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I
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
II
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Takatori – O Brincar no Cotidiano da Criança com DeficiŒncia Física
Taki Córdas – Saœde Mental da Mulher
Tedesco e Zugaib – Obstetrícia PsicossomÆtica
Teixeira – Manual de Enfermagem PsiquiÆtrica
Uchoa – PsicanÆlise – Teoria e PrÆtica
Vincent – Internet – Guia para Profissionais de Saœde
III
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
São Paulo • Rio de Janeiro • Ribeirão Preto • Belo Horizonte
MARLUS VINICIUS COSTA FERREIRA
Neurologista, Eletroencefalografista e Neurorradiologista.
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica.
Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia.
Membro da Sociedade de Hipnologia do Paraná
IV
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
EDITORA ATHENEU
São Paulo — Rua Jesuíno Pascoal, 30
Tels.: (11) 3331-9186 • 223-0143 •
 222-4199 (R. 25, 27, 28 e 30)
Fax: (11) 223-5513
E-mail: edathe@terra.com.br
Rio de Janeiro — Rua Bambina, 74
Tel.: (21) 2539-1295
Fax: (21) 2538-1284
E-mail: atheneu@atheneu.com.br
Ribeirão Preto — Rua Barão do Amazonas, 1.435
Tel.: (16) 636-8950 • 636-5422
Fax: (16) 636-3889
Belo Horizonte — Rua Domingos Vieira, 319
— Conj. 1.104
PLANEJAMENTO GRÁFICO — CAPA: Equipe Atheneu
FERREIRA M.V.C.
Hipnose na Prática Clínica
©Direitos reservados à EDITORA ATHENEU – São Paulo, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Belo Horizonte, 2003
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ferreira, Marlus Vinicius Costa
Hipnose na prática clínica/Marlus Vinicius Costa Ferreira.
— São Paulo: Editora Atheneu, 2003.
1. Clínica médica. 2. Hipnotismo – Uso terapêutico. I. Título.
CDD-610
02-5468 NLM-WM 415
Índices para catálogo sistemático:
1. Hipnose: Prática clínica: Ciências médicas 610
V
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
Nota
O autor conferiu cuidadosamente a posologia, os nomes genéricos e comerciais
dos medicamentos mencionados, de modo que todo esforço foi feito para conseguir
exatidão do conteúdo no momento da publicação. Como a medicina está em
constante evolução, novas pesquisas, experiências clínicas e aparecimento de novos
efeitos colaterais de drogas, ampliam o conhecimento, tornando-se necessárias
modificações nas condutas terapêuticas, e no tratamento com medicamentos.
O editor e o autor, nem qualquer outra pessoa que esteve envolvida na preparação
ou publicação deste trabalho, garantem que as informações contidas aqui sejam em
todos os sentidos exatas e completas, de modo que não são responsáveis por
qualquer erro, omissão ou pelos resultados obtidos pelo uso destas informações.
Os leitores são estimulados a confirmar as informações em outras fontes,
especialmente as fornecidas pelos fabricantes. As fraseologias sugestivas
apresentadas e adaptadas às necessidades de cada paciente para as condições
clínicas indicadas não foram submetidas a um estudo controlado randomizado.
VI
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
VII
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
Dedicatória
À Eliane, minha esposa,uma usina nuclear de energia,
que muito me estimulou para a conclusão deste livro.
VIII
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
IX
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
Agradecimentos
Sou muito grato ao professor de Psiquiatria e Neurologia, Octávio Augusto da
Silveira, de Curitiba, que me deu grande oportunidade e tem sido meu verdadeiro amigo.
Ao professor Dr. Rubens Moura Ribeiro, de Ribeirão Preto, que me transmitiu
valiosos conhecimentos sobre eletroencefalografia.
À professora de Radiologia Anne G. Osborn, da Escola de Medicina da
Universidade de Utah, em Salt Lake City, que, pelo seu exemplo, entusiasmo e
eficiente comunicação despertou meu interesse para publicações científicas.
Agradeço ao meu amigo Márcio Mortensen Wanderley, pelo auxílio na
navegação pela Internet.
Meu reconhecimento aos pacientes anônimos que com maior ou menor
capacidade hipnótica contribuíram para a criação de muitas fraseologias.
Curitiba, inverno de 2003
Marlus Vinicius Costa Ferreira
X
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
XI
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
PrefÆcio
Hipnose na Prática Clínica foi elaborado para auxiliar o estudante de hipnose, o
médico, o psicólogo e o odontólogo a atuarem clinicamente junto ao paciente.
Minha meta foi escrever um livro razoavelmente compreensível, com capítulos de
fácil memorização, sem ser exaustivo, mas que auxiliasse a execução da hipnose na
prática diária.
Em várias condições clínicas explicito muitas opções de fraseologias para serem
transmitidas ao paciente com o objetivo de proporcionar aos iniciantes modelos a
partir dos quais eles possam desenvolver seus próprios estilos para cada condição
clínica, especificamente adaptados à realidade de cada paciente. Algumas vezes, a
preferência é propiciar alternativas para que o estudante faça a sua escolha. O
especialista experiente cria a fraseologia a partir da história clínica e dos aspectos
psicológicos de cada paciente e vai desenvolvendo-a durante a hipnose de acordo
com as respostas do próprio paciente.
No Capítulo (8) sobre facilitar a hipnose, sugestionabilidade e suscetibilidade,
há um enfoque com opiniões divergentes sobre a existência ou não de um estado
especial denominado estado hipnótico ou estado de transe hipnótico ou condição
hipnótica ou simplesmente hipnose.
Nos Capítulos relacionados à hipnose para dormir bem (22), terapia por meio da
auto-hipnose (25), hipnoterapia para permanecer afastado das bebidas alcoólicas
(27), e técnicas de reprogramação mental para tornar-se e permanecer esbelto (29),
há instruções detalhadas para elaboração de fita gravada ou disco compacto (CD),
especialmente para o paciente que está diante de você. Muitas vezes, o tratamento pela
hipnose é seguido com auto-hipnose, por meio de uma fita gravada personalizada,
que o paciente recebe para executá-la diariamente em sua residência. Incluo ainda,
nos Capítulos (4) e (27), considerações sobre aspectos da sugestão subliminar, cujas
XII
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
palavras e frases podem ser algumas vezes acrescentadas a uma fita gravada de
forma artesanal com fraseologia hipnótica. Nos Capítulos (27) e (29) apresento
aspectos de como elaborar uma fita gravada com dupla voz.
Meu contato inicial com a hipnose aconteceu durante minha primeira década de
vida, formalmente, quando assistia aos vários espetáculos de mágicos e ilusionistas
que incluíam apresentações de hipnose nos seus programas. Aos 13 anos de idade,
tínhamos nossa própria companhia, denominada Quarteto Mágico, que também
incluía na apresentação números de hipnose e de mnemotecnia. Nessa época, 1958,
tive a oportunidade de adquirir meu primeiro livro sobre hipnose, Hypnotism and the
power within, escrito pelo médico australiano S.J. Van Pelt, e traduzido para o
espanhol com o título VD. y el hipnotismo. Em 1961, fiz o Curso de Hipnotismo do
Instituto Haim, de Porto Alegre, cujo grande mérito foi deixar-me totalmente
confiante para sua prática. Em 1963, entrei para o curso médico da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal do Paraná. Durante os seis anos de graduação
tive a oportunidade freqüente de exercitar a hipnose objetivando minorar o
sofrimento dos pacientes ou aumentar a capacidade de aprendizado para estudantes
que iriam prestar o exame vestibular. Em 1969, tive a oportunidade de aprender
eletroencefalografia no Departamento de Neurologia do Hospital de Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, USP,
o que favoreceu, posteriormente, a sua aplicação em alguns pacientes hipnotizados.
Na década de 1970, durante os anos que passei no Instituto de Neurologia da
Universidade de Londres, no The National Hospital Queen Square, paralelamente
ao estudo da neurologia, procurei conhecer as informações sobre hipnose médica
que circulavam na Inglaterra.
Os temas são apresentados de diferentes maneiras nos diversos capítulos,
objetivando o mais fácil aprendizado, isto é, a assimilação de informações com
raciocínio crítico para suas aplicações com sabedoria e criatividade, relacionada a
outros conhecimentos, possibilitando ao hipnólogo exercer sua especialidade com
eficiência. Determinados assuntos e fraseologias reaparecem mais de uma vez na
seqüência dos capítulos.
A meta de Hipnose na Prática Clínica é proporcionar informações essenciais e
orientar os procedimentos dos estudantes interessados pela hipnose diante dos
pacientes, porém a melhor maneira para adquirir experiência no tratamento dos
pacientes pela hipnose é praticando-a.
Espero que a leitura de Hipnose na Prática Clínica seja agradável, proveitosa,
favoreça a criatividade, a prática e estimule a pesquisa.
Curitiba, inverno de 2003
Marlus Vinicius Costa Ferreira
XIII
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SumÆrio
1 Hipnose na Vida Diária, 1
2 Modelos Conceituais e Natureza da Hipnose, 7
3 Características do Paciente Hipnotizado, 47
4 Comunicação Sugestiva — Tipos de Sugestões, 65
5 Defesas, Medos e Conceitos Errados sobre a Hipnose, 115
6 Aspectos da Comunicação Hipnólogo-Paciente-Hipnólogo, 131
7 Preparação do Paciente para o Tratamento pela Hipnose, 139
8 Facilitar a Hipnose, Sugestionabilidade e Suscetibilidade, 161
9 Perguntas e Respostas Relacionadas com a Hipnose, 179
10 Efeitos Secundários Adversos e Complicações do Uso Clínico da Hipnose, 203
11 Vamos Começar a Hipnose (Ajuste a Indução Hipnótica ao Paciente), 213
12 Como Terminar a Consulta Deixando o Paciente Alerta, 253
13 Respostas Motoras, Amnésia e Hipermnésia, 261
14 Analgesia e Anestesia por Meio da Hipnose, 277
15 Dissociação, Ilusões, Alucinações e Distorção do Tempo, 305
16 Como Relembrar e Revivificar (“Regressão de Idade”), 313
17 Respostas Psicoplásicas, Ansiedade e Manejo de Algumas Condições Clínicas, 329
XIV
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18 Reprogramação Mental para a Superaprendizagem, 343
19 Hipnose para Aumentar a Autoconfiança e a Auto-estima, 361
20 Hipnose para o Progresso Individual, 373
21 Hipnose para Vencer a Depressão, 383
22 Hipnose para Dormir, 405
23 Hipnose no Tratamento da Enurese Noturna, Gagueira, Onicofagia, Chupar
os Dedos, Sudorese Excessiva no Corpo e Rosto Corado, 427
24 Eliminar Fobias, 437
25 Terapia pela Auto-hipnose, 451
26 Técnicas para Permanecer Longe do Tabagismo, 489
27 Hipnoterapia para Permanecer Afastado das Bebidas Alcoólicas, 519
28 Informações sobre Obesidade e como se Tornar e Permanecer Esbelto, 563
29 Técnicas de Reprogramação Mental para Tornar-se e Permanecer Esbelto. Como
Elaborar uma Fita Gravada ou um Disco Compacto (CD), 607
30 A Hipnose nos Transtornos de Estresse Pós-traumático, 649
31 Usuário Patológico da Internet, 659
32 Ser um Vencedor em Competições, 665
33 Hipnose em Pacientes Hospitalizados, 675
34 Aspectos da Hipnose em Odontologia, 695
35 Técnicasde Psicoterapia com Hipnose (Hipnoterapia), 703
36 Anexo A – Registro das Observações sobre o Paciente, 715
37 Anexo B – Aprender a Estudar, a Fazer um Exame ou uma Prova, 721
38 Anexo C – Hipnose para Dormir, 725
39 Anexo D – Permanecer Respirando Ar Puro, 729
40 Anexo E – Permanecer Afastado de Bebidas Alcoólicas, 735
41 Anexo F – Tornar-se e Permanecer Esbelto, 739
42 Anexo G – Superando o Diabetes Melito, 749
Índice Remissivo, 757
CAP˝TULO 1 1
CAP˝TULOCAP˝TULO
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As manifestações da hipnose ocorrem na
vida diária sem que a maioria das pessoas
perceba. Quando assistimos a um filme no
cinema ou na televisão e estamos realmente
gostando, nós nos emocionamos com as ce-
nas do filme. Podemos rir, chorar, ficar re-
voltados ou alegres com determinadas cenas.
A freqüência cardíaca pode aumentar em
determinadas seqüências do filme; em ou-
tras pode ocorrer sudorese nas mãos, redu-
ção do ritmo respiratório. Nesses momentos
em que nossa atenção está focalizada nas
cenas (sugestões visuais, verbais, extraver-
bais, subliminares), respondemos a elas se-
gundo nossa imaginação, segundo o conteú-
do das próprias cenas e segundo nossas ex-
periências passadas (estamos hipnotizados).
Durante essas cenas nosso juízo crítico dei-
xa de analisar se estão passando 24 quadri-
nhos por minuto na tela, ou se a resolução da
imagem é de 240, 336, 425, 724 ou até 1.000
linhas horizontais no monitor da TV de alta
definição, ou se as cenas foram feitas com
miniaturas dentro de um computador, ou se
outras pessoas estão conversando. Não fi-
camos pensando que é apenas um conto, nós
nos envolvemos com as cenas, sentimos as
cenas com todos os nossos sentidos, e mui-
tas vezes deixamos de ouvir ou de prestar a
atenção num barulho estranho ao filme como
o som da campainha da nossa residência.
Quando estamos interessados na leitura
de um determinado livro, reagimos emocio-
nalmente às descrições das situações inte-
ressantes sem estarmos analisando critica-
mente o tamanho das letras, a ortografia, fa-
lhas na impressão ou se uma letra está com
a impressão mais fina do que a outra. Desse
modo, limitamos a nossa atenção visual ao
conteúdo do que estamos lendo e somos auto-
hipnotizados. Quando estamos ouvindo com
entusiasmo uma música de nossa preferên-
cia, permanecemos sem analisar criticamente
a afinação do cantor ou a performance da
orquestra. Essencialmente, concentramos a
nossa atenção no som musical, permitindo
que a música entre em nossa mente e em
nosso corpo, e até podemos ser hipnotiza-
Hipnose na
Vida DiÆria
2 CAP˝TULO 1
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
dos pela música, a qual pode nos fazer recor-
dar de um acontecimento passado, ocorrendo
uma relembrança ou mesmo revivificação.
Por outro lado, as manifestações da hip-
nose apresentam-se como atos não do cons-
ciente, mas sim do subconsciente, como
aquelas experiências que aprendemos no
passado e ficaram gravadas no nosso cére-
bro, e no presente instante não estão consci-
entes, mas que podem ser acessadas quando
necessitarmos. As manifestações da hipno-
se podem também brotar das aferências ar-
mazenadas no subconsciente, mesmo que
tenham ido para o subconsciente aparente-
mente sem a percepção e o criticismo do
consciente. Quando estamos dirigindo nos-
so carro de casa para o trabalho, prestamos
atenção consciente ao trânsito, contudo, a
direção do carro é realizada em nível sub-
consciente. Nós não ficamos conscientemente
engatando as marchas e pisando no freio.
Assim mesmo, enquanto dirigimos o veículo
prestando atenção ao trânsito, uma série de
estímulos chega ao nosso cérebro sem tornar-
se consciente nesse exato momento e pode
ser armazenada em algum lugar do encéfalo.
Quando uma pessoa está aprendendo a
dançar, presta atenção ao compasso musical,
presta atenção na sua posição do corpo, olha
para os pés para saber onde irá posicioná-
los. Enfim, procura seguir o professor ou o
seu par. Essa fase pode ser comparada às
sugestões que o médico formula ao paciente
durante o tratamento pela hipnose. Posterior-
mente, quando a pessoa já sabe dançar, sim-
plesmente ouve a música, deixa-a entrar pelo
seu corpo e sai dançando automaticamente.
Analogamente, corresponde ao tratamento
bem-sucedido pela hipnose quando, por
exemplo, o paciente reprogramou seu modo
de alimentar-se para tornar-se e permanecer
esbelto; quando, por meio da hipnose, am-
pliou sua capacidade de aprender e relembrar
o aprendido ou eliminou uma fobia.
Desde o nascimento vamos acumulando
informações e experiências com conteúdo
emocional, algumas poucas estão no nosso
consciente no momento presente, mas a mai-
oria está no disco rígido de nosso compu-
tador mental, chamado encéfalo. Isto é, na
nossa memória subconsciente que se arma-
zena em vários locais no nosso encéfalo, es-
pecialmente nas estruturas do hipocampo,
para-hipocampo e sistema límbico ou talvez
simultaneamente em vários locais e circui-
tos neurais do sistema nervoso central. Al-
gumas dessas experiências armazenadas no
subconsciente com conteúdo emocional trau-
mático para o consciente são mantidas no
subconsciente pelo senso crítico de nosso
consciente. Mas, mesmo do subconsciente,
podem causar problemas para a nossa vida
consciente. É possível que durante uma via-
gem de turismo, uma paisagem visualizada
acesse algumas dessas experiências traumá-
ticas, tornando-as conscientes, facilitando a
resolução de problemas conscientes. Por
meio da hipnose podemos ter acesso direcio-
nado para essas experiências armazenadas no
subconsciente, e podemos trazê-las para o
consciente com diversas técnicas de hipno-
terapia como análise de sonhos, escrita auto-
mática, relembrança e revivificação. Muito
embora essas experiências passadas possam
não brotar exatamente do mesmo modo como
aconteceram, as cargas emocionais associa-
das a elas podem facilitar o tratamento.
Durante uma conferência ou uma aula,
quando o aluno se interessa pela matéria e o
professor é habilidoso, o aluno permanece
com sua atenção tão focalizada e limitada
ao assunto (hipnotizado) que os ensinamen-
tos são gravados no seu subconsciente e mes-
mo no seu consciente. Ao terminar a confe-
rência ou a aula, o aluno sai satisfeito com
os ensinamentos compreendidos, sendo ca-
paz de lembrá-los durante uma prova (res-
postas positivas às sugestões de ensino). Al-
CAP˝TULO 1 3
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
ternativamente, quando o professor é chato,
fala baixinho e apenas lê os diapositivos
projetados, o aluno não se interessa pela
matéria e se distrai com qualquer coisa (não
há focalização da atenção, nem hipnose), e,
conseqüentemente, não há adequado apren-
dizado. Muito provavelmente o aluno será
incapaz de lembrar durante uma prova, nem
para o seu proveito durante a sua vida, o que
esse professor tentou transmitir.
Na vida cotidiana, uma mãe que ama seu
filho, durante à noite dorme um sono pro-
fundo, sem ser despertada pelo som da tele-
visão, por trovões de uma tempestade, pelo
bater de portas. Contudo, o choro do seu fi-
lho acorda a mãe (há uma ligação emocio-
nal entre as características do choro do filho
e a mãe). Comparativamente, durante a hip-
nose o paciente está atento às sugestões ver-
bais (palavras) ou não-verbais do hipnólogo,
deixando de se importar com o que se passa
em torno.
Enquanto o presidente de uma empresa
está discursando numa reunião da diretoria,
algumas vezes um diretor — muito embora,
aparentemente, esteja ouvindo a exposição
do presidente — permanece durante todo o
tempo batendo ritmicamente com a ponta do
pé direito sobre o tapete, sem perceber o que
está fazendo. O diretor está executando um
movimento automático. O seu pé e seu mem-
bro inferior direito movimentam-se automa-
ticamente, como que dissociados do restan-
te do corpo.
Numcurso interativo de aperfeiçoamen-
to destinado para funcionários já especia-
lizados de uma firma, alguns deles encon-
tram-se rabiscando o papel com uma caneta,
embora estejam atentos ao desenvolvimen-
to do curso. A mão desses funcionários apa-
rentemente escreve automaticamente como
se estivesse dissociada do corpo, como ocorre
durante a técnica da escrita automática na
hipnoterapia.
Em Brasília, durante uma reunião do pre-
sidente da República com os seus ministros,
convocada para criar diretrizes para aumen-
tar as exportações, o presidente comunica
enfaticamente ao ministro das Relações Ex-
teriores que está concentrado nas palavras
do chefe da nação, a necessidade de dizer a
todos que o lema é exportar ou morrer. O
ministro das Relações Exteriores aceita e
acredita nessa idéia porque o seu objetivo
também é exportar cada vez mais. Ao sair
da reunião, ao ser entrevistado por uma emis-
sora de televisão, comunica a imprensa a fra-
se de efeito “exportar ou morrer”. O mesmo
ocorre quando um paciente atento às pala-
vras do hipnólogo recebe uma sugestão pós-
hipnótica que está de acordo com as suas
idéias. Posteriormente, o paciente cumprirá
a sugestão.
O aprendizado das crianças é enorme-
mente influenciado pela maneira como são
ensinadas, especialmente pelos pais e tam-
bém pelos educadores. Frases repetidas cons-
tantemente, como “você precisa comer, coma
tudo que está no seu prato”, geralmente as-
sociadas às sugestões táteis e à sugestão pela
atitude dos pais, ficam gravadas no subcons-
ciente da criança. Na idade adulta essas
idéias podem desencadear uma vontade de-
senfreada pela alimentação constante, faci-
litando o desenvolvimento do excesso de
peso e da obesidade. Muitas das dificulda-
des na vida advêm do subconsciente estar
armazenando informações erradas, negativas
e experiências de fracasso.
Muitas sugestões indiretas ocorrem no co-
tidiano e conduzem a respostas similares às
ocorridas durante a hipnose formal. Quantas
vezes estamos passeando num shopping
center com o desejo de adquirir alguma peça
para o vestuário quando, passando pela frente
de uma lanchonete, sentimos o odor do café
(sugestão sensorial olfativa indireta) e somos
levados a entrar e saborear um cafezinho.
4 CAP˝TULO 1
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Uma sugestão direta aplicada na hora
certa com palavras corretas e poderosas, com
tom emocional adequado ao contexto, pode
fazer uma multidão mover-se imediatamen-
te sem que as pessoas parem para raciocinar
e optar pela melhor alternativa de compor-
tamento. Isto ocorre quando num cinema
durante a exibição de um filme alguém gri-
ta: “Fogo! Está pegando fogo!”
Quantas vezes ao tirarmos uma roupa des-
cobrimos que nos arranhamos num braço ou
numa extremidade do corpo, sendo que no
momento do arranhão nada sentimos (está-
vamos com a atenção concentrada em ou-
tras coisas), estávamos anestesiados.
Algumas vezes, quando estamos com
muita vontade de comer algum alimento que
apreciamos muito, como uma laranja, sim-
plesmente imaginamos essa fruta e nos
visualizamos descascando a laranja e colo-
cando um pedaço dentro da boca. Imedia-
tamente começamos a salivar, sentimos na
boca o gosto de laranja e percebemos o odor
desta. Essas percepções sem objeto seriam
como se estivéssemos facilitando o surgi-
mento de alucinações visuais, olfativas e
gustativas.
Na televisão, os anúncios de produtos e
serviços são cuidadosamente preparados e
repetidos várias vezes para influenciar as
pessoas-alvo. Muitas vezes deixam de mos-
trar os aspectos técnicos e operacionais para
criar um clima emocional de sucesso, rique-
za e prazer que são associados à marca anun-
ciada. A propaganda escolhe e associa as
imagens do que está sendo anunciado com
pessoas adequadas, com tom de voz adequa-
do, com música de fundo, e, algumas vezes
incluindo sugestões subliminares, de modo
a deixar o cliente em potencial com interes-
se pelo produto (como que hipnotizado).
Quantas vezes uma pessoa que usa ócu-
los fica procurando seus óculos em vários
lugares, e depois de algum tempo percebe
que eles estão justamente no local que deve-
riam estar, sobre seus olhos. A pessoa até
encontrá-los apresentava uma ilusão negati-
va visual e tátil, pois não percebia pela visão
nem pela sensibilidade tátil os óculos.
A sensação ou sentido do tempo pode ser
percebida de modo expandido ou concentra-
do nos acontecimentos cotidianos. Por exem-
plo, quando estamos assistindo a uma parti-
da de futebol entre Coritiba e Atlético Para-
naense, dois times que disputam o campeo-
nato brasileiro. O primeiro está vencendo por
2 x 1 e estamos nos 42 minutos do segundo
tempo. Os torcedores do Coritiba têm a sen-
sação de que os três minutos finais demo-
ram muito a passar, parecendo uma eterni-
dade, isto é, têm sensação de tempo expan-
dido. Por outro lado, os torcedores do Atlé-
tico têm a sensação de que os mesmos três
minutos finais passam muito rapidamente,
parecendo passar num relâmpago, isto é, têm
a sensação de tempo concentrado. Durante a
hipnose pode-se utilizar a sensação de ex-
pansão do tempo para permitir que aconte-
cimentos agradáveis “demorem” para pas-
sar e o paciente possa curtir esse tempo de
alegria, sucesso e felicidade. A sensação de
contração do tempo é empregada para fazer
“passar mais depressa” os acontecimentos
desagradáveis.
Durante atividades muitas vezes cotidia-
nas, as pessoas podem entrar em hipnose sem
que nenhuma sugestão verbal seja pronun-
ciada: simplesmente dirigindo um veículo
numa estrada com longas retas ou numa auto-
estrada; outras vezes simplesmente assistin-
do a um programa na televisão.
Nos intervalos de um trabalho ou de um
estudo, uma pessoa pode perceber e ouvir
nitidamente uma música que aprecia muito,
sem nenhum aparente estímulo externo; ou
pode ser estimulada pela imagem da capa de
um CD deixado sobre a mesa, com o nome
dessa música visível, a começar a escutar
CAP˝TULO 1 5
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essa música. Outra pessoa, estando em casa
descansando, ocasionalmente ao ver uma fo-
tografia tirada de uma festa que participou
durante as férias em um outro país, pode ser
capaz de conseguir perceber vivamente as
imagens dela na festa, dançando com deter-
minada pessoa, como se tudo estivesse ocor-
rendo neste momento. Uma pessoa cami-
nhando na rua ao passar pele frente de uma
banca que vende frutas pode sentir o gosto
da fruta de sua preferência na boca, e inclu-
sive salivar.
A hipnose na vida diária ocorre mais fre-
qüentemente do que imaginamos, e contribui
para a compreensão de que não é necessária
a indução formal para obtermos a hipnose.
No consultório do profissional médico,
odontólogo ou psicólogo, faz-se a indução
formal da hipnose para obtê-la no momento
desejado e com finalidades específicas.
6 CAP˝TULO 1
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CAP˝TULO 2 7
CAP˝TULOCAP˝TULO
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Modelos Conceituais e
Natureza da Hipnose
O conceito de hipnose e as tentativas para
explicar o que exatamente ocorre durante a
hipnose variam com o passar do tempo. Cada
cultura tem usado a hipnose de uma forma ou
de outra, e tem passado seus conhecimentos
adiante para outras culturas. A base funda-
mental da comunicação hipnótica é a suges-
tão sob suas diferentes formas e diferentes
aspectos. A prática do que hoje chamamos
hipnose ou hipnotismo vem da mais remota
antigüidade. A evidência mais primitiva da
existência da hipnose foi encontrada entre os
xamãs,1 que eram também referidos como
“doutores bruxos”, “homens de medicina”, ou
“curadores”. Os xamãs, que são quase sem-
pre homens, usaram (e seus remanescentes
ainda usam) muitas técnicas de visualização
para curar seus pacientes ou para amaldiçoar
seus inimigos. Há ainda alguns remanescen-
tes xamãsna África, Lappland, Havaí, ao lon-
go do Alto Amazonas na América do Sul, nos
primitivos da Austrália e mesmo entre índios
norte-americanos.2 Para o antropólogo
Michael Harner que pratica a cura xamânica
desde 1961, e que recebeu o doutorado da Uni-
versidade de Kerkeley, a palavra shaman, na
língua original da tribo Tungus da Sibéria,
refere-se a uma pessoa que faz a viagem para
a realidade não ordinária, num estado altera-
do de consciência.3 Para Mircea Eliade, xama-
nismo é a técnica de êxtase.4 Os xamãs alcan-
çavam o estado alterado de consciência de
várias maneiras, incluindo cantos, sons pro-
duzidos por tambores, movimentos do corpo,
danças e plantas psicoativas.
Há 2400 a.C. sacerdotes caldeus já eram
tidos como capazes de transmitir fluidos por
meio de passes, que colocavam em transe os
sofredores.5 O hipnotismo foi a base das ciên-
cias ocultas no antigo Egito, na Grécia e na
Índia. As manifestações da hipnose eram
consideradas como “milagres” com que os
feiticeiros, bruxos ou sacerdotes pagãos, di-
zendo-se mensageiros dos deuses, empolga-
vam o povo.6
No antigo Egito, que absorveu os conhe-
cimentos dos Caldeus, nos chamados tem-
plos do sono, os enfermos eram pacientes de
8 CAP˝TULO 2
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sugestões terapêuticas e passes mágicos. Um
papiro dessa época (1552 a.C.), o papiro de
Tebas (onde hoje se localiza a cidade de
Luxor) e, portanto, com mais de 3.550 anos,
conta técnicas de hipnose muito semelhantes
às empregadas atualmente.7 Esse papiro, des-
coberto por Ebers e traduzido em 1860 por
Chabas, é o mais completo registro conheci-
do da medicina egípcia, está na biblioteca da
Universidade de Leipzig. Um baixo-relevo
encontrado num sarcófago de Tebas mostra
um sacerdote em pleno ato de indução hipnó-
tica de um paciente.5 Este baixo-relevo ainda
hoje pode ser visto no Museu Britânico, em
Londres. Na Grécia no templo de Esculápio,
o deus grego da medicina, os sacerdotes usa-
vam processos semelhantes, invocando a pre-
sença daquela divindade para colocar os do-
entes em transe hipnótico. Na Índia, também
são conhecidas manifestações do hipnotismo
que chegaram aos nossos dias pelos Yogas.
No século X o persa, de origem árabe,
Abu-Ali-Hussain Ben Abdallah Ibn-Sina
(Avicena 980 a 1036),8 que era filósofo e
médico, foi o verdadeiro precursor da refle-
xologia pavloviana. Ele achava que a imagi-
nação humana tinha poderes e forças, que
podiam atuar não só sobre o seu próprio corpo,
como também sobre o funcionamento corpo-
ral de outras pessoas.8 Avicena afirmava que
pela palavra, pela vontade e pela persuasão
muitos padecimentos poderiam ser curados.
No seu excelente livro Aplicações clíni-
cas da sugestão e da hipnose em 1958,
William T. Heron dizia que “a hipnose é e
deve ser considerada como um fenômeno
psicológico natural, e o papel do hipnotista
é, simplesmente, o de um instrutor ou pro-
fessor que auxilia o paciente a realizar o es-
tado de hipnose”9 (p.51).
A existência de muitas teorias indica que
a natureza real da hipnose é desconhecida.
Os modelos conceituais sobre a hipnose vão
aparecendo e modificando-se com a evolu-
ção do mundo, e vão permitindo seu melhor
entendimento e utilização. Na explanação dos
modelos conceituais, os anos mais importan-
tes no desenvolvimento de cada teoria estão
seguindo o nome do autor.
PRINCIPAIS MODELOS CONCEITUAIS
SOBRE A HIPNOSE E A SUA NATUREZA
1. Tratamento pelo ímã (Paracelso)
2. Magnetismo animal (Franz A. Mesmer)
3. Sonambulismo artificial (Armand M.
J. de Chastenet, Marquês de Puységur)
4. Sono lúcido (José C. de Faria)
5. Hipnotismo (James Braid)
6. Sugestionabilidade aumentada (Esco-
la de Nancy)
7. Escola da Reflexologia (Ivan P. Pav-
lov e sua escola)
8. Comportamento dirigido (Robert W.
White)
9. Fenômeno psicossomático (Lewis R.
Wolberg)
10. Superconcentração da mente (Sydney
J. Van Pelt)
11. Exclusão psíquica relativa (Raphael
H. Rhodes)
12. Desempenho de um papel (Theodore
R. Sarbin e William C. Coe)
13. Estado emocional intensificado (Ga-
lina Solovey e Anatol Milechnin)
14. Regressão atávica (Ainslie Meares)
15. Psicoplasia acrescentada pela concen-
tração total da mente (Marcelo Lerner)
16. Teoria da neodissociação (Ernest R.
Hilgard)
17. Teoria do controle dissociado (Ken-
neth S. Bowers)
18. Estado particular da mente (John
Hartland)
19. Estado de consentimento (David L.
Scott)
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20. Regressão psicológica topográfica
(Michael R. Nash)
21. Estado alterado de consciência (Char-
les T. Tart e Erika Fromm)
22. Comportamento cognitivo (Theodore
X. Barber)
23. Modelo sociocognitivo (Nicholas P.
Spanos)
24. Hipnose como obediência e crença
(Graham F. Wagstaff)
25. Teoria do aprendizado social (Irving
Kirsch)
26. Modelo social-psicobiológico (Éva I.
Bányai)
27. Relaxamento hipnótico (William E.
Edmonston Jr.)
28. Sistema de comunicação influencia-
da (Michael D. Yapko)
29. Abordagem interativa centrada no pa-
ciente (Milton H. Erickson)
30. Modelo integrado de hipnose (Steven
J. Lynn e Judith W. Rhue)
31. Perspectiva do ecossistema aplicada
à hipnose (David P. Fourie)
32. Hipnose como compromisso cogniti-
vo motivado (Peter W. Sheehan)
33. Paradigma multidimensional (Theo-
dore X. Barber)
TRATAMENTO PELO ÍMÃ (PARACELSO —
1529)
Philippe Bombast von Hohenheim (Para-
celso) era médico e filósofo suíço, viveu de
1493 a 1541, e considerava que todos os se-
res humanos estavam sobre a ação do influ-
xo sideromagnético dos astros.5 Para ele,
considerado o pai da medicina hermética, o
corpo humano se comportava como um ver-
dadeiro ímã, que podia atrair o fluxo dos
astros e absorvê-lo, bem como assimilar ou
eliminar os elementos terrestres. O pólo norte
do corpo humano corresponderia aos pés e o
pólo sul aos genitais. Ele empregava mine-
rais magnéticos para o tratamento das doen-
ças e relatava várias curas. Em virtude das
suas idéias Paracelso foi perseguido, tendo
que ir de uma cidade para a outra.
MAGNETISMO ANIMAL (FRANZ A.
MESMER — 1776, 1779)
Franciscus Antonius Mesmer, conhecido
como Franz Anton Mesmer nasceu em 23 de
maio de 1734 em Iznang, junto ao lago
Constança, pertencente à Áustria, que em
1805, por meio de um tratado, passou a fazer
parte do território alemão.5, 8 Mesmer fez es-
tudos de filosofia, teologia e, em 1759, estu-
dou jurisprudência. Depois fez o curso de
medicina na universidade de Viena, forman-
do-se com 32 anos de idade em 1766, com a
apresentação da tese Dissertatio Physico-
Medica de Planetarum Influxu (Dissertação
Físico-médica sobre a Influência dos Plane-
tas). Sua tese considerava que um “fluido su-
til” unia todos os corpos do universo, fazendo
com que uns atuassem sobre os outros. Os
astros, principalmente o sol e a lua, exerciam
influência sobre os homens. O fluido emana-
do pelos astros teria a capacidade de ser cap-
tado e armazenado nos metais especiais, e pela
sua analogia com as propriedades do ímã, foi
chamado de magnetismo animal. O padre je-
suíta Maximillian Hehl (1720-1792), interes-
sado em magnetismo, e astrônomo real para a
corte da Áustria, tomou conhecimento da tese
de Mesmer e fez alguns ímãs nas formas dos
órgãos, que estavam destinados a curar.10 O
padre Hehl ou Hell como muitos grifam (que
em alemão significa luz), conta isso ao seu
amigo Mesmer, que pede ao padre para con-
feccionar alguns ímãs e começa a fazer expe-
riências conseguindo bons resultados. Inici-
almente Mesmer usou placas imantadas
condensadoras e condutoras de “fluido mag-
nético” para a cura de pessoas. Mais tarde,
10 CAP˝TULO 2
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Mesmer chegou à conclusão de que as pla-
cas imantadas eram um intermediário inútil,
porque o corpo humano sendo um depósito
natural do “fluido”seria o agente por exce-
lência atuando sobre outros corpos. Em 1777
tratou uma jovem de 18 anos de idade cha-
mada Maria Thereza Paradis, pianista preco-
ce, que havia subitamente perdido a visão des-
de os três anos de idade, e já havia consultado
eminentes médicos da época. Mesmer, consi-
derando a necessidade de um rapport ade-
quado, transferiu-a para a sua própria clínica.
Com o tratamento a paciente começou a en-
xergar, e Mesmer afirmou que ia levá-la para
a Imperatriz (que era madrinha da paciente) a
fim de demonstrar a cura. Contudo, isso des-
pertou a indignação da conservadora socie-
dade médica vienense, que procurou os pais
da paciente afirmando não acreditar que ela
estava enxergando, e que se isso fosse verda-
deiro ela perderia a pensão que recebia por
ser excelente pianista cega. Se voltasse a ver
seria simplesmente mais uma pianista. Desse
modo, convenceram os pais da paciente a
entrar na clínica de Mesmer para retirá-la, à
força. Como resultado desse episódio Maria
Thereza teve uma recaída, perdeu novamen-
te a visão e Mesmer foi convidado a encerrar
sua prática médica ou deixar Viena. Mesmer
foi para Paris e, em fevereiro de 1778, insta-
lou o consultório na Place Vendôme e lá idea-
lizou um aparelho denominado “Baquet” (tina).
