016, pretender o credor reivindicar determinado título, deverá propor ação sob o rito comum do novo CPC, porquanto extinta essa modalidade de procedimento especial. E as demandas submetidas ao rito dos juizados especiais, como ficam? No caso dos juizados especiais cíveis, que também são competentes para as ações cujo rito previsto é o sumário (art. 275, II, do CPC/73), conforme art. 3º, II da Lei nº 9.099/1995, a competência prorroga-se até a edição de lei específica. Logo, o art. 275, II, do CPC/73, também no que se refere à competência dos juizados especiais, permanecerá eficaz pós a entrada do CPC/2015. Essa é exatamente a regra disposta no art. 1.063 do novo CPC: “at a edição de lei específica, os juizados cíveis previstos na Lei nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, continuam competentes para o processamento e julgamento das causas previstas no art. 275, II, da Lei nº. 5.869, de 11 de janeiro de 1973”. b) Regra probatória Para as provas pendentes, ou seja, que ainda não tenham sido produzidas, as regras a serem aplicadas são aquelas dispostas na nova legislação, tão logo a sua entrada em vigor. Aqui se deve entender como pendente as provas deferidas ou determinadas de ofício em processos em curso quando da entrada em vigor do novo Código, mas ainda não produzidas (art. 1.047). 14 c) Processos de execução contra devedor insolvente A execução contra devedor insolvente, ou seja, contra aquele cujas dívidas ultrapassam a importância de seus bens, tem rito específico no CPC/73. Trata-se, na verdade, de um processo de liquidação do patrimônio do devedor civil (não empresário), para solução de suas obrigações, ao qual concorrem todos os seus credores. As regras relativas à insolvência civil no novo CPC não estão mais dispostas em um título específico, o que não significa dizer que não mais existe essa modalidade de execução. É que o novo Código, ao tratar das diversas espécies de execução, apenas menciona a insolvência civil como uma condição do devedor para que possa ensejar o concurso universal de credores. Não há, no entanto, a definição de um procedimento próprio a ser seguido. Por esta razão, até que entre em vigor lei específica, as execuções contra devedor insolvente, em curso ou que venham a ser propostas, permanecerão reguladas pelo Livro II, Título IV, da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (art. 1.052, CPC/2015). Fórum Permanente de Processualistas Civis Enunciado nº. 267: Os prazos processuais iniciados antes da vigência do CPC serão integralmente regulados pelo regime revogado. Enunciado nº. 268: A regra de contagem de prazos em dias úteis só se aplica aos prazos iniciados após a vigência do novo Código. 15 4. PROCURADORES O CPC/2015 dedica cinco artigos para tratar dos procuradores. Em sínteses, as principais novidades em relação ao CPC/73 são as seguintes: CPC/2015 Art. 103. A parte será representada em juízo por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. Parágrafo único. É lícito à parte postular em causa própria quando tiver habilitação legal. CPC/73 Art. 36. A parte será representada em juízo por advogado legalmente habilitado. Ser-lhe-á lícito, no entanto, postular em causa própria, quando tiver habilitação legal ou, não a tendo, no caso de falta de advogado no lugar ou recusa ou impedimento dos que houver. Faltando à parte a capacidade técnica-formal (inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil), deverá ela ser representada em juízo por advogado legalmente habilitado (art. 103, caput, CPC/2015). Há casos, no entanto, em que a legislação infraconstitucional admite a postulação em juízo por pessoas que não detêm a habilitação de advogado. É o que se passa, com algumas limitações, nos Juizados Especiais e na Justiça do Trabalho. O CPC/73 traz outra exceção à necessidade da presença de advogado para se postular em juízo (art. 36). Essa regra, no entanto, não encontra correspondência no CPC/2015, o qual ressalta a necessidade de representação através de advogado (art. 103) e possibilita a postulação em causa própria apenas na hipótese de habilitação legal, ou seja, quando o advogado funcionar em causa própria. 16 CPC/2015 Art. 104. O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente. § 1º Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, independentemente de caução, exibir a procuração no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual período por despacho do juiz. § 2º O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o advogado pelas despesas e por perdas e danos. CPC/73 Art. 37. Sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a procurar em juízo. Poderá, todavia, em nome da parte, intentar ação, a fim de evitar decadência ou prescrição, bem como intervir, no processo, para praticar atos reputados urgentes. Nestescasos, o advogado se obrigará, independentemente de caução, a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável até outros 15 (quinze), por despacho do juiz. Parágrafo único. Os atos, não ratificados no prazo, serão havidos por inexistentes, respondendo o advogado por despesas e perdas e danos. Sem instrumento de mandato o advogado não será admitido em juízo, podendo apenas praticar, em nome da parte, atos urgentes, como a propositura de ação para evitar a consumação da prescrição ou decadência (art. 104). Nesses casos, o advogado estará obrigado a apresentar o instrumento de mandato no prazo de 15 dias, prorrogável por igual período mediante despacho do juiz (art. 104, § 1º). Aqui não há qualquer diferença entre o CPC/2015 e o CPC/73. O CPC/73 (art. 37, parágrafo único) fala em “inexistência” do ato não ratificado, quando praticado por advogado sem procuração. É a mesma 17 expressão adotada pelo STJ na Súmula 115. 