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I © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. II © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Outros livros de interesse PSICOLOGIA, PSIQUIATRIA E PSICANÁLISE Alida A Ressurreiçªo do Self Alvares e Taub Usando a Cabeça: Memória Andrade Curso de Parapsicologia 2a ed. Andrade Manual de Hipnose MØdica e Odontológica Texto BÆsico 5a ed. Assumpçªo Tratado de Psiquiatria da Infância e da AdolescŒncia Astrup Psiquiatria Pavloviana A Reflexologia na PrÆtica MØdica Balint O MØdico, seu Paciente e a Doença A Afetividade como um Novo Ponto de Contato na Relaçªo MØdico-Paciente 2a ed. Bicalho Lana O Livro de Estímulo à Amamentaçªo uma Visªo Biológica, Fisiológica e Psicológico-Comportamental da Amamentaçªo Bonaccorsi Disfunçªo Sexual Masculina Tudo o que VocŒ Precisa Saber Bonomi PrØ-Natal Humanizado Gerando Crianças Felizes Canela e Maldonado Recursos de Relacionamento Caramelli Manual de Neuropsiquiatria GeriÆtrica Carneiro A Obesidade sob a Visªo de um Psiquiatra Cerqueira Luiz Psiquiatria Social Problemas Brasileiros de Saœde Mental Coelho Avaliaçªo Neurológica Infantil nas Açıes PrimÆrias de Saœde (2 vols.) Collucci Por que a Gravidez nªo Vem Dœvidas Reais de Casais que Enfrentam o Drama da Infertilidade De `vila Socorro, Doutor! AtrÆs da Barriga Tem Gente Del Ciampo, Ricco e Nogueira Aleitamento Materno Passagens e TransferŒncia Mªe-Filho Diament e Cypel Neurologia Infantil 3a ed. Dorgival (Soc. Bras. Psiq. Clínica) Esquizofrenia Atualizaçªo em Diagnóstico e Tratamento Escolano DiÆrio de uma Gestante Ey Manual de Psiquiatria 5a ed. Fenichel Teoria Psicanalítica das Neuroses Figueiró e Bertuol Depressªo em Medicina Interna e em Outras Condiçıes MØdicas Depressıes SecundÆrias Flehmig Texto e Atlas do Desenvolvimento Normal e seus Desvios no Lactente Diagnóstico do Nascimento atØ o 18o MŒs Fontana Manual de Clínica em Psiquiatria Freud Chaves/Resumo das Obras Completas (Organizaçªo Editorial: National Clearinghouse for Mental Health Information) Gauderer Autismo 3a ed. Gesell e Amatruda Psicologia do Desenvolvimento Do Lactente e da Criança Pequena Bases Neuropsicológicas e Comportamentais Graeff Fundamentos de Psicofarmacologia Grof Jogo Cósmico Exploraçªo das Fronteiras da ConsciŒncia Humana Grunspun Crianças e Adolescentes com Transtornos Psicológicos e do Desenvolvimento Grunspun Distœrbios Neuróticos da Criança 5a ed. Grunspun Distœrbios PsicossomÆticos da Criança 2a ed. Grunspun Distœrbios PsiquiÆtricos da Criança 3a ed. Grunspun Educar para o Futuro Hebb Psicologia 3a ed. (2 vols.) InaiÆ Bases PsicoterÆpicas da Enfermagem InaiÆ Enfermagem PsiquiÆtrica e de Saœde Mental na PrÆtica Ivan Lemos Dor Crônica Diagnóstico, Pesquisa e Tratamento Jaspers Psicopatologia Geral 2a ed. ( 2 vols.) Jung Chaves/Resumo das Obras Completas (Organizaçªo Editorial: National Clearinghouse for Mental Health Information) Leme Lopes O Delírio Perspectivas e Tratamento Lent Cem Bilhıes de Neurônios Conceitos Fundamentais da NeurociŒncia Levy Semiologia PsiquiÆtrica Lief Sexualidade Humana 750 Perguntas Respondidas por 500 Especialistas Lira Brandªo Psicofisiologia As Bases Fisiológicas do Comportamento 2“ ed. Luz O MØdico, Essa Droga Desconhecida Marinho Como Amamentar o seu BebŒ Marinho Desvendando os MistØrios da Amamentaçªo Marlus Hipnose na PrÆtica Clínica Mattos Pediatria e AdolescŒncia Sociais Matthes Epilepsia 2a ed. Mello Hipnose Mecanismos Neuropsicofisiológicos e suas Manifestaçıes Clínicas Moraes Passos Hipnose Aspectos Atuais Moura Ribeiro e Gonçalves Neurologia no Desenvolvimento da Criança Munjack Sexologia Orientaçªo Diagnóstica e Princípios Gerais de Tratamento Comportamental Nitrini A Neurologia que Todo MØdico Deve Saber 2a ed. Numberg Princípios de PsicanÆlise Suas Aplicaçıes à Neurose (com PrefÆcio de Sigmund Freud) Portella Nunes Psiquiatria e Saœde Mental Conceitos Clínicos e TerapŒuticos Fundamentais Perestrello A Medicina da Pessoa 4a ed. Perestrello PsicossomÆtica, Psicologia MØdica, PsicanÆlise ProtÆsio da Luz Nem só de CiŒncia se Faz a Cura Ratner Kirschbaum História da Enfermagem PsiquiÆtrica Reimªo Sono Um Estudo Abrangente 2a ed. Rodrigues Estimulaçªo da Criança Especial em Casa Um Guia de Orientaçªo para os Pais de como Estimular a Atividade Neurológica e Motora Sanvito e Manzillo O Livro das CefalØias Scalco TerapŒuticas para a Depressªo na Terceira Idade Seibel DependŒncia de Drogas Shader Manual de TerapŒutica PsiquiÆtrica 3a ed. Silva Barbosa Cantando Bem, Falando Mal Spoerri Introduçªo à Psiquiatria Texto Especialmente Escrito para o Estudante das CiŒncias da Saœde Takatori O Brincar no Cotidiano da Criança com DeficiŒncia Física Taki Córdas Saœde Mental da Mulher Tedesco e Zugaib Obstetrícia PsicossomÆtica Teixeira Manual de Enfermagem PsiquiÆtrica Uchoa PsicanÆlise Teoria e PrÆtica Vincent Internet Guia para Profissionais de Saœde III © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. São Paulo • Rio de Janeiro • Ribeirão Preto • Belo Horizonte MARLUS VINICIUS COSTA FERREIRA Neurologista, Eletroencefalografista e Neurorradiologista. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica. Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia. Membro da Sociedade de Hipnologia do Paraná IV © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. EDITORA ATHENEU São Paulo — Rua Jesuíno Pascoal, 30 Tels.: (11) 3331-9186 • 223-0143 • 222-4199 (R. 25, 27, 28 e 30) Fax: (11) 223-5513 E-mail: edathe@terra.com.br Rio de Janeiro — Rua Bambina, 74 Tel.: (21) 2539-1295 Fax: (21) 2538-1284 E-mail: atheneu@atheneu.com.br Ribeirão Preto — Rua Barão do Amazonas, 1.435 Tel.: (16) 636-8950 • 636-5422 Fax: (16) 636-3889 Belo Horizonte — Rua Domingos Vieira, 319 — Conj. 1.104 PLANEJAMENTO GRÁFICO — CAPA: Equipe Atheneu FERREIRA M.V.C. Hipnose na Prática Clínica ©Direitos reservados à EDITORA ATHENEU – São Paulo, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Belo Horizonte, 2003 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Ferreira, Marlus Vinicius Costa Hipnose na prática clínica/Marlus Vinicius Costa Ferreira. — São Paulo: Editora Atheneu, 2003. 1. Clínica médica. 2. Hipnotismo – Uso terapêutico. I. Título. CDD-610 02-5468 NLM-WM 415 Índices para catálogo sistemático: 1. Hipnose: Prática clínica: Ciências médicas 610 V © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Nota O autor conferiu cuidadosamente a posologia, os nomes genéricos e comerciais dos medicamentos mencionados, de modo que todo esforço foi feito para conseguir exatidão do conteúdo no momento da publicação. Como a medicina está em constante evolução, novas pesquisas, experiências clínicas e aparecimento de novos efeitos colaterais de drogas, ampliam o conhecimento, tornando-se necessárias modificações nas condutas terapêuticas, e no tratamento com medicamentos. O editor e o autor, nem qualquer outra pessoa que esteve envolvida na preparação ou publicação deste trabalho, garantem que as informações contidas aqui sejam em todos os sentidos exatas e completas, de modo que não são responsáveis por qualquer erro, omissão ou pelos resultados obtidos pelo uso destas informações. Os leitores são estimulados a confirmar as informações em outras fontes, especialmente as fornecidas pelos fabricantes. As fraseologias sugestivas apresentadas e adaptadas às necessidades de cada paciente para as condições clínicas indicadas não foram submetidas a um estudo controlado randomizado. VI © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. VII © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Dedicatória À Eliane, minha esposa,uma usina nuclear de energia, que muito me estimulou para a conclusão deste livro. VIII © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. IX © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Agradecimentos Sou muito grato ao professor de Psiquiatria e Neurologia, Octávio Augusto da Silveira, de Curitiba, que me deu grande oportunidade e tem sido meu verdadeiro amigo. Ao professor Dr. Rubens Moura Ribeiro, de Ribeirão Preto, que me transmitiu valiosos conhecimentos sobre eletroencefalografia. À professora de Radiologia Anne G. Osborn, da Escola de Medicina da Universidade de Utah, em Salt Lake City, que, pelo seu exemplo, entusiasmo e eficiente comunicação despertou meu interesse para publicações científicas. Agradeço ao meu amigo Márcio Mortensen Wanderley, pelo auxílio na navegação pela Internet. Meu reconhecimento aos pacientes anônimos que com maior ou menor capacidade hipnótica contribuíram para a criação de muitas fraseologias. Curitiba, inverno de 2003 Marlus Vinicius Costa Ferreira X © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. XI © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. PrefÆcio Hipnose na Prática Clínica foi elaborado para auxiliar o estudante de hipnose, o médico, o psicólogo e o odontólogo a atuarem clinicamente junto ao paciente. Minha meta foi escrever um livro razoavelmente compreensível, com capítulos de fácil memorização, sem ser exaustivo, mas que auxiliasse a execução da hipnose na prática diária. Em várias condições clínicas explicito muitas opções de fraseologias para serem transmitidas ao paciente com o objetivo de proporcionar aos iniciantes modelos a partir dos quais eles possam desenvolver seus próprios estilos para cada condição clínica, especificamente adaptados à realidade de cada paciente. Algumas vezes, a preferência é propiciar alternativas para que o estudante faça a sua escolha. O especialista experiente cria a fraseologia a partir da história clínica e dos aspectos psicológicos de cada paciente e vai desenvolvendo-a durante a hipnose de acordo com as respostas do próprio paciente. No Capítulo (8) sobre facilitar a hipnose, sugestionabilidade e suscetibilidade, há um enfoque com opiniões divergentes sobre a existência ou não de um estado especial denominado estado hipnótico ou estado de transe hipnótico ou condição hipnótica ou simplesmente hipnose. Nos Capítulos relacionados à hipnose para dormir bem (22), terapia por meio da auto-hipnose (25), hipnoterapia para permanecer afastado das bebidas alcoólicas (27), e técnicas de reprogramação mental para tornar-se e permanecer esbelto (29), há instruções detalhadas para elaboração de fita gravada ou disco compacto (CD), especialmente para o paciente que está diante de você. Muitas vezes, o tratamento pela hipnose é seguido com auto-hipnose, por meio de uma fita gravada personalizada, que o paciente recebe para executá-la diariamente em sua residência. Incluo ainda, nos Capítulos (4) e (27), considerações sobre aspectos da sugestão subliminar, cujas XII © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. palavras e frases podem ser algumas vezes acrescentadas a uma fita gravada de forma artesanal com fraseologia hipnótica. Nos Capítulos (27) e (29) apresento aspectos de como elaborar uma fita gravada com dupla voz. Meu contato inicial com a hipnose aconteceu durante minha primeira década de vida, formalmente, quando assistia aos vários espetáculos de mágicos e ilusionistas que incluíam apresentações de hipnose nos seus programas. Aos 13 anos de idade, tínhamos nossa própria companhia, denominada Quarteto Mágico, que também incluía na apresentação números de hipnose e de mnemotecnia. Nessa época, 1958, tive a oportunidade de adquirir meu primeiro livro sobre hipnose, Hypnotism and the power within, escrito pelo médico australiano S.J. Van Pelt, e traduzido para o espanhol com o título VD. y el hipnotismo. Em 1961, fiz o Curso de Hipnotismo do Instituto Haim, de Porto Alegre, cujo grande mérito foi deixar-me totalmente confiante para sua prática. Em 1963, entrei para o curso médico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. Durante os seis anos de graduação tive a oportunidade freqüente de exercitar a hipnose objetivando minorar o sofrimento dos pacientes ou aumentar a capacidade de aprendizado para estudantes que iriam prestar o exame vestibular. Em 1969, tive a oportunidade de aprender eletroencefalografia no Departamento de Neurologia do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, USP, o que favoreceu, posteriormente, a sua aplicação em alguns pacientes hipnotizados. Na década de 1970, durante os anos que passei no Instituto de Neurologia da Universidade de Londres, no The National Hospital Queen Square, paralelamente ao estudo da neurologia, procurei conhecer as informações sobre hipnose médica que circulavam na Inglaterra. Os temas são apresentados de diferentes maneiras nos diversos capítulos, objetivando o mais fácil aprendizado, isto é, a assimilação de informações com raciocínio crítico para suas aplicações com sabedoria e criatividade, relacionada a outros conhecimentos, possibilitando ao hipnólogo exercer sua especialidade com eficiência. Determinados assuntos e fraseologias reaparecem mais de uma vez na seqüência dos capítulos. A meta de Hipnose na Prática Clínica é proporcionar informações essenciais e orientar os procedimentos dos estudantes interessados pela hipnose diante dos pacientes, porém a melhor maneira para adquirir experiência no tratamento dos pacientes pela hipnose é praticando-a. Espero que a leitura de Hipnose na Prática Clínica seja agradável, proveitosa, favoreça a criatividade, a prática e estimule a pesquisa. Curitiba, inverno de 2003 Marlus Vinicius Costa Ferreira XIII © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. SumÆrio 1 Hipnose na Vida Diária, 1 2 Modelos Conceituais e Natureza da Hipnose, 7 3 Características do Paciente Hipnotizado, 47 4 Comunicação Sugestiva — Tipos de Sugestões, 65 5 Defesas, Medos e Conceitos Errados sobre a Hipnose, 115 6 Aspectos da Comunicação Hipnólogo-Paciente-Hipnólogo, 131 7 Preparação do Paciente para o Tratamento pela Hipnose, 139 8 Facilitar a Hipnose, Sugestionabilidade e Suscetibilidade, 161 9 Perguntas e Respostas Relacionadas com a Hipnose, 179 10 Efeitos Secundários Adversos e Complicações do Uso Clínico da Hipnose, 203 11 Vamos Começar a Hipnose (Ajuste a Indução Hipnótica ao Paciente), 213 12 Como Terminar a Consulta Deixando o Paciente Alerta, 253 13 Respostas Motoras, Amnésia e Hipermnésia, 261 14 Analgesia e Anestesia por Meio da Hipnose, 277 15 Dissociação, Ilusões, Alucinações e Distorção do Tempo, 305 16 Como Relembrar e Revivificar (“Regressão de Idade”), 313 17 Respostas Psicoplásicas, Ansiedade e Manejo de Algumas Condições Clínicas, 329 XIV © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. 18 Reprogramação Mental para a Superaprendizagem, 343 19 Hipnose para Aumentar a Autoconfiança e a Auto-estima, 361 20 Hipnose para o Progresso Individual, 373 21 Hipnose para Vencer a Depressão, 383 22 Hipnose para Dormir, 405 23 Hipnose no Tratamento da Enurese Noturna, Gagueira, Onicofagia, Chupar os Dedos, Sudorese Excessiva no Corpo e Rosto Corado, 427 24 Eliminar Fobias, 437 25 Terapia pela Auto-hipnose, 451 26 Técnicas para Permanecer Longe do Tabagismo, 489 27 Hipnoterapia para Permanecer Afastado das Bebidas Alcoólicas, 519 28 Informações sobre Obesidade e como se Tornar e Permanecer Esbelto, 563 29 Técnicas de Reprogramação Mental para Tornar-se e Permanecer Esbelto. Como Elaborar uma Fita Gravada ou um Disco Compacto (CD), 607 30 A Hipnose nos Transtornos de Estresse Pós-traumático, 649 31 Usuário Patológico da Internet, 659 32 Ser um Vencedor em Competições, 665 33 Hipnose em Pacientes Hospitalizados, 675 34 Aspectos da Hipnose em Odontologia, 695 35 Técnicasde Psicoterapia com Hipnose (Hipnoterapia), 703 36 Anexo A – Registro das Observações sobre o Paciente, 715 37 Anexo B – Aprender a Estudar, a Fazer um Exame ou uma Prova, 721 38 Anexo C – Hipnose para Dormir, 725 39 Anexo D – Permanecer Respirando Ar Puro, 729 40 Anexo E – Permanecer Afastado de Bebidas Alcoólicas, 735 41 Anexo F – Tornar-se e Permanecer Esbelto, 739 42 Anexo G – Superando o Diabetes Melito, 749 Índice Remissivo, 757 CAP˝TULO 1 1 CAP˝TULOCAP˝TULO © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. As manifestações da hipnose ocorrem na vida diária sem que a maioria das pessoas perceba. Quando assistimos a um filme no cinema ou na televisão e estamos realmente gostando, nós nos emocionamos com as ce- nas do filme. Podemos rir, chorar, ficar re- voltados ou alegres com determinadas cenas. A freqüência cardíaca pode aumentar em determinadas seqüências do filme; em ou- tras pode ocorrer sudorese nas mãos, redu- ção do ritmo respiratório. Nesses momentos em que nossa atenção está focalizada nas cenas (sugestões visuais, verbais, extraver- bais, subliminares), respondemos a elas se- gundo nossa imaginação, segundo o conteú- do das próprias cenas e segundo nossas ex- periências passadas (estamos hipnotizados). Durante essas cenas nosso juízo crítico dei- xa de analisar se estão passando 24 quadri- nhos por minuto na tela, ou se a resolução da imagem é de 240, 336, 425, 724 ou até 1.000 linhas horizontais no monitor da TV de alta definição, ou se as cenas foram feitas com miniaturas dentro de um computador, ou se outras pessoas estão conversando. Não fi- camos pensando que é apenas um conto, nós nos envolvemos com as cenas, sentimos as cenas com todos os nossos sentidos, e mui- tas vezes deixamos de ouvir ou de prestar a atenção num barulho estranho ao filme como o som da campainha da nossa residência. Quando estamos interessados na leitura de um determinado livro, reagimos emocio- nalmente às descrições das situações inte- ressantes sem estarmos analisando critica- mente o tamanho das letras, a ortografia, fa- lhas na impressão ou se uma letra está com a impressão mais fina do que a outra. Desse modo, limitamos a nossa atenção visual ao conteúdo do que estamos lendo e somos auto- hipnotizados. Quando estamos ouvindo com entusiasmo uma música de nossa preferên- cia, permanecemos sem analisar criticamente a afinação do cantor ou a performance da orquestra. Essencialmente, concentramos a nossa atenção no som musical, permitindo que a música entre em nossa mente e em nosso corpo, e até podemos ser hipnotiza- Hipnose na Vida DiÆria 2 CAP˝TULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. dos pela música, a qual pode nos fazer recor- dar de um acontecimento passado, ocorrendo uma relembrança ou mesmo revivificação. Por outro lado, as manifestações da hip- nose apresentam-se como atos não do cons- ciente, mas sim do subconsciente, como aquelas experiências que aprendemos no passado e ficaram gravadas no nosso cére- bro, e no presente instante não estão consci- entes, mas que podem ser acessadas quando necessitarmos. As manifestações da hipno- se podem também brotar das aferências ar- mazenadas no subconsciente, mesmo que tenham ido para o subconsciente aparente- mente sem a percepção e o criticismo do consciente. Quando estamos dirigindo nos- so carro de casa para o trabalho, prestamos atenção consciente ao trânsito, contudo, a direção do carro é realizada em nível sub- consciente. Nós não ficamos conscientemente engatando as marchas e pisando no freio. Assim mesmo, enquanto dirigimos o veículo prestando atenção ao trânsito, uma série de estímulos chega ao nosso cérebro sem tornar- se consciente nesse exato momento e pode ser armazenada em algum lugar do encéfalo. Quando uma pessoa está aprendendo a dançar, presta atenção ao compasso musical, presta atenção na sua posição do corpo, olha para os pés para saber onde irá posicioná- los. Enfim, procura seguir o professor ou o seu par. Essa fase pode ser comparada às sugestões que o médico formula ao paciente durante o tratamento pela hipnose. Posterior- mente, quando a pessoa já sabe dançar, sim- plesmente ouve a música, deixa-a entrar pelo seu corpo e sai dançando automaticamente. Analogamente, corresponde ao tratamento bem-sucedido pela hipnose quando, por exemplo, o paciente reprogramou seu modo de alimentar-se para tornar-se e permanecer esbelto; quando, por meio da hipnose, am- pliou sua capacidade de aprender e relembrar o aprendido ou eliminou uma fobia. Desde o nascimento vamos acumulando informações e experiências com conteúdo emocional, algumas poucas estão no nosso consciente no momento presente, mas a mai- oria está no disco rígido de nosso compu- tador mental, chamado encéfalo. Isto é, na nossa memória subconsciente que se arma- zena em vários locais no nosso encéfalo, es- pecialmente nas estruturas do hipocampo, para-hipocampo e sistema límbico ou talvez simultaneamente em vários locais e circui- tos neurais do sistema nervoso central. Al- gumas dessas experiências armazenadas no subconsciente com conteúdo emocional trau- mático para o consciente são mantidas no subconsciente pelo senso crítico de nosso consciente. Mas, mesmo do subconsciente, podem causar problemas para a nossa vida consciente. É possível que durante uma via- gem de turismo, uma paisagem visualizada acesse algumas dessas experiências traumá- ticas, tornando-as conscientes, facilitando a resolução de problemas conscientes. Por meio da hipnose podemos ter acesso direcio- nado para essas experiências armazenadas no subconsciente, e podemos trazê-las para o consciente com diversas técnicas de hipno- terapia como análise de sonhos, escrita auto- mática, relembrança e revivificação. Muito embora essas experiências passadas possam não brotar exatamente do mesmo modo como aconteceram, as cargas emocionais associa- das a elas podem facilitar o tratamento. Durante uma conferência ou uma aula, quando o aluno se interessa pela matéria e o professor é habilidoso, o aluno permanece com sua atenção tão focalizada e limitada ao assunto (hipnotizado) que os ensinamen- tos são gravados no seu subconsciente e mes- mo no seu consciente. Ao terminar a confe- rência ou a aula, o aluno sai satisfeito com os ensinamentos compreendidos, sendo ca- paz de lembrá-los durante uma prova (res- postas positivas às sugestões de ensino). Al- CAP˝TULO 1 3 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ternativamente, quando o professor é chato, fala baixinho e apenas lê os diapositivos projetados, o aluno não se interessa pela matéria e se distrai com qualquer coisa (não há focalização da atenção, nem hipnose), e, conseqüentemente, não há adequado apren- dizado. Muito provavelmente o aluno será incapaz de lembrar durante uma prova, nem para o seu proveito durante a sua vida, o que esse professor tentou transmitir. Na vida cotidiana, uma mãe que ama seu filho, durante à noite dorme um sono pro- fundo, sem ser despertada pelo som da tele- visão, por trovões de uma tempestade, pelo bater de portas. Contudo, o choro do seu fi- lho acorda a mãe (há uma ligação emocio- nal entre as características do choro do filho e a mãe). Comparativamente, durante a hip- nose o paciente está atento às sugestões ver- bais (palavras) ou não-verbais do hipnólogo, deixando de se importar com o que se passa em torno. Enquanto o presidente de uma empresa está discursando numa reunião da diretoria, algumas vezes um diretor — muito embora, aparentemente, esteja ouvindo a exposição do presidente — permanece durante todo o tempo batendo ritmicamente com a ponta do pé direito sobre o tapete, sem perceber o que está fazendo. O diretor está executando um movimento automático. O seu pé e seu mem- bro inferior direito movimentam-se automa- ticamente, como que dissociados do restan- te do corpo. Numcurso interativo de aperfeiçoamen- to destinado para funcionários já especia- lizados de uma firma, alguns deles encon- tram-se rabiscando o papel com uma caneta, embora estejam atentos ao desenvolvimen- to do curso. A mão desses funcionários apa- rentemente escreve automaticamente como se estivesse dissociada do corpo, como ocorre durante a técnica da escrita automática na hipnoterapia. Em Brasília, durante uma reunião do pre- sidente da República com os seus ministros, convocada para criar diretrizes para aumen- tar as exportações, o presidente comunica enfaticamente ao ministro das Relações Ex- teriores que está concentrado nas palavras do chefe da nação, a necessidade de dizer a todos que o lema é exportar ou morrer. O ministro das Relações Exteriores aceita e acredita nessa idéia porque o seu objetivo também é exportar cada vez mais. Ao sair da reunião, ao ser entrevistado por uma emis- sora de televisão, comunica a imprensa a fra- se de efeito “exportar ou morrer”. O mesmo ocorre quando um paciente atento às pala- vras do hipnólogo recebe uma sugestão pós- hipnótica que está de acordo com as suas idéias. Posteriormente, o paciente cumprirá a sugestão. O aprendizado das crianças é enorme- mente influenciado pela maneira como são ensinadas, especialmente pelos pais e tam- bém pelos educadores. Frases repetidas cons- tantemente, como “você precisa comer, coma tudo que está no seu prato”, geralmente as- sociadas às sugestões táteis e à sugestão pela atitude dos pais, ficam gravadas no subcons- ciente da criança. Na idade adulta essas idéias podem desencadear uma vontade de- senfreada pela alimentação constante, faci- litando o desenvolvimento do excesso de peso e da obesidade. Muitas das dificulda- des na vida advêm do subconsciente estar armazenando informações erradas, negativas e experiências de fracasso. Muitas sugestões indiretas ocorrem no co- tidiano e conduzem a respostas similares às ocorridas durante a hipnose formal. Quantas vezes estamos passeando num shopping center com o desejo de adquirir alguma peça para o vestuário quando, passando pela frente de uma lanchonete, sentimos o odor do café (sugestão sensorial olfativa indireta) e somos levados a entrar e saborear um cafezinho. 4 CAP˝TULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Uma sugestão direta aplicada na hora certa com palavras corretas e poderosas, com tom emocional adequado ao contexto, pode fazer uma multidão mover-se imediatamen- te sem que as pessoas parem para raciocinar e optar pela melhor alternativa de compor- tamento. Isto ocorre quando num cinema durante a exibição de um filme alguém gri- ta: “Fogo! Está pegando fogo!” Quantas vezes ao tirarmos uma roupa des- cobrimos que nos arranhamos num braço ou numa extremidade do corpo, sendo que no momento do arranhão nada sentimos (está- vamos com a atenção concentrada em ou- tras coisas), estávamos anestesiados. Algumas vezes, quando estamos com muita vontade de comer algum alimento que apreciamos muito, como uma laranja, sim- plesmente imaginamos essa fruta e nos visualizamos descascando a laranja e colo- cando um pedaço dentro da boca. Imedia- tamente começamos a salivar, sentimos na boca o gosto de laranja e percebemos o odor desta. Essas percepções sem objeto seriam como se estivéssemos facilitando o surgi- mento de alucinações visuais, olfativas e gustativas. Na televisão, os anúncios de produtos e serviços são cuidadosamente preparados e repetidos várias vezes para influenciar as pessoas-alvo. Muitas vezes deixam de mos- trar os aspectos técnicos e operacionais para criar um clima emocional de sucesso, rique- za e prazer que são associados à marca anun- ciada. A propaganda escolhe e associa as imagens do que está sendo anunciado com pessoas adequadas, com tom de voz adequa- do, com música de fundo, e, algumas vezes incluindo sugestões subliminares, de modo a deixar o cliente em potencial com interes- se pelo produto (como que hipnotizado). Quantas vezes uma pessoa que usa ócu- los fica procurando seus óculos em vários lugares, e depois de algum tempo percebe que eles estão justamente no local que deve- riam estar, sobre seus olhos. A pessoa até encontrá-los apresentava uma ilusão negati- va visual e tátil, pois não percebia pela visão nem pela sensibilidade tátil os óculos. A sensação ou sentido do tempo pode ser percebida de modo expandido ou concentra- do nos acontecimentos cotidianos. Por exem- plo, quando estamos assistindo a uma parti- da de futebol entre Coritiba e Atlético Para- naense, dois times que disputam o campeo- nato brasileiro. O primeiro está vencendo por 2 x 1 e estamos nos 42 minutos do segundo tempo. Os torcedores do Coritiba têm a sen- sação de que os três minutos finais demo- ram muito a passar, parecendo uma eterni- dade, isto é, têm sensação de tempo expan- dido. Por outro lado, os torcedores do Atlé- tico têm a sensação de que os mesmos três minutos finais passam muito rapidamente, parecendo passar num relâmpago, isto é, têm a sensação de tempo concentrado. Durante a hipnose pode-se utilizar a sensação de ex- pansão do tempo para permitir que aconte- cimentos agradáveis “demorem” para pas- sar e o paciente possa curtir esse tempo de alegria, sucesso e felicidade. A sensação de contração do tempo é empregada para fazer “passar mais depressa” os acontecimentos desagradáveis. Durante atividades muitas vezes cotidia- nas, as pessoas podem entrar em hipnose sem que nenhuma sugestão verbal seja pronun- ciada: simplesmente dirigindo um veículo numa estrada com longas retas ou numa auto- estrada; outras vezes simplesmente assistin- do a um programa na televisão. Nos intervalos de um trabalho ou de um estudo, uma pessoa pode perceber e ouvir nitidamente uma música que aprecia muito, sem nenhum aparente estímulo externo; ou pode ser estimulada pela imagem da capa de um CD deixado sobre a mesa, com o nome dessa música visível, a começar a escutar CAP˝TULO 1 5 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. essa música. Outra pessoa, estando em casa descansando, ocasionalmente ao ver uma fo- tografia tirada de uma festa que participou durante as férias em um outro país, pode ser capaz de conseguir perceber vivamente as imagens dela na festa, dançando com deter- minada pessoa, como se tudo estivesse ocor- rendo neste momento. Uma pessoa cami- nhando na rua ao passar pele frente de uma banca que vende frutas pode sentir o gosto da fruta de sua preferência na boca, e inclu- sive salivar. A hipnose na vida diária ocorre mais fre- qüentemente do que imaginamos, e contribui para a compreensão de que não é necessária a indução formal para obtermos a hipnose. No consultório do profissional médico, odontólogo ou psicólogo, faz-se a indução formal da hipnose para obtê-la no momento desejado e com finalidades específicas. 6 CAP˝TULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. CAP˝TULO 2 7 CAP˝TULOCAP˝TULO © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Modelos Conceituais e Natureza da Hipnose O conceito de hipnose e as tentativas para explicar o que exatamente ocorre durante a hipnose variam com o passar do tempo. Cada cultura tem usado a hipnose de uma forma ou de outra, e tem passado seus conhecimentos adiante para outras culturas. A base funda- mental da comunicação hipnótica é a suges- tão sob suas diferentes formas e diferentes aspectos. A prática do que hoje chamamos hipnose ou hipnotismo vem da mais remota antigüidade. A evidência mais primitiva da existência da hipnose foi encontrada entre os xamãs,1 que eram também referidos como “doutores bruxos”, “homens de medicina”, ou “curadores”. Os xamãs, que são quase sem- pre homens, usaram (e seus remanescentes ainda usam) muitas técnicas de visualização para curar seus pacientes ou para amaldiçoar seus inimigos. Há ainda alguns remanescen- tes xamãsna África, Lappland, Havaí, ao lon- go do Alto Amazonas na América do Sul, nos primitivos da Austrália e mesmo entre índios norte-americanos.2 Para o antropólogo Michael Harner que pratica a cura xamânica desde 1961, e que recebeu o doutorado da Uni- versidade de Kerkeley, a palavra shaman, na língua original da tribo Tungus da Sibéria, refere-se a uma pessoa que faz a viagem para a realidade não ordinária, num estado altera- do de consciência.3 Para Mircea Eliade, xama- nismo é a técnica de êxtase.4 Os xamãs alcan- çavam o estado alterado de consciência de várias maneiras, incluindo cantos, sons pro- duzidos por tambores, movimentos do corpo, danças e plantas psicoativas. Há 2400 a.C. sacerdotes caldeus já eram tidos como capazes de transmitir fluidos por meio de passes, que colocavam em transe os sofredores.5 O hipnotismo foi a base das ciên- cias ocultas no antigo Egito, na Grécia e na Índia. As manifestações da hipnose eram consideradas como “milagres” com que os feiticeiros, bruxos ou sacerdotes pagãos, di- zendo-se mensageiros dos deuses, empolga- vam o povo.6 No antigo Egito, que absorveu os conhe- cimentos dos Caldeus, nos chamados tem- plos do sono, os enfermos eram pacientes de 8 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. sugestões terapêuticas e passes mágicos. Um papiro dessa época (1552 a.C.), o papiro de Tebas (onde hoje se localiza a cidade de Luxor) e, portanto, com mais de 3.550 anos, conta técnicas de hipnose muito semelhantes às empregadas atualmente.7 Esse papiro, des- coberto por Ebers e traduzido em 1860 por Chabas, é o mais completo registro conheci- do da medicina egípcia, está na biblioteca da Universidade de Leipzig. Um baixo-relevo encontrado num sarcófago de Tebas mostra um sacerdote em pleno ato de indução hipnó- tica de um paciente.5 Este baixo-relevo ainda hoje pode ser visto no Museu Britânico, em Londres. Na Grécia no templo de Esculápio, o deus grego da medicina, os sacerdotes usa- vam processos semelhantes, invocando a pre- sença daquela divindade para colocar os do- entes em transe hipnótico. Na Índia, também são conhecidas manifestações do hipnotismo que chegaram aos nossos dias pelos Yogas. No século X o persa, de origem árabe, Abu-Ali-Hussain Ben Abdallah Ibn-Sina (Avicena 980 a 1036),8 que era filósofo e médico, foi o verdadeiro precursor da refle- xologia pavloviana. Ele achava que a imagi- nação humana tinha poderes e forças, que podiam atuar não só sobre o seu próprio corpo, como também sobre o funcionamento corpo- ral de outras pessoas.8 Avicena afirmava que pela palavra, pela vontade e pela persuasão muitos padecimentos poderiam ser curados. No seu excelente livro Aplicações clíni- cas da sugestão e da hipnose em 1958, William T. Heron dizia que “a hipnose é e deve ser considerada como um fenômeno psicológico natural, e o papel do hipnotista é, simplesmente, o de um instrutor ou pro- fessor que auxilia o paciente a realizar o es- tado de hipnose”9 (p.51). A existência de muitas teorias indica que a natureza real da hipnose é desconhecida. Os modelos conceituais sobre a hipnose vão aparecendo e modificando-se com a evolu- ção do mundo, e vão permitindo seu melhor entendimento e utilização. Na explanação dos modelos conceituais, os anos mais importan- tes no desenvolvimento de cada teoria estão seguindo o nome do autor. PRINCIPAIS MODELOS CONCEITUAIS SOBRE A HIPNOSE E A SUA NATUREZA 1. Tratamento pelo ímã (Paracelso) 2. Magnetismo animal (Franz A. Mesmer) 3. Sonambulismo artificial (Armand M. J. de Chastenet, Marquês de Puységur) 4. Sono lúcido (José C. de Faria) 5. Hipnotismo (James Braid) 6. Sugestionabilidade aumentada (Esco- la de Nancy) 7. Escola da Reflexologia (Ivan P. Pav- lov e sua escola) 8. Comportamento dirigido (Robert W. White) 9. Fenômeno psicossomático (Lewis R. Wolberg) 10. Superconcentração da mente (Sydney J. Van Pelt) 11. Exclusão psíquica relativa (Raphael H. Rhodes) 12. Desempenho de um papel (Theodore R. Sarbin e William C. Coe) 13. Estado emocional intensificado (Ga- lina Solovey e Anatol Milechnin) 14. Regressão atávica (Ainslie Meares) 15. Psicoplasia acrescentada pela concen- tração total da mente (Marcelo Lerner) 16. Teoria da neodissociação (Ernest R. Hilgard) 17. Teoria do controle dissociado (Ken- neth S. Bowers) 18. Estado particular da mente (John Hartland) 19. Estado de consentimento (David L. Scott) CAP˝TULO 2 9 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. 20. Regressão psicológica topográfica (Michael R. Nash) 21. Estado alterado de consciência (Char- les T. Tart e Erika Fromm) 22. Comportamento cognitivo (Theodore X. Barber) 23. Modelo sociocognitivo (Nicholas P. Spanos) 24. Hipnose como obediência e crença (Graham F. Wagstaff) 25. Teoria do aprendizado social (Irving Kirsch) 26. Modelo social-psicobiológico (Éva I. Bányai) 27. Relaxamento hipnótico (William E. Edmonston Jr.) 28. Sistema de comunicação influencia- da (Michael D. Yapko) 29. Abordagem interativa centrada no pa- ciente (Milton H. Erickson) 30. Modelo integrado de hipnose (Steven J. Lynn e Judith W. Rhue) 31. Perspectiva do ecossistema aplicada à hipnose (David P. Fourie) 32. Hipnose como compromisso cogniti- vo motivado (Peter W. Sheehan) 33. Paradigma multidimensional (Theo- dore X. Barber) TRATAMENTO PELO ÍMà (PARACELSO — 1529) Philippe Bombast von Hohenheim (Para- celso) era médico e filósofo suíço, viveu de 1493 a 1541, e considerava que todos os se- res humanos estavam sobre a ação do influ- xo sideromagnético dos astros.5 Para ele, considerado o pai da medicina hermética, o corpo humano se comportava como um ver- dadeiro ímã, que podia atrair o fluxo dos astros e absorvê-lo, bem como assimilar ou eliminar os elementos terrestres. O pólo norte do corpo humano corresponderia aos pés e o pólo sul aos genitais. Ele empregava mine- rais magnéticos para o tratamento das doen- ças e relatava várias curas. Em virtude das suas idéias Paracelso foi perseguido, tendo que ir de uma cidade para a outra. MAGNETISMO ANIMAL (FRANZ A. MESMER — 1776, 1779) Franciscus Antonius Mesmer, conhecido como Franz Anton Mesmer nasceu em 23 de maio de 1734 em Iznang, junto ao lago Constança, pertencente à Áustria, que em 1805, por meio de um tratado, passou a fazer parte do território alemão.5, 8 Mesmer fez es- tudos de filosofia, teologia e, em 1759, estu- dou jurisprudência. Depois fez o curso de medicina na universidade de Viena, forman- do-se com 32 anos de idade em 1766, com a apresentação da tese Dissertatio Physico- Medica de Planetarum Influxu (Dissertação Físico-médica sobre a Influência dos Plane- tas). Sua tese considerava que um “fluido su- til” unia todos os corpos do universo, fazendo com que uns atuassem sobre os outros. Os astros, principalmente o sol e a lua, exerciam influência sobre os homens. O fluido emana- do pelos astros teria a capacidade de ser cap- tado e armazenado nos metais especiais, e pela sua analogia com as propriedades do ímã, foi chamado de magnetismo animal. O padre je- suíta Maximillian Hehl (1720-1792), interes- sado em magnetismo, e astrônomo real para a corte da Áustria, tomou conhecimento da tese de Mesmer e fez alguns ímãs nas formas dos órgãos, que estavam destinados a curar.10 O padre Hehl ou Hell como muitos grifam (que em alemão significa luz), conta isso ao seu amigo Mesmer, que pede ao padre para con- feccionar alguns ímãs e começa a fazer expe- riências conseguindo bons resultados. Inici- almente Mesmer usou placas imantadas condensadoras e condutoras de “fluido mag- nético” para a cura de pessoas. Mais tarde, 10 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Mesmer chegou à conclusão de que as pla- cas imantadas eram um intermediário inútil, porque o corpo humano sendo um depósito natural do “fluido”seria o agente por exce- lência atuando sobre outros corpos. Em 1777 tratou uma jovem de 18 anos de idade cha- mada Maria Thereza Paradis, pianista preco- ce, que havia subitamente perdido a visão des- de os três anos de idade, e já havia consultado eminentes médicos da época. Mesmer, consi- derando a necessidade de um rapport ade- quado, transferiu-a para a sua própria clínica. Com o tratamento a paciente começou a en- xergar, e Mesmer afirmou que ia levá-la para a Imperatriz (que era madrinha da paciente) a fim de demonstrar a cura. Contudo, isso des- pertou a indignação da conservadora socie- dade médica vienense, que procurou os pais da paciente afirmando não acreditar que ela estava enxergando, e que se isso fosse verda- deiro ela perderia a pensão que recebia por ser excelente pianista cega. Se voltasse a ver seria simplesmente mais uma pianista. Desse modo, convenceram os pais da paciente a entrar na clínica de Mesmer para retirá-la, à força. Como resultado desse episódio Maria Thereza teve uma recaída, perdeu novamen- te a visão e Mesmer foi convidado a encerrar sua prática médica ou deixar Viena. Mesmer foi para Paris e, em fevereiro de 1778, insta- lou o consultório na Place Vendôme e lá idea- lizou um aparelho denominado “Baquet” (tina). O “Baquet” era uma caixa de madeira circu- lar, cheia de limalha de ferro. Sobre a limalha estavam garrafas com água “magnetizada”, que se comunicavam entre si. Do interior da caixa saíam hastes de ferro móveis as quais os doentes aplicavam sobre a parte doente do corpo. Ao redor desse aparelho reuniam-se ao mesmo tempo 130 pessoas na penumbra e com fundo musical de órgão. Nessas condi- ções ideais de sugestão indireta, os doentes eram acometidos de “convulsões terapêuti- cas”. Na época de Mesmer os ímãs eram con- siderados um mistério, e muitos acreditavam que eles tinham grande poder. As pessoas da época acreditavam nos ímãs e estavam con- vencidas de que eles podiam produzir curas; logo resultados eram esperados e resultados eram produzidos. Mesmer publicou nova tese em 1779, Mémoire sur la découvert du magnétisme animal, modificando alguns con- ceitos sobre o magnetismo animal. Agora, Mesmer reconhecia no corpo humano proprie- dades semelhantes às do ímã, tendo também dois pólos opostos, e “a ação do fluido” ou magnetismo animal, entre uns e outros cor- pos animados e inanimados, sem a interven- ção de intermediários. O “fluido”, muito em- bora fosse universal, não existiria em igual intensidade em todos os corpos, e naqueles em que estivesse mal distribuído ou ausente, ocorreriam as doenças. A função do magneti- zador era fornecer o “fluido” necessário ao órgão afetado, favorecendo o equilíbrio mais harmônico do organismo. Em 1781 Mesmer considerou a importância da relação entre o magnetizador e o paciente, dizendo que o magnetismo “devia em primeiro lugar ser transmitido pelos sentimentos”.11 Em 1784 seus adversários persuadiram o rei Luís XVI a nomear uma comissão constituída por cin- co membros da Academia de Ciências, qua- tro membros da Faculdade de Medicina e cin- co membros da Sociedade Real de Medicina da França, para analisar os trabalhos de Mesmer. Essa comissão concluiu unanime- mente que as curas eram decorrentes da ima- ginação e da imitação. A comissão concluiu que a imaginação sem magnetização produ- zia as convulsões, e que o magnetismo sem imaginação nada produzia.12,13 Como a ima- ginação não era aceita pelos estudos científi- cos da época, o magnetismo foi considerado sem valor para ser comentado ou uma fraude produzida por um charlatão. Um dos partici- pantes da comissão, o eminente botânico Antoine Laurent de Jussieu, escreveu que os CAP˝TULO 2 11 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. efeitos positivos do magnetismo não haviam sido considerados e achou que a estimulação da imaginação poderia ser terapêutica.14 Um colega de Mesmer chamado Charles d’Eslon reagiu contra o relatório da comissão afirmando que a imaginação desempenha o maior papel nos efeitos do mesmerismo, e que as forças da imaginação poderiam ser um agente real responsável pela eficácia do magnetismo ani- mal.15 Com o resultado da comissão, a popu- laridade de Mesmer caiu bastante e ele partiu para a Inglaterra, depois para a Alemanha, voltando a Paris em 1801. Em 1803 foi para Frauenfeld perto do lago Constança na Suíça. Em 5 de março de 1815 ele morre em Meersburg na Suíça. SONAMBULISMO ARTIFICIAL (MARQUÊS DE PUYSÉGUR — 1784) Um discípulo de Mesmer chamado Mar- quês Puységur (Armand Marie Jacques de Chastenet) tratando separadamente um pa- ciente de 23 anos de idade de nome Victor Race, em 1784, observou que ao invés de o mesmo apresentar convulsões como ocorria com os pacientes de Mesmer, ele dormia tran- qüilamente e durante esse sono podia falar, responder ordens, e após ser acordado não lembrava de nada.5,8 Então denominou esse estado de sonambulismo artificial por analogia ao sonambulismo do sono fisiológico. O Mar- quês de Puységur também enfatizou a idéia de que os fenômenos do magnetismo ocorri- am mais provavelmente em certas condições, que ele denominou “rapport exclusivo” entre o hipnotista e a pessoa hipnotizada. SONO LÚCIDO (JOSÉ CUSTÓDIO DE FARIA — 1813) Um sacerdote português de nome José Custódio de Faria (1756-1819), nascido em Condolim de Bardez (Goa), Índia Portugue- sa, chegou em Paris por volta de 1813, e con- siderava que não podia haver influência de um “fluido” nas experiências do Marquês de Puységur. Para o abade Faria era a vontade do paciente que conduzia ao que chamava de “sono lúcido”.16 Faria foi o primeiro a afirmar que a vontade receptiva do paciente e o rapport entre o paciente e o magnetizador determinavam a formação do processo de cura.6 Em 1826, Simon Mialle publicou um livro relacionando grande variedade de