O “Baquet” era uma caixa de madeira circu-
lar, cheia de limalha de ferro. Sobre a limalha
estavam garrafas com água “magnetizada”,
que se comunicavam entre si. Do interior da
caixa saíam hastes de ferro móveis as quais
os doentes aplicavam sobre a parte doente do
corpo. Ao redor desse aparelho reuniam-se
ao mesmo tempo 130 pessoas na penumbra e
com fundo musical de órgão. Nessas condi-
ções ideais de sugestão indireta, os doentes
eram acometidos de “convulsões terapêuti-
cas”. Na época de Mesmer os ímãs eram con-
siderados um mistério, e muitos acreditavam
que eles tinham grande poder. As pessoas da
época acreditavam nos ímãs e estavam con-
vencidas de que eles podiam produzir curas;
logo resultados eram esperados e resultados
eram produzidos. Mesmer publicou nova tese
em 1779, Mémoire sur la découvert du
magnétisme animal, modificando alguns con-
ceitos sobre o magnetismo animal. Agora,
Mesmer reconhecia no corpo humano proprie-
dades semelhantes às do ímã, tendo também
dois pólos opostos, e “a ação do fluido” ou
magnetismo animal, entre uns e outros cor-
pos animados e inanimados, sem a interven-
ção de intermediários. O “fluido”, muito em-
bora fosse universal, não existiria em igual
intensidade em todos os corpos, e naqueles
em que estivesse mal distribuído ou ausente,
ocorreriam as doenças. A função do magneti-
zador era fornecer o “fluido” necessário ao
órgão afetado, favorecendo o equilíbrio mais
harmônico do organismo. Em 1781 Mesmer
considerou a importância da relação entre o
magnetizador e o paciente, dizendo que o
magnetismo “devia em primeiro lugar ser
transmitido pelos sentimentos”.11 Em 1784
seus adversários persuadiram o rei Luís XVI
a nomear uma comissão constituída por cin-
co membros da Academia de Ciências, qua-
tro membros da Faculdade de Medicina e cin-
co membros da Sociedade Real de Medicina
da França, para analisar os trabalhos de
Mesmer. Essa comissão concluiu unanime-
mente que as curas eram decorrentes da ima-
ginação e da imitação. A comissão concluiu
que a imaginação sem magnetização produ-
zia as convulsões, e que o magnetismo sem
imaginação nada produzia.12,13 Como a ima-
ginação não era aceita pelos estudos científi-
cos da época, o magnetismo foi considerado
sem valor para ser comentado ou uma fraude
produzida por um charlatão. Um dos partici-
pantes da comissão, o eminente botânico
Antoine Laurent de Jussieu, escreveu que os
CAP˝TULO 2 11
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efeitos positivos do magnetismo não haviam
sido considerados e achou que a estimulação
da imaginação poderia ser terapêutica.14 Um
colega de Mesmer chamado Charles d’Eslon
reagiu contra o relatório da comissão afirmando
que a imaginação desempenha o maior papel
nos efeitos do mesmerismo, e que as forças
da imaginação poderiam ser um agente real
responsável pela eficácia do magnetismo ani-
mal.15 Com o resultado da comissão, a popu-
laridade de Mesmer caiu bastante e ele partiu
para a Inglaterra, depois para a Alemanha,
voltando a Paris em 1801. Em 1803 foi para
Frauenfeld perto do lago Constança na Suíça.
Em 5 de março de 1815 ele morre em
Meersburg na Suíça.
SONAMBULISMO ARTIFICIAL (MARQUÊS
DE PUYSÉGUR — 1784)
Um discípulo de Mesmer chamado Mar-
quês Puységur (Armand Marie Jacques de
Chastenet) tratando separadamente um pa-
ciente de 23 anos de idade de nome Victor
Race, em 1784, observou que ao invés de o
mesmo apresentar convulsões como ocorria
com os pacientes de Mesmer, ele dormia tran-
qüilamente e durante esse sono podia falar,
responder ordens, e após ser acordado não
lembrava de nada.5,8 Então denominou esse
estado de sonambulismo artificial por analogia
ao sonambulismo do sono fisiológico. O Mar-
quês de Puységur também enfatizou a idéia
de que os fenômenos do magnetismo ocorri-
am mais provavelmente em certas condições,
que ele denominou “rapport exclusivo” entre
o hipnotista e a pessoa hipnotizada.
SONO LÚCIDO (JOSÉ CUSTÓDIO DE FARIA
— 1813)
Um sacerdote português de nome José
Custódio de Faria (1756-1819), nascido em
Condolim de Bardez (Goa), Índia Portugue-
sa, chegou em Paris por volta de 1813, e con-
siderava que não podia haver influência de
um “fluido” nas experiências do Marquês de
Puységur. Para o abade Faria era a vontade
do paciente que conduzia ao que chamava
de “sono lúcido”.16 Faria foi o primeiro a
afirmar que a vontade receptiva do paciente
e o rapport entre o paciente e o magnetizador
determinavam a formação do processo de
cura.6
Em 1826, Simon Mialle publicou um livro
relacionando grande variedade de desordens
orgânicas e mentais, em ordem alfabética,
nas quais o magnetismo animal havia sido em-
pregado com êxito, e apresentando uma refe-
rência à nomenclatura baseada no prefixo
hypn- que dá origem às palavras hipnose e
hipnotismo.17 Essa terminologia já existia nos
dicionários franceses.
HIPNOTISMO (JAMES BRAID — 1843)
Com James Braid (1795-1860), nascido
em Fifeshire na Escócia, adepto do ocultis-
mo, médico oftalmologista e cirurgião de
Manchester, Inglaterra, apareceram os pri-
meiros conceitos científicos sobre o hipno-
tismo. Braid estava inclinado a juntar-se
àqueles que consideravam o magnetismo
animal como sendo um sistema de coopera-
ção secreta ilegal e prejudicial ou uma ilu-
são, ou de imaginação exaltada, simpatia ou
imitação.18 Ele foi assistir pela primeira vez
às demonstrações de Lafontaine no dia 13
de novembro de 1841 e saiu com a mesma
impressão que entrou. Contudo, assistiu a
uma segunda demonstração seis dias depois
e o fato de o indivíduo não poder abrir as
pálpebras lhe chamou a atenção.18 Braid
achou que aí estava a causa do fenômeno, e
ao voltar para casa fez experiências com a
sua esposa, um amigo e um criado.8,10,17,18
12 CAP˝TULO 2
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Pediu para que olhassem fixamente um de-
terminado ponto brilhante até que seus olhos
se entregassem extenuados ao repouso. A
partir desse momento teve em suas mãos
essas pessoas “magnetizadas”. As primeiras
conclusões de James Braid foram: (a) o fenô-
meno do mesmerismo era puramente subje-
tivo e não dependia de qualquer poder má-
gico, de nenhuma influência astral, de qual-
quer fluido mineral ou animal, nem sequer
de qualquer influência da pessoa do opera-
dor; (b) esses fenômenos deviam-se exclu-
sivamente à natureza física, mecânica e fun-
cional, produzindo alterações nos órgãos dos
sentidos, especialmente na visão, levando a
um esgotamento do centro visual pela esti-
mulação continuada e monótona; (c) intro-
duziu o método de indução da fixação do
olhar, que ainda hoje pode ser utilizado,com
ou sem modificações.
Em 1843 Braid publica Neurypnology or
the rationale of nervous sleep no qual apa-
rece a primeira terminologia sobre o hipno-
tismo.18 Ele achava que o fenômeno era de-
vido a um tipo de sono nervoso e por isto
aplicou a palavra “Hipnose”. Muito embora
com James Braid a palavra hipnotismo te-
nha ficado consagrada, foi o francês Etienne
Felix d’Henin de Cuvillers,19 que aplicou 20
anos antes o prefixo hypn- para uma varie-
dade de palavras descritivas do processo de
Mesmer.
Mais tarde, Braid percebeu que a indução
da hipnose dependia da contribuição pessoal
do paciente, da sua concentração mental
numa idéia ou numa vontade, ou seja, de-
pendia do domínio de sua atenção. E ainda
Braid afirmava que uma vez obtida a hipno-
se poder-se-ia facilmente plantar idéias e
vontades no cérebro do paciente. A anestesia
obtida sob hipnose era devida a uma inibi-
ção de uma parte do cérebro do paciente.
Braid também achava que existiam acentua-
das diferenças no grau suscetibilidade de
diferentes indivíduos à influência hipnótica,
muitos tornando-se rápida e intensamente
afetados e outros lenta e discretamente afe-
tados. Em 1847 descobriu que os fenômenos
do hipnotismo, como catalepsia, anestesia e
amnésia e poderiam ser produzidos sem a
necessidade de a pessoa dormir.
Em abril de 1843 outro médico escocês,
John Elliotson, professor de cirurgia da Uni-
versidade de Londres, criou o primeiro jor-
nal para artigos de mesmerismo (hipnose) e
fisiologia cerebral denominado Zoist,5,8,10
publicado trimestralmente até 31 de dezem-
bro de 1855.
Em 1891 a Associação Médica Britânica
designou uma comissão para investigar a na-
tureza do fenômeno hipnótico, seu valor
como agente terapêutico e suas indicações.
O relatório da comissão foi apresentado em
1892, destacando: (a) estavam convencidos
dos fenômenos hipnóticos; (b) o termo, hip-
notismo, não traduz bem a natureza do fenô-
meno, já que este é diferente do sono fisio-
lógico; (c) a hipnose é um eficaz agente
terapêutico no alívio de dores, no tratamen-
to da embriaguez e na possibilidade de rea-
lização de atos cirúrgicos; (d) a hipnose deve
ser usada exclusivamente por médicos para
fins terapêuticos, somente em pacientes do
sexo masculino e quando em mulheres, ape-
nas na presença de familiares ou de pessoas
do mesmo sexo; (e) condena veementemen-
te quaisquer exibições recreativas, popula-
res e teatrais de hipnotismo.
SUGESTIONABILIDADE AUMENTADA
(ESCOLA DE NANCY — 1854-1890)
(AMBROISE A. LIÉBEAULT E HIPPOLYTE
BERNHEIM)
Os conceitos a seguir expostos foram de-
senvolvidos pela escola de Nancy, pelo gru-
po liderado pelo médico rural Ambroise
CAP˝TULO 2 13
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Auguste Liébeault (1823-1904), que utilizava
a fixação do olhar associada à sugestão ver-
bal, e pelo neurologista, professor da Univer-
sidade de Nancy, Hippolyte Bernheim (1840-
1919). O primeiro livro científico sobre hipno-
se, De la sugestion et de ses applications a
la therapeutique20 foi escrito por Bernheim,
em 1886. A sugestionabilidade segundo
Bernheim é a aptidão do cérebro de receber
ou evocar idéias e sua tendência a realizá-las
ou transformá-las em atos. Toda a idéia
sugerida tende a se transformar em ato, ou,
dito fisiologicamente, todo neurônio acionado
por uma idéia transmite impulsos para as fi-
bras nervosas eferentes, as quais conduzem
os impulsos para os órgãos que devem efetuar
o ato. Denominou-se isso lei do ideodinamis-
mo. Bernheim também afirmou que qualquer
fenômeno hipnótico poderia ser produzido pela
sugestão em vigília. Na época dessa teoria,
Bramwell considerava cinco os pontos princi-
pais:21 (1) Nada diferencia o sono natural do
sono artificial. (2) Os fenômenos hipnóticos
são análogos à maioria dos atos normais auto-
máticos, involuntários e inconscientes. (3) Uma
idéia tem tendência a gerar uma realidade. (4)
Na hipnose a tendência de aceitar as suges-
tões é algumas vezes aumentada pela ação
própria da sugestão. (5) O resultado da su-
gestão na hipnose é análogo ao resultado da
sugestão no estado normal.
Por volta de 1875 o neurologista Jean
Martin Charcot (1825-1935), que tratava pa-
cientes histéricos no hospital dela Salpêtrière
em Paris, deduzia que a hipnose era uma
manifestação histérica. E, ainda, que a hip-
nose era obtida essencialmente por meios
físicos, dando mínimo ou nenhum valor à
sugestão. É óbvio que foram dois enormes
erros desse famoso neurologista, que, segun-
do a história, nunca teria hipnotizado nin-
guém porque seus pacientes histéricos eram
preparados pelos seus assistentes. É de au-
toria de Charcot, em 1878, a teoria de três
estágios hipnóticos, sempre relacionados com
os pacientes com transtorno de conversão:6
(1) Catalepsia, produzida pela fixação do
olhar do paciente num foco luminoso forte,
ou pela súbita produção de um som como o
de um gongo ou diapasão. Na catalepsia,
havia rigidez nos membros que permaneci-
am na posição colocada pelo médico. Os
olhos estavam abertos. (2) Letargia, obtida
pelo fechamento dos olhos do paciente ou
pelo apagamento do foco luminoso. Na le-
targia havia surdez, mudez e hiperexcitação
neuromuscular. (3) Sonambulismo, obtido
pela simples pressão ou fricção no alto da
cabeça. A hiperexcitabilidade tornava-se
cutânea. Segundo Schnek22 os estádios des-
critos por Charcot não são inerentes à hip-
nose, nem há métodos específicos pelos quais
possam ser produzidos.
As observações da escola de Nancy, reu-
nidas por Nicolas, incluem:23
1. Jamais observaram os três estados, le-
targia, catalepsia e sonambulismo. A hipno-
se é a mesma quer com pacientes histéricos
quer com outros pacientes. As três fases
mencionadas não existem nem mesmo com
pacientes histéricos.
2. A histeria não é um bom terreno para
estudar o hipnotismo. Muitos dos sintomas
“histeriformes” (chamados hoje de conver-
são ou dissociativos), de origem emotiva ou
resultantes de auto-sugestão, misturam-se
aos fenômenos hipnóticos e para um obser-
vador inexperiente é difícil de separar.
3. O estado hipnótico não é uma neurose.
Os fenômenos que ocorrem na hipnose são
naturais e psicológicos, podendo ser obtidos
em muitas pessoas durante o sono natural.
4. Todos os procedimentos de hipnotiza-
ção se resumem na sugestão, e a sugestão é
a chave de todos os fenômenos hipnóticos.
A escola de Paris ou tão-somente chama-
da Escola da Salpêtrière, da qual faziam parte
nomes como Babinski, Binet, Fere, Jean Janet,
14 CAP˝TULO 2
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Richet, Gilles de la Tourete, com relação à hip-
nose jamais prosperou. Durante o II Congres-
so Internacional de Psicologia realizado em
Paris, Sidgwick, o presidente na seção de aber-
tura, reconhecia publicamente a vitória da es-
cola de Nancy.24 A Escola de Nancy expan-
diu-se e ficou mais fortalecida com nomes
como Emil Coué (1857-1926), um farmacêu-
tico que se tornou célebre com seu método de
auto-sugestão consciente,25 e sua célebre frase
“A cada dia, sob todos os aspectos, vou cada
vez melhor”. Para Coué não é a sugestão que o
hipnotizador faz que realiza alguma coisa, é a
sugestão que é aceita pela mente da pessoa.
Bernheim numa palestra proferida na
Universidade de Nancy em 12 de dezembro
de 1906 descreve três estágios mais impor-
tantes na história da hipnose até então. O
primeiro estágio, magnetismo animal elabo-
rado por Mesmer; o segundo, sono hipnóti-
co ou hipnotismo devido a Braid; o terceiro,
a teoria da sugestionalidade de Liebeault.
ESCOLA DA REFLEXOLOGIA (IVAN P.
PAVLOV E SUA ESCOLA — 1901,1904)
A doutrina da inibição e excitação cortical
para Ivan Petrovich Pavlov (1849-1935) rege
a atividade nervosa superior dos animais e
dos seres humanos e foi baseada em estudos
de neurofisiologia com cães. Ele começou a
trabalhar com os reflexos condicionados26
em 1901. As teorias de Pavlovsobre o hip-
notismo originaram-se de seus experimen-
tos com cães publicado no trabalho Sobre a
fisiologia no estado hipnótico do cão. Em
1904 Pavlov usou pela primeira vez os ter-
mos reflexos incondicionados e reflexos con-
dicionados.27 O reflexo incondicionado é
uma ligação nervosa permanente, entre um
excitante determinado, imutável e uma ação
bem definida do organismo. É um reflexo
inato, estável, imutável, característico da es-
pécie, que alguns estudiosos denominam ins-
tintos. Os reflexos condicionados são adqui-
ridos, temporários, ocasionais e constituem
uma característica do indivíduo, não da es-
pécie. Para o aparecimento do reflexo con-
dicionado é necessário que o excitante indi-
ferente preceda sempre o estímulo absoluto,
que haja coexistência de tempo entre os agen-
tes absoluto e o indiferente, que a ação seja
reforçada, e no momento do estabelecimen-
to do reflexo condicionado não haja nenhum
outro estímulo indiferente. Os reflexos con-
dicionados são responsáveis pela adaptação
do indivíduo ao seu meio ambiente.
Os estímulos podem ser exteroceptivos,
isto é, originados no meio ambiente (som, luz,
cheiro, pressão etc.), ou interoceptivos quan-
do originados dentro do próprio organismo.
Os estímulos são recebidos pelos receptores.
Pavlov introduz o conceito de analisador para
significar o conjunto formado pelo receptor,
vias aferentes e conexões centrais. Ele consi-
derava que a atividade nervosa superior ba-
seava-se em dois sistemas de sinalização: (1)
O primeiro sistema representado pelos refle-
xos condicionados. São os sinais que con-
dicionam respostas absolutas. (2) O segundo
sistema representado pelos conceitos conti-
dos nas palavras. A palavra contém um estí-
mulo sonoro (primeiro sistema de sinalização)
e um conteúdo de idéias e imagens (segundo
sistema de sinalização). Nos seres humanos,
os reflexos condicionados podem ser estabe-
lecidos a partir de um som, como também a
partir do conteúdo (mensagem) da palavra.
Nós podemos considerar não somente o con-
teúdo da palavra como representando o se-
gundo sistema de sinalização, mas também
estímulos táteis, térmicos, dolorosos, olfati-
vos, gustativos, cinestésicos, labirínticos,
interoceptivos, independentemente da respos-
ta condicionada da sensação tátil, da sensa-
ção de calor ou de frio, da sensação dolorosa
etc., podem transportar um conteúdo (mensa-
gem) específico para cada indivíduo. O me-
CAP˝TULO 2 15
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canismo do sono fisiológico para a escola
pavloviana é devido à inibição cortical, que
se propaga para centros do sono localizados
mais profundamente. O sono fisiológico se-
ria produzido pela soma de estímulos débeis,
monótonos, atuando durante um certo perío-
do de tempo, produzindo sobrecarga dos pro-
cessos (e vias) inibitórios levando ao espa-
lhamento da inibição. Poderia também ser
produzido por estímulos extremamente for-
tes, que ocasionariam uma inibição cortical
pela sobrecarga dos processos (e vias) ex-
citatórios. Pavlov, já na sua época, presumia
que os processos de excitação e de inibição
dependessem de substâncias químicas dife-
rentes (os neurotransmissores de hoje). As
diferentes funções do córtex cerebral são ca-
racterizadas por diferentes graus de excita-
ção e inibição em várias áreas, formando o
que Pavlov denominou mosaico cerebral.
O que ocorreria durante a hipnose segundo
os conceitos da escola pavloviana? Há um foco
excitatório inicial no córtex cerebral, que pode
estar relacionado com as áreas: auditiva, visu-
al, tátil ou cinestésica, dependendo dos estímu-
los usados. Com predominância de estímulos
auditivos, e pedindo ao paciente para que abra
e feche os olhos para produção de fadiga dos
músculos palpebrais, o arco reflexo condicio-
nado seria assim formado: Os analisadores au-
ditivos fi a área cortical auditiva fi zona
motora oculopalpebral subcortical fi músculos
palpebrais. O estímulo indiferente a condicio-
nar é, no caso, a palavra; o estímulo incondi-
cionado é, no caso, o exercício muscular. En-
tão a palavra débil, monótona, repetida produz
a formação de um foco de excitação no córtex
cerebral e a simultaneidade do estímulo indi-
ferente e do absoluto estabelece o primeiro arco
reflexo temporário no cérebro.26 O foco inicial
é reforçado pela repetição. O foco inicial espa-
lha essa excitação para todo o córtex cerebral.
Essa excitação provoca uma onda inibitória re-
flexa de todos os pontos dirigida ao foco inici-
al de excitação, tentando bloqueá-lo por meio
de uma zona envolvente inibitória ativa. Essa
inibição agora se espalha para todo o córtex. O
foco auditivo irradia a inibição pelo fenômeno
da indução negativa, quanto mais excitado seja
ele, maior a intensidade da inibição que dele
parte. Contudo, continua em estado vígil pela
excitação constante (estimulação com as pala-
vras). Com a estimulação auditiva, agora o
paciente está preparado para receber a sinali-
zação para resposta oculopalpebral desejada,
isto é, a fadiga. Ao afirmarmos que as pálpe-
bras estão cansadas, pesadas etc. seus olhos
fecham-se. Pelo foco auditivo o paciente ouve
as nossas palavras e estabelece-se um novo pon-
to de inibição cortical (centro da percepção sen-
sorial da visão). Como o analisador visual tam-
bém foi cercado pelo segundo sistema de sina-
lização (o conteúdo da palavra, a imagem), cria-
se, em torno do centro sensorial da visão, um
segundo foco de inibição. Deste foco também
se espalha a onda inibitória que, independen-
temente da onda inibitória auditiva, tende a es-
palhar-se pelo córtex cerebral. Agora são dois
focos de inibição que se espalham pelo córtex.
O hipnólogo deve multiplicar os focos de ini-
bição, e isso pode ser feito pela utilização de
estímulos variados. Contudo, o paciente per-
manece ligado ao hipnólogo pelo foco auditi-
vo que agora vamos denominar foco vígil, que
permite a maior parte da comunicação do
hipnólogo com o paciente.
Para a escola pavloviana a hipnose está
associada a uma inibição da atividade refle-
xa condicionada, que se espalha através do
córtex cerebral, muda a interação dos siste-
mas de sinalização, inibindo o segundo sis-
tema de sinalização. Esta inibição diminui o
controle do segundo sistema de sinalização
sobre o primeiro. Isso facilita a memória de
evocação para fatos do passado e para ima-
gens visuais. Essa inibição do córtex propor-
ciona um aumento da excitação de focos es-
timulados pela sugestão.26
16 CAP˝TULO 2
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Existem objeções à teoria de Pavlov sobre
a hipnose. A teoria afirma que a hipnose seria
uma inibição difusa cortical com a presença
de um ponto vígil. Na realidade, transmitindo
sugestões sensoriais verbais, extraverbais, não-
verbais, sugestões táteis, sugestões de imagens
visuais, forçosamente haveria mais de um ponto
vígil. Segundo menciona Lerner, um indiví-
duo desperto fazendo uma complicada conta
matemática ou pronunciando uma conferên-
cia, dificilmente teria um estado difuso cu-
mulativo de inibição cortical, senão mais pro-
vavelmente predomínio de processos de ex-
citação cerebral.28 Como explicar que o mes-
mo indivíduo em hipnose profunda seja ca-
paz de fazer uma operação matemática com-
plicada ou ministrar uma conferência (proces-
sos que exigem elevada excitação cortical),
tendo um estado de inibição difusa cumulati-
va cortical, com a preservação de um ponto
vigente, e logo acorde com absoluta amné-
sia? Haveria necessidade de aceitar que tudo
foi possível apenas por meio do ponto vígil,
apesar de toda a inibição cortical?
COMPORTAMENTO DIRIGIDO (ROBERT W.
WHITE — 1941)
A teoria do comportamento dirigido29
(goal-directed-behavior) foi exposta por
White em 1941. Define o comportamento hip-
nótico como um esforço dirigido, cujo obje-
tivo principal é levar a pessoa hipnotizada a
comportar-se do modo comoé continuamen-
te definido pelo operador e entendido por ela
mesma. A conduta apresentada pelo paciente
hipnotizado nada mais é do que um esforço
dirigido pelo mesmo, com a finalidade de com-
portar-se conforme ele julga que deva atuar
um indivíduo hipnotizado. Este autor acredita-
va que as respostas hipnóticas envolviam um
estado alterado de consciência, mas o que de-
terminava as respostas eram as expectativas
implícitas do indivíduo, guiadas pelo esforço
de apresentar a eles mesmos o que eles acre-
ditavam que o hipnólogo estava esperando. As
respostas hipnóticas são muito complexas para
serem consideradas como resultado automá-
tico das sugestões. O comportamento hipnó-
tico era motivado, objetivo-dirigido, relaciona-
do com a interpretação da sugestão pelo pró-
prio indivíduo e interpessoal.
FENÔMENO PSICOSSOMÁTICO (LEWIS R.
WOLBERG — 1948)
Wolberg acha que o transe não pode ser
explicado quer em bases psicológicas, quer
em bases fisiológicas exclusivas.30 O transe
é uma reação psicossomática complexa que
abrange tanto elementos psicológicos como
fisiológicos. Fisiologicamente há um proces-
so inibitório que parece estender-se aos cen-
tros corticais resultando numa diminuição da
sensação de realidade, alterações na cons-
ciência das sensações, das imagens e do
corpo, e também uma liberação das ações
motoras. Psicologicamente cada pessoa é
individual para experimentar as experiências
hipnóticas internas. Essa experiência inter-
na pode depender da comunicação do hip-
nólogo com a pessoa e vice-versa, do signi-
ficado simbólico da experiência hipnótica
para a pessoa durante a indução do transe.
SUPERCONCENTRAÇÃO DA MENTE
(SYDNEY J. VAN PELT — 1949)
Para este especialista em hipnose médi-
ca, nascido na Austrália, que exerceu a me-
dicina em Londres, a hipnose seria uma su-
perconcentração da mente31 (1949). No es-
tado comum a mente se ocupa com muitas
impressões diferentes de modo que o seu
poder fica disperso. Durante a hipnose a
CAP˝TULO 2 17
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mente concentra-se num grau muito mais
elevado do que no estado comum. Van Pelt
introduz a terminologia, “unidade de poder
mental”, sem defini-la. No estado comum,
somente poucas “unidades de poder mental”
estão afetadas pela sugestão e, portanto, o efei-
to é fraco. Durante a hipnose as “unidades de
poder mental” são concentradas e todas afe-
tadas pela sugestão, portanto o efeito é forte.
Após a hipnose as “unidades de poder men-
tal” dispersas agora estão carregadas de uma
dose de sugestão. A capacidade da hipnose
reside no paciente, o hipnólogo possui so-
mente o conhecimento técnico para manipu-
lá-lo. Contudo, o próprio S. J. Van Pelt em
1956 afirma que “aún cuando ningún doctor,
psiquíatra u hombre de ciencia de alguna
importancia en el mundo arriesgaría hoy día
su reputación negando la existencia del hip-
notismo y la realidad de sus fenómenos, nadie
puede decir exactamente qué es”10 (p. 33).*
EXCLUSÃO PSÍQUICA RELATIVA
(RAPHAEL H. RHODES — 1950)
Cada indivíduo possui duas mentes: a men-
te subjetiva e a mente objetiva.32 A mente
objetiva é capaz de raciocínio tanto indutivo
(dadas as diversas particularidades, chega-
se a uma generalização) como dedutivo (dada
uma generalização, chega-se às particulari-
dades); embora seja impossível considerar
qualquer coisa como uma “particularidade”
ou uma “generalização”, porque cada gene-
ralização pode ser considerada com uma
particularidade sob certas circunstâncias.
Contudo, isso não invalida os processos in-
dutivos e dedutivos. A mente objetiva con-
trola os sentidos: audição, visão, gustação,
tato, cinestesia e olfato. A mente subjetiva
só é capaz de raciocinar dedutivamente. A
mente subjetiva controla a memória. Em cada
indivíduo essas duas mentes estão em esta-
do de equilíbrio mútuo, como se fossem os
dois extremos de uma balança. O predomí-
nio da atividade de uma delas exclui relativa
e concomitantemente os processos da outra.
Quando uma mente se evidencia, a outra re-
trocede. Como a mente subjetiva raciocina
apenas dedutivamente, ela aceita como ver-
dadeira qualquer generalização que lhe seja
apresentada, porque sendo incapaz do racio-
cínio indutivo, não tem como contestar a ge-
neralização. O modo de combater uma gene-
ralização é chegar a uma generalização con-
trária com base em particularidades obser-
vadas, mas isso implica o processo indutivo.
Quando uma das mentes predomina, reduz
em grau concomitante a outra mente e, por
isso, o nome de exclusão psíquica relativa.
Rhodes propôs que essa é a mais ampla
explicação para todos os fenômenos psico-
lógicos manifestados por indivíduos quan-
do em vigília, em sono ou em hipnose.32 Na
vigília a mente objetiva predomina e a pes-
soa é capaz de raciocínio indutivo e deduti-
vo, enquanto a mente subjetiva com menor
predomínio apresenta-se ainda suficiente-
mente ativa para as funções de memória.
Durante o sono predomina a mente subjeti-
va e há redução da mente objetiva. Durante
a hipnose o hipnólogo induz a mente
objetiva do paciente a retroceder, deixando
predominar a mente subjetiva. A mente sub-
jetiva predomina, mas diferentemente do
sono, aqui ela predomina de certo modo
orientada pela comunicação do hipnólogo
com o paciente, quer seja verbal, extra-
verbal ou não-verbal. Na auto-hipnose, a
mente subjetiva é orientada pela mente ob-
jetiva do próprio indivíduo.
* “Ainda que nenhum médico, psiquiatra, homem de
ciência de alguma importância no mundo, arriscasse
hoje em dia sua reputação, negando a existência do
hipnotismo e a realidade dos seus fenômenos, ninguém
pode dizer exatamente o que é”. (Tradução do autor.)
18 CAP˝TULO 2
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Rhodes considera a hipnose “como uma
condição em que se consumou uma troca nas
posições relativas das mentes subjetiva e ob-
jetiva, em que a subjetiva foi posta em evidên-
cia na expectativa de ser controlada pelo
hipnotizador ou pela mente objetiva em reces-
so”32 (p.31). A amplitude do controle hipnótico
está limitada pelo grau de desativação da mente
objetiva do paciente. Quanto maior a desati-
vação, tanto menor o controle hipnótico. Em
virtude do poder de atuação da mente subjeti-
va do paciente, em termos gerais, um pacien-
te não executaria durante a hipnose qualquer
sugestão que fosse contrária aos seus instin-
tos básicos e a sua ética. O próprio autor afir-
ma a validade da teoria diante da existência
de uma só mente, apresentando dois fatores
distintos, um fator subjetivo e um fator objetivo.
DESEMPENHO DE UM PAPEL (THEODORE
R. SARBIN — 1950, 1956, 1972 E
WILLIAM C. COE — 1972, 1991)
Partindo da teoria do comportamento di-
rigido, Sarbin considera a hipnose como uma
forma especial de comportamento sociopsi-
cológico conhecida como “desempenho de
um papel”.33 O indivíduo esforça-se para
desempenhar o papel de uma pessoa hipno-
tizada. O sucesso desse esforço depende de
pelo menos três fatores:34 (a) Motivação fa-
vorável onde o papel a desempenhar e as
convicções próprias não sejam incongruen-
tes. (b) Exatidão da percepção do papel. (c)
Aptidões motoras e imaginativas para desem-
penhar o papel. Depois foram identificadas
seis variáveis que influenciam a qualidade
da representação hipnótica:35 (a) Expectati-
vas do papel do indivíduo. (b) Acurácia da
localização do eu do indivíduo na miniatura
da estrutura social. (c) Habilidades motoras
e de imaginação. (d) Exigências do papel ge-
radas pelas características específicas da si-
tuação clínica ou experimental. (e) Congruên-
cia do papel hipnótico com as autoconcepções
do indivíduo, posteriormente modificada34 para
congruência da performance do papel hipnó-
tico com a seqüência da autonarrativa do indi-
víduo. (f) As propriedades de dirigir e de re-
forçar a audiência do indivíduo.
Estudos comparativos entre pacientes que
são instruídospara se comportar “como se
estivessem hipnotizados”, e pacientes que
são formalmente hipnotizados, mostra que
quando misturados num grupo único e espe-
cialistas em hipnose sejam desafiados a afir-
mar quais pacientes estão hipnotizados e
quais pacientes não estão verdadeiramente
hipnotizados, os pacientes que apenas de-
sempenhavam o papel de hipnotizados po-
dem confundir os especialistas. Os autores
desta teoria destacam alguns pontos: (a) Pa-
pel das expectativas como sendo as coleções
de crenças, probabilidades subjetivas, peda-
ços de conhecimento que especificam condu-
tas apropriadas para uma pessoa ocupando
uma particular posição. O indivíduo represen-
tante traz consigo expectativas preconcebidas
sobre como as pessoas hipnotizadas agem,
além do hipnólogo proporcionar mais expec-
tativas durante a hipnose. (b) O consultório
do profissional ou o laboratório do experimen-
tador é o palco, local da situação hipnótica. A
situação hipnótica depende da habilidade dos
dois atores, hipnólogo e paciente, em usar e
interpretar metáforas amplificadas.
Em 1972 Sarbin e Coe expuseram a teoria
da hipnose em termos dramatúrgicos a partir
da teoria do desempenho de um papel.36 No
modelo dramatúrgico da hipnose a preparação
do paciente corresponde à preparação do pa-
pel que o paciente irá desempenhar. A
congruência do paciente com o papel se esta-
belece pela eliminação das defesas, medos e
conceitos errados sobre a hipnose e pela cria-
ção de expectativas positivas. A indução
corresponde à colocação do paciente no palco,
isto é, na poltrona reclinável, com a diminuição
CAP˝TULO 2 19
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da luminosidade do ambiente e com a modifi-
cação da maneira como o hipnólogo expressa
as sugestões capazes de criar as expectativas
positivas no paciente. A interpretação das su-
gestões pelo paciente é a representação do
papel no palco (consultório do especialista). A
representação do papel é involuntária no sen-
tido de que é realizada sem atenção, mas não
sem intenção. Neste sentido a experiência não-
voluntária é construída por quatro aspectos:37
(a) Intensificação do controle verbal. (b) Con-
dução da atenção. (c) Rotulação da experiên-
cia particular. (d) Apresentação das ações como
ocorrências. Em Alvarez há uma explanação
desta teoria da hipnose em termos teatrais.38
ESTADO EMOCIONAL INTENSIFICADO
(GALINA SOLOVEY E ANATOL
MILECHNIN — 1957)
O estado hipnótico num sentido mais am-
plo não é mais do que um estado emocional
intensificado.39 Toda emoção ao alcançar
certo nível de intensidade ocasiona determi-
nadas particularidades psicofisiológicas que,
por sua vez, provocam determinados fenô-
menos de conduta. Esses aspectos da con-
duta se correlacionam com aspectos hipnóti-
cos, sendo independentes se a emoção é es-
pontânea ou deliberadamente provocada.
Os autores diferenciam dois tipos de emo-
ções: estabilizadoras e perturbadoras. A re-
lação interpessoal na qual se suscitam esses
tipos de estados emocionais básicos é de-
nominada relação interpessoal hipnótica
principal, que é complementada pelas rela-
ções interpessoais hipnóticas secundárias. A
relação interpessoal hipnótica principal é
constituída por relações hipnóticas constan-
temente reativadas, como a do filho e seus
pais, do aluno e do mestre. As relações hip-
nóticas interpessoais secundárias são as que
se mantêm por pouco tempo. O conceito de
estado hipnótico é generalizado para as rela-
ções comuns da vida diária. A indução hip-
nótica seria a intensificação de um estado
emocional de qualquer tipo ou matiz. A es-
sência do estado hipnótico adulto é um pro-
cesso de emoção intensificada, consistindo
numa retrogressão aos mecanismos psicoló-
gicos da primeira infância, o qual criaria as
condições favoráveis para aceitar e experi-
mentar aquelas fantasias que são inerentes à
psicologia da criança. A sugestionabilidade é
a motivação da criança para aceitar proposi-
ções verbais ou extraverbais e cumprir as
exigências de seus pais quando estes fazem
carícias, no momento que a criança necessita
destas, ou assumem uma atitude autoritária.
Holland Jr. propõe ser o estado hipnótico
um estado emocional intensificado. Ele acha
conveniente distinguir transe hipnótico (ou
estado hipnótico no sentido estrito) da hip-
nose em geral, sendo a hipnose o fenômeno
real e básico, e o transe hipnótico uma secção
conceitual, artificial e convencionada taci-
tamente entre hipnotizador e hipnotizado, do
“todo” constituído pela relação hipnótica
global.40 Esse autor pretende que se chame
transe hipnótico “aquela parte do conjunto
total de inter-relações que começa por um
sinal convencionado tácita e conjunturalmen-
te (fechamento dos olhos, levantamento au-
tomático da mão etc.), continua-se por uma
seqüência de outros acontecimentos, duran-
te os quais a atuação do designado hipnoti-
zado é, geralmente, passiva (permanecendo
relaxado, vivendo sonhos espontâneos ou in-
duzidos por sugestão ou ab-reações etc.), e
termina por outro sinal ou conjunto de sinais
implicitamente convencionados (em geral
abertura dos olhos, e início de um conjunto
de elementos comportamentais de quem ‘está
no seu estado comum fora do transe’).
“Desse modo, o fenômeno básico em si
já existe antes que o transe ‘comece’, e con-
tinua depois que ele ‘termina’40 (p. 129).”
20 CAP˝TULO 2
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A obtenção do melhor transe hipnótico
possível num paciente não depende de treiná-
lo muito ou pouco, de falar baixinho, monó-
tona, rítmica, repetidamente, ou de realizar
complicadas manobras para encontrar “pas-
sos” e graus hipnóticos que, ao final, não
existem. Enfim, não depende de ações físi-
co-mecânicas, nem de aspectos quantitativos
dos estímulos. Obtém-se o transe optimal
pela adaptação indutiva a cada paciente in-
dividual, o que se consegue pela conscien-
tização e utilização, por parte do hipno-
tizador, daquilo que é efetivamente regente
na hipnose, isto é, os fatores software: ade-
quação do código portador das mensagens,
respeito às programações preexistentes, in-
cremento, pelas vias apropriadas, de um es-
tado emocional com regressão psicológica
conseqüente, utilização das múltiplas men-
sagens implícitas que, quer o hipnotizador
queira ou não, quer ele saiba ou não, estão
sendo levadas ao paciente pelo tom de voz
utilizado, pelas associações semânticas, pela
atitude geral do hipnotizador, pelos seus ges-
tos, inflexões verbais, pelo ambiente, isto é,
por tudo aquilo que se chama de paralin-
guagem.
Morris41 afirma que “a hipnose é um esta-
do de consciência no qual você fica receptivo
às sugestões mais do que ordinariamente, pode
pensar com mais clareza, pode ver mais viva-
mente com os olhos da mente, pode sentir com
mais atenção e pode realmente ouvir o próprio
íntimo com maior profundidade e mais crité-
rio. Neste estado você tem um singular contro-
le sobre seus processos mentais, suas emoções
e suas atitudes” (p. 25). E ainda de acordo com
outros autores, ela diz que o estado hipnótico
não tem nenhuma correlação física conheci-
da e não pode ser definido por quaisquer cri-
térios exteriores, mas apenas por sua própria
experiência subjetiva. O estado hipnótico não
é um estado alfa, não é um estado de movi-
mentos oculares rápidos associado ao sonho,
não é um estado que possa ser delineado por
quaisquer medidas de ondas cerebrais até
agora conhecidas, ou por medidas da resis-
tência da pele ou pelo potencial elétrico do
corpo. Morris afirma que “a hipnose é real-
mente um estado de consciência desenvol-
vido pelo hipnotizado como resultado de um
processo psíquico íntimo que poderá orientá-
lo através de caminhos que conduzem mais
diretamente ao aperfeiçoamento pessoal”41
(p. 35). Um especialista não pode afirmar
que uma pessoa esteja hipnotizada por meio
de qualquer tipo de teste inventado até hoje.Entretanto você sabe quando está hipnotiza-
do, depois que aprender o que sente nesse
estado e depois de ter experimentado os po-
derosos efeitos sobre você. A hipnose é sen-
tida diferentemente por diferentes pessoas.