6 A hipótese, no entanto, não é de inexistência, tampouco de invalidade, mas de ineficácia do ato em relação ao suposto representado. Como o ato foi praticado por quem detinha capacidade postulatória, ele existe e é válido. No entanto, só produzirá efeito se posteriormente ratificado pelo representado. A posterior ratificação, portanto, é condição de eficácia e não pressuposto de existência do ato, até porque não há como se cogitar em ratificação de algo que sequer existe. CPC/2015 Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica. § 1º A procuração pode ser assinada digitalmente, na forma da lei. § 2º A procuração deverá conter o nome do advogado, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. § 3º Se o outorgado integrar CPC/73 Art. 38. A procuração geral para o foro, conferida por instrumento público, ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso. Parágrafo único. A procuração pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei específica. 6 Súmula 115 do STJ: “Na instância especial inexistente recurso interposto por advogado sem procuração nos autos.” 18 sociedade de advogados, a procuração também deverá conter o nome dessa, seu número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. § 4º Salvo disposição expressa em sentido contrário constante do próprio instrumento, a procuração outorgada na fase de conhecimento é eficaz para todas as fases do processo, inclusive para o cumprimento de sentença. Nos termos do art. 105, somente a procuração geral para o foro (cláusula ad judicia), conferida por instrumento público ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo. Entretanto, para a prática de alguns atos a lei exige poderes especiais. A declaração de hipossuficiência econômica, que fundamenta o pedido de gratuidade da justiça, foi incluída entre os atos para os quais a lei prevê a necessidade de outorga específica de poderes. Além da qualificação do outorgante (ou mandante), a procuração deve conter o nome do advogado (outorgado ou mandatário), seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, seu endereço profissional completo e de seu correio eletrônico (art. 105, § 2º). No mais, os poderes do advogado devem estar bem definidos na procuração, para que não haja possibilidade de rejeição de determinados pedidos pelo órgão jurisdicional para o qual ela será apresentada. O CPC/2015 também elenca como requisito da procuração a indicação do nome da sociedade de advogados à qual pertença o causídico. Nesse ponto também vale a regra do art. 15, § 3º, do Estatuto da 19 OAB, segundo a qual as procurações deverão ser outorgadas individualmente aos advogados e indicarão a sociedade da qual façam parte. Frise-se que a procuração não perde a validade em razão do decurso do tempo. Por esta razão, o instrumento outorgado na fase de conhecimento será eficaz para todas as fases do processo, salvo se houver disposição em sentido contrário na própria procuração (art. 105, § 4º). CPC/2015 Art. 106. Quando postular em causa própria, incumbe ao advogado: I – declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e o nome da sociedade de advogados da qual participa, para o recebimento de intimações; II – comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço. § 1º Se o advogado descumprir o disposto no inciso I, o juiz ordenará que se supra a omissão, no prazo de 5 (cinco) dias, antes de determinar a citação do réu, sob pena de indeferimento da petição. § 2º Se o advogado infringir o previsto no inciso II, serão consideradas válidas as intimações enviadas por carta registrada ou meio eletrônico ao endereço constante dos autos. CPC/73 Art. 39. Compete ao advogado, ou à parte quando postular em causa própria: I – declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço em que receberá intimação; II – comunicar ao escrivão do processo qualquer mudança de endereço. Parágrafo único. Se o advogado não cumprir o disposto no nº I deste artigo, o juiz, antes de determinar a citação do réu, mandará que se supra a omissão no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob pena de indeferimento da petição; se infringir o previsto no nº II, reputar-se-ão válidas as intimações enviadas, em carta registrada, para o endereço constante dos autos. 