desordens orgânicas e mentais, em ordem alfabética, nas quais o magnetismo animal havia sido em- pregado com êxito, e apresentando uma refe- rência à nomenclatura baseada no prefixo hypn- que dá origem às palavras hipnose e hipnotismo.17 Essa terminologia já existia nos dicionários franceses. HIPNOTISMO (JAMES BRAID — 1843) Com James Braid (1795-1860), nascido em Fifeshire na Escócia, adepto do ocultis- mo, médico oftalmologista e cirurgião de Manchester, Inglaterra, apareceram os pri- meiros conceitos científicos sobre o hipno- tismo. Braid estava inclinado a juntar-se àqueles que consideravam o magnetismo animal como sendo um sistema de coopera- ção secreta ilegal e prejudicial ou uma ilu- são, ou de imaginação exaltada, simpatia ou imitação.18 Ele foi assistir pela primeira vez às demonstrações de Lafontaine no dia 13 de novembro de 1841 e saiu com a mesma impressão que entrou. Contudo, assistiu a uma segunda demonstração seis dias depois e o fato de o indivíduo não poder abrir as pálpebras lhe chamou a atenção.18 Braid achou que aí estava a causa do fenômeno, e ao voltar para casa fez experiências com a sua esposa, um amigo e um criado.8,10,17,18 12 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Pediu para que olhassem fixamente um de- terminado ponto brilhante até que seus olhos se entregassem extenuados ao repouso. A partir desse momento teve em suas mãos essas pessoas “magnetizadas”. As primeiras conclusões de James Braid foram: (a) o fenô- meno do mesmerismo era puramente subje- tivo e não dependia de qualquer poder má- gico, de nenhuma influência astral, de qual- quer fluido mineral ou animal, nem sequer de qualquer influência da pessoa do opera- dor; (b) esses fenômenos deviam-se exclu- sivamente à natureza física, mecânica e fun- cional, produzindo alterações nos órgãos dos sentidos, especialmente na visão, levando a um esgotamento do centro visual pela esti- mulação continuada e monótona; (c) intro- duziu o método de indução da fixação do olhar, que ainda hoje pode ser utilizado,com ou sem modificações. Em 1843 Braid publica Neurypnology or the rationale of nervous sleep no qual apa- rece a primeira terminologia sobre o hipno- tismo.18 Ele achava que o fenômeno era de- vido a um tipo de sono nervoso e por isto aplicou a palavra “Hipnose”. Muito embora com James Braid a palavra hipnotismo te- nha ficado consagrada, foi o francês Etienne Felix d’Henin de Cuvillers,19 que aplicou 20 anos antes o prefixo hypn- para uma varie- dade de palavras descritivas do processo de Mesmer. Mais tarde, Braid percebeu que a indução da hipnose dependia da contribuição pessoal do paciente, da sua concentração mental numa idéia ou numa vontade, ou seja, de- pendia do domínio de sua atenção. E ainda Braid afirmava que uma vez obtida a hipno- se poder-se-ia facilmente plantar idéias e vontades no cérebro do paciente. A anestesia obtida sob hipnose era devida a uma inibi- ção de uma parte do cérebro do paciente. Braid também achava que existiam acentua- das diferenças no grau suscetibilidade de diferentes indivíduos à influência hipnótica, muitos tornando-se rápida e intensamente afetados e outros lenta e discretamente afe- tados. Em 1847 descobriu que os fenômenos do hipnotismo, como catalepsia, anestesia e amnésia e poderiam ser produzidos sem a necessidade de a pessoa dormir. Em abril de 1843 outro médico escocês, John Elliotson, professor de cirurgia da Uni- versidade de Londres, criou o primeiro jor- nal para artigos de mesmerismo (hipnose) e fisiologia cerebral denominado Zoist,5,8,10 publicado trimestralmente até 31 de dezem- bro de 1855. Em 1891 a Associação Médica Britânica designou uma comissão para investigar a na- tureza do fenômeno hipnótico, seu valor como agente terapêutico e suas indicações. O relatório da comissão foi apresentado em 1892, destacando: (a) estavam convencidos dos fenômenos hipnóticos; (b) o termo, hip- notismo, não traduz bem a natureza do fenô- meno, já que este é diferente do sono fisio- lógico; (c) a hipnose é um eficaz agente terapêutico no alívio de dores, no tratamen- to da embriaguez e na possibilidade de rea- lização de atos cirúrgicos; (d) a hipnose deve ser usada exclusivamente por médicos para fins terapêuticos, somente em pacientes do sexo masculino e quando em mulheres, ape- nas na presença de familiares ou de pessoas do mesmo sexo; (e) condena veementemen- te quaisquer exibições recreativas, popula- res e teatrais de hipnotismo. SUGESTIONABILIDADE AUMENTADA (ESCOLA DE NANCY — 1854-1890) (AMBROISE A. LIÉBEAULT E HIPPOLYTE BERNHEIM) Os conceitos a seguir expostos foram de- senvolvidos pela escola de Nancy, pelo gru- po liderado pelo médico rural Ambroise CAP˝TULO 2 13 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Auguste Liébeault (1823-1904), que utilizava a fixação do olhar associada à sugestão ver- bal, e pelo neurologista, professor da Univer- sidade de Nancy, Hippolyte Bernheim (1840- 1919). O primeiro livro científico sobre hipno- se, De la sugestion et de ses applications a la therapeutique20 foi escrito por Bernheim, em 1886. A sugestionabilidade segundo Bernheim é a aptidão do cérebro de receber ou evocar idéias e sua tendência a realizá-las ou transformá-las em atos. Toda a idéia sugerida tende a se transformar em ato, ou, dito fisiologicamente, todo neurônio acionado por uma idéia transmite impulsos para as fi- bras nervosas eferentes, as quais conduzem os impulsos para os órgãos que devem efetuar o ato. Denominou-se isso lei do ideodinamis- mo. Bernheim também afirmou que qualquer fenômeno hipnótico poderia ser produzido pela sugestão em vigília. Na época dessa teoria, Bramwell considerava cinco os pontos princi- pais:21 (1) Nada diferencia o sono natural do sono artificial. (2) Os fenômenos hipnóticos são análogos à maioria dos atos normais auto- máticos, involuntários e inconscientes. (3) Uma idéia tem tendência a gerar uma realidade. (4) Na hipnose a tendência de aceitar as suges- tões é algumas vezes aumentada pela ação própria da sugestão. (5) O resultado da su- gestão na hipnose é análogo ao resultado da sugestão no estado normal. Por volta de 1875 o neurologista Jean Martin Charcot (1825-1935), que tratava pa- cientes histéricos no hospital dela Salpêtrière em Paris, deduzia que a hipnose era uma manifestação histérica. E, ainda, que a hip- nose era obtida essencialmente por meios físicos, dando mínimo ou nenhum valor à sugestão. É óbvio que foram dois enormes erros desse famoso neurologista, que, segun- do a história, nunca teria hipnotizado nin- guém porque seus pacientes histéricos eram preparados pelos seus assistentes. É de au- toria de Charcot, em 1878, a teoria de três estágios hipnóticos, sempre relacionados com os pacientes com transtorno de conversão:6 (1) Catalepsia, produzida pela fixação do olhar do paciente num foco luminoso forte, ou pela súbita produção de um som como o de um gongo ou diapasão. Na catalepsia, havia rigidez nos membros que permaneci- am na posição colocada pelo médico. Os olhos estavam abertos. (2) Letargia, obtida pelo fechamento dos olhos do paciente ou pelo apagamento do foco luminoso. Na le- targia havia surdez, mudez e hiperexcitação neuromuscular. (3) Sonambulismo, obtido pela simples pressão ou fricção no alto da cabeça. A hiperexcitabilidade tornava-se cutânea. Segundo Schnek22 os estádios des- critos por Charcot não são inerentes à hip- nose, nem há métodos específicos pelos quais possam ser produzidos. As observações da escola de Nancy, reu- nidas por Nicolas, incluem:23 1. Jamais observaram os três estados, le- targia, catalepsia e sonambulismo. A hipno- se é a mesma quer com pacientes histéricos quer com outros pacientes. As três fases mencionadas não existem nem mesmo com pacientes histéricos. 2. A histeria não é um bom terreno para estudar o hipnotismo. Muitos dos sintomas “histeriformes” (chamados hoje de conver- são ou dissociativos), de origem emotiva ou resultantes de auto-sugestão, misturam-se aos fenômenos hipnóticos e para um obser- vador inexperiente é difícil de separar. 3. O estado hipnótico não é uma neurose. Os fenômenos que ocorrem na hipnose são naturais e psicológicos, podendo ser obtidos em muitas pessoas durante o sono natural. 4. Todos os procedimentos de hipnotiza- ção se resumem na sugestão, e a sugestão é a chave de todos os fenômenos hipnóticos. A escola de Paris ou tão-somente chama- da Escola da Salpêtrière, da qual faziam parte nomes como Babinski, Binet, Fere, Jean Janet, 14 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Richet, Gilles de la Tourete, com relação à hip- nose jamais prosperou. Durante o II Congres- so Internacional de Psicologia realizado em Paris, Sidgwick, o presidente na seção de aber- tura, reconhecia publicamente a vitória da es- cola de Nancy.24 A Escola de Nancy expan- diu-se e ficou mais fortalecida com nomes como Emil Coué (1857-1926), um farmacêu- tico que se tornou célebre com seu método de auto-sugestão consciente,25 e sua célebre frase “A cada dia, sob todos os aspectos, vou cada vez melhor”. Para Coué não é a sugestão que o hipnotizador faz que realiza alguma coisa, é a sugestão que é aceita pela mente da pessoa. Bernheim numa palestra proferida na Universidade de Nancy em 12 de dezembro de 1906 descreve três estágios mais impor- tantes na história da hipnose até então. O primeiro estágio, magnetismo animal elabo- rado por Mesmer; o segundo, sono hipnóti- co ou hipnotismo devido a Braid; o terceiro, a teoria da sugestionalidade de Liebeault. ESCOLA DA REFLEXOLOGIA (IVAN P. PAVLOV E SUA ESCOLA — 1901,1904) A doutrina da inibição e excitação cortical para Ivan Petrovich Pavlov (1849-1935) rege a atividade nervosa superior dos animais e dos seres humanos e foi baseada em estudos de neurofisiologia com cães. Ele começou a trabalhar com os reflexos condicionados26 em 1901. As teorias de Pavlovsobre o hip- notismo originaram-se de seus experimen- tos com cães publicado no trabalho Sobre a fisiologia no estado hipnótico do cão. Em 1904 Pavlov usou pela primeira vez os ter- mos reflexos incondicionados e reflexos con- dicionados.27 O reflexo incondicionado é uma ligação nervosa permanente, entre um excitante determinado, imutável e uma ação bem definida do organismo. É um reflexo inato, estável, imutável, característico da es- pécie, que alguns estudiosos denominam ins- tintos. Os reflexos condicionados são adqui- ridos, temporários, ocasionais e constituem uma característica do indivíduo, não da es- pécie. Para o aparecimento do reflexo con- dicionado é necessário que o excitante indi- ferente preceda sempre o estímulo absoluto, que haja coexistência de tempo entre os agen- tes absoluto e o indiferente, que a ação seja reforçada, e no momento do estabelecimen- to do reflexo condicionado não haja nenhum outro estímulo indiferente. Os reflexos con- dicionados são responsáveis pela adaptação do indivíduo ao seu meio ambiente. Os estímulos podem ser exteroceptivos, isto é, originados no meio ambiente (som, luz, cheiro, pressão etc.), ou interoceptivos quan- do originados dentro do próprio organismo. Os estímulos são recebidos pelos receptores. Pavlov introduz o conceito de analisador para significar o conjunto formado pelo receptor, vias aferentes e conexões centrais. Ele consi- derava que a atividade nervosa superior ba- seava-se em dois sistemas de sinalização: (1) O primeiro sistema representado pelos refle- xos condicionados. São os sinais que con- dicionam respostas absolutas. (2) O segundo sistema representado pelos conceitos conti- dos nas palavras. A palavra contém um estí- mulo sonoro (primeiro sistema de sinalização) e um conteúdo de idéias e imagens (segundo sistema de sinalização). Nos seres humanos, os reflexos condicionados podem ser estabe- lecidos a partir de um som, como também a partir do conteúdo (mensagem) da palavra. Nós podemos considerar não somente o con- teúdo da palavra como representando o se- gundo sistema de sinalização, mas também estímulos táteis, térmicos, dolorosos, olfati- vos, gustativos, cinestésicos, labirínticos, interoceptivos, independentemente da respos- ta condicionada da sensação tátil, da sensa- ção de calor ou de frio, da sensação dolorosa etc., podem transportar um conteúdo (mensa- gem) específico para cada indivíduo. O me- CAP˝TULO 2 15 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. canismo do sono fisiológico para a escola pavloviana é devido à inibição cortical, que se propaga para centros do sono localizados mais profundamente. O sono fisiológico se- ria produzido pela soma de estímulos débeis, monótonos, atuando durante um certo perío- do de tempo, produzindo sobrecarga dos pro- cessos (e vias) inibitórios levando ao espa- lhamento da inibição. Poderia também ser produzido por estímulos extremamente for- tes, que ocasionariam uma inibição cortical pela sobrecarga dos processos (e vias) ex- citatórios. Pavlov, já na sua época, presumia que os processos de excitação e de inibição dependessem de substâncias químicas dife- rentes (os neurotransmissores de hoje). As diferentes funções do córtex cerebral são ca- racterizadas por diferentes graus de excita- ção e inibição em várias áreas, formando o que Pavlov denominou mosaico cerebral. O que ocorreria durante a hipnose segundo os conceitos da escola pavloviana? Há um foco excitatório inicial no córtex cerebral, que pode estar relacionado com as áreas: auditiva, visu- al, tátil ou cinestésica, dependendo dos estímu- los usados. Com predominância de estímulos auditivos, e pedindo ao paciente para que abra e feche os olhos para produção de fadiga dos músculos palpebrais, o arco reflexo condicio- nado seria assim formado: Os analisadores au- ditivos fi a área cortical auditiva fi zona motora oculopalpebral subcortical fi músculos palpebrais. O estímulo indiferente a condicio- nar é, no caso, a palavra; o estímulo incondi- cionado é, no caso, o exercício muscular. En- tão a palavra débil, monótona, repetida produz a formação de um foco de excitação no córtex cerebral e a simultaneidade do estímulo indi- ferente e do absoluto estabelece o primeiro arco reflexo temporário no cérebro.26 O foco inicial é reforçado pela repetição. O foco inicial espa- lha essa excitação para todo o córtex cerebral. Essa excitação provoca uma onda inibitória re- flexa de todos os pontos dirigida ao foco inici- al de excitação, tentando bloqueá-lo por meio de uma zona envolvente inibitória ativa. Essa inibição agora se espalha para todo o córtex. O foco auditivo irradia a inibição pelo fenômeno da indução negativa, quanto mais excitado seja ele, maior a intensidade da inibição que dele parte. Contudo, continua em estado vígil pela excitação constante (estimulação com as pala- vras). Com a estimulação auditiva, agora o paciente está preparado para receber a sinali- zação para resposta oculopalpebral desejada, isto é, a fadiga. Ao afirmarmos que as pálpe- bras estão cansadas, pesadas etc. seus olhos fecham-se. Pelo foco auditivo o paciente ouve as nossas palavras e estabelece-se um novo pon- to de inibição cortical (centro da percepção sen- sorial da visão). Como o analisador visual tam- bém foi cercado pelo segundo sistema de sina- lização (o conteúdo da palavra, a imagem), cria- se, em torno do centro sensorial da visão, um segundo foco de inibição. Deste foco também se espalha a onda inibitória que, independen- temente da onda inibitória auditiva, tende a es- palhar-se pelo córtex cerebral. Agora são dois focos de inibição que se espalham pelo córtex. O hipnólogo deve multiplicar os focos de ini- bição, e isso pode ser feito pela utilização de estímulos variados. Contudo, o paciente per- manece ligado ao hipnólogo pelo foco auditi- vo que agora vamos denominar foco vígil, que permite a maior parte da comunicação do hipnólogo com o paciente. Para a escola pavloviana a hipnose está associada a uma inibição da atividade refle- xa condicionada, que se espalha através do córtex cerebral, muda a interação dos siste- mas de sinalização, inibindo o segundo sis- tema de sinalização. Esta inibição diminui o controle do segundo sistema de sinalização sobre o primeiro. Isso facilita a memória de evocação para fatos do passado e para ima- gens visuais. Essa inibição do córtex propor- ciona um aumento da excitação de focos es- timulados pela sugestão.26 16 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Existem objeções à teoria de Pavlov sobre a hipnose. A teoria afirma que a hipnose seria uma inibição difusa cortical com a presença de um ponto vígil. Na realidade, transmitindo sugestões sensoriais verbais, extraverbais, não- verbais, sugestões táteis, sugestões de imagens visuais, forçosamente haveria mais de um ponto vígil. Segundo menciona Lerner, um indiví- duo desperto fazendo uma complicada conta matemática ou pronunciando uma conferên- cia, dificilmente teria um estado difuso cu- mulativo de inibição cortical, senão mais pro- vavelmente predomínio de processos de ex- citação cerebral.28 Como explicar que o mes- mo indivíduo em hipnose profunda seja ca- paz de fazer uma operação matemática com- plicada ou ministrar uma conferência (proces- sos que exigem elevada excitação cortical), tendo um estado de inibição difusa cumulati- va cortical, com a preservação de um ponto vigente, e logo acorde com absoluta amné- sia? Haveria necessidade de aceitar que tudo foi possível apenas por meio do ponto vígil, apesar de toda a inibição cortical? COMPORTAMENTO DIRIGIDO (ROBERT W. WHITE — 1941) A teoria do comportamento dirigido29 (goal-directed-behavior) foi exposta por White em 1941. Define o comportamento hip- nótico como um esforço dirigido, cujo obje- tivo principal é levar a pessoa hipnotizada a comportar-se do modo comoé continuamen- te definido pelo operador e entendido por ela mesma. A conduta apresentada pelo paciente hipnotizado nada mais é do que um esforço dirigido pelo mesmo, com a finalidade de com- portar-se conforme ele julga que deva atuar um indivíduo hipnotizado. Este autor acredita- va que as respostas hipnóticas envolviam um estado alterado de consciência, mas o que de- terminava as respostas eram as expectativas implícitas do indivíduo, guiadas pelo esforço de apresentar a eles mesmos o que eles acre- ditavam que o hipnólogo estava esperando. As respostas hipnóticas são muito complexas para serem consideradas como resultado automá- tico das sugestões. O comportamento hipnó- tico era motivado, objetivo-dirigido, relaciona- do com a interpretação da sugestão pelo pró- prio indivíduo e interpessoal. FENÔMENO PSICOSSOMÁTICO (LEWIS R. WOLBERG — 1948) Wolberg acha que o transe não pode ser explicado quer em bases psicológicas, quer em bases fisiológicas exclusivas.30 O transe é uma reação psicossomática complexa que abrange tanto elementos psicológicos como fisiológicos. Fisiologicamente há um proces- so inibitório que parece estender-se aos cen- tros corticais resultando numa diminuição da sensação de realidade, alterações na cons- ciência das sensações, das imagens e do corpo, e também uma liberação das ações motoras. Psicologicamente cada pessoa é individual para experimentar as experiências hipnóticas internas. Essa experiência inter- na pode depender da comunicação do hip- nólogo com a pessoa e vice-versa, do signi- ficado simbólico da experiência hipnótica para a pessoa durante a indução do transe. SUPERCONCENTRAÇÃO DA MENTE (SYDNEY J. VAN PELT — 1949) Para este especialista em hipnose médi- ca, nascido na Austrália, que exerceu a me- dicina em Londres, a hipnose seria uma su- perconcentração da mente31 (1949). No es- tado comum a mente se ocupa com muitas impressões diferentes de modo que o seu poder fica disperso. Durante a hipnose a CAP˝TULO 2 17 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. mente concentra-se num grau muito mais elevado do que no estado comum. Van Pelt introduz a terminologia, “unidade de poder mental”, sem defini-la. No estado comum, somente poucas “unidades de poder mental” estão afetadas pela sugestão e, portanto, o efei- to é fraco. Durante a hipnose as “unidades de poder mental” são concentradas e todas afe- tadas pela sugestão, portanto o efeito é forte. Após a hipnose as “unidades de poder men- tal” dispersas agora estão carregadas de uma dose de sugestão. A capacidade da hipnose reside no paciente, o hipnólogo possui so- mente o conhecimento técnico para manipu- lá-lo. Contudo, o próprio S. J. Van Pelt em 1956 afirma que “aún cuando ningún doctor, psiquíatra u hombre de ciencia de alguna importancia en el mundo arriesgaría hoy día su reputación negando la existencia del hip- notismo y la realidad de sus fenómenos, nadie puede decir exactamente qué es”10 (p. 33).* EXCLUSÃO PSÍQUICA RELATIVA (RAPHAEL H. RHODES — 1950) Cada indivíduo possui duas mentes: a men- te subjetiva e a mente objetiva.32 A mente objetiva é capaz de raciocínio tanto indutivo (dadas as diversas particularidades, chega- se a uma generalização) como dedutivo (dada uma generalização, chega-se às particulari- dades); embora seja impossível considerar qualquer coisa como uma “particularidade” ou uma “generalização”, porque cada gene- ralização pode ser considerada com uma particularidade sob certas circunstâncias. Contudo, isso não invalida os processos in- dutivos e dedutivos. A mente objetiva con- trola os sentidos: audição, visão, gustação, tato, cinestesia e olfato. A mente subjetiva só é capaz de raciocinar dedutivamente. A mente subjetiva controla a memória. Em cada indivíduo essas duas mentes estão em esta- do de equilíbrio mútuo, como se fossem os dois extremos de uma balança. O predomí- nio da atividade de uma delas exclui relativa e concomitantemente os processos da outra. Quando uma mente se evidencia, a outra re- trocede. Como a mente subjetiva raciocina apenas dedutivamente, ela aceita como ver- dadeira qualquer generalização que lhe seja apresentada, porque sendo incapaz do racio- cínio indutivo, não tem como contestar a ge- neralização. O modo de combater uma gene- ralização é chegar a uma generalização con- trária com base em particularidades obser- vadas, mas isso implica o processo indutivo. Quando uma das mentes predomina, reduz em grau concomitante a outra mente e, por isso, o nome de exclusão psíquica relativa. Rhodes propôs que essa é a mais ampla explicação para todos os fenômenos psico- lógicos manifestados por indivíduos quan- do em vigília, em sono ou em hipnose.32 Na vigília a mente objetiva predomina e a pes- soa é capaz de raciocínio indutivo e deduti- vo, enquanto a mente subjetiva com menor predomínio apresenta-se ainda suficiente- mente ativa para as funções de memória. Durante o sono predomina a mente subjeti- va e há redução da mente objetiva. Durante a hipnose o hipnólogo induz a mente objetiva do paciente a retroceder, deixando predominar a mente subjetiva. A mente sub- jetiva predomina, mas diferentemente do sono, aqui ela predomina de certo modo orientada pela comunicação do hipnólogo com o paciente, quer seja verbal, extra- verbal ou não-verbal. Na auto-hipnose, a mente subjetiva é orientada pela mente ob- jetiva do próprio indivíduo. * “Ainda que nenhum médico, psiquiatra, homem de ciência de alguma importância no mundo, arriscasse hoje em dia sua reputação, negando a existência do hipnotismo e a realidade dos seus fenômenos, ninguém pode dizer exatamente o que é”. (Tradução do autor.) 18 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Rhodes considera a hipnose “como uma condição em que se consumou uma troca nas posições relativas das mentes subjetiva e ob- jetiva, em que a subjetiva foi posta em evidên- cia na expectativa de ser controlada pelo hipnotizador ou pela mente objetiva em reces- so”32 (p.31). A amplitude do controle hipnótico está limitada pelo grau de desativação da mente objetiva do paciente. Quanto maior a desati- vação, tanto menor o controle hipnótico. Em virtude do poder de atuação da mente subjeti- va do paciente, em termos gerais, um pacien- te não executaria durante a hipnose qualquer sugestão que fosse contrária aos seus instin- tos básicos e a sua ética. O próprio autor afir- ma a validade da teoria diante da existência de uma só mente, apresentando dois fatores distintos, um fator subjetivo e um fator objetivo. DESEMPENHO DE UM PAPEL (THEODORE R. SARBIN — 1950, 1956, 1972 E WILLIAM C. COE — 1972, 1991) Partindo da teoria do comportamento di- rigido, Sarbin considera a hipnose como uma forma especial de comportamento sociopsi- cológico conhecida como “desempenho de um papel”.33 O indivíduo esforça-se para desempenhar o papel de uma pessoa hipno- tizada. O sucesso desse esforço depende de pelo menos três fatores:34 (a) Motivação fa- vorável onde o papel a desempenhar e as convicções próprias não sejam incongruen- tes. (b) Exatidão da percepção do papel. (c) Aptidões motoras e imaginativas para desem- penhar o papel. Depois foram identificadas seis variáveis que influenciam a qualidade da representação hipnótica:35 (a) Expectati- vas do papel do indivíduo. (b) Acurácia da localização do eu do indivíduo na miniatura da estrutura social. (c) Habilidades motoras e de imaginação. (d) Exigências do papel ge- radas pelas características específicas da si- tuação clínica ou experimental. (e) Congruên- cia do papel hipnótico com as autoconcepções do indivíduo, posteriormente modificada34 para congruência da performance do papel hipnó- tico com a seqüência da autonarrativa do indi- víduo. (f) As propriedades de dirigir e de re- forçar a audiência do indivíduo. Estudos comparativos entre pacientes que são instruídospara se comportar “como se estivessem hipnotizados”, e pacientes que são formalmente hipnotizados, mostra que quando misturados num grupo único e espe- cialistas em hipnose sejam desafiados a afir- mar quais pacientes estão hipnotizados e quais pacientes não estão verdadeiramente hipnotizados, os pacientes que apenas de- sempenhavam o papel de hipnotizados po- dem confundir os especialistas. Os autores desta teoria destacam alguns pontos: (a) Pa- pel das expectativas como sendo as coleções de crenças, probabilidades subjetivas, peda- ços de conhecimento que especificam condu- tas apropriadas para uma pessoa ocupando uma particular posição. O indivíduo represen- tante traz consigo expectativas preconcebidas sobre como as pessoas hipnotizadas agem, além do hipnólogo proporcionar mais expec- tativas durante a hipnose. (b) O consultório do profissional ou o laboratório do experimen- tador é o palco, local da situação hipnótica. A situação hipnótica depende da habilidade dos dois atores, hipnólogo e paciente, em usar e interpretar metáforas amplificadas. Em 1972 Sarbin e Coe expuseram a teoria da hipnose em termos dramatúrgicos a partir da teoria do desempenho de um papel.36 No modelo dramatúrgico da hipnose a preparação do paciente corresponde à preparação do pa- pel que o paciente irá desempenhar. A congruência do paciente com o papel se esta- belece pela eliminação das defesas, medos e conceitos errados sobre a hipnose e pela cria- ção de expectativas positivas. A indução corresponde à colocação do paciente no palco, isto é, na poltrona reclinável, com a diminuição CAP˝TULO 2 19 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. da luminosidade do ambiente e com a modifi- cação da maneira como o hipnólogo expressa as sugestões capazes de criar as expectativas positivas no paciente. A interpretação das su- gestões pelo paciente é a representação do papel no palco (consultório do especialista). A representação do papel é involuntária no sen- tido de que é realizada sem atenção, mas não sem intenção. Neste sentido a experiência não- voluntária é construída por quatro aspectos:37 (a) Intensificação do controle verbal. (b) Con- dução da atenção. (c) Rotulação da experiên- cia particular. (d) Apresentação das ações como ocorrências. Em Alvarez há uma explanação desta teoria da hipnose em termos teatrais.38 ESTADO EMOCIONAL INTENSIFICADO (GALINA SOLOVEY E ANATOL MILECHNIN — 1957) O estado hipnótico num sentido mais am- plo não é mais do que um estado emocional intensificado.39 Toda emoção ao alcançar certo nível de intensidade ocasiona determi- nadas particularidades psicofisiológicas que, por sua vez, provocam determinados fenô- menos de conduta. Esses aspectos da con- duta se correlacionam com aspectos hipnóti- cos, sendo independentes se a emoção é es- pontânea ou deliberadamente provocada. Os autores diferenciam dois tipos de emo- ções: estabilizadoras e perturbadoras. A re- lação interpessoal na qual se suscitam esses tipos de estados emocionais básicos é de- nominada relação interpessoal hipnótica principal, que é complementada pelas rela- ções interpessoais hipnóticas secundárias. A relação interpessoal hipnótica principal é constituída por relações hipnóticas constan- temente reativadas, como a do filho e seus pais, do aluno e do mestre. As relações hip- nóticas interpessoais secundárias são as que se mantêm por pouco tempo. O conceito de estado hipnótico é generalizado para as rela- ções comuns da vida diária. A indução hip- nótica seria a intensificação de um estado emocional de qualquer tipo ou matiz. A es- sência do estado hipnótico adulto é um pro- cesso de emoção intensificada, consistindo numa retrogressão aos mecanismos psicoló- gicos da primeira infância, o qual criaria as condições favoráveis para aceitar e experi- mentar aquelas fantasias que são inerentes à psicologia da criança. A sugestionabilidade é a motivação da criança para aceitar proposi- ções verbais ou extraverbais e cumprir as exigências de seus pais quando estes fazem carícias, no momento que a criança necessita destas, ou assumem uma atitude autoritária. Holland Jr. propõe ser o estado hipnótico um estado emocional intensificado. Ele acha conveniente distinguir transe hipnótico (ou estado hipnótico no sentido estrito) da hip- nose em geral, sendo a hipnose o fenômeno real e básico, e o transe hipnótico uma secção conceitual, artificial e convencionada taci- tamente entre hipnotizador e hipnotizado, do “todo” constituído pela relação hipnótica global.40 Esse autor pretende que se chame transe hipnótico “aquela parte do conjunto total de inter-relações que começa por um sinal convencionado tácita e conjunturalmen- te (fechamento dos olhos, levantamento au- tomático da mão etc.), continua-se por uma seqüência de outros acontecimentos, duran- te os quais a atuação do designado hipnoti- zado é, geralmente, passiva (permanecendo relaxado, vivendo sonhos espontâneos ou in- duzidos por sugestão ou ab-reações etc.), e termina por outro sinal ou conjunto de sinais implicitamente convencionados (em geral abertura dos olhos, e início de um conjunto de elementos comportamentais de quem ‘está no seu estado comum fora do transe’). “Desse modo, o fenômeno básico em si já existe antes que o transe ‘comece’, e con- tinua depois que ele ‘termina’40 (p. 129).” 20 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. A obtenção do melhor transe hipnótico possível num paciente não depende de treiná- lo muito ou pouco, de falar baixinho, monó- tona, rítmica, repetidamente, ou de realizar complicadas manobras para encontrar “pas- sos” e graus hipnóticos que, ao final, não existem. Enfim, não depende de ações físi- co-mecânicas, nem de aspectos quantitativos dos estímulos. Obtém-se o transe optimal pela adaptação indutiva a cada paciente in- dividual, o que se consegue pela conscien- tização e utilização, por parte do hipno- tizador, daquilo que é efetivamente regente na hipnose, isto é, os fatores software: ade- quação do código portador das mensagens, respeito às programações preexistentes, in- cremento, pelas vias apropriadas, de um es- tado emocional com regressão psicológica conseqüente, utilização das múltiplas men- sagens implícitas que, quer o hipnotizador queira ou não, quer ele saiba ou não, estão sendo levadas ao paciente pelo tom de voz utilizado, pelas associações semânticas, pela atitude geral do hipnotizador, pelos seus ges- tos, inflexões verbais, pelo ambiente, isto é, por tudo aquilo que se chama de paralin- guagem. Morris41 afirma que “a hipnose é um esta- do de consciência no qual você fica receptivo às sugestões mais do que ordinariamente, pode pensar com mais clareza, pode ver mais viva- mente com os olhos da mente, pode sentir com mais atenção e pode realmente ouvir o próprio íntimo com maior profundidade e mais crité- rio. Neste estado você tem um singular contro- le sobre seus processos mentais, suas emoções e suas atitudes” (p. 25). E ainda de acordo com outros autores, ela diz que o estado hipnótico não tem nenhuma correlação física conheci- da e não pode ser definido por quaisquer cri- térios exteriores, mas apenas por sua própria experiência subjetiva. O estado hipnótico não é um estado alfa, não é um estado de movi- mentos oculares rápidos associado ao sonho, não é um estado que possa ser delineado por quaisquer medidas de ondas cerebrais até agora conhecidas, ou por medidas da resis- tência da pele ou pelo potencial elétrico do corpo. Morris afirma que “a hipnose é real- mente um estado de consciência desenvol- vido pelo hipnotizado como resultado de um processo psíquico íntimo que poderá orientá- lo através de caminhos que conduzem mais diretamente ao aperfeiçoamento pessoal”41 (p. 35). Um especialista não pode afirmar que uma pessoa esteja hipnotizada por meio de qualquer tipo de teste inventado até hoje.Entretanto você sabe quando está hipnotiza- do, depois que aprender o que sente nesse estado e depois de ter experimentado os po- derosos efeitos sobre você. A hipnose é sen- tida diferentemente por diferentes pessoas. A hipnose é diferente para a mesma pessoa em ocasiões diferentes. O que uma pessoa pode sentir durante a hipnose é o mesmo que uma pessoa pode sentir no estado de vigília, vi- vendo, respirando. O que é sentido com a hipnose depende do que você espera, e o que você espera é o resultado das sugestões que vêm do hipnólogo e das sugestões que vêm de dentro de você mesmo durante a expe- riência hipnótica. REGRESSÃO ATÁVICA (AINSLIE MEARES — 1960) Em psiquiatria o termo regressão somen- te se aplica para denominar o processo de retorno a um tipo anterior de comportamen- to. A hipótese do atavismo requer que a re- gressão seja aplicada não somente no cam- po da conduta, mas da função mental.42 A função mental do adulto normal e sadio, que transcorre num plano lógico e intelectual, regressa a um nível arcaico de funcionamen- to mental, no qual o processo da sugestão determina a aceitação das idéias. Desta ma- CAP˝TULO 2 21 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. neira a regressão seria o mecanismo básico na gênese do estado de hipnose. Este con- ceito pode ter um aspecto prático para o hipnólogo: toda palavra e ato que favoreçam a regressão, ajudarão a indução da hipnose. Meares considera para a redução do sen- so crítico: (a) as funções intelectuais mais recentes podem ser desintensificadas, en- quanto as funções mais antigas se intensifi- cam pelo mecanismo sugestivo; (b) a ativi- dade intelectual do paciente se desintensifica com sugestões repetidas em voz monótona, como também pelo fato de se pedir ao paci- ente para abandonar a si mesmo. As funções latentes podem ser estimuladas, propondo- se sugestões simples, cuja aceitação ativa o mecanismo sugestivo, tornando-se mais fá- cil a aceitação de novas sugestões. Esse pro- cesso é a base de algumas técnicas de indução da hipnose; (c) a regressão específica da fun- ção mental pode ocorrer mais facilmente quando induzida por procedimentos destina- dos a iniciar o mecanismo regressivo geral. Na hipnose autoritária o prestígio do hipnó- logo e sua atitude autoritária iniciam o com- portamento regressivo. O hipnólogo apresen- tando-se como um pai autoritário, força o in- divíduo ao papel de uma criança obediente. Com a hipótese do atavismo, a comunicação não-verbal assume grande importância, por- que esse tipo de comunicação aparece antes da aquisição da comunicação verbal. A ex- plicação para as sugestões pós-hipnóticas advém do fato de que na infância os proces- sos de sugestão são mais ativos, e conside- rando-se a hipnose como uma regressão a um período arcaico da evolução mental, na qual a sugestão é a principal função, seria de espe- rar que as idéias sugeridas durante a hipnose tivessem, analogamente, um grau maior de persistência do que as idéias aceitas no pla- no lógico da vigília. Esta teoria explicaria a profundidade da hipnose como relacionada com os diferentes graus de volta a um funcio- namento mental primitivo, e aos diferentes graus de supressão das funções lógicas do senso crítico, mais recentemente adquiridas. PSICOPLASIA ACRESCENTADA PELA CONCENTRAÇÃO TOTAL DA MENTE (MARCELO LERNER — 1964) Psicoplasia28 designa a soma de altera- ções orgânicas que decorrem de qualquer ati- vidade psíquica. O conceito de psicoplasia engloba as três funções básicas da atividade psíquica e, assim, considera a ideoplasia como as alterações orgânicas que estão por baixo da atividade intelectual (pensar), a voloplasia como as alterações orgânicas que estão por baixo da atividade volitiva (que- rer) e a timoplasia como as alterações orgâ- nicas que estão por baixo da atividade afetiva (sentir). A definição de sugestão de Mc Dougall43 como sendo “um processo de co- municação que determina a aceitação em for- ma total de uma idéia, podendo incluir a fal- ta de bases lógicas para isso”, é estendida por Lerner dizendo que “la sugestion es un processo de comunicación y aceptación to- tal de una idea lo que determina una modificación psicosomática global com localizaciones corporales específicas más acentuadas según la idea sugerida y aceptada, pudiendo incluir la falta de bases lógicas para su desarrollo”28 (p. 31).* Quando o paciente aceita totalmente a idéia comunicada, sua mente se adere globalmen- te a essa idéia, com a qual a psicoplasia con- comitantemente se acrescenta. Lerner con- *A sugestão é um processo de comunicação e aceitação total de uma idéia, o que determina uma modificação psicoplásica do indivíduo, ou seja, uma modifica- ção psicossomática global, com localizações corporais específicas, mais acentuadas segundo a idéia sugerida e aceita, podendo incluir a falta de bases lógicas para seu desenvolvimento. (Tradução do autor.) 22 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ceitua a hipnose como “uma transformação substancial da personalidade, baseada num estado psicossomático sui generis, caracte- rizado pelo rapport e hipersugestionabili- dade, induzidos por sugestão, no qual a men- te se concentra e unifica em forma global, desenvolvendo ao máximo o fenômeno psicoplásico e ao que se coadjuva a supres- são extensa do juízo crítico”. Tudo isso de- termina o acesso por via psíquica aos núcleos neuroendócrinos da pessoa profunda, brin- dando rendimentos em todos os planos do ser psicofísico que transcendem em muito os al- cances da vontade consciente. Lerner con- sidera ainda que cinco estímulos coadjuvan- tes, a saber: relaxamento, monotonia do estí- mulo, fixação da atenção espontânea, ausên- cia de estímulos perturbadores e emoção coadjuvante facilitam a instalação da modifi- cação psicoplásica sui generis no indivíduo, sendo uma modificação profunda de seu es- quema corporal e dos limites do eu. Essa modificação dos limites do “eu” é seguida por uma integração dos limites do “eu”, con- tudo, com a imagem do hipnólogo vivida como parte de si mesmo. TEORIA DA NEODISSOCIAÇÃO (ERNEST R. HILGARD — 1965, 1986, 1991) Foi denominada neodissociação para in- dicar que esta teoria não está fundamentada na dissociação patológica.44 Basicamente, em certas circunstâncias, níveis mais baixos de controle podem funcionar de uma manei- ra dissociada de centros de controle executi- vos mais elevados. O fluxo de informação entrando e saindo da consciência pode tor- nar-se dissociado, fora das vias cognitivas usuais, e a pessoa não percebe consciente- mente a informação. Esta teoria parte de três suposições:45 (1) Existência de sistemas cognitivos subordinados, cada qual com al- gum grau de unidade, persistência e autono- mia funcional. Esses sistemas seriam inte- rativos, mas sob circunstâncias especiais podem se tornar um pouco isolados uns dos outros. (2) Existência de alguma espécie de controle hierárquico que gerencia a interação ou competição entre essas estruturas. Essa hierarquia pode ser modificada sob o con- trole da função executiva do ego. (3) Exis- tência de alguma monitoração ou controle das estruturas caracterizada pela atenção se- letiva. Seria um “Eu” executivo ou estrutu- ral de controle, com funções de planejar, monitorar e gerenciar os pensamentos e ações, envolvendo toda a pessoa. Esta teoria postula modificações do controle sobre os pensamentos e ações mais do que nas altera- ções de qualidade da experiência consciente subjetiva. Hilgard44 sugere um estado alte- rado no sentido de uma modificação na qua- lidade das experiências conscientes apenas para pacientes altamente hipnotizáveis. Ele acha que muito embora sua teoria tenha sido desenvolvida a partir da experimentação com indivíduos hipnotizados, ela é mais abran- gente do que apenas para a hipnose. Este modelo conceitual começou a ser de-senvolvido na década de 1960,46 a partir das diferenças individuais da resposta hipnótica. Nessa época foi afirmado que a dissociação seria parcial, porque não era encontrada com- pleta independência entre o material dissocia- do e outros aspectos da consciência, e que dissociações específicas desenvolvidas na hip- nose devem ser correlacionadas com experi- ências (developmental) desenvolvidas.46 Esta teoria considera o indivíduo hipnotizado quer do ponto de vista do próprio indivíduo, quer do ponto de vista do hipnólogo ou do ponto de vista de observadores, como estando num es- tado especial, diferente da vigília, que pode- ria ser chamado de “estado hipnótico” ou “estado de transe hipnótico”, mas que prefe- rem denominar de condição hipnótica. Esta CAP˝TULO 2 23 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. condição hipnótica não é uma condição de mudança tipo tudo ou nada com relação à con- dição normal de vigília. A suscetibilidade hipnótica de uma pes- soa é considerada uma característica relati- vamente estável, sendo isto suportado pela mesma resposta obtida na mesma escala de suscetibilidade hipnótica (Stanford Hyp- notic Susceptibility Scales, Forms A and B), com os mesmos indivíduos testados pri- meiro durante o college americano, e pos- teriormente dez anos e 25 anos após o college.47 Eles ainda demonstraram que in- divíduos altamente receptivos, com o uso de técnicas como a escrita automática ou equivalente denominada fala automática, podiam relatar considerável dor ou memó- ria dela a partir de informações que esta- vam previamente num nível coberto. A dor que o paciente não havia conscientemente sentido ou relatado durante o experimento, foi revelada. Esses relatórios eles denomi- naram metaforicamente como vindos de “um observador oculto”.48 Contudo, o pró- prio autor constatou que mesmo entre as pessoas altamente suscetíveis à hipnose, apenas em torno de 50% apresentavam o “observador oculto”. Esse “observador oculto” também pode ocorrer com a ceguei- ra, a surdez, a amnésia e com as alucina- ções induzidas pela hipnose. Segundo este modelo conceitual, os indiví- duos entram na condição hipnótica porque as sugestões transmitidas pelo hipnólogo tomam muito do controle usual do paciente, isto é, o hipnólogo influencia as funções executivas do paciente e modifica o arranjo hierárquico das subestruturas. Isso ocorre quando é alterado o controle da motricidade, das percepções, da memória e alucinações são percebidas. Nesta linha de raciocínio, a amnésia sugerida repre- senta uma tentativa bem-sucedida para esque- cer alguma coisa. Esta teoria, segundo o seu próprio autor, ainda está inacabada. Os defensores do ponto de vista do esta- do de transe postulavam no início que os procedimentos de indução hipnótica origi- navam um estado especial de funcionamen- to psicológico com alterações na memória, percepção e pensamento. Mais tarde consi- deram que para os pacientes altamente hipnotizáveis, o estado especial (transe hip- nótico, condição hipnótica, estado de transe ou estado hipnótico) é, em termos de modi- ficação do padrão da experiência subjetiva que origina a aparência hipnótica, um alto nível de respostas às sugestões testes, alte- rações nas sensações do corpo e relato de ter sido hipnotizado. Para a maioria das pesso- as (com média suscetibilidade hipnótica), pela teoria da neodissociação, há modifica- ções dos controles sobre o pensamento e comportamentos mais do que modificações na qualidade da experiência subjetiva. Os críticos dessa teoria não aceitam a exis- tência de um estado ou condição especial de- nominada “condição hipnótica”, e consideram a suscetibilidade hipnótica modificável. TEORIA DO CONTROLE DISSOCIADO (KENNETH S. BOWERS — 1992) Estes conceitos partiram da teoria da neodissociação e foram ampliados por Bowers com o nome de teoria do controle dissociado, que persiste com a idéia da interação de múltiplos sistemas para coor- denar objetivos e comportamentos, que são controlados por dois mecanismos qualitati- vos.49 Um mecanismo de baixo nível, que manipula seleções e comportamentos roti- neiros, sem necessidade de controle consci- ente ou da atenção; e um mecanismo de alto nível, sistema da atenção supervigilante (Supervisory Attentional System — SAS), que intervém numa situação nova ou com- petitiva, para governar essas ações não roti- 24 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. neiras, de uma maneira qualitativa e centra- lizada50 e influenciando indiretamente o comportamento pela modulação do sistema de baixo nível. Segundo esta teoria, o início do ato voluntário e o seu controle estão rela- cionados com o SAS. Se o SAS está ativa- mente modulando a seleção de esquemas (que pode ser interpretado como um filtro da consciência), o indivíduo está realizando um ato voluntário; se o SAS não está modulan- do, nem monitorando a seleção de esquemas, o ato é experienciado como automático.51 A indução hipnótica reduz o controle frontal dos esquemas de comportamento, permitin- do a ativação direta dos comportamentos pelas sugestões do hipnólogo.52 A teoria do controle dissociado não envolve a dissocia- ção da consciência, contudo, envolve a dissociação dos subsistemas cognitivo e comportamental do controle executivo. À medida que o hipnólogo segue com a sua fraseologia, reduz-se o controle da função executiva e gradualmente se intensifica o controle dos subsistemas. Esta teoria não explica os achados de tra- balhos eletrofisiológicos53-55 mostrando que os atos denominados de voluntários são ini- ciados inconscientemente 350 milissegundos antes da pessoa perceber conscientemente que quer executá-los. ESTADO PARTICULAR DA MENTE (JOHN HARTLAND — 1966) Para Hartland “hypnosis is essentially a particular state of mind which is induced in one person by another. It is a state of mind in which suggestions are not only more readily accepted than in the wake state, but are also acted upon much more powefully than would be possible under normal conditions. In other words, the hypnotic state is always accom- panied by an increase in the suggestibility of the subject”56 (p. 13)* As sugestões seriam mais rápida e poderosamente aceitas no esta- do hipnótico porque, nesse estado, o poder do senso crítico está parcial ou completamente suprimido. O poder do juízo crítico está larga- mente restrito à mente consciente. Quando as sugestões penetram na mente inconscien- te, que apresenta pouco ou nenhum poder de juízo crítico, ela é inteiramente incapaz de rejeitá-las e o indivíduo age sob ação dessas sugestões. Hartland formula os seguintes prin- cípios relacionados com o estado hipnótico, sem comprová-los laboratorialmente: (1) A respos- ta à hipnose dependerá da extensão da su- pressão do poder de criticismo e da extensão da remoção do poder de rejeição normalmen- te exercitado pela mente consciente. (2) O grau de profundidade na hipnose num dado caso, está diretamente relacionado com o grau de supressão alcançado. (3) Quanto mais a mente consciente for suprimida mais a sugestionabilidade de um indivíduo aumenta- rá. Para Hartland “the power of suggestion is tremendously enhanced when it acts upon the unconscious rather than on the conscious mind”56 (p. 12).