A hipnose é diferente para a mesma pessoa em
ocasiões diferentes. O que uma pessoa pode
sentir durante a hipnose é o mesmo que uma
pessoa pode sentir no estado de vigília, vi-
vendo, respirando. O que é sentido com a
hipnose depende do que você espera, e o que
você espera é o resultado das sugestões que
vêm do hipnólogo e das sugestões que vêm
de dentro de você mesmo durante a expe-
riência hipnótica.
REGRESSÃO ATÁVICA (AINSLIE MEARES
— 1960)
Em psiquiatria o termo regressão somen-
te se aplica para denominar o processo de
retorno a um tipo anterior de comportamen-
to. A hipótese do atavismo requer que a re-
gressão seja aplicada não somente no cam-
po da conduta, mas da função mental.42 A
função mental do adulto normal e sadio, que
transcorre num plano lógico e intelectual,
regressa a um nível arcaico de funcionamen-
to mental, no qual o processo da sugestão
determina a aceitação das idéias. Desta ma-
CAP˝TULO 2 21
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neira a regressão seria o mecanismo básico
na gênese do estado de hipnose. Este con-
ceito pode ter um aspecto prático para o
hipnólogo: toda palavra e ato que favoreçam
a regressão, ajudarão a indução da hipnose.
Meares considera para a redução do sen-
so crítico: (a) as funções intelectuais mais
recentes podem ser desintensificadas, en-
quanto as funções mais antigas se intensifi-
cam pelo mecanismo sugestivo; (b) a ativi-
dade intelectual do paciente se desintensifica
com sugestões repetidas em voz monótona,
como também pelo fato de se pedir ao paci-
ente para abandonar a si mesmo. As funções
latentes podem ser estimuladas, propondo-
se sugestões simples, cuja aceitação ativa o
mecanismo sugestivo, tornando-se mais fá-
cil a aceitação de novas sugestões. Esse pro-
cesso é a base de algumas técnicas de indução
da hipnose; (c) a regressão específica da fun-
ção mental pode ocorrer mais facilmente
quando induzida por procedimentos destina-
dos a iniciar o mecanismo regressivo geral.
Na hipnose autoritária o prestígio do hipnó-
logo e sua atitude autoritária iniciam o com-
portamento regressivo. O hipnólogo apresen-
tando-se como um pai autoritário, força o in-
divíduo ao papel de uma criança obediente.
Com a hipótese do atavismo, a comunicação
não-verbal assume grande importância, por-
que esse tipo de comunicação aparece antes
da aquisição da comunicação verbal. A ex-
plicação para as sugestões pós-hipnóticas
advém do fato de que na infância os proces-
sos de sugestão são mais ativos, e conside-
rando-se a hipnose como uma regressão a um
período arcaico da evolução mental, na qual
a sugestão é a principal função, seria de espe-
rar que as idéias sugeridas durante a hipnose
tivessem, analogamente, um grau maior de
persistência do que as idéias aceitas no pla-
no lógico da vigília. Esta teoria explicaria a
profundidade da hipnose como relacionada
com os diferentes graus de volta a um funcio-
namento mental primitivo, e aos diferentes
graus de supressão das funções lógicas do
senso crítico, mais recentemente adquiridas.
PSICOPLASIA ACRESCENTADA PELA
CONCENTRAÇÃO TOTAL DA MENTE
(MARCELO LERNER — 1964)
Psicoplasia28 designa a soma de altera-
ções orgânicas que decorrem de qualquer ati-
vidade psíquica. O conceito de psicoplasia
engloba as três funções básicas da atividade
psíquica e, assim, considera a ideoplasia
como as alterações orgânicas que estão por
baixo da atividade intelectual (pensar), a
voloplasia como as alterações orgânicas que
estão por baixo da atividade volitiva (que-
rer) e a timoplasia como as alterações orgâ-
nicas que estão por baixo da atividade afetiva
(sentir). A definição de sugestão de Mc
Dougall43 como sendo “um processo de co-
municação que determina a aceitação em for-
ma total de uma idéia, podendo incluir a fal-
ta de bases lógicas para isso”, é estendida
por Lerner dizendo que “la sugestion es un
processo de comunicación y aceptación to-
tal de una idea lo que determina una
modificación psicosomática global com
localizaciones corporales específicas más
acentuadas según la idea sugerida y
aceptada, pudiendo incluir la falta de bases
lógicas para su desarrollo”28 (p. 31).*
Quando o paciente aceita totalmente a idéia
comunicada, sua mente se adere globalmen-
te a essa idéia, com a qual a psicoplasia con-
comitantemente se acrescenta. Lerner con-
*A sugestão é um processo de comunicação e aceitação
total de uma idéia, o que determina uma modificação
psicoplásica do indivíduo, ou seja, uma modifica-
ção psicossomática global, com localizações corporais
específicas, mais acentuadas segundo a idéia sugerida e
aceita, podendo incluir a falta de bases lógicas para seu
desenvolvimento. (Tradução do autor.)
22 CAP˝TULO 2
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ceitua a hipnose como “uma transformação
substancial da personalidade, baseada num
estado psicossomático sui generis, caracte-
rizado pelo rapport e hipersugestionabili-
dade, induzidos por sugestão, no qual a men-
te se concentra e unifica em forma global,
desenvolvendo ao máximo o fenômeno
psicoplásico e ao que se coadjuva a supres-
são extensa do juízo crítico”. Tudo isso de-
termina o acesso por via psíquica aos núcleos
neuroendócrinos da pessoa profunda, brin-
dando rendimentos em todos os planos do ser
psicofísico que transcendem em muito os al-
cances da vontade consciente. Lerner con-
sidera ainda que cinco estímulos coadjuvan-
tes, a saber: relaxamento, monotonia do estí-
mulo, fixação da atenção espontânea, ausên-
cia de estímulos perturbadores e emoção
coadjuvante facilitam a instalação da modifi-
cação psicoplásica sui generis no indivíduo,
sendo uma modificação profunda de seu es-
quema corporal e dos limites do eu. Essa
modificação dos limites do “eu” é seguida
por uma integração dos limites do “eu”, con-
tudo, com a imagem do hipnólogo vivida como
parte de si mesmo.
TEORIA DA NEODISSOCIAÇÃO (ERNEST
R. HILGARD — 1965, 1986, 1991)
Foi denominada neodissociação para in-
dicar que esta teoria não está fundamentada
na dissociação patológica.44 Basicamente,
em certas circunstâncias, níveis mais baixos
de controle podem funcionar de uma manei-
ra dissociada de centros de controle executi-
vos mais elevados. O fluxo de informação
entrando e saindo da consciência pode tor-
nar-se dissociado, fora das vias cognitivas
usuais, e a pessoa não percebe consciente-
mente a informação. Esta teoria parte de três
suposições:45 (1) Existência de sistemas
cognitivos subordinados, cada qual com al-
gum grau de unidade, persistência e autono-
mia funcional. Esses sistemas seriam inte-
rativos, mas sob circunstâncias especiais
podem se tornar um pouco isolados uns dos
outros. (2) Existência de alguma espécie de
controle hierárquico que gerencia a interação
ou competição entre essas estruturas. Essa
hierarquia pode ser modificada sob o con-
trole da função executiva do ego. (3) Exis-
tência de alguma monitoração ou controle
das estruturas caracterizada pela atenção se-
letiva. Seria um “Eu” executivo ou estrutu-
ral de controle, com funções de planejar,
monitorar e gerenciar os pensamentos e
ações, envolvendo toda a pessoa. Esta teoria
postula modificações do controle sobre os
pensamentos e ações mais do que nas altera-
ções de qualidade da experiência consciente
subjetiva. Hilgard44 sugere um estado alte-
rado no sentido de uma modificação na qua-
lidade das experiências conscientes apenas
para pacientes altamente hipnotizáveis. Ele
acha que muito embora sua teoria tenha sido
desenvolvida a partir da experimentação com
indivíduos hipnotizados, ela é mais abran-
gente do que apenas para a hipnose.
Este modelo conceitual começou a ser de-senvolvido na década de 1960,46 a partir das
diferenças individuais da resposta hipnótica.
Nessa época foi afirmado que a dissociação
seria parcial, porque não era encontrada com-
pleta independência entre o material dissocia-
do e outros aspectos da consciência, e que
dissociações específicas desenvolvidas na hip-
nose devem ser correlacionadas com experi-
ências (developmental) desenvolvidas.46 Esta
teoria considera o indivíduo hipnotizado quer
do ponto de vista do próprio indivíduo, quer do
ponto de vista do hipnólogo ou do ponto de
vista de observadores, como estando num es-
tado especial, diferente da vigília, que pode-
ria ser chamado de “estado hipnótico” ou
“estado de transe hipnótico”, mas que prefe-
rem denominar de condição hipnótica. Esta
CAP˝TULO 2 23
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condição hipnótica não é uma condição de
mudança tipo tudo ou nada com relação à con-
dição normal de vigília.
A suscetibilidade hipnótica de uma pes-
soa é considerada uma característica relati-
vamente estável, sendo isto suportado pela
mesma resposta obtida na mesma escala de
suscetibilidade hipnótica (Stanford Hyp-
notic Susceptibility Scales, Forms A and
B), com os mesmos indivíduos testados pri-
meiro durante o college americano, e pos-
teriormente dez anos e 25 anos após o
college.47 Eles ainda demonstraram que in-
divíduos altamente receptivos, com o uso
de técnicas como a escrita automática ou
equivalente denominada fala automática,
podiam relatar considerável dor ou memó-
ria dela a partir de informações que esta-
vam previamente num nível coberto. A dor
que o paciente não havia conscientemente
sentido ou relatado durante o experimento,
foi revelada. Esses relatórios eles denomi-
naram metaforicamente como vindos de
“um observador oculto”.48 Contudo, o pró-
prio autor constatou que mesmo entre as
pessoas altamente suscetíveis à hipnose,
apenas em torno de 50% apresentavam o
“observador oculto”. Esse “observador
oculto” também pode ocorrer com a ceguei-
ra, a surdez, a amnésia e com as alucina-
ções induzidas pela hipnose.
Segundo este modelo conceitual, os indiví-
duos entram na condição hipnótica porque as
sugestões transmitidas pelo hipnólogo tomam
muito do controle usual do paciente, isto é, o
hipnólogo influencia as funções executivas do
paciente e modifica o arranjo hierárquico das
subestruturas. Isso ocorre quando é alterado
o controle da motricidade, das percepções, da
memória e alucinações são percebidas. Nesta
linha de raciocínio, a amnésia sugerida repre-
senta uma tentativa bem-sucedida para esque-
cer alguma coisa. Esta teoria, segundo o seu
próprio autor, ainda está inacabada.
Os defensores do ponto de vista do esta-
do de transe postulavam no início que os
procedimentos de indução hipnótica origi-
navam um estado especial de funcionamen-
to psicológico com alterações na memória,
percepção e pensamento. Mais tarde consi-
deram que para os pacientes altamente
hipnotizáveis, o estado especial (transe hip-
nótico, condição hipnótica, estado de transe
ou estado hipnótico) é, em termos de modi-
ficação do padrão da experiência subjetiva
que origina a aparência hipnótica, um alto
nível de respostas às sugestões testes, alte-
rações nas sensações do corpo e relato de ter
sido hipnotizado. Para a maioria das pesso-
as (com média suscetibilidade hipnótica),
pela teoria da neodissociação, há modifica-
ções dos controles sobre o pensamento e
comportamentos mais do que modificações
na qualidade da experiência subjetiva.
Os críticos dessa teoria não aceitam a exis-
tência de um estado ou condição especial de-
nominada “condição hipnótica”, e consideram
a suscetibilidade hipnótica modificável.
TEORIA DO CONTROLE DISSOCIADO
(KENNETH S. BOWERS — 1992)
Estes conceitos partiram da teoria da
neodissociação e foram ampliados por
Bowers com o nome de teoria do controle
dissociado, que persiste com a idéia da
interação de múltiplos sistemas para coor-
denar objetivos e comportamentos, que são
controlados por dois mecanismos qualitati-
vos.49 Um mecanismo de baixo nível, que
manipula seleções e comportamentos roti-
neiros, sem necessidade de controle consci-
ente ou da atenção; e um mecanismo de alto
nível, sistema da atenção supervigilante
(Supervisory Attentional System — SAS),
que intervém numa situação nova ou com-
petitiva, para governar essas ações não roti-
24 CAP˝TULO 2
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neiras, de uma maneira qualitativa e centra-
lizada50 e influenciando indiretamente o
comportamento pela modulação do sistema
de baixo nível. Segundo esta teoria, o início
do ato voluntário e o seu controle estão rela-
cionados com o SAS. Se o SAS está ativa-
mente modulando a seleção de esquemas
(que pode ser interpretado como um filtro da
consciência), o indivíduo está realizando um
ato voluntário; se o SAS não está modulan-
do, nem monitorando a seleção de esquemas,
o ato é experienciado como automático.51 A
indução hipnótica reduz o controle frontal
dos esquemas de comportamento, permitin-
do a ativação direta dos comportamentos
pelas sugestões do hipnólogo.52 A teoria do
controle dissociado não envolve a dissocia-
ção da consciência, contudo, envolve a
dissociação dos subsistemas cognitivo e
comportamental do controle executivo. À
medida que o hipnólogo segue com a sua
fraseologia, reduz-se o controle da função
executiva e gradualmente se intensifica o
controle dos subsistemas.
Esta teoria não explica os achados de tra-
balhos eletrofisiológicos53-55 mostrando que
os atos denominados de voluntários são ini-
ciados inconscientemente 350 milissegundos
antes da pessoa perceber conscientemente
que quer executá-los.
ESTADO PARTICULAR DA MENTE (JOHN
HARTLAND — 1966)
Para Hartland “hypnosis is essentially a
particular state of mind which is induced in
one person by another. It is a state of mind
in which suggestions are not only more readily
accepted than in the wake state, but are also
acted upon much more powefully than would
be possible under normal conditions. In other
words, the hypnotic state is always accom-
panied by an increase in the suggestibility
of the subject”56 (p. 13)* As sugestões seriam
mais rápida e poderosamente aceitas no esta-
do hipnótico porque, nesse estado, o poder do
senso crítico está parcial ou completamente
suprimido. O poder do juízo crítico está larga-
mente restrito à mente consciente. Quando
as sugestões penetram na mente inconscien-
te, que apresenta pouco ou nenhum poder de
juízo crítico, ela é inteiramente incapaz de
rejeitá-las e o indivíduo age sob ação dessas
sugestões. Hartland formula os seguintes prin-
cípios relacionados com o estado hipnótico, sem
comprová-los laboratorialmente: (1) A respos-
ta à hipnose dependerá da extensão da su-
pressão do poder de criticismo e da extensão
da remoção do poder de rejeição normalmen-
te exercitado pela mente consciente. (2) O
grau de profundidade na hipnose num dado
caso, está diretamente relacionado com o grau
de supressão alcançado. (3) Quanto mais a
mente consciente for suprimida mais a
sugestionabilidade de um indivíduo aumenta-
rá. Para Hartland “the power of suggestion
is tremendously enhanced when it acts
upon the unconscious rather than on the
conscious mind”56 (p. 12).**
ESTADO DE CONSENTIMENTO (DAVID L.
SCOTT — 1974)
David Scott define a hipnose como um
estado de consentimento combinando rela-
*“Hipnose é essencialmente um particular estado da
mente que é usualmente induzido em uma pessoa por
outra. É um estado da mente no qual as sugestões são
não somente mais prontamente aceitas do que no esta-
do acordado, mas também são aceitas muito mais po-
derosamente do que seria possível sob condições nor-
mais. Em outras palavras, o estado hipnótico é sempre
acompanhado por um aumento na sugestionabilidade
do paciente”. (Tradução do autor.)
**“O poder da sugestão étremendamente realçado
quando ela age sobre o inconsciente em vez de sobre a
mente consciente”. (Tradução do autor.)
CAP˝TULO 2 25
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xamento fisiológico, no qual a faculdade crí-
tica da mente consciente é sobrepujada em
algum grau.57 Ele considera três estados da
mente: (a) Mente consciente, quando a mente
consciente (crítica) é predominante. (b) Men-
te inconsciente que pode ser explicada pelo
sono, anestesia geral, coma metabólico e in-
júria cerebral. (c) Hipnose, quando a mente
subconsciente (não-crítica) é predominante.
A hipnose ou a sugestão hipnótica consiste
na aceitação pelo paciente de idéias que são
colocadas pelo médico. A hipnose é o resul-
tado de um trabalho em conjunto do médico
(professor) e do paciente (aluno). Mesmo que
o paciente realmente produza o estado hip-
nótico, ele inicialmente precisa do médico
para guiá-lo. A hipnose sempre deve ser con-
siderada como um processo de aprendizado
no qual duas pessoas trabalham juntas com
um objetivo comum. Desde que o paciente
entenda a natureza do estado hipnótico, ele
pode produzir esse estado quando está moti-
vado e pronto. O treinamento e o condicio-
namento à hipnose facilitarão a entrada no
estado hipnótico e resultam num aumento da
profundidade do transe.50 Considerando o es-
tado hipnótico em termos de hipnoterapia
prática, as respostas hipnóticas são propor-
cionais à supressão da mente consciente, es-
pecialmente do senso crítico, e a profundida-
de hipnótica está relacionada com o grau de
supressão obtido.50
REGRESSÃO PSICOLÓGICA TOPOGRÁFICA
(MICHAEL R. NASH — 1988, 1991)
Para Nash e seus adeptos a hipnose é
considerada uma condição durante a qual
há uma regressão psicológica topográfica
no espaço, não no tempo, sendo uma regres-
são de respostas estruturais e de altos ní-
veis do pensamento para estruturas neurais
sensoriais e de percepção, com modifica-
ções características na experiência do “Eu”
e dos “outros”, no relacionamento e no pro-
cessamento das informações.58 Um subsis-
tema do “ego” sofre uma regressão topo-
gráfica, favorecendo modificações caracte-
rísticas na experiência do “Eu” e do “ou-
tros”, resultando em: (a) Modificações de
um processo secundário para um processo
primário de pensamento, na direção do pen-
samento pré-lógico e simbólico.59 (b) Maior
receptividade do “Eu”. (c) Realçada capa-
cidade de regressão a serviço do “ego”,
como sendo um abaixamento parcial e tem-
porário do nível de funcionamento psíqui-
co, no qual o “ego” permite um relativa-
mente livre processo primário de pensamen-
to a fim de executar tarefas adaptativas e,
conseqüentemente realçada capacidade para
recrutar material do processo primário para
servir à criatividade e à adaptação. (d) Au-
mento da disponibilidade de afeto devido
ao relaxamento das defesas contra as emo-
ções, e conseqüentemente com emoções
mais vivas e intensas. Nesse ponto de vis-
ta, a regressão hipnótica de idade facilita-
ria o acesso ao material emocional devido
à regressão topográfica, mas isso não sig-
nificando um exato reviver histórico da si-
tuação. (e) Flutuações nas experiências com
o próprio corpo, como sensações de aumen-
to de volume, encolhimento, distorções. (f)
Alterações nas experiências volitivas. As
respostas mais freqüentemente experiencia-
das como ocorrendo involuntariamente, em
virtude de um relaxamento das funções exe-
cutivas do ego de planificação, organiza-
ção, intenção e responsabilidade pessoal.
(g) Deslocamento e condensação em rela-
ção ao hipnólogo. A premissa de Nash58 é
que “the regression in hypnosis is topogra-
phic, not temporal, and that the changes in
behavior, experience, and relationship we
observe with hypnosis are manifestations
26 CAP˝TULO 2
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of a shift in how the suject processes in-
formation” (p. 175).* Considerando a re-
gressão topográfica na hipnose, há modifi-
cações mensuráveis em várias áreas de ex-
periência, quando se comparam respostas
hipnóticas com respostas normais não hip-
nóticas. A regressão de um subsistema do
ego não seria total porque durante a perfor-
mance hipnótica há uma parte do “Eu” que
não está engajada e permanece à parte, não
participa da regressão topográfica.
ESTADO ALTERADO DE CONSCIÊNCIA
(CHARLES T. TART60 — 1969 E ERIKA
FROMM61 — 1992)
O estado de hipnose é considerado como
um estado único e separado, estado de cons-
ciência relativa com relação ao estado “nor-
mal” de consciência. Este estado único de
consciência seria criado pelo processo de
indução hipnótica, que altera a experiência
fenomenológica da pessoa pelo estreitamento
da atenção, decorrente das sugestões apre-
sentadas. Mas se a hipnose é um estado al-
terado de consciência, alterado do quê? É
evidente que a pessoa hipnotizada quando
apresenta, por exemplo hiperacusia, sensa-
ção de amortecimento, rigidez numa extre-
midade, não é uma experiência do estado
de consciência comum de todos os dias. Evi-
dentemente alguma coisa mudou, mas o que
mudou? E como mudou? Esse conceito de
hipnose como um estado alterado, modifi-
cado ou alternativo de consciência não con-
segue explicar essas indagações. A pessoa
esbanjando alegria ou estando triste e de-
primida estaria num estado alterado (modi-
ficado)? Aliás, o correto em português é di-
zer estado modificado de consciência, por-
que na nossa língua a palavra alterado tem
o significado de agitado, perturbado, falsi-
ficado, descomposto.
Parker62 considera a hipnose como um
estado alterado (modificado) de consciên-
cia. E estado modificado de consciência
para Parker é qualquer condição diferente
do estado normal acordado, ou estado beta,
que no eletroencefalograma se traduz por
predomínio da atividade beta, com ritmo
rápido de mais de 13 ciclos por segundo
(Hz). Quando predominar no encéfalo a ati-
vidade alfa (8 a 12Hz), o indivíduo estaria
num estado modificado de consciência;
quando predominar atividade teta (4 a
7,5Hz), o indivíduo estaria em outro estado
modificado de consciência; quando predo-
minar a atividade delta (1 a 3Hz), o indiví-
duo estaria num outro estado modificado
de consciência. Para Parker durante a hip-
nose a pessoa entra em um ou talvez em
vários estados modificados de consciência.
Lembrar a apreciação de Morris41 que a hip-
nose não é um estado alfa. Nós achamos
que a hipnose não pode ser caracterizada
por uma atividade elétrica cerebral demons-
trada pelo eletroencefalograma, (EEG) nem
por uma atividade magnética cerebral de-
monstrada pelo magnetoencefalograma
(MEG). Aliás, nenhum exame neurofisio-
lógico ou de imagem, quer estrutural como
a imagem por ressonância magnética (RM),
quer funcional como a imagem funcional
por ressonância magnética (RMf) ou a
tomografia por emissão de prótons (PET)
mostra diferenças constantes presentes em
todos os indivíduos que estejam em hipnose,
quando comparados aos indivíduos rece-
bendo sugestões semelhantes em repouso
psicossensorial.
*“A regressão na hipnose é topográfica, não temporal
e as alterações no comportamento, experiência e rela-
cionamento que nós observamos com a hipnose são
manifestações numa mudança em como o indivíduo
processa a informação”. (Tradução do autor.)
CAP˝TULO 2 27
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COMPORTAMENTO COGNITIVO
(THEODORE X. BARBER — 1969, 1973)
Barber et al. postulam que o indivíduo du-
rante a assim chamada experiência hipnótica
não está num estado especial ou “transe hip-
nótico”.63,64 Do ponto de vista cognitivo-
comportamental o conceito de transe hipnó-
tico e conceitos relacionados como hipnoti-
zado, estado hipnótico, profundidade hipnó-
tica são desnecessários e enganosos para ex-
plicar os fenômenos. Para Barber et al.64 “from
the cognitive-behavioral viewpoint, subjects
carry out so-called “hypnotic” behaviors
when they have positive attitudes,motivations,
and expectations toward the test situation
which lead to a willingness to think and ima-
gine with the themes that are suggested” (p.
5).* Esses autores64 consideram oito variáveis
que aumentam as respostas às sugestões-tes-
tes: “(1) Definir a situação como hipnose. (2)
Remover medos e concepções erradas. (3)
Assegurar a cooperação. (4) Pedir ao indiví-
duo para manter os olhos fechados. (5) Su-
gestões de relaxamento, sono e hipnose. (6)
Elaborar e variar a fraseologia e o tom das
sugestões. (7) Ligar sugestões com reais even-
tos. (8) Prevenir ou reinterpretar o fracasso
do indivíduo em responder à sugestão”. Para
este pesquisador não haveria necessidade das
técnicas de indução hipnótica.
MODELO SOCIOCOGNITIVO (NICHOLAS P.
SPANOS — 1986, 1991)
O comportamento hipnótico apesar de sua
aparência não ordinária, fundamentalmente
é um comportamento similar às outras for-
mas mais mundanas de comportamento so-
cial, e pode ser explicado sem a necessidade
de se recorrer à existência de um estado ou
condição especial de consciência. O indiví-
duo hipnotizado é visto como agente que está
harmonizado às exigências contextuais e que
guia seu comportamento nos termos de sua
compreensão de contingências da situação e
em termos de objetivos ele que deseja alcan-
çar.65,66 Este modelo conceitual considera
que a base das respostas hipnóticas está na
noção de que as pessoas são sensíveis agen-
tes, continuamente envolvidos em organizar
as aferências sensoriais em categorias e es-
quemas significativos, que são usados para
guiar as ações. As respostas hipnóticas são
vistas como a representação de um papel, e
o termo hipnose é rotulado pela situação hip-
nótica. Segundo Spanos67 (p. 326).**
“hypnotic responding is conceptualized
as a context-dependent and as determi-
ned by subjects willingness to adopt the
hypnotic role; by how their understan-
dings of what is expected in that role; by
how their understandings of role requi-
rements change as the situation unfolds;
by how they interpret the ambigous com-
munications that constitute hypnotic test
suggestions; by their abilities to genera-
te the imaginal and other experiences
called for by the suggestions; and by how
feedback from the hypnotist and from
their own responding influences the de-
finitions they hold of themselves as hyp-
notic subjects.”
*“Do ponto de vista cognitivo-comportamental indi-
víduos executam o assim chamado comportamento
“hipnótico” quando eles têm atitudes, motivações e
expectativas positivas, em direção à situação-teste que
levam à prontidão para pensar e imaginar sobre os te-
mas que são sugeridos”. (Tradução do autor.)
**A resposta hipnótica é conceitualizada como depen-
dente do contexto, sendo determinada pela boa vonta-
de dos indivíduos adotarem o papel hipnótico, pelas
suas compreensões do que é esperado naquele papel,
pela compreensão de como os requerimentos para o
papel modificam-se à medida que a situação se desdo-
bra, do modo como eles interpretam as ambíguas co-
municações que constituem as sugestões hipnóticas-
28 CAP˝TULO 2
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Essa teoria explica as respostas involun-
tárias, considerando que o indivíduo man-
tém controle sobre o seu comportamento,
mas algumas vezes interpreta as suas respos-
tas objetivos dirigidas como ocorrências in-
voluntárias.66 Diferenças estáveis na susce-
tibilidade hipnótica individual refletem não
uma capacidade psicológica característica,
mas a estabilidade nas atitudes, expectati-
vas, interpretações individuais que as pes-
soas trazem ou desenvolvem na situação hip-
nótica. Spanos considera que o fato de defi-
nir a situação como de hipnose pode freqüen-
temente suprimir em vez de facilitar as res-
postas em muitos indivíduos.67 Muito em-
bora, o próprio Spanos considere atitudes e
expectativas importantes, elas não geram alta
suscetibilidade hipnótica por elas mesmas,
sendo proveitoso que o indivíduo tenha uma
tendência para a imaginação. Mas mesmo
uma tendência para a imaginação, combina-
da com atitudes e expectativas, ainda requer
do indivíduo uma interpretação adequada du-
rante a execução dos testes de suscetibilidade
à hipnose. E a interpretação mais comum das
sugestões é a espera passiva. A espera pas-
siva está entre as razões mais importantes
porque muitos indivíduos falham em respon-
der às sugestões transmitidas. No laborató-
rio de Spanos foram obtidos grandes ganhos
no comportamento e nos índices subjetivos
de suscetibilidade hipnótica quando indiví-
duos de baixa suscetibilidade hipnótica foram
expostos às informações para realçar suas
atitudes e suas expectativas com relação à
hipnose, quando são ensinados a tornarem-
se absorvidos pelas estratégias de imagina-
ção, como auxílio para experienciar as res-
postas sugeridas como involuntárias, e quan-
do foram informados que as respostas hip-
nóticas não apenas ocorrem, mas devem ser
representadas e podem ser sentidas como
involuntárias por meio da imaginação apro-
priada.
Por este modelo conceitual as respostas
às sugestões pós-hipnóticas são mediadas por
aspectos da situação e pelas expectativas, po-
dendo ser consideradas objetivo-dirigidas, de
aparecimento não automático.68 A redução
da dor segundo esta teoria deve-se à reinter-
pretação da experiência sensorial pelo pa-
ciente, e não à redução na intensidade da ex-
periência sensorial.
A lembrança de fatos que foram pedidos
para o paciente esquecer e que não são evo-
cados pelo esforço do paciente volta quando
é acionado um sinal condicionado existente
para lembrar. O material supostamente es-
quecido também é lembrado quando há su-
ficiente pressão social, significando que
mesmo os pacientes altamente suscetíveis
para os quais é sugerido esquecer algum fato,
não perdem o controle voluntário sobre os
seus processos de memória.
HIPNOSE COMO OBEDIÊNCIA E CRENÇA
(GRAHAM F. WAGSTAFF — 1981,1986)
Este pesquisador de Liverpool, Inglater-
ra, acredita não haver uma só explicação para
todos os fenômenos hipnóticos.69,70 Wagstaff
afirma que a noção de estado hipnótico foi
responsável por segurar o progresso e a com-
preensão dos fenômenos hipnóticos.71 Espe-
ra-se que uma teoria adequada sobre a hip-
nose explique inteligentemente o comporta-
mento que se observa em situações defini-
das como “hipnose”. Contudo, não se deve
esperar que uma teoria sobre hipnose deta-
lhe o que justifica um comportamento que
pode ocorrer em qualquer situação seja ou
testes, e por suas capacidades em gerar as imagina-
ções e as outras experiências pedidas pelas sugestões
e como a retroação a partir do hipnólogo e a partir de
suas próprias respostas influencia as definições que
eles mesmos têm como indivíduos hipnóticos”. (Tra-
dução do autor.)
CAP˝TULO 2 29
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não hipnótica.71 Assim, Wagstaff vem usan-
do desde 1981 termos como “hipnose” e “hip-
nótico” no sentido operacional.69 Os conceitos
básicos deste teórico são: (1) Obediência,
considerada como uma forma especial de
conformidade, referindo-se ao comportamen-
to manifesto que se torna como o comporta-
mento que outros mostram ou que é espera-
do e que é mais usualmente aplicado para
acomodar respostas. (2) Crença, que seria a
aceitação de uma coisa como verdadeira.
Estes conceitos explicam porque algumas
vezes o paciente acha que não estava hipno-
tizado, porque lembrava tudo o que o especi-
alista tinha falado. Se o paciente esperava
não lembrar o que o especialista falou, ele
pode achar que não estava hipnotizado (ain-
da que tivesse cumprido o que achava que
era esperado dele). Por outro lado, se ele
esperava a hipnose como a sensação de es-
tar relaxado e confortável, e isso foi o que
ele experienciou, ele pode acreditar que es-
tava hipnotizado (mesmo que nenhuma alte-
ração profunda na consciência tenha experi-
mentado). Aprincipal razão por que as pes-
soas começam a responder aos procedi-
mentos hipnóticos provém do desejo de coo-
perar e do desejo de descobrir o que vai
acontecer;69 e nas situações terapêuticas há
ainda o desejo de fazer qualquer coisa que
seja terapeuticamente benéfica.72 Finalmen-
te, este autor, participante da corrente socio-
cognitiva, considera a interação como parte
de um processo de três estádios, baseado na
expectativa, estratégia e obediência, não ne-
cessariamente ocorrendo nessa ordem.72 A
obediência não é do tipo tudo ou nada. Dife-
renças individuais ocorrem nas respostas por-
que as pessoas têm expectativas e atitudes
diferentes relacionadas com a hipnose,73 além
de desejos diferentes para cumprir as suges-
tões. Ele considera ainda que precisamos
saber como a imaginação pode produzir a
secura na boca, como as sugestões afetam
as respostas da pele e como funciona um
placebo. O estudo dos neuropeptídios abre a
possibilidade para a elucidação dessas ques-
tões relacionadas com os efeitos das suges-
tões. Wagstaff considera importante o estu-
do da hipnose como um rótulo para um con-
texto ou uma situação, não como um estado
ou um processo cerebral.71
TEORIA DO APRENDIZADO SOCIAL
(IRVING KIRSCH — 1985, 1990,1991)
Com este modelo conceitual a teoria da
expectativa de Kirsch74,75 é uma extensão da
teoria do aprendizado social. As expectati-
vas podem gerar respostas não volitivas, de-
finidas como sendo experienciadas, como
ocorrendo sem esforço voluntário. Com este
modelo conceitual os pacientes são partici-
pantes ativos da interação social que veio a
ser chamada de “hipnose”. Os pacientes hip-
notizados fazem uma variedade de atos ob-
jetivos dirigidos, mas essas respostas não são
nem ações, nem acontecimentos, mas sim os
resultados ou objetivos em direção aos quais
as ações dos pacientes são aspiradas.76 Os
pacientes hipnotizados são muito motivados
pelo desejo de experienciar o fenômeno hip-
nótico, e seus comportamentos estratégicos
são primariamente aspirados para gerar es-
sas expectativas.77 As pessoas podem con-
trolar as suas ações, mas elas não têm total
controle sobre os resultados de suas ações.76
Se as respostas hipnóticas fossem simples-
mente atos voluntários, sua probabilidade de
ocorrência seria idêntica à intenção da pes-
soa dar origem a elas, e isso não ocorre. As
pessoas podem pretender experienciar uma
resposta hipnótica, tentar muito e falhar. Isso
indica que as respostas não estão totalmente
sobre o controle voluntário. A tese essencial
da teoria da aprendizagem considera que o
comportamento pode ser prognosticado pela
30 CAP˝TULO 2
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expectativa que levará a um determinado re-
sultado e pelo valor desse resultado.72 A ex-
pectativa que uma pessoa experienciará res-
postas hipnóticas e o valor positivo que está
unido a essas expectativas conduzem as pes-
soas a se engajar em vários comportamen-
tos dirigidos ao objetivo, esforçando-se por
gerá-los.
Em conclusão, o modelo da aprendizagem
social aplicado à hipnose considera as atitu-
des em relação à hipnose, as expectativas
de respostas, outras variáveis como a habili-
dade imaginativa favorecendo comportamen-
tos e cognições intencionais e tudo isso fa-
vorecendo a resposta hipnótica.77 Esta teo-
ria contradiz os defensores de um “estado
hipnótico” porque até agora estudos experi-
mentais não demonstraram a presença de
nenhum estado especial de consciência que
pudesse ser rotulado de “transe” ou “estado
hipnótico”. O que há é uma variedade de
modificações nas experiências, interpretadas
como evidência de um “transe”, quando elas
são experienciadas num contexto hipnótico,
algumas sendo explicitamente sugeridas pelo
hipnólogo, outras sendo geradas pelas pré-
concepções do paciente sobre a hipnose.
Essas modificações na experiência levam os
pacientes a acreditar que poderão experien-
ciar efeitos sugeridos; uma expectativa que
é capaz de gerar aqueles efeitos.78 Além dis-
so, as expectativas e as fantasias dirigidas
ao objetivo podem interagir de três modos
para fazer brotar respostas hipnóticas:76 (a)
Os efeitos das expectativas são mediados
pelo uso de estratégias imaginativas pelo
indivíduo. (b) As fantasias-objetivo dirigidas
são inteiramente mediadas pela expectativa
da resposta, de tal modo que as expectativas
é que geram as respostas hipnóticas. (c) Fan-
tasias-objetivo dirigidas podem gerar respos-
tas hipnóticas, e as expectativas positivas re-
alçam essa resposta. A expectativa é defini-
da como a probabilidade subjetiva, varian-
do de 0 a 100, de que algum evento vai ocor-
rer.79 A eficácia da indução hipnótica pare-
ce depender inteiramente da crença do paci-
ente nela, de modo que os indivíduos alta-
mente suscetíveis respondem de acordo com
as suas crenças sobre respostas hipnóticas.
Nessa linha de pensamento, as induções hip-
nóticas são rituais de modificações de ex-
pectativas, e qualquer efeito pode ser atri-
buído ao seu uso (aumento de respostas às
sugestões), pode ser interdependente com os
efeitos da expectativa. A essência da hipno-
se seria a capacidade da crença e expectati-
va das pessoas em fazer brotar mudanças na
experiência. E a maneira como as pessoas
se comportam após a hipnose também de-
pende de suas expectativas. As expectativas
podem ter efeitos diretos sobre as respostas
hipnóticas e efeitos indiretos pela mediação
nos comportamentos e cognições intencio-
nais e, assim, afetar as respostas hipnóticas.76
MODELO SOCIAL-PSICOBIOLÓGICO (ÉVA
I. BÁNYAI — 1982, 1991)
Segundo este modelo, a hipnose é um es-
tado alterado de consciência que surge como
resultado das interações recíprocas entre o
hipnólogo e o indivíduo.80 A hipnose é in-
fluenciada pelas características pessoais e
disposições fisiológicas do indivíduo e do
hipnólogo; é influenciada pelas manifesta-
ções fisiológicas, comportamentais, e modi-
ficações experimentais subjetivas que acom-
panham o processo de indução e os testes da
hipnose. Este é um modelo sempre em mu-
dança, que procura delinear a interdependên-
cia de diversos elementos da interação indi-
víduo-hipnólogo. É um modelo de interação
porque os aspectos comportamental, experi-
ência subjetiva, relacionamento e fisiológico
são igualmente considerados importantes, e
porque ainda enfatiza a relação entre o indi-
CAP˝TULO 2 31
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víduo e o hipnólogo. Os pacientes esperam
ter uma experiência que altera a mente, que
eles tipicamente pensam ser como o sono, e
esperam que o hipnólogo tome conta deles.