20 Quando o advogado funcionar em causa própria, por óbvio será desnecessária procuração. No entanto, os requisitos do instrumento deverão constar da petição inicial ou da contestação (art. 106, I). O inciso II, relativo ao dever de atualização do endereço, guarda sanção prevista no § 2º e, nesse ponto, não apresentou nenhuma modificação se comparado ao CPC/73. CPC/2015 Art. 107. O advogado tem direito a: I – examinar, em cartório de fórum e secretaria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independentemente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anotações, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenaso advogado constituído terá acesso aos autos; II – requerer, como procurador, vista dos autos de qualquer processo, pelo prazo de 5 (cinco) dias; III – retirar os autos do cartório ou da secretaria, pelo prazo legal, sempre que neles lhe couber falar por determinação do juiz, nos casos previstos em lei. § 1º Ao receber os autos, o advogado assinará carga em livro ou documento próprio. § 2º Sendo o prazo comum às partes, CPC/73 Art. 40. O advogado tem direito de: I - examinar, em cartório de justiça e secretaria de tribunal, autos de qualquer processo, salvo o disposto no art. 155; II – requerer, como procurador, vista dos autos de qualquer processo pelo prazo de 5 (cinco) dias; III – retirar os autos do cartório ou secretaria, pelo prazo legal, sempre que lhe competir falar neles por determinação do juiz, nos casos previstos em lei. § 1º Ao receber os autos, o advogado assinará carga no livro competente. § 2º Sendo comum às partes o prazo, só em conjunto ou mediante prévio ajuste por petição nos autos, poderão os seus procuradores retirar os autos, ressalvada a obtenção de cópias para a qual cada procurador poderá retirá- los pelo prazo de 1 (uma) hora independentemente de ajuste. 21 os procuradores poderão retirar os autos somente em conjunto ou mediante prévio ajuste, por petição nos autos. § 3º Na hipótese do § 2º, é lícito ao procurador retirar os autos para obtenção de cópias, pelo prazo de 2 (duas) a 6 (seis) horas, independentemente de ajuste e sem prejuízo da continuidade do prazo. § 4º O procurador perderá no mesmo processo o direito a que se refere o § 3º se não devolver os autos tempestivamente, salvo se o prazo for prorrogado pelo juiz. Os direitos dos advogados estão previstos na Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB), mais precisamente em seus arts. 6º e 7º, assim como no art. 107 do CPC/2015. Todas essas disposições garantem ao advogado o direito de exercer a defesa plena de seus clientes, com independência e sem qualquer subordinação ao magistrado, ao membro do Ministério Público ou a qualquer outra autoridade que possa intervir no processo. Outra novidade se refere à sucessão do procurador. De acordo com o CPC/73, se o advogado pretender renunciar ao mandato, terá o dever de cientificar o cliente acerca da renúncia, oportunizando-lhe a constituição de outro advogado. A ciência ao mandante não exige forma especial, podendo ser realizada da maneira mais simples e ampla, desde que reste incontroversa a sua cientificação. 22 O CPC/2015 estabelece que a comunicação acerca da renúncia poderá ser dispensada se a procuração houver sido outorgada a vários advogados e a parte continuar a ser representada por outro (art. 112, § 2º). CPC/2015 Art. 112. O advogado poderá renunciar ao mandato a qualquer tempo, provando, na forma prevista neste Código, que comunicou a renúncia ao mandante, a fim de que este nomeie sucessor. § 1º Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado continuará a representar o mandante, desde que necessário para lhe evitar prejuízo. § 2º Dispensa-se a comunicação referida no caput quando a procuração tiver sido outorgada a vários advogados e a parte continuar representada por outro, apesar da renúncia. CPC/73 Art. 45. O advogado poderá, a qualquer tempo, renunciar ao mandato, provando que cientificou o mandante a fim de que este nomeie substituto. Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado continuará a representar o mandante, desde que necessário para lhe evitar prejuízo. 4.1 Deveres das partes e dos procuradores Para melhor compreensão, vale comparar as duas legislações: CPC/2015 Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, CPC/73 Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma 23 de seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo: I – expor os fatos em juízo conforme a verdade; II – não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento; III – não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito; IV – cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação; V – declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva; VI – não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso. § 1º Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer das pessoas mencionadas no caput de que sua conduta poderá ser punida como ato atentatório à dignidade da justiça. participam do processo: I – expor os fatos em juízo conforme a verdade; II – proceder com lealdade e boa-fé; III – não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento; IV – não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito; V – cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final. Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a 24 § 2º A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de acordo com a gravidade da conduta. § 3º Não sendo paga no prazo a ser fixado pelo juiz, a multa prevista no § 2º será inscrita como dívida ativa da União ou do Estado após o trânsito em julgado da decisão que a fixou, e sua execução observará o procedimento da execução fiscal, revertendo-se aos fundos previstos no art. 97. § 4º A multa estabelecida no § 2º poderá ser fixada independentemente da incidência das previstas nos arts. 523, § 1º, e 536, § 1º. § 5º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa prevista no § 2º poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário- mínimo. § 6º Aos advogados públicos ou privados e aos membros da Defensoria Pública e do MinistérioPúblico não se aplica o disposto nos §§ 2º a 5º, devendo eventual multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado. 25 responsabilidade disciplinar ser apurada pelo respectivo órgão de classe ou corregedoria, ao qual o juiz oficiará. § 7º Reconhecida violação ao disposto no inciso VI, o juiz determinará o restabelecimento do estado anterior, podendo, ainda, proibir a parte de falar nos autos até a purgação do atentado, sem prejuízo da aplicação do § 2º. § 8º O representante judicial da parte não pode ser compelido a cumprir decisão em seu lugar. Dever de lealdade e boa-fé. O dever inserido no art. 14, II, do CPC/73, agora está presente no capítulo que trata das normas fundamentais do processo civil (art. 5º). Denota-se, portanto, que tal dever não é inerente apenas às partes. Indicação de endereço. O art. 77, V, encontra correspondência no art. 238, parágrafo único, do CPC/73 (com alteração dada pela Lei nº 11.382/2006), segundo o qual cumpre às partes atualizar o respectivo endereço sempre que houver modificação temporária ou definitiva. As partes e os advogados têm, portanto, a obrigação de manter endereço atualizado no processo, para efeito de intimação dos atos processuais. A consequência para a ausência desta comunicação está prevista no art. 274, parágrafo único, do CPC/2015.7 7 Art. 274, parágrafo único: “Presumem-se válidas as intimações dirigidas ao endereço constante dos autos, ainda que não recebidas pessoalmente pelo interessado, se a modificação temporária ou definitiva não tiver sido devidamente comunicada ao juízo, fluindo os prazos a partir da juntada aos autos do comprovante de entrega da correspondência no primitivo endereço.” 26 Inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso (inciso VI). Em virtude da extinção do processo cautelar como procedimento autônomo, o ato de praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso, antes tratado no art. 879 (cautelar de atentado, segundo o CPC/73), passa a ser tratado no rol dos deveres daqueles que participam do processo. Caso o juiz reconheça violação a esse dispositivo, deverá determinar o reestabelecimento do estado anterior, podendo, ainda, proibir a parte de falar nos autos até a purgação do atentado (art. 77, § 7º). Além disso, assim como ocorre no inciso IV, caso o juiz constate o descumprimento desse dever, deverá advertir a parte, o seu procurador ou quem de qualquer forma estiver participando do processo, que a conduta poderá ser punida como ato atentatório à dignidade da justiça, com a consequente aplicação de multa. Valor da multa. O CPC/2015 estabelece novas disposições no que tange à quantificação da multa em razão de violação dos deveres processuais. A regra é que ela será de até vinte por cento do valor da causa, conforme a gravidade da conduta (art. 77, § 2º). Se, no entanto, o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até dez vezes o salário- mínimo vigente (§ 5º). Diferenciação entre a multa por ato atentatório à dignidade da justiça e a multa cominatória. A multa por ato atentatório à dignidade da justiça pode ser aplicada independentemente das sanções previstas nos arts. 523, § 1º, e 536, § 1º, que tratam, respectivamente, da multa pelo não pagamento voluntário de obrigação de pagar quantia certa fixada em sentença, e daquela que pode ser aplicada pelo juiz para forçar o cumprimento de 27 obrigação de fazer e de não fazer. Essa diferença já era observada no âmbito do STJ.8 Multa à advocacia e aos membros da Defensoria e do Ministério Público. O CPC/2015 confirma o entendimento jurisprudencial ao determinar a inaplicabilidade da multa aos advogados públicos ou privados9 e aos membros da Defensoria Pública e do Ministério Público. Aos advogados privados valem as regras do Estatuto da Advocacia, que possui comandos próprios para a punição em virtude do mau exercício da profissão. As responsabilidades dos demais entes (membros da Defensoria Pública e do Ministério Público) estão disciplinadas em suas respectivas leis orgânicas e serão apuradas pelo órgão competente (corregedoria), ao qual o juiz oficiará (art. 77, § 6º).10 Representante judicial e substituição. O CPC/2015 estabelece que os representantes judiciais das partes – incluindo-se aqueles que as representam em razão de incapacidade processual – não podem ser compelidos a cumprir decisão em substituição de seus representados (art. 77, § 8º). Por exemplo, descabe ao juiz determinar que o advogado do autor entregue o bem discriminado na sentença na hipótese de seu cliente descumprir determinação judicial no mesmo sentido. 