** ESTADO DE CONSENTIMENTO (DAVID L. SCOTT — 1974) David Scott define a hipnose como um estado de consentimento combinando rela- *“Hipnose é essencialmente um particular estado da mente que é usualmente induzido em uma pessoa por outra. É um estado da mente no qual as sugestões são não somente mais prontamente aceitas do que no esta- do acordado, mas também são aceitas muito mais po- derosamente do que seria possível sob condições nor- mais. Em outras palavras, o estado hipnótico é sempre acompanhado por um aumento na sugestionabilidade do paciente”. (Tradução do autor.) **“O poder da sugestão étremendamente realçado quando ela age sobre o inconsciente em vez de sobre a mente consciente”. (Tradução do autor.) CAP˝TULO 2 25 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. xamento fisiológico, no qual a faculdade crí- tica da mente consciente é sobrepujada em algum grau.57 Ele considera três estados da mente: (a) Mente consciente, quando a mente consciente (crítica) é predominante. (b) Men- te inconsciente que pode ser explicada pelo sono, anestesia geral, coma metabólico e in- júria cerebral. (c) Hipnose, quando a mente subconsciente (não-crítica) é predominante. A hipnose ou a sugestão hipnótica consiste na aceitação pelo paciente de idéias que são colocadas pelo médico. A hipnose é o resul- tado de um trabalho em conjunto do médico (professor) e do paciente (aluno). Mesmo que o paciente realmente produza o estado hip- nótico, ele inicialmente precisa do médico para guiá-lo. A hipnose sempre deve ser con- siderada como um processo de aprendizado no qual duas pessoas trabalham juntas com um objetivo comum. Desde que o paciente entenda a natureza do estado hipnótico, ele pode produzir esse estado quando está moti- vado e pronto. O treinamento e o condicio- namento à hipnose facilitarão a entrada no estado hipnótico e resultam num aumento da profundidade do transe.50 Considerando o es- tado hipnótico em termos de hipnoterapia prática, as respostas hipnóticas são propor- cionais à supressão da mente consciente, es- pecialmente do senso crítico, e a profundida- de hipnótica está relacionada com o grau de supressão obtido.50 REGRESSÃO PSICOLÓGICA TOPOGRÁFICA (MICHAEL R. NASH — 1988, 1991) Para Nash e seus adeptos a hipnose é considerada uma condição durante a qual há uma regressão psicológica topográfica no espaço, não no tempo, sendo uma regres- são de respostas estruturais e de altos ní- veis do pensamento para estruturas neurais sensoriais e de percepção, com modifica- ções características na experiência do “Eu” e dos “outros”, no relacionamento e no pro- cessamento das informações.58 Um subsis- tema do “ego” sofre uma regressão topo- gráfica, favorecendo modificações caracte- rísticas na experiência do “Eu” e do “ou- tros”, resultando em: (a) Modificações de um processo secundário para um processo primário de pensamento, na direção do pen- samento pré-lógico e simbólico.59 (b) Maior receptividade do “Eu”. (c) Realçada capa- cidade de regressão a serviço do “ego”, como sendo um abaixamento parcial e tem- porário do nível de funcionamento psíqui- co, no qual o “ego” permite um relativa- mente livre processo primário de pensamen- to a fim de executar tarefas adaptativas e, conseqüentemente realçada capacidade para recrutar material do processo primário para servir à criatividade e à adaptação. (d) Au- mento da disponibilidade de afeto devido ao relaxamento das defesas contra as emo- ções, e conseqüentemente com emoções mais vivas e intensas. Nesse ponto de vis- ta, a regressão hipnótica de idade facilita- ria o acesso ao material emocional devido à regressão topográfica, mas isso não sig- nificando um exato reviver histórico da si- tuação. (e) Flutuações nas experiências com o próprio corpo, como sensações de aumen- to de volume, encolhimento, distorções. (f) Alterações nas experiências volitivas. As respostas mais freqüentemente experiencia- das como ocorrendo involuntariamente, em virtude de um relaxamento das funções exe- cutivas do ego de planificação, organiza- ção, intenção e responsabilidade pessoal. (g) Deslocamento e condensação em rela- ção ao hipnólogo. A premissa de Nash58 é que “the regression in hypnosis is topogra- phic, not temporal, and that the changes in behavior, experience, and relationship we observe with hypnosis are manifestations 26 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. of a shift in how the suject processes in- formation” (p. 175).* Considerando a re- gressão topográfica na hipnose, há modifi- cações mensuráveis em várias áreas de ex- periência, quando se comparam respostas hipnóticas com respostas normais não hip- nóticas. A regressão de um subsistema do ego não seria total porque durante a perfor- mance hipnótica há uma parte do “Eu” que não está engajada e permanece à parte, não participa da regressão topográfica. ESTADO ALTERADO DE CONSCIÊNCIA (CHARLES T. TART60 — 1969 E ERIKA FROMM61 — 1992) O estado de hipnose é considerado como um estado único e separado, estado de cons- ciência relativa com relação ao estado “nor- mal” de consciência. Este estado único de consciência seria criado pelo processo de indução hipnótica, que altera a experiência fenomenológica da pessoa pelo estreitamento da atenção, decorrente das sugestões apre- sentadas. Mas se a hipnose é um estado al- terado de consciência, alterado do quê? É evidente que a pessoa hipnotizada quando apresenta, por exemplo hiperacusia, sensa- ção de amortecimento, rigidez numa extre- midade, não é uma experiência do estado de consciência comum de todos os dias. Evi- dentemente alguma coisa mudou, mas o que mudou? E como mudou? Esse conceito de hipnose como um estado alterado, modifi- cado ou alternativo de consciência não con- segue explicar essas indagações. A pessoa esbanjando alegria ou estando triste e de- primida estaria num estado alterado (modi- ficado)? Aliás, o correto em português é di- zer estado modificado de consciência, por- que na nossa língua a palavra alterado tem o significado de agitado, perturbado, falsi- ficado, descomposto. Parker62 considera a hipnose como um estado alterado (modificado) de consciên- cia. E estado modificado de consciência para Parker é qualquer condição diferente do estado normal acordado, ou estado beta, que no eletroencefalograma se traduz por predomínio da atividade beta, com ritmo rápido de mais de 13 ciclos por segundo (Hz). Quando predominar no encéfalo a ati- vidade alfa (8 a 12Hz), o indivíduo estaria num estado modificado de consciência; quando predominar atividade teta (4 a 7,5Hz), o indivíduo estaria em outro estado modificado de consciência; quando predo- minar a atividade delta (1 a 3Hz), o indiví- duo estaria num outro estado modificado de consciência. Para Parker durante a hip- nose a pessoa entra em um ou talvez em vários estados modificados de consciência. Lembrar a apreciação de Morris41 que a hip- nose não é um estado alfa. Nós achamos que a hipnose não pode ser caracterizada por uma atividade elétrica cerebral demons- trada pelo eletroencefalograma, (EEG) nem por uma atividade magnética cerebral de- monstrada pelo magnetoencefalograma (MEG). Aliás, nenhum exame neurofisio- lógico ou de imagem, quer estrutural como a imagem por ressonância magnética (RM), quer funcional como a imagem funcional por ressonância magnética (RMf) ou a tomografia por emissão de prótons (PET) mostra diferenças constantes presentes em todos os indivíduos que estejam em hipnose, quando comparados aos indivíduos rece- bendo sugestões semelhantes em repouso psicossensorial. *“A regressão na hipnose é topográfica, não temporal e as alterações no comportamento, experiência e rela- cionamento que nós observamos com a hipnose são manifestações numa mudança em como o indivíduo processa a informação”. (Tradução do autor.) CAP˝TULO 2 27 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. COMPORTAMENTO COGNITIVO (THEODORE X. BARBER — 1969, 1973) Barber et al. postulam que o indivíduo du- rante a assim chamada experiência hipnótica não está num estado especial ou “transe hip- nótico”.63,64 Do ponto de vista cognitivo- comportamental o conceito de transe hipnó- tico e conceitos relacionados como hipnoti- zado, estado hipnótico, profundidade hipnó- tica são desnecessários e enganosos para ex- plicar os fenômenos. Para Barber et al.64 “from the cognitive-behavioral viewpoint, subjects carry out so-called “hypnotic” behaviors when they have positive attitudes,motivations, and expectations toward the test situation which lead to a willingness to think and ima- gine with the themes that are suggested” (p. 5).* Esses autores64 consideram oito variáveis que aumentam as respostas às sugestões-tes- tes: “(1) Definir a situação como hipnose. (2) Remover medos e concepções erradas. (3) Assegurar a cooperação. (4) Pedir ao indiví- duo para manter os olhos fechados. (5) Su- gestões de relaxamento, sono e hipnose. (6) Elaborar e variar a fraseologia e o tom das sugestões. (7) Ligar sugestões com reais even- tos. (8) Prevenir ou reinterpretar o fracasso do indivíduo em responder à sugestão”. Para este pesquisador não haveria necessidade das técnicas de indução hipnótica. MODELO SOCIOCOGNITIVO (NICHOLAS P. SPANOS — 1986, 1991) O comportamento hipnótico apesar de sua aparência não ordinária, fundamentalmente é um comportamento similar às outras for- mas mais mundanas de comportamento so- cial, e pode ser explicado sem a necessidade de se recorrer à existência de um estado ou condição especial de consciência. O indiví- duo hipnotizado é visto como agente que está harmonizado às exigências contextuais e que guia seu comportamento nos termos de sua compreensão de contingências da situação e em termos de objetivos ele que deseja alcan- çar.65,66 Este modelo conceitual considera que a base das respostas hipnóticas está na noção de que as pessoas são sensíveis agen- tes, continuamente envolvidos em organizar as aferências sensoriais em categorias e es- quemas significativos, que são usados para guiar as ações. As respostas hipnóticas são vistas como a representação de um papel, e o termo hipnose é rotulado pela situação hip- nótica. Segundo Spanos67 (p. 326).** “hypnotic responding is conceptualized as a context-dependent and as determi- ned by subjects willingness to adopt the hypnotic role; by how their understan- dings of what is expected in that role; by how their understandings of role requi- rements change as the situation unfolds; by how they interpret the ambigous com- munications that constitute hypnotic test suggestions; by their abilities to genera- te the imaginal and other experiences called for by the suggestions; and by how feedback from the hypnotist and from their own responding influences the de- finitions they hold of themselves as hyp- notic subjects.” *“Do ponto de vista cognitivo-comportamental indi- víduos executam o assim chamado comportamento “hipnótico” quando eles têm atitudes, motivações e expectativas positivas, em direção à situação-teste que levam à prontidão para pensar e imaginar sobre os te- mas que são sugeridos”. (Tradução do autor.) **A resposta hipnótica é conceitualizada como depen- dente do contexto, sendo determinada pela boa vonta- de dos indivíduos adotarem o papel hipnótico, pelas suas compreensões do que é esperado naquele papel, pela compreensão de como os requerimentos para o papel modificam-se à medida que a situação se desdo- bra, do modo como eles interpretam as ambíguas co- municações que constituem as sugestões hipnóticas- 28 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Essa teoria explica as respostas involun- tárias, considerando que o indivíduo man- tém controle sobre o seu comportamento, mas algumas vezes interpreta as suas respos- tas objetivos dirigidas como ocorrências in- voluntárias.66 Diferenças estáveis na susce- tibilidade hipnótica individual refletem não uma capacidade psicológica característica, mas a estabilidade nas atitudes, expectati- vas, interpretações individuais que as pes- soas trazem ou desenvolvem na situação hip- nótica. Spanos considera que o fato de defi- nir a situação como de hipnose pode freqüen- temente suprimir em vez de facilitar as res- postas em muitos indivíduos.67 Muito em- bora, o próprio Spanos considere atitudes e expectativas importantes, elas não geram alta suscetibilidade hipnótica por elas mesmas, sendo proveitoso que o indivíduo tenha uma tendência para a imaginação. Mas mesmo uma tendência para a imaginação, combina- da com atitudes e expectativas, ainda requer do indivíduo uma interpretação adequada du- rante a execução dos testes de suscetibilidade à hipnose. E a interpretação mais comum das sugestões é a espera passiva. A espera pas- siva está entre as razões mais importantes porque muitos indivíduos falham em respon- der às sugestões transmitidas. No laborató- rio de Spanos foram obtidos grandes ganhos no comportamento e nos índices subjetivos de suscetibilidade hipnótica quando indiví- duos de baixa suscetibilidade hipnótica foram expostos às informações para realçar suas atitudes e suas expectativas com relação à hipnose, quando são ensinados a tornarem- se absorvidos pelas estratégias de imagina- ção, como auxílio para experienciar as res- postas sugeridas como involuntárias, e quan- do foram informados que as respostas hip- nóticas não apenas ocorrem, mas devem ser representadas e podem ser sentidas como involuntárias por meio da imaginação apro- priada. Por este modelo conceitual as respostas às sugestões pós-hipnóticas são mediadas por aspectos da situação e pelas expectativas, po- dendo ser consideradas objetivo-dirigidas, de aparecimento não automático.68 A redução da dor segundo esta teoria deve-se à reinter- pretação da experiência sensorial pelo pa- ciente, e não à redução na intensidade da ex- periência sensorial. A lembrança de fatos que foram pedidos para o paciente esquecer e que não são evo- cados pelo esforço do paciente volta quando é acionado um sinal condicionado existente para lembrar. O material supostamente es- quecido também é lembrado quando há su- ficiente pressão social, significando que mesmo os pacientes altamente suscetíveis para os quais é sugerido esquecer algum fato, não perdem o controle voluntário sobre os seus processos de memória. HIPNOSE COMO OBEDIÊNCIA E CRENÇA (GRAHAM F. WAGSTAFF — 1981,1986) Este pesquisador de Liverpool, Inglater- ra, acredita não haver uma só explicação para todos os fenômenos hipnóticos.69,70 Wagstaff afirma que a noção de estado hipnótico foi responsável por segurar o progresso e a com- preensão dos fenômenos hipnóticos.71 Espe- ra-se que uma teoria adequada sobre a hip- nose explique inteligentemente o comporta- mento que se observa em situações defini- das como “hipnose”. Contudo, não se deve esperar que uma teoria sobre hipnose deta- lhe o que justifica um comportamento que pode ocorrer em qualquer situação seja ou testes, e por suas capacidades em gerar as imagina- ções e as outras experiências pedidas pelas sugestões e como a retroação a partir do hipnólogo e a partir de suas próprias respostas influencia as definições que eles mesmos têm como indivíduos hipnóticos”. (Tra- dução do autor.) CAP˝TULO 2 29 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. não hipnótica.71 Assim, Wagstaff vem usan- do desde 1981 termos como “hipnose” e “hip- nótico” no sentido operacional.69 Os conceitos básicos deste teórico são: (1) Obediência, considerada como uma forma especial de conformidade, referindo-se ao comportamen- to manifesto que se torna como o comporta- mento que outros mostram ou que é espera- do e que é mais usualmente aplicado para acomodar respostas. (2) Crença, que seria a aceitação de uma coisa como verdadeira. Estes conceitos explicam porque algumas vezes o paciente acha que não estava hipno- tizado, porque lembrava tudo o que o especi- alista tinha falado. Se o paciente esperava não lembrar o que o especialista falou, ele pode achar que não estava hipnotizado (ain- da que tivesse cumprido o que achava que era esperado dele). Por outro lado, se ele esperava a hipnose como a sensação de es- tar relaxado e confortável, e isso foi o que ele experienciou, ele pode acreditar que es- tava hipnotizado (mesmo que nenhuma alte- ração profunda na consciência tenha experi- mentado). Aprincipal razão por que as pes- soas começam a responder aos procedi- mentos hipnóticos provém do desejo de coo- perar e do desejo de descobrir o que vai acontecer;69 e nas situações terapêuticas há ainda o desejo de fazer qualquer coisa que seja terapeuticamente benéfica.72 Finalmen- te, este autor, participante da corrente socio- cognitiva, considera a interação como parte de um processo de três estádios, baseado na expectativa, estratégia e obediência, não ne- cessariamente ocorrendo nessa ordem.72 A obediência não é do tipo tudo ou nada. Dife- renças individuais ocorrem nas respostas por- que as pessoas têm expectativas e atitudes diferentes relacionadas com a hipnose,73 além de desejos diferentes para cumprir as suges- tões. Ele considera ainda que precisamos saber como a imaginação pode produzir a secura na boca, como as sugestões afetam as respostas da pele e como funciona um placebo. O estudo dos neuropeptídios abre a possibilidade para a elucidação dessas ques- tões relacionadas com os efeitos das suges- tões. Wagstaff considera importante o estu- do da hipnose como um rótulo para um con- texto ou uma situação, não como um estado ou um processo cerebral.71 TEORIA DO APRENDIZADO SOCIAL (IRVING KIRSCH — 1985, 1990,1991) Com este modelo conceitual a teoria da expectativa de Kirsch74,75 é uma extensão da teoria do aprendizado social. As expectati- vas podem gerar respostas não volitivas, de- finidas como sendo experienciadas, como ocorrendo sem esforço voluntário. Com este modelo conceitual os pacientes são partici- pantes ativos da interação social que veio a ser chamada de “hipnose”. Os pacientes hip- notizados fazem uma variedade de atos ob- jetivos dirigidos, mas essas respostas não são nem ações, nem acontecimentos, mas sim os resultados ou objetivos em direção aos quais as ações dos pacientes são aspiradas.76 Os pacientes hipnotizados são muito motivados pelo desejo de experienciar o fenômeno hip- nótico, e seus comportamentos estratégicos são primariamente aspirados para gerar es- sas expectativas.77 As pessoas podem con- trolar as suas ações, mas elas não têm total controle sobre os resultados de suas ações.76 Se as respostas hipnóticas fossem simples- mente atos voluntários, sua probabilidade de ocorrência seria idêntica à intenção da pes- soa dar origem a elas, e isso não ocorre. As pessoas podem pretender experienciar uma resposta hipnótica, tentar muito e falhar. Isso indica que as respostas não estão totalmente sobre o controle voluntário. A tese essencial da teoria da aprendizagem considera que o comportamento pode ser prognosticado pela 30 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. expectativa que levará a um determinado re- sultado e pelo valor desse resultado.72 A ex- pectativa que uma pessoa experienciará res- postas hipnóticas e o valor positivo que está unido a essas expectativas conduzem as pes- soas a se engajar em vários comportamen- tos dirigidos ao objetivo, esforçando-se por gerá-los. Em conclusão, o modelo da aprendizagem social aplicado à hipnose considera as atitu- des em relação à hipnose, as expectativas de respostas, outras variáveis como a habili- dade imaginativa favorecendo comportamen- tos e cognições intencionais e tudo isso fa- vorecendo a resposta hipnótica.77 Esta teo- ria contradiz os defensores de um “estado hipnótico” porque até agora estudos experi- mentais não demonstraram a presença de nenhum estado especial de consciência que pudesse ser rotulado de “transe” ou “estado hipnótico”. O que há é uma variedade de modificações nas experiências, interpretadas como evidência de um “transe”, quando elas são experienciadas num contexto hipnótico, algumas sendo explicitamente sugeridas pelo hipnólogo, outras sendo geradas pelas pré- concepções do paciente sobre a hipnose. Essas modificações na experiência levam os pacientes a acreditar que poderão experien- ciar efeitos sugeridos; uma expectativa que é capaz de gerar aqueles efeitos.78 Além dis- so, as expectativas e as fantasias dirigidas ao objetivo podem interagir de três modos para fazer brotar respostas hipnóticas:76 (a) Os efeitos das expectativas são mediados pelo uso de estratégias imaginativas pelo indivíduo. (b) As fantasias-objetivo dirigidas são inteiramente mediadas pela expectativa da resposta, de tal modo que as expectativas é que geram as respostas hipnóticas. (c) Fan- tasias-objetivo dirigidas podem gerar respos- tas hipnóticas, e as expectativas positivas re- alçam essa resposta. A expectativa é defini- da como a probabilidade subjetiva, varian- do de 0 a 100, de que algum evento vai ocor- rer.79 A eficácia da indução hipnótica pare- ce depender inteiramente da crença do paci- ente nela, de modo que os indivíduos alta- mente suscetíveis respondem de acordo com as suas crenças sobre respostas hipnóticas. Nessa linha de pensamento, as induções hip- nóticas são rituais de modificações de ex- pectativas, e qualquer efeito pode ser atri- buído ao seu uso (aumento de respostas às sugestões), pode ser interdependente com os efeitos da expectativa. A essência da hipno- se seria a capacidade da crença e expectati- va das pessoas em fazer brotar mudanças na experiência. E a maneira como as pessoas se comportam após a hipnose também de- pende de suas expectativas. As expectativas podem ter efeitos diretos sobre as respostas hipnóticas e efeitos indiretos pela mediação nos comportamentos e cognições intencio- nais e, assim, afetar as respostas hipnóticas.76 MODELO SOCIAL-PSICOBIOLÓGICO (ÉVA I. BÁNYAI — 1982, 1991) Segundo este modelo, a hipnose é um es- tado alterado de consciência que surge como resultado das interações recíprocas entre o hipnólogo e o indivíduo.80 A hipnose é in- fluenciada pelas características pessoais e disposições fisiológicas do indivíduo e do hipnólogo; é influenciada pelas manifesta- ções fisiológicas, comportamentais, e modi- ficações experimentais subjetivas que acom- panham o processo de indução e os testes da hipnose. Este é um modelo sempre em mu- dança, que procura delinear a interdependên- cia de diversos elementos da interação indi- víduo-hipnólogo. É um modelo de interação porque os aspectos comportamental, experi- ência subjetiva, relacionamento e fisiológico são igualmente considerados importantes, e porque ainda enfatiza a relação entre o indi- CAP˝TULO 2 31 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. víduo e o hipnólogo. Os pacientes esperam ter uma experiência que altera a mente, que eles tipicamente pensam ser como o sono, e esperam que o hipnólogo tome conta deles. Por outro lado, o hipnólogo freqüentemente expressa um desejo de auxiliar o paciente a ter novas experiências. Um importante fator contextual é a definição da situação como hipnose. Quando um procedimento é defini- do como hipnótico, ele tem efeito radicalmen- te diferente (principalmente fenomenológico) do que um procedimento idêntico ou similar, não rotulado de hipnótico.81 Além da situa- ção denominada hipnótica, outros fatores contextuais incluem: prestígio, localização do consultório ou do laboratório, idade das pes- soas, a vestimenta das pessoas e o estilo de trabalhar do hipnólogo. A evidência sugere que os pacientes com alta suscetibilidade hipnótica são mais fle- xíveis do que os com baixa suscetibilidade em alternar o uso dos hemisférios cerebrais, quando as tarefas administradas exigem essa alternância. A suscetibilidade hipnótica está também relacionada com a flexibilidade para desviar o foco da atenção seletiva, de modo que os indivíduos com mais alta suscetibili- dade têm maior habilidade em focalizar numa tarefa e ignorar os estímulos não relacionados com essa tarefa.82 A húngara Éva Bányai considera a suscetibilidade hipnótica uma ca- racterística relativamente estável, que pode ser ou não suficientemente flexível para ma- nifestar sua flexibilidade dentrodo contexto social. Essa flexibilidade no contexto social pode ser considerada como a facilidade com a qual uma pessoa entra no relacionamento social, no qual é iniciado um processo mútuo, fortemente regulador, que é o desenvolvimen- to característico das relações interpessoais. Esta flexibilidade social pode ser avaliada como uma capacidade para entrar num rela- cionamento regredido. Esta pesquisadora também introduz os ter- mos, “estilo pessoal de trabalho” para signi- ficar a maneira característica pela qual o hipnólogo entra na interação definida como hipnose. O estilo pode ser físico/orgânico fun- damentado na freqüente ocorrência da interação sincrônica e pelo uso das manifes- tações do corpo, durante o procedimento hip- nótico, ou o estilo analítico/cognitivo funda- mentado num relativo afastamento entre hipnólogo e paciente, confiando nas experi- ências pessoais (pensamentos) do paciente, em vez de nas manifestações corporais. Com este modelo conceitual a hipnose pode ser considerada como um estado com- plexo, que pode ser diferenciado e caracte- rizado levando em conta três fatores:80 (1) A experiência subjetiva da pessoa hipnotiza- da. (2) O comportamento observável da pes- soa hipnotizada. (3) As alterações fisiológi- cas na pessoa hipnotizada. Como 78% dos pacientes, espontanea- mente, relatam um estreitamento da atenção após a indução, Mészáros, Bányai e Greguss afirmam que “independently of the changes of the general level of activation evoked by different types of hypnotic induction — relaxation and active-alert — it is the modification of selective attention that lies behind the caracheristic behavioral and subjective changes in hypnosis”83 (p. 474).* E, além disso, a atenção às comunicações do hipnólogo está acompanhada por uma pre- ponderância seletiva da atividade do hemis- fério cerebral direito,84 o qual parece ser su- perior na distribuição da atenção através do espaço e na percepção e produção da emo- *“Independentemente das mudanças no nível geral da ativação evocada por diferentes tipos de indução hip- nótica — relaxamento e ativa-alerta —, é a modificação da atenção seletiva que está por trás do comportamen- to característico e das alterações subjetivas da hipno- se”. (Tradução do autor.) 32 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ção.85 Portanto, esta teoria considera o tra- ço característico da hipnose, que a diferen- cia de outros estados alterados de consciên- cia, o caráter social. A alteração da consci- ência aparece numa situação interpessoal, na qual a atenção é focalizada nas comunica- ções do hipnólogo, de modo que a direção da atenção é controlada por esta comunicação. As pessoas altamente suscetíveis são aptas para dirigir a atenção em direção ou afasta- da dos estímulos internos ou externos, de acordo com as comunicações do hipnólogo, ao passo que as pessoas com baixa susceti- bilidade não são suficientemente flexíveis para fazer isso. Para Éva Bányai a indução da hipnose auxilia o paciente a dirigir a atenção para as comunicações do hipnólogo, e o auxilia tam- bém a desenvolver uma relação especial regredida com o hipnólogo. Durante a indução, o hipnólogo percebe as manifesta- ções da expressão corporal do paciente e interage retornando com outras comunica- ções verbais e não-verbais sobre as sensa- ções percebidas no corpo do paciente. Na seqüência da indução, o paciente provavel- mente atribui essas mudanças aos efeitos da hipnose ou do hipnólogo, e mais cedo ou mais tarde ele começa responder às suges- tões do hipnólogo, como se o hipnólogo ti- vesse se tornado o padrão estrutural de refe- rência no background da atenção. A atenção suporta, interpreta e dá significado a toda a experiência. A retroação verbal durante a indução tipicamente afeta os indivíduos al- tamente suscetíveis, porque aparecerão acen- tuadas modificações da atenção seletiva, cognição, comportamento e mesmo altera- ções fisiológicas que são atribuídas ao hip- nólogo. Ainda é importante salientar a exis- tência de uma ativação diferencial na região parietoccipital direita e região frontal esquer- da, podendo indicar envolvimento dessas regiões na fisiologia cerebral, mediando os efeitos da indução hipnótica. Eu considero que a PET será fundamental na análise das modificações funcionais cerebrais durante a hipnose. Para esta pesquisadora, estado alterado (modificado) de consciência não significa uma alteração tipo tudo ou nada do estado normal de vigília, mas significa servir a fun- ção de organizar nosso conhecimento sobre a hipnose de um modo similar à maneira que conceitos naturais são organizados na vida diária. RELAXAMENTO HIPNÓTICO (WILLIAM E. EDMONSTON JR. — 1981, 1986, 1991) O relaxamento é o fator primeiro, funda- mental e pré-requisito da hipnose. O relaxa- mento vem antes dos aspectos clínicos, ex- perimentais, fisiológicos, e historicamente de outros aspectos como dissociação, desempe- nho de um papel, regressão psicológica. O outro aspecto é a flutuação nos níveis de aler- ta decorrente das sugestões subseqüentes. Há quase 6.000 anos de registro da história, con- tinuamente, há referências à poderosa asso- ciação entre técnicas de relaxamento e o que nós eventualmente denominamos de hipno- se.86 Em 1981 Edmonston Jr. demonstrou que as respostas dos indivíduos durante a hipno- se são semelhantes às respostas durante uma condição simples de relaxamento.87 Como o relaxamento é a base do que é chamado hip- nose, Edmonston Jr. propôs o termo anesis para substituir o termo hipnose.87 Anesis vem do grego e significa relaxamento. Com o rela- xamento (anesis) três características defini- das ocorrem: (1) Impressão subjetiva de ato involuntário. (2) Amnésia espontânea. (3) Hi- persugestibilidade. Para Edmonston Jr. as res- postas às sugestões são realçadas pelo rela- xamento. Em 1976 Coleman88 inicia sua tese de doutoramento com a hipótese de trabalho CAP˝TULO 2 33 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. que se tornou a conclusão final: “The only difference between relaxation procedures and hypnotic induction procedures is the name given them” (p. 13).* O relaxamento pode ser físico ou cognitivo. O relaxamento cognitivo é o caso do paciente que faz muito trabalho intelectual, e ao fazer uma atividade física como, por exemplo, pedalar uma bici- cleta, faz um relaxamento mental. Também pode ser o caso do relaxamento psicológico decorrente de uma indução cinética da hip- nose. O relaxamento será mais profundo quando houver simultaneamente relaxamen- to somático e cognitivo.89 SISTEMA DE COMUNICAÇÃO INFLUENCIADA (MICHAEL D. YAPKO — 1995) Yapko introduz a hipnose clínica como um sistema de comunicação especializada (treinada) e influenciada, que ensina como palavras podem curar.90 A hipnose clínica é uma habilidade em usar palavras e gestos de maneira particular para obter resultados específicos. Considerar a hipnose como um processo de comunicação influenciada é uma extremamente, quase embaraçosa, de- finição geral. Apenas a presença de outra pessoa altera o seu comportamento. Não é uma questão se você influenciará pessoas, pois indubitavelmente você influenciará, mas uma questão de como você influencia- rá. Não há um conjunto de regras sobre o que faz a comunicação mais influenciável. O que interessa e satisfaz uma pessoa, não interessa, nem satisfaz outra pessoa. Para verdadeiramente influenciar, a tarefa do profissional é descobrir onde (e não se) uma pessoa está aberta para sugestões (pois a maioria das pessoas está em um certo grau). Conhecer o que o paciente quer, e o melhor meio de alcançar é pelo rapport durante a obtenção da história clínica. Durante a his- tória clínica, o paciente percebe se o espe- cialista compreendeu e tem simpatia pela sua experiência. A variável mais significante na determinação da eficácia da comunica- çãohipnótica é o modo como a mente cons- ciente e a mente inconsciente respondem a uma mensagem.62 Já em 1982 Furst dizia que “a hipnose é simplesmente um meio muito eficiente para uma pessoa dar instruções a outra pessoa. Hipnose é dar instruções de tal maneira que a pessoa que as recebe se sente compelida a segui-las, devido a um desejo de agradar ao hipnotista”91 (p.11). Ele considerava que deveria ser criada uma situação espe- cial e existir um relacionamento especial en- tre o hipnólogo e o paciente. Contudo, tam- bém não explicava qual é essa situação es- pecial. ABORDAGEM INTERATIVA CENTRADA NO PACIENTE (MILTON H. ERICKSON — 1980) O médico psiquiatra americano Milton H. Erickson (1901-1980) desenvolveu não uma teoria sobre a natureza da hipnose, mas sim uma abordagem totalmente diferente das existentes até então, que revolucionou a hipnologia no século XX. A abordagem ericksoniana de utilização é centrada no pa- ciente. A indução é indireta, interativa, par- tindo da observação do paciente, e de todas as reações e comportamentos do paciente. Alguns pontos característicos dessa aborda- gem incluem: a) Abordagem sugestiva vaga e indireta, permitindo opções de escolha ao paciente. b) Abordagem interativa com o paciente. *“A única diferença entre procedimentos de relaxa- mento e procedimentos de indução hipnótica é o nome dado”. (Tradução do autor.) 34 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. c) Abordagem centrada no paciente, uti- lizando as reações do mesmo. d) Abordagem enfatizando a comunica- ção com o paciente. e) Abordagem enfatizando as interações na vida diária do paciente. Segundo a abordagem ericksoniana, pode-se induzir quaisquer pessoas ao transe hipnótico. O hipnólogo precisa apenas en- contrar o caminho que leve cada pessoa à hipnose e o modo como a pessoa entra em transe hipnótico. O modo de encontrar esse caminho é por meio de todas as reações do paciente, validando essas reações e estabe- lecendo uma determinada reação para des- cobrir o caminho que leva determinada pes- soa ao transe hipnótico.92,93 A hipnoterapia ericksoniana tem como característica essencial não o transe formal, que pode ou não ser empregado, mas sim um sistema interpessoal de comunicação focali- zado unicamente nos indivíduos envolvidos e objetivando primariamente descobrir ca- pacidades inconscientes de respostas.94 A hipnose como um processo é mais qualitati- vamente similar as outras experiências sub- jetivas, como o amor que pode variar de uma pessoa para a outra.95 A abordagem erickso- niana começa com a concepção de como pro- mover a influência interpessoal, vindo da prática para a teoria. É usada a comunicação hipnótica como uma estratégia para alcan- çar objetivos, e Erickson afirma: “the therapist’s task is to elicit in the patient a process of inner resynthesis, from which effective results can proceed”96 (p. 38). * Zeig, um dos discípulos de Erickson, acres- centa: “Fundamentally, what develops in hypnosis does not derive from the presented suggestions per se, but from how the patient internally processes and idiosyncratically utilizes these suggestions”94 (p. 281).