Por outro lado, o hipnólogo freqüentemente
expressa um desejo de auxiliar o paciente a
ter novas experiências. Um importante fator
contextual é a definição da situação como
hipnose. Quando um procedimento é defini-
do como hipnótico, ele tem efeito radicalmen-
te diferente (principalmente fenomenológico)
do que um procedimento idêntico ou similar,
não rotulado de hipnótico.81 Além da situa-
ção denominada hipnótica, outros fatores
contextuais incluem: prestígio, localização do
consultório ou do laboratório, idade das pes-
soas, a vestimenta das pessoas e o estilo de
trabalhar do hipnólogo.
A evidência sugere que os pacientes com
alta suscetibilidade hipnótica são mais fle-
xíveis do que os com baixa suscetibilidade
em alternar o uso dos hemisférios cerebrais,
quando as tarefas administradas exigem essa
alternância. A suscetibilidade hipnótica está
também relacionada com a flexibilidade para
desviar o foco da atenção seletiva, de modo
que os indivíduos com mais alta suscetibili-
dade têm maior habilidade em focalizar numa
tarefa e ignorar os estímulos não relacionados
com essa tarefa.82 A húngara Éva Bányai
considera a suscetibilidade hipnótica uma ca-
racterística relativamente estável, que pode
ser ou não suficientemente flexível para ma-
nifestar sua flexibilidade dentrodo contexto
social. Essa flexibilidade no contexto social
pode ser considerada como a facilidade com
a qual uma pessoa entra no relacionamento
social, no qual é iniciado um processo mútuo,
fortemente regulador, que é o desenvolvimen-
to característico das relações interpessoais.
Esta flexibilidade social pode ser avaliada
como uma capacidade para entrar num rela-
cionamento regredido.
Esta pesquisadora também introduz os ter-
mos, “estilo pessoal de trabalho” para signi-
ficar a maneira característica pela qual o
hipnólogo entra na interação definida como
hipnose. O estilo pode ser físico/orgânico fun-
damentado na freqüente ocorrência da
interação sincrônica e pelo uso das manifes-
tações do corpo, durante o procedimento hip-
nótico, ou o estilo analítico/cognitivo funda-
mentado num relativo afastamento entre
hipnólogo e paciente, confiando nas experi-
ências pessoais (pensamentos) do paciente,
em vez de nas manifestações corporais.
Com este modelo conceitual a hipnose
pode ser considerada como um estado com-
plexo, que pode ser diferenciado e caracte-
rizado levando em conta três fatores:80 (1) A
experiência subjetiva da pessoa hipnotiza-
da. (2) O comportamento observável da pes-
soa hipnotizada. (3) As alterações fisiológi-
cas na pessoa hipnotizada.
Como 78% dos pacientes, espontanea-
mente, relatam um estreitamento da atenção
após a indução, Mészáros, Bányai e Greguss
afirmam que “independently of the changes
of the general level of activation evoked by
different types of hypnotic induction —
relaxation and active-alert — it is the
modification of selective attention that lies
behind the caracheristic behavioral and
subjective changes in hypnosis”83 (p. 474).*
E, além disso, a atenção às comunicações do
hipnólogo está acompanhada por uma pre-
ponderância seletiva da atividade do hemis-
fério cerebral direito,84 o qual parece ser su-
perior na distribuição da atenção através do
espaço e na percepção e produção da emo-
*“Independentemente das mudanças no nível geral da
ativação evocada por diferentes tipos de indução hip-
nótica — relaxamento e ativa-alerta —, é a modificação
da atenção seletiva que está por trás do comportamen-
to característico e das alterações subjetivas da hipno-
se”. (Tradução do autor.)
32 CAP˝TULO 2
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ção.85 Portanto, esta teoria considera o tra-
ço característico da hipnose, que a diferen-
cia de outros estados alterados de consciên-
cia, o caráter social. A alteração da consci-
ência aparece numa situação interpessoal, na
qual a atenção é focalizada nas comunica-
ções do hipnólogo, de modo que a direção da
atenção é controlada por esta comunicação.
As pessoas altamente suscetíveis são aptas
para dirigir a atenção em direção ou afasta-
da dos estímulos internos ou externos, de
acordo com as comunicações do hipnólogo,
ao passo que as pessoas com baixa susceti-
bilidade não são suficientemente flexíveis
para fazer isso.
Para Éva Bányai a indução da hipnose
auxilia o paciente a dirigir a atenção para as
comunicações do hipnólogo, e o auxilia tam-
bém a desenvolver uma relação especial
regredida com o hipnólogo. Durante a
indução, o hipnólogo percebe as manifesta-
ções da expressão corporal do paciente e
interage retornando com outras comunica-
ções verbais e não-verbais sobre as sensa-
ções percebidas no corpo do paciente. Na
seqüência da indução, o paciente provavel-
mente atribui essas mudanças aos efeitos da
hipnose ou do hipnólogo, e mais cedo ou
mais tarde ele começa responder às suges-
tões do hipnólogo, como se o hipnólogo ti-
vesse se tornado o padrão estrutural de refe-
rência no background da atenção. A atenção
suporta, interpreta e dá significado a toda a
experiência. A retroação verbal durante a
indução tipicamente afeta os indivíduos al-
tamente suscetíveis, porque aparecerão acen-
tuadas modificações da atenção seletiva,
cognição, comportamento e mesmo altera-
ções fisiológicas que são atribuídas ao hip-
nólogo. Ainda é importante salientar a exis-
tência de uma ativação diferencial na região
parietoccipital direita e região frontal esquer-
da, podendo indicar envolvimento dessas
regiões na fisiologia cerebral, mediando os
efeitos da indução hipnótica. Eu considero
que a PET será fundamental na análise das
modificações funcionais cerebrais durante a
hipnose.
Para esta pesquisadora, estado alterado
(modificado) de consciência não significa
uma alteração tipo tudo ou nada do estado
normal de vigília, mas significa servir a fun-
ção de organizar nosso conhecimento sobre
a hipnose de um modo similar à maneira que
conceitos naturais são organizados na vida
diária.
RELAXAMENTO HIPNÓTICO (WILLIAM E.
EDMONSTON JR. — 1981, 1986, 1991)
O relaxamento é o fator primeiro, funda-
mental e pré-requisito da hipnose. O relaxa-
mento vem antes dos aspectos clínicos, ex-
perimentais, fisiológicos, e historicamente de
outros aspectos como dissociação, desempe-
nho de um papel, regressão psicológica. O
outro aspecto é a flutuação nos níveis de aler-
ta decorrente das sugestões subseqüentes. Há
quase 6.000 anos de registro da história, con-
tinuamente, há referências à poderosa asso-
ciação entre técnicas de relaxamento e o que
nós eventualmente denominamos de hipno-
se.86 Em 1981 Edmonston Jr. demonstrou que
as respostas dos indivíduos durante a hipno-
se são semelhantes às respostas durante uma
condição simples de relaxamento.87 Como o
relaxamento é a base do que é chamado hip-
nose, Edmonston Jr. propôs o termo anesis
para substituir o termo hipnose.87 Anesis vem
do grego e significa relaxamento. Com o rela-
xamento (anesis) três características defini-
das ocorrem: (1) Impressão subjetiva de ato
involuntário. (2) Amnésia espontânea. (3) Hi-
persugestibilidade. Para Edmonston Jr. as res-
postas às sugestões são realçadas pelo rela-
xamento. Em 1976 Coleman88 inicia sua tese
de doutoramento com a hipótese de trabalho
CAP˝TULO 2 33
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que se tornou a conclusão final: “The only
difference between relaxation procedures
and hypnotic induction procedures is the
name given them” (p. 13).* O relaxamento
pode ser físico ou cognitivo. O relaxamento
cognitivo é o caso do paciente que faz muito
trabalho intelectual, e ao fazer uma atividade
física como, por exemplo, pedalar uma bici-
cleta, faz um relaxamento mental. Também
pode ser o caso do relaxamento psicológico
decorrente de uma indução cinética da hip-
nose. O relaxamento será mais profundo
quando houver simultaneamente relaxamen-
to somático e cognitivo.89
SISTEMA DE COMUNICAÇÃO INFLUENCIADA
(MICHAEL D. YAPKO — 1995)
Yapko introduz a hipnose clínica como
um sistema de comunicação especializada
(treinada) e influenciada, que ensina como
palavras podem curar.90 A hipnose clínica
é uma habilidade em usar palavras e gestos
de maneira particular para obter resultados
específicos. Considerar a hipnose como um
processo de comunicação influenciada é
uma extremamente, quase embaraçosa, de-
finição geral. Apenas a presença de outra
pessoa altera o seu comportamento. Não é
uma questão se você influenciará pessoas,
pois indubitavelmente você influenciará,
mas uma questão de como você influencia-
rá. Não há um conjunto de regras sobre o
que faz a comunicação mais influenciável.
O que interessa e satisfaz uma pessoa, não
interessa, nem satisfaz outra pessoa. Para
verdadeiramente influenciar, a tarefa do
profissional é descobrir onde (e não se) uma
pessoa está aberta para sugestões (pois a
maioria das pessoas está em um certo grau).
Conhecer o que o paciente quer, e o melhor
meio de alcançar é pelo rapport durante a
obtenção da história clínica. Durante a his-
tória clínica, o paciente percebe se o espe-
cialista compreendeu e tem simpatia pela
sua experiência. A variável mais significante
na determinação da eficácia da comunica-
çãohipnótica é o modo como a mente cons-
ciente e a mente inconsciente respondem a
uma mensagem.62
Já em 1982 Furst dizia que “a hipnose é
simplesmente um meio muito eficiente para
uma pessoa dar instruções a outra pessoa.
Hipnose é dar instruções de tal maneira que
a pessoa que as recebe se sente compelida
a segui-las, devido a um desejo de agradar
ao hipnotista”91 (p.11). Ele considerava
que deveria ser criada uma situação espe-
cial e existir um relacionamento especial en-
tre o hipnólogo e o paciente. Contudo, tam-
bém não explicava qual é essa situação es-
pecial.
ABORDAGEM INTERATIVA CENTRADA NO
PACIENTE (MILTON H. ERICKSON —
1980)
O médico psiquiatra americano Milton H.
Erickson (1901-1980) desenvolveu não uma
teoria sobre a natureza da hipnose, mas sim
uma abordagem totalmente diferente das
existentes até então, que revolucionou a
hipnologia no século XX. A abordagem
ericksoniana de utilização é centrada no pa-
ciente. A indução é indireta, interativa, par-
tindo da observação do paciente, e de todas
as reações e comportamentos do paciente.
Alguns pontos característicos dessa aborda-
gem incluem:
a) Abordagem sugestiva vaga e indireta,
permitindo opções de escolha ao paciente.
b) Abordagem interativa com o paciente.
*“A única diferença entre procedimentos de relaxa-
mento e procedimentos de indução hipnótica é o nome
dado”. (Tradução do autor.)
34 CAP˝TULO 2
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c) Abordagem centrada no paciente, uti-
lizando as reações do mesmo.
d) Abordagem enfatizando a comunica-
ção com o paciente.
e) Abordagem enfatizando as interações
na vida diária do paciente.
Segundo a abordagem ericksoniana,
pode-se induzir quaisquer pessoas ao transe
hipnótico. O hipnólogo precisa apenas en-
contrar o caminho que leve cada pessoa à
hipnose e o modo como a pessoa entra em
transe hipnótico. O modo de encontrar esse
caminho é por meio de todas as reações do
paciente, validando essas reações e estabe-
lecendo uma determinada reação para des-
cobrir o caminho que leva determinada pes-
soa ao transe hipnótico.92,93
A hipnoterapia ericksoniana tem como
característica essencial não o transe formal,
que pode ou não ser empregado, mas sim um
sistema interpessoal de comunicação focali-
zado unicamente nos indivíduos envolvidos
e objetivando primariamente descobrir ca-
pacidades inconscientes de respostas.94 A
hipnose como um processo é mais qualitati-
vamente similar as outras experiências sub-
jetivas, como o amor que pode variar de uma
pessoa para a outra.95 A abordagem erickso-
niana começa com a concepção de como pro-
mover a influência interpessoal, vindo da
prática para a teoria. É usada a comunicação
hipnótica como uma estratégia para alcan-
çar objetivos, e Erickson afirma: “the
therapist’s task is to elicit in the patient a
process of inner resynthesis, from which
effective results can proceed”96 (p. 38). *
Zeig, um dos discípulos de Erickson, acres-
centa: “Fundamentally, what develops in
hypnosis does not derive from the presented
suggestions per se, but from how the patient
internally processes and idiosyncratically
utilizes these suggestions”94 (p. 281).** Des-
se modo, as mínimas respostas do paciente,
suas experiências passadas e o ambiente
social são as fontes dos recursos para futu-
ras sugestões direcionadas aos objetivos
terapêuticos. O grau de sugestões indiretas
utilizado na condução do tratamento era di-
retamente proporcional à quantidade de re-
sistência antecipada. Erickson achava que a
vida do mesmo modo que a terapia é vivida
no presente e dirigida para o futuro. Esta
abordagem é realizada no contexto in-
terpessoal, utilizando cuidadosamente as re-
alidades e motivações do paciente, com o es-
forço contínuo do terapeuta para fazer bro-
tar e desenvolver os recursos inerentes ao
paciente, em direção aos objetivos tera-
pêuticos.
MODELO INTEGRADO DE HIPNOSE
(STEVEN J. LYNN E JUDITH W. RHUE —
1989, 1999, 1991)
O comportamento hipnótico é o resultado
do que a pessoa pensa e acredita sobre a hip-
nose, do que ela imagina ou deixa de imagi-
nar, o que ela aplica para fazer ou não apli-
ca, ou que ela deseja fazer ou não, ou como
ela percebe a comunicação hipnótica e como
avalia a sua experiência.97 As pessoas hipno-
tizadas, do mesmo modo que as não-hipnoti-
zadas, agem em termos de seus desejos, de
acordo com seus pontos de vista, e com re-
lação às suas interpretações do comporta-
mento e sentimentos apropriados.98 Como os
mesmos processos e mecanismos que podem
explicar o comportamento hipnótico, tam-
bém podem explicar o comportamento fora
da hipnose, esta teoria apresenta uma apro-
*“A tarefa do terapeuta é provocar no paciente um pro-
cesso de ressíntese interna, a partir do qual pode pro-
ceder efetivos resultados”. (Tradução do autor.)
**“Fundamentalmente o que se desenvolve na hipno-
se não deriva das sugestões de per se, mas de como o
paciente internamente processa e idiossincrasicamente
utiliza estas sugestões”. (Tradução do autor.)
CAP˝TULO 2 35
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ximação de bom senso para a hipnose. As
respostas hipnóticas refletem a sensibili-
dade do indivíduo para explicitar e implicitar
exigências do papel que se revela no contex-
to das transações entre o hipnólogo e o indi-
víduo. As respostas hipnóticas não podem ser
reduzidas a uma característica ou a um me-
canismo, são uma mistura de capacidades e
processos social e cognitivo. Este modelo vai
contra os modelos que dão prioridade a um
fator único como determinante da hipnose,
quer seja esse fator o relaxamento, a regres-
são psicológica ou a dissociação. Este mo-
delo considera interagindo mutuamente a
imaginação, o esforço ao objetivo dirigido,
atitudes, representações do hipnólogo e ex-
pectativas talvez facetas inseparáveis do
comportamento do indivíduo. Como há uma
mistura de aspectos do social e do cognitivo,
este modelo conceitual foi denominado inte-
grado. Os pontos essenciais desta teoria são:
(1) O comportamento hipnótico é um com-
portamento social influenciado pelos mes-
mos processos que determinam os compor-
tamentos mundanos. Assim, pessoas hipno-
tizadas apresentam respostas que têm to-
das as propriedades de respostas voluntári-
as: são dirigidas para os objetivos, são re-
guladas por suas necessidades e intenções
e podem ser progressivamente modificadas
para realizar os objetivos. As atividades men-
tais não ocorrem passivamente, mas têm pro-
pósito, guiadas para preencher exigências
contextuais explícitas e implícitas. (2) Os indi-
víduos hipnotizados mantêm a capacidade de
iniciar e de terminar seus comportamentos e
suas atividades cognitivas; além de resistir ou
se opor ao hipnólogo, podendo controlar suas
imaginações e ações.99
O simples fato de definir a situação como
hipnótica ativa esquemas sociais e culturais.
O rapport é um importante determinante de
respostas hipnóticas para pessoas com bai-
xa suscetibilidade, porque um mau rapport
para essas pessoas pode ocasionar uma opo-
sição ao hipnólogo e provocar atitudes nega-
tivas, a partir da situação hipnótica. Além
disso, qualquer pensamento que rompa a sen-
sação de segurança e proteção sobre ser hip-
notizado pode comprometer o rapport,
desconcentrar a atenção das sugestões, in-
terromper o fluxo livre, espontâneo, de qua-
lidade involuntária das respostas e diminuir
o entusiasmo e a boa vontade da pessoa para
ser hipnotizada.97
Estes teóricos contradizem quatro aspec-
tos que defendem a idéia da hipnose ser um
estado de consciência, a saber: literalismo,
perda da realidade nos testes durante a hip-
nose, transe lógico e respostas involuntárias.
Em suas pesquisas demonstraram que 87,5%
dos indivíduos hipnotizados não apresenta-
vam respostas literais. Os indivíduos hipno-
tizados mantêm a capacidade de diferenciar
o que é sugestão dos acontecimentos exter-nos. A explicação para o transe lógico que
alguns pacientes exibem seria decorrente da
interpretação das sugestões do hipnólogo
como sendo apropriadas. As respostas con-
sideradas involuntárias não são decorrentes
da perda do controle do comportamento, mas
formadas por muitos determinantes: (a) pre-
concepções do paciente, auto-representa-
ções, (b) expectativas do paciente e suges-
tões relacionadas com as imaginações, (c) o
rapport com o hipnólogo, (d) a tática usada
pelo paciente para resolver exigências confli-
tantes da situação.
Quando é transmitida uma sugestão para
resistir a uma sugestão anteriormente for-
mulada para o paciente hipnotizado, mui-
tos apresentam um conflito entre respon-
der ou resistir. O paciente pode ser levado
a responder à sugestão enquanto desejava
resistir à sugestão, para manter-se de acor-
do com as instruções explícitas para fazer
isso. Um modo de resolução do conflito
seria dar prioridade para as sugestões repe-
36 CAP˝TULO 2
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tidas para fazer uma ação em vez da su-
gestão para resistir.
PERSPECTIVA DO ECOSSISTEMA APLICADA
À HIPNOSE (DAVID P. FOURIE — 1986,
1989, 1991)
Ecologia é o estudo científico das intera-
ções que determinam a distribuição e a abun-
dância dos organismos.100 Esta perspectiva
está baseada na teoria dos sistemas, sendo
sistema definido como um conjunto de ob-
jetos e suas atribuições, em inter-relação uns
com os outros.101 Esse conceito foi desen-
volvido por Bateson102, em 1972, que consi-
derou um sistema como uma ecologia de idéi-
as. Esta visão da hipnose é totalmente dife-
rente da visão da epistemologia da ciência
newtoniana, por três aspectos:103 (1) Não
reduz a circunstância hipnótica a elementos
ou partes. A hipnose não é vista como uma
entidade ou como um estado de consciência
existindo dentro do próprio indivíduo; a hip-
nose é vista como uma situação na qual cer-
tas classes de comportamento (dependentes
das idéias de todas as pessoas envolvidas na
situação) são vistas como do tipo chamado
“hipnótico” ou involuntário. (2) Por esta
perspectiva ecossistêmica a hipnose não é
causada por nada. Quando o comportamen-
to ocorre, e os participantes (o indivíduo ou
paciente, o hipnólogo e os observadores)
consideram como sendo hipnótico, eles mu-
tuamente qualificam como hipnótico. Os
comportamentos são ordinários, designados
como hipnóticos, porque são baseados na si-
tuação qualificada como hipnótica e nas ex-
pectativas e idéias de todos os participantes
considerando tal situação como hipnótica.
Desse modo, os procedimentos de indução
não causam a hipnose; eles têm a função de
servir como veículo para um processo de
qualificação mútua e interrompem o fluxo
de eventos de tal modo a indicar que os com-
portamentos durante e subseqüentes à indu-
ção podem ser vistos e qualificados como
hipnóticos.103 Em relação a isso é verdadeiro
o fato afirmado por Fourie de que se um de-
terminado comportamento usual não ocor-
re, mas aparece um comportamento oposto,
este comportamento oposto é qualificado por
um hipnólogo experiente como sendo hip-
nótico. Por outro lado, quando o paciente
apresenta um comportamento inicial que é
esperado pelo hipnólogo, pelo próprio paci-
ente, por observadores e pela situação como
sendo hipnótico, esse comportamento cons-
titui o primeiro passo evolutivo no desen-
volvimento de uma rede interdependente de
idéias ou ecologia de idéias, existindo no sis-
tema naquele momento. Aqui também se
pode considerar que as exigências caracte-
rísticas da situação69 podem desempenhar
papel na evolução, mas não causam a hipno-
se. As estratégias intrapsíquicas que podem
ser usadas pelo indivíduo como as fantasias
objetivo-dirigidas104 também não causam a
hipnose. (3) Todos os participantes são ob-
servadores da situação hipnótica, mas ne-
nhum dos participantes pode ser um obser-
vador objetivo, porque todos são parte do
sistema. Esta perspectiva considera que a
hipnose ocorre na situação, não na pessoa.
Portanto, a hipnose não teria realidade ab-
soluta, mas seria construída pelas pessoas en-
volvidas na situação particular, podendo ser
diferente de uma situação para outra. O sis-
tema hipnótico opera como um todo, com
cada participante funcionando de acordo com
o que é esperado dele, em seu sistema parti-
cular. O hipnólogo não induz a hipnose, mas
desempenha o papel de executivo, organi-
zando o sistema de tal modo que a pessoa
designada como paciente esteja em foco.
Dentro destes conceitos, as pessoas que ob-
têm altos graus de suscetibilidade nos testes
são as que bem se ajustam à situação estru-
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turada e autoritária dos testes, ao passo que
as pessoas que obtêm baixos graus, são as
que não se sentem confortáveis com a
estruturação dos testes.103
HIPNOSE COMO COMPROMISSO
COGNITIVO MOTIVADO (PETER W.
SHEEHAN — 1991)
O conceito essencial para Sheehan é com-
prometimento cognitivo motivado, que refle-
te as motivações positivas do indivíduo para
responder cooperativamente com o hipnólogo,
não simplesmente para se conformar ou sub-
meter-se, mas sim para processar as comuni-
cações do hipnólogo de uma maneira cogniti-
va ativa, a fim de resolver o problema de res-
ponder apropriadamente às sugestões.105 Esse
compromisso cognitivo motivado mostra a uti-
lidade do reconhecimento da variabilidade do
comprometimento para as respostas hipnóti-
cas, que existe entre os indivíduos altamente
suscetíveis. Este teórico considera essa varia-
ção do comprometimento decorrente do fun-
cionamento do processo de motivação que
caracteriza as diferenças em níveis de
envolvimento que os indivíduos hipnotizados
estão querendo exibir. Outra característica
essencial deste modelo conceitual é a exten-
são para a qual o indivíduo hipnotizado é ca-
paz de experienciar o mundo como percebido
e o mundo real como existe, simultaneamen-
te. Este modelo ainda enfatiza a relação entre
a sugestão e a atividade mental do indivíduo
hipnotizado, criada pela sugestão.
PARADIGMA MULTIDIMENSIONAL
(THEODORE X. BARBER — 1997)
O paradigma multidimensional engloba e
unifica três tipos de hipnose, focalizando di-
ferentes aspectos da natureza da hipnose em
pessoas altamente suscetíveis:106,107 (1) A
escola que considera a hipnose como transe,
estado, neodissociação focalizada na dimen-
são das pessoas propensas à amnésia, com
características parecidas com as do sono e
com automatismo aparente, seguido por am-
nésia. (2) A escola que considera a hipnose
comportamento cognitivo, social e psicológi-
co focalizada na dimensão das pessoas posi-
tivamente estabelecidas, envolvendo um es-
tado de consciência caracterizado pelo rela-
xamento mental. (3) Ambas as escolas an-
teriores deixavam de focalizar a dimensão
das pessoas com propensão para fantasias,
que envolve essencialmente o mesmo esta-
do de consciência como a absorção na fan-
tasia realística. Portanto, este novo paradig-
ma engloba a hipnose das pessoas propen-
sas à fantasia, a hipnose das pessoas propen-
sas à amnésia, que têm características seme-
lhantes ao sono, com aparente automatici-
dade seguida de amnésia, e a hipnose das
pessoas positivamente estabelecidas, relacio-
nadas com relaxamento mental e sensação
de deixar-se ir.
As pessoas propensas à fantasia podem
apresentar três subtipos:106,107
• Desenvolveram talentos de fantasia
associados a atividades imaginativas
infantis.
• Talentos de fantasia desenvolvidos du-
rante o aprendizado para escapar men-
talmente de situações indesejáveis do
ambiente, precocemente na vida.
• Talentos para fantasiar o real como real
pelo envolvimento em fantasias sexuais
no início da vida, baseado no prazer dos
contatos sexuais experienciados intermi-
tentemente.
As pessoas propensas à amnésia podem
apresentar dois subtipos:106,107
• Aspessoas que aprenderam durante a
infância a escapar mentalmente do abu-
so, desenvolvendo habilidades de sepa-
38 CAP˝TULO 2
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rar, suprimir ou dissociar memórias e
experiências. As pessoas que aprende-
ram durante a infância a cumprir com os
desejos dos adultos e ter amnésia para
eventos em resposta a repetidas expe-
riências de furtivas relações sexuais
com um adulto, enquanto a criança es-
tava aparentemente dormindo.
As pessoas positivamente estabelecidas,
que são muito bons indivíduos hipnóticos,
podem apresentar dois subtipos:106,107
• As pessoas altamente socializadas, co-
operativas, amigáveis, que freqüente-
mente adotam atitudes e expectativas
positivas em situações sociais e estão
prontas para ceder aos desejos e às su-
gestões de outras pessoas.
• As pessoas altamente socializadas, coo-
perativas e amigáveis que são bons pa-
cientes hipnóticos, simplesmente porque
um hipnólogo experiente removeu as
defesas, medos e concepções erradas
sobre a hipnose e ampliou as expectati-
vas, desejos, atitudes adequadas relacio-
nadas com a hipnose.
Este paradigma exposto por Barber ainda
engloba mais três dimensões: (a) A psicolo-
gia social da experimentação psicológica in-
cluindo regras sociais implícitas, obrigações,
papéis e expectativas mútuas que afetam o
comportamento das pessoas nas situações dos
experimentos. (b) A dimensão do hipnólogo
incluindo a sua empatia, sabedoria, eficácia
na comunicação que influenciam profunda-
mente a pessoa. (c) A dimensão das instru-
ções e sugestões, incluindo sugestões ajusta-
das para a pessoa com propensão a fantasias
(regressão de idade), a pessoa propensa à
amnésia (sugestões para bloquear memórias,
dor, audição, visão e outras sensações), su-
gestões que se ajustam à pessoa positivamen-
te estabelecida (realçar habilidades de apren-
dizado, proficiência, força).108-110
MODIFICAÇÕES FUNCIONAIS NO
ENCÉFALO E A HIPNOSE
Como funciona a maior ou a menor ca-
pacidade hipnótica das pessoas? Como as su-
gestões funcionam dentro do encéfalo?
1. A revisão de Laurence et al.111 sugere
que diferenças individuais na velocidade do
processamento cognitivo nos lobos frontais
desempenham um papel na hipnotizabili-
dade. E as pessoas mais altamente hipnoti-
záveis têm mais efetivos sistemas de aten-
ção e inibição do que as pessoas pouco sus-
cetíveis à hipnose.112
2. Comum a todas sugestões hipnóticas são
os mecanismos de atenção focalizada, resul-
tado do funcionamento da atividade cortical
frontal, e alucinação obstrutiva, resultado do
funcionamento dos sistemas corticais poste-
riores, que modulam as imagens mentais.113
3. Os estudos com sugestão hipnótica e a
correlação anatomofuncional com a dor sen-
sorial e o processo afetivo indicam que
“changes associated with the induction of
hypnosis are consistent with the production
of a state of relaxation that may facilitate
internally generated imaginative processes
through the reduction of inhibitory mecha-
nisms such as cross-modality suppression.
On the other hand, suggestions to alter
perception produced strong changes in fron-
tal cortices that may reflect the contribution
of verbal processes and the active biasing of
the perceptual experience.”114 (p. 7).* As
sugestões ativam as regiões frontais e esta
*“Modificações relacionadas com a indução da hipno-
se são consistentes com a produção de um estado de
relaxamento que poderia facilitar processos imaginati-
vos internamente gerados tal como a supressão moda-
lidade cruzada e, por outro lado, sugestões para alterar
a percepção produzem fortes modificações no córtex
frontal que podem refletir a contribuição do processo
verbal e a ativa tendência da experiência perceptual”.
(Tradução do autor.)
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ativação está positivamente correlacionada
com a suscetibilidade hipnótica, sendo ain-
da mais intensa no lobo frontal direito.115
4. A indução tradicional da hipnose pelas
técnicas de relaxamento suporta a associação
entre hipnose e: “(1) activation of anterior
frontolimbic inhibitory processes, (2) anterior
inhibition or disconnection, either latera-
lised or left hemisferic regions or bilateral de-
pending on the processes examined, (3) in-
volvement of right temporoposterior pro-
cessing, (4) evidence of superior attentional
abilities in high susceptibles, (5) evidence
of poor attentional abilities in unsuscep-
tible subjects with progressive improvement
through the induction, and (6) no evidence
of right hemisphericity in the baseline state
in susceptible subjects”116 (p. 6).*
5. As pessoas com alta suscetibilidade hip-
nótica e com alta capacidade para apresentar
alucinações têm ativada uma região na parte
anterior do giro do cíngulo (área 32 de Broad-
man), detectada por meio da PET, quando ou-
vem um estímulo auditivo como uma mensa-
gem gravada, e quando alucinam ouvir essa
mensagem gravada (é dito que ouvirão uma
mensagem gravada, mas não há mensagem
gravada e apenas o som do gravador sendo
ligado), mas não quando apenas imaginam
ouvir essa mensagem gravada; ao passo que
pessoas com alta suscetibilidade hipnótica sem
capacidade para alucinar não mostram ativa-
ção significante da parte anterior do giro do
cíngulo e sim no córtex auditivo de associa-
ção (área de Broadman 22).117
6. Pessoas com alta suscetibilidade hip-
nótica quando hipnotizadas, sendo pedido para
ver colorido, apresentaram ativação detecta-
da pela PET das áreas corticais (fusiformes)
responsáveis pela visão das cores no hemis-
fério cerebral esquerdo (mais acentuado) e
no direito, independente de estarem vendo
um padrão colorido ou em branco e preto; ao
passo que sem a hipnose a área cortical res-
ponsável pela visão de cores do hemisfério
cerebral esquerdo não era ativada.118 Ape-
nas a ativação da área fusiforme do hemis-
fério cerebral direito ocorre pelas imagens
mentais de per se,119 ao passo que a ativa-
ção do hemisfério cerebral esquerdo ocorre
só durante a hipnose. A predominância da ati-
vação da área de visão a cores durante a hip-
nose no hemisfério cerebral esquerdo está de
acordo com os achados obtidos por Maquet
et al.120 por meio da PET ao examinar aspec-
tos funcionais da hipnose, e com achados de
Rainville et al.121 também utilizando PET, su-
gerindo que a predominância do hemisfério
cerebral esquerdo seja devida à mediação
verbal das sugestões hipnóticas.
PERCEBER, PENSAR, ANALISAR E
EVOLUIR
Vários modelos conceituais explicando
ou não aspectos da relação hipnótica foram
expostos. Alguns são conflitantes, alguns
parecem similares. Para muitos, o que deno-
minamos hipnose serve para catalogar um
conjunto de procedimentos que potencializam
certas capacidades preexistentes nas pesso-
as.122 O ponto essencial em qualquer tipo de
tratamento é produzir uma mudança, e por
meio da hipnose pode-se freqüentemente
modificar a maneira como se interpreta uma
situação e em conseqüência influenciar as
respostas fisiológicas do organismo. Os teó-
ricos tentam explicar aspectos da hipnose
*“1) A ativação do processo inibitório frontolímbico.
2) Inibição anterior ou desconexão lateralizada para
regiões do hemisfério cerebral esquerdo ou bilateral,
dependendo do processo examinado. 3) Envolvimento
do processamento temporal posterior direito. 4) Evi-
dência de habilidades superiores de atenção nas pessoas
altamente suscetíveis. 5) Evidência de pobre habilidade
de atenção nas pessoas pouco suscetíveis. 6) Não evi-
dencia dominância do hemisfério direito no estado de
base em indivíduos suscetíveis”. (Tradução do autor.)
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enfatizado aspectos da situação hipnótica,
aspectos do paciente e aspectos do hip-
nólogo, bem como enfatizam variáveis como
as expectativas, as motivações e as atitu-
des do paciente,a obediência ou anuência
do paciente ao hipnólogo, a capacidade ima-
ginativa do paciente, a sua propensão para
fantasia, a propensão para amnésia, a habi-
lidade para dissociação, a confiança do
hipnólogo, o comprometimento do paciente
com a hipnose. Os pesquisadores concebem
a hipnose delimitada pelos determinantes da
pesquisa. Os indivíduos pesquisados apresen-
tam motivações completamente diferentes
das apresentadas pelos pacientes na prática
clínica. Os pesquisadores no laboratório fa-
zem o possível para que a técnica seja igual
para todos os testados, ao passo que na clíni-
ca a tendência é a individualização da técni-
ca, da fraseologia e flexibilidade no tratamen-
to. Desse modo, os dados laboratoriais nem
sempre são coerentes com os obtidos na prá-
tica clínica.123
A maioria dos teóricos é psicólogo traba-
lhando no laboratório experimental de hipno-
se, e, por isto, a imensa maioria das teorias
expostas mostra apenas os aspectos psico-
lógicos da hipnose, sem preocupação em ten-
tar mostrar o que ocorre nas estruturas ce-
rebrais, no metabolismo, nos neurotransmis-
sores, nas sinapses e nos receptores exis-
tente no encéfalo. Além disso, na maioria
das pesquisas os grupos controle são consti-
tuídos basicamente por estudantes universi-
tários, principalmente estudantes de psico-
logia e, portanto, apresentam um nível edu-
cacional e uma idade mais ou menos homo-
gênea, além de estarem de certa forma com
a atenção voltada para os resultados da pes-
quisa e provavelmente influenciarem a situa-
ção hipnótica pela atmosfera do ambiente
universitário. Esses grupos controles são di-
ferentes dos grupos controle obtidos nos es-
tudos clínicos randomizados.
Desde a última década do século XX, os
estudiosos sobre hipnose aproximam-se com
maior freqüência dos neurofisiologistas e
imaginologistas para analisar o que ocorre no
encéfalo durante a hipnose, usando a medi-
ção do fluxo sangüíneo cerebral regional
(FSCR), a PET, a RMf, o MEG, o registro
eletroencefalográfico de potenciais evocados
relacionados com eventos (PRE). Neste novo
milênio, espera-se a multiplicação dos estu-
dos clínicos controlados e randomizados com
o uso da hipnose para se estabelecer normas
corretas do emprego da hipnose no tratamen-
to das diversas doenças, para ajustar-se à
tendência atual da medicina baseada em evi-
dências.
Um ponto importante seria o especialista
comprometido com a hipnose perceber, ana-
lisar, pensar e pesquisar sobre os diferentes
aspectos dos modelos conceituais apresen-
tados, tendo a meta cristalina de criar um
paradigma que explique melhor tanto a ex-
periência hipnótica vivenciada pelo pacien-
te quanto o seu comportamento, e também o
que ocorre no encéfalo durante a hipnose.
Fazendo uma analogia ao computador, na
hipnose precisamos conhecer os aspectos
psicológicos (como transportar um arquivo
de um lugar para outro) e também os aspec-
tos neurofisiológicos (o que ocorre intrinse-
camente no computador quando esse trans-
porte ocorre). Seria inapropriado formular
uma teoria psicológica da hipnose sem con-
siderar os substratos psicofisiológicos e
neurofisiológicos do processo ou uma teo-
ria neurofisiológica sem levar em conta am-
bos os aspectos.124
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CAP˝TULO 3 47
CAP˝TULOCAP˝TULO
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Características do
Paciente Hipnotizado
Até a década de 1980, o que se dizia da
hipnose podia ser colocado na forma negati-
va. Hipnose não é sono, não é sonho, não é
decorticação funcional, não é inibição irradia-
da. Uma dificuldade para explicar a hipnose é
devida à correlação do comportamento con-
trolado verbalmente ser particularmente obs-
cura.1 O que se poderia denominar caracte-
rísticas da pessoa hipnotizada depende essen-
cialmente da perspectiva de análise das ca-
racterísticas dentro de um modelo conceitual
de hipnose. Para muitos teóricos o que ocor-
reria com uma pessoa durante a hipnose ocor-
reria com essa mesma pessoa nas atividades
da vida cotidiana, e, portanto, não haveria ne-
nhuma característica especial da hipnose que
pudesse ser diferente das características exi-
bidas pela pessoa na vida diária. Por outro
lado, os seguidores da “teoria do estado” con-
cebem a pessoa hipnotizada estando numa
condição ou estado diferente do estado de vi-
gília usual, denominado estado alterado de
consciência ou estado alternativo ou estado
modificado ou estado hipnótico ou estado es-
pecial ou condição hipnótica e conseqüente-
mente apontam características particulares
desse estado ou condição. Contudo, o que sig-
nifica isso? Alterado ou modificado do quê?