8 “A multa processual prevista no caput do art. 14 do CPC difere da multa cominatória prevista no Art. 461, §§ 4º e 5º, vez que a primeira tem natureza punitiva, enquanto a segunda tem natureza coercitiva, a fim de compelir o devedor a realizar a prestação determinada pela ordem judicial”. (STJ, REsp nº 770.753/RS, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, julgado em 27.02.2007, DJe 15/03/2007). 9 Nesse sentido tem-se o julgado do Supremo Tribunal Federal na Reclamação nº 5133/MG, de relatoria da Min. Carmen Lúcia, julgado em 20/05/2009. 10 Antes do novo CPC, a regra do art. 14, V, do CPC/73 (e atual art. 77, IV), já abrangia os advogados do setor privado. Segundo o STF, por ocasião do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.652-6/DF, a ressalva na parte inicial do parágrafo único, do art. 14 do Código de Processo Civil, alcança todos os advogados, com esse título atuando em juízo, independente de estarem sujeitos também a outros regimes jurídicos. 28 4.2 Responsabilidade por dano processual Durante a tramitação do processo, o juiz tem o poder-dever de velar pela solução do litígio de forma adequada, reprimindo os atos que se manifestem contrários ao desenvolvimento regular do feito e à dignidade da justiça. Assim, em se verificando que uma das partes está litigando de má-fé, o juiz tem o poder-dever de aplicar, de ofício e em qualquer grau de jurisdição, multa em valor superior a 1% (um por cento) e inferior a 10% (dez por cento) do valor corrigido da causa. No CPC/73 (art. 18) essa multa não pode exceder a 1% (um por cento) sobre o valor da causa. Se o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o salário-mínimo vigente (art. 81, § 2º). Além disso, o órgão jurisdicional condenará o litigante a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a pagar os honorários advocatícios e todas as despesas que ela tenha efetuado. A indenização, segundo a nova redação, não sofre a limitação imposta pelo CPC/73. Cabe ao juiz, então, analisar as provas trazidas ao caso e fixar a indenização corresponde ao prejuízo sofrido. Somente se não existirem provas suficientes para mensurar a quantia devida pelo ofensoré que o prejuízo será apurado em liquidação. CPC/2015 Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos CPC/73 Art. 18. O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante de má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os 29 prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou. § 1º Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. § 2º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo. § 3º O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos. honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou. § 1º Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção do seu respectivo interesse na causa, ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. § 2º O valor da indenização será desde logo fixado pelo juiz, em quantia não superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, ou liquidado por arbitramento. 30 5. HONORÁRIOS 5.1 Cabimento dos honorários Art. 85, §1º. São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente. Na vigência do CPC/73 a jurisprudência não admitia a fixação de honorários no cumprimento provisório de sentença. 5.2 Possibilidade de majoração dos honorários na fase recursal Na sistemática do CPC/73 só há uma única condenação em honorários para cada processo. O que a jurisprudência admite é que haja revisão dos honorários fixados pelas instâncias ordinárias quando o valor revelar-se manifestamente irrisório ou excessivo. E como será no novo CPC? De acordo com o §11 do art. 85 da nova legislação, “o tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao 31 advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento”. O professor Luiz Dellore esclarece a nova sistemática com o seguinte exemplo: “condenação em 10% quando da sentença, majorada para 15% quando do acórdão da apelação e para 20% quando do acórdão do recurso especial” (Teoria Geral do Processo – Comentários ao CPC de 2015 – Parte Geral, Editora Método, pág. 298). Vinte por cento (20%) é o limite previsto na lei. Se na condenação inicial (sentença) já tiver sido fixado tal percentual, descabe majoração. Essa regra é aplicável a qualquer recurso? O mesmo professor explica que “como o §11 destaca “tribunal”, de se concluir que não há a aplicação em 1º grau. Assim, quando dos embargos de declaração da interlocutória ou da sentença, descabe aplicar honorários recursais” (pág. 298-299). 5.3 Compensação nos casos de sucumbência recíproca e cobrança autônoma de honorários não fixados na sentença Na vigência do CPC/73 Súmula 306, STJ:Os honorários advocatícios devem ser compensados quando houver sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte. Súmula 453, STJ: Os honorários sucumbenciais, quando omitidos em Com a entrada em vigor do CPC/2015 Art. 85, § 14. Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial. Art. 85, § 18. Caso a decisão transitada em julgado seja omissa 32 decisão transitada em julgado, não podem ser cobrados em execução ou em ação própria. quanto ao direito aos honorários ou ao seu valor, é cabível ação autônoma para sua definição e cobrança. Os entendimentos expostos nas Súmulas 306 e 453 do STJ estarão SUPERADOS com a entrada em vigor do novo CPC. [A nova legislação, além de vedar a compensação em caso de sucumbência recíproca, afasta a necessidade de interposição de embargos de declaração, para fins de cobrança autônoma dos honorários, quando a sentença for omissa em relação a essa verba. Assim, não sendo fixados os honorários na sentença, o advogado poderá propor ação autônoma para sua definição e cobrança, mesmo que não tenha interposto o referido recurso. 5.4 Novos parâmetros para fixação dos honorários em desfavor da Fazenda Pública De acordo com o CPC/73, vencida a Fazenda Pública, os honorários advocatícios são fixados por apreciação equitativa do juiz. Em síntese, cabe ao magistrado basear-se no caso concreto para recompensar o trabalho do advogado, sem onerar, de forma excessiva, a Fazenda Pública. Essa regra possibilita a fixação de honorários em valor irrisório, inclusive em percentual inferior a 10% (dez por cento). A legislação atual felizmente não seguiu a sistemática anterior. O ponto principal da alteração é o estabelecimento de um percentual mínimo de honorários em desfavor da Fazenda Pública. Assim, independentemente do valor da condenação sofrida, os honorários advocatícios não poderão ser fixados em valor inferior ao mínimo estabelecido em lei. O grau de zelo do profissional, o lugar da prestação do serviço, a natureza e a importância da 33 causa, bem como o trabalho realizado pelo advogado e o tempo para o seu serviço também devem ser atendidos quando da fixação dos honorários (o que também vale para as demandas em geral). Os percentuais (mínimo e máximo) estão fixados nos incisos I a V, do § 3 o , do art. 85, e devem ser aplicados independentemente do conteúdo da decisão (§ 6 o ).As margens de percentagem serão reduzidas gradativamente, conforme o aumento do valor da condenação ou do proveito econômico obtido. Os percentuais estabelecidos no CPC/2015 serão aplicados no momento da prolação da sentença e terão por base o salário-mínimo vigente. No entanto, se a sentença for ilíquida, deve-se aguardar o procedimento de liquidação para posterior definição. Outra regra que deve ser observada é aquela prevista no § 5 o do art.85. De forma prática, vejamos como ficará a fixação dos honorários através do exemplo abaixo: O Município de Belo Horizonte/MG foi condenado a pagar a quantia de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) a título de indenização. Esse valor supera o montante de 200 salários-mínimos (art. 85, § 3 o , I), mas não chega a superar o limite de 2.000 salários-mínimos (art. 85, § 3 o , II). O juiz deverá, então, fixar os honorários da seguinte forma: (i) de 10% a 20% sobre o valor de R$ 157.600,00 (cento e cinquenta e sete mil e seiscentos reais), que corresponde a 200 salários-mínimos; 11 (ii) de 8% a 10% sobre o valor restante (R$ 92.400,00), observando-se, assim, a faixa subsequente à do art. 85, § 3 o , I. A fixação dos honorários da forma proposta permite, enfim, o adequado reconhecimento ao trabalho exercido pelo advogado. Quanto à definição dos honorários nas execuções propostas contra a Fazenda Pública, as regras serão as mesmas do art. 85, § 3 o , mas com uma ressalva: nas ações não impugnadas, submetidas ao regime dos precatórios, 11 Aplicou-se neste exemplo o valor do salário-mínimo vigente a partir de janeiro de 2015, ou seja, R$ 788,00 (setecentos e oitenta e oito reais). Atualmente esse valor é de R$ 880,00 (oitocentos e oitenta reais). 34 não serão devidos honorários advocatícios (art. 85, § 7 o ). No entanto, na hipótese de execução de pequeno valor (art. 100, § 3 o , CF), 12 com pagamento através de RPV (Requisição de Pequeno Valor), serão devidos os honorários. Este já era, inclusive, o posicionamento anotado por nossos tribunais superiores. 13 12 CF, art. 100. “Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. [...]” § 3o. “O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado.” 13 Nesse sentido: “PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA NÃO EMBARGADA. PEQUENO VALOR. DISPENSA DE PRECATÓRIO. CABIMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO DO ART. 1o-D DA LEI 9.494/97. 1. Em se tratando de execução por quantia certa de título judicial contra a Fazenda Pública, a regra geral é a de que somente são devidos honorários advocatícios se houver embargos. É o que decorre do art. 1o-D da Lei 9.494/97, introduzido pela Medida Provisória 2.180-35, de 24 de agosto de 2001. 2. A regra, todavia, é aplicável apenas às hipóteses em que a Fazenda Pública está submetida a regime de precatório, o que impede o cumprimento espontâneo da prestação devida por força da sentença. Excetuam-se da regra, portanto, as execuções de pequeno valor, de que trata o art. 100, § 3o, da Constituição, não sujeitas a precatório, em relação às quais a Fazenda fica sujeita a honorários nos termos do art. 20, § 4o do CPC. Interpretação conforme à Constituição do art. 1o-D da Lei 9.494/97, conferida pelo STF (RE 420816, relator para acórdão Min. Sepúlveda Pertence). 