** Des- se modo, as mínimas respostas do paciente, suas experiências passadas e o ambiente social são as fontes dos recursos para futu- ras sugestões direcionadas aos objetivos terapêuticos. O grau de sugestões indiretas utilizado na condução do tratamento era di- retamente proporcional à quantidade de re- sistência antecipada. Erickson achava que a vida do mesmo modo que a terapia é vivida no presente e dirigida para o futuro. Esta abordagem é realizada no contexto in- terpessoal, utilizando cuidadosamente as re- alidades e motivações do paciente, com o es- forço contínuo do terapeuta para fazer bro- tar e desenvolver os recursos inerentes ao paciente, em direção aos objetivos tera- pêuticos. MODELO INTEGRADO DE HIPNOSE (STEVEN J. LYNN E JUDITH W. RHUE — 1989, 1999, 1991) O comportamento hipnótico é o resultado do que a pessoa pensa e acredita sobre a hip- nose, do que ela imagina ou deixa de imagi- nar, o que ela aplica para fazer ou não apli- ca, ou que ela deseja fazer ou não, ou como ela percebe a comunicação hipnótica e como avalia a sua experiência.97 As pessoas hipno- tizadas, do mesmo modo que as não-hipnoti- zadas, agem em termos de seus desejos, de acordo com seus pontos de vista, e com re- lação às suas interpretações do comporta- mento e sentimentos apropriados.98 Como os mesmos processos e mecanismos que podem explicar o comportamento hipnótico, tam- bém podem explicar o comportamento fora da hipnose, esta teoria apresenta uma apro- *“A tarefa do terapeuta é provocar no paciente um pro- cesso de ressíntese interna, a partir do qual pode pro- ceder efetivos resultados”. (Tradução do autor.) **“Fundamentalmente o que se desenvolve na hipno- se não deriva das sugestões de per se, mas de como o paciente internamente processa e idiossincrasicamente utiliza estas sugestões”. (Tradução do autor.) CAP˝TULO 2 35 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ximação de bom senso para a hipnose. As respostas hipnóticas refletem a sensibili- dade do indivíduo para explicitar e implicitar exigências do papel que se revela no contex- to das transações entre o hipnólogo e o indi- víduo. As respostas hipnóticas não podem ser reduzidas a uma característica ou a um me- canismo, são uma mistura de capacidades e processos social e cognitivo. Este modelo vai contra os modelos que dão prioridade a um fator único como determinante da hipnose, quer seja esse fator o relaxamento, a regres- são psicológica ou a dissociação. Este mo- delo considera interagindo mutuamente a imaginação, o esforço ao objetivo dirigido, atitudes, representações do hipnólogo e ex- pectativas talvez facetas inseparáveis do comportamento do indivíduo. Como há uma mistura de aspectos do social e do cognitivo, este modelo conceitual foi denominado inte- grado. Os pontos essenciais desta teoria são: (1) O comportamento hipnótico é um com- portamento social influenciado pelos mes- mos processos que determinam os compor- tamentos mundanos. Assim, pessoas hipno- tizadas apresentam respostas que têm to- das as propriedades de respostas voluntári- as: são dirigidas para os objetivos, são re- guladas por suas necessidades e intenções e podem ser progressivamente modificadas para realizar os objetivos. As atividades men- tais não ocorrem passivamente, mas têm pro- pósito, guiadas para preencher exigências contextuais explícitas e implícitas. (2) Os indi- víduos hipnotizados mantêm a capacidade de iniciar e de terminar seus comportamentos e suas atividades cognitivas; além de resistir ou se opor ao hipnólogo, podendo controlar suas imaginações e ações.99 O simples fato de definir a situação como hipnótica ativa esquemas sociais e culturais. O rapport é um importante determinante de respostas hipnóticas para pessoas com bai- xa suscetibilidade, porque um mau rapport para essas pessoas pode ocasionar uma opo- sição ao hipnólogo e provocar atitudes nega- tivas, a partir da situação hipnótica. Além disso, qualquer pensamento que rompa a sen- sação de segurança e proteção sobre ser hip- notizado pode comprometer o rapport, desconcentrar a atenção das sugestões, in- terromper o fluxo livre, espontâneo, de qua- lidade involuntária das respostas e diminuir o entusiasmo e a boa vontade da pessoa para ser hipnotizada.97 Estes teóricos contradizem quatro aspec- tos que defendem a idéia da hipnose ser um estado de consciência, a saber: literalismo, perda da realidade nos testes durante a hip- nose, transe lógico e respostas involuntárias. Em suas pesquisas demonstraram que 87,5% dos indivíduos hipnotizados não apresenta- vam respostas literais. Os indivíduos hipno- tizados mantêm a capacidade de diferenciar o que é sugestão dos acontecimentos exter-nos. A explicação para o transe lógico que alguns pacientes exibem seria decorrente da interpretação das sugestões do hipnólogo como sendo apropriadas. As respostas con- sideradas involuntárias não são decorrentes da perda do controle do comportamento, mas formadas por muitos determinantes: (a) pre- concepções do paciente, auto-representa- ções, (b) expectativas do paciente e suges- tões relacionadas com as imaginações, (c) o rapport com o hipnólogo, (d) a tática usada pelo paciente para resolver exigências confli- tantes da situação. Quando é transmitida uma sugestão para resistir a uma sugestão anteriormente for- mulada para o paciente hipnotizado, mui- tos apresentam um conflito entre respon- der ou resistir. O paciente pode ser levado a responder à sugestão enquanto desejava resistir à sugestão, para manter-se de acor- do com as instruções explícitas para fazer isso. Um modo de resolução do conflito seria dar prioridade para as sugestões repe- 36 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. tidas para fazer uma ação em vez da su- gestão para resistir. PERSPECTIVA DO ECOSSISTEMA APLICADA À HIPNOSE (DAVID P. FOURIE — 1986, 1989, 1991) Ecologia é o estudo científico das intera- ções que determinam a distribuição e a abun- dância dos organismos.100 Esta perspectiva está baseada na teoria dos sistemas, sendo sistema definido como um conjunto de ob- jetos e suas atribuições, em inter-relação uns com os outros.101 Esse conceito foi desen- volvido por Bateson102, em 1972, que consi- derou um sistema como uma ecologia de idéi- as. Esta visão da hipnose é totalmente dife- rente da visão da epistemologia da ciência newtoniana, por três aspectos:103 (1) Não reduz a circunstância hipnótica a elementos ou partes. A hipnose não é vista como uma entidade ou como um estado de consciência existindo dentro do próprio indivíduo; a hip- nose é vista como uma situação na qual cer- tas classes de comportamento (dependentes das idéias de todas as pessoas envolvidas na situação) são vistas como do tipo chamado “hipnótico” ou involuntário. (2) Por esta perspectiva ecossistêmica a hipnose não é causada por nada. Quando o comportamen- to ocorre, e os participantes (o indivíduo ou paciente, o hipnólogo e os observadores) consideram como sendo hipnótico, eles mu- tuamente qualificam como hipnótico. Os comportamentos são ordinários, designados como hipnóticos, porque são baseados na si- tuação qualificada como hipnótica e nas ex- pectativas e idéias de todos os participantes considerando tal situação como hipnótica. Desse modo, os procedimentos de indução não causam a hipnose; eles têm a função de servir como veículo para um processo de qualificação mútua e interrompem o fluxo de eventos de tal modo a indicar que os com- portamentos durante e subseqüentes à indu- ção podem ser vistos e qualificados como hipnóticos.103 Em relação a isso é verdadeiro o fato afirmado por Fourie de que se um de- terminado comportamento usual não ocor- re, mas aparece um comportamento oposto, este comportamento oposto é qualificado por um hipnólogo experiente como sendo hip- nótico. Por outro lado, quando o paciente apresenta um comportamento inicial que é esperado pelo hipnólogo, pelo próprio paci- ente, por observadores e pela situação como sendo hipnótico, esse comportamento cons- titui o primeiro passo evolutivo no desen- volvimento de uma rede interdependente de idéias ou ecologia de idéias, existindo no sis- tema naquele momento. Aqui também se pode considerar que as exigências caracte- rísticas da situação69 podem desempenhar papel na evolução, mas não causam a hipno- se. As estratégias intrapsíquicas que podem ser usadas pelo indivíduo como as fantasias objetivo-dirigidas104 também não causam a hipnose. (3) Todos os participantes são ob- servadores da situação hipnótica, mas ne- nhum dos participantes pode ser um obser- vador objetivo, porque todos são parte do sistema. Esta perspectiva considera que a hipnose ocorre na situação, não na pessoa. Portanto, a hipnose não teria realidade ab- soluta, mas seria construída pelas pessoas en- volvidas na situação particular, podendo ser diferente de uma situação para outra. O sis- tema hipnótico opera como um todo, com cada participante funcionando de acordo com o que é esperado dele, em seu sistema parti- cular. O hipnólogo não induz a hipnose, mas desempenha o papel de executivo, organi- zando o sistema de tal modo que a pessoa designada como paciente esteja em foco. Dentro destes conceitos, as pessoas que ob- têm altos graus de suscetibilidade nos testes são as que bem se ajustam à situação estru- CAP˝TULO 2 37 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. turada e autoritária dos testes, ao passo que as pessoas que obtêm baixos graus, são as que não se sentem confortáveis com a estruturação dos testes.103 HIPNOSE COMO COMPROMISSO COGNITIVO MOTIVADO (PETER W. SHEEHAN — 1991) O conceito essencial para Sheehan é com- prometimento cognitivo motivado, que refle- te as motivações positivas do indivíduo para responder cooperativamente com o hipnólogo, não simplesmente para se conformar ou sub- meter-se, mas sim para processar as comuni- cações do hipnólogo de uma maneira cogniti- va ativa, a fim de resolver o problema de res- ponder apropriadamente às sugestões.105 Esse compromisso cognitivo motivado mostra a uti- lidade do reconhecimento da variabilidade do comprometimento para as respostas hipnóti- cas, que existe entre os indivíduos altamente suscetíveis. Este teórico considera essa varia- ção do comprometimento decorrente do fun- cionamento do processo de motivação que caracteriza as diferenças em níveis de envolvimento que os indivíduos hipnotizados estão querendo exibir. Outra característica essencial deste modelo conceitual é a exten- são para a qual o indivíduo hipnotizado é ca- paz de experienciar o mundo como percebido e o mundo real como existe, simultaneamen- te. Este modelo ainda enfatiza a relação entre a sugestão e a atividade mental do indivíduo hipnotizado, criada pela sugestão. PARADIGMA MULTIDIMENSIONAL (THEODORE X. BARBER — 1997) O paradigma multidimensional engloba e unifica três tipos de hipnose, focalizando di- ferentes aspectos da natureza da hipnose em pessoas altamente suscetíveis:106,107 (1) A escola que considera a hipnose como transe, estado, neodissociação focalizada na dimen- são das pessoas propensas à amnésia, com características parecidas com as do sono e com automatismo aparente, seguido por am- nésia. (2) A escola que considera a hipnose comportamento cognitivo, social e psicológi- co focalizada na dimensão das pessoas posi- tivamente estabelecidas, envolvendo um es- tado de consciência caracterizado pelo rela- xamento mental. (3) Ambas as escolas an- teriores deixavam de focalizar a dimensão das pessoas com propensão para fantasias, que envolve essencialmente o mesmo esta- do de consciência como a absorção na fan- tasia realística. Portanto, este novo paradig- ma engloba a hipnose das pessoas propen- sas à fantasia, a hipnose das pessoas propen- sas à amnésia, que têm características seme- lhantes ao sono, com aparente automatici- dade seguida de amnésia, e a hipnose das pessoas positivamente estabelecidas, relacio- nadas com relaxamento mental e sensação de deixar-se ir. As pessoas propensas à fantasia podem apresentar três subtipos:106,107 • Desenvolveram talentos de fantasia associados a atividades imaginativas infantis. • Talentos de fantasia desenvolvidos du- rante o aprendizado para escapar men- talmente de situações indesejáveis do ambiente, precocemente na vida. • Talentos para fantasiar o real como real pelo envolvimento em fantasias sexuais no início da vida, baseado no prazer dos contatos sexuais experienciados intermi- tentemente. As pessoas propensas à amnésia podem apresentar dois subtipos:106,107 • Aspessoas que aprenderam durante a infância a escapar mentalmente do abu- so, desenvolvendo habilidades de sepa- 38 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. rar, suprimir ou dissociar memórias e experiências. As pessoas que aprende- ram durante a infância a cumprir com os desejos dos adultos e ter amnésia para eventos em resposta a repetidas expe- riências de furtivas relações sexuais com um adulto, enquanto a criança es- tava aparentemente dormindo. As pessoas positivamente estabelecidas, que são muito bons indivíduos hipnóticos, podem apresentar dois subtipos:106,107 • As pessoas altamente socializadas, co- operativas, amigáveis, que freqüente- mente adotam atitudes e expectativas positivas em situações sociais e estão prontas para ceder aos desejos e às su- gestões de outras pessoas. • As pessoas altamente socializadas, coo- perativas e amigáveis que são bons pa- cientes hipnóticos, simplesmente porque um hipnólogo experiente removeu as defesas, medos e concepções erradas sobre a hipnose e ampliou as expectati- vas, desejos, atitudes adequadas relacio- nadas com a hipnose. Este paradigma exposto por Barber ainda engloba mais três dimensões: (a) A psicolo- gia social da experimentação psicológica in- cluindo regras sociais implícitas, obrigações, papéis e expectativas mútuas que afetam o comportamento das pessoas nas situações dos experimentos. (b) A dimensão do hipnólogo incluindo a sua empatia, sabedoria, eficácia na comunicação que influenciam profunda- mente a pessoa. (c) A dimensão das instru- ções e sugestões, incluindo sugestões ajusta- das para a pessoa com propensão a fantasias (regressão de idade), a pessoa propensa à amnésia (sugestões para bloquear memórias, dor, audição, visão e outras sensações), su- gestões que se ajustam à pessoa positivamen- te estabelecida (realçar habilidades de apren- dizado, proficiência, força).108-110 MODIFICAÇÕES FUNCIONAIS NO ENCÉFALO E A HIPNOSE Como funciona a maior ou a menor ca- pacidade hipnótica das pessoas? Como as su- gestões funcionam dentro do encéfalo? 1. A revisão de Laurence et al.111 sugere que diferenças individuais na velocidade do processamento cognitivo nos lobos frontais desempenham um papel na hipnotizabili- dade. E as pessoas mais altamente hipnoti- záveis têm mais efetivos sistemas de aten- ção e inibição do que as pessoas pouco sus- cetíveis à hipnose.112 2. Comum a todas sugestões hipnóticas são os mecanismos de atenção focalizada, resul- tado do funcionamento da atividade cortical frontal, e alucinação obstrutiva, resultado do funcionamento dos sistemas corticais poste- riores, que modulam as imagens mentais.113 3. Os estudos com sugestão hipnótica e a correlação anatomofuncional com a dor sen- sorial e o processo afetivo indicam que “changes associated with the induction of hypnosis are consistent with the production of a state of relaxation that may facilitate internally generated imaginative processes through the reduction of inhibitory mecha- nisms such as cross-modality suppression. On the other hand, suggestions to alter perception produced strong changes in fron- tal cortices that may reflect the contribution of verbal processes and the active biasing of the perceptual experience.”114 (p. 7).* As sugestões ativam as regiões frontais e esta *“Modificações relacionadas com a indução da hipno- se são consistentes com a produção de um estado de relaxamento que poderia facilitar processos imaginati- vos internamente gerados tal como a supressão moda- lidade cruzada e, por outro lado, sugestões para alterar a percepção produzem fortes modificações no córtex frontal que podem refletir a contribuição do processo verbal e a ativa tendência da experiência perceptual”. (Tradução do autor.) CAP˝TULO 2 39 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ativação está positivamente correlacionada com a suscetibilidade hipnótica, sendo ain- da mais intensa no lobo frontal direito.115 4. A indução tradicional da hipnose pelas técnicas de relaxamento suporta a associação entre hipnose e: “(1) activation of anterior frontolimbic inhibitory processes, (2) anterior inhibition or disconnection, either latera- lised or left hemisferic regions or bilateral de- pending on the processes examined, (3) in- volvement of right temporoposterior pro- cessing, (4) evidence of superior attentional abilities in high susceptibles, (5) evidence of poor attentional abilities in unsuscep- tible subjects with progressive improvement through the induction, and (6) no evidence of right hemisphericity in the baseline state in susceptible subjects”116 (p. 6).* 5. As pessoas com alta suscetibilidade hip- nótica e com alta capacidade para apresentar alucinações têm ativada uma região na parte anterior do giro do cíngulo (área 32 de Broad- man), detectada por meio da PET, quando ou- vem um estímulo auditivo como uma mensa- gem gravada, e quando alucinam ouvir essa mensagem gravada (é dito que ouvirão uma mensagem gravada, mas não há mensagem gravada e apenas o som do gravador sendo ligado), mas não quando apenas imaginam ouvir essa mensagem gravada; ao passo que pessoas com alta suscetibilidade hipnótica sem capacidade para alucinar não mostram ativa- ção significante da parte anterior do giro do cíngulo e sim no córtex auditivo de associa- ção (área de Broadman 22).117 6. Pessoas com alta suscetibilidade hip- nótica quando hipnotizadas, sendo pedido para ver colorido, apresentaram ativação detecta- da pela PET das áreas corticais (fusiformes) responsáveis pela visão das cores no hemis- fério cerebral esquerdo (mais acentuado) e no direito, independente de estarem vendo um padrão colorido ou em branco e preto; ao passo que sem a hipnose a área cortical res- ponsável pela visão de cores do hemisfério cerebral esquerdo não era ativada.118 Ape- nas a ativação da área fusiforme do hemis- fério cerebral direito ocorre pelas imagens mentais de per se,119 ao passo que a ativa- ção do hemisfério cerebral esquerdo ocorre só durante a hipnose. A predominância da ati- vação da área de visão a cores durante a hip- nose no hemisfério cerebral esquerdo está de acordo com os achados obtidos por Maquet et al.120 por meio da PET ao examinar aspec- tos funcionais da hipnose, e com achados de Rainville et al.121 também utilizando PET, su- gerindo que a predominância do hemisfério cerebral esquerdo seja devida à mediação verbal das sugestões hipnóticas. PERCEBER, PENSAR, ANALISAR E EVOLUIR Vários modelos conceituais explicando ou não aspectos da relação hipnótica foram expostos. Alguns são conflitantes, alguns parecem similares. Para muitos, o que deno- minamos hipnose serve para catalogar um conjunto de procedimentos que potencializam certas capacidades preexistentes nas pesso- as.122 O ponto essencial em qualquer tipo de tratamento é produzir uma mudança, e por meio da hipnose pode-se freqüentemente modificar a maneira como se interpreta uma situação e em conseqüência influenciar as respostas fisiológicas do organismo. Os teó- ricos tentam explicar aspectos da hipnose *“1) A ativação do processo inibitório frontolímbico. 2) Inibição anterior ou desconexão lateralizada para regiões do hemisfério cerebral esquerdo ou bilateral, dependendo do processo examinado. 3) Envolvimento do processamento temporal posterior direito. 4) Evi- dência de habilidades superiores de atenção nas pessoas altamente suscetíveis. 5) Evidência de pobre habilidade de atenção nas pessoas pouco suscetíveis. 6) Não evi- dencia dominância do hemisfério direito no estado de base em indivíduos suscetíveis”. (Tradução do autor.) 40 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. enfatizado aspectos da situação hipnótica, aspectos do paciente e aspectos do hip- nólogo, bem como enfatizam variáveis como as expectativas, as motivações e as atitu- des do paciente,a obediência ou anuência do paciente ao hipnólogo, a capacidade ima- ginativa do paciente, a sua propensão para fantasia, a propensão para amnésia, a habi- lidade para dissociação, a confiança do hipnólogo, o comprometimento do paciente com a hipnose. Os pesquisadores concebem a hipnose delimitada pelos determinantes da pesquisa. Os indivíduos pesquisados apresen- tam motivações completamente diferentes das apresentadas pelos pacientes na prática clínica. Os pesquisadores no laboratório fa- zem o possível para que a técnica seja igual para todos os testados, ao passo que na clíni- ca a tendência é a individualização da técni- ca, da fraseologia e flexibilidade no tratamen- to. Desse modo, os dados laboratoriais nem sempre são coerentes com os obtidos na prá- tica clínica.123 A maioria dos teóricos é psicólogo traba- lhando no laboratório experimental de hipno- se, e, por isto, a imensa maioria das teorias expostas mostra apenas os aspectos psico- lógicos da hipnose, sem preocupação em ten- tar mostrar o que ocorre nas estruturas ce- rebrais, no metabolismo, nos neurotransmis- sores, nas sinapses e nos receptores exis- tente no encéfalo. Além disso, na maioria das pesquisas os grupos controle são consti- tuídos basicamente por estudantes universi- tários, principalmente estudantes de psico- logia e, portanto, apresentam um nível edu- cacional e uma idade mais ou menos homo- gênea, além de estarem de certa forma com a atenção voltada para os resultados da pes- quisa e provavelmente influenciarem a situa- ção hipnótica pela atmosfera do ambiente universitário. Esses grupos controles são di- ferentes dos grupos controle obtidos nos es- tudos clínicos randomizados. Desde a última década do século XX, os estudiosos sobre hipnose aproximam-se com maior freqüência dos neurofisiologistas e imaginologistas para analisar o que ocorre no encéfalo durante a hipnose, usando a medi- ção do fluxo sangüíneo cerebral regional (FSCR), a PET, a RMf, o MEG, o registro eletroencefalográfico de potenciais evocados relacionados com eventos (PRE). Neste novo milênio, espera-se a multiplicação dos estu- dos clínicos controlados e randomizados com o uso da hipnose para se estabelecer normas corretas do emprego da hipnose no tratamen- to das diversas doenças, para ajustar-se à tendência atual da medicina baseada em evi- dências. Um ponto importante seria o especialista comprometido com a hipnose perceber, ana- lisar, pensar e pesquisar sobre os diferentes aspectos dos modelos conceituais apresen- tados, tendo a meta cristalina de criar um paradigma que explique melhor tanto a ex- periência hipnótica vivenciada pelo pacien- te quanto o seu comportamento, e também o que ocorre no encéfalo durante a hipnose. Fazendo uma analogia ao computador, na hipnose precisamos conhecer os aspectos psicológicos (como transportar um arquivo de um lugar para outro) e também os aspec- tos neurofisiológicos (o que ocorre intrinse- camente no computador quando esse trans- porte ocorre). Seria inapropriado formular uma teoria psicológica da hipnose sem con- siderar os substratos psicofisiológicos e neurofisiológicos do processo ou uma teo- ria neurofisiológica sem levar em conta am- bos os aspectos.124 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Hadley J, Staudacher C. Hypnosis for change. 3rd ed. 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CAP˝TULO 3 47 CAP˝TULOCAP˝TULO © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Características do Paciente Hipnotizado Até a década de 1980, o que se dizia da hipnose podia ser colocado na forma negati- va. Hipnose não é sono, não é sonho, não é decorticação funcional, não é inibição irradia- da. Uma dificuldade para explicar a hipnose é devida à correlação do comportamento con- trolado verbalmente ser particularmente obs- cura.1 O que se poderia denominar caracte- rísticas da pessoa hipnotizada depende essen- cialmente da perspectiva de análise das ca- racterísticas dentro de um modelo conceitual de hipnose. Para muitos teóricos o que ocor- reria com uma pessoa durante a hipnose ocor- reria com essa mesma pessoa nas atividades da vida cotidiana, e, portanto, não haveria ne- nhuma característica especial da hipnose que pudesse ser diferente das características exi- bidas pela pessoa na vida diária. Por outro lado, os seguidores da “teoria do estado” con- cebem a pessoa hipnotizada estando numa condição ou estado diferente do estado de vi- gília usual, denominado estado alterado de consciência ou estado alternativo ou estado modificado ou estado hipnótico ou estado es- pecial ou condição hipnótica e conseqüente- mente apontam características particulares desse estado ou condição. Contudo, o que sig- nifica isso? Alterado ou modificado do quê? Alternativo do quê? Alguns consideram tudo que uma pessoa não está percebendo, sentin- do ou participando no aqui e no agora, como um estado modificado. Até hoje os defenso- res da “teoria do estado” não conseguiram provar a existência desse estado particular.2 A designação “estado modificado” poderia ser usada descritivamente para apontar, simples- mente, para a observação que algumas pes- soas relatam durante a hipnose de apresenta- rem modificações subjetivas.3 Alden e Heap consideram que a hipnose pode ser mais bem concebida como um conjunto de habilidades para ser empregada por uma pessoa do que como um estado.4 Entre os pesquisadores há um consenso geral de que a hipnose é um fe- nômeno com diferenças individuais, no qual a imaginação em algumas pessoas tornar-se tão intensa e viva que adquire o valor de realidade, a ponto de uma pessoa hipnotizada 48 CAP˝TULO 3 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ter dificuldade em diferenciar a fantasia da realidade.3 Abela5 considera a hipnose como um es- tado distinto, apresentando características neurofisiológicas específicas e opostas de acordo com a alta ou baixa suscetibilidade das pessoas e simultaneamente com uma habilidade maior do que a normal para acessar e influenciar a experiência. Para Stark, “hypnosis is actually a cultural convenction, a situation where we make particulary effective use of imagination by manipulating expectations. This is true in both self-hypnosis and hypnosis with each other. The hypnosis with other people also involves the particularly effective use of social cue to manipulate expectations”6 (p. 30).* Este au- tor ainda acrescenta que a hipnose é um “esta- do alterado” pelo menos no sentido que pres- tando atenção de um modo particular ou sen- tindo de uma particular maneira são “estados alterados”, e a influência hipnótica significa alterar o que nós esperamos perceber e o que nós esperamos que aconteça; e isso, por sua vez, modifica como nós interpretamos a situa- ção, alterando desse modo o que nós espera- mos, tem o poder de alterar como nós pensa- mos, sentimos e agimos e desse modo a influ- ência hipnótica está relacionada com a altera- ção do nosso senso de autocontrole.6 A sensação interna da pessoa durante a ex- periência da hipnose, usualmente, envolve a sensação de bem-estar, parecendo que as coi- sas acontecem automaticamente, sem esforço, sem intenção consciente e que a percepção geral da realidade parece que retrocede para o fundo do consciente. A hipnose não proporcio- na nenhuma habilidade especial, e a capacida- de de fazer uso de várias habilidades normais, pela vontade, pode ser de enorme utilidade. Quando se compreender detalhadamente o fun- cionamento mental e cerebral de o ser humano criar a experiência subjetiva em geral, se com- preenderá o funcionamento mental e cerebral durante a hipnose. Na realidade queremos sa- ber se há diferença e, em caso afirmativo, qual é a diferença na neurofisiologia, neuroquímica e atividade elétrica cerebral entre uma pessoa com alta suscetibilidade à hipnose e outra com baixa suscetibilidade; e numa mesma pessoa se há diferença quando ela está respondendo melhor às sugestões e quando ela está respon- dendo menos às sugestões; entre uma pessoa simulando a hipnose e uma pessoa realmente experienciando a hipnose; e, ainda, entre uma pessoa em hipnose sem outras sugestões e a mesma pessoa em hipnose recebendo outras sugestões. CARACTERÍSTICAS DA PESSOA HIPNOTIZADA OU CARACTERÍSTICAS DA HIPNOSE Hilgard considera as seguintes caracte- rísticas do estado hipnótico:2 1. Abrandamento da função de planifi- cação. 2. Redistribuição da atenção. 3. Redução nos testes de realidade e to- lerância. 4. Disponibilidade para memórias visuais do passado e aumentada habilidade para a produção de fantasias. 5. Aumento da sugestionabilidade. 6. Comportamento de desempenhar pa- pel. 7. Amnésia para o que se divulgou du- rante o estado hipnótico. 8. Respostas às sugestões de modo lite- ral, primitivo, usualmente demorando um pouco.1,7,8 *Para Stark “hipnose é realmente uma convenção cul- tural, uma situação onde nós fazemos particularmente efetivo uso da imaginação pela manipulação das ex- pectativas. Isto sendo verdadeiro para ambos auto-hip- nose e hipnose. A hipnose com outras pessoas também envolve o uso particularmente efetivo de sinais sociais para manipular as expectativas”. (Tradução do autor.) CAP˝TULO 3 49 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Abrandamento da Função de Planificação O indivíduo hipnotizado perde a iniciati- va e falta desejo para fazer ou executar pla- nos. Ele possui habilidade para iniciar uma ação e para falar. O ponto importante é que ele tem pouco desejo de fazer isso. Redistribuição da Atenção Quer dizer que a atenção é seletiva, que não se presta atenção igualmente a todos os aspectos do meio ambiente e que a atenção seletiva e a desatenção seletiva vão além dos limites usuais. Durante a hipnose isso se manifesta de várias maneiras, como, por exemplo, o indivíduo pode ouvir apenas a voz do hipnólogo e não ouvir ou responder a outras vozes. Redução nos Testes de Realidade e Tolerância para a Persistente Distorção da Realidade Na vida cotidiana esses testes de realida- de passam despercebidos, mas se prestarmos atenção notaremos que com freqüência che- camos nossa orientação olhando em torno, olhando o tempo no relógio, ajustando a rou- pa etc. Durante a hipnose esses testes estão reduzidos, em parte como resultado das su- gestões de relaxamento e das objetivas. A redução nos testes de realidade leva à acei- tação de distorções da realidade, como acei- tação de falsas memórias, alterações na pró- pria personalidade, modificações na veloci- dade de como passa o tempo, ausência de extremidades do corpo em pessoas que es- tão na mesma sala, nominação inapropriada de objetos e pessoas. O abrandamento da função de planifica- ção, a redistribuição da atenção e a redução nos testes de realidade durante a hipnose podem ser explicados pelaocupação das fun- ções do lobo frontal nas instruções de foca- lização da atenção (processamento fronto- temporal do hemisfério cerebral esquerdo),9 que, uma vez ocupado, torna-se inibido e essa inibição é a sustentação dos três aspectos anteriores.10 Disponibilidade de Memórias Visuais do Passado e Aumentada Habilidade para a Produção de Fantasias Durante a regressão de idade, quando é pedido para retornar aos acontecimentos ocorridos no passado, a lembrança parece facilitada pela disponibilidade de imagens visuais. As memórias não são todas verídi- cas, e o especialista pode sugerir de fato a realidade de memórias para fatos que não ocorreram. A memória durante a hipnose, do mesmo modo que a memória fora da hipno- se, pode ser tanto produtiva como reprodu- tiva. Em qualquer caso, o aparecimento das memórias visuais parece ser mais vívido do que fora da hipnose. Sugestionabilidade Aumentada É apenas uma das características da hip- nose, originando-se pelo menos em parte como uma conseqüência das alterações já mencionadas no estado da pessoa. Freqüen- temente é conveniente estudar a hipnose em termos das alterações na sugestionabilidade, independente de como essas alterações ocor- rem. A aumentada sugestionabilidade e a aumentada resposta às sugestões são expres- sadas pela grande vontade de o paciente ser guiado pelas sugestões do hipnólogo, pro- 50 CAP˝TULO 3 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. vavelmente devido à expectativa de haver alguma coisa a ser ganha pela aceitação das sugestões. E as sugestões do hipnólogo de- sencadeiam respostas dentro do paciente.7 O simples fato de se dizer que se vai fazer uma hipnose é suficiente para realçar as res- postas às sugestões testes. Um fator impor- tante para isso parece ser que durante séculos praticamente as pessoas assumiram que du- rante a hipnose os indivíduos manifestam um alto nível de respostas às sugestões testes. Comportamento de Desempenhar um Papel As sugestões que um indivíduo em hipno- se aceitará não estão limitadas aos atos ou às percepções específicas. Ele verdadeiramente adotará um papel sugerido e executará ativi- dades complexas correspondentes ao papel. Amnésia para o que se Divulgou dentro do Estado Hipnótico Não é um aspecto essencial da hipnose, e mesmo para um indivíduo capaz de amnésia pós-hipnótica espontânea pode ser dito que ele recordará o que ocorreu durante o estado hipnótico, e, então, ele lembrará disso. A amnésia é um aspecto muito comum que pode ser promovido pela sugestão. Na vida diária as pessoas também apresentam amné- sia para vários fatos. Respostas às Sugestões de Modo Literal, Primitivo, Demorando um Pouco O médico deve prestar muita atenção às pa- lavras das sugestões, bem como ao tom da voz, às pausas e às inflexões da pronúncia da sen- tença. Se dissermos: Você pode dizer o nome do seu pai? Uma resposta possível seria: Posso ou não posso. Outra resposta possível seria sim ou não, porque não estamos literalmente pedin- do para dizer o nome do pai. Ou dizemos ao paciente: Você pode falar, e ele pode entender que pode falar, mas não fala. Não fala porque literalmente na frase não dissemos para ele fa- lar. Observe ainda que as respostas do pacien- te demoram um pouco para ocorrer, e isso é tão importante que o especialista deve dar tempo para o paciente responder às sugestões. Res- postas literais foram consideradas como um as- pecto do estado hipnótico ou como indicativo do comportamento hipnótico por vários auto- res.5,11,12 Contudo, essas respostas literais ocor- rem em 21,78% das respostas de pessoas não hipnotizadas dentro ou fora da biblioteca de um Campus Universitário.13 Lynn et al. consi- deraram que as respostas literais estavam as- sociadas com as percepções das pessoas sobre o que constituía o comportamento apropriado e com a sensação de estarem passivas na situa- ção, e não com um particular estado alterado de consciência ou condição da pessoa.14 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DE UMA PESSOA EM HIPNOSE Não sabemos o momento exato em que uma pessoa passa do estado usual de consci- ência para o digamos assim chamado “esta- do hipnótico” ou “condição hipnótica”. A di- ferenciação é mais pelo grau, intensidade, do que por aspectos específicos. Com o uso continuado da hipnose adquire-se experiên- cia e pode-se notar características físicas as- sociadas com o assim chamado “estado de hipnose”. As alterações físicas podem ser observadas, mas não definem por si só a hip- nose, porque podem ocorrem também nas pessoas durante as atividades diárias. Obser- ve atentamente as pessoas imediatamente antes da hipnose, e durante a hipnose procure notar quais as modificações físicas e fisio- CAP˝TULO 3 51 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. lógicas que estão ocorrendo com relação ao que apresentavam antes. Procure por: ð Relaxamento muscular que pode ser observado na musculatura facial como a perda da expressão; no apa- gamento dos sulcos nasogenianos dei- xando a face plana; no relaxamento da mandíbula deixando a boca entrea- berta; na assimetria na face. Pode ser observado nos músculos do pescoço, quando o pescoço se flexiona para a frente ou para um dos lados. Pode ser observado na musculatura em geral quando um braço é levantado e de- pois solto, e cai pesadamente sobre o colo. Quando o paciente deitado apre- senta rotação externa dos pés. ð Modificações na cor da pele. Exem- plo é a palidez na face. ð Modificações na cor dos olhos fican- do avermelhados, possivelmente de- vido ao relaxamento da musculatura da órbita, facilitando o maior fluxo de sangue através das veias. ð A pupila freqüentemente sobe de modo que quando os olhos estiverem abertos percebe-se a maior porção da parte branca do olho, e quando os olhos estiverem fechados, observa-se uma ruga na pálpebra superior. ð Alteração dos movimentos respirató- rios. Ficam mais lentos ou mais rápi- dos, mais superficiais ou mais profun- dos. Prestar atenção ao padrão respi- ratório inicial de cada paciente para poder notar as modificações. ð Alterações na freqüência de pulso, ge- ralmente ficando mais lento. ð Fechamento dos olhos. ð Diminuição da motricidade voluntária. ð Tremor palpebral. ð Expressões fisionômicas e corporais relacionadas com as sugestões formu- ladas. ð Movimentos em um ou mais dedos de aparecimento súbito e involuntário. ð Sacudidelas nas mãos. Acenos com a cabeça. ð Lacrimejamento, atribuído ao relaxa- mento dos músculos ao redor dos ductos lacrimais. ð Modificação do diâmetro das pupilas. ð Modificações na unidade da pele, como sudorese maior ou menor. ð Sem sugestões específicas, mudanças na temperatura do corpo. Em alguns há aquecimento, em outros há resfria- mento. Naturalmente, sugerindo que o paciente está numa praia as 11:00h de um dia com muito sol e calor, a temperatura corporal pode elevar-se e haver sudorese. ð Alguns referem secura na boca duran- te a indução, dependente da técnica de indução. ð Alguns referem durante a indução, sem sugestões específicas, parestesias nas extremidades (sensação de formi- gamento e pinicamento). ð Quando solicitamos que o paciente se comunique por meio de gestos (por exemplo, levantar um dedo), ou pela linguagem falada, as respostas do paciente usualmente são lentas, não são imediatas, e o movimento parece decomposto ou espasmódico. O movimento não é em bloco, como um todo. ð Movimentos oculares lentos como um indicador involuntário da hipnose15 foi proposto em 1969; seriam movimentos similares aos encontrados no estádio I do sono.16 Esses achados foram repli- cados e verificados que os movimentos oculares lentos ocorriam não somente na indução tradicional da hipnose, mas também com um grupo controle sob re- laxamento não hipnótico.17 52 CAP˝TULO 3 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEULTDA. ð Sinais de hipnose moderada a boa se- gundo alguns autores18,19 incluem: tre- mor palpebral, fechamento palpebral espontâneo, flacidez dos músculos faciais, profundo relaxamento muscu- lar, respiração lenta e profunda, alte- ração do reflexo da deglutição. CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS DO ESTADO HIPNÓTICO • Atenção seletiva • Resposta › a sugestão • Transe lógico • Dissociação • Interpretação subjetiva • Relaxamento Atenção Seletiva É a capacidade de focalizar a atenção numa parte relevante do estímulo ou da experiên- cia, desligando-a do restante. A atenção sele- tiva envolve a atividade do sistema de vigi- lância da atenção localizado anteriormente, interagindo com regiões corticais e subcorti- cais posteriores.20 Dissociação Na qual a mente consciente está ocupada com o procedimento hipnótico ao passo que a mente subconsciente está ativamente pro- curando significados simbólicos, associações passadas e respostas apropriadas. Resposta Aumentada às Sugestões Durante a hipnose há aumento da recep- tividade às sugestões para as pessoas alta- mente suscetíveis. Contudo, esse aumento das respostas às sugestões pode ocorrer tam- bém sem hipnose, apenas pelo aumento de expectativas, atitudes e motivações. Interpretação Subjetiva Significa que a pessoa responde às su- gestões segundo seu próprio referencial. Transe Lógico Não há necessidade de a experiência da pessoa ser inteiramente realística ou racio- nal. É um estado voluntário do paciente de aceitação das sugestões, sem a avaliação crí- tica entrar em jogo, a qual poderia alterar a validade e o significado de alguma suges- tão. Relaxamento Pode-se estar em hipnose sem relaxamen- to,7 mas eu considero que pode não haver relaxamento físico, mas há relaxamento men- tal ou vice-versa, por que o relaxamento pode ser somático (do corpo), cognitivo (mental) ou ambos.21 Desse modo uma pessoa após muito trabalho mental, pode relaxar fazen- do um exercício físico. O relaxamento é uma característica que a maioria das pessoas as- socia com a hipnose, e para Edmonston Jr. é a base fundamental dos outros aspectos que aparecem depois.22 As alterações nas sensações do corpo que estão associadas com o processo de indução, como alteração do tamanho do corpo ou das partes do corpo, desaparecimento de partes do corpo, alterações do equilíbrio, alteração na percepção da temperatura, alterações no sentimento de realidade, alterações na per- CAP˝TULO 3 53 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. cepção da voz são devidas a muitas variá- veis inter-relacionadas:23 (a) deixar os olhos fechados por muito tempo, (b) ficar esperan- do alguma coisa acontecer, (c) ficar esperan- do alterações nas sensações do corpo, (d) as sugestões transmitidas de relaxamento, mais profundo relaxamento, sono e hipnose. MODOS DE ANALISAR A HIPNOSE OU O “ESTADO HIPNÓTICO” OU A “CONDIÇÃO HIPNÓTICA” Compreende-se que há uma certa dificul- dade em dizer que um indivíduo se compor- ta de um determinado modo porque ele está hipnotizado, quando o único modo que al- guém pode dizer que ele está hipnotizado é que ele se comporta desse modo. Orne23 co- locou em dúvida o “estado hipnótico”, mui- to embora isso não fosse sua intenção. Do ponto de vista cético, ele destaca que os in- divíduos tendem a responder como o que ele denomina de características exigidas pela situação hipnótica. O que ocorre na hipnose é uma resposta normal para o que é espera- do ocorrer durante a hipnose, e pode tam- bém ocorrer fora da hipnose. Um exemplo é pedir para os estudantes na sala de aula tira- rem os sapatos, trocar de paletós e entregar o relógio de pulso para o professor. Os estu- dantes assim procedem, simplesmente, por- que o professor pediu e eles concordam com o pedido. Se essas mesmas coisas fossem feitas na hipnose poder-se-ia ficar impressio- nado. Com a demonstração dos estudantes confirma-se que as pessoas não hipnotiza- das também fazem as coisas quando a situa- ção social pede ou requer. Para Barber do ponto de vista cognitivo- comportamental, os conceitos de transe hip- nótico, hipnose, estado hipnótico não só são desnecessários, mas também enganosos para explicar o fenômeno.24 Do ponto de vista cognitivo-comportamental,24 os pacientes podem levar ao assim chamado comporta- mento hipnótico, quando eles têm atitudes positivas, motivações e expectativas em di- reção à situação-teste que os leva de boa von- tade para pensar e imaginar com os temas que são sugeridos. Alguns pesquisadores como Barber, não consideram a hipnose como um estado especial de consciência, pois aceitar um estado especial de consciên- cia implicaria aceitar que a hipnose é uma alteração do normal, tal como o sono difere da vigília. Contudo, esse autor reconhece que as diferenças individuais que caracterizam os mais ou os menos hipnotizáveis represen- tam um componente de habilidade, que Hilgard chama características das respostas hipnóticas.25 É possível suportar a teoria da característica da hipnose, negando a teoria do estado de hipnose, ou suportar a teoria do estado de hipnose, assumindo a posição que qualquer um pode entrar no estado de hipnose desde que as condições sejam favo- ráveis. E pode-se mesmo apoiar simultanea- mente a teoria do estado especial de hipnose e a teoria da característica da hipnose. Neste caso, as repostas hipnóticas podem ser con- sideradas como o produto de um estado al- terado de consciência, estado de transe que é modulado por fatores psicossociais, como influência social, habilidades pessoais, e possivelmente os efeitos da modificação das estratégias.26 Há aqueles que reconhecem diferenças em facilidade de hipnotizar, mas reconhecem também que mesmo a pessoa altamente hipnotizável não está num estado hipnótico especial todo o tempo. Um resu- mo27 das informações dos teóricos que dis- cordam da existência de um estado hipnóti- co compreende: (a) Não há nada, nenhuma variável clínica, fisiológica, exame labora- torial ou psicológico que identifique, ou que marque a existência de um estado especial chamado “estado hipnótico”. (b) Todos os 54 CAP˝TULO 3 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. fenômenos que ocorrem seguindo a indução hipnótica, também podem ocorrer sem a indução hipnótica. (c) Pequeno aumento da sugestionabilidade que ocorre após a indução hipnótica, pode ser duplicado ou suprimido por outros procedimentos, como instruções tarefas motivadas; treinamento da imagina- ção ou uso de placebo. Objetivamente não reconhecer a hipnose como um estado especial de consciência é minimizar a importância da indução hipnó- tica, pois não havendo um estado para o pa- ciente entrar, por que fazer o processo de indução? Contudo, foram feitas pesquisas28 que comparavam os resultados das mesmas sugestões formuladas antes da indução hip- nótica e após a indução hipnótica. E os indi- víduos responderam melhor após a indução do que sem a indução. Pode-se, contudo, considerar que a indução hipnótica bem conduzida maximiza as positivas expectati- vas de resposta de uma pessoa. Por outro lado, para pessoas altamente hipnotizáveis o papel da indução pode ser mínimo. Após hipnotizarmos um paciente e instituirmos um sinal condicionado, pode-se hipnotizá-lo rá- pida e simplesmente pelo emprego desse si- nal condicionado, por vezes denominado âncora. Erickson, como Hilgard, considera existir um estado de transe, um estado hipnótico. Dentro da estrutura ericksoniana, para Mathews et al.29 “transe hipnótico é um pe- ríodo quando as limitações conscientes do paciente são pelo menos parcialmente suspensas, de modo que o indivíduo pode ser receptivo para associações alternativas e meios de funcionamento mental que são facilitadores para a solução de problemas”. Contudo, até agora, as pessoas que conside- ram existir um estado de transe ainda não comprovarama existência desse estado. O’Hanlon30 considera o transe hipnótico como sendo um estado diferenciado de lin- guagem, e faz analogia que provar a existên- cia do estado de hipnose seria o equivalente a encontrar um meio de medir o amor. Nós sabemos quando estamos apaixonados e as pessoas ao nosso redor também percebem as mudanças em nossas atitudes. E, segun- do esse autor, poderia haver teóricos que defendem a existência de um estado de pai- xão e teóricos que defendessem sua não exis- tência. O’Hanlon acha que os teóricos no- mearam distinções lingüísticas e, do ponto de vista clínico, independentemente da com- provação ou não da existência do estado de transe hipnótico, ele sabe quando um pa- ciente está em estado de transe e pode ensi- nar aos outros reconhecerem esse estado.30 Para outros, “transe é apenas pegar uma experiência consciente e alterá-la em algu- ma outra coisa”31 (p. 29). Estes autores, Grinder e Bandler, observaram que as pes- soas se especializam em prestar atenção e em processar as informações em um canal sensorial, predominantemente visual ou au- ditivo ou cinestésico.31 Esses sistemas usa- dos para representar as nossas experiências foram denominados por eles sistemas repre- sentacionais. Quando se sabe em qual esta- do a pessoa está representando suas experi- ências, em termos de sistemas representa- cionais, qualquer outro estado representa- cional é um estado alterado para essa pes- soa. Para uma pessoa que no momento está representando suas experiências no estado visual, o estado alterado de consciência se- ria representá-las (alterá-las para) no estado cinestésico ou no auditivo. Para muitos psi- cólogos, transe é um estado de limitada cons- ciência (awareness), e uma pessoa estaria em transe quando sua atenção está limitada e há uma certa repetição de pensamentos. Há ainda quem considere a hipnose a ha- bilidade para acessar estados de transe espe- cíficos de cada dia pela vontade, e defina transe como um estreitamento do estado de CAP˝TULO 3 55 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. atenção.32 Exemplos de estados de transe es- pecíficos do cotidiano incluem: um entusias- mado internauta navega pelos seus sites pre- feridos na Internet totalmente ligado na teli- nha do computador, como se nada existisse além da tela; um exímio tenista, durante uma partida num torneio do circuito internacio- nal de tênis, permanece com a atenção con- centrada na bola, na quadra e no adversário. O que é estado consciente, consciência? Para Davitz e Cook “consciência é a conse- qüência da interação entre o acontecimento em si e a forma pela qual ele é vivenciado pelo ser humano.”33 É difícil precisar os li- mites da consciência porque cada pessoa percebe o mundo de modo diferente. Há li- mitações neurológicas, sociais e individuais na percepção do mundo por uma pessoa.34 Consciência, sob o aspecto neurológico, sig- nifica um estado cônscio de si mesmo e do ambiente, com dois aspectos: o conteúdo da consciência, a essência das funções mentais, correlacionado com os hemisférios cerebrais e o outro aspecto, o despertar, intimamente ligado à aparência da vigília, correlacionado com as estruturas do tronco cerebral.35 Para uma pessoa perder a consciência decorrente de lesão neurológica, a lesão deve estar na formação reticular do tegumento pontome- sencefálico ou no diencéfalo.36 Lesões cor- ticais só produzem perda de consciência se forem extensas e bilaterais. Por outro lado, doenças da consciência, segundo Watt,37 in- cluem esquizofrenia, autismo e transtorno de identidade dissociativa. Com o nosso corren- te estado do conhecimento, “consciência parece refletir estados altamente dinâmicos ou organizações estruturando as relações entre