Alternativo do quê? Alguns consideram tudo
que uma pessoa não está percebendo, sentin-
do ou participando no aqui e no agora, como
um estado modificado. Até hoje os defenso-
res da “teoria do estado” não conseguiram
provar a existência desse estado particular.2
A designação “estado modificado” poderia ser
usada descritivamente para apontar, simples-
mente, para a observação que algumas pes-
soas relatam durante a hipnose de apresenta-
rem modificações subjetivas.3 Alden e Heap
consideram que a hipnose pode ser mais bem
concebida como um conjunto de habilidades
para ser empregada por uma pessoa do que
como um estado.4 Entre os pesquisadores há
um consenso geral de que a hipnose é um fe-
nômeno com diferenças individuais, no qual a
imaginação em algumas pessoas tornar-se
tão intensa e viva que adquire o valor de
realidade, a ponto de uma pessoa hipnotizada
48 CAP˝TULO 3
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ter dificuldade em diferenciar a fantasia da
realidade.3
Abela5 considera a hipnose como um es-
tado distinto, apresentando características
neurofisiológicas específicas e opostas de
acordo com a alta ou baixa suscetibilidade
das pessoas e simultaneamente com uma
habilidade maior do que a normal para
acessar e influenciar a experiência.
Para Stark, “hypnosis is actually a cultural
convenction, a situation where we make
particulary effective use of imagination by
manipulating expectations. This is true in both
self-hypnosis and hypnosis with each other. The
hypnosis with other people also involves the
particularly effective use of social cue to
manipulate expectations”6 (p. 30).* Este au-
tor ainda acrescenta que a hipnose é um “esta-
do alterado” pelo menos no sentido que pres-
tando atenção de um modo particular ou sen-
tindo de uma particular maneira são “estados
alterados”, e a influência hipnótica significa
alterar o que nós esperamos perceber e o que
nós esperamos que aconteça; e isso, por sua
vez, modifica como nós interpretamos a situa-
ção, alterando desse modo o que nós espera-
mos, tem o poder de alterar como nós pensa-
mos, sentimos e agimos e desse modo a influ-
ência hipnótica está relacionada com a altera-
ção do nosso senso de autocontrole.6
A sensação interna da pessoa durante a ex-
periência da hipnose, usualmente, envolve a
sensação de bem-estar, parecendo que as coi-
sas acontecem automaticamente, sem esforço,
sem intenção consciente e que a percepção
geral da realidade parece que retrocede para o
fundo do consciente. A hipnose não proporcio-
na nenhuma habilidade especial, e a capacida-
de de fazer uso de várias habilidades normais,
pela vontade, pode ser de enorme utilidade.
Quando se compreender detalhadamente o fun-
cionamento mental e cerebral de o ser humano
criar a experiência subjetiva em geral, se com-
preenderá o funcionamento mental e cerebral
durante a hipnose. Na realidade queremos sa-
ber se há diferença e, em caso afirmativo, qual
é a diferença na neurofisiologia, neuroquímica
e atividade elétrica cerebral entre uma pessoa
com alta suscetibilidade à hipnose e outra com
baixa suscetibilidade; e numa mesma pessoa
se há diferença quando ela está respondendo
melhor às sugestões e quando ela está respon-
dendo menos às sugestões; entre uma pessoa
simulando a hipnose e uma pessoa realmente
experienciando a hipnose; e, ainda, entre uma
pessoa em hipnose sem outras sugestões e a
mesma pessoa em hipnose recebendo outras
sugestões.
CARACTERÍSTICAS DA PESSOA HIPNOTIZADA
OU CARACTERÍSTICAS DA HIPNOSE
Hilgard considera as seguintes caracte-
rísticas do estado hipnótico:2
1. Abrandamento da função de planifi-
cação.
2. Redistribuição da atenção.
3. Redução nos testes de realidade e to-
lerância.
4. Disponibilidade para memórias visuais
do passado e aumentada habilidade
para a produção de fantasias.
5. Aumento da sugestionabilidade.
6. Comportamento de desempenhar pa-
pel.
7. Amnésia para o que se divulgou du-
rante o estado hipnótico.
8. Respostas às sugestões de modo lite-
ral, primitivo, usualmente demorando
um pouco.1,7,8
*Para Stark “hipnose é realmente uma convenção cul-
tural, uma situação onde nós fazemos particularmente
efetivo uso da imaginação pela manipulação das ex-
pectativas. Isto sendo verdadeiro para ambos auto-hip-
nose e hipnose. A hipnose com outras pessoas também
envolve o uso particularmente efetivo de sinais sociais
para manipular as expectativas”. (Tradução do autor.)
CAP˝TULO 3 49
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Abrandamento da Função de
Planificação
O indivíduo hipnotizado perde a iniciati-
va e falta desejo para fazer ou executar pla-
nos. Ele possui habilidade para iniciar uma
ação e para falar. O ponto importante é que
ele tem pouco desejo de fazer isso.
Redistribuição da Atenção
Quer dizer que a atenção é seletiva, que
não se presta atenção igualmente a todos os
aspectos do meio ambiente e que a atenção
seletiva e a desatenção seletiva vão além dos
limites usuais. Durante a hipnose isso se
manifesta de várias maneiras, como, por
exemplo, o indivíduo pode ouvir apenas a
voz do hipnólogo e não ouvir ou responder a
outras vozes.
Redução nos Testes de Realidade e
Tolerância para a Persistente Distorção
da Realidade
Na vida cotidiana esses testes de realida-
de passam despercebidos, mas se prestarmos
atenção notaremos que com freqüência che-
camos nossa orientação olhando em torno,
olhando o tempo no relógio, ajustando a rou-
pa etc. Durante a hipnose esses testes estão
reduzidos, em parte como resultado das su-
gestões de relaxamento e das objetivas. A
redução nos testes de realidade leva à acei-
tação de distorções da realidade, como acei-
tação de falsas memórias, alterações na pró-
pria personalidade, modificações na veloci-
dade de como passa o tempo, ausência de
extremidades do corpo em pessoas que es-
tão na mesma sala, nominação inapropriada
de objetos e pessoas.
O abrandamento da função de planifica-
ção, a redistribuição da atenção e a redução
nos testes de realidade durante a hipnose
podem ser explicados pelaocupação das fun-
ções do lobo frontal nas instruções de foca-
lização da atenção (processamento fronto-
temporal do hemisfério cerebral esquerdo),9
que, uma vez ocupado, torna-se inibido e essa
inibição é a sustentação dos três aspectos
anteriores.10
Disponibilidade de Memórias Visuais do
Passado e Aumentada Habilidade para
a Produção de Fantasias
Durante a regressão de idade, quando é
pedido para retornar aos acontecimentos
ocorridos no passado, a lembrança parece
facilitada pela disponibilidade de imagens
visuais. As memórias não são todas verídi-
cas, e o especialista pode sugerir de fato a
realidade de memórias para fatos que não
ocorreram. A memória durante a hipnose, do
mesmo modo que a memória fora da hipno-
se, pode ser tanto produtiva como reprodu-
tiva. Em qualquer caso, o aparecimento das
memórias visuais parece ser mais vívido do
que fora da hipnose.
Sugestionabilidade Aumentada
É apenas uma das características da hip-
nose, originando-se pelo menos em parte
como uma conseqüência das alterações já
mencionadas no estado da pessoa. Freqüen-
temente é conveniente estudar a hipnose em
termos das alterações na sugestionabilidade,
independente de como essas alterações ocor-
rem. A aumentada sugestionabilidade e a
aumentada resposta às sugestões são expres-
sadas pela grande vontade de o paciente ser
guiado pelas sugestões do hipnólogo, pro-
50 CAP˝TULO 3
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vavelmente devido à expectativa de haver
alguma coisa a ser ganha pela aceitação das
sugestões. E as sugestões do hipnólogo de-
sencadeiam respostas dentro do paciente.7
O simples fato de se dizer que se vai fazer
uma hipnose é suficiente para realçar as res-
postas às sugestões testes. Um fator impor-
tante para isso parece ser que durante séculos
praticamente as pessoas assumiram que du-
rante a hipnose os indivíduos manifestam um
alto nível de respostas às sugestões testes.
Comportamento de Desempenhar um Papel
As sugestões que um indivíduo em hipno-
se aceitará não estão limitadas aos atos ou às
percepções específicas. Ele verdadeiramente
adotará um papel sugerido e executará ativi-
dades complexas correspondentes ao papel.
Amnésia para o que se Divulgou dentro
do Estado Hipnótico
Não é um aspecto essencial da hipnose, e
mesmo para um indivíduo capaz de amnésia
pós-hipnótica espontânea pode ser dito que
ele recordará o que ocorreu durante o estado
hipnótico, e, então, ele lembrará disso. A
amnésia é um aspecto muito comum que
pode ser promovido pela sugestão. Na vida
diária as pessoas também apresentam amné-
sia para vários fatos.
Respostas às Sugestões de Modo Literal,
Primitivo, Demorando um Pouco
O médico deve prestar muita atenção às pa-
lavras das sugestões, bem como ao tom da voz,
às pausas e às inflexões da pronúncia da sen-
tença. Se dissermos: Você pode dizer o nome
do seu pai? Uma resposta possível seria: Posso
ou não posso. Outra resposta possível seria sim
ou não, porque não estamos literalmente pedin-
do para dizer o nome do pai. Ou dizemos ao
paciente: Você pode falar, e ele pode entender
que pode falar, mas não fala. Não fala porque
literalmente na frase não dissemos para ele fa-
lar. Observe ainda que as respostas do pacien-
te demoram um pouco para ocorrer, e isso é
tão importante que o especialista deve dar tempo
para o paciente responder às sugestões. Res-
postas literais foram consideradas como um as-
pecto do estado hipnótico ou como indicativo
do comportamento hipnótico por vários auto-
res.5,11,12 Contudo, essas respostas literais ocor-
rem em 21,78% das respostas de pessoas não
hipnotizadas dentro ou fora da biblioteca de
um Campus Universitário.13 Lynn et al. consi-
deraram que as respostas literais estavam as-
sociadas com as percepções das pessoas sobre
o que constituía o comportamento apropriado
e com a sensação de estarem passivas na situa-
ção, e não com um particular estado alterado
de consciência ou condição da pessoa.14
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DE UMA
PESSOA EM HIPNOSE
Não sabemos o momento exato em que
uma pessoa passa do estado usual de consci-
ência para o digamos assim chamado “esta-
do hipnótico” ou “condição hipnótica”. A di-
ferenciação é mais pelo grau, intensidade, do
que por aspectos específicos. Com o uso
continuado da hipnose adquire-se experiên-
cia e pode-se notar características físicas as-
sociadas com o assim chamado “estado de
hipnose”. As alterações físicas podem ser
observadas, mas não definem por si só a hip-
nose, porque podem ocorrem também nas
pessoas durante as atividades diárias. Obser-
ve atentamente as pessoas imediatamente
antes da hipnose, e durante a hipnose procure
notar quais as modificações físicas e fisio-
CAP˝TULO 3 51
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lógicas que estão ocorrendo com relação ao
que apresentavam antes. Procure por:
ð Relaxamento muscular que pode ser
observado na musculatura facial
como a perda da expressão; no apa-
gamento dos sulcos nasogenianos dei-
xando a face plana; no relaxamento
da mandíbula deixando a boca entrea-
berta; na assimetria na face. Pode ser
observado nos músculos do pescoço,
quando o pescoço se flexiona para a
frente ou para um dos lados. Pode ser
observado na musculatura em geral
quando um braço é levantado e de-
pois solto, e cai pesadamente sobre o
colo. Quando o paciente deitado apre-
senta rotação externa dos pés.
ð Modificações na cor da pele. Exem-
plo é a palidez na face.
ð Modificações na cor dos olhos fican-
do avermelhados, possivelmente de-
vido ao relaxamento da musculatura
da órbita, facilitando o maior fluxo de
sangue através das veias.
ð A pupila freqüentemente sobe de
modo que quando os olhos estiverem
abertos percebe-se a maior porção da
parte branca do olho, e quando os
olhos estiverem fechados, observa-se
uma ruga na pálpebra superior.
ð Alteração dos movimentos respirató-
rios. Ficam mais lentos ou mais rápi-
dos, mais superficiais ou mais profun-
dos. Prestar atenção ao padrão respi-
ratório inicial de cada paciente para
poder notar as modificações.
ð Alterações na freqüência de pulso, ge-
ralmente ficando mais lento.
ð Fechamento dos olhos.
ð Diminuição da motricidade voluntária.
ð Tremor palpebral.
ð Expressões fisionômicas e corporais
relacionadas com as sugestões formu-
ladas.
ð Movimentos em um ou mais dedos de
aparecimento súbito e involuntário.
ð Sacudidelas nas mãos. Acenos com a
cabeça.
ð Lacrimejamento, atribuído ao relaxa-
mento dos músculos ao redor dos
ductos lacrimais.
ð Modificação do diâmetro das pupilas.
ð Modificações na unidade da pele,
como sudorese maior ou menor.
ð Sem sugestões específicas, mudanças
na temperatura do corpo. Em alguns
há aquecimento, em outros há resfria-
mento. Naturalmente, sugerindo que
o paciente está numa praia as 11:00h
de um dia com muito sol e calor, a
temperatura corporal pode elevar-se
e haver sudorese.
ð Alguns referem secura na boca duran-
te a indução, dependente da técnica
de indução.
ð Alguns referem durante a indução,
sem sugestões específicas, parestesias
nas extremidades (sensação de formi-
gamento e pinicamento).
ð Quando solicitamos que o paciente
se comunique por meio de gestos
(por exemplo, levantar um dedo), ou
pela linguagem falada, as respostas
do paciente usualmente são lentas,
não são imediatas, e o movimento
parece decomposto ou espasmódico.
O movimento não é em bloco, como
um todo.
ð Movimentos oculares lentos como um
indicador involuntário da hipnose15 foi
proposto em 1969; seriam movimentos
similares aos encontrados no estádio I
do sono.16 Esses achados foram repli-
cados e verificados que os movimentos
oculares lentos ocorriam não somente
na indução tradicional da hipnose, mas
também com um grupo controle sob re-
laxamento não hipnótico.17
52 CAP˝TULO 3
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ð Sinais de hipnose moderada a boa se-
gundo alguns autores18,19 incluem: tre-
mor palpebral, fechamento palpebral
espontâneo, flacidez dos músculos
faciais, profundo relaxamento muscu-
lar, respiração lenta e profunda, alte-
ração do reflexo da deglutição.
CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS DO
ESTADO HIPNÓTICO
• Atenção seletiva
• Resposta › a sugestão
• Transe lógico
• Dissociação
• Interpretação subjetiva
• Relaxamento
Atenção Seletiva
É a capacidade de focalizar a atenção numa
parte relevante do estímulo ou da experiên-
cia, desligando-a do restante. A atenção sele-
tiva envolve a atividade do sistema de vigi-
lância da atenção localizado anteriormente,
interagindo com regiões corticais e subcorti-
cais posteriores.20
Dissociação
Na qual a mente consciente está ocupada
com o procedimento hipnótico ao passo que
a mente subconsciente está ativamente pro-
curando significados simbólicos, associações
passadas e respostas apropriadas.
Resposta Aumentada às Sugestões
Durante a hipnose há aumento da recep-
tividade às sugestões para as pessoas alta-
mente suscetíveis. Contudo, esse aumento
das respostas às sugestões pode ocorrer tam-
bém sem hipnose, apenas pelo aumento de
expectativas, atitudes e motivações.
Interpretação Subjetiva
Significa que a pessoa responde às su-
gestões segundo seu próprio referencial.
Transe Lógico
Não há necessidade de a experiência da
pessoa ser inteiramente realística ou racio-
nal. É um estado voluntário do paciente de
aceitação das sugestões, sem a avaliação crí-
tica entrar em jogo, a qual poderia alterar a
validade e o significado de alguma suges-
tão.
Relaxamento
Pode-se estar em hipnose sem relaxamen-
to,7 mas eu considero que pode não haver
relaxamento físico, mas há relaxamento men-
tal ou vice-versa, por que o relaxamento pode
ser somático (do corpo), cognitivo (mental)
ou ambos.21 Desse modo uma pessoa após
muito trabalho mental, pode relaxar fazen-
do um exercício físico. O relaxamento é uma
característica que a maioria das pessoas as-
socia com a hipnose, e para Edmonston Jr. é
a base fundamental dos outros aspectos que
aparecem depois.22
As alterações nas sensações do corpo que
estão associadas com o processo de indução,
como alteração do tamanho do corpo ou das
partes do corpo, desaparecimento de partes
do corpo, alterações do equilíbrio, alteração
na percepção da temperatura, alterações no
sentimento de realidade, alterações na per-
CAP˝TULO 3 53
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cepção da voz são devidas a muitas variá-
veis inter-relacionadas:23 (a) deixar os olhos
fechados por muito tempo, (b) ficar esperan-
do alguma coisa acontecer, (c) ficar esperan-
do alterações nas sensações do corpo, (d) as
sugestões transmitidas de relaxamento, mais
profundo relaxamento, sono e hipnose.
MODOS DE ANALISAR A HIPNOSE OU O
“ESTADO HIPNÓTICO” OU A “CONDIÇÃO
HIPNÓTICA”
Compreende-se que há uma certa dificul-
dade em dizer que um indivíduo se compor-
ta de um determinado modo porque ele está
hipnotizado, quando o único modo que al-
guém pode dizer que ele está hipnotizado é
que ele se comporta desse modo. Orne23 co-
locou em dúvida o “estado hipnótico”, mui-
to embora isso não fosse sua intenção. Do
ponto de vista cético, ele destaca que os in-
divíduos tendem a responder como o que ele
denomina de características exigidas pela
situação hipnótica. O que ocorre na hipnose
é uma resposta normal para o que é espera-
do ocorrer durante a hipnose, e pode tam-
bém ocorrer fora da hipnose. Um exemplo é
pedir para os estudantes na sala de aula tira-
rem os sapatos, trocar de paletós e entregar
o relógio de pulso para o professor. Os estu-
dantes assim procedem, simplesmente, por-
que o professor pediu e eles concordam com
o pedido. Se essas mesmas coisas fossem
feitas na hipnose poder-se-ia ficar impressio-
nado. Com a demonstração dos estudantes
confirma-se que as pessoas não hipnotiza-
das também fazem as coisas quando a situa-
ção social pede ou requer.
Para Barber do ponto de vista cognitivo-
comportamental, os conceitos de transe hip-
nótico, hipnose, estado hipnótico não só são
desnecessários, mas também enganosos para
explicar o fenômeno.24 Do ponto de vista
cognitivo-comportamental,24 os pacientes
podem levar ao assim chamado comporta-
mento hipnótico, quando eles têm atitudes
positivas, motivações e expectativas em di-
reção à situação-teste que os leva de boa von-
tade para pensar e imaginar com os temas
que são sugeridos. Alguns pesquisadores
como Barber, não consideram a hipnose
como um estado especial de consciência,
pois aceitar um estado especial de consciên-
cia implicaria aceitar que a hipnose é uma
alteração do normal, tal como o sono difere
da vigília. Contudo, esse autor reconhece que
as diferenças individuais que caracterizam
os mais ou os menos hipnotizáveis represen-
tam um componente de habilidade, que
Hilgard chama características das respostas
hipnóticas.25 É possível suportar a teoria da
característica da hipnose, negando a teoria
do estado de hipnose, ou suportar a teoria
do estado de hipnose, assumindo a posição
que qualquer um pode entrar no estado de
hipnose desde que as condições sejam favo-
ráveis. E pode-se mesmo apoiar simultanea-
mente a teoria do estado especial de hipnose
e a teoria da característica da hipnose. Neste
caso, as repostas hipnóticas podem ser con-
sideradas como o produto de um estado al-
terado de consciência, estado de transe que
é modulado por fatores psicossociais, como
influência social, habilidades pessoais, e
possivelmente os efeitos da modificação das
estratégias.26 Há aqueles que reconhecem
diferenças em facilidade de hipnotizar, mas
reconhecem também que mesmo a pessoa
altamente hipnotizável não está num estado
hipnótico especial todo o tempo. Um resu-
mo27 das informações dos teóricos que dis-
cordam da existência de um estado hipnóti-
co compreende: (a) Não há nada, nenhuma
variável clínica, fisiológica, exame labora-
torial ou psicológico que identifique, ou que
marque a existência de um estado especial
chamado “estado hipnótico”. (b) Todos os
54 CAP˝TULO 3
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fenômenos que ocorrem seguindo a indução
hipnótica, também podem ocorrer sem a
indução hipnótica. (c) Pequeno aumento da
sugestionabilidade que ocorre após a indução
hipnótica, pode ser duplicado ou suprimido
por outros procedimentos, como instruções
tarefas motivadas; treinamento da imagina-
ção ou uso de placebo.
Objetivamente não reconhecer a hipnose
como um estado especial de consciência é
minimizar a importância da indução hipnó-
tica, pois não havendo um estado para o pa-
ciente entrar, por que fazer o processo de
indução? Contudo, foram feitas pesquisas28
que comparavam os resultados das mesmas
sugestões formuladas antes da indução hip-
nótica e após a indução hipnótica. E os indi-
víduos responderam melhor após a indução
do que sem a indução. Pode-se, contudo,
considerar que a indução hipnótica bem
conduzida maximiza as positivas expectati-
vas de resposta de uma pessoa. Por outro
lado, para pessoas altamente hipnotizáveis
o papel da indução pode ser mínimo. Após
hipnotizarmos um paciente e instituirmos um
sinal condicionado, pode-se hipnotizá-lo rá-
pida e simplesmente pelo emprego desse si-
nal condicionado, por vezes denominado
âncora.
Erickson, como Hilgard, considera existir
um estado de transe, um estado hipnótico.
Dentro da estrutura ericksoniana, para
Mathews et al.29 “transe hipnótico é um pe-
ríodo quando as limitações conscientes do
paciente são pelo menos parcialmente
suspensas, de modo que o indivíduo pode
ser receptivo para associações alternativas e
meios de funcionamento mental que são
facilitadores para a solução de problemas”.
Contudo, até agora, as pessoas que conside-
ram existir um estado de transe ainda não
comprovarama existência desse estado.
O’Hanlon30 considera o transe hipnótico
como sendo um estado diferenciado de lin-
guagem, e faz analogia que provar a existên-
cia do estado de hipnose seria o equivalente
a encontrar um meio de medir o amor. Nós
sabemos quando estamos apaixonados e as
pessoas ao nosso redor também percebem
as mudanças em nossas atitudes. E, segun-
do esse autor, poderia haver teóricos que
defendem a existência de um estado de pai-
xão e teóricos que defendessem sua não exis-
tência. O’Hanlon acha que os teóricos no-
mearam distinções lingüísticas e, do ponto
de vista clínico, independentemente da com-
provação ou não da existência do estado de
transe hipnótico, ele sabe quando um pa-
ciente está em estado de transe e pode ensi-
nar aos outros reconhecerem esse estado.30
Para outros, “transe é apenas pegar uma
experiência consciente e alterá-la em algu-
ma outra coisa”31 (p. 29). Estes autores,
Grinder e Bandler, observaram que as pes-
soas se especializam em prestar atenção e
em processar as informações em um canal
sensorial, predominantemente visual ou au-
ditivo ou cinestésico.31 Esses sistemas usa-
dos para representar as nossas experiências
foram denominados por eles sistemas repre-
sentacionais. Quando se sabe em qual esta-
do a pessoa está representando suas experi-
ências, em termos de sistemas representa-
cionais, qualquer outro estado representa-
cional é um estado alterado para essa pes-
soa. Para uma pessoa que no momento está
representando suas experiências no estado
visual, o estado alterado de consciência se-
ria representá-las (alterá-las para) no estado
cinestésico ou no auditivo. Para muitos psi-
cólogos, transe é um estado de limitada cons-
ciência (awareness), e uma pessoa estaria em
transe quando sua atenção está limitada e há
uma certa repetição de pensamentos.
Há ainda quem considere a hipnose a ha-
bilidade para acessar estados de transe espe-
cíficos de cada dia pela vontade, e defina
transe como um estreitamento do estado de
CAP˝TULO 3 55
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atenção.32 Exemplos de estados de transe es-
pecíficos do cotidiano incluem: um entusias-
mado internauta navega pelos seus sites pre-
feridos na Internet totalmente ligado na teli-
nha do computador, como se nada existisse
além da tela; um exímio tenista, durante uma
partida num torneio do circuito internacio-
nal de tênis, permanece com a atenção con-
centrada na bola, na quadra e no adversário.
O que é estado consciente, consciência?
Para Davitz e Cook “consciência é a conse-
qüência da interação entre o acontecimento
em si e a forma pela qual ele é vivenciado
pelo ser humano.”33 É difícil precisar os li-
mites da consciência porque cada pessoa
percebe o mundo de modo diferente. Há li-
mitações neurológicas, sociais e individuais
na percepção do mundo por uma pessoa.34
Consciência, sob o aspecto neurológico, sig-
nifica um estado cônscio de si mesmo e do
ambiente, com dois aspectos: o conteúdo da
consciência, a essência das funções mentais,
correlacionado com os hemisférios cerebrais
e o outro aspecto, o despertar, intimamente
ligado à aparência da vigília, correlacionado
com as estruturas do tronco cerebral.35 Para
uma pessoa perder a consciência decorrente
de lesão neurológica, a lesão deve estar na
formação reticular do tegumento pontome-
sencefálico ou no diencéfalo.36 Lesões cor-
ticais só produzem perda de consciência se
forem extensas e bilaterais. Por outro lado,
doenças da consciência, segundo Watt,37 in-
cluem esquizofrenia, autismo e transtorno de
identidade dissociativa. Com o nosso corren-
te estado do conhecimento, “consciência
parece refletir estados altamente dinâmicos
ou organizações estruturando as relações
entre sistemas cerebrais com o sistema
ativador reticular talâmico ampliado, como
um nexo central integrado, suportando ambas
as funções de comportas (gating) e de união,
decisivas para a consciência e permitindo um
espaço de trabalho global”.37,38
O que é estado alterado (alternativo ou
modificado) de consciência? Pode-se definir
“como uma modificação temporária no pa-
drão total da experiência subjetiva, tal que o
indivíduo acredita que o seu funcionamento
mental é distintamente diferente de certas
normas gerais do seu normal estado de cons-
ciência de vigília”39-41. Pode-se ainda fazer
uma distinção entre os termos que aparecem
na literatura inglesa: awareness (alerta) e
consciousness (consciência). Awareness se-
ria o conhecimento que alguma coisa está
ocorrendo, que é percebida, sentida, cogni-
zada na sua forma mais simples; ao passo
que consciousness se refere à totalidade de
ambos os fenômenos inferidos e potencial-
mente experienciados, da qual totalidade a
awareness e a consciousness são componen-
tes.42 Uma exemplo esclarece melhor esses
conceitos: se estamos deitados lendo um li-
vro e passa na rua uma veículo fazendo ba-
rulho, a awareness é a simples percepção do
barulho; a consciousness é uma operação
mais complexa que identifica o som como
produzido por um veículo, sua altura e in-
tensidade, podendo nos orientar para saber
se o veículo está se aproximando ou afas-
tando, e mesmo nos informar sobre o tipo
do veículo.
Por que as sugestões são aceitas e agem
mais rápida e poderosamente durante a hip-
nose, com relação ao estado de vigília? Para
Hartland, no estado hipnótico o poder do
criticismo é parcial ou completamente supri-
mido.43 E para entender como isso ocorre
deve-se primeiro aceitar o conceito de men-
te inconsciente. Há uma parte da mente que
está constantemente influenciando nossos
pensamentos, sentimentos e comportamen-
tos. É o reservatório da memória, de nossas
experiências passadas. Normalmente nós não
temos noção disso. Nós denominaremos a
mente inconsciente de subconsciente, e a
compararemos a um disco rígido de compu-
56 CAP˝TULO 3
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tador. Hartland considera o poder do criti-
cismo enormemente restrito à mente consci-
ente e, por isso, a mente consciente tem o
poder de rejeitar uma sugestão que possa ser
feita. Quando as sugestões passam pela men-
te consciente e penetram diretamente na mente
inconsciente (subconsciente), que apresenta
nenhum ou mínimo poder de criticismo, o
subconsciente é inteiramente incapaz de re-
jeitar a sugestão. Assim, as respostas durante
a hipnose dependem da extensão que o poder
de criticismo é suprimido, e de quanto o po-
der de rejeição normalmente executado pela
mente consciente é removido. Apesar disso,
não há respostas às sugestões quando estão
em desacordo com a vontade consciente de
uma pessoa, e ainda, as sugestões para serem
aceitas precisam estar sintonizadas com as
informações presentes no subconsciente. Mo-
dificações discretas são mais facilmente acei-
tas do que as radicais.
Pode-se considerar que as sugestões são
aceitas e agem mais rápida e poderosamente
durante a hipnose segundo algumas habili-
dades isoladas ou em conjunto que apresen-
tam alguns indivíduos: (1) Suscetibilidade
hipnótica da pessoa aos testes (altamente
suscetíveis, 20%, pouco suscetíveis 10%. (2)
Propensão à fantasia, 4%. (3) Propensão à
amnésia e à dissociação — parece que estas
pessoas apresentam maior facilidade para
responder às sugestões de amnésia, redução
do tônus muscular, de escrita automática,
sugestões pós-hipnóticas, sugestões de am-
nésia pós-hipnóticas, e apresentam dificul-
dade para falar. (4) Imaginação absorvente,
que é a propensão para episódios de com-
pleto compromisso com disponíveis fontes
perceptivas, motoras, imaginativas e de
idéias para uma representação unificada do
objeto da atenção.44 Pode ser dirigida inter-
namente para uma fantasia ou para uma sen-
sação corporal, ou externamente para moni-
torar os detalhes do meio ambiente. A imagi-
nação absorvente é percebida quando cessa a
verbalização interna de uma pessoa. (5) In-divíduos que querem imaginar junto com as
sugestões do hipnólogo em vez de opor-se a
elas. São pessoas nas quais a capacidade
hipnótica pode variar segundo: (a) as suas
atitudes, motivações e expectativas, (b) o
grau do rapport de um hipnólogo para ou-
tro, (c) as características das sugestões trans-
mitidas, (d) as exigências da situação.
Shames e Sterin consideram quatro os in-
gredientes da hipnose45 (a) motivação, (b) re-
laxamento, (c) concentração, (d) direção. A
motivação seria o mais importante. O relaxa-
mento é um fator algumas vezes dispensável.
A concentração seria limitar as coisas que está
fazendo a uma só, é o mesmo que limitar a
atenção a uma só coisa. A direção seria a apli-
cação de uma técnica para dirigir as energias
para uma finalidade específica, dentre essas
a principal técnica é a da visualização.
Perry aponta os principais fatores da res-
posta hipnótica: imagens/imaginação, absor-
ção, dissociação e automaticidade.3
O’Hanlon considera quatro portas que con-
duzem ao transe:30 (1) Desfocalização ou afas-
tamento. Exemplo: Na areia da praia observar
o movimento das nuvens. (2) Focalização. É a
fixação da atenção num determinado ponto,
como, por exemplo, num programa de televi-
são, num som musical. (3) Dissociação ou di-
vidir a atenção, quando estamos fazendo duas
coisas simultaneamente. Por exemplo, dirigir
um carro conversando com um amigo que está
ao lado no assento do carro. (4) Comportamen-
to padronizado ou rítmico. Os exemplos in-
cluem rezar o terço, cantar, correr.
Ressaltamos que a hipnose pode ser
conduzida sem as sugestões de sono, ou as-
sociada às sugestões de sono. Para alguns, a
hipnose sem as sugestões de sono era dita
hipnose parcial, e a seguida às sugestões de
sono era a hipnose total.46 No Nordeste do
Brasil, mais precisamente em Pernambuco,
CAP˝TULO 3 57
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em 1973, já era afirmado que o estado hip-
nótico não requer que o sujeito esteja em
estado de sono.47
Até o presente momento não se pode des-
cobrir qualquer indício fisiológico que per-
mita distinguir se um indivíduo está ou não
hipnotizado.48 Portanto, “se não é possível
falar em estado hipnótico, no sentido estri-
tamente fisiológico do termo, parece inegá-
vel que a hipnose constitui um estado de
consciência particular, que implica certa mo-
dificação da reatividade psicofisiológica do
organismo”49 (p. 86).
Num estudo experimental com 104 indiví-
duos, Chertok,49 Chertok et al.50 notaram a
existência de várias formas de transe que va-
riavam conforme os indivíduos e também num
mesmo indivíduo. Desses indivíduos, em 52
foi aplicada a análise fatorial (análise das cor-
respondências de Benzécri) que distinguiu os
cinco fatores mais importantes da estrutura
do transe: (1) Perda parcial de controle e per-
da de contato com o meio circundante e a rea-
lidade. Este fator opõe os indivíduos hipnotiza-
dos aos indivíduos não-hipnotizados. (2) Aten-
ção focalizada ou difusa. (3) Controle interno
ou controle externo. (4) Nível de atividade
mental: passividade ou atividade. (5) Nível de
resistência: resistência, auxílio, ajuda. As com-
binações dos fatores 2, 3, 4 e 5 determinariam
as várias formas de transes.
As seguintes manifestações eram consi-
deradas como indicativas do “transe hipnóti-
co”, contudo, são passíveis de crítica: (1) res-
postas literais,11,51 (2) transe lógico,23 (3) perda
da realidade nos testes, (4) respostas não-
voluntárias.
O literalismo das respostas ocorre em pe-
queno número de pessoas quer durante ou
quer fora da hipnose, e está relacionado com
a percepção do indivíduo sobre o que cons-
titui o comportamento apropriado e com o
seu sentimento passivo na situação.49,50 Con-
tudo, o literalismo pode ser explicado pela
obediência às exigências das tarefas e senti-
mentos de passividade, em vez de um esta-
do alterado de consciência.
Transe lógico definido por Orne como a
“ability of the subject to mix freely his per-
ceptions derived from reality with those that
stem from imagination and are perceived as
hallucinations”23 (p. 259).* Contudo, outros
pesquisadores consideram que as pessoas
que exibem o transe lógico interpretam as
enfáticas sugestões do hipnólogo para, por
exemplo, soletrar palavras conhecidas ape-
nas de adultos (quando estão em regressão),
apenas como uma indicação de que esse com-
portamento está apropriado.24
Indivíduos hipnotizados não renunciam
ou abdicam sua capacidade de monitorar os
acontecimentos de cada dia. Indivíduos “pro-
fundamente” hipnotizados podem dizer se
um evento foi sugerido ou se ocorreu no meio
ambiente.52
A maioria dos teóricos, com exceção dos
defensores da perspectiva social cognitiva
para a hipnose, considera que as respostas
hipnóticas envolvem a redução ou perda do
controle voluntário. Respostas não voluntá-
rias podem ser decorrentes das expectativas
pré-hipnóticas e do fato de que muitos indiví-
duos acreditam que as respostas hipnóticas
são involuntárias. “O comportamento hipnó-
tico é involuntário apenas no sentido de que
os indivíduos percebem ele como tal”.52 Em
1990 Lynn et al. rejeitam que as respostas
hipnóticas sejam involuntárias e apontam
cinco razões para considerar as respostas
hipnóticas como voluntárias:53 (1) Elas têm
as propriedades do comportamento voluntá-
rio: têm propósito, são dirigidas ao objetivo,
* O transe lógico é definido por Orne23 como “a habilida-
de do indivíduo misturar livremente suas percepções
derivadas da realidade com aquelas provenientes da ima-
ginação e são percebidas como alucinações”. (Tradu-
ção do autor.)
58 CAP˝TULO 3
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podem ser reguladas nos termos das inten-
ções das pessoas e podem ser progressiva-
mente modificadas para melhor alcançar os
objetivos dos indivíduos. (2) As pessoas hip-
notizadas podem resistir à sugestão quando
a resistência é definida como consistente com
o papel de um bom indivíduo hipnotizado.
(3) O comportamento hipnótico não é refle-
xo, nem é a manifestação de um estímulo
inato. (4) Elas consomem fontes de atenção
de um modo semelhante às respostas não-
hipnóticas. (5) As atividades cognitivas da
pessoa hipnotizada claramente demonstram
suas tentativas ativas para preencher os re-
querimentos das sugestões hipnóticas que indi-
cam experimentar sugestões relacionadas com
efeitos como involuntárias. Em 1999, Kirsch e
Lynn afirmaram que todos os comportamen-
tos são iniciados automaticamente, e que tan-
to as experiências subjetivas como os com-
portamentos das pessoas hipnotizadas depen-
dem de suas expectativas, e que essas ex-
pectativas para serem efetivadas têm que
estar dentro das capacidades da pessoa.54 O
ato intencional é iniciado automaticamente.
Woody,55 num trabalho apresentado na
Inabis 98 diz: “The most strinking effect of
hypnosis is not simply on behavior, but on
consciousness: hypnosis can profoundly alter
people’s subjective experience” (p. 2).* Desse
modo as pesquisas neurofisiológicas, neuropsi-
cológicas e os estudos de imagem como PET e
RMf abrem uma janela para os processos rela-
cionados com a consciência.
ACHADOS DE EXAMES
NEUROFISIOLÓGICOS, EXAMES DE
IMAGEM E CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS
QUE PODEM OCORRER NAS PESSOAS
ALTAMENTE SUSCETÍVEIS À HIPNOSE
Os indivíduos altamente suscetíveis à hip-
nose (altos), considerados de acordo com as
suas respostas aos requisitos das escalas de
suscetibilidade hipnótica, podem apresentar
determinados achados nos exames neurofi-
siológicos e de imagens como a RM, RMf e
a PET. Contudo, pessoas pouco suscetíveis
à hipnose, quando avaliadas pelos testes de
suscetibilidade, podem entrar em hipnose e
não apresentar os achados que podem estar
presentes nos altamente suscetíveis. Os in-
divíduos com baixa suscetibilidade hipnó-
tica têm por algum motivo menos vontade
para experienciar a hipnose,ou menos von-
tade para que essas experiências hipnóticas
aconteçam com eles, e, de certa forma, es-
peram passivamente que as experiências
aconteçam em vez de ativamente usarem es-
tratégias cognitivas para criar uma nova ex-
periência.
Achados dos exames neurofisiológicos e
de imagem nos altamente suscetíveis são:
• Significante menor latência para certos
potenciais somatossensoriais56 e audi-
tivos,57 relacionados com o evento.
• Geram mais atividade teta no EEG, que
pode ser originada no hipocampo e as-
sociada à atenção focalizada e a pro-
cessos inibitórios,58-60 e a atividade teta,
entre 6,5Hz a < 8Hz, ocorre mais à es-
querda e mais nas regiões posteriores,
em comparação com as pessoas pouco
suscetíveis à hipnose.61 A atividade
beta, entre 12,5 Hz e 21Hz, ocorre mais
à direita e mais nas regiões posterio-
res.61
• Durante a indução hipnótica, a análise
espectral do EEG mostra aumento da
amplitude espectral de 40Hz, como fun-
ção da hipnotizabilidade e da hipnose,
* Woody55 num trabalho apresentado na Inabis 98 diz:
“o efeito mais impressionante da hipnose não é sim-
plesmente no comportamento, mas na consciência: a
hipnose pode profundamente alterar as experiências
subjetivas das pessoas”. (Tradução do autor.)