3. Consideram-se de pequeno valor, para esse efeito, as execuções de (a) até sessenta (60) salários mínimos, quando devedora for a União Federal (Lei 10.259/2001, art. 17 § 1o); (b) até quarenta (40) salários mínimos ou o estabelecido pela legislação local, quando devedor for Estado-membro ou o Distrito Federal (ADCT art. 87); e (c) até trinta (30) salários mínimos ou o estabelecido pela legislação local, quando devedor for Município (ADCT, art. 87). 4. Sendo a execução promovida em regime de litisconsórcio ativo facultativo, a aferição do valor, para os fins do art. 100, § 3o da Constituição, deve levar em conta o crédito individual de cada exequente (art. 4o da Resolução 373, de 25.05.2004, do Conselho da Justiça Federal). Precedente: REsp. no 728.163/RS, 1a Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 21.11.2005. 5. Recurso especial a que se dá provimento” (STJ Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 08/05/2007). 35 36 6. ATOS PROCESSUAIS 6.1 Negócio jurídico processual e calendarização O novo CPC prevê a possibilidade de alteração do procedimento para “ajustá-lo s especificidades da causa” (art. 190). O dispositivo é claramente inspirado nos movimentos do contratualismo processual, que permitem uma adequação do instrumento estatal de solução de litígios aos interesses das partes e ao direito material que os consubstanciam. A alteração procedimental só pode ser realizada quando a causa versar sobre direitos que admitam autocomposição e as partes forem plenamente capazes. A modificação deve ser realizada mediante consenso e pode incluir o ajuste quanto aos prazos processuais. Nada impede que a flexibilização quanto ao procedimento seja ajustada na fase pré-processual, ou seja, antes mesmo da existência da demanda. Em todo caso – convenção firmada antes ou após o processo – ainda que a lei não exija a homologação do juiz, é possível que este controle a sua validade (art. 190, parágrafo único). O professor e magistrado Fernando da Fonseca Gajardoni, enumera algumas situações que podem admitir a convenção sobre o procedimento. Dentre elas, citamos: (i) a ampliação e a redução dos prazos de resposta e de recursos; (ii) estabelecimento de novas formas de comunicação, inclusive através de aplicativos de mensagens; (iii) opção por memoriais escritos em vez de debate oral; (iv) comparecimento das testemunhas sem necessidade de expedição de carta precatória ou rogatória 14 . 14 GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Teoria Geral do Processo: comentários ao CPC/2015 (parte geral). São Paulo: Forense, 2015, p. 625. 37 O Fórum Permanente de Processualistas Civis, nos enunciados 19 e 21, também trouxe alguns exemplos de negócios jurídicos processuais que poderão ser pactuados em conformidade com o art. 190: Pacto de impenhorabilidade, acordo de ampliação de prazos das partes de qualquer natureza, acordo de rateio de despesas processuais, dispensa consensual de assistente técnico, acordo para retirar o efeito suspensivo da apelação, acordo para não promover execução provisória (Enunciado 19); Acordo para realização de sustentação oral, acordo para ampliação do tempo de sustentação oral, julgamento antecipado da lide convencional, convenção sobre prova, redução de prazos processuais (Enunciado 21). A inovação é bastante significativa e, se utilizada com cautela 15 , pode trazer maior efetividade ao processo. Para tanto, é imprescindível a cooperação entre os jurisdicionados e a fiscalização por parte do magistrado, que pode anular a convençãoem caso de abuso. É possível, ainda, de acordo com o art. 191, que seja formalizado um calendário, com a anuência do juiz, para a prática dos atos processuais (art. 15 Aqui vale o alerta da professora Tereza Arruda Alvim, para quem o art. 190 não permite a pactuação de negócio jurídico processual que tenha por objeto deveres processuais imperativos. As partes não poderiam, por exemplo, dispor em negócio jurídico processual que uma decisão poderá ser não fundamentada, ou que, em eventual demanda, as partes não estão obrigadas a cumprir as decisões judiciais. (WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva; MELLO, Rogério Licastro Torres de. Primeiros comentários ao Novo Código de Processo Civil. Artigo por artigo. São Paulo: RT, 2015, p. 356-357). Outros limites foram estabelecidos nos Enunciados do F rum Permanente de Processualistas Civis: “O neg cio jurídico processual não pode afastar os deveres inerentes à boa-f e cooperação” (Enunciado nº. 06); “Não são admissíveis os seguintes negócios bilaterais, dentre outros: acordo para modificação da competência absoluta, acordo para supressão da 1ª instância” (Enunciado nº. 20). 