sistemas cerebrais com o sistema ativador reticular talâmico ampliado, como um nexo central integrado, suportando ambas as funções de comportas (gating) e de união, decisivas para a consciência e permitindo um espaço de trabalho global”.37,38 O que é estado alterado (alternativo ou modificado) de consciência? Pode-se definir “como uma modificação temporária no pa- drão total da experiência subjetiva, tal que o indivíduo acredita que o seu funcionamento mental é distintamente diferente de certas normas gerais do seu normal estado de cons- ciência de vigília”39-41. Pode-se ainda fazer uma distinção entre os termos que aparecem na literatura inglesa: awareness (alerta) e consciousness (consciência). Awareness se- ria o conhecimento que alguma coisa está ocorrendo, que é percebida, sentida, cogni- zada na sua forma mais simples; ao passo que consciousness se refere à totalidade de ambos os fenômenos inferidos e potencial- mente experienciados, da qual totalidade a awareness e a consciousness são componen- tes.42 Uma exemplo esclarece melhor esses conceitos: se estamos deitados lendo um li- vro e passa na rua uma veículo fazendo ba- rulho, a awareness é a simples percepção do barulho; a consciousness é uma operação mais complexa que identifica o som como produzido por um veículo, sua altura e in- tensidade, podendo nos orientar para saber se o veículo está se aproximando ou afas- tando, e mesmo nos informar sobre o tipo do veículo. Por que as sugestões são aceitas e agem mais rápida e poderosamente durante a hip- nose, com relação ao estado de vigília? Para Hartland, no estado hipnótico o poder do criticismo é parcial ou completamente supri- mido.43 E para entender como isso ocorre deve-se primeiro aceitar o conceito de men- te inconsciente. Há uma parte da mente que está constantemente influenciando nossos pensamentos, sentimentos e comportamen- tos. É o reservatório da memória, de nossas experiências passadas. Normalmente nós não temos noção disso. Nós denominaremos a mente inconsciente de subconsciente, e a compararemos a um disco rígido de compu- 56 CAP˝TULO 3 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. tador. Hartland considera o poder do criti- cismo enormemente restrito à mente consci- ente e, por isso, a mente consciente tem o poder de rejeitar uma sugestão que possa ser feita. Quando as sugestões passam pela men- te consciente e penetram diretamente na mente inconsciente (subconsciente), que apresenta nenhum ou mínimo poder de criticismo, o subconsciente é inteiramente incapaz de re- jeitar a sugestão. Assim, as respostas durante a hipnose dependem da extensão que o poder de criticismo é suprimido, e de quanto o po- der de rejeição normalmente executado pela mente consciente é removido. Apesar disso, não há respostas às sugestões quando estão em desacordo com a vontade consciente de uma pessoa, e ainda, as sugestões para serem aceitas precisam estar sintonizadas com as informações presentes no subconsciente. Mo- dificações discretas são mais facilmente acei- tas do que as radicais. Pode-se considerar que as sugestões são aceitas e agem mais rápida e poderosamente durante a hipnose segundo algumas habili- dades isoladas ou em conjunto que apresen- tam alguns indivíduos: (1) Suscetibilidade hipnótica da pessoa aos testes (altamente suscetíveis, 20%, pouco suscetíveis 10%. (2) Propensão à fantasia, 4%. (3) Propensão à amnésia e à dissociação — parece que estas pessoas apresentam maior facilidade para responder às sugestões de amnésia, redução do tônus muscular, de escrita automática, sugestões pós-hipnóticas, sugestões de am- nésia pós-hipnóticas, e apresentam dificul- dade para falar. (4) Imaginação absorvente, que é a propensão para episódios de com- pleto compromisso com disponíveis fontes perceptivas, motoras, imaginativas e de idéias para uma representação unificada do objeto da atenção.44 Pode ser dirigida inter- namente para uma fantasia ou para uma sen- sação corporal, ou externamente para moni- torar os detalhes do meio ambiente. A imagi- nação absorvente é percebida quando cessa a verbalização interna de uma pessoa. (5) In-divíduos que querem imaginar junto com as sugestões do hipnólogo em vez de opor-se a elas. São pessoas nas quais a capacidade hipnótica pode variar segundo: (a) as suas atitudes, motivações e expectativas, (b) o grau do rapport de um hipnólogo para ou- tro, (c) as características das sugestões trans- mitidas, (d) as exigências da situação. Shames e Sterin consideram quatro os in- gredientes da hipnose45 (a) motivação, (b) re- laxamento, (c) concentração, (d) direção. A motivação seria o mais importante. O relaxa- mento é um fator algumas vezes dispensável. A concentração seria limitar as coisas que está fazendo a uma só, é o mesmo que limitar a atenção a uma só coisa. A direção seria a apli- cação de uma técnica para dirigir as energias para uma finalidade específica, dentre essas a principal técnica é a da visualização. Perry aponta os principais fatores da res- posta hipnótica: imagens/imaginação, absor- ção, dissociação e automaticidade.3 O’Hanlon considera quatro portas que con- duzem ao transe:30 (1) Desfocalização ou afas- tamento. Exemplo: Na areia da praia observar o movimento das nuvens. (2) Focalização. É a fixação da atenção num determinado ponto, como, por exemplo, num programa de televi- são, num som musical. (3) Dissociação ou di- vidir a atenção, quando estamos fazendo duas coisas simultaneamente. Por exemplo, dirigir um carro conversando com um amigo que está ao lado no assento do carro. (4) Comportamen- to padronizado ou rítmico. Os exemplos in- cluem rezar o terço, cantar, correr. Ressaltamos que a hipnose pode ser conduzida sem as sugestões de sono, ou as- sociada às sugestões de sono. Para alguns, a hipnose sem as sugestões de sono era dita hipnose parcial, e a seguida às sugestões de sono era a hipnose total.46 No Nordeste do Brasil, mais precisamente em Pernambuco, CAP˝TULO 3 57 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. em 1973, já era afirmado que o estado hip- nótico não requer que o sujeito esteja em estado de sono.47 Até o presente momento não se pode des- cobrir qualquer indício fisiológico que per- mita distinguir se um indivíduo está ou não hipnotizado.48 Portanto, “se não é possível falar em estado hipnótico, no sentido estri- tamente fisiológico do termo, parece inegá- vel que a hipnose constitui um estado de consciência particular, que implica certa mo- dificação da reatividade psicofisiológica do organismo”49 (p. 86). Num estudo experimental com 104 indiví- duos, Chertok,49 Chertok et al.50 notaram a existência de várias formas de transe que va- riavam conforme os indivíduos e também num mesmo indivíduo. Desses indivíduos, em 52 foi aplicada a análise fatorial (análise das cor- respondências de Benzécri) que distinguiu os cinco fatores mais importantes da estrutura do transe: (1) Perda parcial de controle e per- da de contato com o meio circundante e a rea- lidade. Este fator opõe os indivíduos hipnotiza- dos aos indivíduos não-hipnotizados. (2) Aten- ção focalizada ou difusa. (3) Controle interno ou controle externo. (4) Nível de atividade mental: passividade ou atividade. (5) Nível de resistência: resistência, auxílio, ajuda. As com- binações dos fatores 2, 3, 4 e 5 determinariam as várias formas de transes. As seguintes manifestações eram consi- deradas como indicativas do “transe hipnóti- co”, contudo, são passíveis de crítica: (1) res- postas literais,11,51 (2) transe lógico,23 (3) perda da realidade nos testes, (4) respostas não- voluntárias. O literalismo das respostas ocorre em pe- queno número de pessoas quer durante ou quer fora da hipnose, e está relacionado com a percepção do indivíduo sobre o que cons- titui o comportamento apropriado e com o seu sentimento passivo na situação.49,50 Con- tudo, o literalismo pode ser explicado pela obediência às exigências das tarefas e senti- mentos de passividade, em vez de um esta- do alterado de consciência. Transe lógico definido por Orne como a “ability of the subject to mix freely his per- ceptions derived from reality with those that stem from imagination and are perceived as hallucinations”23 (p. 259).* Contudo, outros pesquisadores consideram que as pessoas que exibem o transe lógico interpretam as enfáticas sugestões do hipnólogo para, por exemplo, soletrar palavras conhecidas ape- nas de adultos (quando estão em regressão), apenas como uma indicação de que esse com- portamento está apropriado.24 Indivíduos hipnotizados não renunciam ou abdicam sua capacidade de monitorar os acontecimentos de cada dia. Indivíduos “pro- fundamente” hipnotizados podem dizer se um evento foi sugerido ou se ocorreu no meio ambiente.52 A maioria dos teóricos, com exceção dos defensores da perspectiva social cognitiva para a hipnose, considera que as respostas hipnóticas envolvem a redução ou perda do controle voluntário. Respostas não voluntá- rias podem ser decorrentes das expectativas pré-hipnóticas e do fato de que muitos indiví- duos acreditam que as respostas hipnóticas são involuntárias. “O comportamento hipnó- tico é involuntário apenas no sentido de que os indivíduos percebem ele como tal”.52 Em 1990 Lynn et al. rejeitam que as respostas hipnóticas sejam involuntárias e apontam cinco razões para considerar as respostas hipnóticas como voluntárias:53 (1) Elas têm as propriedades do comportamento voluntá- rio: têm propósito, são dirigidas ao objetivo, * O transe lógico é definido por Orne23 como “a habilida- de do indivíduo misturar livremente suas percepções derivadas da realidade com aquelas provenientes da ima- ginação e são percebidas como alucinações”. (Tradu- ção do autor.) 58 CAP˝TULO 3 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. podem ser reguladas nos termos das inten- ções das pessoas e podem ser progressiva- mente modificadas para melhor alcançar os objetivos dos indivíduos. (2) As pessoas hip- notizadas podem resistir à sugestão quando a resistência é definida como consistente com o papel de um bom indivíduo hipnotizado. (3) O comportamento hipnótico não é refle- xo, nem é a manifestação de um estímulo inato. (4) Elas consomem fontes de atenção de um modo semelhante às respostas não- hipnóticas. (5) As atividades cognitivas da pessoa hipnotizada claramente demonstram suas tentativas ativas para preencher os re- querimentos das sugestões hipnóticas que indi- cam experimentar sugestões relacionadas com efeitos como involuntárias. Em 1999, Kirsch e Lynn afirmaram que todos os comportamen- tos são iniciados automaticamente, e que tan- to as experiências subjetivas como os com- portamentos das pessoas hipnotizadas depen- dem de suas expectativas, e que essas ex- pectativas para serem efetivadas têm que estar dentro das capacidades da pessoa.54 O ato intencional é iniciado automaticamente. Woody,55 num trabalho apresentado na Inabis 98 diz: “The most strinking effect of hypnosis is not simply on behavior, but on consciousness: hypnosis can profoundly alter people’s subjective experience” (p. 2).* Desse modo as pesquisas neurofisiológicas, neuropsi- cológicas e os estudos de imagem como PET e RMf abrem uma janela para os processos rela- cionados com a consciência. ACHADOS DE EXAMES NEUROFISIOLÓGICOS, EXAMES DE IMAGEM E CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS QUE PODEM OCORRER NAS PESSOAS ALTAMENTE SUSCETÍVEIS À HIPNOSE Os indivíduos altamente suscetíveis à hip- nose (altos), considerados de acordo com as suas respostas aos requisitos das escalas de suscetibilidade hipnótica, podem apresentar determinados achados nos exames neurofi- siológicos e de imagens como a RM, RMf e a PET. Contudo, pessoas pouco suscetíveis à hipnose, quando avaliadas pelos testes de suscetibilidade, podem entrar em hipnose e não apresentar os achados que podem estar presentes nos altamente suscetíveis. Os in- divíduos com baixa suscetibilidade hipnó- tica têm por algum motivo menos vontade para experienciar a hipnose,ou menos von- tade para que essas experiências hipnóticas aconteçam com eles, e, de certa forma, es- peram passivamente que as experiências aconteçam em vez de ativamente usarem es- tratégias cognitivas para criar uma nova ex- periência. Achados dos exames neurofisiológicos e de imagem nos altamente suscetíveis são: • Significante menor latência para certos potenciais somatossensoriais56 e audi- tivos,57 relacionados com o evento. • Geram mais atividade teta no EEG, que pode ser originada no hipocampo e as- sociada à atenção focalizada e a pro- cessos inibitórios,58-60 e a atividade teta, entre 6,5Hz a < 8Hz, ocorre mais à es- querda e mais nas regiões posteriores, em comparação com as pessoas pouco suscetíveis à hipnose.61 A atividade beta, entre 12,5 Hz e 21Hz, ocorre mais à direita e mais nas regiões posterio- res.61 • Durante a indução hipnótica, a análise espectral do EEG mostra aumento da amplitude espectral de 40Hz, como fun- ção da hipnotizabilidade e da hipnose, * Woody55 num trabalho apresentado na Inabis 98 diz: “o efeito mais impressionante da hipnose não é sim- plesmente no comportamento, mas na consciência: a hipnose pode profundamente alterar as experiências subjetivas das pessoas”. (Tradução do autor.) CAP˝TULO 3 59 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. sendo esse aumento interpretado como indicativo de maior capacidade em fo- calizar a atenção ao estímulo relevan- te.62 E tem sido sugerido que o aumen- to da atividade de 40Hz é a expressão fisiológica do despertar focalizado,63 e o aumento dessa atividade nestes in- divíduos altamente suscetíveis duran- te a hipnose foi considerado como in- dicativo de maior capacidade em fo- calizar a atenção no estímulo relevan- te. • O padrão da dimensão fractal do EEG é mais consistente com os processos imaginativos nos altamente suscetíveis à hipnose, enquanto nos pouco suscetí- veis, é mais consistente com os proces- sos cognitivos.64 • Processam a informação com mais automatismo, mais rapidamente e pro- vavelmente investem mais atenção para aprender e implementar uma estratégia para melhorar a performance nas exi- gências das tarefas cognitivas.65 • Apresentam no exame de RM maior vo- lume na região do rostrum do corpo caloso66 (p<.003), região responsável pela transferência inter-hemisféricas das informações entre as regiões cor- ticais anteriores, refletindo maior diâ- metro dos axônios e/ou mielina. Esse achado sugere que os “altos” têm mais eficiente transmissão neuronal do que os baixos. Para Theodore Barber67 as numerosas pesquisas levam à conclusão da existência de três tipos principais de pessoas, que res- pondem altamente à hipnose: (a) Pessoas com propensão à fantasia. (b) Pessoas com propensão à amnésia. c) Pessoas positiva- mente estabelecidas que estão prontas para cooperar com o pensamento e com a imagi- nação no que é sugerido. As pesquisas de Deirdre Barret,68,69 Steven Lynn e Judith Rhue70,71 confirmaram a descobertas de Wilson e Barber72 de que possivelmente 3% a 4% da população adulta têm história de fantasia realística e são muito bons pacien- tes hipnóticos.73,74 Outro grupo quase na mesma porcentagem anterior de muito bons pacientes hipnóticos distinguidos por Barret68,69 inclui os com propensão à am- nésia para períodos de suas vidas, para even- tos da infância e amnésia seguindo a hip- nose. Durante a hipnose estes pacientes apresentam extrema diminuição do tônus muscular, e quando saem da hipnose pare- cem confusos, com dificuldade para falar, respondem lentamente às perguntas. Outro grupo de muito bons indivíduos hipnóticos não pertence aos grupos anteriores, mas nas escalas de suscetibilidade à hipnótica pas- sam 85% ou mais das sugestões. Este gru- po, segundo Barber,74 tem atitudes positi- vas com relação à hipnose, à situação par- ticular e a um particular hipnólogo; motiva- ções positivas para executar as tarefas e as sugestões propostas; expectativas positivas que podem ser hipnotizados e experienciar os efeitos sugeridos; conjunto positivo para visualizar, pensar e não contradizer as su- gestões do hipnólogo. Barber aponta qua- tro fatores que afetam todas as pessoas du- rante a hipnose, ainda que de diferentes maneiras, e que podem ser maximizados na situação hipnótica:67 (1) Fatores sociais que obrigam as pessoas socializadas a cooperar e tentar realizar as expectativas do hipnó- logo e das sugestões explicitas. (2) Habili- dades únicas do hipnólogo e características pessoais, incluindo: idéias criativas, capa- cidade de comunicação, eficácia interpes- soal, e a natureza do relacionamento inter- pessoal hipnólogo-indivíduo. (3) Eficácia do procedimento de indução para guiar o indi- víduo a pensar com as sugestões. (4) Pro- fundidade de significação, criatividade e “força” ou “poder” das idéias sugeridas. 60 CAP˝TULO 3 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ALTERAÇÕES QUE PODEM SER PRODUZIDAS PELA HIPNOSE, E QUE TAMBÉM PODEM OCORRER COM SUGESTÕES SEM HIPNOSE Durante a hipnose em respostas às su- gestões uma pessoa pode exibir comporta- mentos que podem ser observados pelos ou- tros e também pode ter experiências inter- nas que são percebidas e sentidas por ela. Contudo, esses comportamentos e essas ex- periências internas também podem ocorrer simplesmente com auto ou hetero-sugestões, sem que a situação seja designada como hip- nótica.75 O hipnólogo experiente utiliza as habilidades que as pessoas têm para organi- zar o padrão de atividade interna do sistema nervoso seletivamente, ativando ou inibindo determinados sistemas. Cada uma das mo- dificações dos sistemas pode ser obtida rápi- da e intensamente em algumas pessoas, dis- cretas e lentamente em outras, e mínimas ou ausentes num tempo razoável em outras. As palavras podem desencadear imagens na mente de uma pessoa. Pense um pouco na sentença: “É carnaval”. A maioria das pes- soas no Brasil, ao pensar nessa frase (após um tempo maior ou menor de imaginação), traz para a consciência alguma imagem rela- cionada com o carnaval que para ela é ade- quada. Pode ser a imagem do desfile de uma escola de samba, da passagem de um trio elé- trico, de um baile à fantasia ou mesmo de um retiro espiritual. Agora pense nas frases se- guintes: “É carnaval. Estou na avenida assis- tindo ao desfile das Escolas de Samba”. Pro- vavelmente imagens mais intensas apareçam na mente. Portanto, as palavras podem de- sencadear imagens na mente após um pouco de tempo de concentração nelas. O tempo de concentração nas frases e a intensidade das imagens variam com cada pessoa. As pala- vras podem modificar, desencadear imagens, podem modificar o estado de contração mus- cular, de movimento, a percepção através dos sentidos e da pele das impressões do meio am- biente, e mesmo despertar sentimentos inter- nos. Por outro lado, as imagens mentais po- dem modificar o equilíbrio. É clássico pedir para uma pessoa com os olhos fechados (dei- xa de atuar a visão para orientação), em pé e com os pés juntos (reduzindo a base de sus- tentação e portanto a posição do centro de gravidade), imaginar estar num barco que ba- lança com o movimento das ondas, e ela co- meçar a balançar para a frente e para trás. O balanço pode ser acentuado por sugestões verbais e/ou táteis. As imagens mentais tam- bém podem desencadear sentimentos ou emo- ções. Para uma pessoa que já foi atacada por um cão, o fato de pensar num cão atacando pode desencadear sentimentos de medo, além de modificações no sistema nervoso autôno- mo como sudorese e taquicardia, originadas a partir do sistema límbico. Em resumo, na vida cotidiana palavras e/ ou imagens podem modificar as atividades sensorial, motora, perceptiva, secretória, de equilíbrio; as experiências internas do indi- víduo como as emoções, e inclusive os sis- temas de defesa do organismo, como o imunológico. Pormeio da hipnose isto pode ser facilitado em maior ou menor grau para cada indivíduo em cada atividade, e o tempo para a obtenção da modificação também é variável. O estudo de Ruzyla-Smith et al.76 em pacientes altamente suscetíveis e pouco suscetíveis a hipnose mostrou aumento sig- nificativo nas células beta e nas células T apenas nos primeiros, demonstrando que a hipnose pode modificar os componentes do sistema imunológico, como também que as respostas são diferentes em pacientes com diferentes capacidades hipnóticas. É difícil apresentar características defini- das de um paciente durante hipnose: (a) Por- que a experiência hipnótica é individual, as manifestações internas e as manifestações CAP˝TULO 3 61 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. comportamentais são também individuais. (b) Porque a hipnose ocorre na vida diária sem que a situação seja definida como hipnose e sem que sugestões sejam orientadas. (c) Porque a sugestionabilidade implica a capa- cidade de receber o impulso originado e a capacidade de ideoplastia, e segundo Rossi,77 há pessoas que aceitam as idéias sugeridas, mas não ocorre ação sobre as funções fisio- lógicas da pessoa; outras pessoas aceitam as sugestões lentamente e até resistem. Con- tudo, pela auto-sugestão pode-se influenciar processos fisiológicos e patológicos. Para Rossi o importante seria descobrir uma ma- neira de avaliar essa comunicação mente- corpo e inclusive facilitá-la.77 MODIFICAÇÕES QUE PODEM OCORRER DURANTE A HIPNOSE OU SEM A HIPNOSE a) Modificações da motricidade voluntá- ria: • Relaxamento, hipotonia, paralisia, rigi- dez • Movimentos involuntários • Facilitação da performance b) Modificações do controle normalmen- te não voluntário: • Coração • Vasos sangüíneos • Aparelho respiratório • Sistema digestório • Bradicardia, taquicardia, alterações da pressão arterial • Vasoconstrição e vasodilatação • Apnéia, hipopnéia, hiperpnéia • Modificações de secreções, do peristal- tismo c) Modificações metabólicas: Modifica- ções da glicemia, número leucócitos etc. d) Modificações sistema endócrino: Se- creção da saliva, transpiração, hormô- nios etc. e) Modificações de respostas da pele f) Modificações do sistema imunológico g) Modificações da percepção pelos ór- gãos dos sentidos: • Visão, audição, tato, olfação, gustação • Alteração ou distorção das sensibilida- des — térmica, dolorosa, tátil, epicrítica barestésica, palestésica h) Alterações de funções mentais: senso- percepção (ilusões, alucinações), aten- ção, memória i) Modificações de respostas quanto a: • Ansiedade, assimilação, retenção, re- cordação, alteração memória da dor crônica • Modificação de hábitos: Eliminar o ci- garro, afastar-se das bebidas alcoólicas, emagrecer • Poder de dessensibilizar fobias, desen- volver a capacidade criativa REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 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Am J Clin Hypnosis, 32 (1): 14-15, 1989. CAP˝TULO 4 65 CAP˝TULOCAP˝TULO © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Comunicaçªo Sugestiva Tipos de Sugestıes SUGESTÃO A palavra sugestão em literatura psiquiá- trica se aplica com dois sentidos: “se usa para indicar una idea que se ofrece al en- fermo y que éste há de aceptar sin crítica. [...] Se usa también a palavra sugestión para significar el proceso que determina la aceptación sin crítica de la idea ofrecida”1 (p.7).* Sugestão é “a mensagem de alguma fonte interna ou externa, a indicar o que se deve fazer ou como as coisas devem ser fei- tas; o que é certo, o que é errado. É uma mensagem que nos ajuda a nos condicionar- mos”2 (p. 16). A sugestão é “un proceso de comumicatión y aceptación total de una idea lo que determina una modificación psicoplá- sica del sujeto, o sea, una modificacíon psi- cosomática global con localizaciones cor- porales específicas más acentuadas según la idea sugerida y aceptada, pudiendo in- cluir la falta de bases lógicas para su de- sarrollo”3 (p. 31).** “A suggestion is a communication indicating that na individual will experience a particular response” (p. 101).*** Segundo Kirsch4 sugestão é um tipo particular de estímulo que comunica infor- mação que uma resposta não volitiva ocor- rerá, e a sugestão continua sendo sugestão mesmo que o indivíduo não responda a ela. O significado contextualizado determinado da comunicação e a sua resposta não volitiva diferenciam a sugestão de uma orientação ou de um comando. *A palavra sugestão em literatura psiquiátrica se apli- ca em dois sentidos: “se usa para indicar uma idéia que se oferece ao paciente que ele há de aceitar sem crítica; [...] Se usa também a palavra sugestão para significar o processo que determina a aceitação sem crítica da idéia oferecida.” (Tradução do autor.) **Sugestão é “um processo de comunicação e aceita- ção total de uma idéia, o que determina uma modifica- ção psicoplásica do indivíduo, ou seja, uma modifica- ção psicossomática global, com localizações corpo- rais específicas, mais acentuadas segundo a idéia sugerida e aceita, podendo incluir a falta de bases ló- gicas para o seu desenvolvimento”3. (Tradução do au- tor.) ***“Uma sugestão é uma comunicação indicando que um indivíduo terá a experiência de uma resposta parti- cular”. (Tradução do autor.) 66 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. As sugestões são freqüentemente trans- mitidas para criar modificações desejadas. As sugestões verbais passam diretamente pelo sistema nervoso, e por mecanismos des- conhecidos, criam modificações no funcio- namento do organismo, nas experiências in- ternas e no comportamento. A sugestão é mais bem compreendida pelos exemplos prá- ticos da vida cotidiana. Analise como você se sente ou reage às seguintes afirmações: Você está pálida hoje! Você está muito elegante. Como você está elegante! Como você emagreceu! Você está esbelta! Você está atrasada! A sua camisa está manchada! Você está perdendo a barriga para fora das calças. Fulano de tal ganhou a mega-sena sozi- nho. Seu vizinho ganhou sozinho na loteria. Você entra no consultório, o médico diz: ”Não fique em pé”. Você entra no consultório, o médico diz: ”Sente-se”. Seus cabelos estão ficando brancos? O seu cinto não combina com o seu ves- tido. Você está na platéia num teatro e come- çam a bater palmas. Você está na platéia num teatro e uma pes- soa boceja. Você está na platéia num teatro e uma pes- soa tosse. No campo de futebol uma pessoa ao seu lado, torcendo para o seu time, vaia o árbi- tro. Numa tarde quente de verão o sorveteiro destaca o nome do seu sorvete favorito. Você está passando em frente uma confei- taria e sente o cheiro do seu doce favorito. Você está num baile e escuta o som da sua música preferida. O governo anuncia o aumento da gasoli- na em 10% no próximo sábado. Alguns Aspectos da Sugestão Observados por Coue5 (a) Quando a atenção está concentrada numa idéia, essa idéia tende a realizar-se. (b) Quando a vontade e a imaginação são antagônicas, a imaginação sempre vence, sem exceção. No conflito entre a vontade e a imaginação, a força da imaginação está na razão direta do quadrado da vontade. Quando a vontade e a imaginação estão em harmonia, uma é multiplicada pela outra. E quando há divergência entre a imaginação e a razão, a imaginação vence. Num impac- to entre a vontade e a imaginação, a vence- dora sempre é a imaginação. Imagine um meio-fio na calçada com uns 25cm de lar- gura, sobre o qual pode-se facilmente an- dar. Agora imagine o mesmo meio-fio a 50 metros de altura entre dois edifícios. O sim- ples fato de imaginar que vamos cair, faz a gente cair, apesar da vontade fortíssima de andar sobre o meio-fio entre dois prédios. O valor categórico da imaginação é expres- so na seguinte frase “a imaginação contro- la o mundo”, atribuída a Napoleão I. Após os atentados terroristas aos prédios do World Trade Center, na manhã de 11 de se- tembro de 2001 em Nova Iorque, as pes- soas ficaram deprimidas com a tragédia, e muitas desenvolveram ansiedade pela ex- pectativa de que alguma coisa terrível acon- teceria com elas. (c) Uma sugestão ligada a uma emoção supera qualquer outra sugestão que no mo- mento exista na mente. É a chamada lei do efeito dominante. Uma sugestão associada a uma emoção mais forte tende a superar uma sugestão associada a uma emoção mais fra- ca. Uma idéia associada a uma fortíssima CAP˝TULO 4 67 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. emoção como amor, ódio ou raiva geralmente não pode ser modificada pelo uso da razão. (d) Quanto mais fortemente me determi- no não fazer alguma coisa, mais facilmente a faço. É o tal exemplo: Proponho-me a não fumar e logo estarei fumando. (e) A Imaginação pode ser dirigida. Inicialmente a sugestão pode ser origina- da no próprio indivíduo ou no próprio paci- ente, é a auto-sugestão, ou pode partir do médico, odontólogo, psicólogo, de outro in- divíduo, ou mesmo do meio ambiente, é a heterossugestão. SUGESTIONABILIDADE Sugestionabilidade é o grau que um indi- víduo é inclinado em direção à aceitação sem crítica de idéias e proposições. Ou seja, a medida da extensão que um indivíduo reage ao que lhe é dito, sem o emprego das facul- dades críticas. A sugestionabilidade de uma pessoa não é constante, podendo variar se- gundo a mesma sugestão venha do especia- lista A ou do especialista B. Além disso, a sugestionabilidade de um indivíduo pode variar para uma mesma sugestão formulada pelo mesmo especialista hoje, daqui a dois dias, em uma semana ou um mês. E, ainda, poderá ser diferente para uma idéia transmi- tida sob a forma de uma sugestão direta em relação a mesma idéia transmitida sob a for- ma de uma sugestão indireta. A sugestiona- bilidade é o produto das forças dinâmicas da personalidade de um indivíduo. A suges- tionabilidade varia com as expectativas do paciente no momento, com a situação, com o rapport com o especialista, com a habili- dade do especialista em perceber e aumen- tar as expectativas do paciente pela comuni- cação verbal, extraverbal e não-verbal, e pro- vavelmente com talentos intrínsecos que al- gumas pessoas desenvolvem. SUSCETIBILIDADE À HIPNOSE (HIPNOTIZABILIDADE) Suscetibilidade à hipnose ou hipnotizabili- dade ou habilidade hipnóticaou receptividade à hipnose seria a avaliação da capacidade de hipnotizarão de uma pessoa, ou a exten- são com que uma pessoa experiencia a hip- nose. Alguns estudiosos consideram o pata- mar de suscetibilidade à hipnose como uma característica genética. Não se sabe se cada pessoa nasce com um determinado patamar de suscetibilidade, ou se esse patamar é for- mado pela aprendizagem e socialização do indivíduo. Os defensores da existência de uma característica de suscetibilidade hipnó- tica nas pessoas consideram que essa carac- terística permanece relativamente estável durante a vida, para tentativas de indução com metodologias iguais ou similares.6 A suscetibilidade hipnótica tem uma pequena correlação (0.30) com o envolvimento ima- ginativo de uma pessoa.7 A maneira como uma pessoa responde a uma situação hipnó- tica depende de diferenças de processamento cognitivo,8 interagindo com fatores sociais, como atitudes, crenças e expectativas da pes- soa com relação à situação hipnótica.9 Para alguns pesquisadores,10 a suscetibilidade hip- nótica pesquisada pela Harvard Group Scale of Hypnotic Suscetibility (HGSHS)11 está re- lacionada com o horário do dia, havendo dois picos, um maior em torno do meio-dia e ou- tro em torno das 17 às 18 horas. Existe uma relação consistente entre suscetibilidade hipnótica e maior atividade teta no EEG dos indivíduos altamente sus- cetíveis12 sugerindo mais conexões frontais para as regiões posteriores. Outros achados da mesma equipe12 mostram que os indiví- duos altamente suscetíveis apresentam um padrão de EEG espacialmente mais consis- tente com processos imaginativos, enquanto nos indivíduos pouco suscetíveis, os acha- 68 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. dos são mais consistentes com atividade cognitiva. Para outros, a suscetibilidade à hipnose está de certa forma associada a um adequado rapport entre o hipnólogo e o pa- ciente, a capacidade de imaginação do paci- ente e a capacidade de monoideísmo do pa- ciente, isto é, a capacidade de manter a aten- ção concentrada numa idéia. As pessoas que passam na maioria dos exercícios dos testes de suscetibilidade hip- nótica são consideradas altamente suscetí- veis ou “altos”, e as que respondem apenas a alguns dos exercícios, são considerados poucos suscetíveis ou “baixos”. A tendên- cia atual é considerar todas as pessoas como hipnotizáveis, independentemente das suas idades, mesmo porque a hipnose ocorre na vida diária das pessoas. Mesmo os pacien- tes psicóticos são hipnotizáveis desde que se tenha experiência e habilidade. Eu consi- dero impossível hipnotizar diretamente um paciente com demência, tipo doença de Alz- heimer no estádio avançado, quando muitos neurônios cerebrais deixam de funcionar. FATORES DA RELAÇÃO ESPECIALISTA- PACIENTE INFLUENCIANDO AS SUGESTÕES E AS RESPOSTAS ÀS SUGESTÕES Comunicação Adequada com o Paciente Quando o paciente entra no consultório do especialista, este o cumprimenta com o aperto de mãos, que dura apenas dois segun- dos, sem espremer a mão do paciente, e du- rante esse tempo mantém-se o contato visual com o paciente. A mão do profissional deve estar seca, aquecida e lisa. A mão e o braço esquerdo ficam afastados do cumprimento. O hipnólogo transmite uma sugestão que deve ser compreendida pelo paciente do modo como o hipnólogo deseja. O paciente interpreta a sugestão de acordo com suas crenças, seus pensamentos e hábitos de ação. É fundamental que a comunicação entre o hipnólogo e o paciente seja adequa- da, e para isso a observação do paciente e a história clínica são de essencial importân- cia. Os meios de comunicação do especia- lista, especialmente a linguagem, as frases, os vocábulos, o significado implícito na in- tensidade, velocidade, pausas e na entona- ção da voz, como também os gestos e a ex- pressão corporal, precisam ser entendidos pelo paciente do modo como o especialista deseja. Cada pessoa cria e utiliza sua pró- pria experiência individual para associar um significado a uma palavra. O especialista deve ser afirmativo, claro e definido, sem deixar espaço para interpretações errôneas. Desse modo o profissional alcança o hemis- fério cerebral esquerdo do paciente. Mui- tas vezes fazemos algumas perguntas para melhor avaliar os gostos e as preferências do paciente, e para avaliar como ele reage com suas experiências internas frente aos episódios de alegria, felicidade, tristeza ou durante a manifestação clínica de um sinal ou sintoma. Aparência Adequada do Profissional A aparência correta do hipnólogo faci- lita a aceitação das formulações sugesti- vas pelo paciente, porque a imensa maio- ria dos pacientes tem a expectativa de en- contrar o profissional com aparência cor- reta e adequadamente vestido. Imagine que você está num aeroporto, passando pelo túnel que o conduz ao avião, e à porta do mesmo você vê o comandante sem camisa e de bermuda. Qual a sua confiança para entrar no avião e voar com esse coman- dante? A profissional do sexo feminino pode estar trajada de branco ou com uma vestimenta adequada e sobre a qual veste um avental branco. O profissional do sexo CAP˝TULO 4 69 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. masculino pode estar vestido com camisa, calça e sapatos brancos ou com uma vesti- menta adequada, sobre a qual veste um avental branco. Se preferir a cor do aven- tal pode ser em tonalidades pastel de azul ou verde. Além disso, o hipnólogo precisa estar com as unhas limpas e aparadas, o cabelo penteado, barba feita ou em caso de ter barba ela deve estar corretamente ajeitada. A hipnóloga por seu lado precisa estar penteada, com as unhas bem-feitas, sem excesso de maquiagem e usando sa- patos com ou sem salto alto. Relação Afetiva Adequada A adequada relação afetiva se inicia e se mantém com o desenvolvimento da confi- ança mútua. A maioria das vezes aceitamos sem crítica idéias vindas de amigos. Idéias vindas de nossos pais podem ou não ser acei- tas dependendo da relação de amor existen- te e do momento. O manejo correto da afetividade do paciente facilita a aceitação das sugestões. Expectativa A expectativa positiva em que o pacien- te se encontra ao procurar assistência do odontólogo, psicólogo ou médico, facilita a aceitação das sugestões; a expectativa ne- gativa dificulta. É importante criar a expec- tativa daquilo que o paciente tenha interes- se em experienciar. Antes de iniciar o tra- tamento deve-se fazer o paciente sentir a idéia de sucesso e de êxito do tratamento, porque o que é esperado tende a ser reali- zado. A expectativa pode ser um deter- minante da capacidade hipnótica (susce- tibilidade hipnótica) das pessoas. Exemplo: concentre a sua atenção nos seus dedos da mão direita e sinta a sensação de formiga- mento que pode ocorrer. Prestígio A maioria das pessoas aceita com mais facilidade as sugestões provenientes de pessoas que possuem algum prestígio. Isso depende mais de fatores emocionais do que da valori- zação lógica do conhecimento do especialista. Essas pessoas têm a expectativa que o prestí- gio (conhecimento) do profissional facilitará a obtenção do resultado desejado. Por outro lado, algumas poucas pessoas reagem na defensi- va quando estão diante de qualquer pessoa que tenha prestígio, dificultando a aceitação das sugestões. Estas são pessoas que detes- tam manifestações de autoridade e poder. Repetição das Sugestões As sugestões repetidas de relaxamento e de sono tendem a produzir respostas às su- gestões-testes, não porque elas produzam re- laxamento ou um “estado especial” (“transe hipnótico”), mas porque elas definem a situa- ção para o paciente como “verdadeira hip- nose”, como uma situação na qual altas res- postas às sugestões são desejadas e espera- das e nas quais eles devem tentar pensar e imaginar com os temas que são sugeridos.13 Quando uma pessoaestá acordada, a repeti- ção também é um modo de alcançar o sub- consciente. As repetições das sugestões sur- tem efeitos, como se observa nas propagan- das de produtos na televisão, que são repeti- das várias vezes em curto intervalo de tem- po, para que a repetição alcance o mesmo telespectador enquanto está assistindo a um programa. Durante a hipnose, alcança-se e modifica-se mais facilmente o subconscien- te com a repetição. 70 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE SOBRE A ACEITAÇÃO DAS SUGESTÕES Luminosidade Embora não exista estudo controlado rela- cionando apenas a variável luminosidade com a hipnose, considera-se que uma inten- sidade luminosidade suave favorece a indu- ção, pela redução da percepção dos estímulos externos. Muitas vezes é suficiente fechar a cortina ou a persiana. O controle da intensi- dade da luz nos interruptores permite deixar um ambiente com intensidade luminosa ade- quada. As paredes do consultório pintadas de azul ou verde favorecem a indução por- que acalma e agrada os pacientes em geral. Evite que o reflexo da luz do sol ou de uma lâmpada alcance o rosto do paciente. Temperatura Não há estudo controlado para se saber qual a temperatura ideal num ambiente, para melhor favorecer a hipnose. Contudo, a ex- periência com a hipnose e o bom senso indi- cam que a constância da temperatura em tor- no de 21 graus centígrados usualmente favo- rece a indução. Uma corrente de ar frio pode alterar o senso crítico do paciente, e, conse- qüentemente, deve-se tomar cuidado com cor- rentes de ar vindas de janelas abertas, portas, ventiladores e aparelhos ou sistemas de ar- condicionado. Lembrar que a temperatura adequada do consultório para determinado paciente pode estar acima ou abaixo da tem- peratura ideal de 21 graus centígrados. Sons, Vozes, Música e Ruídos O ambiente pode permanecer silencioso, ouvindo-se apenas a voz do hipnólogo. Há vários discos compactos (CD) no mercado especialmente preparados para induzir on- das teta, facilitadoras das imaginações,14 ou- tros para induzir ondas delta que facilitam o adormecimento15,16 e outros para reduzir a porcentagem de atividade beta, aumentar a porcentagem de ritmo alfa, e mesmo induzir o aparecimento de ritmo alfa próximo de 8Hz, que facilita o relaxamento muscular.17 Esses CDs podem ser tocados como som de fun- do, coadjuvantes ao tratamento. Além da música, pode-se utilizar alguns sons especi- ais, repetidos, como o tiquetaque de um reló- gio, o som de um metrônomo, sons de batimentos cardíacos, sons do mar, sons das marés. Por outro lado, é desejável desligar o telefone, celular, fax e a campainha. Periodi- camente verificar seu sistema de som para avaliar a quantidade de ruído que está sendo transmitida ao paciente junto com o som de fundo. O barulho de crianças brincando na cal- çada pode ser minorado conversando direta- mente com os responsáveis pelas crianças para que elas reduzam o barulho durante o período de consultas. Lembro-me de um car- rinho de ambulante que vendia churros. O carrinho costumava parar em frente ao con- sultório e seu alto-falante anunciava os churros em voz altíssima. Cada vez que isso ocorria, eu ia pessoalmente solicitar ao am- bulante para reduzir o volume do som. Ou- tras vezes, era o vendedor de abacaxi que passava anunciando o seu produto: “Abaca- xi doce, bom e baratinho”. O recurso era in- corporar essa frase no curso da hipnose. Eu costumava dizer ao ouvir a frase: abacaxi, doce, bom e baratinho, você imediatamente se relaxará ainda mais e todos os músculos do seu corpo se relaxam mais e mais. O ba- rulho da água da chuva pode ser incorpora- do nas sugestões tanto durante a indução, como durante a fase das sugestões terapêu- ticas. Exemplos: enquanto você escuta o ba- rulho da chuva, seus músculos se relaxam ainda mais. À medida que você ouve o baru- lho da chuva caindo, ela vai removendo do CAP˝TULO 4 71 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. seu corpo as tensões, as preocupações e os ressentimentos. Quando os ruídos eram repetitivos, como o de britadeiras abrindo o asfalto, ou devido a uma serra ou bate-esta- cas numa construção próxima, a opção é in- corporar esse ruído na formulação sugesti- va. Alguns ruídos que aparecem subitamen- te como o som da sirene de uma ambulância passando ou da buzina de um carro, também podem ser englobados na fraseologia suges- tiva relacionada com o contexto do momen- to. Exemplo: “agora, ouvindo este som da am- bulância passando, ela está levando junto a sensação dolorosa. O som da ambulância leva a sensação dolorosa e você fica ainda mais relaxado, calmo e tranqüilo. Este som da buzina contribui para elevar a sua per- cepção do que você deseja obter na vida”. Um consultório instalado próximo ao aero- porto ou sob a rota de aeronaves, pode so- frer periodicamente o barulho dos aviões. Neste caso incorporar o barulho da passa- gem do avião à fraseologia que estiver sen- do comunicada ao paciente naquele momen- to. Exemplo: À medida que você ouve o ba- rulho do avião passando no céu, você vai sentindo que o avião vai carregando seu de- sejo de fumar para muito longe e você vai ficando ainda mais calmo e tranqüilo. Num sábado, um vizinho inventou de lavar o car- ro deixando o som em altíssimo volume. Neste caso pedi para a secretária explicar que estava atendendo um paciente e que ficaria extremamente grato se ele reduzisse o volu- me do som. Fomos atendidos. Certa vez o consultório situava-se adjacente à sala de es- pera, repleta de crianças falando em voz alta e produzindo ruídos usuais para as suas ida- des. Nessa situação acrescentamos o som produzido pelas crianças na nossa fraseo- logia desse modo: “agora, você ouve vozes, vozes e ruídos. Podem ser vozes de crian- ças. Agora você ouve melhor as vozes, você vai percebendo cada vez mais claramente os sons e à medida que percebe os sons, os mús- culos do seu corpo vão se relaxando. Você ouve cada vez mais as vozes e os músculos do seu corpo se relaxam cada vez mais”. Muitos sons e ruídos eventualmente po- dem ocorrer subitamente dentro da clínica ou do consultório, como o bater de portas, o ruí- do de uma porta ao ser aberta ou fechada, um objeto que cai no assoalho, o som elevado do comunicador interno, os gritos súbitos de uma criança na sala espera, som da TV ligada na sala de espera que abruptamente aumenta muito o volume, a gargalhada de um paciente na recepção. Acho adequado validar esse sons e ruídos para o paciente notar que estamos atentos a tudo o que ocorre. Eu costumo fazer isso incorporando o barulho na fraseologia sugestiva que estou transmitindo ao paciente naquele momento. Uma solução, nem sem- pre possível para alguns ruídos, seria revestir a sala de consultas com material isolante acús- tico, de tal modo a atenuar ou impedir a en- trada de sons. Essa solução geralmente pou- co funciona no caso de latido de cães. Outras opções são sugerir que os ruídos internos ou externos não perturbam o paciente. (a) Você pode escutar os ruídos externos... e agora es- cutar os ruídos de dentro do consultório... Es- tes ruídos ocorrem e desaparecem possivel- mente durante a consulta e você pode esco- lher deixá-los vir para a sua mente e preferir ignorá-los... Você provavelmente notará como esses ruídos e o som da minha voz se torna- rão mais suaves ou mais fortes. Isso é usual e indicará que você está em hipnose. (b) Já não há ruído capaz de perturbá-lo, porque você só se interessa pela minha voz. Os ruídos ex- ternos parecem que vêm de longe, muito lon- ge, cada vez mais longe. E você só se interes- sa pela minha voz, você só ouve a minha voz. Perfumes Agradáveis Os pacientes quando estão preparados para a reprogramação mental apresentam hipersen- 72 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. sibilidadede seus sentidos, e muitos odores que, inicialmente, não os incomodavam, passam a irritá-los. É aconselhável o hipnólogo não es- tar com cheiro de cigarro, charuto, alho, cebo- la, suor, bebidas alcoólicas. Contudo, para uma paciente confeiteira que estivesse habituada e gostasse do cheiro de salgadinhos, esse odor no consultório do especialista poderia ser faci- litador da hipnose. Os perfumes podem facili- tar a aceitação das sugestões desde que não tenham para o paciente um significado oposto ao que supomos. É preferível durante a histó- ria clínica procurar saber quais os perfumes que o paciente aprecia e descobrir quais as as- sociações mentais que o paciente faz com este ou com aquele perfume. O perfume de sândalo parece ter propriedades calmantes e tranqüi- lizadoras para muitas pessoas. Recentemente estão criando um perfume com o cheiro ma- terno, com propriedades calmantes. Posição Confortável para o Paciente Durante o tratamento o paciente pode fi- car numa poltrona reclinável, num divã ou na maca de exames. Evitar chaves, moedas, car- teiras muito volumosas nos bolsos que pos- sam incomodar durante o tratamento. Pedir para o paciente descartar uma goma de mas- car ou bala, retirar os óculos, às vezes as len- tes de contato, brincos apertados e adornos para o cabelo que possam desconfortá-lo. Além disso, solicitar para afrouxar o nó da gravata, algumas vezes descalçar os sapatos (oferecer-lhe chinelos), e solicitar para esva- ziar a bexiga. Preferimos que a alimentação do paciente tenha sido usual. Pedimos para evitar antes da consulta uma churrascada, fei- joada, vatapá ou sarapatel. Para alguns paci- entes a simples posição em decúbito dorsal facilita o adormecimento. Para eles escolhe- mos que fiquem sentados numa cadeira ou poltrona com o encosto na posição vertical. Decoração do Consultório A decoração deve ser a mais agradável possível, com o mínimo de objetos. Alguns aspectos da decoração que para a maioria das pessoas são agradáveis, particularmente para algumas pessoas podem desencadear asso- ciações adversas. Lembrar que os bichos de pano ou de material sintético em forma de cães, gatos, ursos, tigres, eventualmente po- dem desencadear reações desagradáveis em determinados pacientes. Para outros pacien- tes até quadros antigos, vasos com certas flo- res podem causar reações desagradáveis. Isso funcionária do mesmo modo com o charuto deixado pelo paciente anterior, que poderá causar aversão para o próximo paciente que detesta o fumo, ou pode ser muito agradável se o paciente seguinte for um fumante da mesma marca de charutos. CLASSIFICAÇÃO DAS SUGESTÕES Há várias modos de classificar as suges- tões. É difícil que uma pessoa esteja sob a influência de um só tipo de sugestão. Didati- camente consideram-se as sugestões quanto à relação especialista-meio ambiente-pacien- te, quanto ao conteúdo das formulações, quan- to ao modo de formulação das sugestões e quanto ao aspecto das respostas (ver tabelas). COMENTÁRIOS SOBRE OS TIPOS DE SUGESTÕES Sugestão Sensorial Quando agimos com qualquer dos nos- sos analisadores ou com qualquer substân- cia ou vibração sobre um ou vários anali- sadores do paciente. A sugestão sensorial pode ser direta ou indireta e pode ser apre- sentada de vários modos. CAP˝TULO 4 73 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Sugestão Sensorial Direta Quando são sugestões que são diretas e objetivamente transmitidas para a obtenção de uma resposta clara e definida. Usualmen- te o paciente responde com uma ação ade- quada, mas involuntária. São exemplos de sugestões diretas: “A cada respiração os músculos do seu corpo se relaxam ainda mais”. As vantagens das sugestões diretas são:18 (1) Estar diretamente relacionadas com o que interessa no momento, reduzindo pre- ocupações conscientes do paciente à habi- lidade do médico de tratar com as suas quei- xas. (2) Manter bem definidos os objetivos do paciente. (3) O envolvimento direto do paciente de modo ativo. (4) Servir de mo- delo para a resolução de qualquer proble- ma futuro. 