CAP˝TULO 3 59
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sendo esse aumento interpretado como
indicativo de maior capacidade em fo-
calizar a atenção ao estímulo relevan-
te.62 E tem sido sugerido que o aumen-
to da atividade de 40Hz é a expressão
fisiológica do despertar focalizado,63 e
o aumento dessa atividade nestes in-
divíduos altamente suscetíveis duran-
te a hipnose foi considerado como in-
dicativo de maior capacidade em fo-
calizar a atenção no estímulo relevan-
te.
• O padrão da dimensão fractal do EEG
é mais consistente com os processos
imaginativos nos altamente suscetíveis
à hipnose, enquanto nos pouco suscetí-
veis, é mais consistente com os proces-
sos cognitivos.64
• Processam a informação com mais
automatismo, mais rapidamente e pro-
vavelmente investem mais atenção para
aprender e implementar uma estratégia
para melhorar a performance nas exi-
gências das tarefas cognitivas.65
• Apresentam no exame de RM maior vo-
lume na região do rostrum do corpo
caloso66 (p<.003), região responsável
pela transferência inter-hemisféricas
das informações entre as regiões cor-
ticais anteriores, refletindo maior diâ-
metro dos axônios e/ou mielina. Esse
achado sugere que os “altos” têm mais
eficiente transmissão neuronal do que
os baixos.
Para Theodore Barber67 as numerosas
pesquisas levam à conclusão da existência
de três tipos principais de pessoas, que res-
pondem altamente à hipnose: (a) Pessoas
com propensão à fantasia. (b) Pessoas com
propensão à amnésia. c) Pessoas positiva-
mente estabelecidas que estão prontas para
cooperar com o pensamento e com a imagi-
nação no que é sugerido. As pesquisas de
Deirdre Barret,68,69 Steven Lynn e Judith
Rhue70,71 confirmaram a descobertas de
Wilson e Barber72 de que possivelmente 3%
a 4% da população adulta têm história de
fantasia realística e são muito bons pacien-
tes hipnóticos.73,74 Outro grupo quase na
mesma porcentagem anterior de muito bons
pacientes hipnóticos distinguidos por
Barret68,69 inclui os com propensão à am-
nésia para períodos de suas vidas, para even-
tos da infância e amnésia seguindo a hip-
nose. Durante a hipnose estes pacientes
apresentam extrema diminuição do tônus
muscular, e quando saem da hipnose pare-
cem confusos, com dificuldade para falar,
respondem lentamente às perguntas. Outro
grupo de muito bons indivíduos hipnóticos
não pertence aos grupos anteriores, mas nas
escalas de suscetibilidade à hipnótica pas-
sam 85% ou mais das sugestões. Este gru-
po, segundo Barber,74 tem atitudes positi-
vas com relação à hipnose, à situação par-
ticular e a um particular hipnólogo; motiva-
ções positivas para executar as tarefas e as
sugestões propostas; expectativas positivas
que podem ser hipnotizados e experienciar
os efeitos sugeridos; conjunto positivo para
visualizar, pensar e não contradizer as su-
gestões do hipnólogo. Barber aponta qua-
tro fatores que afetam todas as pessoas du-
rante a hipnose, ainda que de diferentes
maneiras, e que podem ser maximizados na
situação hipnótica:67 (1) Fatores sociais que
obrigam as pessoas socializadas a cooperar
e tentar realizar as expectativas do hipnó-
logo e das sugestões explicitas. (2) Habili-
dades únicas do hipnólogo e características
pessoais, incluindo: idéias criativas, capa-
cidade de comunicação, eficácia interpes-
soal, e a natureza do relacionamento inter-
pessoal hipnólogo-indivíduo. (3) Eficácia do
procedimento de indução para guiar o indi-
víduo a pensar com as sugestões. (4) Pro-
fundidade de significação, criatividade e
“força” ou “poder” das idéias sugeridas.
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ALTERAÇÕES QUE PODEM SER
PRODUZIDAS PELA HIPNOSE, E QUE
TAMBÉM PODEM OCORRER COM
SUGESTÕES SEM HIPNOSE
Durante a hipnose em respostas às su-
gestões uma pessoa pode exibir comporta-
mentos que podem ser observados pelos ou-
tros e também pode ter experiências inter-
nas que são percebidas e sentidas por ela.
Contudo, esses comportamentos e essas ex-
periências internas também podem ocorrer
simplesmente com auto ou hetero-sugestões,
sem que a situação seja designada como hip-
nótica.75 O hipnólogo experiente utiliza as
habilidades que as pessoas têm para organi-
zar o padrão de atividade interna do sistema
nervoso seletivamente, ativando ou inibindo
determinados sistemas. Cada uma das mo-
dificações dos sistemas pode ser obtida rápi-
da e intensamente em algumas pessoas, dis-
cretas e lentamente em outras, e mínimas ou
ausentes num tempo razoável em outras.
As palavras podem desencadear imagens
na mente de uma pessoa. Pense um pouco na
sentença: “É carnaval”. A maioria das pes-
soas no Brasil, ao pensar nessa frase (após
um tempo maior ou menor de imaginação),
traz para a consciência alguma imagem rela-
cionada com o carnaval que para ela é ade-
quada. Pode ser a imagem do desfile de uma
escola de samba, da passagem de um trio elé-
trico, de um baile à fantasia ou mesmo de um
retiro espiritual. Agora pense nas frases se-
guintes: “É carnaval. Estou na avenida assis-
tindo ao desfile das Escolas de Samba”. Pro-
vavelmente imagens mais intensas apareçam
na mente. Portanto, as palavras podem de-
sencadear imagens na mente após um pouco
de tempo de concentração nelas. O tempo de
concentração nas frases e a intensidade das
imagens variam com cada pessoa. As pala-
vras podem modificar, desencadear imagens,
podem modificar o estado de contração mus-
cular, de movimento, a percepção através dos
sentidos e da pele das impressões do meio am-
biente, e mesmo despertar sentimentos inter-
nos. Por outro lado, as imagens mentais po-
dem modificar o equilíbrio. É clássico pedir
para uma pessoa com os olhos fechados (dei-
xa de atuar a visão para orientação), em pé e
com os pés juntos (reduzindo a base de sus-
tentação e portanto a posição do centro de
gravidade), imaginar estar num barco que ba-
lança com o movimento das ondas, e ela co-
meçar a balançar para a frente e para trás. O
balanço pode ser acentuado por sugestões
verbais e/ou táteis. As imagens mentais tam-
bém podem desencadear sentimentos ou emo-
ções. Para uma pessoa que já foi atacada por
um cão, o fato de pensar num cão atacando
pode desencadear sentimentos de medo, além
de modificações no sistema nervoso autôno-
mo como sudorese e taquicardia, originadas a
partir do sistema límbico.
Em resumo, na vida cotidiana palavras e/
ou imagens podem modificar as atividades
sensorial, motora, perceptiva, secretória, de
equilíbrio; as experiências internas do indi-
víduo como as emoções, e inclusive os sis-
temas de defesa do organismo, como o
imunológico. Pormeio da hipnose isto pode
ser facilitado em maior ou menor grau para
cada indivíduo em cada atividade, e o tempo
para a obtenção da modificação também é
variável. O estudo de Ruzyla-Smith et al.76
em pacientes altamente suscetíveis e pouco
suscetíveis a hipnose mostrou aumento sig-
nificativo nas células beta e nas células T
apenas nos primeiros, demonstrando que a
hipnose pode modificar os componentes do
sistema imunológico, como também que as
respostas são diferentes em pacientes com
diferentes capacidades hipnóticas.
É difícil apresentar características defini-
das de um paciente durante hipnose: (a) Por-
que a experiência hipnótica é individual, as
manifestações internas e as manifestações
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comportamentais são também individuais. (b)
Porque a hipnose ocorre na vida diária sem
que a situação seja definida como hipnose e
sem que sugestões sejam orientadas. (c)
Porque a sugestionabilidade implica a capa-
cidade de receber o impulso originado e a
capacidade de ideoplastia, e segundo Rossi,77
há pessoas que aceitam as idéias sugeridas,
mas não ocorre ação sobre as funções fisio-
lógicas da pessoa; outras pessoas aceitam
as sugestões lentamente e até resistem. Con-
tudo, pela auto-sugestão pode-se influenciar
processos fisiológicos e patológicos. Para
Rossi o importante seria descobrir uma ma-
neira de avaliar essa comunicação mente-
corpo e inclusive facilitá-la.77
MODIFICAÇÕES QUE PODEM OCORRER
DURANTE A HIPNOSE OU SEM A HIPNOSE
a) Modificações da motricidade voluntá-
ria:
• Relaxamento, hipotonia, paralisia, rigi-
dez
• Movimentos involuntários
• Facilitação da performance
b) Modificações do controle normalmen-
te não voluntário:
• Coração
• Vasos sangüíneos
• Aparelho respiratório
• Sistema digestório
• Bradicardia, taquicardia, alterações da
pressão arterial
• Vasoconstrição e vasodilatação
• Apnéia, hipopnéia, hiperpnéia
• Modificações de secreções, do peristal-
tismo
c) Modificações metabólicas: Modifica-
ções da glicemia, número leucócitos etc.
d) Modificações sistema endócrino: Se-
creção da saliva, transpiração, hormô-
nios etc.
e) Modificações de respostas da pele
f) Modificações do sistema imunológico
g) Modificações da percepção pelos ór-
gãos dos sentidos:
• Visão, audição, tato, olfação, gustação
• Alteração ou distorção das sensibilida-
des — térmica, dolorosa, tátil, epicrítica
barestésica, palestésica
h) Alterações de funções mentais: senso-
percepção (ilusões, alucinações), aten-
ção, memória
i) Modificações de respostas quanto a:
• Ansiedade, assimilação, retenção, re-
cordação, alteração memória da dor
crônica
• Modificação de hábitos: Eliminar o ci-
garro, afastar-se das bebidas alcoólicas,
emagrecer
• Poder de dessensibilizar fobias, desen-
volver a capacidade criativa
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CAP˝TULO 4 65
CAP˝TULOCAP˝TULO
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Comunicaçªo Sugestiva —
Tipos de Sugestıes
SUGESTÃO
A palavra sugestão em literatura psiquiá-
trica se aplica com dois sentidos: “se usa
para indicar una idea que se ofrece al en-
fermo y que éste há de aceptar sin crítica.
[...] Se usa también a palavra sugestión para
significar el proceso que determina la
aceptación sin crítica de la idea ofrecida”1
(p.7).* Sugestão é “a mensagem de alguma
fonte interna ou externa, a indicar o que se
deve fazer ou como as coisas devem ser fei-
tas; o que é certo, o que é errado. É uma
mensagem que nos ajuda a nos condicionar-
mos”2 (p. 16). A sugestão é “un proceso de
comumicatión y aceptación total de una idea
lo que determina una modificación psicoplá-
sica del sujeto, o sea, una modificacíon psi-
cosomática global con localizaciones cor-
porales específicas más acentuadas según
la idea sugerida y aceptada, pudiendo in-
cluir la falta de bases lógicas para su de-
sarrollo”3 (p. 31).** “A suggestion is a
communication indicating that na individual
will experience a particular response” (p.
101).*** Segundo Kirsch4 sugestão é um tipo
particular de estímulo que comunica infor-
mação que uma resposta não volitiva ocor-
rerá, e a sugestão continua sendo sugestão
mesmo que o indivíduo não responda a ela.
O significado contextualizado determinado
da comunicação e a sua resposta não volitiva
diferenciam a sugestão de uma orientação
ou de um comando.
*A palavra sugestão em literatura psiquiátrica se apli-
ca em dois sentidos: “se usa para indicar uma idéia
que se oferece ao paciente que ele há de aceitar sem
crítica; [...] Se usa também a palavra sugestão para
significar o processo que determina a aceitação sem
crítica da idéia oferecida.” (Tradução do autor.)
**Sugestão é “um processo de comunicação e aceita-
ção total de uma idéia, o que determina uma modifica-
ção psicoplásica do indivíduo, ou seja, uma modifica-
ção psicossomática global, com localizações corpo-
rais específicas, mais acentuadas segundo a idéia
sugerida e aceita, podendo incluir a falta de bases ló-
gicas para o seu desenvolvimento”3. (Tradução do au-
tor.)
***“Uma sugestão é uma comunicação indicando que
um indivíduo terá a experiência de uma resposta parti-
cular”. (Tradução do autor.)
66 CAP˝TULO 4
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As sugestões são freqüentemente trans-
mitidas para criar modificações desejadas.
As sugestões verbais passam diretamente
pelo sistema nervoso, e por mecanismos des-
conhecidos, criam modificações no funcio-
namento do organismo, nas experiências in-
ternas e no comportamento. A sugestão é
mais bem compreendida pelos exemplos prá-
ticos da vida cotidiana. Analise como você
se sente ou reage às seguintes afirmações:
Você está pálida hoje!
Você está muito elegante.
Como você está elegante!
Como você emagreceu!
Você está esbelta!
Você está atrasada!
A sua camisa está manchada!
Você está perdendo a barriga para fora
das calças.
Fulano de tal ganhou a mega-sena sozi-
nho.
Seu vizinho ganhou sozinho na loteria.
Você entra no consultório, o médico diz:
”Não fique em pé”.
Você entra no consultório, o médico diz:
”Sente-se”.
Seus cabelos estão ficando brancos?
O seu cinto não combina com o seu ves-
tido.
Você está na platéia num teatro e come-
çam a bater palmas.
Você está na platéia num teatro e uma pes-
soa boceja.
Você está na platéia num teatro e uma pes-
soa tosse.
No campo de futebol uma pessoa ao seu
lado, torcendo para o seu time, vaia o árbi-
tro.
Numa tarde quente de verão o sorveteiro
destaca o nome do seu sorvete favorito.
Você está passando em frente uma confei-
taria e sente o cheiro do seu doce favorito.
Você está num baile e escuta o som da
sua música preferida.
O governo anuncia o aumento da gasoli-
na em 10% no próximo sábado.
Alguns Aspectos da Sugestão
Observados por Coue5
(a) Quando a atenção está concentrada
numa idéia, essa idéia tende a realizar-se.
(b) Quando a vontade e a imaginação são
antagônicas, a imaginação sempre vence,
sem exceção. No conflito entre a vontade e
a imaginação, a força da imaginação está
na razão direta do quadrado da vontade.
Quando a vontade e a imaginação estão em
harmonia, uma é multiplicada pela outra. E
quando há divergência entre a imaginação
e a razão, a imaginação vence. Num impac-
to entre a vontade e a imaginação, a vence-
dora sempre é a imaginação. Imagine um
meio-fio na calçada com uns 25cm de lar-
gura, sobre o qual pode-se facilmente an-
dar. Agora imagine o mesmo meio-fio a 50
metros de altura entre dois edifícios. O sim-
ples fato de imaginar que vamos cair, faz a
gente cair, apesar da vontade fortíssima de
andar sobre o meio-fio entre dois prédios.
O valor categórico da imaginação é expres-
so na seguinte frase “a imaginação contro-
la o mundo”, atribuída a Napoleão I. Após
os atentados terroristas aos prédios do
World Trade Center, na manhã de 11 de se-
tembro de 2001 em Nova Iorque, as pes-
soas ficaram deprimidas com a tragédia, e
muitas desenvolveram ansiedade pela ex-
pectativa de que alguma coisa terrível acon-
teceria com elas.
(c) Uma sugestão ligada a uma emoção
supera qualquer outra sugestão que no mo-
mento exista na mente. É a chamada lei do
efeito dominante. Uma sugestão associada a
uma emoção mais forte tende a superar uma
sugestão associada a uma emoção mais fra-
ca. Uma idéia associada a uma fortíssima
CAP˝TULO 4 67
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emoção como amor, ódio ou raiva geralmente
não pode ser modificada pelo uso da razão.
(d) Quanto mais fortemente me determi-
no não fazer alguma coisa, mais facilmente
a faço. É o tal exemplo: Proponho-me a não
fumar e logo estarei fumando.
(e) A Imaginação pode ser dirigida.
Inicialmente a sugestão pode ser origina-
da no próprio indivíduo ou no próprio paci-
ente, é a auto-sugestão, ou pode partir do
médico, odontólogo, psicólogo, de outro in-
divíduo, ou mesmo do meio ambiente, é a
heterossugestão.
SUGESTIONABILIDADE
Sugestionabilidade é o grau que um indi-
víduo é inclinado em direção à aceitação sem
crítica de idéias e proposições. Ou seja, a
medida da extensão que um indivíduo reage
ao que lhe é dito, sem o emprego das facul-
dades críticas. A sugestionabilidade de uma
pessoa não é constante, podendo variar se-
gundo a mesma sugestão venha do especia-
lista A ou do especialista B. Além disso, a
sugestionabilidade de um indivíduo pode
variar para uma mesma sugestão formulada
pelo mesmo especialista hoje, daqui a dois
dias, em uma semana ou um mês. E, ainda,
poderá ser diferente para uma idéia transmi-
tida sob a forma de uma sugestão direta em
relação a mesma idéia transmitida sob a for-
ma de uma sugestão indireta. A sugestiona-
bilidade é o produto das forças dinâmicas
da personalidade de um indivíduo. A suges-
tionabilidade varia com as expectativas do
paciente no momento, com a situação, com
o rapport com o especialista, com a habili-
dade do especialista em perceber e aumen-
tar as expectativas do paciente pela comuni-
cação verbal, extraverbal e não-verbal, e pro-
vavelmente com talentos intrínsecos que al-
gumas pessoas desenvolvem.
SUSCETIBILIDADE À HIPNOSE
(HIPNOTIZABILIDADE)
Suscetibilidade à hipnose ou hipnotizabili-
dade ou habilidade hipnóticaou receptividade
à hipnose seria a avaliação da capacidade
de hipnotizarão de uma pessoa, ou a exten-
são com que uma pessoa experiencia a hip-
nose. Alguns estudiosos consideram o pata-
mar de suscetibilidade à hipnose como uma
característica genética. Não se sabe se cada
pessoa nasce com um determinado patamar
de suscetibilidade, ou se esse patamar é for-
mado pela aprendizagem e socialização do
indivíduo. Os defensores da existência de
uma característica de suscetibilidade hipnó-
tica nas pessoas consideram que essa carac-
terística permanece relativamente estável
durante a vida, para tentativas de indução
com metodologias iguais ou similares.6 A
suscetibilidade hipnótica tem uma pequena
correlação (0.30) com o envolvimento ima-
ginativo de uma pessoa.7 A maneira como
uma pessoa responde a uma situação hipnó-
tica depende de diferenças de processamento
cognitivo,8 interagindo com fatores sociais,
como atitudes, crenças e expectativas da pes-
soa com relação à situação hipnótica.9 Para
alguns pesquisadores,10 a suscetibilidade hip-
nótica pesquisada pela Harvard Group Scale
of Hypnotic Suscetibility (HGSHS)11 está re-
lacionada com o horário do dia, havendo dois
picos, um maior em torno do meio-dia e ou-
tro em torno das 17 às 18 horas.
Existe uma relação consistente entre
suscetibilidade hipnótica e maior atividade
teta no EEG dos indivíduos altamente sus-
cetíveis12 sugerindo mais conexões frontais
para as regiões posteriores. Outros achados
da mesma equipe12 mostram que os indiví-
duos altamente suscetíveis apresentam um
padrão de EEG espacialmente mais consis-
tente com processos imaginativos, enquanto
nos indivíduos pouco suscetíveis, os acha-
68 CAP˝TULO 4
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dos são mais consistentes com atividade
cognitiva. Para outros, a suscetibilidade à
hipnose está de certa forma associada a um
adequado rapport entre o hipnólogo e o pa-
ciente, a capacidade de imaginação do paci-
ente e a capacidade de monoideísmo do pa-
ciente, isto é, a capacidade de manter a aten-
ção concentrada numa idéia.
As pessoas que passam na maioria dos
exercícios dos testes de suscetibilidade hip-
nótica são consideradas altamente suscetí-
veis ou “altos”, e as que respondem apenas
a alguns dos exercícios, são considerados
poucos suscetíveis ou “baixos”. A tendên-
cia atual é considerar todas as pessoas como
hipnotizáveis, independentemente das suas
idades, mesmo porque a hipnose ocorre na
vida diária das pessoas. Mesmo os pacien-
tes psicóticos são hipnotizáveis desde que
se tenha experiência e habilidade. Eu consi-
dero impossível hipnotizar diretamente um
paciente com demência, tipo doença de Alz-
heimer no estádio avançado, quando muitos
neurônios cerebrais deixam de funcionar.
FATORES DA RELAÇÃO ESPECIALISTA-
PACIENTE INFLUENCIANDO AS SUGESTÕES
E AS RESPOSTAS ÀS SUGESTÕES
Comunicação Adequada com o Paciente
Quando o paciente entra no consultório
do especialista, este o cumprimenta com o
aperto de mãos, que dura apenas dois segun-
dos, sem espremer a mão do paciente, e du-
rante esse tempo mantém-se o contato visual
com o paciente. A mão do profissional deve
estar seca, aquecida e lisa. A mão e o braço
esquerdo ficam afastados do cumprimento.
O hipnólogo transmite uma sugestão que
deve ser compreendida pelo paciente do
modo como o hipnólogo deseja. O paciente
interpreta a sugestão de acordo com suas
crenças, seus pensamentos e hábitos de
ação. É fundamental que a comunicação
entre o hipnólogo e o paciente seja adequa-
da, e para isso a observação do paciente e a
história clínica são de essencial importân-
cia. Os meios de comunicação do especia-
lista, especialmente a linguagem, as frases,
os vocábulos, o significado implícito na in-
tensidade, velocidade, pausas e na entona-
ção da voz, como também os gestos e a ex-
pressão corporal, precisam ser entendidos
pelo paciente do modo como o especialista
deseja. Cada pessoa cria e utiliza sua pró-
pria experiência individual para associar um
significado a uma palavra. O especialista
deve ser afirmativo, claro e definido, sem
deixar espaço para interpretações errôneas.
Desse modo o profissional alcança o hemis-
fério cerebral esquerdo do paciente. Mui-
tas vezes fazemos algumas perguntas para
melhor avaliar os gostos e as preferências
do paciente, e para avaliar como ele reage
com suas experiências internas frente aos
episódios de alegria, felicidade, tristeza ou
durante a manifestação clínica de um sinal
ou sintoma.
Aparência Adequada do Profissional
A aparência correta do hipnólogo faci-
lita a aceitação das formulações sugesti-
vas pelo paciente, porque a imensa maio-
ria dos pacientes tem a expectativa de en-
contrar o profissional com aparência cor-
reta e adequadamente vestido. Imagine que
você está num aeroporto, passando pelo
túnel que o conduz ao avião, e à porta do
mesmo você vê o comandante sem camisa
e de bermuda. Qual a sua confiança para
entrar no avião e voar com esse coman-
dante? A profissional do sexo feminino
pode estar trajada de branco ou com uma
vestimenta adequada e sobre a qual veste
um avental branco. O profissional do sexo
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masculino pode estar vestido com camisa,
calça e sapatos brancos ou com uma vesti-
menta adequada, sobre a qual veste um
avental branco. Se preferir a cor do aven-
tal pode ser em tonalidades pastel de azul
ou verde. Além disso, o hipnólogo precisa
estar com as unhas limpas e aparadas, o
cabelo penteado, barba feita ou em caso
de ter barba ela deve estar corretamente
ajeitada. A hipnóloga por seu lado precisa
estar penteada, com as unhas bem-feitas,
sem excesso de maquiagem e usando sa-
patos com ou sem salto alto.
Relação Afetiva Adequada
A adequada relação afetiva se inicia e se
mantém com o desenvolvimento da confi-
ança mútua. A maioria das vezes aceitamos
sem crítica idéias vindas de amigos. Idéias
vindas de nossos pais podem ou não ser acei-
tas dependendo da relação de amor existen-
te e do momento. O manejo correto da
afetividade do paciente facilita a aceitação
das sugestões.
Expectativa
A expectativa positiva em que o pacien-
te se encontra ao procurar assistência do
odontólogo, psicólogo ou médico, facilita
a aceitação das sugestões; a expectativa ne-
gativa dificulta. É importante criar a expec-
tativa daquilo que o paciente tenha interes-
se em experienciar. Antes de iniciar o tra-
tamento deve-se fazer o paciente sentir a
idéia de sucesso e de êxito do tratamento,
porque o que é esperado tende a ser reali-
zado. A expectativa pode ser um deter-
minante da capacidade hipnótica (susce-
tibilidade hipnótica) das pessoas. Exemplo:
concentre a sua atenção nos seus dedos da
mão direita e sinta a sensação de formiga-
mento que pode ocorrer.
Prestígio
A maioria das pessoas aceita com mais
facilidade as sugestões provenientes de pessoas
que possuem algum prestígio. Isso depende
mais de fatores emocionais do que da valori-
zação lógica do conhecimento do especialista.
Essas pessoas têm a expectativa que o prestí-
gio (conhecimento) do profissional facilitará a
obtenção do resultado desejado. Por outro lado,
algumas poucas pessoas reagem na defensi-
va quando estão diante de qualquer pessoa
que tenha prestígio, dificultando a aceitação
das sugestões. Estas são pessoas que detes-
tam manifestações de autoridade e poder.
Repetição das Sugestões
As sugestões repetidas de relaxamento e
de sono tendem a produzir respostas às su-
gestões-testes, não porque elas produzam re-
laxamento ou um “estado especial” (“transe
hipnótico”), mas porque elas definem a situa-
ção para o paciente como “verdadeira hip-
nose”, como uma situação na qual altas res-
postas às sugestões são desejadas e espera-
das e nas quais eles devem tentar pensar e
imaginar com os temas que são sugeridos.13
Quando uma pessoaestá acordada, a repeti-
ção também é um modo de alcançar o sub-
consciente. As repetições das sugestões sur-
tem efeitos, como se observa nas propagan-
das de produtos na televisão, que são repeti-
das várias vezes em curto intervalo de tem-
po, para que a repetição alcance o mesmo
telespectador enquanto está assistindo a um
programa. Durante a hipnose, alcança-se e
modifica-se mais facilmente o subconscien-
te com a repetição.
70 CAP˝TULO 4
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INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE SOBRE
A ACEITAÇÃO DAS SUGESTÕES
Luminosidade
Embora não exista estudo controlado rela-
cionando apenas a variável luminosidade
com a hipnose, considera-se que uma inten-
sidade luminosidade suave favorece a indu-
ção, pela redução da percepção dos estímulos
externos. Muitas vezes é suficiente fechar a
cortina ou a persiana. O controle da intensi-
dade da luz nos interruptores permite deixar
um ambiente com intensidade luminosa ade-
quada. As paredes do consultório pintadas
de azul ou verde favorecem a indução por-
que acalma e agrada os pacientes em geral.
Evite que o reflexo da luz do sol ou de uma
lâmpada alcance o rosto do paciente.
Temperatura
Não há estudo controlado para se saber
qual a temperatura ideal num ambiente, para
melhor favorecer a hipnose. Contudo, a ex-
periência com a hipnose e o bom senso indi-
cam que a constância da temperatura em tor-
no de 21 graus centígrados usualmente favo-
rece a indução. Uma corrente de ar frio pode
alterar o senso crítico do paciente, e, conse-
qüentemente, deve-se tomar cuidado com cor-
rentes de ar vindas de janelas abertas, portas,
ventiladores e aparelhos ou sistemas de ar-
condicionado. Lembrar que a temperatura
adequada do consultório para determinado
paciente pode estar acima ou abaixo da tem-
peratura ideal de 21 graus centígrados.
Sons, Vozes, Música e Ruídos
O ambiente pode permanecer silencioso,
ouvindo-se apenas a voz do hipnólogo. Há
vários discos compactos (CD) no mercado
especialmente preparados para induzir on-
das teta, facilitadoras das imaginações,14 ou-
tros para induzir ondas delta que facilitam o
adormecimento15,16 e outros para reduzir a
porcentagem de atividade beta, aumentar a
porcentagem de ritmo alfa, e mesmo induzir
o aparecimento de ritmo alfa próximo de 8Hz,
que facilita o relaxamento muscular.17 Esses
CDs podem ser tocados como som de fun-
do, coadjuvantes ao tratamento. Além da
música, pode-se utilizar alguns sons especi-
ais, repetidos, como o tiquetaque de um reló-
gio, o som de um metrônomo, sons de
batimentos cardíacos, sons do mar, sons das
marés. Por outro lado, é desejável desligar o
telefone, celular, fax e a campainha. Periodi-
camente verificar seu sistema de som para
avaliar a quantidade de ruído que está sendo
transmitida ao paciente junto com o som de
fundo.
O barulho de crianças brincando na cal-
çada pode ser minorado conversando direta-
mente com os responsáveis pelas crianças
para que elas reduzam o barulho durante o
período de consultas. Lembro-me de um car-
rinho de ambulante que vendia churros. O
carrinho costumava parar em frente ao con-
sultório e seu alto-falante anunciava os
churros em voz altíssima. Cada vez que isso
ocorria, eu ia pessoalmente solicitar ao am-
bulante para reduzir o volume do som. Ou-
tras vezes, era o vendedor de abacaxi que
passava anunciando o seu produto: “Abaca-
xi doce, bom e baratinho”. O recurso era in-
corporar essa frase no curso da hipnose. Eu
costumava dizer ao ouvir a frase: abacaxi,
doce, bom e baratinho, você imediatamente
se relaxará ainda mais e todos os músculos
do seu corpo se relaxam mais e mais. O ba-
rulho da água da chuva pode ser incorpora-
do nas sugestões tanto durante a indução,
como durante a fase das sugestões terapêu-
ticas. Exemplos: enquanto você escuta o ba-
rulho da chuva, seus músculos se relaxam
ainda mais. À medida que você ouve o baru-
lho da chuva caindo, ela vai removendo do
CAP˝TULO 4 71
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seu corpo as tensões, as preocupações e os
ressentimentos. Quando os ruídos eram
repetitivos, como o de britadeiras abrindo o
asfalto, ou devido a uma serra ou bate-esta-
cas numa construção próxima, a opção é in-
corporar esse ruído na formulação sugesti-
va. Alguns ruídos que aparecem subitamen-
te como o som da sirene de uma ambulância
passando ou da buzina de um carro, também
podem ser englobados na fraseologia suges-
tiva relacionada com o contexto do momen-
to. Exemplo: “agora, ouvindo este som da am-
bulância passando, ela está levando junto a
sensação dolorosa. O som da ambulância
leva a sensação dolorosa e você fica ainda
mais relaxado, calmo e tranqüilo. Este som
da buzina contribui para elevar a sua per-
cepção do que você deseja obter na vida”.
Um consultório instalado próximo ao aero-
porto ou sob a rota de aeronaves, pode so-
frer periodicamente o barulho dos aviões.
Neste caso incorporar o barulho da passa-
gem do avião à fraseologia que estiver sen-
do comunicada ao paciente naquele momen-
to. Exemplo: À medida que você ouve o ba-
rulho do avião passando no céu, você vai
sentindo que o avião vai carregando seu de-
sejo de fumar para muito longe e você vai
ficando ainda mais calmo e tranqüilo. Num
sábado, um vizinho inventou de lavar o car-
ro deixando o som em altíssimo volume.
Neste caso pedi para a secretária explicar que
estava atendendo um paciente e que ficaria
extremamente grato se ele reduzisse o volu-
me do som. Fomos atendidos. Certa vez o
consultório situava-se adjacente à sala de es-
pera, repleta de crianças falando em voz alta
e produzindo ruídos usuais para as suas ida-
des. Nessa situação acrescentamos o som
produzido pelas crianças na nossa fraseo-
logia desse modo: “agora, você ouve vozes,
vozes e ruídos. Podem ser vozes de crian-
ças. Agora você ouve melhor as vozes, você
vai percebendo cada vez mais claramente os
sons e à medida que percebe os sons, os mús-
culos do seu corpo vão se relaxando. Você
ouve cada vez mais as vozes e os músculos
do seu corpo se relaxam cada vez mais”.
Muitos sons e ruídos eventualmente po-
dem ocorrer subitamente dentro da clínica ou
do consultório, como o bater de portas, o ruí-
do de uma porta ao ser aberta ou fechada, um
objeto que cai no assoalho, o som elevado do
comunicador interno, os gritos súbitos de uma
criança na sala espera, som da TV ligada na
sala de espera que abruptamente aumenta
muito o volume, a gargalhada de um paciente
na recepção. Acho adequado validar esse sons
e ruídos para o paciente notar que estamos
atentos a tudo o que ocorre. Eu costumo fazer
isso incorporando o barulho na fraseologia
sugestiva que estou transmitindo ao paciente
naquele momento. Uma solução, nem sem-
pre possível para alguns ruídos, seria revestir
a sala de consultas com material isolante acús-
tico, de tal modo a atenuar ou impedir a en-
trada de sons. Essa solução geralmente pou-
co funciona no caso de latido de cães. Outras
opções são sugerir que os ruídos internos ou
externos não perturbam o paciente. (a) Você
pode escutar os ruídos externos... e agora es-
cutar os ruídos de dentro do consultório... Es-
tes ruídos ocorrem e desaparecem possivel-
mente durante a consulta e você pode esco-
lher deixá-los vir para a sua mente e preferir
ignorá-los... Você provavelmente notará como
esses ruídos e o som da minha voz se torna-
rão mais suaves ou mais fortes. Isso é usual e
indicará que você está em hipnose. (b) Já não
há ruído capaz de perturbá-lo, porque você
só se interessa pela minha voz. Os ruídos ex-
ternos parecem que vêm de longe, muito lon-
ge, cada vez mais longe. E você só se interes-
sa pela minha voz, você só ouve a minha voz.
Perfumes Agradáveis
Os pacientes quando estão preparados para
a reprogramação mental apresentam hipersen-
72 CAP˝TULO 4
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sibilidadede seus sentidos, e muitos odores que,
inicialmente, não os incomodavam, passam a
irritá-los. É aconselhável o hipnólogo não es-
tar com cheiro de cigarro, charuto, alho, cebo-
la, suor, bebidas alcoólicas. Contudo, para uma
paciente confeiteira que estivesse habituada e
gostasse do cheiro de salgadinhos, esse odor
no consultório do especialista poderia ser faci-
litador da hipnose. Os perfumes podem facili-
tar a aceitação das sugestões desde que não
tenham para o paciente um significado oposto
ao que supomos. É preferível durante a histó-
ria clínica procurar saber quais os perfumes
que o paciente aprecia e descobrir quais as as-
sociações mentais que o paciente faz com este
ou com aquele perfume. O perfume de sândalo
parece ter propriedades calmantes e tranqüi-
lizadoras para muitas pessoas. Recentemente
estão criando um perfume com o cheiro ma-
terno, com propriedades calmantes.
Posição Confortável para o Paciente
Durante o tratamento o paciente pode fi-
car numa poltrona reclinável, num divã ou na
maca de exames. Evitar chaves, moedas, car-
teiras muito volumosas nos bolsos que pos-
sam incomodar durante o tratamento. Pedir
para o paciente descartar uma goma de mas-
car ou bala, retirar os óculos, às vezes as len-
tes de contato, brincos apertados e adornos
para o cabelo que possam desconfortá-lo.
Além disso, solicitar para afrouxar o nó da
gravata, algumas vezes descalçar os sapatos
(oferecer-lhe chinelos), e solicitar para esva-
ziar a bexiga. Preferimos que a alimentação
do paciente tenha sido usual. Pedimos para
evitar antes da consulta uma churrascada, fei-
joada, vatapá ou sarapatel. Para alguns paci-
entes a simples posição em decúbito dorsal
facilita o adormecimento. Para eles escolhe-
mos que fiquem sentados numa cadeira ou
poltrona com o encosto na posição vertical.
Decoração do Consultório
A decoração deve ser a mais agradável
possível, com o mínimo de objetos. Alguns
aspectos da decoração que para a maioria das
pessoas são agradáveis, particularmente para
algumas pessoas podem desencadear asso-
ciações adversas. Lembrar que os bichos de
pano ou de material sintético em forma de
cães, gatos, ursos, tigres, eventualmente po-
dem desencadear reações desagradáveis em
determinados pacientes. Para outros pacien-
tes até quadros antigos, vasos com certas flo-
res podem causar reações desagradáveis. Isso
funcionária do mesmo modo com o charuto
deixado pelo paciente anterior, que poderá
causar aversão para o próximo paciente que
detesta o fumo, ou pode ser muito agradável
se o paciente seguinte for um fumante da
mesma marca de charutos.
CLASSIFICAÇÃO DAS SUGESTÕES
Há várias modos de classificar as suges-
tões. É difícil que uma pessoa esteja sob a
influência de um só tipo de sugestão. Didati-
camente consideram-se as sugestões quanto
à relação especialista-meio ambiente-pacien-
te, quanto ao conteúdo das formulações, quan-
to ao modo de formulação das sugestões e
quanto ao aspecto das respostas (ver tabelas).
COMENTÁRIOS SOBRE OS TIPOS DE
SUGESTÕES
Sugestão Sensorial
Quando agimos com qualquer dos nos-
sos analisadores ou com qualquer substân-
cia ou vibração sobre um ou vários anali-
sadores do paciente. A sugestão sensorial
pode ser direta ou indireta e pode ser apre-
sentada de vários modos.
CAP˝TULO 4 73
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Sugestão Sensorial Direta
Quando são sugestões que são diretas e
objetivamente transmitidas para a obtenção
de uma resposta clara e definida. Usualmen-
te o paciente responde com uma ação ade-
quada, mas involuntária. São exemplos de
sugestões diretas: “A cada respiração os
músculos do seu corpo se relaxam ainda
mais”.
As vantagens das sugestões diretas são:18
(1) Estar diretamente relacionadas com o
que interessa no momento, reduzindo pre-
ocupações conscientes do paciente à habi-
lidade do médico de tratar com as suas quei-
xas. (2) Manter bem definidos os objetivos
do paciente. (3) O envolvimento direto do
paciente de modo ativo. (4) Servir de mo-
delo para a resolução de qualquer proble-
ma futuro.