38 191). Caso o juiz aceite a fixação de um calendário, os seus prazos, geralmente impróprios, passarão a ser próprios. Isso porque o CPC/2015 dispõe, expressamente, que o calendário não somente vinculará as partes, mas também o juiz. Sendo assim, é preciso que o juiz e as partes avaliem se há, ou não, estrutura material para a aplicação e efetivação da norma. De todo modo, não há qualquer penalidade para o juiz – pelo menos expressamente. Para as partes o descumprimento do prazo acarreta preclusão (art. 223). Enunciados do ENFAM sobre os arts. 190 e 191 do CPC/2015 Enunciado nº. 36: “A regra do art. 190 do CPC/2015 não autoriza às partes a celebração de negócios jurídicos processuais atípicos que afetem poderes e deveres do juiz, tais como os que: a) limitem seus poderes de instrução ou de sanção à litigância ímproba; b) subtraiam do Estado/juiz o controle da legitimidade das partes ou do ingresso de amicus curiae; c) introduzam novas hipóteses de recorribilidade, de rescisória ou de sustentação oral não previstas em lei; d) estipulem o julgamento do conflito com base em lei diversa da nacional vigente; e e) estabeleçam prioridade de julgamento não prevista em lei”. Enunciado nº. 37: “São nulas, por ilicitude do objeto, as convenç es processuais que violem as garantias constitucionais do processo, tais como as que: a) autorizem o uso de prova ilícita; b) limitem a publicidade do processo para além das hipóteses expressamente previstas em lei; c) modifiquem o regime de competência absoluta; e d) dispensem o dever de motivação”. Enunciado nº. 38: “Somente partes absolutamente capazes podem celebrar convenção pré-processual atípica (arts. 190 e 191 do CPC/2015)”. 39 Enunciado nº. 39: “Não é válida convenção pré-processual oral (art. 4º, § 1º, da Lei n. 9.307/1996 e 63, § 1º, do CPC/2015)”. Enunciado nº. 41: “Por compor a estrutura do julgamento, a ampliação do prazo de sustentação oral não pode ser objeto de negócio jurídico entre as partes”. 6.2 Prazos processuais Muitos prazos foram alterados. De regra, eles foram elastecidos. O prazo para a emenda da petição inicial passa de dez para quinze dias. O prazo da contestação continua a ser de quinze dias. No entanto, o termo a quo será diferenciado, pois dependerá da realização (ou não) da audiência de conciliação ou mediação. Quanto à réplica, o seu prazo passa a ser o mesmo da contestação, ou seja, ao invés de dez será de quinze dias. Além desses exemplos – diversos outros prazos também foram modificados –, merece atenção a alteração quanto ao prazo para os recursos. Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interposição dos demais recursos (apelação; agravo de instrumento; agravo interno; recurso ordinário; recurso especial e extraordinário; agravo em recurso especial ou extraordinário; e embargos de divergência) será de quinze dias. A principal alteração é que os prazos processuais passarão a ser contados apenas em dias úteis. Além disso, eles serão suspensos entre o período de 20 de janeiro e 20 de dezembro, ou seja, durante o chamado recesso forense. 40 Outra importante alteração de prazo é aquele relativo às manifestações de litisconsortes com procuradores distintos. Eis os dispositivos comparados: CPC/2015 Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento. § 1º Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2(dois) réus, é oferecida defesa por apenas um deles. § 2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos. CPC/73 Art. 191. Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser- lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos. Sobre esse ponto o STJ já decidiu que, na vigência do CPC/73, vale a regra do prazo em dobro mesmo que se trate de autos eletrônicos. Ou seja, essa modificação só valerá a partir de março de 2016. “RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. ART. 191 DO CPC. PRAZO EM DOBRO. APLICAÇÃO AO PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. NECESSIDADE DE ALTERAÇÃO LEGISLATIVA. INAPLICABILIDADE PREVISTA APENAS NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 1. Trata-se de embargos monitórios, opostos por devedores solidários representados por diferentes advogados, que não foram conhecidos sob o fundamento da intempestividade, haja 41 vista os autos tramitarem eletronicamente. 2. Em respeito ao princípio da legalidade e à legítima expectativa gerada pelo texto normativo vigente, enquanto não houver alteração legal, aplica-se aos processos eletrônicos o disposto no art. 191 do CPC. 3. O novo Código de Processo Civil, atento à necessidade de alteração legislativa, no parágrafo único do art. 229, ressalva a aplicação do prazo em dobro no processo eletrônico. 4. A inaplicabilidade do prazo em dobro para litisconsortes representados por diferentes procuradores em processo digital somente ocorrerá a partir da vigência do novo Código de Processo Civil. 5. Recurso especial provido.” (STJ, REsp nº. 1.488.590/PR, Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Julgado em 14/04/2015). Os prazos para o Ministério Público, Fazenda Pública e Defensoria Pública serão contados em dobro, qualquer que seja o teor manifestação (arts. 180, 183 e 186). Ou seja, não há mais prazo em quádruplo para contestar. Quanto à suspensão dos prazos, verificam-se as seguintes alterações: CPC/2015 Art. 221. Suspende-se o curso do prazo por obstáculo criado em detrimento da parte
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