74 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. sugeridas. Desse modo inicialmente trans- mitem-se sugestões para anular o criticismo e a seguir formulam-se sugestões diretas sobre um ponto específico. (d) As reações críticas podem ser antecipadas, originando reações emocionais no paciente, fazendo-o lembrar-se das circunstâncias que estão re- lacionadas com a reação emocional e fazen- do então a sugestão quando o paciente está ocupado com as suas recordações, de modo que uma crítica à sugestão sugerida fica ex- cluída. (e) O médico é altamente conceitua- do pelo paciente, as reações críticas podem ser reduzidas ou desaparecer. (2) Depende- rem da confiança na vontade consciente do paciente, fazendo menos uso da mente sub- consciente. São exemplos de sugestões di- retas: “Seu braço esquerdo e a sua mão es- querda estão leves e começam a se elevar”. Isso não é um convite para levantar o braço. Se o paciente deliberadamente levantar o braço, como ele faria se fosse dito para le- vantar o braço, ele estará violando um en- tendimento de que a elevação do braço de- veria ser “involuntária”. Isso então seria meramente um comportamento social coo- perativo. Quando falhar uma sugestão, procure analisar o que falhou: (1) Quando a atenção do paciente mantém-se concentrada numa idéia, essa idéia tende ser realizada. O pa- ciente deixou de concentrar-se na idéia sugerida? (2) Quando a mente consciente do paciente raciocina que gostaria de respon- der às idéias sugeridas, mas ele não pode. Quanto mais ele tenta, mais difícil fica. O paciente apresentou esse tipo de ação? (3) As emoções fortes tendem a substituir as emoções fracas. O paciente apresentou al- guma emoção fortíssima que superou a sugerida? (4) Houve erro de comunicação? O paciente realmente estava visualizando e imaginado o conteúdo das sugestões apre- sentadas? As desvantagens das sugestões diretas in- cluem:18 (1) Mais facilmente podem desen- cadear resistência, porque estão mais sujei- tas ao senso crítico do paciente. Quando di- zemos: “Feche os olhos e imagine uma fatia de limão dentro da sua boca... sinta o gos- to... você começa a salivar”. Caso o pacien- te criticamente se conscientizar de que não existe nenhuma rodela de limão, e se visualiza num domingo deitado na areia da praia de Copacabana, dificilmente sentirá o gosto de limão e dificilmente ocorrerá a salivação dentro de sua boca. Quando o pa- ciente deixa de ser crítico e permite a sua imaginação permanecer ocupada com a ro- dela de limão dentro de sua boca, em poucos segundos ou minutos ele começa a sentir o gosto do limão e sua boca se enche de sa- liva. Contudo, mesmo com sugestões dire- tas pode-se reduzir o juízo crítico do paciente quando:19 (a) Criamos uma fraseologia de conformidade com as crenças, com os há- bitos de ação e pensamentos do paciente. (b) A sugestão direta for tão inesperada e rara que o paciente não cria qualquer asso- ciação crítica com experiências passadas. (c) Consegue-se antecipar à reação crítica, fornecendo uma base lógica para as idéias CAP˝TULO 4 75 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Sugestão Habitual ou Comum ou Ordinária Hilgard20 faz a distinção entre sugestão direta e sugestão ordinary. A sugestão habi- tual é a que leva a um movimento voluntário e deliberado do paciente, quando ele está cooperando. Portanto, a sugestão habitual, comum ou ordinária é uma resposta volun- tária e não-involuntária. Quando se diz ao paciente: “Feche os seus olhos”, isso é um convite para o paciente fechar os olhos. Se o paciente fecha os olhos, ele faz um movi- mento voluntário. Mais alguns exemplos de sugestão habitual: “Por favor, feche os olhos. Feche os olhos para melhor se concentrar no que vou lhe dizer”. Sugestão Sensorial IndiretaSão sugestões transmitidas ao paciente de modo indireto e sutil, geralmente não relacio- nadas com a experiência do paciente, e ne- cessitando da interpretação dele. São suges- tões que, além de atingirem a mente consci- ente do paciente, alcançam principalmente a mente subconsciente, associando-as com a dinâmica das experiências internas do paci- ente. São sugestões transmitidas para obter respostas, sem dizer ou pedir para o paciente fazer isto ou aquilo. São exemplos de suges- tões indiretas: “As pessoas obtêm melhor con- centração com os olhos fechados. Muitos dos meus pacientes gostam de sentar na cadeira e fechar os olhos. Você prefere entrar em hip- nose com os olhos abertos ou fechados?” A recepcionista do médico diz para o médico na presença do próximo paciente: “O pacien- te anterior ainda está muito relaxado ou aquela senhora emagreceu uns dez quilos”. A suges- tão indireta muitas vezes é não-verbal, como quando o médico ajusta o lençol sobre o pa- ciente, sugerindo indiretamente que é momen- to de relaxar e dormir. A resistência do paciente, geralmente, é menor com as sugestões indiretas, mas as op- ções de respostas são maiores. É mais difícil criar as sugestões indiretas apropriadas a um contexto específico. As desvantagens da sugestões indiretas incluem:18 (1) Podem causar ansiedade ou medo porque o paciente pode achar que o especialista é incapaz ou não está querendo se envolver diretamente com o problema. (2) A resposta subconsciente pode permitir ao pa- ciente resolver o problema, mas pode deixá-lo conscientemente querendo saber como a mudança ocorreu. As comparações entre as sugestões dire- tas e as indiretas usualmente ocorrem no que 76 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. diz respeito à estrutura da linguagem, mas há muito mais implicações além das relacionadas com as fraseologias (ver Tabela 4.6). As su- gestões verbais diretas ocorrem sempre num determinado contexto. Esse contexto está re- pleto de sugestões indiretas decorrentes das cores, harmonia, estado de limpeza, aromas, con- dições do consultório, incluindo estilo, qualida- de e disposição dos móveis e decoração, da sala de recepção, do modo como o paciente é recebido pela recepcionista e depois pelo espe- cialista. Além disso, as estações do ano, um feriado próximo, hora da consulta, condições do tempo no momento da consulta, pessoas en- contradas próximas ao consultório, cidade do consultório e localização na cidade podem in- fluenciar na receptividade do paciente à lingua- gem sugestiva verbal direta do hipnólogo. E considerar muito no hipnólogo, a sua idade, sexo, aparência, expressão facial, a fisionomia sua expressão corporal, o tom, velocidade, tim- bre e volume como são pronunciadas as pala- vras, e tempo do melhor momento para ser dita cada frase. Simplesmente a sugestão verbal direta está sendo transmitida num contexto de sugestões indiretas. Até a guerra mostrada pela televisão pode influenciar à resposta de deter- minadas pessoas às sugestões. Sugestão Sensorial Sonora Quando utilizamos um som. Esse som sendo a voz, a sugestão pode ser sugestão sonora verbal direta, verbal indireta ou extra- verbal. Sugestão Sonora Extraverbal É a sugestão transmitida ao paciente nas entrelinhas das frases, das palavras, dos gestos ou dos toques. A idéia contida na comunicação extraverbal é transmitida ao paciente mais do que expressada.1 A for- mulação de sugestões extraverbais requer muita habilidade do médico, odontólogo ou psicólogo, e, por outro lado, o efeito da aceitação dessas sugestões é menor que o efeito das aceitação de uma sugestão ver- bal. A sugestão extraverbal ajuda a esta- belecer um relacionamento positivo com o paciente e ajuda a tranqüilizá-lo. Assim, quando dizemos: “Hoje é um belo dia ou hoje é um ótimo dia!” pode significar para o paciente que hoje seus problemas são re- solvidos; pode significar que um hipnólogo feliz com a vida está apto para auxiliá-lo. A sugestão extraverbal reduz a crítica ló- gica e deve ser empregada especialmente com pacientes críticos, matemáticos ou ló- gicos. Contudo, a significação da suges- tão extraverbal é determinada exclusiva- mente pelo paciente, e se ele deixar de aceitá-la o tratamento cursa sem prejuízo porque o significado dessas sugestões é amplíssimo. Há ainda a probabilidade de se apresentar uma determinada sugestão extraverbal inconveniente para um deter- minado paciente, num determinado mo- mento. Quando fazemos uma sugestão extraverbal é difícil ter em consideração todos os possíveis sentidos implícitos. Por exemplo, quando o médico diz: “Você está relaxado”, o paciente pode interpretar como se ele estivesse relaxado no vestir, em suas atitudes, com a maquiagem mal- feita ou com o cabelo despenteado. De outro modo, quando no início da consulta reduzimos a luminosidade da sala, isso pode ser traduzido como a seguinte suges- tão extraverbal: “Vamos entrar em hipno- se”. Ao finalizarmos a consulta, aumenta- mos o tom da voz e aumentamos a lumino- sidade da sala, sugerindo extraverbalmente que é o momento do término da consulta, o momento de o paciente sair da hipnose. CAP˝TULO 4 77 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Fonação Extraverbal Geralmente são sugestões produzidas pela voz do profissional, como sons, sem o enun- ciado de palavras ou frases. Esses sons trans- mitem emoções ao paciente. A fonação não- verbal deve ser utilizada no momento adequa- do, com naturalidade e sutileza. É uma respi- ração mais profunda que o médico faz para induzir o paciente a fazer uma respiração mais lenta e profunda. É um bocejo que o psicólo- go faz sugerindo que o paciente está saindo da hipnose. É um sorriso do especialista aqui- escendo com a resposta do paciente. Sugestão Sensorial Sonora Não-verbal Quando o som não é o da voz humana, e sim qualquer outro som. Exemplos de suges- tão sonora influenciando o paciente via senti- do da audição: o tique-taque de um relógio, o som de um apito, o som de um instrumento musical como teclado, pistão, saxofone, tam- bor. Outros exemplos incluem um som sinte- tizado, um som gravado como o farfalhar das árvores, o som produzido pela chuva, o som de um trovão e o barulho de um foguete. Sugestão Sensorial Visual Quando utilizamos uma imagem ou qual- quer substância ou vibração influenciando o paciente através do sentido da visão. Cita- mos como exemplo o olhar do médico, a luz de uma vela, um anel brilhante, o brilho de um alfinete, um disco giratório, imagens em movimento num computador. Esta sugestão também pode ser direta ou indireta. Sugestão Sensorial Olfativa Quando utilizamos qualquer substância que emite odores ou vibração, influencian- do o paciente através do sentido do olfato. Citamos como exemplo o cheiro agradável de um perfume, como o odor de sândalo, o odor de substâncias químicas como a gaso- lina e o álcool. Esta sugestão também pode ser empregada de modo direto ou indireto. Muitas vezes a sugestão sensorial olfativa é associada à sugestão sensorial auditiva. Sugestão Sensorial Gustativa Quando utilizamos qualquer substância ou vibração influenciando o paciente através do sentido da gustação. Entre essas substânci- as incluímos os sabores doce, salgado, amar- go e azedo. Preferimos utilizar apenas os sabores doce e salgado. A sugestão gustativa também pode ser transmitida associada di- reta ou indiretamente à sugestão sensorial auditiva. Sugestão Sensorial Tátil, Térmica, Dolorosa, Cinestésica Quando utilizamos qualquer substância, toque ou vibração, para influenciar o pa- ciente através do tato ou através dos analisa- dores das sensibilidades térmica (calor e frio), dolorosa, noção de posição segmentar, batiestésica e palestésica. Como exemplos desses tipos de possíveis sugestões mencio- namos o calor da chama de uma vela, o frio do cabode um diapasão, uma corrente de vento através da janela aberta do consultó- rio, a vibração de um diapasão colocado so- bre uma extremidade do paciente, a pressão do dedo do médico sobre uma vértebra do pa- ciente, os toques do médico no braço do pa- ciente durante a obtenção da rigidez numa extremidade, o toque tátil e com pressão su- ave das pontas dos dedos sobre as regiões temporais do crânio do paciente para facili- 78 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. tar a recordação. Estas sugestões usualmente estão associadas às sugestões sensoriais au- ditivas (verbais). Sugestões Combinadas Quando há associação simultânea de mais de um tipo de sugestão. Sugestão pela Atitude Atitudes são sentimentos que se tornaram hábitos. O hipnólogo precisa ter uma atitu- de claramente visível, acentuadamente dis- tinta e mostrar-se sempre de modo a colocá- lo instantaneamente aparte das pessoas. A atitude deve ser viva e honesta, não poden- do ser retratada ou representada. Então o profissional que trabalha com a hipnose deve olhar para dentro de si mesmo e sentir-se como tendo os atributos de poder próprio.21 A atitude adequada do especialista traduz a sua crença em poder ajudar o paciente, sen- do um excelente fundo para a transmissão das sugestões que devem estar harmoniza- das com a sua expressão corporal e com a sua verbalização. Sugestão Psíquica Quando a mente pelo pensamento influ- encia o paciente. Neste tipo de sugestão nos- sa capacidade de imaginação e nossa von- tade assumem enorme importância porque caracterizam-se por somente ser criada e transmitida por um ser humano. Como exemplo, sentar-se algumas filas atrás de uma pessoa num cinema e permanecer ima- ginado que essa pessoa vai virar-se para trás e após algum tempo ela se vira para trás. A seguir imaginar e visualizar essa pessoa ali- sando o cabelo com a sua mão direita, e ela faz isso. Depois, imaginar essa pessoa es- colhendo sentar-se numa poltrona vaga na fila da frente. A sugestão psíquica não é considerada por muitos pesquisadores. A ex- periência própria é um modo de estabele- cer ou não o seu real valor. Na parapsico- logia considera-se que a influência humana sobre pessoas e coisas ocorre espontanea- mente e dentro de uma distância de cinqüen- ta metros. Em 1998 na Universidade Emory em Atlanta pesquisadores liderados por Philip Kennedy implantaram eletrodos de vidro oco em forma de cone do tamanho da ponta de uma caneta esferográfica no córtex frontal de dois pacientes voluntários que estavam incapacitados para mover-se, os quais puderam controlar o cursor na tela de um computador apenas pensando em mo- ver partes do corpo. Pelo pensamento apon- tavam o cursor para ícones programados para produzir frases. Em 1999 o pesquisa- dor Niels Birbaumer22 da Universidade de Tübingen, treinava três pacientes com esclerose lateral amiotrófica para utilizar o poder mental transmitido a eletrodos do ta- manho de uma lente de contato implanta- dos atrás da orelha. Os pacientes aprende- ram a tornar os potenciais cerebrais mais positivos ou negativos para mover um cursor para cima ou para baixo numa tela de computador. Demorava em média 80 segundos para escolher uma letra pelo po- der mental. Sugestão Ambiental Quando qualquer coisa do universo visí- vel ou invisível à nossa visão usual ou aos nossos analisadores influencia o paciente. Como exemplo citamos a influência do am- biente do consultório do médico, das fases da lua, a do calor, do frio, de um dia chuvo- so, de um dia ensolarado ou de um campo CAP˝TULO 4 79 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. magnético sobre o comportamento de uma pessoa. Chamamos de sugestões adequadas as aplicadas adequadamente para: (a) A indução do relax-reflex23 (hipnose). (b) Sin- tonização do paciente com a hipnose e com as metas do tratamento. (c) Específicas e inespecíficas para o tratamento. O fator es- sencial para uma adequada sugestão é a comunicação com o paciente e o modo como o paciente interpreta e responde a essa comunicação. Sugestões Ideomotoras, Sugestões Desafios, Sugestões Cognitivas Classicamente as sugestões são chama- das ideomotoras quando as respostas estão relacionadas à motricidade. Eis dois exem- plos: “Você pode perceber o dedo indicador da sua mão direita elevar-se,” ou “A sua mão esquerda está ficando pesada, muito pesada. Agora, imagine dependurada na sua mão uma sacola de supermercado com um pacote de açúcar dentro”. As sugestões desafios estão relacionadas com a dificuldade ou impossibi- lidade de realizar alguma coisa que usualmen- te as pessoas fazem. Inicialmente cria-se o contexto e depois apresenta-se um desafio ao contexto. Pode-se transmitir a idéia que o braço direito está estendido, rígido e infle- xível no cotovelo, e posteriormente afirma- se ser impossível flexioná-lo no cotovelo. Tente. Sugestões cognitivas quando relacio- nadas com modificações da percepção e da memória. Estas sugestões podem transmitir idéias de anestesia, ilusões, distorção do tem- po, relembrança, revivificação ou amnésia pós-hipnótica. Algumas sugestões cognitivas contêm desafios. As sugestões de amnésia requerem que a pessoa não recorde determi- nada informação. COMO FORMULAR SUGESTÕES, PARTICULARMENTE AS VERBAIS A comunicação sugestiva envolve: (a) Um componente sintático verbal por meio dos símbolos, como números e letras que, arran- jados de determinadas maneiras, transportam significados. (b) Um componente extraverbal transmitido pelo ritmo, entonação, timbre, ve- locidade, altura, intensidade da voz, que tam- bém transmite significado. (c) Um compo- nente de imagem (ícone) que é um modo di- ferente de comunicação, transmitindo formas e posições das imagens no espaço. A me- lhor maneira de comunicação associa os três aspectos, muito embora algumas comunica- ções sejam melhor expressadas pelo com- ponente sintático ou pelo extraverbal ou por meio de um ícone. Estes aspectos da comu- nicação são destacados nas aulas dos pro- fessores dos cursinhos preparatórios para exame vestibular, que fazem o melhor que podem para transmitir a informação aos alu- nos pela harmonia de todos os componentes. Palavras concisas, voz clara com adequada ritmicidade, timbre, entonação, velocidade, in- tensidade, altura e com expressões faciais, corporais, gestos e movimentação de obje- tos, transmitem a informação aos alunos para obter as respostas desejadas. A comunica- ção por ícones e pela ritmicidade alcança predominantemente o hemisfério cerebral direito, enquanto a comunicação sintático- verbal envolve preferencialmente o hemis- fério cerebral esquerdo, de modo que o en- tendimento da comunicação necessita da sincronia dos dois hemisférios. O corpo caloso é a estrutura anatômica de conexão entre os dois hemisférios. A pessoa responde aos componentes sintático-verbais, extraverbal e também ao componente imaginativo induzi- do pelos componentes sintático verbal e extraverbal. Contudo, não há uma relação consistente entre imagens induzidas pela 80 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. fantasia e a positiva resposta às sugestões hipnóticas teste.24 Segundo Kirsch e Lynn as sugestões hipnóticas geram respostas- fantasias objetivo-dirigidas e não as fanta- sias-objetivo-dirigidas que geram as respos- tas.25 As fantasias dirigidas ao objetivo se- riam fantasias sobre o modo de atingir e seriam diferentes de fantasias sobre o ob- jetivo. Estas últimas, fantasias sobre o ob- jetivo, segundo Comey and Kirsch,26 comumente criam respostas às sugestões hipnóticas. Como elaborar e transmitir as sugestões criando expectativas para obter respostas de- sejadas? 1. Habilidade, com palavras cuidadosa- mente escolhidas, com significado definido para o subconsciente e frases específicas quanto à situação, tempo e espaço. Analisar a simbolismo,para cada paciente, do con- teúdo representativo de cada palavra falada, do timbre da voz, da entonação da sentença, da velocidade das palavras enunciadas, da altura da voz, bem como dos sons, gestos e toques, com relação aos hábitos de ação do paciente. Para melhor formulação e transmis- são das sugestões e das imagens para visua- lização necessitamos do máximo de infor- mações sobre o paciente. Pergunte ao pa- ciente o que lhe dá maior felicidade, prazer, contentamento e alegria na vida? Anote as respostas para depois criar sugestões que apresentem essa resposta como uma fonte de reforços das sugestões terapêuticas que se- rão transmitidas a esse mesmo paciente. Per- sonalize as sugestões para cada paciente, sempre adaptando as sugestões às caracte- rísticas intelectuais, emocionais, culturais e ao estado de espírito do paciente no momento do tratamento para que a comunicação su- gestiva seja interpretada adequadamente. A partir da observação do paciente em todos os sentidos, inclusive de suas respostas não- verbais, brota a habilidade que consiste es- sencialmente em escolher cuidadosamente as palavras, as frases, os gestos, os toques e selecionar habilidosamente o momento e o modo como transmitir as palavras escolhi- das (timbre de voz, volume, velocidade, ento- nação), os gestos e os toques (duração, rit- mo, intensidade da pressão, modificação da pressão, velocidade do início e do término). Utilize durante a hipnose as palavras, as in- terjeições, as frases, as pausas e os gestos que o paciente costuma repetir. A sugestão deve ser também entendida pelo subconsciente, que tem apenas capaci- dade de raciocínio dedutivo, percebendo e interpretando as sugestões de modo literal. Esse significado literal muitas vezes é o sig- nificado aprendido durante o período da aquisição da linguagem falada. O emprego de expressões idiomáticas, gíria e palavras com mais de um sentido, como, por exem- plo, sugerir para o paciente ficar frio com a intenção de ele ficar calmo e tranqüilo, pode desencadear resistência no subconsciente, que interpreta a sugestão como permanecer com a temperatura do corpo fria. O subcons- ciente tem as funções de preservação, prote- ção e procriação, e qualquer sugestão que vá de encontro a essas funções sofre a resis- tência do subconsciente. O subconsciente percebe melhor a sugestão específica do que a sugestão vaga e inespecífica. Assim o sub- consciente aceita melhor a sugestão “você prefere dormir desde o momento que deitar na cama até as 8:00 horas da manhã” do que a sugestão “você prefere dormir a noite toda”. O ideal é criar a fraseologia terapêutica ade- quada para cada paciente, escrevê-la, depois corrigi-la, e quando estiver adequada, trans- miti-la para o paciente na próxima consulta. A habilidade faz o especialista transmitir as sugestões privilegiando o canal de comuni- cação preferido pelo paciente para proces- sar a informação.27,28 Pode ser o canal visual, utilizando frases de imagens; o auditivo, uti- CAP˝TULO 4 81 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. lizando fraseologia mais auditiva ou o canal cinestésico, empregando fraseologia mais relacionada com as sensações. Escolher cuidadosamente cada palavra da frase. Deixe de usar as palavras: Não, nun- ca, deve, mas, eu quero, tentar, experimen- tar, esperar, e frases comparativas. Exemplos: “Não fique em pé. Você está mais relaxado do que o seu colega de trabalho”. Essas fra- ses não podem ser repetidas sem perder a eficácia. As palavras “talvez” e “tentar”, eventualmente, podem ser usadas no seguinte contexto: Talvez você queira descalçar os sapatos para entrar em hipnose ou prefira entrar em hipnose com seus pés dentro dos seus sapatos. Talvez você goste de sentir os seus músculos relaxados. Talvez você prefi- ra calçar os chinelos para entrar em hipnose ou prefira entrar em hipnose com os sapatos calçados. A palavra não em qualquer situa- ção não diz o que é para o paciente fazer; e retirando o não fica uma afirmação para o paciente fazer justamente o oposto do que queremos. Não preste atenção na minha ca- neta! Na frase: Não preste atenção na minha caneta, para o paciente não prestar atenção na caneta, ele inicialmente presta atenção na caneta. A conjunção negativa “não” usada no seguinte contexto: Não preste muita aten- ção em como formular sugestões, particu- larmente, as verbais; pode favorecer o leitor a prestar atenção em como formular as su- gestões, particularmente, as verbais. A con- junção “não” pode desencadear o efeito que o hipnólogo deseja quando usada para as pessoas com respostas “do contra”, que res- pondem de modo oposto ao qual esperamos. Exemplificamos: “Não fique muito relaxa- do”. A pessoa responderá com o oposto, fi- cando relaxada. Não fique em silêncio, con- tinue falando, e mais facilmente você se re- laxará. A pessoa fica em silêncio. Nessas frases acentue o verbo e não o objeto. É fá- cil encontrar essas pessoas quando se quer, bastando apresentar uma sugestão habitual como “levante o braço direito” e essa pes- soa deixa o braço na posição em que se en- contrava antes da sugestão, ou faz um movi- mento oposto com o braço ou levanta o bra- ço esquerdo. Outro modo é fazer uma per- gunta com uma frase afirmativa e depois fa- zer a mesma pergunta com uma frase nega- tiva. O indivíduo do contra apresentará duas respostas diferentes. Você pode levantar o seu braço direito. O indivíduo do contra res- ponde com não. Você não pode levantar o seu braço direito. A pessoa do contra res- ponde com sim. Efeitos poderosos de pen- samentos negativos ocorrem nos pacientes com depressão. Para eles pode ser útil, no início do tratamento, combinar uma sugestão negativa com várias positivas. As palavras experimentar, tentar e espe- rar significam para o consciente que uma pessoa vai fazer o máximo que pode para realizar uma tarefa, e para o subconsciente significam que a pessoa tentará um esforço e falhará na intenção de alcançar o seu obje- tivo. Essas palavras traduzem que a pessoa emocionalmente está se sentindo fracassar antes de começar. A conjunção “mas” anula tudo o que vem antes. Por exemplo: Você está com os seus músculos frouxos, soltos e relaxados, mas vai prestar atenção a minha voz. Em geral preferir empregar a conjun- ção “quando” em vez de “se”. A conjunção “quando” indica que a intenção da frase acontecerá, que mais facilmente se realizará do que a conjunção “se”. Habitualmente dei- xamos de empregar na fraseologia palavras que expressão generalizações, e não permi- tem outras escolhas ou outras possibilidades. Palavras como sempre, nunca, todo, toda, nenhum, nenhuma, ninguém. Contudo, algu- mas vezes, essas palavras apresentam uma única e correta indicação: o Sol sempre tem energia luminosa. Na superfície do planeta Terra, todas as pessoas estão sobre a influ- 82 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ência da força da gravidade. O fogo sempre é quente. 2. Associando as respostas do paciente nas sugestões seguintes.29 Um aspecto im- portante é englobar as respostas do pacien- te, o comportamento do paciente, as reações do paciente na comunicação sugestiva ime- diatamente seguinte, que pode ser verbal pelo uso da fraseologia ou não-verbal. Se o paci- ente começa a rir no início do tratamento, englobamos o seu riso na sugestão seguinte: À medida que você ri, os músculos da sua face vão-se tornando mais frouxos, soltos e você relaxa ainda mais. Pode-se utilizar as palavras: “e, à medida que, enquanto, quan- do, porque, causa,” para relacionar duas su- gestões. Enquanto você respira, você relaxa ainda mais. A associação mais definida ocor- re quando utilizamos a palavra causa. Seu braço está tão pesado que isso causa sua queda, e quando o seu braço cair seu relaxa- mento torna-se mais profundo. Respire pro- fundamente... continue respirando profunda- mente,e à medida que você respira profun- damente, sente uma sensação maravilhosa de calma e de bem-estar. 3. Associar uma sugestão à seguinte e graduar a intensidade. Outro aspecto impor- tante é associar uma sugestão à sugestão se- guinte, e sempre que possível passar de um ponto ou de uma região para um ponto ou uma região adjacente. Ao sugerir o relaxa- mento do braço direito do paciente, é mais fácil associar o relaxamento à sugestão se- guinte de peso no mesmo braço direito ou no antebraço direito. É preferível sugerir que os ombros estão relaxados, frouxos e soltos e, em seguida, que o relaxamento invade os braços, do que pular dos ombros para os pés e depois voltar aos braços. A associação de uma sugestão às sugestões seguintes pode ser feita usando as palavras: “e, à medida que, enquanto, quando, porque, causa”. Iniciar com sugestões mais fáceis de serem aceitas ou com três ou quatro afirmações possíveis de verificação e depois uma frase não verificável e ir gradualmente aumentando a importância das sugestões, para finalmente transmitir as sugestões fundamentais para o tratamento. Pode-se dizer: Seu corpo está descansando na poltrona, com as suas mãos tocando o tecido da sua calça e enquanto você percebe a textura do pano você sente um formigamento nos seus dedos. Cada su- gestão aceita facilita a aceitação da seguin- te. A transição de uma sugestão para a se- guinte deve ser gradual e muitas vezes vin- culada pelas conjunções: “e, à medida que, enquanto, quando, porque”. A conjunção “e” mantém a individualidade de cada sentença e relaciona a frase anterior com a frase se- guinte. As sugestões terapêuticas com cres- cente intensidade são mais fáceis de serem aceitas pelo subconsciente do que uma su- gestão intensíssima apresentada no início do tratamento. O subconsciente está funcionan- do de determinado modo há muito tempo, e apresenta alguma resistência para a mudan- ça. As sugestões devem objetivar gradual- mente modificar esse modo de ação e, as- sim, reduzir gradualmente as resistências. É mais fácil o subconsciente de um paciente que adora comer chocolates aceitar a suges- tão inicial que o sabor de determinado cho- colate está mais amargo do que aceitar inici- almente que não gosta mais de chocolate. 4. Positiva, afirmativamente e benefici- ando o paciente. Falar sempre de modo afir- mativo e positivo, buscando a participação e a cooperação do paciente quer no presen- te do indicativo, quer num tempo contínuo associado a uma condição como: toda a ma- nhã, todos os dias, cada dia, de hoje em di- ante, sempre que se sentar na sala de aula, ao ver tal coisa. Evitar as sugestões negati- vas como, por exemplo “não grite”, que são péssimas porque não dizem o que fazer, pro- duzem uma imagem errada, ficando a pes- CAP˝TULO 4 83 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. soa pensando no que deseja modificar e, além disso, provocam um desafio.30 A pes- soa poderia imaginar eu gosto de gritar, não é bom por quê? Cada afirmação formulada precisa estar de acordo com o desejo do paciente de verdadeiramente querer mudar, com a sua crença de que a modificação é possível e com a sua aceitação de estar que- rendo que a modificação aconteça.31 Algu- mas vezes permite-se utilizar o verbo no tempo condicional: você gostaria, você po- deria. Exemplos práticos: “Você poderia fe- char os olhos, você gostaria de fechar os olhos, você poderia mover a sua mão direi- ta”. Pode-se ainda iniciar a frase com uma pergunta. “Se você quiser experienciar ou se você quiser sentir.” Esses últimos exem- plos podem ser empregados na abordagem ericksoniana da hipnose. Um estudo de Miyashita e Monzen32 de 1998, citado por Abela, indica que as suges- tões negativas facilitam o maior uso da ima- ginação do que as positivas, e conseqüente- mente deixam maior marca na mente, de modo que as sugestões negativas apresen- tam efeitos afirmativos, independentemente do nível de atividade. Esse efeito das suges- tões negativas foi constatado por potenciais relacionados com os eventos de sugestões hipnóticas, que mostram que a estrutura das sugestões é decisiva.33 As afirmações funcionam porque substi- tuem as declarações negativas, suspendem seu julgamento e deixam as dúvidas de lado.29 As afirmações funcionam quando estão em harmonia com a sua auto-imagem. Muitas vezes é preciso primeiro modificar para melhor a auto-imagem para as afirma- ções agirem. Sempre que possível unir a su- gestão positiva e afirmativa a um benefício realista que advenha dela. Utilize com fre- qüência os verbos apreciar, escolher, prefe- rir e curtir (no sentido de apreciar, gostar). Em vez de dizer: De hoje em diante a cada dia você come menos, diga: De hoje em diante a cada dia você aprecia comer menos, ou de hoje em diante a cada dia você escolhe co- mer menos. Ou ainda: De hoje em diante você prefere comer menos. Outros exemplos: Você aprecia (prefere, escolhe) ingerir fru- tas ao levantar pela manhã. Você escolhe (prefere, aprecia) estudar de segunda à sex- ta-feira das 14 às 18 horas. Você decidiu (es- colheu, preferiu) parar de fumar. Eu decidi e estou apreciando rever todos os dias cinco folhas do meu livro. Você está curtindo es- tudar das 14h às 19h todos os dias para ven- cer o exame vestibular. Algumas sugestões não estão na forma verbal negativa, e ainda assim traduzem negatividade, facilitando as associações men- tais negativas, sendo melhor substituí-las por sugestões que transmitam positividade. Há pessoas com crenças, pensamentos e senti- mentos negativos sobre determinado aspec- to da vida que não conseguem alcançar a meta que pretendem, mesmo que essa meta seja afirmada positivamente. Exemplos com- parando a sugestão mal elaborada com uma bem elaborada: Sugestões passíveis de associações nega- tivas: (a) Você quer perder peso (b) Você quer parar de comer (c) Você quer deixar de comer chocolate (d) Você quer deixar de fumar (e) Você precisa parar de fumar (f) O cigarro causa câncer no seu pulmão (g) Você quer parar de beber (h) Você quer parar de ficar acordado à noite (i) Você vai falar em público calmamente Sugestões tecnicamente mais adequadas (a) Você tem o domínio e o controle do seu peso (b) Você decide comer alimentos saudáveis 84 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. (c) Você prefere comer um pedaço de melancia (d) Você é um não-fumante (e) Você prefere permanecer respirando ar puro (f) Você prefere permanecer abstêmio e sem doenças (g) Você decide e prefere permanecer abstêmio (h) Você prefere dormir tranqüilamente à noite (i) Você tem o domínio das palavras em público 5. Considerar o objetivo das sugestões como já alcançado. As sugestões devem ser apresentadas como o paciente já apresentan- do as qualidades almejadas. Devem ser for- muladas como o paciente já sendo e já ten- do, muito embora ele ainda não tenha se tor- nado no que quer ser, nem tenha obtido o que deseja obter. Desse modo as qualidades desejadas se implantam na auto-imagem, que é o modo pelo qual uma pessoa se vê em sua mente. O subconsciente não distingue entre uma imagem representativa (que é imagina- da vivamente) de uma imagem real. O pa- ciente precisa acreditar no hipnólogo e nas sugestões por ele formuladas. Os fatores- chave para isso são: motivação, antecipação e imaginação. Criar uma motivação e fazer o paciente imaginá-la vivamente, antecipan- do o que ele sentirá. Hadley e Staudacher apresentam a equação: “Imaginação + moti- vação = Acreditar em você mesmo + anteci- pação”34 (p.55). 6. Empregar sugestões simples, curtas e claras. Usar palavras e frases simples, cur- tas e claras. Prefira empregar palavras de até três sílabas, simples e definidas. Deixe de lado palavras vagas, com duplo significado, e palavras abstratas ou palavras que possibi- litem erros de comunicação com o pacienteque está na sua frente. Use o termo exato para cada coisa. Isso reduz a confusão e o mal-entendido. Ao usar uma palavra, estar sempre atento à mensagem que está trans- mitindo em toda a frase. O subconsciente entende a palavra como a mente de uma cri- ança a entende. Se dissermos, você pode mover o dedo, ela pode responder que pode, sem mover o dedo. Um adulto em vigília ge- ralmente responderia movendo o dedo. Num programa para emagrecer e tornar-se esbel- to, se dissermos para uma pessoa perder peso, o seu o subconsciente vai querer achar o peso perdido, porque durante a vida toda foi ensi- nado que quando se perde alguma coisa, se quer achar. Então a pessoa perde peso e ema- grece; depois acha o peso e engorda. Prefira dizer que ela reduz o peso e emagrece ou elimina peso, principalmente gordura. 7. Enfatizar palavras e a entonação da fra- se. Durante a emissão das sugestões pode-se acentuar o enunciado de uma ou outra pala- vra, pronunciando-a com volume mais alto, mais baixo ou mais lentamente. Palavras- chaves e palavras decisivas das afirmações podem ser literalmente s-o-l-e-t-r-a-d-a-s. A informação soletrada vai profundamente na mente para ser processada porque usa racio- cínio dedutivo para juntar as partes. A sen- tença deve ser pronunciada com uma inflexão adequada para melhor enfatizar o efeito desejado. A voz precisa combinar com o que se transmite, com o resultado espera- do, com a expressão facial, gestos e expres- são corporal do hipnólogo. 8. Pausas. Durante a terapêutica sugesti- va podem-se utilizar pausas entre as sílabas de uma palavra, entre palavras, entre frases ou entre um conjunto de frases que destaca idéias semelhantes. As pausas dão tempo ao paciente para responder às sugestões. Neste livro pausas de três segundos são representa- das por três pontos (...), pausas de cinco se- gundos por cinco pontos (.....). CAP˝TULO 4 85 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. 9. Repetição, Repetição, Repetição. O ideal é repetir as mesmas sugestões quer com a mesma fraseologia, quer com fraseologia semelhante, para que as sugestões tornem- se parte do pensamento do paciente. A utili- zação de sinônimos pode ser empregada para reforçar o estado desejado.34 A repetição, repetição, repetição, também é um modo de alcançar o subconsciente e automatizar a sugestão. Numa série de frases com suges- tões repetitivas, mantenha-se transmitindo sugestões estritamente relacionadas e permi- tindo tempo entre cada sugestão, para a men- te do paciente “metabolizá-la”. Por exem- plo: sugestões de relaxamento repetidas com ou sem variações, mas sempre transmitindo a idéia de relaxamento. Sugestões para anestesia da mão direita, com ou sem varia- ções, mas sempre transmitindo a idéia de anestesia na mão direita. Usualmente nós repetimos entre seis a oito vezes cada frase sugestiva em cada consulta. Não existe um trabalho experimental indicando o número preciso de repetições para cada caso, mas a imensa maioria dos autores indica a neces- sidade da repetição. Alguns autores dizem que os resultados das sugestões são tempo- rários, porém acumulativos. Isto significa que na primeira vez duraria pouco tempo, na segunda vez duraria mais, na terceira re- petição a duração seria maior, até passar a ser um hábito padrão do paciente.30 Na vida diária quanto mais vezes estudamos um as- sunto, maior a quantidade de informações assimiladas e posteriormente evocadas. 10. Associar a sugestão a uma emoção. A aceitação de uma sugestão é mais fácil quando está associada a uma emoção apro- priada para o paciente. A emoção apropria- da torna a sugestão mais eficiente. Se a emo- ção apropriada para o paciente puder ser de maior intensidade, a eficiência da sugestão será ainda maior. Observe os sinais não-ver- bais e inconscientes manifestados pelo pa- ciente, indicadores da aceitação da suges- tão. Se a sugestão ou a emoção não for apro- priada, não havendo resposta inconsciente do paciente, apresente de outro modo a suges- tão, com outra emoção. A emoção apropriada deve fazer parte do contexto que desejamos comunicar. 11. Focalizar um objetivo de cada vez. Quando houver muitos problemas para re- solver, selecione para tratar um problema para cada consulta ou para uma série de con- sultas. Posteriormente adicione outro proble- ma no tratamento. 12. Usar palavras, toques ou situações- chave. Após a repetição da adequada fraseo- logia várias vezes, use uma palavra-chave, e/ou toque, e/ou situação para desencadear a resposta para um grupo específico de su- gestões. Isto é, condicione ou ancore as res- postas em uma palavra-chave, e/ou toque, e/ ou situação ou combinação disso. 