74 CAP˝TULO 4
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sugeridas. Desse modo inicialmente trans-
mitem-se sugestões para anular o criticismo
e a seguir formulam-se sugestões diretas
sobre um ponto específico. (d) As reações
críticas podem ser antecipadas, originando
reações emocionais no paciente, fazendo-o
lembrar-se das circunstâncias que estão re-
lacionadas com a reação emocional e fazen-
do então a sugestão quando o paciente está
ocupado com as suas recordações, de modo
que uma crítica à sugestão sugerida fica ex-
cluída. (e) O médico é altamente conceitua-
do pelo paciente, as reações críticas podem
ser reduzidas ou desaparecer. (2) Depende-
rem da confiança na vontade consciente do
paciente, fazendo menos uso da mente sub-
consciente. São exemplos de sugestões di-
retas: “Seu braço esquerdo e a sua mão es-
querda estão leves e começam a se elevar”.
Isso não é um convite para levantar o braço.
Se o paciente deliberadamente levantar o
braço, como ele faria se fosse dito para le-
vantar o braço, ele estará violando um en-
tendimento de que a elevação do braço de-
veria ser “involuntária”. Isso então seria
meramente um comportamento social coo-
perativo.
Quando falhar uma sugestão, procure
analisar o que falhou: (1) Quando a atenção
do paciente mantém-se concentrada numa
idéia, essa idéia tende ser realizada. O pa-
ciente deixou de concentrar-se na idéia
sugerida? (2) Quando a mente consciente do
paciente raciocina que gostaria de respon-
der às idéias sugeridas, mas ele não pode.
Quanto mais ele tenta, mais difícil fica. O
paciente apresentou esse tipo de ação? (3)
As emoções fortes tendem a substituir as
emoções fracas. O paciente apresentou al-
guma emoção fortíssima que superou a
sugerida? (4) Houve erro de comunicação?
O paciente realmente estava visualizando e
imaginado o conteúdo das sugestões apre-
sentadas?
As desvantagens das sugestões diretas in-
cluem:18 (1) Mais facilmente podem desen-
cadear resistência, porque estão mais sujei-
tas ao senso crítico do paciente. Quando di-
zemos: “Feche os olhos e imagine uma fatia
de limão dentro da sua boca... sinta o gos-
to... você começa a salivar”. Caso o pacien-
te criticamente se conscientizar de que não
existe nenhuma rodela de limão, e se
visualiza num domingo deitado na areia da
praia de Copacabana, dificilmente sentirá o
gosto de limão e dificilmente ocorrerá a
salivação dentro de sua boca. Quando o pa-
ciente deixa de ser crítico e permite a sua
imaginação permanecer ocupada com a ro-
dela de limão dentro de sua boca, em poucos
segundos ou minutos ele começa a sentir o
gosto do limão e sua boca se enche de sa-
liva. Contudo, mesmo com sugestões dire-
tas pode-se reduzir o juízo crítico do paciente
quando:19 (a) Criamos uma fraseologia de
conformidade com as crenças, com os há-
bitos de ação e pensamentos do paciente.
(b) A sugestão direta for tão inesperada e
rara que o paciente não cria qualquer asso-
ciação crítica com experiências passadas.
(c) Consegue-se antecipar à reação crítica,
fornecendo uma base lógica para as idéias
CAP˝TULO 4 75
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Sugestão Habitual ou Comum ou Ordinária
Hilgard20 faz a distinção entre sugestão
direta e sugestão ordinary. A sugestão habi-
tual é a que leva a um movimento voluntário
e deliberado do paciente, quando ele está
cooperando. Portanto, a sugestão habitual,
comum ou ordinária é uma resposta volun-
tária e não-involuntária. Quando se diz ao
paciente: “Feche os seus olhos”, isso é um
convite para o paciente fechar os olhos. Se o
paciente fecha os olhos, ele faz um movi-
mento voluntário. Mais alguns exemplos de
sugestão habitual: “Por favor, feche os olhos.
Feche os olhos para melhor se concentrar
no que vou lhe dizer”.
Sugestão Sensorial IndiretaSão sugestões transmitidas ao paciente de
modo indireto e sutil, geralmente não relacio-
nadas com a experiência do paciente, e ne-
cessitando da interpretação dele. São suges-
tões que, além de atingirem a mente consci-
ente do paciente, alcançam principalmente a
mente subconsciente, associando-as com a
dinâmica das experiências internas do paci-
ente. São sugestões transmitidas para obter
respostas, sem dizer ou pedir para o paciente
fazer isto ou aquilo. São exemplos de suges-
tões indiretas: “As pessoas obtêm melhor con-
centração com os olhos fechados. Muitos dos
meus pacientes gostam de sentar na cadeira e
fechar os olhos. Você prefere entrar em hip-
nose com os olhos abertos ou fechados?” A
recepcionista do médico diz para o médico
na presença do próximo paciente: “O pacien-
te anterior ainda está muito relaxado ou aquela
senhora emagreceu uns dez quilos”. A suges-
tão indireta muitas vezes é não-verbal, como
quando o médico ajusta o lençol sobre o pa-
ciente, sugerindo indiretamente que é momen-
to de relaxar e dormir.
A resistência do paciente, geralmente, é
menor com as sugestões indiretas, mas as op-
ções de respostas são maiores. É mais difícil
criar as sugestões indiretas apropriadas a um
contexto específico.
As desvantagens da sugestões indiretas
incluem:18 (1) Podem causar ansiedade ou
medo porque o paciente pode achar que o
especialista é incapaz ou não está querendo
se envolver diretamente com o problema. (2) A
resposta subconsciente pode permitir ao pa-
ciente resolver o problema, mas pode
deixá-lo conscientemente querendo saber
como a mudança ocorreu.
As comparações entre as sugestões dire-
tas e as indiretas usualmente ocorrem no que
76 CAP˝TULO 4
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diz respeito à estrutura da linguagem, mas há
muito mais implicações além das relacionadas
com as fraseologias (ver Tabela 4.6). As su-
gestões verbais diretas ocorrem sempre num
determinado contexto. Esse contexto está re-
pleto de sugestões indiretas decorrentes das
cores, harmonia, estado de limpeza, aromas, con-
dições do consultório, incluindo estilo, qualida-
de e disposição dos móveis e decoração, da
sala de recepção, do modo como o paciente é
recebido pela recepcionista e depois pelo espe-
cialista. Além disso, as estações do ano, um
feriado próximo, hora da consulta, condições
do tempo no momento da consulta, pessoas en-
contradas próximas ao consultório, cidade do
consultório e localização na cidade podem in-
fluenciar na receptividade do paciente à lingua-
gem sugestiva verbal direta do hipnólogo. E
considerar muito no hipnólogo, a sua idade,
sexo, aparência, expressão facial, a fisionomia
sua expressão corporal, o tom, velocidade, tim-
bre e volume como são pronunciadas as pala-
vras, e tempo do melhor momento para ser dita
cada frase. Simplesmente a sugestão verbal
direta está sendo transmitida num contexto de
sugestões indiretas. Até a guerra mostrada pela
televisão pode influenciar à resposta de deter-
minadas pessoas às sugestões.
Sugestão Sensorial Sonora
Quando utilizamos um som. Esse som
sendo a voz, a sugestão pode ser sugestão
sonora verbal direta, verbal indireta ou extra-
verbal.
Sugestão Sonora Extraverbal
É a sugestão transmitida ao paciente nas
entrelinhas das frases, das palavras, dos
gestos ou dos toques. A idéia contida na
comunicação extraverbal é transmitida ao
paciente mais do que expressada.1 A for-
mulação de sugestões extraverbais requer
muita habilidade do médico, odontólogo
ou psicólogo, e, por outro lado, o efeito da
aceitação dessas sugestões é menor que o
efeito das aceitação de uma sugestão ver-
bal. A sugestão extraverbal ajuda a esta-
belecer um relacionamento positivo com
o paciente e ajuda a tranqüilizá-lo. Assim,
quando dizemos: “Hoje é um belo dia ou
hoje é um ótimo dia!” pode significar para
o paciente que hoje seus problemas são re-
solvidos; pode significar que um hipnólogo
feliz com a vida está apto para auxiliá-lo.
A sugestão extraverbal reduz a crítica ló-
gica e deve ser empregada especialmente
com pacientes críticos, matemáticos ou ló-
gicos. Contudo, a significação da suges-
tão extraverbal é determinada exclusiva-
mente pelo paciente, e se ele deixar de
aceitá-la o tratamento cursa sem prejuízo
porque o significado dessas sugestões é
amplíssimo. Há ainda a probabilidade de
se apresentar uma determinada sugestão
extraverbal inconveniente para um deter-
minado paciente, num determinado mo-
mento. Quando fazemos uma sugestão
extraverbal é difícil ter em consideração
todos os possíveis sentidos implícitos. Por
exemplo, quando o médico diz: “Você está
relaxado”, o paciente pode interpretar
como se ele estivesse relaxado no vestir,
em suas atitudes, com a maquiagem mal-
feita ou com o cabelo despenteado. De
outro modo, quando no início da consulta
reduzimos a luminosidade da sala, isso
pode ser traduzido como a seguinte suges-
tão extraverbal: “Vamos entrar em hipno-
se”. Ao finalizarmos a consulta, aumenta-
mos o tom da voz e aumentamos a lumino-
sidade da sala, sugerindo extraverbalmente
que é o momento do término da consulta,
o momento de o paciente sair da hipnose.
CAP˝TULO 4 77
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Fonação Extraverbal
Geralmente são sugestões produzidas pela
voz do profissional, como sons, sem o enun-
ciado de palavras ou frases. Esses sons trans-
mitem emoções ao paciente. A fonação não-
verbal deve ser utilizada no momento adequa-
do, com naturalidade e sutileza. É uma respi-
ração mais profunda que o médico faz para
induzir o paciente a fazer uma respiração mais
lenta e profunda. É um bocejo que o psicólo-
go faz sugerindo que o paciente está saindo
da hipnose. É um sorriso do especialista aqui-
escendo com a resposta do paciente.
Sugestão Sensorial Sonora Não-verbal
Quando o som não é o da voz humana, e
sim qualquer outro som. Exemplos de suges-
tão sonora influenciando o paciente via senti-
do da audição: o tique-taque de um relógio, o
som de um apito, o som de um instrumento
musical como teclado, pistão, saxofone, tam-
bor. Outros exemplos incluem um som sinte-
tizado, um som gravado como o farfalhar das
árvores, o som produzido pela chuva, o som
de um trovão e o barulho de um foguete.
Sugestão Sensorial Visual
Quando utilizamos uma imagem ou qual-
quer substância ou vibração influenciando o
paciente através do sentido da visão. Cita-
mos como exemplo o olhar do médico, a luz
de uma vela, um anel brilhante, o brilho de
um alfinete, um disco giratório, imagens em
movimento num computador. Esta sugestão
também pode ser direta ou indireta.
Sugestão Sensorial Olfativa
Quando utilizamos qualquer substância
que emite odores ou vibração, influencian-
do o paciente através do sentido do olfato.
Citamos como exemplo o cheiro agradável
de um perfume, como o odor de sândalo, o
odor de substâncias químicas como a gaso-
lina e o álcool. Esta sugestão também pode
ser empregada de modo direto ou indireto.
Muitas vezes a sugestão sensorial olfativa é
associada à sugestão sensorial auditiva.
Sugestão Sensorial Gustativa
Quando utilizamos qualquer substância ou
vibração influenciando o paciente através do
sentido da gustação. Entre essas substânci-
as incluímos os sabores doce, salgado, amar-
go e azedo. Preferimos utilizar apenas os
sabores doce e salgado. A sugestão gustativa
também pode ser transmitida associada di-
reta ou indiretamente à sugestão sensorial
auditiva.
Sugestão Sensorial Tátil, Térmica,
Dolorosa, Cinestésica
Quando utilizamos qualquer substância,
toque ou vibração, para influenciar o pa-
ciente através do tato ou através dos analisa-
dores das sensibilidades térmica (calor e
frio), dolorosa, noção de posição segmentar,
batiestésica e palestésica. Como exemplos
desses tipos de possíveis sugestões mencio-
namos o calor da chama de uma vela, o frio
do cabode um diapasão, uma corrente de
vento através da janela aberta do consultó-
rio, a vibração de um diapasão colocado so-
bre uma extremidade do paciente, a pressão
do dedo do médico sobre uma vértebra do pa-
ciente, os toques do médico no braço do pa-
ciente durante a obtenção da rigidez numa
extremidade, o toque tátil e com pressão su-
ave das pontas dos dedos sobre as regiões
temporais do crânio do paciente para facili-
78 CAP˝TULO 4
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tar a recordação. Estas sugestões usualmente
estão associadas às sugestões sensoriais au-
ditivas (verbais).
Sugestões Combinadas
Quando há associação simultânea de mais
de um tipo de sugestão.
Sugestão pela Atitude
Atitudes são sentimentos que se tornaram
hábitos. O hipnólogo precisa ter uma atitu-
de claramente visível, acentuadamente dis-
tinta e mostrar-se sempre de modo a colocá-
lo instantaneamente aparte das pessoas. A
atitude deve ser viva e honesta, não poden-
do ser retratada ou representada. Então o
profissional que trabalha com a hipnose deve
olhar para dentro de si mesmo e sentir-se
como tendo os atributos de poder próprio.21
A atitude adequada do especialista traduz a
sua crença em poder ajudar o paciente, sen-
do um excelente fundo para a transmissão
das sugestões que devem estar harmoniza-
das com a sua expressão corporal e com a
sua verbalização.
Sugestão Psíquica
Quando a mente pelo pensamento influ-
encia o paciente. Neste tipo de sugestão nos-
sa capacidade de imaginação e nossa von-
tade assumem enorme importância porque
caracterizam-se por somente ser criada e
transmitida por um ser humano. Como
exemplo, sentar-se algumas filas atrás de
uma pessoa num cinema e permanecer ima-
ginado que essa pessoa vai virar-se para trás
e após algum tempo ela se vira para trás. A
seguir imaginar e visualizar essa pessoa ali-
sando o cabelo com a sua mão direita, e ela
faz isso. Depois, imaginar essa pessoa es-
colhendo sentar-se numa poltrona vaga na
fila da frente. A sugestão psíquica não é
considerada por muitos pesquisadores. A ex-
periência própria é um modo de estabele-
cer ou não o seu real valor. Na parapsico-
logia considera-se que a influência humana
sobre pessoas e coisas ocorre espontanea-
mente e dentro de uma distância de cinqüen-
ta metros. Em 1998 na Universidade Emory
em Atlanta pesquisadores liderados por
Philip Kennedy implantaram eletrodos de
vidro oco em forma de cone do tamanho da
ponta de uma caneta esferográfica no córtex
frontal de dois pacientes voluntários que
estavam incapacitados para mover-se, os
quais puderam controlar o cursor na tela de
um computador apenas pensando em mo-
ver partes do corpo. Pelo pensamento apon-
tavam o cursor para ícones programados
para produzir frases. Em 1999 o pesquisa-
dor Niels Birbaumer22 da Universidade de
Tübingen, treinava três pacientes com
esclerose lateral amiotrófica para utilizar o
poder mental transmitido a eletrodos do ta-
manho de uma lente de contato implanta-
dos atrás da orelha. Os pacientes aprende-
ram a tornar os potenciais cerebrais mais
positivos ou negativos para mover um
cursor para cima ou para baixo numa tela
de computador. Demorava em média 80
segundos para escolher uma letra pelo po-
der mental.
Sugestão Ambiental
Quando qualquer coisa do universo visí-
vel ou invisível à nossa visão usual ou aos
nossos analisadores influencia o paciente.
Como exemplo citamos a influência do am-
biente do consultório do médico, das fases
da lua, a do calor, do frio, de um dia chuvo-
so, de um dia ensolarado ou de um campo
CAP˝TULO 4 79
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magnético sobre o comportamento de uma
pessoa.
Chamamos de sugestões adequadas as
aplicadas adequadamente para: (a) A
indução do relax-reflex23 (hipnose). (b) Sin-
tonização do paciente com a hipnose e com
as metas do tratamento. (c) Específicas e
inespecíficas para o tratamento. O fator es-
sencial para uma adequada sugestão é a
comunicação com o paciente e o modo
como o paciente interpreta e responde a essa
comunicação.
Sugestões Ideomotoras, Sugestões
Desafios, Sugestões Cognitivas
Classicamente as sugestões são chama-
das ideomotoras quando as respostas estão
relacionadas à motricidade. Eis dois exem-
plos: “Você pode perceber o dedo indicador
da sua mão direita elevar-se,” ou “A sua mão
esquerda está ficando pesada, muito pesada.
Agora, imagine dependurada na sua mão uma
sacola de supermercado com um pacote de
açúcar dentro”. As sugestões desafios estão
relacionadas com a dificuldade ou impossibi-
lidade de realizar alguma coisa que usualmen-
te as pessoas fazem. Inicialmente cria-se o
contexto e depois apresenta-se um desafio
ao contexto. Pode-se transmitir a idéia que o
braço direito está estendido, rígido e infle-
xível no cotovelo, e posteriormente afirma-
se ser impossível flexioná-lo no cotovelo.
Tente. Sugestões cognitivas quando relacio-
nadas com modificações da percepção e da
memória. Estas sugestões podem transmitir
idéias de anestesia, ilusões, distorção do tem-
po, relembrança, revivificação ou amnésia
pós-hipnótica. Algumas sugestões cognitivas
contêm desafios. As sugestões de amnésia
requerem que a pessoa não recorde determi-
nada informação.
COMO FORMULAR SUGESTÕES,
PARTICULARMENTE AS VERBAIS
A comunicação sugestiva envolve: (a) Um
componente sintático verbal por meio dos
símbolos, como números e letras que, arran-
jados de determinadas maneiras, transportam
significados. (b) Um componente extraverbal
transmitido pelo ritmo, entonação, timbre, ve-
locidade, altura, intensidade da voz, que tam-
bém transmite significado. (c) Um compo-
nente de imagem (ícone) que é um modo di-
ferente de comunicação, transmitindo formas
e posições das imagens no espaço. A me-
lhor maneira de comunicação associa os três
aspectos, muito embora algumas comunica-
ções sejam melhor expressadas pelo com-
ponente sintático ou pelo extraverbal ou por
meio de um ícone. Estes aspectos da comu-
nicação são destacados nas aulas dos pro-
fessores dos cursinhos preparatórios para
exame vestibular, que fazem o melhor que
podem para transmitir a informação aos alu-
nos pela harmonia de todos os componentes.
Palavras concisas, voz clara com adequada
ritmicidade, timbre, entonação, velocidade, in-
tensidade, altura e com expressões faciais,
corporais, gestos e movimentação de obje-
tos, transmitem a informação aos alunos para
obter as respostas desejadas. A comunica-
ção por ícones e pela ritmicidade alcança
predominantemente o hemisfério cerebral
direito, enquanto a comunicação sintático-
verbal envolve preferencialmente o hemis-
fério cerebral esquerdo, de modo que o en-
tendimento da comunicação necessita da
sincronia dos dois hemisférios. O corpo caloso
é a estrutura anatômica de conexão entre os
dois hemisférios. A pessoa responde aos
componentes sintático-verbais, extraverbal e
também ao componente imaginativo induzi-
do pelos componentes sintático verbal e
extraverbal. Contudo, não há uma relação
consistente entre imagens induzidas pela
80 CAP˝TULO 4
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fantasia e a positiva resposta às sugestões
hipnóticas teste.24 Segundo Kirsch e Lynn
as sugestões hipnóticas geram respostas-
fantasias objetivo-dirigidas e não as fanta-
sias-objetivo-dirigidas que geram as respos-
tas.25 As fantasias dirigidas ao objetivo se-
riam fantasias sobre o modo de atingir e
seriam diferentes de fantasias sobre o ob-
jetivo. Estas últimas, fantasias sobre o ob-
jetivo, segundo Comey and Kirsch,26
comumente criam respostas às sugestões
hipnóticas.
Como elaborar e transmitir as sugestões
criando expectativas para obter respostas de-
sejadas?
1. Habilidade, com palavras cuidadosa-
mente escolhidas, com significado definido
para o subconsciente e frases específicas
quanto à situação, tempo e espaço. Analisar
a simbolismo,para cada paciente, do con-
teúdo representativo de cada palavra falada,
do timbre da voz, da entonação da sentença,
da velocidade das palavras enunciadas, da
altura da voz, bem como dos sons, gestos e
toques, com relação aos hábitos de ação do
paciente. Para melhor formulação e transmis-
são das sugestões e das imagens para visua-
lização necessitamos do máximo de infor-
mações sobre o paciente. Pergunte ao pa-
ciente o que lhe dá maior felicidade, prazer,
contentamento e alegria na vida? Anote as
respostas para depois criar sugestões que
apresentem essa resposta como uma fonte de
reforços das sugestões terapêuticas que se-
rão transmitidas a esse mesmo paciente. Per-
sonalize as sugestões para cada paciente,
sempre adaptando as sugestões às caracte-
rísticas intelectuais, emocionais, culturais e
ao estado de espírito do paciente no momento
do tratamento para que a comunicação su-
gestiva seja interpretada adequadamente. A
partir da observação do paciente em todos
os sentidos, inclusive de suas respostas não-
verbais, brota a habilidade que consiste es-
sencialmente em escolher cuidadosamente as
palavras, as frases, os gestos, os toques e
selecionar habilidosamente o momento e o
modo como transmitir as palavras escolhi-
das (timbre de voz, volume, velocidade, ento-
nação), os gestos e os toques (duração, rit-
mo, intensidade da pressão, modificação da
pressão, velocidade do início e do término).
Utilize durante a hipnose as palavras, as in-
terjeições, as frases, as pausas e os gestos
que o paciente costuma repetir.
A sugestão deve ser também entendida
pelo subconsciente, que tem apenas capaci-
dade de raciocínio dedutivo, percebendo e
interpretando as sugestões de modo literal.
Esse significado literal muitas vezes é o sig-
nificado aprendido durante o período da
aquisição da linguagem falada. O emprego
de expressões idiomáticas, gíria e palavras
com mais de um sentido, como, por exem-
plo, sugerir para o paciente ficar frio com a
intenção de ele ficar calmo e tranqüilo, pode
desencadear resistência no subconsciente,
que interpreta a sugestão como permanecer
com a temperatura do corpo fria. O subcons-
ciente tem as funções de preservação, prote-
ção e procriação, e qualquer sugestão que
vá de encontro a essas funções sofre a resis-
tência do subconsciente. O subconsciente
percebe melhor a sugestão específica do que
a sugestão vaga e inespecífica. Assim o sub-
consciente aceita melhor a sugestão “você
prefere dormir desde o momento que deitar
na cama até as 8:00 horas da manhã” do que
a sugestão “você prefere dormir a noite toda”.
O ideal é criar a fraseologia terapêutica ade-
quada para cada paciente, escrevê-la, depois
corrigi-la, e quando estiver adequada, trans-
miti-la para o paciente na próxima consulta.
A habilidade faz o especialista transmitir as
sugestões privilegiando o canal de comuni-
cação preferido pelo paciente para proces-
sar a informação.27,28 Pode ser o canal visual,
utilizando frases de imagens; o auditivo, uti-
CAP˝TULO 4 81
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lizando fraseologia mais auditiva ou o canal
cinestésico, empregando fraseologia mais
relacionada com as sensações.
Escolher cuidadosamente cada palavra da
frase. Deixe de usar as palavras: Não, nun-
ca, deve, mas, eu quero, tentar, experimen-
tar, esperar, e frases comparativas. Exemplos:
“Não fique em pé. Você está mais relaxado
do que o seu colega de trabalho”. Essas fra-
ses não podem ser repetidas sem perder a
eficácia. As palavras “talvez” e “tentar”,
eventualmente, podem ser usadas no seguinte
contexto: Talvez você queira descalçar os
sapatos para entrar em hipnose ou prefira
entrar em hipnose com seus pés dentro dos
seus sapatos. Talvez você goste de sentir os
seus músculos relaxados. Talvez você prefi-
ra calçar os chinelos para entrar em hipnose
ou prefira entrar em hipnose com os sapatos
calçados. A palavra não em qualquer situa-
ção não diz o que é para o paciente fazer; e
retirando o não fica uma afirmação para o
paciente fazer justamente o oposto do que
queremos. Não preste atenção na minha ca-
neta! Na frase: Não preste atenção na minha
caneta, para o paciente não prestar atenção
na caneta, ele inicialmente presta atenção na
caneta. A conjunção negativa “não” usada
no seguinte contexto: Não preste muita aten-
ção em como formular sugestões, particu-
larmente, as verbais; pode favorecer o leitor
a prestar atenção em como formular as su-
gestões, particularmente, as verbais. A con-
junção “não” pode desencadear o efeito que
o hipnólogo deseja quando usada para as
pessoas com respostas “do contra”, que res-
pondem de modo oposto ao qual esperamos.
Exemplificamos: “Não fique muito relaxa-
do”. A pessoa responderá com o oposto, fi-
cando relaxada. Não fique em silêncio, con-
tinue falando, e mais facilmente você se re-
laxará. A pessoa fica em silêncio. Nessas
frases acentue o verbo e não o objeto. É fá-
cil encontrar essas pessoas quando se quer,
bastando apresentar uma sugestão habitual
como “levante o braço direito” e essa pes-
soa deixa o braço na posição em que se en-
contrava antes da sugestão, ou faz um movi-
mento oposto com o braço ou levanta o bra-
ço esquerdo. Outro modo é fazer uma per-
gunta com uma frase afirmativa e depois fa-
zer a mesma pergunta com uma frase nega-
tiva. O indivíduo do contra apresentará duas
respostas diferentes. Você pode levantar o
seu braço direito. O indivíduo do contra res-
ponde com não. Você não pode levantar o
seu braço direito. A pessoa do contra res-
ponde com sim. Efeitos poderosos de pen-
samentos negativos ocorrem nos pacientes
com depressão. Para eles pode ser útil, no
início do tratamento, combinar uma sugestão
negativa com várias positivas.
As palavras experimentar, tentar e espe-
rar significam para o consciente que uma
pessoa vai fazer o máximo que pode para
realizar uma tarefa, e para o subconsciente
significam que a pessoa tentará um esforço
e falhará na intenção de alcançar o seu obje-
tivo. Essas palavras traduzem que a pessoa
emocionalmente está se sentindo fracassar
antes de começar. A conjunção “mas” anula
tudo o que vem antes. Por exemplo: Você
está com os seus músculos frouxos, soltos e
relaxados, mas vai prestar atenção a minha
voz. Em geral preferir empregar a conjun-
ção “quando” em vez de “se”. A conjunção
“quando” indica que a intenção da frase
acontecerá, que mais facilmente se realizará
do que a conjunção “se”. Habitualmente dei-
xamos de empregar na fraseologia palavras
que expressão generalizações, e não permi-
tem outras escolhas ou outras possibilidades.
Palavras como sempre, nunca, todo, toda,
nenhum, nenhuma, ninguém. Contudo, algu-
mas vezes, essas palavras apresentam uma
única e correta indicação: o Sol sempre tem
energia luminosa. Na superfície do planeta
Terra, todas as pessoas estão sobre a influ-
82 CAP˝TULO 4
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ência da força da gravidade. O fogo sempre
é quente.
2. Associando as respostas do paciente
nas sugestões seguintes.29 Um aspecto im-
portante é englobar as respostas do pacien-
te, o comportamento do paciente, as reações
do paciente na comunicação sugestiva ime-
diatamente seguinte, que pode ser verbal pelo
uso da fraseologia ou não-verbal. Se o paci-
ente começa a rir no início do tratamento,
englobamos o seu riso na sugestão seguinte:
À medida que você ri, os músculos da sua
face vão-se tornando mais frouxos, soltos e
você relaxa ainda mais. Pode-se utilizar as
palavras: “e, à medida que, enquanto, quan-
do, porque, causa,” para relacionar duas su-
gestões. Enquanto você respira, você relaxa
ainda mais. A associação mais definida ocor-
re quando utilizamos a palavra causa. Seu
braço está tão pesado que isso causa sua
queda, e quando o seu braço cair seu relaxa-
mento torna-se mais profundo. Respire pro-
fundamente... continue respirando profunda-
mente,e à medida que você respira profun-
damente, sente uma sensação maravilhosa de
calma e de bem-estar.
3. Associar uma sugestão à seguinte e
graduar a intensidade. Outro aspecto impor-
tante é associar uma sugestão à sugestão se-
guinte, e sempre que possível passar de um
ponto ou de uma região para um ponto ou
uma região adjacente. Ao sugerir o relaxa-
mento do braço direito do paciente, é mais
fácil associar o relaxamento à sugestão se-
guinte de peso no mesmo braço direito ou no
antebraço direito. É preferível sugerir que os
ombros estão relaxados, frouxos e soltos e,
em seguida, que o relaxamento invade os
braços, do que pular dos ombros para os pés
e depois voltar aos braços. A associação de
uma sugestão às sugestões seguintes pode ser
feita usando as palavras: “e, à medida que,
enquanto, quando, porque, causa”. Iniciar
com sugestões mais fáceis de serem aceitas
ou com três ou quatro afirmações possíveis
de verificação e depois uma frase não
verificável e ir gradualmente aumentando a
importância das sugestões, para finalmente
transmitir as sugestões fundamentais para o
tratamento. Pode-se dizer: Seu corpo está
descansando na poltrona, com as suas mãos
tocando o tecido da sua calça e enquanto
você percebe a textura do pano você sente
um formigamento nos seus dedos. Cada su-
gestão aceita facilita a aceitação da seguin-
te. A transição de uma sugestão para a se-
guinte deve ser gradual e muitas vezes vin-
culada pelas conjunções: “e, à medida que,
enquanto, quando, porque”. A conjunção “e”
mantém a individualidade de cada sentença
e relaciona a frase anterior com a frase se-
guinte. As sugestões terapêuticas com cres-
cente intensidade são mais fáceis de serem
aceitas pelo subconsciente do que uma su-
gestão intensíssima apresentada no início do
tratamento. O subconsciente está funcionan-
do de determinado modo há muito tempo, e
apresenta alguma resistência para a mudan-
ça. As sugestões devem objetivar gradual-
mente modificar esse modo de ação e, as-
sim, reduzir gradualmente as resistências. É
mais fácil o subconsciente de um paciente
que adora comer chocolates aceitar a suges-
tão inicial que o sabor de determinado cho-
colate está mais amargo do que aceitar inici-
almente que não gosta mais de chocolate.
4. Positiva, afirmativamente e benefici-
ando o paciente. Falar sempre de modo afir-
mativo e positivo, buscando a participação
e a cooperação do paciente quer no presen-
te do indicativo, quer num tempo contínuo
associado a uma condição como: toda a ma-
nhã, todos os dias, cada dia, de hoje em di-
ante, sempre que se sentar na sala de aula,
ao ver tal coisa. Evitar as sugestões negati-
vas como, por exemplo “não grite”, que são
péssimas porque não dizem o que fazer, pro-
duzem uma imagem errada, ficando a pes-
CAP˝TULO 4 83
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soa pensando no que deseja modificar e,
além disso, provocam um desafio.30 A pes-
soa poderia imaginar eu gosto de gritar, não
é bom por quê? Cada afirmação formulada
precisa estar de acordo com o desejo do
paciente de verdadeiramente querer mudar,
com a sua crença de que a modificação é
possível e com a sua aceitação de estar que-
rendo que a modificação aconteça.31 Algu-
mas vezes permite-se utilizar o verbo no
tempo condicional: você gostaria, você po-
deria. Exemplos práticos: “Você poderia fe-
char os olhos, você gostaria de fechar os
olhos, você poderia mover a sua mão direi-
ta”. Pode-se ainda iniciar a frase com uma
pergunta. “Se você quiser experienciar ou
se você quiser sentir.” Esses últimos exem-
plos podem ser empregados na abordagem
ericksoniana da hipnose.
Um estudo de Miyashita e Monzen32 de
1998, citado por Abela, indica que as suges-
tões negativas facilitam o maior uso da ima-
ginação do que as positivas, e conseqüente-
mente deixam maior marca na mente, de
modo que as sugestões negativas apresen-
tam efeitos afirmativos, independentemente
do nível de atividade. Esse efeito das suges-
tões negativas foi constatado por potenciais
relacionados com os eventos de sugestões
hipnóticas, que mostram que a estrutura das
sugestões é decisiva.33
As afirmações funcionam porque substi-
tuem as declarações negativas, suspendem
seu julgamento e deixam as dúvidas de
lado.29 As afirmações funcionam quando
estão em harmonia com a sua auto-imagem.
Muitas vezes é preciso primeiro modificar
para melhor a auto-imagem para as afirma-
ções agirem. Sempre que possível unir a su-
gestão positiva e afirmativa a um benefício
realista que advenha dela. Utilize com fre-
qüência os verbos apreciar, escolher, prefe-
rir e curtir (no sentido de apreciar, gostar).
Em vez de dizer: De hoje em diante a cada
dia você come menos, diga: De hoje em diante
a cada dia você aprecia comer menos, ou de
hoje em diante a cada dia você escolhe co-
mer menos. Ou ainda: De hoje em diante você
prefere comer menos. Outros exemplos:
Você aprecia (prefere, escolhe) ingerir fru-
tas ao levantar pela manhã. Você escolhe
(prefere, aprecia) estudar de segunda à sex-
ta-feira das 14 às 18 horas. Você decidiu (es-
colheu, preferiu) parar de fumar. Eu decidi e
estou apreciando rever todos os dias cinco
folhas do meu livro. Você está curtindo es-
tudar das 14h às 19h todos os dias para ven-
cer o exame vestibular.
Algumas sugestões não estão na forma
verbal negativa, e ainda assim traduzem
negatividade, facilitando as associações men-
tais negativas, sendo melhor substituí-las por
sugestões que transmitam positividade. Há
pessoas com crenças, pensamentos e senti-
mentos negativos sobre determinado aspec-
to da vida que não conseguem alcançar a
meta que pretendem, mesmo que essa meta
seja afirmada positivamente. Exemplos com-
parando a sugestão mal elaborada com uma
bem elaborada:
Sugestões passíveis de associações nega-
tivas:
(a) Você quer perder peso
(b) Você quer parar de comer
(c) Você quer deixar de comer chocolate
(d) Você quer deixar de fumar
(e) Você precisa parar de fumar
(f) O cigarro causa câncer no seu pulmão
(g) Você quer parar de beber
(h) Você quer parar de ficar acordado à
noite
(i) Você vai falar em público calmamente
Sugestões tecnicamente mais adequadas
(a) Você tem o domínio e o controle do
seu peso
(b) Você decide comer alimentos saudáveis
84 CAP˝TULO 4
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(c) Você prefere comer um pedaço de
melancia
(d) Você é um não-fumante
(e) Você prefere permanecer respirando
ar puro
(f) Você prefere permanecer abstêmio e
sem doenças
(g) Você decide e prefere permanecer
abstêmio
(h) Você prefere dormir tranqüilamente
à noite
(i) Você tem o domínio das palavras em
público
5. Considerar o objetivo das sugestões
como já alcançado. As sugestões devem ser
apresentadas como o paciente já apresentan-
do as qualidades almejadas. Devem ser for-
muladas como o paciente já sendo e já ten-
do, muito embora ele ainda não tenha se tor-
nado no que quer ser, nem tenha obtido o
que deseja obter. Desse modo as qualidades
desejadas se implantam na auto-imagem, que
é o modo pelo qual uma pessoa se vê em sua
mente. O subconsciente não distingue entre
uma imagem representativa (que é imagina-
da vivamente) de uma imagem real. O pa-
ciente precisa acreditar no hipnólogo e nas
sugestões por ele formuladas. Os fatores-
chave para isso são: motivação, antecipação
e imaginação. Criar uma motivação e fazer
o paciente imaginá-la vivamente, antecipan-
do o que ele sentirá. Hadley e Staudacher
apresentam a equação: “Imaginação + moti-
vação = Acreditar em você mesmo + anteci-
pação”34 (p.55).
6. Empregar sugestões simples, curtas e
claras. Usar palavras e frases simples, cur-
tas e claras. Prefira empregar palavras de até
três sílabas, simples e definidas. Deixe de
lado palavras vagas, com duplo significado,
e palavras abstratas ou palavras que possibi-
litem erros de comunicação com o pacienteque está na sua frente. Use o termo exato
para cada coisa. Isso reduz a confusão e o
mal-entendido. Ao usar uma palavra, estar
sempre atento à mensagem que está trans-
mitindo em toda a frase. O subconsciente
entende a palavra como a mente de uma cri-
ança a entende. Se dissermos, você pode
mover o dedo, ela pode responder que pode,
sem mover o dedo. Um adulto em vigília ge-
ralmente responderia movendo o dedo. Num
programa para emagrecer e tornar-se esbel-
to, se dissermos para uma pessoa perder peso,
o seu o subconsciente vai querer achar o peso
perdido, porque durante a vida toda foi ensi-
nado que quando se perde alguma coisa, se
quer achar. Então a pessoa perde peso e ema-
grece; depois acha o peso e engorda. Prefira
dizer que ela reduz o peso e emagrece ou
elimina peso, principalmente gordura.
7. Enfatizar palavras e a entonação da fra-
se. Durante a emissão das sugestões pode-se
acentuar o enunciado de uma ou outra pala-
vra, pronunciando-a com volume mais alto,
mais baixo ou mais lentamente. Palavras-
chaves e palavras decisivas das afirmações
podem ser literalmente s-o-l-e-t-r-a-d-a-s. A
informação soletrada vai profundamente na
mente para ser processada porque usa racio-
cínio dedutivo para juntar as partes. A sen-
tença deve ser pronunciada com uma
inflexão adequada para melhor enfatizar o
efeito desejado. A voz precisa combinar com
o que se transmite, com o resultado espera-
do, com a expressão facial, gestos e expres-
são corporal do hipnólogo.
8. Pausas. Durante a terapêutica sugesti-
va podem-se utilizar pausas entre as sílabas
de uma palavra, entre palavras, entre frases
ou entre um conjunto de frases que destaca
idéias semelhantes. As pausas dão tempo ao
paciente para responder às sugestões. Neste
livro pausas de três segundos são representa-
das por três pontos (...), pausas de cinco se-
gundos por cinco pontos (.....).