13. Estar de acordo com as expectativas, crenças e vontade do paciente. As sugestões devem ir ao encontro das crenças, convic- ções, expectativas e vontade do paciente. A sugestão pode ser transmitida visando inten- sificar e amplificar uma crença, expectativa ou vontade positiva do paciente, e/ou visan- do minimizar uma expectativa ou crença, expectativa ou vontade negativa do próprio paciente. A maneira de conceber as suges- tões é particular para cada paciente, sendo determinada pelo modo como o paciente pensa, isto é, pelo seu sistema de crenças, expectativas e vontade, não apenas pela sintomatologia. Cada sugestão na mente do paciente transforma-se em auto-sugestão. Nós somos os instrutores, o próprio pacien- te é o executante. No fundo a “hipnose é auto- sugestão guiada.” Pouco adiantaria dizer para uma pessoa que adora chocolate, que cho- colate tem gosto ruim, porque ela não acre- ditaria. Os acontecimentos exteriores ao pa- ciente, como as sugestões, influenciam e lo- 86 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. calizam as percepções do paciente; como também os seus processos internos, como seus interesses, sua auto-imagem, suas me- tas, seu nível cultural, seu estado físico e psicológico. Porém, a resposta do paciente é a forma pela qual o paciente vê, interpreta e vivencia a sugestão35 Assim é válido respi- rar na velocidade e profundidade com que o paciente respira. A resposta do paciente de- pende da sua interpretação da comunicação sugestiva transmitida. Assim, muitas vezes transmitem-se sugestões terapêuticas inespe- cíficas, principalmente quando não se dis- põe de um anamnese detalhadíssima para permitir apresentar uma sugestão terapêuti- ca específica. Por outro lado, o próprio pa- ciente elabora o conteúdo dessa sugestão inespecífica. Exemplo deste modo de comu- nicação: Você pode deixar seu corpo funcio- nar em seu benefício. Você pode recordar o que acha útil lembrar para o exame. 14. Associar as sugestões às imagens ade- quadas para o paciente. Associe as suges- tões às imagens adequadas. Visualização de imagens com características de todos os sen- tidos: visão, audição, olfação, gustação e tato, incluindo pressão, calor, frio, vibração e, além disso, adicione movimento as imagens, para acentuar a programação mental das su- gestões verbais diretas e das sugestões pós- hipnóticas. Desse modo atingem-se ambos os hemisférios cerebrais, o esquerdo com as sugestões positivas e afirmativas e o direito com as visualizações. A imaginação é um veículo, um feixe de comunicação direta com o subconsciente. A sugestão é mais eficaz quando usamos intensos símbolos para re- presentar objetivos, e que esses símbolos se- jam obtidos da própria vida do paciente, de suas lembranças, de suas experiências pas- sadas e presentes; assim o paciente emprega a linguagem de seu subconsciente para ob- ter os resultados desejados.36 O ideal seria que cada sugestão oferecida ao paciente fosse associada às imagens adequadas da sua pró- pria experiência passada. Sugestões para o paciente imaginar um objetivo direcionado, isto é imaginar uma situação que se realmen- te ocorreu, o paciente tende a reproduzir o comportamentosugerido.5 Assim, em vez de simplesmente dizer que a mão do paciente está pesada, diga: “ Imagine que você está carregando uma sacola pesada com a mão direita. Agora, o seu braço e a sua mão di- reita estão pesados, e a sua mão direita abai- xa-se porque está muito pesada.” A situação que pedimos para o paciente imaginar deve ser uma experiência agradável. Quando o paciente imagina, atinge-se o hemisfério ce- rebral direito dos pacientes destros e tam- bém o hemisfério cerebral direito da imensa maioria dos canhotos. É importante obter a participação do paciente, quer você seja odontólogo, psicólogo ou médico. Essa par- ticipação pode ser conseguida inclusive para sugestões comuns como: Seus dedos de ambas as mãos estão rígidos e inflexíveis nas articulações. Seu braço se movimenta para a frente e para trás. A cada respiração o seu relaxamento é maior. A cada respiração sua concentração no estudo e assimilação é maior. Você está sentido uma sensação ma- ravilhosa de calma tranqüilidade e bem-es- tar. O uso de metáforas, que são modos de representar a imaginação utilizando a lingua- gem, facilita a indução, a visualização, a ima- ginação e a aceitação das sugestões terapêu- ticas. É necessário extrair essas metáforas das próprias palavras faladas pelo paciente durante a anamnese e durante a conversa com o ele no início de cada consulta. A metáfora precisa ter significado relacionado com os as- pectos conscientes e inconscientes do obje- tivo, ser intensamente viva para absorver as fontes emocionais, e ser significativamente forte na direção do sucesso do tratamento.37 15. Adjetivar o efeito desejado. Acentue e enfatize o efeito desejado com adjetivos e CAP˝TULO 4 87 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. pela entonação da pronúncia dos mesmos. O efeito desejado é o que o paciente deseja obter. Por exemplo: É maravilhoso que você estude matemática todos os dias. Como é fantástico que você encontre-se adequada- mente relaxado. Você está realmente brilhan- te, eliminando peso e emagrecendo. Esses adjetivos são reforços positivos. 16. Deixar algumas vezes a responsabili- dade da resposta ao paciente. O verbo poder coloca o ônus da resposta sobre o paciente, e ganha força com a repetição.38 Quando di- zemos: “Se você sentir-se calmo, descansa- do e tranqüilo, levante o seu dedo indicador da mão direita”. E o paciente não move o dedo, acrescenta-se: “Você pode mover o seu dedo indicador da sua mão direita”. Para re- forçar ainda mais podemos tocar com o nos- so dedo indicador no dedo indicador da mão direita do paciente. E, se necessário acres- centar: Você é capaz de mover o seu dedo indicador. Além disso, o verbo poder tem significado de permitir. Para comportamen- tos e coisas que facilmente podem ser verificáveis39 utilizar as palavras pode, po- deria, na fraseologia sugestiva de modo que se o sugerido não ocorrer, a pessoa não terá fracassado na resposta. Para aspectos não verificáveis utilizar palavras que implicam causação.39 Esta última construção usual- mente é feita após algumas construções com as palavras pode ou poderia. Exemplo: Seus dedos podem começar a se estender, e seu braço pode ficar rígido no cotovelo... todo o seu braço direito pode ficar rígido desde o ombro até a ponta dos dedos... e o cigarro pode cair da ponta dos dedos... Isso faz você se sentir mais calmo. O verbo permitir é ex- celente para facilitar a receptividade do pa- ciente às sugestões. Observe o alcance des- tas frases: você pode-se permitir continuar relaxando ainda mais. Você se permite fazer atividade física para manter o seu corpo es- belto e bem-modelado. 17. Remover algumas sugestões. Com ex- ceção das sugestões de bem-estar, das suges- tões pós-hipnóticas relacionadas com a faci- lidade do tratamento na próxima consulta, das sugestões relacionadas com o tratamen- to, as demais sugestões devem ser removi- das. Remover antes de terminar a consulta as sugestões de sono, as sugestões para dor- mir (exceto no tratamento da insônia), as sugestões de pesado, as sugestões para mo- vimentos automáticos, rigidez muscular, anestesia (exceto quando necessitamos dessensibilizar uma região), ilusões e aluci- nações. Essas sugestões costumam se remo- ver imediatamente após a obtenção da res- posta desejada. Quando se utilizou “regres- são de idade”, fazer o paciente voltar a ida- de atual, antes de terminar a hipnose formal. Além disso, antes do término da consulta dar sugestões de calma, tranqüilidade e bem-es- tar; sugestões para o paciente abrir os olhos calmo, tranqüilo, bem disposto, bem desperto e sentindo uma sensação maravilhosa de bem-estar e muito melhor do que antes. 18. Eliminar sugestões contraditórias. Eli- mine qualquer sugestão contraditória ou qualquer sugestão que pela interpretação do paciente possa tornar-se contraditória. Exem- plificando: Imagine-se sentado numa roda gigante. A roda-gigante começa mover-se. A cada giro da roda gigante você sente mais sono. O paciente pode ter medo de roda-gi- gante, em vez de responder com sono pode ficar ansioso e inquieto, ou pode a imagina- ção do movimento da roda-gigante desenca- dear tontura. Quando o paciente está com o braço relaxado, a sugestão para o braço se elevar e subir, pode ser contraditória para um paciente: Se o braço está relaxado (e pesa- do) como levantá-lo? Com o braço totalmen- te relaxado uma sugestão de que ele está pesado e se abaixa pode ser mais facilmente aceita. Essa sugestão pode ser ainda mais facilitada pedindo para o paciente visualizar 88 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. um livro sobre a palma da mão, ou uma sa- cola de supermercado com um pacote de açúcar dentro. Suas pálpebras estão tão pe- sadas como chumbo poderia ser associada com caixão de chumbo e então com morte.38 Eliminar o contraditório das maneiras de co- municação do profissional, antes mesmo de o paciente interpretar a comunicação. Se transmitirmos a sugestão de calma para o paciente gritando: Calma!, já transmitimos duas coisas incompatíveis. O conteúdo da pa- lavra deixa de combinar com a forma como foi transmitida. Se transmitirmos a sugestão seguinte: “Preste atenção cuidadosamente no dorso da sua mão direita” com tom de voz adequado, mas em alta velocidade, já trans- mitimos duas coisas incompatíveis. É difícil eliminarmos da fraseologia uma sugestão que possa ser contraditória para determinado paciente, porque nunca sabemos como o pa- ciente vai interpretá-la. Contudo, podemos muitas vezes evitar sugestões potencialmente contraditórias para determinado paciente. Por exemplo, antes de pedir para o paciente visualizar um jardim, perguntar se o pacien- te gosta de jardim. Pode ser que ele tenha alergia a determinada flor. 19. Usar palavras de incentivo. A lingua- gem falada além de ser um meio de comunica- ção é um instrumento do pensamento. A pala- vra não é uma substância armazenada nos neurônios do SNC, mas é um relacionamento funcional existente entre milhões de neurônios. As palavras de incentivo fazem as pesso- as sentirem-se bem porque elas foram con- dicionadas durante a vida para responder a essas palavras dessa maneira. Apresente al- gumas palavras isoladas ou em frases curtas de parabéns e incentivo pelo fato de o paci- ente ter apresentado a resposta desejada. Essas palavras de incentivo agem como re- forço para o que está acontecendo. Pode-se elogiar desde o fato do paciente relaxar-se. As palavras incluem: Parabéns, você está indo muito bem. Está bem. Ótimo! Excelente!40 Você visualiza adequadamente! Você imagi- na muito bem! Você está com o seu corpo pro- fundamente relaxado! Ótimo, continue! A palavra gostoso traduz para os brasileiros uma situação agradável e pode ser usada com al- guma freqüência. Exemplo: na próxima con- sulta o relaxamento vez será mais fácil, rá- pido, gostoso e proveitoso para você.20. Formular indiretamente as sugestões. Desenvolva sua habilidade para formular as sugestões de modo indireto. O modo indire- to é mais difícil de ser manejado, mas é eficientíssimo porque minimiza o senso crí- tico do paciente; porém permite várias in- terpretações. As sugestões indiretas também incluem analogias, metáforas e contar histó- rias objetivando os efeitos desejados. 21. Formular de modo permissivo, às ve- zes com pressuposições em modo direto e permissivo. A fraseologia permissiva de uma sugestão tende a ser mais efetiva do que a fraseologia autoritária da mesma su- gestão12 Mais pessoas mostram aparente amnésia com a sugestão teste: “Tente es- quecer” do que com a sugestão teste “Você esquece” ou “você esquecerá”. Um modo singular de apresentar as sugestões é de modo direto, permissivo, como pressupo- sições, parecendo o mínimo possível uma ordem, mas sim acatando as experiências de cada paciente. Exemplos incluem: “Pode ser que você queira fechar os olhos”. “Pode ser que seus olhos queiram se fechar”. “Você pode permitir que os seus olhos se fechem”. “Pode ser que você respire pro- fundamente”. “Pode ser que você queira res- pirar profundamente”. “Você permite que os seus pulmões respirem profundamente”. “Talvez você sinta um formigamento no seu pé direito”. “Pode ser que você sinta um formigamento no seu pé direito”. “Você pode deixar você mesmo perceber um for- migamento no seu pé direito”. “Você per- CAP˝TULO 4 89 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. mite que os seus braços se movam”. “Você deixa o seu braço movendo-se para a frente e para trás”. “Você permite que os seus bra- ços se movam automaticamente”. 22. Sugestões para remover, eliminar, cancelar, limpar ou anular programações mentais negativas. Muitas vezes, antes de apresentar as sugestões terapêuticas preci- samos remover e eliminar as mensagens ne- gativas existentes do subconsciente, a fim de modificarmos sua auto-imagem para melhor. Remover do subconsciente todo o entulho negativo: ressentimentos, mágoas, tristezas, preocupações, revoltas, pensamentos de di- ficuldade, derrota, imobilidade, incapacida- de. Pensamentos negativos causam compor- tamentos pessimistas. O que mantém as reprogramações mentais negativas é o siste- ma de crença da própria pessoa. Ela imagina que está definitivamente presa a todo esse entulho negativo e assim continua. O siste- ma de crenças são as expectativas que cada pessoa tem sobre o mundo em torno dela e sobre ela mesma, e são originadas a partir da sua própria experiência direta, da obser- vação das outras pessoas, de uma autorida- de (ensinado pelos pais, professores, religio- sos, meios de comunicação, especialmente televisão e Internet), das conclusões de pen- samentos lógicos. 23. Elaborar a idéia da sugestão em três a oito frases com o mesmo objetivo. Escolher as frases cuidadosamente, para que tenham sentido quando comparadas umas com as outras. Preferimos várias frases com o mes- mo objetivo específico porque algumas fra- ses podem ser menos efetivas do que outras em decorrência de bloqueios ou associações negativas das experiências, sentimentos ou pensamentos do paciente com algumas pa- lavras da frase. Com diversas frases, a chance de todas apresentarem bloqueios ou associa- ções negativas é reduzida. As frases, quan- do comparadas entre si, ainda precisam fa- zer sentido para o subconsciente. 24. Permitir bastante tempo para o pacien- te responder a cada sugestão e observar as suas respostas não-verbais. O paciente ne- cessita de tempo para entender, “meta- bolizar”, digerir a sugestão e transformá-la em comportamento ou experienciá-la interi- ormente. A necessidade de tempo varia de um tipo de comportamento para o outro, de um tipo de experiência interior para outro. Alguns pacientes precisam mais tempo para que a mão se eleve no espaço do que para ficar com o braço rígido, enquanto outros precisam mais tempo para desenvolver uma ilusão auditiva do que uma gustativa. Além disso, a necessidade de tempo varia de uma pessoa para outra e de um momento para outro. As sugestões terapêuticas também precisam de tempo para agir. 25. Formular as sugestões preferencial- mente de acordo com o principal sistema representacional do paciente. Quando a fraseologia da sugestão é formulada combi- nando com o melhor modo representacional do paciente (visual, auditivo ou cinestésico), as sugestões agem mais eficientemente.41 Contudo, referindo-se à idéia de sistema representacional primário, e sobre a possi- bilidade da determinação desse sistema pela observação das palavras no diálogo de uma pessoa ou pela movimentação dos olhos, e que essa determinação seria importante para acentuar o rapport, Heap42, revendo a lite- ratura, constatou que as asserções anterio- res carecem de prova científica. 26. Algumas vezes formular as sugestões sob a forma de uma pergunta positiva e afir- mativa, permitindo tempo para o paciente desenvolver a idéia transmitida. A idéia apre- sentada sob a forma de uma questão positi- va e afirmativa induz a mente da pessoa a uma resposta e a mente movimenta-se, fa- zendo associações na direção desejada.43 90 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Aprenda a fazer o tipo de pergunta que in- duz a resposta que o paciente quer, e permi- ta tempo para a mente do paciente desenvol- ver as respostas. Transmitir a pergunta afir- mando o que o paciente quer obter de modo como se ele já tivesse obtido. Exemplos de questões afirmativas positivas: Por que você é feliz? Por que você tem esse enorme suces- so? Como você sente esse maravilhoso pra- zer sexual? Como você pode emagrecer, ficar e permanecer esbelta? Como você pode per- manecer sem fumar cada dia? Como você es- tuda, aprende, fixa as informações e lembra delas quando precisa? Como você aprende, fixa e lembra tudo o que você lê? Como você pode mobilizar as suas energias para ganhar dinheiro em abundância? Como você pode conseguir um emprego e ser feliz? Com qual rapidez você pode pensar positivamente? Você quer saber como permanecer calmo e tranqüilo? Você quer saber como pode per- doar as pessoas ou determinada pessoa? Como você pode permitir-se viajar de avião calma e tranqüilamente? Quão rapidamente você vai dormir quando deitar na sua cama à noite? 27. Individualizar, adaptando as sugestões às necessidades conscientes e subconscientes de cada paciente. As idéias criadas, elaboradas e transmitidas seguindo os itens anteriores, que são individualizadas para cada paciente e vão ao encontro das necessidades conscientes e sub- conscientes de cada um deles, e são a cada mo- mento adaptadas às suas realidades, freqüente- mente alcançam as realizações desejadas. A observação das respostas ideodinâmicas (sinais não-verbais), geralmente mediadas pelo siste- ma nervoso autônomo, nos informa sobre as mensagens do subconsciente. COMO AS PESSOAS RESPONDEM ÀS SUGESTÕES A estrutura e a fraseologia das sugestões são aspectos determinantes das respostas não voluntárias durante a hipnose, como também as percepções das respostas involuntárias pe- las próprias pessoas durante a hipnose, ge- ralmente, são consistentes com as suas per- cepções de como as pessoas hipnotizadas res- pondem às sugestões hipnóticas.44 As suges- tões transmitidas pelo hipnólogo apresentam uma variabilidade de interpretações pelo pa- ciente, quer no significado quer nas impli- cações e essa possibilidade de variada inter- pretação provavelmente é responsável em grande parte das variações observadas nas respostas subjetivas e comportamentais dos pacientes. Um aspecto é como a pessoa hip- notizada percebe a sua resposta às sugestões, se como sendo voluntária ou involuntária; outro aspecto é que no momento da ativação todo o comportamento é iniciado automati- camente, em vez de ser desencadeado pela intenção consciente.45A interpretação das sugestões pela pes- soa é fundamental para definir a resposta como involuntária.46 As sugestões transpor- tam de modo implícito que as experiências sugeridas ocorrem de modo involuntário.47 Spanos observou três maneiras de as pessoas responderem às sugestões:46 (1) Não respon- dem às sugestões porque escolheram não co- operar com as sugestões ou porque as pesso- as deixaram de perceber o significado tácito requisitado. (2) Respondem às sugestões de- finindo as suas respostas como ocorrendo de modo voluntário porque eles deixaram de perceber o significado de involuntário ou porque mesmo que estejam conscientes da resposta involuntária, escolhem ignorar isso, e atribuir as suas respostas aos seus próprios esforços ou ao desejo de deixar isso ocorrer; ou ainda podem simular as respostas hipnó- ticas. Neste último caso, podem não expe- rienciar a sugestão relacionada com os efeitos e, por alguma razão, podem desejar comuni- car a impressão que eles estão hipnotizados. (3) Podem agir de acordo com as sugestões CAP˝TULO 4 91 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. e acreditar que as suas respostas ocorrem de modo involuntário. Com fraseologia auto- ritária as respostas tendem a ser considera- das como involuntárias, enquanto que com fraseologia permissiva, as respostas tendem a ser mais consideradas como voluntárias.48 Quando a fraseologia das sugestões é para estimular fantasias objetivo dirigidas, as res- postas tendem a ter sensação e sentimento de involuntárias.49 SUGESTÕES ASSIM CHAMADAS PÓS-HIPNÓTICAS São sugestões apresentadas ao pacien- te durante a hipnose, associadas a um sinal condicionado, para serem realizadas depois da consulta, quando já não haja mais rela- cionamento direto entre o hipnólogo e o pa- ciente. Provavelmente pedindo para o pa- ciente concentrar a atenção no que vamos sugerir, facilita o aprendizado da sugestão pós-hipnótica, porque quanto mais focali- zada a atenção do paciente mais fácil é o aprendizado, isto é, a associação da suges- tão com o fator (sinal) desencadeador. A sugestão pós-hipnótica deve ser transmiti- da no momento que o paciente esteja feliz, para que quando a sugestão for executada, o paciente possa voltar àquele momento de felicidade.50 A sugestão pós-hipnótica sen- sorial verbal deve ser enfática, muitas ve- zes expressada no tempo verbal imperati- vo. Por exemplo: seguro o pulso do pacien- te com o dedo polegar por cima e os dedos indicador e médio por baixo e digo com determinado tom de voz “De hoje em dian- te toda a vez que você vier ao meu consul- tório para tratamento pela hipnose, quando eu tocar (segurar) no seu pulso direito des- te modo, pronunciar o seu nome, (exemplo: Luiz), seguido das palavras feche os olhos, relaxe-se e aprofunde-se, e permanecendo aberto às sugestões terapêuticas, você ime- diatamente fecha os olhos, relaxa todos os músculos do seu corpo e aprofunda-se, e permanece aberto para as sugestões terapêu- ticas. Essa fraseologia é repetida exatamen- te igual várias vezes. Na próxima consulta quando tocarmos o pulso do paciente, pro- nunciarmos o seu nome e dissermos com o mesmo determinado tom de voz as palavras feche os olhos, relaxe-se e aprofunde-se e permaneça aberto às sugestões terapêuticas, o paciente estará pronto e mais receptivo para receber as sugestões necessárias para o seu tratamento. O ideal é formular suges- tões pós-hipnótica cujos estímulos possam ser persistentes (sem limite de tempo), como no caso do toque no pulso que pode ser mantido até obtermos a resposta desejada ou o toque no pulso pode ser repetido algu- mas vezes juntamente com as palavras, até a obtenção do efeito desejado. Uma moti- vação suficientemente forte auxilia a exe- cução da sugestão pós-hipnótica. Costuma- mos no final de uma consulta transmitir a sugestão pós-hipnótica que na próxima con- sulta o paciente se relaxará ainda mais fá- cil e rapidamente do que agora. Essa su- gestão pode ser: nas próximas consultas a indução da hipnose vai ser muito mais fá- cil, rápida e gostosa. Nas próximas consul- tas com hipnose os efeitos das sugestões serão ainda mais imediatos, progressiva- mente crescentes e permanentes para a sua saúde e felicidade. Opções de sugestões para intensificar os efeitos das idéias sugeridas: (a) Estas sugestões, estas idéias, são imediatamente ativas e a cada novo dia os seus efeitos são progressivamente cres- centes. (b) Minhas palavras de comum acor- do com você ecoam profundamente dentro da sua mente, cada palavra, o sentido de cada palavra, fixam-se profundamente na sua mente, e a cada novo dia estas palavras crescem cada vez mais na sua mente. (c) A 92 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. cada dia estas idéias crescem cada vez mais na sua mente, tornando-se cada vez mais po- derosas e eficientes para o seu proveito e benefício. (d) De hoje em diante você está com a sua mente aberta para estas idéias que se fixam no seu consciente e no seu subconsciente, e seus efeitos são imedia- tos, e crescentes e permanentes. (e) A cada consulta você aceita totalmente que as idéi- as e sugestões transmitidas de comum acor- do com você, impregnem a sua mente positi- vamente para a sua saúde e felicidade. (f) Na próxima consulta os efeitos serão ainda mais imediatos, progressivamente crescentes e permanentes para a sua saúde e felicidade. Algumas vezes adicionamos ainda a suges- tão pós-hipnótica que quando terminar a con- sulta o paciente deixará de lembrar o que conversamos, porque não interessa lembrar. Ao encerrar a consulta, não tendo o paci- ente lembrança consciente de que foi for- mulada uma sugestão pós-hipnótica, ela se- ria mais eficaz. A sugestão pós-hipnótica pode ser formulada para ser cumprida ime- diatamente após o término da consulta, sem associação com nenhuma outra condição, ou para ser cumprida algum tempo depois do término da consulta (minutos, horas, dias, semanas, meses ou anos), quando for acio- nado um ou mais sinais condicionados. Os fatores condicionantes da sugestão pós-hip- nótica, seja a linguagem falada (palavras- chave e modo se sua transmissão), associ- ada ou não a outras sugestões sensoriais tá- teis (como um toque, um gesto ou uma ação), e, ainda, associada ou não a uma circuns- tância, condição ou situação (estar fazendo alguma coisa, estar em algum lugar, estar vestido de determinado modo, quando for tal hora etc.), algumas vezes é chamado de signo-sinal por alguns autores.51 O signo- sinal também é chamado de sinal hipno- gênico52,53 ou sinal hipnógeno,53 e mais comumente refere-se à sugestão pós-hip- nótica transmitida para induzir a hipnose mais rapidamente nas consultas seguintes. O ideal é criar a sugestão pós-hipnótica segundo estes critérios: (a) Que o paciente esteja com a atenção focalizada no que vamos dizer. (b) Que o paciente esteja feliz no momen- to que se transmite a sugestão. (c) Que haja acentuada motivação por parte do paciente para aceitá-la. (d) Que seja lógica com relação à situação. (e) Que seja específica a situação. (f) Que focalize o objetivo. (g) Que haja relação entre o sinal hipno- gênico e o objetivo. (h) Que possa ser imaginada pelo pacien- te com todos os seus cinco sentidos. (i) Que seja repetida umas seis a dez ve- zes numa consulta e nas seguintes. (j) Associar metáforas que aumentam a eficiência.54 A sugestão pós-hipnótica pode estar mais relacionada com a motivação do que com a suscetibilidade hipnótica de uma pessoa. Pa- cientes com baixa suscetibilidade hipnótica medida pelas escalas de suscetibilidade, quando explicados para agir como pessoas muito suscetíveis, têm seis vezes mais pos- sibilidades de executar com sucesso suges- tões pós-hipnóticas do que as pessoas alta- mente suscetíveis segundo as escalas.55 A sugestão pós-hipnótica com freqüên- cia é empregada para associaruma situação, um ato fisiológico ou um movimento volun- tário como o a respiração, o movimento de um dedo, ao relaxamento físico e mental, à calma, à concentração, ao aumento da per- formance. A fraseologia sugestiva é cuida- dosamente elaborada a partir das informa- ções obtidas do próprio paciente, sendo transmitida quando o paciente está totalmen- te atento. O objetivo do sinal desencadeante da resposta pós-hipnótica (signo-sinal, sinal condicionado, sinal hipnogênico, âncora) é CAP˝TULO 4 93 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. substituir uma resposta desagradável e inde- sejável por uma resposta desejável para a situação e, assim, com a hipnose associamos respostas novas e desejadas, com situações, comportamentos e experiências internas. Lembrar que o tom da voz pode ser um sinal condicionado ou âncora. Eis alguns exem- plos: Quando você chegar ao trabalho, sentar- se na sua cadeira e fizer duas respirações, inspirando pelo nariz e soltando o ar lenta- mente pela boca, você sentirá todo o corpo frouxo, solto, relaxando, sentindo uma sen- sação maravilhosa de calma, tranqüilidade e de bem-estar. Quando sentar no seu local dedicado ao estudo, imediatamente estará visualizando dentro da sua mente a palavra aprender, e desse momento em diante permanece con- centrado no que deseja estudar e aprender. Quando você entrar na sala do exame e sentar-se no seu local para fazer a prova, fi- cará sentindo imediatamente uma sensação maravilhosa de calma tranqüilidade e de bem-estar. Ao receber a folha das provas você per- manece tranqüilo, concentrado com sua ca- pacidade de raciocínio e de lembrança, que estão funcionando muito bem. Quando você estiver na quadra de tênis permanecerá calmo, tranqüilo e totalmente concentrado na bola e no jogo. Cada vez que estiver sacando (vôlei, tê- nis, tênis de mesa) estará sentindo enorme confiança e percebendo perfeitamente o lo- cal que deseja colocar a bola. Toda vez que você encostar as pontas dos seus dedos indicador e polegar da sua mão esquerda, imediatamente sentirá uma sensa- ção maravilhosa de calma, tranqüilidade e bem-estar. Enquanto veste e permanece usando a ca- misa do seu time para uma partida de futebol você se sente calmo, tranqüilo e concentra- do no objetivo de vencer. Todas as vezes que o técnico transmitir instruções, você facilmente as entende e as executa. Imediatamente antes de levar qualquer alimento à boca a palavra esbelto fica flutu- ando na sua mente, e você se visualiza com o seu corpo bem-modelado, com o seu peso ideal e sentindo-se maravilhosamente bem. Ao iniciar uma palestra, ao ajustar o mi- crofone, você se harmoniza totalmente com a platéia e pronuncia uma palestra brilhante. Toda vez que suas mãos estiverem den- tro das luvas de boxe e você fizer os “pu- nhos” você se concentra no adversário e fica determinado a vencer. Antes de cada lance livre, você com a bola na mão toma uma respiração profunda pelo nariz, solta o ar pela boca, fica tranqüilo, olha para a cesta e joga automaticamente a bola dentro da cesta. A sugestão pós-hipnótica mostra que se pode estabelecer e ativar objetivos, mesmo quando a fonte dos objetivos está fora do campo consciente (a pessoa está hipnotiza- da) e que ativando coisas relacionadas com objetivo (um sinal condicionado), ativa-se o próprio objetivo. Um paciente pode resistir a uma sugestão pós-hipnótica se ele escolher resistir, se ocor- rer uma emergência ou se a sugestão for con- tra os seus interesses. Neste último caso ele pode acordar, entrar espontaneamente em sono natural ou simplesmente não cumprir a sugestão. Quando ocorrer uma emergência, ou uma situação que requeira a modificação da resposta do paciente, ele poderá deixar de cumprir a sugestão pós-hipnótica para aten- der a situação de emergência, ou para atender a uma situação que ocorreu imediatamente depois do sinal-chave ter sido desencadeado. Exemplificando, o paciente está sozinho em 94 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. sua residência, inicia o relaxamento com o seu sinal hipnogênico, quando ouve o som da cam- painha. Se atender a porta da sua residência estiver de acordo com os seus interesses ele pode deixar de cumprir a sugestão pós-hipnó- tica. Mas, se atender à porta de sua residên- cia não estiver de acordo com os seus inte- resses, ele cumprirá a sugestão pós-hipnóti- ca. E ainda, se após o sinal hipnogênico, quan- do estiver realizando uma sugestão pós-hip- nótica, perceber que o ferro de passar roupas deixado ligado pela empregada está cheiran- do a queimado (situação de emergência), ele interromperá o cumprimento da sugestão e atenderá a essa situação de emergência. O cumprimento da sugestão pós-hipnótica é mediado por chaves situacionais, mediadas por expectativas e podem ser consideradas ações dirigidas ao objetivo. Algumas Indicações para as Sugestões Pós-hipnóticas ð Facilitar a rapidez da hipnose nas pró- ximas consultas. ð Facilitar e aumentar o relaxamento do paciente. ð Deixar de se importar com fatores ou circunstâncias bem conhecidas e irri- tantes, incômodas ou constrangedo- ras, como: uso de próteses, uso de óculos, uso de lentes de contato, a tor- cida adversária, algumas vezes a opi- nião da mídia, de determinadas pes- soas etc. ð Facilidade para apresentar-se em pú- blico, apresentar um trabalho numa reunião científica, conversar com um superior, participar de um tutorial, fazer uma exame. ð Facilitar e melhorar o relacionamen- to de vendedores, demonstradoras e políticos, respectivamente com com- pradores em potencial, clientes em potencial e com os eleitores. ð Aumentar a confiança no sucesso du- rante uma competição esportiva ou uma performance num palco. ð Apagar ou anular a recordação de acontecimentos passados relacionados com padecimentos atuais, modificar a memória das recordações ou modifi- car as reações a essas recordações. ð Eliminar o desconforto e a dor do pós- operatório ou de um exame médico invasivo. ð Eliminar o desconforto e a “dor” du- rante o trabalho de parto ou durante uma cirurgia. ð Transmitir sugestões terapêuticas es- pecíficas. ð Treinar o paciente quando estiver indicada a hipnoterapia. A sugestão pós-hipnótica apresenta du- ração variável. Na literatura há relatos de uma sugestão pós-hipnótica ter sido reali- zada após muitos anos. Com provas indis- cutíveis o período entre a sugestão pós-hip- nótica e a sua realização pode estender-se a muitos meses e mesmo anos.1 Essa durabi- lidade foi investigada em 1963 por Edwards que observou uma variação individual no decaimento dos efeitos da resposta pós-hip- nótica de um dedo a uma buzina até 405 dias, o maior intervalo testado.56 Por outro lado, nesse mesmo ano Orne deu a suges- tão pós-hipnótica para pessoas enviarem um cartão-postal diariamente de uma pilha de 50 cartões.57 E o envio diário dos cartões- postais parou muito antes de acabar a pi- lha. O que facilita a persistência da suges- tão pós-hipnótica é ela estar de acordo com a vontade do paciente, não ser motivo de constrangimento e ser possível de ser reali- zada. A duração da sugestão pós-hipnótica depende ainda da fraseologia sugestiva, do CAP˝TULO 4 95 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. modo como é formulada essa fraseologia e das opções de reforço. Quando a sua exe- cução depende de um sinal do próprio mé- dico, a tendência é persistir por muito mais tempo. O reforço periódico da sugestão pós- hipnótica por meio da repetição do seu enunciado tende a aumentar a eficácia da resposta. Se após a realização de uma sugestão pós-hipnótica perguntarmos ao paciente por que ele procedeu deste ou daquele modo, por que fez isto ou aquilo, a tendência é ele fazer racionalizações na tentativa de expli- car o cumprimento da sugestão. Quando um paciente concretizauma sugestão pós-hip- nótica e o sinal condicionado continua per- sistindo, ele poderá apresentar manifesta- ções de ansiedade, sentir necessidade com- pulsiva de cumpri-la novamente ou simples- mente nada fazer porque já executou a su- gestão. Alguns autores58 não considerariam como verdadeiras sugestões pós-hipnóticas, aque- las que são realizadas após o término da hip- nose formal, enquanto o paciente ainda está na presença do hipnólogo, nem aquelas efe- tivadas dias depois, quando o hipnólogo vê o paciente durante esse intervalo de tempo. Eles denominam essas sugestões de intra- hipnóticas. SUGESTÕES DE IMAGENS (VISUALIZAÇÃO) Visualização significa formar conceitos, sentimentos com imagens na mente. O pon- to-chave é visualizar-se como sendo, tendo, fazendo, agindo, alcançando, conseguindo, obtendo ou como já tendo feito, agido, al- cançado, conseguido, obtido o que se dese- ja. Não é visualizando tentando conseguir ou visualizando que irá conseguir ou que espe- ra conseguir, que se obtém o resultado dese- jado. Sugira ao paciente para visualizar-se como tendo e sendo, para obter a resposta desejada, porque o subconsciente não dis- tingue entre fato real e fato vivamente ima- ginado. Visualizando já tendo as qualidades que se deseja ter, implanta-se no subcons- ciente uma memória aprendida de uma ação de sucesso, e informa-se ao subconsciente o que espera alcançar. Com a visualização criam-se dois objetivos: (1) A visualização do objetivo realizado. (2) A visualização dos passos conduzindo a realização do objetivo. A visualização é poderosa porque vem de dentro da pessoa e a pessoa acredita nela. A pessoa imagina, visualiza imagens de suas próprias memórias, experiências, sentimen- tos e pensamentos. Portanto, a pessoa está usando a linguagem do seu próprio subcons- ciente para estabelecer mudanças. Quanto mais praticar a visualização ou quanto mais utilizar imagens visuais, tanto mais fácil e detalhada será a visualização. A prática fa- cilita a habilidade para visualizar. Geralmen- te, a visualização é feita após a pessoa en- trar num estado de relaxamento físico, men- tal e psicológico. É preferível sugerir a visualização de imagens em todos os senti- dos, visualizando-se vivamente as sensoper- cepções tácteis, olfativas, gustativas, auditi- vas, visuais e cinestésicas. Fazer o enuncia- do das imagens visualizadas de modo afir- mativo e no presente do indicativo, detalha- da e repetidamente. Descubra o tipo preferi- DICA: Analise com calma e detalhadamente cada frase da sugestão pós-hipnótica, quanto ao conteúdo em si, quanto às circunstâncias, quanto ao tempo de aplicação e quanto às respostas do paciente. A sugestão pós- hipnótica é um aprendizado decorrente da associação de informações que tende a acontecer tanto melhor quanto mais a atenção está focalizada durante esse aprendizado. 96 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. do de visualização do paciente. Um paciente para relaxar pode responder melhor à visualização da sensação de pesado, outro à de leveza, outro à de aquecimento, outro à visualização das imagens auditivas de uma música, outro às imagens visuais de uma praia, outro às imagens gustativas de um ali- mento e outro às imagens de movimento de um baile. Para sentir o poder da imaginação e como as palavras podem curar, leia este parágrafo visualizando cada frase desejan- do sentir o que elas querem dizer. (Caso não goste de pipoca, substitua por outro alimento como amendoim.) Imagine-se no verão no mês de janeiro. Visualize-se na praia de sua preferência ... Você está na praia de sua preferência. Você está dei- tado sobre a toalha na areia da praia e é meio-dia. O sol está a pique. Faz muito, muito calor. Os raios do sol tocam no seu corpo. Você está com sede ... Você sente a garganta seca ... Faz muito, muito calor. Você está com muita sede. Agora esta pas- sando o vendedor de pipocas salgadas ... Você compra um pacote e começa a comer ... O sal nas pipocas aumenta a sua sede ... A cada novo segundo a sua sede é maior. Para sua sorte, neste momento, está pas- sando o vendedor de melancia já cortada em fatias e geladinha. Você compra algu- mas fatias de melancia gelada e apetitosa ... Imediatamente você dá uma mordida gostosa na melancia gelada ... Você per- cebe o geladinho da melancia dentro da sua boca. À medida que você saboreia a me- lancia, ela vai matando a sua sede e vai refrescando você por dentro. É provável que chegando até este ponto da leitura visualizando cada frase, você tenha senti- do desejo de beber água, depois percebeu a cor da melancia e sentiu o seu gosto, e após ter comido um pedaço dessa fruta, você esteja com água na boca e ainda à medida que mastigava os pedaços de me- lancia você se refrescava por dentro. A opinião que uma pessoa faz sobre ela mesma denomina-se auto-imagem. A auto- imagem, esse retrato da pessoa, é o produto das experiências passadas dessa pessoa, de seus sucessos e de seus fracassos. A auto- imagem pode ser modificada. A visualização é o instrumento usado para modificar a auto- imagem.59 Imagem é a representação de um objeto na ausência do dado sensorial. É a cópia que restou dentro de nós de uma per- cepção anterior. As sugestões de imagens (visualização) são importantes por vários motivos: (a) Com elas vamos incorporando ao nosso campo psíquico uma cópia de to- das as experiências perceptivas, que pode- rão ser utilizadas livremente em nosso tra- balho mental. (b) Porque com as imagens prescindimos da presença dos estímulos, re- sultando em extrema comodidade mental, pois não há necessidade de recorrer ao estí- mulo que propiciou aquela imagem. Podem- se visualizar imagens não apenas visuais, mas imagens auditivas (como de sons, mú- sica), imagens de sensações, imagens táteis, imagens de calor, de frio, imagens com sen- sação de analgesia ou anestesia, imagens cinestésicas. (c) As sugestões de imagens são sugestões que ampliam outras sugestões, por- que criam imagens ou quadros mentais ou cenários com propósitos definidos. Como exemplo citamos cenários para rever o pas- sado, cenários para sentir-se calmo, descan- sado e relaxado, cenários para criar um am- biente mais adequado às sugestões terapêu- ticas para a reprogramação mental. (d) Para reforçar uma sugestão verbal. (e) Para refor- çar uma sugestão pós-hipnótica. (f) A PET mostra que as sugestões de imagens intensa- mente vividas e as imagens reais ativam as mesmas áreas cerebrais.60 Considera-se três tipos de imagens para três finalidades, segundo Fezler:61 CAP˝TULO 4 97 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. 1. Uma imagem específica para um pro- blema específico. Por exemplo, se você joga tênis de mesa e deseja melhorar a perfor- mance, você imagina estar jogando esse es- porte e você visualiza-se tocando na bolinha com força adequada, com inclinação adequa- da da raquete, no preciso momento, para colocar a bolinha corretamente no exato cen- tímetro quadrado da mesa, que você deseja, do outro lado da rede. 2. Imagens para produzir um fenômeno específico. O exemplo clássico seria o paci- ente imaginar e visualizar uma luva espessa de couro vestida na sua mão com a finalida- de de obter a analgesia. 3. Imagem para fortalecer uma imagem. Essas imagens indicam para você trabalhar em relembrar sensações que não havia antes praticado criar. São imagens apresentadas ao paciente como a visualização de uma praia, de um jardim, de um lago, de uma praça. Essas imagens possibilitam o paciente de- senvolver o poder de imaginação, porque elas ensinam a relembrar quase todos os compo- nentes sensoriais que abrangem sua realida- de.61 Fezler conceitua realidade, “for prac- tical proposes, as what you feel, what comes to you through the five sense of sight, sound, touch, taste, and smell. An image is a men- tal representation of yourfive-sensory rea- lity”61 (p.32).* O ponto básico, essencial, fundamental do benefício das informações obtidas pela imaginação e visualização ad- vém do fato de que quando a imagem é sufi- cientemente real, pode produzir os mesmos efeitos que as imagens reais que você está contemplando. Ao transmitir sugestões de imagens con- sidere:34 (a) Na visualização de um cenário pas- sado, tenha certeza de que não está associan- do esse cenário com nenhum pensamento, sen- timento ou experiência negativa do paciente. (b) Quanto mais intensa, mais viva e mais detalhadamente o cenário for imaginado, me- lhor e mais bem-sucedida será a resposta. (c) Os componentes mais importantes do cenário são: tranqüilidade e solidão. (d) Indicar para o paciente estar no cen- tro da cena, experienciando-a com todos os seus cinco sentidos, e não apenas vendo-a como quando assiste a um filme. Após o pa- ciente ter experienciado completamente o cenário, traga-o de volta para o local em que está no momento presente. DICAS SOBRE IMAGINAÇÃO/VISUALIZAÇÃO As sensações experimentadas em cada pessoa ficam registradas para sempre desde que não sejam perdidas por doença ou trau- matismo cranioencefálico. As pessoas pos- suem a capacidade de imaginação, de visua- lização, em todos os sentidos. A capacidade de visualização ocorre claramente com ima- gens visuais, mas pode-se imaginar qualquer outro tipo de sensação percebida pelos nos- sos sentidos. Com a seqüência do tratamen- to, as imagens visualizadas em todos os sen- tidos tornam-se mais intensas, vivas e deta- lhadas. Pode-se usar a definição de Fanning62 modificada, conceituando visualização como a criação consciente, volitiva, de impressões sensoriais mentais. A palavra consciente62 separa a visualização do sonho; a palavra volitiva62 significa que escolhe-se o local, o tempo, o propósito e o conteúdo geral da visualização. Os termos impressões senso- riais se referem às imagens em todos os sen- tidos, como imagens visuais com as cores e *Fezler conceitua a realidade “com propósitos práti- cos, como você sente, o que vem para você através dos cinco sentidos, visão, audição, tato, gosto e olfa- to. Uma imagem é a representação mental da realida- de em seus cinco sentidos.” (Tradução do autor.) 98 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. seus matizes; imagens de sons com altura, tonalidade, timbre; imagens de sabores como doce, salgado, amargo, azedo; imagens de odores; imagens de formas, imagens de sen- sações térmicas como calor, frio, morno; imagens de sensação de pressão, de sensa- ção vibratória, imagens de sensações táteis como textura fina, grosseira, lisa, áspera, suave, espessa; a sensação do seco, do úmi- do e do molhado. Em psiquiatria a sensopercepção englo- ba dois aspectos: (a) sensação, que é um es- tado de consciência consecutivo à modifica- ção de um órgão dos sentidos; (b) percep- ção que é o processo psíquico pelo qual rela- cionamos as nossas imagens sensoriais com a nossa experiência anterior. Seria uma sen- sação colorida pela experiência passada ou memória. As impressões sensoriais apresen- tam intensidade, duração e tom afetivo. A visualização é feita a partir de imagens re- presentativas e de imagens fantásticas.* Para proceder à visualização pode-se: (1) Pedir para o paciente escolher um cenário agradá- vel para ser visualizado em todos os senti- dos e não apenas no visual. (2) Apresentar algum lugar ou alguma situação para o paci- ente criar dentro o seu cenário de visuali- zação. Esse local apresentado pode ser o ce- nário de uma praia, cachoeira, piscina, pra- ça, montanha, de um lago, campo, jardim, luar, pôr-do-sol. (3) Pedir para o paciente visualizar uma tela de cinema, de televisão ou a tela de um monitor de computador. Nes- te caso o paciente precisa realmente visua- lizar, sentir o cenário com o máximo possí- vel de realidade, e não apenas assistir ao ce- nário como se estivesse assistindo a um fil- me. Ele pode movimentar as imagens, dar um tom afetivo, adicionar detalhes, incluir emoções apropriadas. (4) Pode visualizar o cenário dentro de sua própria mente, como se o filme rodasse dentro de sua tela mental. Para tornar as imagens mais vivas, coloque as cores complementares lado a lado,61 por- que as cores complementares tornam as co- res mais vivas. Assim, visualize lado a lado as cores vermelha e verde, azul e laranja, amarelo e púrpura. Outro modo de obter imagens mais vivas é visualizando inicial- mente uma parede branca, um campo bran- co, um teto branco ou simplesmente fixar a visualização no branco por uns dois minu- tos sem se distrair, e imediatamente depois visualizar o cenário escolhido. As imagens visualizadas logo após a visualização de al- guma coisa branca, como uma parede bran- ca, são mais vivas e mais intensificadas.61 As imagens também são importantíssimas porque podem produzir estados emocionais, respostas fisiológicas e controlar impulsos básicos. Cada realização de uma pessoa, quer seja a compra de uma casa, de um carro, a decoração de um apartamento, as compras no supermercado, a performance num espe- táculo, a vitória numa competição, a apre- sentação de uma conferência, foi antes cria- da na mente dessa pessoa. Logo, aprender a imaginar, a visualizar é a chave para desen- cadear o sucesso. O que é esperado tende ser realizado. Texto para Auxiliar os Pacientes com Dificuldade para Imaginação/Visualização “Vamos desencadear e desenvolver sua capacidade de criar, sua capacidade de visua- lizar com os olhos de sua mente. Para isso, sente-se confortavelmente com os pés tocan- do o assoalho. Agora vou explicar como você pode respirar. Quando pedir, você inspira o ar pelas narinas lenta e profundamente, o *Imagem representativa é a imagem da lembrança, é a reativação da imagem mnêmica, sem que o estímulo esteja presente. Imagem fantástica ou imaginada é constituída por imagens representativas criando uma nova imagem. CAP˝TULO 4 99 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. máximo que puder. A seguir, prenda confor- tavelmente o ar nos pulmões, enquanto con- ta mentalmente até quatro. Depois, você vai soltar o ar pela boca, lenta e totalmente. À medida que você sopra o ar pela boca você vai sentindo-se relaxado, calmo e tranqüilo. Muito bem, vamos começar. Inspire lenta e profundamente o ar pelas narinas. ... Agora prenda confortavelmente o ar nos pulmões enquanto mentalmente conta de um a qua- tro... Agora sopre pela boca len.. ta.. men.. te o ar de seus pulmões, e vá relaxando, ... relaxando cada vez mais, cada vez mais re- laxado, calmo e tranqüilo. Agora, olhe para o seu corpo e veja a cor da sua vestimenta. Preste atenção nos deta- lhes da cor da sua vestimenta. Agora toque com os dedos da sua mão no tecido da sua vestimenta e sinta a textura. Muito bem, ago- ra feche os olhos e visualize com os olhos de sua mente a cor da sua vestimenta. Veja a cor viva e detalhadamente. Agora visualize a sensação do contato dos dedos da sua mão com o tecido de sua vestimenta. Muito bem! Abra os olhos e olhe para o seu pé direito. Observe se está com sapato, chinelo, tênis, sandália, ou apenas com a meia ou comple- tamente descalço. Veja bem a cor ou as co- res, observando as tonalidades e os detalhes da forma. Muito bem! Agora, feche os olhos e visualize com os olhos da sua mente o seu pé direito. Procure imaginar vivamente como está o seu pé direito, se com sapato, chinelo, tênis, sandália, apenas com meia ou comple- tamente descalço. Identifique algum detalhe no seu pé direito. Agora abra os olhos e ob- serve cuidadosamente a cadeira em que está sentado. Veja bem a cor com suas tonalida- des, sinta a textura do tecido. Sinta qual é a sensação da pressão do seu corpo sobre a poltrona; se é macia, fofa ou firme. Agora, feche os olhos e visualize imaginando a pol- trona na qual está sentado.Veja com a sua imaginação a cor da poltrona com as tonali- dades. Procure ver mais, mais vivamente a cor ou as cores. Procure sentir a sensação da textura do tecido da poltrona em que está sentado. Agora visualize como sente a con- sistência do assento, sinta a consistência do assento, os detalhes do assento. Muito bem! Neste momento eu vou contar de 1 a 3 e ao pronunciar o número 3, você está totalmen- te consciente e alerta. Número 1, ... Núme- ro 2, ... Número 3.” SUGESTÕES SUBLIMINARES, PERCEPÇÃO INCONSCIENTE Sugestões sublimares são as sugestões que seriam percebidas abaixo do nível de consciência, pelo subconsciente, podendo ser auditivas e visuais, e, melhor ainda, a per- cepção subliminar é a percepção na ausên- cia de concorrente experiência fenomenoló- gica.63 Em 1917 Poetzl64 foi quem primeiro demonstrou a relação entre a estimulação subliminar e a sugestão pós-hipnótica. So- nhos e ações eram evocados dias ou sema- nas após a exposição de uma pessoa aos es- tímulos subliminares. A sugestão subliminar teria influência no comportamento de uma pessoa sem que essa pessoa percebesse cons- cientemente. O subconsciente armazenaria memórias, emoções, hábitos e também con- trolaria as atividades automáticas. Quando estamos aprendendo a andar, andar de bici- cleta, dançar, tocar um instrumento, digitar, o controle é voluntário, consciente. Posterior- mente, quando já aprendemos e sabemos an- dar, andar de bicicleta, dançar, tocar um ins- trumento, digitar, o controle é automático subconsciente. O subconsciente também controla as funções autônomas, como a res- piração, os batimentos cardíacos, o piscar, o movimento do intestino, o calibre das arteríolas e vênulas. O subconsciente influ- encia através do consciente as atividades, o 100 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. comportamento e o modo de pensar de uma pessoa. É postulado, sem prova definitiva, que é extremamente mais fácil e rápido mo- dificar aspectos da vida sobre o subcons- ciente do que agindo diretamente sobre o consciente. As sugestões subliminares vi- suais seriam imagens ou texto escrito (fra- ses com poucas palavras) projetados numa tela ou monitor de TV, com extremamente curta duração (milésimos de segundo), re- petidas inúmeras vezes, que não podem ser percebidas pela consciência. As sugestões subliminares auditivas são sugestões sono- ras verbais diretas, palavras ou frases mixa- das com sons (como o produzido pelas on- das do mar ou mixadas com uma música) de modo que as palavras ou frases atinjam di- retamente o subconsciente, sem percepção consciente. O paciente ouve apenas o som das ondas do mar ou o som da música, en- quanto enviamos a fraseologia adequada para cada caso, que atingirá apenas o seu subcons- ciente. Desse modo seu subconsciente rece- beria essas sugestões subliminares, que agi- riam sobre o consciente, para traduzirem-se nas modificações que o paciente deseja. A maioria das vezes as sugestões subliminares auditivas são gravadas em fita cassete ou em CD, mescladas com uma música de fundo ou com algum som adequado. Durante uma hora de fita cassete subliminar, milhares de sugestões (afirmações positivas) atingiriam o subconsciente, sem a interferência ou o senso crítico da mente consciente; sem a necessidade de concentração do indivíduo, e mesmo sem necessidade de o indivíduo prestar atenção. A eficácia das sugestões subliminares ofertadas em fitas de áudio ou de vídeo dependeria obviamente do conteú- do das sugestões e da qualidade da mixagem eletrônica dos sons. Para a produção de fitas com milhares de sugestões afirmativas seria preciso que a pista da voz fosse acelerada até tornar-se um guincho de alto tom não in- teligível, e/ou multicamadas, muitas vezes até haver uma deturpada confusão de sons. Artesanalmente, poderíamos transmiti-las num tom extremamente baixo (por vezes sus- surrando as palavras), e tendo um som mu- sical de fundo ou o som do farfalhar das ár- vores de uma floresta ou o som das marés. Neste parágrafo propositadamente deixamos os verbos no tempo condicional porque mui- tas pesquisas65-69 mostram que as fitas de áudio com sugestões subliminares não pro- duzem efeitos além dos decorrentes da ex- pectativa do paciente. Os achados dos estu- dos laboratoriais controlados indicam que a percepção subliminar reflete a interpretação pessoal do estímulo pela pessoa e não há evi- dência de que as pessoas iniciem ações de- correntes da percepção subliminar. Uma pes- soa ao adquirir uma fita com mensagens subliminares de auto-auxílio espera que essa fita funcione para ela, de modo que não é a mensagem subliminar, mas a expectativa65 e a crença numa mensagem subliminar que po- deriam causar os feitos esperados. Essas fi- tas de auto-auxílio se tiverem algum benefí- cio, serão devidos a uma resposta às expec- tativas da pessoa e não diretamente por cau- sa da mensagem subliminar. O estudo con- trolado de Spangenberg et al. sobre mensa- gens subliminares de auto-auxílio em fitas de áudio para aumentar a auto-estima, realçar a memória e reduzir o peso também não de- monstrou nenhum efeito decorrente das pró- prias mensagens subliminares.70 As sugestões subliminares visuais são pro- duzidas em fitas de vídeo, de modo que as mensagens subliminares possam ser imagens ou frases curtas projetadas como “flashes” na tela, raramente percebidas pela consciência. Há um equipamento extremamente preciso, caro e difícil de manipular, denominado taquitoscópio, usado para apresentar um estí- mulo visual de curtíssima duração, da ordem de 1 milessegundo. A estimulação subliminar CAP˝TULO 4 101 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. visual pode ser foveal ou parafoveal. Na foveal, quando o estímulo é apresentado no centro do campo visual para alcançar direta- mente a fóvea, como, por exemplo, é projeta- do no centro da tela do monitor de TV. Na parafoveal, quando o estímulo é apresentado fora do centro do campo visual, por exemplo num dos cantos do monitor de TV. As sugestões subliminares seriam extre- mamente eficientes porque alcançariam dire- tamente o subconsciente sem interferência do consciente, sem a necessidade de prestar aten- ção nelas. Estas sugestões são elaboradas se- guindo os pontos básicos de melhor formula- ção das sugestões, sendo essencialmente cur- tas, claras, definidas, afirmativas no presente do indicativo. Contudo, ainda há dúvidas na comunidade científica sobre a eficiência des- sa técnica, porque as pessoas têm limiares diferentes de percepção, sendo difícil estabe- lecer o nível mínimo de percepção visual e auditivo para a transmissão dessas mensagens. A informação percebida pelo consciente per- mite a pessoa utilizá-la para agir e produzir efeitos no mundo,71 ao passo que a informa- ção percebida apenas pelo inconsciente pro- duziria reações mais automáticas que não po- deriam ser controladas pela pessoa.72,73 O estímulo percebido inconscientemen- te pode influenciar as reações afetivas74 e as reações afetivas são provavelmente mais in- fluenciadas pelo estímulo inconscientemen- te percebido do que pelo estímulo percebido pelo consciente.75 Mas esses estudos mos- tram a persistência do efeito por apenas al- guns segundos após a estimulação. Numa metanálise de 44 estudos com 2.517 pacien- tes, investigando a memória sobre eventos durante a anestesia geral, concluiu-se:76 (a) que há efeitos da percepção inconsciente mesmo após 24 horas da estimulação e até 36 horas, (b) as sugestões transmitidas du- rante a anestesia não tiveram nenhum efeito ou efeito muito pequeno na recuperação pós- operatória. No estudo de Levinson,77 foi lido um texto de algumas linhas para dez pacien- tes sob anestesia geral. Um mês depois, os dez pacientes foram hipnotizados, sendo que quatro puderam lembrar quase todo o texto; quatro tinham alguma memória do texto e doisnada lembraram. Isso sugere que a per- cepção inconsciente pode ter um relativamen- te longo impacto de duração se a informação percebida for predominantemente relevante e significativa para a pessoa. O desafio dos futuros estudos será pesquisar os meios para estudar a importância de relevância pessoal das informações na determinação do impacto e na duração do efeito da percepção inconsci- ente e também estabelecer se as pessoas dife- rem em suas sensibilidades aos efeitos da per- cepção das informações inconscientes.78 O autor, embora com limitada experiência na administração de fitas de áudio de auto-auxí- lio com mensagens ditas subliminares, não observou nenhuma eficácia. SUGESTÕES DE RELAXAMENTO Geralmente são as sugestões iniciais que conduzem o paciente a um confortável re- laxamento físico e psicológico. Essas su- gestões podem incluir simplesmente frases para ativar o relaxamento muscular, habi- tualmente precedidas por pausas (...) para permitir tempo para os músculos responde- rem. São exemplos: “Relaxe ... permita seus músculos permanecerem frouxos e soltos”. Muitas vezes se usam imagens para refor- çar o relaxamento muscular, como: “Os mús- culos dos braços estão moles como espu- ma”. Outras vezes usam-se palavras para desencadear sentimentos, como: “Você está se sentindo maravilhosamente bem e em paz.” Pode-se também usar imagens para desencadear o relaxamento e sentimentos agradáveis, como, por exemplo, dizer para 102 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. quem gosta de praia e de sol: Imagine-se na sua praia favorita ... imagine-se deitado so- bre uma toalha na areia da praia. Pode-se ainda utilizar toque para facilitar o relaxa- mento muscular, que é mais evidente nas crianças pequenas quando as embalamos suavemente, ou pedir para o paciente ima- ginar se sentindo confortável tocando um bichinho de pelúcia (naturalmente se gos- tar desses bichinhos e não tiver alergia). Além disso, pode-se, por meio da música de fundo adequada para cada pessoa, faci- litar o relaxamento. Perguntar para o paci- ente qual a música que lhe deixa mais con- tente e confortável, e pedir para ele imaginá- la ouvindo. Naturalmente, estes exemplos, dependendo das pessoas, desencadeiam ou não respostas mais intensas ou menos in- tensas, após maior ou menor tempo de ação. O ideal seria encontrar as palavras, as ima- gens, os toques, as músicas mais adequa- das para cada pessoa, para desencadear as respostas desejadas e para isso pergunte as preferências das pessoas. Lembrar também que muitas vezes o relaxamento do múscu- lo pode estar acompanhado de parestesias: formigamento, amortecimento, sensação de peso, de leveza, de calor ou de frio. Apresentamos a seguir algumas manei- ras para induzir o relaxamento muscular, o relaxamento psicológico e a sensação de tranqüilidade e de bem-estar que, na prática clínica, podem ser modificadas para preen- cher as necessidades de cada pessoa. Uma vez obtido o relaxamento físico e a paz inte- rior, pode-se ancorá-los por meio de um si- nal condicionado. Nas consultas seguintes basta executar o sinal condicionado para o paciente entrar rapidamente no profundo re- laxamento. (a) Escolha uma posição confortável. ... Respire fundo, inspirando o ar pelo nariz, re- tendo o ar o máximo que confortavelmente seja possível, e depois exalando o ar pela boca. Quando tiver soprado todo o ar, con- traia mais o abdome e o músculo diafragma para expelir ainda mais ar, e relaxe. ... Sinta o conforto do relaxamento. Agora contraia os músculos dos seus membros inferiores, desde os dedos dos pés, desde os dedos dos pés, ... até a cintura, passando pelos mús- culos das pernas, ... do joelho, e das coxas. ... Sinta os músculos dos seus membros in- feriores contraídos. ... Muito bem! Agora solte todos esses músculos, descontraia com- pletamente e sinta o conforto do relaxamen- to. ... Agora contraia os músculos dos dedos das mãos e feche os dedos das mãos bem apertados. ... Deixe contraídos os músculos das mãos, dos punhos, dos antebraços, dos braços e dos ombros. ... Contraia os mús- culos desde os dedos das mãos até os ombros. ... Agora, solte esses músculos descontrai- damente e relaxe, ... relaxe mais, ... relaxe ainda mais. ... Agora, contraia os músculos da testa, da face e do pescoço. ... Agora, relaxe esses músculos e sinta o bem-estar do rela- xamento desses músculos. ... Relaxe os mús- culos em torno dos olhos. ... Relaxe os músculos em torno da boca, deixando os lá- bios entreabertos. ... Deixe a testa solta, dei- xe solto os músculos da mandíbula, os lábios ficam entreabertos. Todos os músculos de sua face ficam relaxados. ... Incline a cabe- ça para um lado, procurando tocar no om- bro, ... e agora para o outro lado. ... Agora, relaxe os músculos do seu pescoço. ... Suas pálpebras estão pesadas, ... muito pesadas. ... Imagine suas pálpebras pesadas, muito pesadas, ... pesadíssimas, pesadíssimas como chumbo. Feche os olhos e sinta como estão confortáveis. ... Agora, dirija a sua atenção para a musculatura do seu tórax e relaxe os músculos do seu tórax. ... Agora, relaxe os mús- culos do seu abdome. ... Agora, solte os músculos das suas costas, relaxe mais ainda os músculos das suas costas. ... Relaxe os músculos da sua coluna vertebral. ... Imagi- CAP˝TULO 4 103 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ne completamente relaxados os músculos da sua coluna vertebral, ... relaxe profundamente, ... continue relaxando mais profundamente. ... Todo o seu corpo desde a cabeça até a ponta dos pés está relaxado, ... completamente re- laxado, ... profundamente relaxado. É ótimo que você possa relaxar com tanta facilidade. (b) Sente-se ou deite-se confortavelmen- te. Concentre a sua atenção nos dedos dos pés. Imagine os dedos dos seus pés pesa- dos, muito pesados. Os dedos dos seus pés estão pesados, muito pesados ... Imagine agora seus pés, suas pernas, suas coxas pe- sadas ... muito pesadas. ... Seus pés, suas pernas, suas coxas estão muito pesadas ... pesadíssimas. A sensação de relaxamento se estende em seus membros inferiores, des- de os dedos dos pés até a cintura ... Seus membros inferiores estão pesados, frouxos, soltos, relaxados, muito relaxados, profun- damente relaxados. ... Você pode continuar relaxando. Neste momento, visualize os de- dos de suas mãos pesando muito, os dedos de suas mãos pesados. ... Sinta os dedos e suas mãos pesados. Agora imagine ainda mais pesados os dedos de suas mãos. Essa sensação de peso vai se estendendo, pelos seus punhos, antebraços, cotovelos, braços, até os seus ombros. Todos os músculos de seus membros superiores estão pesados, frouxos, soltos, relaxados ... profundamen- te relaxados. ... Tudo está muito bem! Essa sensação agradável do relaxamento vai en- volvendo os músculos seu tórax e do seu abdome. Os músculos do seu tórax e do seu abdome estão soltos, frouxos, relaxados. ... Muito bem, agora focalize os músculos da sua coluna vertebral, imaginado-os frouxos, soltos, relaxados, descontraídos, relaxados. ... Os músculos da sua coluna vertebral es- tão relaxados, muito relaxados, ... cada vez mais relaxados, profundamente relaxados. Agora, dirija a sua atenção aos músculos da sua cabeça e da sua face. Os músculos da sua cabeça e da sua face relaxam. Os músculos da sua cabeça e da sua face es- tão frouxos e soltos, muito frouxos, soltos e relaxados. ... Os músculos da sua mandíbu- la estão frouxos e relaxados ... tão frouxos e relaxados que seus lábios se entreabrem. ... As suas pálpebras estão pesadas ... mui- to pesadas. ... Todo o seu corpo está frou- xo, solto, relaxado, muito relaxado, profun- damente relaxado, e você se encontra num estado de calma, tranqüilidade e bem-estar. É maravilhoso como você pode relaxar com tanta facilidade. (c) Eu vou contando de dez até um, e a cada número que eu contar, vocêvai entran- do num relaxamento cada vez maior. Os músculos da sua cabeça e os músculos da sua face estão relaxando. ... Os músculos das suas pálpebras, da sua mandíbula e da sua boca estão muito, muito relaxados, profun- damente relaxados. ... Eu conto o número dez, seus músculos do seu pescoço e do seu tórax estão relaxando, ... continuam relaxan- do. Os músculos do seu pescoço e do seu tórax estão cada vez mais relaxados, profun- damente relaxados. A cada número que eu contar o relaxamento dos seus músculos é mais intenso. ... Número nove, essa sensa- ção de relaxamento, envolve ainda mais os músculos do seu tórax, e invade os múscu- los do seu abdome. Sinta como estão frou- xos e soltos os músculos do seu tórax e do seu abdome. ... Número oito, esse relaxamen- to vai envolvendo os músculos de seus mem- bros superiores desde os ombros até as pon- tas dos dedos. Os músculos dos seus ombros, braços, antebraços, punhos, mãos e dedos estão cada vez mais relaxados, profundamen- te relaxados. ... Número sete, os músculos da sua cabeça e da sua face estão cada vez mais frouxos, cada vez mais soltos, cada vez mais relaxados, profundamente relaxados. Os músculos do seu pescoço, do seu tórax e do seu abdome estão cada vez mais frouxos, 104 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. mais soltos, mais relaxados, profundamente relaxados. Os músculos de seus membros superiores, desde os ombros até as pontas dos dedos estão cada vez mais frouxos, cada vez mais soltos, cada vez mais relaxados, profundamente relaxados. ... Número seis, esse relaxamento invade os seus membros inferiores. Os músculos das suas coxas es- tão relaxados, muito relaxados. ... Suas per- nas estão relaxadas, muito relaxadas. ... Seus pés estão relaxados, muito relaxados. Os dedos dos seus pés estão relaxados, muito relaxados. ... Você continua relaxando. Eu conto cinco, ambos os seus membros inferio- res estão ainda mais frouxos, mais soltos, mais relaxados, profundamente relaxados. Os músculos da sua cabeça, do seu pescoço, da sua face estão profundamente relaxados e seus lábios entreabertos. Os músculos do seu tórax e do seu abdome estão cada vez mais relaxados, estão profundamente rela- xados. Os músculos dos seus membros su- periores, desde os ombros até a ponta dos dedos estão mais frouxos, mais soltos, mais relaxados, profundamente relaxados. Os músculos de seus membros inferiores desde a cintura até a ponta dos dedos dos pés estão ainda mais relaxados, profundamente rela- xados. ... Agora eu conto quatro e você re- laxa os músculos das suas costas. ... Imagi- ne os músculos das suas costas frouxos e soltos. ... Agora visualize os músculos das suas costas frouxos, soltos e relaxados, muito relaxados. Esse relaxamento agradá- vel invade os músculos da sua coluna ver- tebral. ... Você visualiza os músculos da sua coluna vertebral se relaxando, se relaxan- do cada vez mais, ... cada vez mais relaxa- dos. Os músculos da sua coluna vertebral continuam relaxando profundamente. A cada número que eu conto, seu relaxamen- to é ainda maior. Ao contar o número três, todo o seu corpo está frouxo, solto, relaxa- do, tranqüilo, com uma sensação maravi- lhosa de bem-estar. Você sente essa agra- dável sensação do relaxamento. Você está completamente relaxado, desde a cabeça até a ponta dos pés. Você sente essa maravi- lhosa sensação de calma, tranqüilidade e de bem-estar. Corpo totalmente relaxado, pro- fundamente relaxado. Número dois, você se sente relaxado, descontraído, calmo, tran- qüilo. ... Todo o seu corpo está relaxado, muito relaxado, profundamente relaxado. Eu conto um, você está num estado mara- vilhoso de calma, tranqüilidade, bem-estar com seu corpo relaxado, muito relaxado, profundamente relaxado. (d) Sentado na poltrona o peso do seu corpo se descarrega no assento e os braços caem soltos ao lado do corpo no colo, e você começa perceber os seus pés dentro dos sa- patos, e sente os pés dentro das meias sendo como uma sensação de formigamento ou deslizamento, enquanto seu corpo relaxa. ... Você percebe seu corpo de encontro ao as- sento da poltrona enquanto você vai rela- xando confortavelmente cada vez mais, e ou- vindo a minha voz e relaxando mais. A cada palavra que ouve você relaxa ainda mais. Seguir desse modo para outras partes do corpo. SUGESTÕES PARA SINTONIZAÇÃO, TREINAMENTO E APROVEITAMENTO (SSTA) As sugestões para sintonização, treina- mento e aproveitamento (SSTA)* são for- muladas para o paciente tornar-se cada vez mais sintonizado e responsivo às sugestões necessárias para o tratamento específico. As chamadas sugestões de aprofundamento, que nós chamamos de sugestões para sintoniza- *Aspectos adicionais sobre as SSTA no Capítulo 8 — Facilitar a hipnose, sugestionabilidade e susce- tibilidade. CAP˝TULO 4 105 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ção, treinamento e aproveitamento (SSTA), esclarecem e intensificam as motivações do paciente,79 superam equívocos ou mal enten- dimentos ou preferências estéticas do paci- ente, modificando expectativas do paciente, do hipnólogo ou de ambos.79 As SSTA sin- tonizam mais o paciente aos objetivos dese- jados, mas a capacidade real do paciente para a hipnose permanece a mesma. Dentro do contexto de cada conjunto de SSTA apresen- tado, crie frases com as associações que se- jam universais nas experiências das pessoas, porque essas associações usualmente favo- recem à sintonização delas com os resulta- dos esperados. Ex: Você está respirando e relaxando, e neste momento você percebe o movimento do seu tórax em cada movimen- to respiratório e relaxa mais. 1. SSTA verbais diretas. Você está cada vez mais receptivo a sua reprogramação mental. Seu relaxamento está cada vez mais profundo. Os músculos do seu corpo estão relaxados, pro- fundamente relaxados. Você se envolve cada vez mais com a reprogramação mental. 2. SSTA relacionadas com o que o paci- ente experiencia no momento. A sugestão que estamos transmitindo é associada ao que o pa- ciente está experienciando no momento, para facilitar ainda mais a aceitação das sugestões de reprogramação mental. Assim, quando di- zemos ao paciente para respirar fundo, e ele faz uma respiração profunda, adicionamos: a cada respiração sua, seu relaxamento torna- se ainda maior ou a cada respiração você pode continuar relaxando mais. 3. SSTA relacionadas com a contagem. “Vou contar de um a cinco e a cada número que eu disser você fica mais relaxado. À medida que eu for contando você vai-se tor- nando profundamente relaxado. Vou come- çar a contar. Número um, você vai ficando relaxado. Número dois, os músculos do seu corpo estão cada vez mais relaxados. Nú- mero três, você está relaxado, muito relaxa- do, profundamente relaxado. Você pode con- tinuar relaxando. Número quatro, Você está cada vez mais relaxado, com todos os mús- culos do seu corpo cada vez mais relaxados, profundamente relaxados. Número cinco, você está total e completamente relaxado, sentindo uma sensação maravilhosa de cal- ma, tranqüilidade e de bem-estar”. 4. SSTA relacionadas com uma resposta que será necessária obter durante o trata- mento específico. Quando vamos eliminar o hábito de fumar, podem-se dar sugestões para a extensão e a abertura dos dedos da mão, extensão do pulso e do cotovelo, a fim de tornar impossível a colocação de um cigarro na boca. Então, durante o treinamento pode- se sugerir a rigidez dos dedos da mão e do braço. Para determinados tratamentos pode- se induzir movimentos automáticos, fecha- mento dos lábios com catalepsia, analgesia na mão direita ou esquerda, indução de so- nhos, provocar o diálogo com o paciente. O treinamento da conversação do paciente po- derá no futuro facilitar a hipnoterapia. 5. SSTA por meio das assim chamadas sugestões pós-hipnóticas. Comunica-se ao paciente que na próxima consulta maisrapi- damente estará receptivo às sugestões, mui- to mais receptivo do que se encontra agora, e aceitará totalmente as sugestões. 6. SSTA por meio de imagens. Durante a anamnese procurar saber se as imagens que pretendemos propor são agradáveis e desper- tam sensações agradáveis. Então, segundo cada caso, pode-se sugerir: Imagine um tú- nel de aproximadamente cem metros de com- primento. ... Imagine-se entrando no túnel. Visualize-se andando e iniciando o percurso desse túnel, e a cada passo você fica ainda mais receptivo a sua reprogramação mental ... (ou aqui introduzir o tipo de sugestões te- rapêuticas necessárias). Por exemplo, no caso do tratamento para tornar-se e perma- necer esbelto, dizemos: Você fica mais re- 106 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ceptivo às sugestões de emagrecimento. Você continua atravessando o túnel e a cada pas- so torna-se mais receptivo às sugestões de emagrecimento. É ótimo que você possa fi- car receptivo às sugestões de emagrecimen- to com tanta facilidade. ... Agora você está no meio do túnel e entende como é fácil pra- ticar alguma atividade física. ... Você conti- nua percorrendo o túnel e entendendo como é tão fácil praticar uma atividade física como andar, dançar ou fazer exercícios. ... Enquan- to você vai passando pelo túnel você vai per- cebendo como pode ser fácil manter-se afas- tado de açúcar, bolos, tortas e sorvetes. ... Quando você sair do túnel você estará ainda mais sintonizado com o seu objetivo de tor- nar-se e permanecer esbelto, com um corpo atrativo e bem-modelado. ... Você continua visualizando-se passando pelo túnel. Você pode continuar sintonizando-se ainda mais com a sua meta de emagrecimento. ... Ago- ra, você aproxima-se do final do túnel. À medida que você continua andando vai au- mentando a sua receptividade às sugestões terapêuticas. ... Você continua andando e sen- tindo uma sensação maravilhosa de calma, tranqüilidade e bem-estar, e profundamente receptivo às sugestões terapêuticas. ... Nes- te momento, você chega ao final do túnel e sente-se ampla e totalmente receptivo às su- gestões terapêuticas para a sua saúde e feli- cidade. Você sai do túnel e você está ampla e totalmente receptivo às sugestões terapêu- ticas para tornar-se e permanecer esbelto. 7. SSTA por meio de uma afirmação posi- tiva seguidas de perguntas subjetivas. A afir- mação positiva indica o caminho, enquanto as questões subjetivas levam a imaginação do paciente profundamente para o subconsciente. Exemplo: Olhe para o céu. O que você sente? 8. SSTA utilizando uma questão positiva afirmativa. Diga-me como se sentirá quan- do estiver ainda mais profundamente em hip- nose? Com qual rapidez você pode entrar mais profundamente na hipnose? Questões afirmativas e positivas envolvem o paciente com a resposta. 9. SSTA enunciadas pelo próprio pacien- te. Pedimos para o paciente contar de um a dez, e a cada número que ele pronunciar, ele vai-se tornando mais receptivo a sua reprogramação mental. Você pode falar e continuar sentindo essa sensação maravilho- sa de bem-estar e de relaxamento. Conte o número um, o paciente diz um, e o hipnólogo acrescenta: A cada número que você conta, você torna-se mais receptivo às sugestões terapêuticas de sua reprogramação mental. Continuar assim até o paciente chegar a dez. SUGESTÕES PARA CANCELAR CRENÇAS NEGATIVAS As afirmações são importantes na mudan- ça de atitudes e de hábitos. As afirmações agem no subconsciente e no consciente pela repetição. O subconsciente está repleto de crenças, informações, pensamentos e expe- riências. Quando numa pessoa predominam as crenças, informações, os pensamentos, os sentimentos e as experiências negativas, pes- simistas, de derrota, fracasso, incompetên- cia, medo, insucesso, dificuldade, incapaci- dade, essa pessoa tende apresentar compor- tamento negativo, pessimista, acabando por colher muitos fracassos na vida. Geralmen- te, os pensamentos negativos vão se estrati- ficando na mente desde a infância. É o caso daquela pessoa que foi criada sob o julgo da palavra não. Não pode fazer isso. Não pode fazer aquilo. Mais tarde, já na escola, a mí- nima dificuldade é considerada como uma barreira intransponível, e a criança já come- ça colher fracassos. Essa criança continua crescendo, concentrando-se no ponto de que para ela as coisas não podem dar certo. Re- almente as coisas não dão certo porque ela CAP˝TULO 4 107 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. só antevê dificuldades e derrotas, e será isso que colherá. Quando adulto essa pessoa é o resultado de seus próprios pensamentos ne- gativos, traduzindo-se por um total fracas- so. Para remover essas crenças negativas que são constituídas de pensamentos, sentimen- tos, idéias, significados e experiências desa- gradáveis, o profissional de saúde primeiro precisa reconhecer a existência, depois pro- curar encontrar a causa oculta dentro da negatividade, e depois limpar, cancelar do subconsciente e do consciente todo esse en- tulho negativo. As crenças negativas podem estar relacionadas com resultados (isso não funciona), com incapacidade (não consegui- rei), com identidade (eu não mereço). Para Dilts80 as crenças são o estabelecimento de molduras que determinam como as coisas depois tornam-se interpretadas. Para uma pessoa o sentimento de uma crença é que ela representa uma realidade por meio da qual ela vê o mundo de acordo com a sua crença, isto é, de acordo com a sua realidade. Pode- se considerar uma crença como um progra- ma que a pessoa executa para pensar, sentir, perceber, ser ou relacionar-se. A crença or- ganiza o comportamento e afeta o organis- mo. Uma fraseologia para cancelar as cren- ças negativas poderia ser a seguinte: agora você prefere cancelar os pensamentos nega- tivos, os sentimentos negativos, as experi- ências negativas, do seu consciente e do seu subconsciente ... você elimina de seu cons- ciente e de seu subconsciente todos os pen- samentos negativos, todas as experiências negativas ... você cancela de seu consciente e de seu subconsciente todas as experiências passadas de fracasso. Muitas vezes, antes de fazer a reprogra- mação mental com as sugestões terapêuti- cas, cancela-se do subconsciente tudo de negativo que lá existe. Uma maneira de lim- par o subconsciente é através da visualização numa tela na cor cinza das informações in- desejáveis e depois afirmando que elas es- tão eliminadas de todos os níveis do pensa- mento do paciente.81 A seguir, pedir para o paciente visualizar a palavra cancelo, em preto na tela, e ao ver essa palavra que ele repita para ele mesmo cancelo ... cancelo ... cancelo as idéias negativas sobre isto (men- cione sobre o quê). A seguir afirme que são cancelados do seu pensamento hábitos inde- sejáveis (mencione aqui os hábitos). Estes hábitos indesejáveis (mencione-os aqui) são cancelados do seu pensamento. Agora, visualizar uma luz brilhante piscando na tela que simboliza a remoção das idéias negati- vas. Neste instante afirmar que a mente do paciente está pronta para aceitar idéias com- pletamente positivas, e que ele visualiza na tela na cor dourada, as afirmações referen- tes ao que deseja obter,81 tais como: eu me sinto com confiança; eu mereço o melhor; faço de minha vida um êxito completo. Ago- ra, pedir para o próprio paciente dizer para ele mesmo que o seu subconsciente aceita essas verdades. A fraseologia exposta pode funcionar apenas para algumas pessoas. O ideal é desativar as crenças negativas, e isso é fei- to executando as seguintes etapas: (1) Iden- tificar as crenças negativas relacionadas com o problema do paciente. (2) Colocar em dúvida as crenças negativas por meio do questionamento. (3) Associar as cren- ças negativas com situações que realmente o paciente tenha dúvida, incerteza e inse- gurança. (4) Associar as crenças negativascom alguma coisa que definitivamente o paciente não acredite. Na realidade, não dispomos de comprovação objetiva da eli- minação do entulho negativo da estrutura psíquica de uma pessoa. Contudo, os efei- tos desejados são obtidos e esse entulho negativo deixa de se manifestar. Portanto, uma vez desacreditada a crença negativa, quer sejam pensamentos, sentimentos, sig- 108 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. nificados ou experiências desagradáveis, pode-se, na fraseologia sugestiva, especifi- camente, eliminá-los. Eliminar, apagar e limpar também os sentimentos de ressenti- mento, preocupação, raiva, amargura, má- goa, tristeza, fracasso e derrota. Após a eli- minação do entulho negativo, criar expec- tativas para o próprio paciente desenvolver crenças saudáveis, usando afirmações po- sitivas, repetidas, que criam pensamentos, sentimentos, hábitos e atitudes saudáveis, otimistas, éticas, honestas, de vitória, pro- gresso e sucesso. As afirmações positivas, repetidas várias vezes, são intensificadas ao máximo pela visualização detalhada do ob- jetivo-alvo. O estabelecimento de uma nova crença de comum acordo com o paciente, segue algumas etapas: (1) Estabelecer de acordo com paciente o objetivo a atingir, como já atingido. (2) Criar na mente do paciente uma vaga representação de uma idéia adequada para o objetivo estabelecido. (3) Acrescentar maior definição para essa idéia. (4) Ampliar os conhecimentos sobre essa idéia na mente do paciente. (5) Intensi- ficar a idéia de modo que ele acredite nessa idéia. (6) Apresentar razões, provas, testemu- nhos ou analogias para que ele se convença da idéia tornando-a uma crença positiva e adequada para a resolução do seu problema. (7) Expor repetidas vezes, quer diretamen- te, quer por meio de metáforas, analogias, comparações, essa crença adequada, posi- tiva e correta para o paciente acreditar nela. SUGESTÕES TERAPÊUTICAS ESPECÍFICAS E INESPECÍFICAS Quando auxiliado pelas sugestões tera- pêuticas o paciente escolhe modificar a sua maneira de observar a sua realidade, a sua realidade modifica-se e ele começa melho- rar. As palavras são poderosas porque trans- mitem poder. O poder pode ser entendido como: (1) Capacidade de comunicação de uma pessoa com outra. (2) Capacidade de uma pessoa aprender com as palavras ouvi- das ou lidas. (3) Capacidade de as palavras modificarem o modo usual como uma pes- soa está vivendo, deixando-a calma, ansio- sa, alegre, triste, com felicidade ou infeli- cidade. (4) Capacidade de modificar reações do sistema nervoso autônomo, reduzindo ou aumentando secreções internas e externas, modificando as freqüências cardíaca e res- piratória. (5) Capacidade para modificar constituintes do sistema imunológico. Por- tanto, as palavras podem ser poderosos fa- tores para cura de doenças, quer essen- cialmente orgânicas, quer essencialmente mentais. As palavras fazem parte das su- gestões verbais, que associadas às suges- tões extraverbais e as sugestões não-ver- bais, podem exercer seus poderosos efei- tos terapêuticos. Sugestões Terapêuticas Específicas São sugestões de qualquer tipo, com con- teúdo especifíco, especialmente direcionadas para o tratamento de determinada manifes- tação clínica do paciente. As fraseologias dessas sugestões estão detalhadas nos capí- tulos referentes ao tratamento das condições clínicas que serão abordadas, como perma- necer livre do fumo, manter-se afastado de bebidas alcoólicas, tornar-se e permanecer esbelto, eliminar as fobias, vencer a depres- são. Há várias fraseologias para cada condi- ção clínica. Escolher uma ou mais opções e personalizar de acordo com a realidade de cada paciente, para auxiliá-lo a acionar a sua própria sabedoria interna para resolução do problema. Ao transmitir cada frase ir modi- ficando a fraseologia dependendo das res- CAP˝TULO 4 109 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. postas não-verbais do paciente no momento da formulação. Alguns hipnólogos procuram ajustar também os verbos de cada frase ao principal sistema representacional de cada paciente. Sugestões Terapêuticas Não-inespecíficas Quando o conteúdo é inespecífico e dei- xamos o próprio paciente digerir a sugestão e criar os resultados, porque o sistema de cura está dentro dele e a sua mente converte idéi- as, imaginações intensas e expectativas em realidades bioquímicas, os neuropeptídeos. Exemplo: Deixe seu inconsciente trabalhar para o seu benefício e bem-estar. Permita que a sua mente e o seu organismo encontrem a solução adequada para o seu problema. A seguir deixar vários minutos para a mente do paciente elaborar a própria resposta. Na sugestão inespecífica não transmitimos uma fraseologia para o paciente apresentar a res- posta desejada. Não explicitamos como ele faz. Ele mesmo “metaboliza” e cria a sua resposta. Outras sugestões inespecíficas: Seja feliz. Ganhe muito dinheiro honesta- mente. Fique confortável. Sua mente encon- tra solução adequada. Transmitimos a suges- tão inespecífica sem dizer como fazer. Na frase ganhe muito dinheiro honestamente, es- pecifiquei o modo honesto, para evitar que eventualmente alguém escolhesse um modo desonesto. Assim, o próprio subconsciente do paciente vai encontrar e escolher os meios para ganhar dinheiro honesto. Muitas vezes, as sugestões terapêuticas inespecíficas são também indiretas, como no caso das analo- gias, metáforas e conto de histórias. Para ela- borar as sugestões inespecíficas não é preciso detalhes particulares sobre o paciente, nem conhecimento extremamente cuidadoso so- bre a estrutura das palavras e frases esco- lhidas. Para cada tratamento as sugestões tera- pêuticas específicas enfatizam o efeito de- sejado, não apenas a remoção da sintomato- logia. Elas podem ser desenvolvidas a partir das próprias experiências do paciente. Para cada tratamento, geralmente, utilizamos as sugestões elaboradas e arranjadas no máxi- mo em oito frases, que são repetidas muitas vezes. A fraseologia envolve a visualização do efeito desejado, como se estivesse acon- tecendo no momento presente. Quando pos- sível, usar fundo musical, especialmente composto, arranjado e gravado, para estimu- lar a criatividade e a imaginação.14,15,82 As sugestões podem em determinados pacien- tes visar à remoção de um sintoma, à redu- ção de um sintoma, à substituição de um sin- toma ou à manipulação de um sintoma. A modificação de um sintoma pode ser obtida com alterações da sua freqüência, alterações da localização ou substituição desse sinto- ma por outro. As sugestões terapêuticas po- dem ser formuladas de modo direto ou indi- reto, sob a forma de visualização e podem ser transmitidas sob o modo subliminar, e ainda podem ser desenvolvidas à medida que for necessário utilizar técnicas de regressão de idade, distorção do tempo, alucinações, dissociações, indução ou recordação de so- nhos. Alternativamente, de acordo com Myron Saling, em comunicação pessoal em 22 de agosto de 1999, obtém-se resultado terapêu- tico surpreendente permanecendo simples- mente em silêncio durante 30 minutos. Quan- do o paciente realmente quer superar algum problema, vencer algum hábito, faz-se a indução e aprofundamento durante uns dez minutos, a seguir transmite-se a afirmação que daquele momento em diante ele vai en- contrar a solução desejada, proveitosa e be- néfica para ele, e permanecemos em silên- cio durante 30 minutos, permitindo ao pró- prio paciente encontrar a solução adequada. 110 CAP˝TULO 4 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Ainda segundo Myron Saling, se o paciente entrar em sono natural e até roncar, deixá-lo dormindo por esse tempo e depois trazê-lo para o “estado natural”; se o paciente sair da hipnose ou passar da hipnose para o sono e depois sair, encerre a consulta. Durante todo o tempo permanecemos ao lado do paciente. As consultas