CAP˝TULO 4 85
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9. Repetição, Repetição, Repetição. O
ideal é repetir as mesmas sugestões quer com
a mesma fraseologia, quer com fraseologia
semelhante, para que as sugestões tornem-
se parte do pensamento do paciente. A utili-
zação de sinônimos pode ser empregada para
reforçar o estado desejado.34 A repetição,
repetição, repetição, também é um modo de
alcançar o subconsciente e automatizar a
sugestão. Numa série de frases com suges-
tões repetitivas, mantenha-se transmitindo
sugestões estritamente relacionadas e permi-
tindo tempo entre cada sugestão, para a men-
te do paciente “metabolizá-la”. Por exem-
plo: sugestões de relaxamento repetidas com
ou sem variações, mas sempre transmitindo
a idéia de relaxamento. Sugestões para
anestesia da mão direita, com ou sem varia-
ções, mas sempre transmitindo a idéia de
anestesia na mão direita. Usualmente nós
repetimos entre seis a oito vezes cada frase
sugestiva em cada consulta. Não existe um
trabalho experimental indicando o número
preciso de repetições para cada caso, mas a
imensa maioria dos autores indica a neces-
sidade da repetição. Alguns autores dizem
que os resultados das sugestões são tempo-
rários, porém acumulativos. Isto significa
que na primeira vez duraria pouco tempo,
na segunda vez duraria mais, na terceira re-
petição a duração seria maior, até passar a
ser um hábito padrão do paciente.30 Na vida
diária quanto mais vezes estudamos um as-
sunto, maior a quantidade de informações
assimiladas e posteriormente evocadas.
10. Associar a sugestão a uma emoção.
A aceitação de uma sugestão é mais fácil
quando está associada a uma emoção apro-
priada para o paciente. A emoção apropria-
da torna a sugestão mais eficiente. Se a emo-
ção apropriada para o paciente puder ser de
maior intensidade, a eficiência da sugestão
será ainda maior. Observe os sinais não-ver-
bais e inconscientes manifestados pelo pa-
ciente, indicadores da aceitação da suges-
tão. Se a sugestão ou a emoção não for apro-
priada, não havendo resposta inconsciente do
paciente, apresente de outro modo a suges-
tão, com outra emoção.
A emoção apropriada deve fazer parte do
contexto que desejamos comunicar.
11. Focalizar um objetivo de cada vez.
Quando houver muitos problemas para re-
solver, selecione para tratar um problema
para cada consulta ou para uma série de con-
sultas. Posteriormente adicione outro proble-
ma no tratamento.
12. Usar palavras, toques ou situações-
chave. Após a repetição da adequada fraseo-
logia várias vezes, use uma palavra-chave,
e/ou toque, e/ou situação para desencadear
a resposta para um grupo específico de su-
gestões. Isto é, condicione ou ancore as res-
postas em uma palavra-chave, e/ou toque, e/
ou situação ou combinação disso.
13. Estar de acordo com as expectativas,
crenças e vontade do paciente. As sugestões
devem ir ao encontro das crenças, convic-
ções, expectativas e vontade do paciente. A
sugestão pode ser transmitida visando inten-
sificar e amplificar uma crença, expectativa
ou vontade positiva do paciente, e/ou visan-
do minimizar uma expectativa ou crença,
expectativa ou vontade negativa do próprio
paciente. A maneira de conceber as suges-
tões é particular para cada paciente, sendo
determinada pelo modo como o paciente
pensa, isto é, pelo seu sistema de crenças,
expectativas e vontade, não apenas pela
sintomatologia. Cada sugestão na mente do
paciente transforma-se em auto-sugestão.
Nós somos os instrutores, o próprio pacien-
te é o executante. No fundo a “hipnose é auto-
sugestão guiada.” Pouco adiantaria dizer para
uma pessoa que adora chocolate, que cho-
colate tem gosto ruim, porque ela não acre-
ditaria. Os acontecimentos exteriores ao pa-
ciente, como as sugestões, influenciam e lo-
86 CAP˝TULO 4
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calizam as percepções do paciente; como
também os seus processos internos, como
seus interesses, sua auto-imagem, suas me-
tas, seu nível cultural, seu estado físico e
psicológico. Porém, a resposta do paciente é
a forma pela qual o paciente vê, interpreta e
vivencia a sugestão35 Assim é válido respi-
rar na velocidade e profundidade com que o
paciente respira. A resposta do paciente de-
pende da sua interpretação da comunicação
sugestiva transmitida. Assim, muitas vezes
transmitem-se sugestões terapêuticas inespe-
cíficas, principalmente quando não se dis-
põe de um anamnese detalhadíssima para
permitir apresentar uma sugestão terapêuti-
ca específica. Por outro lado, o próprio pa-
ciente elabora o conteúdo dessa sugestão
inespecífica. Exemplo deste modo de comu-
nicação: Você pode deixar seu corpo funcio-
nar em seu benefício. Você pode recordar o
que acha útil lembrar para o exame.
14. Associar as sugestões às imagens ade-
quadas para o paciente. Associe as suges-
tões às imagens adequadas. Visualização de
imagens com características de todos os sen-
tidos: visão, audição, olfação, gustação e tato,
incluindo pressão, calor, frio, vibração e,
além disso, adicione movimento as imagens,
para acentuar a programação mental das su-
gestões verbais diretas e das sugestões pós-
hipnóticas. Desse modo atingem-se ambos
os hemisférios cerebrais, o esquerdo com as
sugestões positivas e afirmativas e o direito
com as visualizações. A imaginação é um
veículo, um feixe de comunicação direta com
o subconsciente. A sugestão é mais eficaz
quando usamos intensos símbolos para re-
presentar objetivos, e que esses símbolos se-
jam obtidos da própria vida do paciente, de
suas lembranças, de suas experiências pas-
sadas e presentes; assim o paciente emprega
a linguagem de seu subconsciente para ob-
ter os resultados desejados.36 O ideal seria
que cada sugestão oferecida ao paciente fosse
associada às imagens adequadas da sua pró-
pria experiência passada. Sugestões para o
paciente imaginar um objetivo direcionado,
isto é imaginar uma situação que se realmen-
te ocorreu, o paciente tende a reproduzir o
comportamentosugerido.5 Assim, em vez de
simplesmente dizer que a mão do paciente
está pesada, diga: “ Imagine que você está
carregando uma sacola pesada com a mão
direita. Agora, o seu braço e a sua mão di-
reita estão pesados, e a sua mão direita abai-
xa-se porque está muito pesada.” A situação
que pedimos para o paciente imaginar deve
ser uma experiência agradável. Quando o
paciente imagina, atinge-se o hemisfério ce-
rebral direito dos pacientes destros e tam-
bém o hemisfério cerebral direito da imensa
maioria dos canhotos. É importante obter a
participação do paciente, quer você seja
odontólogo, psicólogo ou médico. Essa par-
ticipação pode ser conseguida inclusive para
sugestões comuns como: Seus dedos de
ambas as mãos estão rígidos e inflexíveis nas
articulações. Seu braço se movimenta para a
frente e para trás. A cada respiração o seu
relaxamento é maior. A cada respiração sua
concentração no estudo e assimilação é
maior. Você está sentido uma sensação ma-
ravilhosa de calma tranqüilidade e bem-es-
tar. O uso de metáforas, que são modos de
representar a imaginação utilizando a lingua-
gem, facilita a indução, a visualização, a ima-
ginação e a aceitação das sugestões terapêu-
ticas. É necessário extrair essas metáforas
das próprias palavras faladas pelo paciente
durante a anamnese e durante a conversa com
o ele no início de cada consulta. A metáfora
precisa ter significado relacionado com os as-
pectos conscientes e inconscientes do obje-
tivo, ser intensamente viva para absorver as
fontes emocionais, e ser significativamente
forte na direção do sucesso do tratamento.37
15. Adjetivar o efeito desejado. Acentue
e enfatize o efeito desejado com adjetivos e
CAP˝TULO 4 87
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pela entonação da pronúncia dos mesmos.
O efeito desejado é o que o paciente deseja
obter. Por exemplo: É maravilhoso que você
estude matemática todos os dias. Como é
fantástico que você encontre-se adequada-
mente relaxado. Você está realmente brilhan-
te, eliminando peso e emagrecendo. Esses
adjetivos são reforços positivos.
16. Deixar algumas vezes a responsabili-
dade da resposta ao paciente. O verbo poder
coloca o ônus da resposta sobre o paciente,
e ganha força com a repetição.38 Quando di-
zemos: “Se você sentir-se calmo, descansa-
do e tranqüilo, levante o seu dedo indicador
da mão direita”. E o paciente não move o
dedo, acrescenta-se: “Você pode mover o seu
dedo indicador da sua mão direita”. Para re-
forçar ainda mais podemos tocar com o nos-
so dedo indicador no dedo indicador da mão
direita do paciente. E, se necessário acres-
centar: Você é capaz de mover o seu dedo
indicador. Além disso, o verbo poder tem
significado de permitir. Para comportamen-
tos e coisas que facilmente podem ser
verificáveis39 utilizar as palavras pode, po-
deria, na fraseologia sugestiva de modo que
se o sugerido não ocorrer, a pessoa não terá
fracassado na resposta. Para aspectos não
verificáveis utilizar palavras que implicam
causação.39 Esta última construção usual-
mente é feita após algumas construções com
as palavras pode ou poderia. Exemplo: Seus
dedos podem começar a se estender, e seu
braço pode ficar rígido no cotovelo... todo o
seu braço direito pode ficar rígido desde o
ombro até a ponta dos dedos... e o cigarro
pode cair da ponta dos dedos... Isso faz você
se sentir mais calmo. O verbo permitir é ex-
celente para facilitar a receptividade do pa-
ciente às sugestões. Observe o alcance des-
tas frases: você pode-se permitir continuar
relaxando ainda mais. Você se permite fazer
atividade física para manter o seu corpo es-
belto e bem-modelado.
17. Remover algumas sugestões. Com ex-
ceção das sugestões de bem-estar, das suges-
tões pós-hipnóticas relacionadas com a faci-
lidade do tratamento na próxima consulta,
das sugestões relacionadas com o tratamen-
to, as demais sugestões devem ser removi-
das. Remover antes de terminar a consulta
as sugestões de sono, as sugestões para dor-
mir (exceto no tratamento da insônia), as
sugestões de pesado, as sugestões para mo-
vimentos automáticos, rigidez muscular,
anestesia (exceto quando necessitamos
dessensibilizar uma região), ilusões e aluci-
nações. Essas sugestões costumam se remo-
ver imediatamente após a obtenção da res-
posta desejada. Quando se utilizou “regres-
são de idade”, fazer o paciente voltar a ida-
de atual, antes de terminar a hipnose formal.
Além disso, antes do término da consulta dar
sugestões de calma, tranqüilidade e bem-es-
tar; sugestões para o paciente abrir os olhos
calmo, tranqüilo, bem disposto, bem desperto
e sentindo uma sensação maravilhosa de
bem-estar e muito melhor do que antes.
18. Eliminar sugestões contraditórias. Eli-
mine qualquer sugestão contraditória ou
qualquer sugestão que pela interpretação do
paciente possa tornar-se contraditória. Exem-
plificando: Imagine-se sentado numa roda
gigante. A roda-gigante começa mover-se.
A cada giro da roda gigante você sente mais
sono. O paciente pode ter medo de roda-gi-
gante, em vez de responder com sono pode
ficar ansioso e inquieto, ou pode a imagina-
ção do movimento da roda-gigante desenca-
dear tontura. Quando o paciente está com o
braço relaxado, a sugestão para o braço se
elevar e subir, pode ser contraditória para um
paciente: Se o braço está relaxado (e pesa-
do) como levantá-lo? Com o braço totalmen-
te relaxado uma sugestão de que ele está
pesado e se abaixa pode ser mais facilmente
aceita. Essa sugestão pode ser ainda mais
facilitada pedindo para o paciente visualizar
88 CAP˝TULO 4
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um livro sobre a palma da mão, ou uma sa-
cola de supermercado com um pacote de
açúcar dentro. Suas pálpebras estão tão pe-
sadas como chumbo poderia ser associada
com caixão de chumbo e então com morte.38
Eliminar o contraditório das maneiras de co-
municação do profissional, antes mesmo de
o paciente interpretar a comunicação. Se
transmitirmos a sugestão de calma para o
paciente gritando: Calma!, já transmitimos
duas coisas incompatíveis. O conteúdo da pa-
lavra deixa de combinar com a forma como
foi transmitida. Se transmitirmos a sugestão
seguinte: “Preste atenção cuidadosamente no
dorso da sua mão direita” com tom de voz
adequado, mas em alta velocidade, já trans-
mitimos duas coisas incompatíveis. É difícil
eliminarmos da fraseologia uma sugestão que
possa ser contraditória para determinado
paciente, porque nunca sabemos como o pa-
ciente vai interpretá-la. Contudo, podemos
muitas vezes evitar sugestões potencialmente
contraditórias para determinado paciente.
Por exemplo, antes de pedir para o paciente
visualizar um jardim, perguntar se o pacien-
te gosta de jardim. Pode ser que ele tenha
alergia a determinada flor.
19. Usar palavras de incentivo. A lingua-
gem falada além de ser um meio de comunica-
ção é um instrumento do pensamento. A pala-
vra não é uma substância armazenada nos
neurônios do SNC, mas é um relacionamento
funcional existente entre milhões de neurônios.
As palavras de incentivo fazem as pesso-
as sentirem-se bem porque elas foram con-
dicionadas durante a vida para responder a
essas palavras dessa maneira. Apresente al-
gumas palavras isoladas ou em frases curtas
de parabéns e incentivo pelo fato de o paci-
ente ter apresentado a resposta desejada.
Essas palavras de incentivo agem como re-
forço para o que está acontecendo. Pode-se
elogiar desde o fato do paciente relaxar-se.
As palavras incluem: Parabéns, você está indo
muito bem. Está bem. Ótimo! Excelente!40
Você visualiza adequadamente! Você imagi-
na muito bem! Você está com o seu corpo pro-
fundamente relaxado! Ótimo, continue! A
palavra gostoso traduz para os brasileiros uma
situação agradável e pode ser usada com al-
guma freqüência. Exemplo: na próxima con-
sulta o relaxamento vez será mais fácil, rá-
pido, gostoso e proveitoso para você.20. Formular indiretamente as sugestões.
Desenvolva sua habilidade para formular as
sugestões de modo indireto. O modo indire-
to é mais difícil de ser manejado, mas é
eficientíssimo porque minimiza o senso crí-
tico do paciente; porém permite várias in-
terpretações. As sugestões indiretas também
incluem analogias, metáforas e contar histó-
rias objetivando os efeitos desejados.
21. Formular de modo permissivo, às ve-
zes com pressuposições em modo direto e
permissivo. A fraseologia permissiva de
uma sugestão tende a ser mais efetiva do
que a fraseologia autoritária da mesma su-
gestão12 Mais pessoas mostram aparente
amnésia com a sugestão teste: “Tente es-
quecer” do que com a sugestão teste “Você
esquece” ou “você esquecerá”. Um modo
singular de apresentar as sugestões é de
modo direto, permissivo, como pressupo-
sições, parecendo o mínimo possível uma
ordem, mas sim acatando as experiências
de cada paciente. Exemplos incluem: “Pode
ser que você queira fechar os olhos”. “Pode
ser que seus olhos queiram se fechar”.
“Você pode permitir que os seus olhos se
fechem”. “Pode ser que você respire pro-
fundamente”. “Pode ser que você queira res-
pirar profundamente”. “Você permite que
os seus pulmões respirem profundamente”.
“Talvez você sinta um formigamento no seu
pé direito”. “Pode ser que você sinta um
formigamento no seu pé direito”. “Você
pode deixar você mesmo perceber um for-
migamento no seu pé direito”. “Você per-
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mite que os seus braços se movam”. “Você
deixa o seu braço movendo-se para a frente
e para trás”. “Você permite que os seus bra-
ços se movam automaticamente”.
22. Sugestões para remover, eliminar,
cancelar, limpar ou anular programações
mentais negativas. Muitas vezes, antes de
apresentar as sugestões terapêuticas preci-
samos remover e eliminar as mensagens ne-
gativas existentes do subconsciente, a fim de
modificarmos sua auto-imagem para melhor.
Remover do subconsciente todo o entulho
negativo: ressentimentos, mágoas, tristezas,
preocupações, revoltas, pensamentos de di-
ficuldade, derrota, imobilidade, incapacida-
de. Pensamentos negativos causam compor-
tamentos pessimistas. O que mantém as
reprogramações mentais negativas é o siste-
ma de crença da própria pessoa. Ela imagina
que está definitivamente presa a todo esse
entulho negativo e assim continua. O siste-
ma de crenças são as expectativas que cada
pessoa tem sobre o mundo em torno dela e
sobre ela mesma, e são originadas a partir
da sua própria experiência direta, da obser-
vação das outras pessoas, de uma autorida-
de (ensinado pelos pais, professores, religio-
sos, meios de comunicação, especialmente
televisão e Internet), das conclusões de pen-
samentos lógicos.
23. Elaborar a idéia da sugestão em três a
oito frases com o mesmo objetivo. Escolher
as frases cuidadosamente, para que tenham
sentido quando comparadas umas com as
outras. Preferimos várias frases com o mes-
mo objetivo específico porque algumas fra-
ses podem ser menos efetivas do que outras
em decorrência de bloqueios ou associações
negativas das experiências, sentimentos ou
pensamentos do paciente com algumas pa-
lavras da frase. Com diversas frases, a chance
de todas apresentarem bloqueios ou associa-
ções negativas é reduzida. As frases, quan-
do comparadas entre si, ainda precisam fa-
zer sentido para o subconsciente.
24. Permitir bastante tempo para o pacien-
te responder a cada sugestão e observar as
suas respostas não-verbais. O paciente ne-
cessita de tempo para entender, “meta-
bolizar”, digerir a sugestão e transformá-la
em comportamento ou experienciá-la interi-
ormente. A necessidade de tempo varia de
um tipo de comportamento para o outro, de
um tipo de experiência interior para outro.
Alguns pacientes precisam mais tempo para
que a mão se eleve no espaço do que para
ficar com o braço rígido, enquanto outros
precisam mais tempo para desenvolver uma
ilusão auditiva do que uma gustativa. Além
disso, a necessidade de tempo varia de uma
pessoa para outra e de um momento para
outro. As sugestões terapêuticas também
precisam de tempo para agir.
25. Formular as sugestões preferencial-
mente de acordo com o principal sistema
representacional do paciente. Quando a
fraseologia da sugestão é formulada combi-
nando com o melhor modo representacional
do paciente (visual, auditivo ou cinestésico),
as sugestões agem mais eficientemente.41
Contudo, referindo-se à idéia de sistema
representacional primário, e sobre a possi-
bilidade da determinação desse sistema pela
observação das palavras no diálogo de uma
pessoa ou pela movimentação dos olhos, e
que essa determinação seria importante para
acentuar o rapport, Heap42, revendo a lite-
ratura, constatou que as asserções anterio-
res carecem de prova científica.
26. Algumas vezes formular as sugestões
sob a forma de uma pergunta positiva e afir-
mativa, permitindo tempo para o paciente
desenvolver a idéia transmitida. A idéia apre-
sentada sob a forma de uma questão positi-
va e afirmativa induz a mente da pessoa a
uma resposta e a mente movimenta-se, fa-
zendo associações na direção desejada.43
90 CAP˝TULO 4
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Aprenda a fazer o tipo de pergunta que in-
duz a resposta que o paciente quer, e permi-
ta tempo para a mente do paciente desenvol-
ver as respostas. Transmitir a pergunta afir-
mando o que o paciente quer obter de modo
como se ele já tivesse obtido. Exemplos de
questões afirmativas positivas: Por que você
é feliz? Por que você tem esse enorme suces-
so? Como você sente esse maravilhoso pra-
zer sexual? Como você pode emagrecer, ficar
e permanecer esbelta? Como você pode per-
manecer sem fumar cada dia? Como você es-
tuda, aprende, fixa as informações e lembra
delas quando precisa? Como você aprende,
fixa e lembra tudo o que você lê? Como você
pode mobilizar as suas energias para ganhar
dinheiro em abundância? Como você pode
conseguir um emprego e ser feliz? Com qual
rapidez você pode pensar positivamente?
Você quer saber como permanecer calmo e
tranqüilo? Você quer saber como pode per-
doar as pessoas ou determinada pessoa? Como
você pode permitir-se viajar de avião calma e
tranqüilamente? Quão rapidamente você vai
dormir quando deitar na sua cama à noite?
27. Individualizar, adaptando as sugestões
às necessidades conscientes e subconscientes de
cada paciente. As idéias criadas, elaboradas e
transmitidas seguindo os itens anteriores, que
são individualizadas para cada paciente e vão
ao encontro das necessidades conscientes e sub-
conscientes de cada um deles, e são a cada mo-
mento adaptadas às suas realidades, freqüente-
mente alcançam as realizações desejadas. A
observação das respostas ideodinâmicas (sinais
não-verbais), geralmente mediadas pelo siste-
ma nervoso autônomo, nos informa sobre as
mensagens do subconsciente.
COMO AS PESSOAS RESPONDEM ÀS
SUGESTÕES
A estrutura e a fraseologia das sugestões
são aspectos determinantes das respostas não
voluntárias durante a hipnose, como também
as percepções das respostas involuntárias pe-
las próprias pessoas durante a hipnose, ge-
ralmente, são consistentes com as suas per-
cepções de como as pessoas hipnotizadas res-
pondem às sugestões hipnóticas.44 As suges-
tões transmitidas pelo hipnólogo apresentam
uma variabilidade de interpretações pelo pa-
ciente, quer no significado quer nas impli-
cações e essa possibilidade de variada inter-
pretação provavelmente é responsável em
grande parte das variações observadas nas
respostas subjetivas e comportamentais dos
pacientes. Um aspecto é como a pessoa hip-
notizada percebe a sua resposta às sugestões,
se como sendo voluntária ou involuntária;
outro aspecto é que no momento da ativação
todo o comportamento é iniciado automati-
camente, em vez de ser desencadeado pela
intenção consciente.45A interpretação das sugestões pela pes-
soa é fundamental para definir a resposta
como involuntária.46 As sugestões transpor-
tam de modo implícito que as experiências
sugeridas ocorrem de modo involuntário.47
Spanos observou três maneiras de as pessoas
responderem às sugestões:46 (1) Não respon-
dem às sugestões porque escolheram não co-
operar com as sugestões ou porque as pesso-
as deixaram de perceber o significado tácito
requisitado. (2) Respondem às sugestões de-
finindo as suas respostas como ocorrendo de
modo voluntário porque eles deixaram de
perceber o significado de involuntário ou
porque mesmo que estejam conscientes da
resposta involuntária, escolhem ignorar isso,
e atribuir as suas respostas aos seus próprios
esforços ou ao desejo de deixar isso ocorrer;
ou ainda podem simular as respostas hipnó-
ticas. Neste último caso, podem não expe-
rienciar a sugestão relacionada com os efeitos
e, por alguma razão, podem desejar comuni-
car a impressão que eles estão hipnotizados.
(3) Podem agir de acordo com as sugestões
CAP˝TULO 4 91
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e acreditar que as suas respostas ocorrem
de modo involuntário. Com fraseologia auto-
ritária as respostas tendem a ser considera-
das como involuntárias, enquanto que com
fraseologia permissiva, as respostas tendem
a ser mais consideradas como voluntárias.48
Quando a fraseologia das sugestões é para
estimular fantasias objetivo dirigidas, as res-
postas tendem a ter sensação e sentimento
de involuntárias.49
SUGESTÕES ASSIM CHAMADAS
PÓS-HIPNÓTICAS
São sugestões apresentadas ao pacien-
te durante a hipnose, associadas a um sinal
condicionado, para serem realizadas depois
da consulta, quando já não haja mais rela-
cionamento direto entre o hipnólogo e o pa-
ciente. Provavelmente pedindo para o pa-
ciente concentrar a atenção no que vamos
sugerir, facilita o aprendizado da sugestão
pós-hipnótica, porque quanto mais focali-
zada a atenção do paciente mais fácil é o
aprendizado, isto é, a associação da suges-
tão com o fator (sinal) desencadeador. A
sugestão pós-hipnótica deve ser transmiti-
da no momento que o paciente esteja feliz,
para que quando a sugestão for executada,
o paciente possa voltar àquele momento de
felicidade.50 A sugestão pós-hipnótica sen-
sorial verbal deve ser enfática, muitas ve-
zes expressada no tempo verbal imperati-
vo. Por exemplo: seguro o pulso do pacien-
te com o dedo polegar por cima e os dedos
indicador e médio por baixo e digo com
determinado tom de voz “De hoje em dian-
te toda a vez que você vier ao meu consul-
tório para tratamento pela hipnose, quando
eu tocar (segurar) no seu pulso direito des-
te modo, pronunciar o seu nome, (exemplo:
Luiz), seguido das palavras feche os olhos,
relaxe-se e aprofunde-se, e permanecendo
aberto às sugestões terapêuticas, você ime-
diatamente fecha os olhos, relaxa todos os
músculos do seu corpo e aprofunda-se, e
permanece aberto para as sugestões terapêu-
ticas. Essa fraseologia é repetida exatamen-
te igual várias vezes. Na próxima consulta
quando tocarmos o pulso do paciente, pro-
nunciarmos o seu nome e dissermos com o
mesmo determinado tom de voz as palavras
feche os olhos, relaxe-se e aprofunde-se e
permaneça aberto às sugestões terapêuticas,
o paciente estará pronto e mais receptivo
para receber as sugestões necessárias para
o seu tratamento. O ideal é formular suges-
tões pós-hipnótica cujos estímulos possam
ser persistentes (sem limite de tempo), como
no caso do toque no pulso que pode ser
mantido até obtermos a resposta desejada
ou o toque no pulso pode ser repetido algu-
mas vezes juntamente com as palavras, até
a obtenção do efeito desejado. Uma moti-
vação suficientemente forte auxilia a exe-
cução da sugestão pós-hipnótica. Costuma-
mos no final de uma consulta transmitir a
sugestão pós-hipnótica que na próxima con-
sulta o paciente se relaxará ainda mais fá-
cil e rapidamente do que agora. Essa su-
gestão pode ser: nas próximas consultas a
indução da hipnose vai ser muito mais fá-
cil, rápida e gostosa. Nas próximas consul-
tas com hipnose os efeitos das sugestões
serão ainda mais imediatos, progressiva-
mente crescentes e permanentes para a sua
saúde e felicidade. Opções de sugestões
para intensificar os efeitos das idéias
sugeridas: (a) Estas sugestões, estas idéias,
são imediatamente ativas e a cada novo dia
os seus efeitos são progressivamente cres-
centes. (b) Minhas palavras de comum acor-
do com você ecoam profundamente dentro
da sua mente, cada palavra, o sentido de
cada palavra, fixam-se profundamente na
sua mente, e a cada novo dia estas palavras
crescem cada vez mais na sua mente. (c) A
92 CAP˝TULO 4
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cada dia estas idéias crescem cada vez mais
na sua mente, tornando-se cada vez mais po-
derosas e eficientes para o seu proveito e
benefício. (d) De hoje em diante você está
com a sua mente aberta para estas idéias
que se fixam no seu consciente e no seu
subconsciente, e seus efeitos são imedia-
tos, e crescentes e permanentes. (e) A cada
consulta você aceita totalmente que as idéi-
as e sugestões transmitidas de comum acor-
do com você, impregnem a sua mente positi-
vamente para a sua saúde e felicidade. (f) Na
próxima consulta os efeitos serão ainda mais
imediatos, progressivamente crescentes e
permanentes para a sua saúde e felicidade.
Algumas vezes adicionamos ainda a suges-
tão pós-hipnótica que quando terminar a con-
sulta o paciente deixará de lembrar o que
conversamos, porque não interessa lembrar.
Ao encerrar a consulta, não tendo o paci-
ente lembrança consciente de que foi for-
mulada uma sugestão pós-hipnótica, ela se-
ria mais eficaz. A sugestão pós-hipnótica
pode ser formulada para ser cumprida ime-
diatamente após o término da consulta, sem
associação com nenhuma outra condição,
ou para ser cumprida algum tempo depois
do término da consulta (minutos, horas, dias,
semanas, meses ou anos), quando for acio-
nado um ou mais sinais condicionados. Os
fatores condicionantes da sugestão pós-hip-
nótica, seja a linguagem falada (palavras-
chave e modo se sua transmissão), associ-
ada ou não a outras sugestões sensoriais tá-
teis (como um toque, um gesto ou uma ação),
e, ainda, associada ou não a uma circuns-
tância, condição ou situação (estar fazendo
alguma coisa, estar em algum lugar, estar
vestido de determinado modo, quando for
tal hora etc.), algumas vezes é chamado de
signo-sinal por alguns autores.51 O signo-
sinal também é chamado de sinal hipno-
gênico52,53 ou sinal hipnógeno,53 e mais
comumente refere-se à sugestão pós-hip-
nótica transmitida para induzir a hipnose mais
rapidamente nas consultas seguintes. O ideal
é criar a sugestão pós-hipnótica segundo
estes critérios:
(a) Que o paciente esteja com a atenção
focalizada no que vamos dizer.
(b) Que o paciente esteja feliz no momen-
to que se transmite a sugestão.
(c) Que haja acentuada motivação por
parte do paciente para aceitá-la.
(d) Que seja lógica com relação à situação.
(e) Que seja específica a situação.
(f) Que focalize o objetivo.
(g) Que haja relação entre o sinal hipno-
gênico e o objetivo.
(h) Que possa ser imaginada pelo pacien-
te com todos os seus cinco sentidos.
(i) Que seja repetida umas seis a dez ve-
zes numa consulta e nas seguintes.
(j) Associar metáforas que aumentam a
eficiência.54
A sugestão pós-hipnótica pode estar mais
relacionada com a motivação do que com a
suscetibilidade hipnótica de uma pessoa. Pa-
cientes com baixa suscetibilidade hipnótica
medida pelas escalas de suscetibilidade,
quando explicados para agir como pessoas
muito suscetíveis, têm seis vezes mais pos-
sibilidades de executar com sucesso suges-
tões pós-hipnóticas do que as pessoas alta-
mente suscetíveis segundo as escalas.55
A sugestão pós-hipnótica com freqüên-
cia é empregada para associaruma situação,
um ato fisiológico ou um movimento volun-
tário como o a respiração, o movimento de
um dedo, ao relaxamento físico e mental, à
calma, à concentração, ao aumento da per-
formance. A fraseologia sugestiva é cuida-
dosamente elaborada a partir das informa-
ções obtidas do próprio paciente, sendo
transmitida quando o paciente está totalmen-
te atento. O objetivo do sinal desencadeante
da resposta pós-hipnótica (signo-sinal, sinal
condicionado, sinal hipnogênico, âncora) é
CAP˝TULO 4 93
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substituir uma resposta desagradável e inde-
sejável por uma resposta desejável para a
situação e, assim, com a hipnose associamos
respostas novas e desejadas, com situações,
comportamentos e experiências internas.
Lembrar que o tom da voz pode ser um sinal
condicionado ou âncora. Eis alguns exem-
plos:
Quando você chegar ao trabalho, sentar-
se na sua cadeira e fizer duas respirações,
inspirando pelo nariz e soltando o ar lenta-
mente pela boca, você sentirá todo o corpo
frouxo, solto, relaxando, sentindo uma sen-
sação maravilhosa de calma, tranqüilidade e
de bem-estar.
Quando sentar no seu local dedicado ao
estudo, imediatamente estará visualizando
dentro da sua mente a palavra aprender, e
desse momento em diante permanece con-
centrado no que deseja estudar e aprender.
Quando você entrar na sala do exame e
sentar-se no seu local para fazer a prova, fi-
cará sentindo imediatamente uma sensação
maravilhosa de calma tranqüilidade e de
bem-estar.
Ao receber a folha das provas você per-
manece tranqüilo, concentrado com sua ca-
pacidade de raciocínio e de lembrança, que
estão funcionando muito bem.
Quando você estiver na quadra de tênis
permanecerá calmo, tranqüilo e totalmente
concentrado na bola e no jogo.
Cada vez que estiver sacando (vôlei, tê-
nis, tênis de mesa) estará sentindo enorme
confiança e percebendo perfeitamente o lo-
cal que deseja colocar a bola.
Toda vez que você encostar as pontas dos
seus dedos indicador e polegar da sua mão
esquerda, imediatamente sentirá uma sensa-
ção maravilhosa de calma, tranqüilidade e
bem-estar.
Enquanto veste e permanece usando a ca-
misa do seu time para uma partida de futebol
você se sente calmo, tranqüilo e concentra-
do no objetivo de vencer.
Todas as vezes que o técnico transmitir
instruções, você facilmente as entende e as
executa.
Imediatamente antes de levar qualquer
alimento à boca a palavra esbelto fica flutu-
ando na sua mente, e você se visualiza com
o seu corpo bem-modelado, com o seu peso
ideal e sentindo-se maravilhosamente bem.
Ao iniciar uma palestra, ao ajustar o mi-
crofone, você se harmoniza totalmente com
a platéia e pronuncia uma palestra brilhante.
Toda vez que suas mãos estiverem den-
tro das luvas de boxe e você fizer os “pu-
nhos” você se concentra no adversário e fica
determinado a vencer.
Antes de cada lance livre, você com a bola
na mão toma uma respiração profunda pelo
nariz, solta o ar pela boca, fica tranqüilo, olha
para a cesta e joga automaticamente a bola
dentro da cesta.
A sugestão pós-hipnótica mostra que se
pode estabelecer e ativar objetivos, mesmo
quando a fonte dos objetivos está fora do
campo consciente (a pessoa está hipnotiza-
da) e que ativando coisas relacionadas com
objetivo (um sinal condicionado), ativa-se o
próprio objetivo.
Um paciente pode resistir a uma sugestão
pós-hipnótica se ele escolher resistir, se ocor-
rer uma emergência ou se a sugestão for con-
tra os seus interesses. Neste último caso ele
pode acordar, entrar espontaneamente em
sono natural ou simplesmente não cumprir a
sugestão. Quando ocorrer uma emergência,
ou uma situação que requeira a modificação
da resposta do paciente, ele poderá deixar de
cumprir a sugestão pós-hipnótica para aten-
der a situação de emergência, ou para atender
a uma situação que ocorreu imediatamente
depois do sinal-chave ter sido desencadeado.
Exemplificando, o paciente está sozinho em
94 CAP˝TULO 4
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sua residência, inicia o relaxamento com o seu
sinal hipnogênico, quando ouve o som da cam-
painha. Se atender a porta da sua residência
estiver de acordo com os seus interesses ele
pode deixar de cumprir a sugestão pós-hipnó-
tica. Mas, se atender à porta de sua residên-
cia não estiver de acordo com os seus inte-
resses, ele cumprirá a sugestão pós-hipnóti-
ca. E ainda, se após o sinal hipnogênico, quan-
do estiver realizando uma sugestão pós-hip-
nótica, perceber que o ferro de passar roupas
deixado ligado pela empregada está cheiran-
do a queimado (situação de emergência), ele
interromperá o cumprimento da sugestão e
atenderá a essa situação de emergência. O
cumprimento da sugestão pós-hipnótica é
mediado por chaves situacionais, mediadas
por expectativas e podem ser consideradas
ações dirigidas ao objetivo.
Algumas Indicações para as Sugestões
Pós-hipnóticas
ð Facilitar a rapidez da hipnose nas pró-
ximas consultas.
ð Facilitar e aumentar o relaxamento do
paciente.
ð Deixar de se importar com fatores ou
circunstâncias bem conhecidas e irri-
tantes, incômodas ou constrangedo-
ras, como: uso de próteses, uso de
óculos, uso de lentes de contato, a tor-
cida adversária, algumas vezes a opi-
nião da mídia, de determinadas pes-
soas etc.
ð Facilidade para apresentar-se em pú-
blico, apresentar um trabalho numa
reunião científica, conversar com um
superior, participar de um tutorial,
fazer uma exame.
ð Facilitar e melhorar o relacionamen-
to de vendedores, demonstradoras e
políticos, respectivamente com com-
pradores em potencial, clientes em
potencial e com os eleitores.
ð Aumentar a confiança no sucesso du-
rante uma competição esportiva ou
uma performance num palco.
ð Apagar ou anular a recordação de
acontecimentos passados relacionados
com padecimentos atuais, modificar a
memória das recordações ou modifi-
car as reações a essas recordações.
ð Eliminar o desconforto e a dor do pós-
operatório ou de um exame médico
invasivo.
ð Eliminar o desconforto e a “dor” du-
rante o trabalho de parto ou durante
uma cirurgia.
ð Transmitir sugestões terapêuticas es-
pecíficas.
ð Treinar o paciente quando estiver
indicada a hipnoterapia.
A sugestão pós-hipnótica apresenta du-
ração variável. Na literatura há relatos de
uma sugestão pós-hipnótica ter sido reali-
zada após muitos anos. Com provas indis-
cutíveis o período entre a sugestão pós-hip-
nótica e a sua realização pode estender-se a
muitos meses e mesmo anos.1 Essa durabi-
lidade foi investigada em 1963 por Edwards
que observou uma variação individual no
decaimento dos efeitos da resposta pós-hip-
nótica de um dedo a uma buzina até 405
dias, o maior intervalo testado.56 Por outro
lado, nesse mesmo ano Orne deu a suges-
tão pós-hipnótica para pessoas enviarem um
cartão-postal diariamente de uma pilha de
50 cartões.57 E o envio diário dos cartões-
postais parou muito antes de acabar a pi-
lha. O que facilita a persistência da suges-
tão pós-hipnótica é ela estar de acordo com
a vontade do paciente, não ser motivo de
constrangimento e ser possível de ser reali-
zada. A duração da sugestão pós-hipnótica
depende ainda da fraseologia sugestiva, do
CAP˝TULO 4 95
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modo como é formulada essa fraseologia e
das opções de reforço. Quando a sua exe-
cução depende de um sinal do próprio mé-
dico, a tendência é persistir por muito mais
tempo. O reforço periódico da sugestão pós-
hipnótica por meio da repetição do seu
enunciado tende a aumentar a eficácia da
resposta.
Se após a realização de uma sugestão
pós-hipnótica perguntarmos ao paciente por
que ele procedeu deste ou daquele modo,
por que fez isto ou aquilo, a tendência é ele
fazer racionalizações na tentativa de expli-
car o cumprimento da sugestão. Quando um
paciente concretizauma sugestão pós-hip-
nótica e o sinal condicionado continua per-
sistindo, ele poderá apresentar manifesta-
ções de ansiedade, sentir necessidade com-
pulsiva de cumpri-la novamente ou simples-
mente nada fazer porque já executou a su-
gestão.
Alguns autores58 não considerariam como
verdadeiras sugestões pós-hipnóticas, aque-
las que são realizadas após o término da hip-
nose formal, enquanto o paciente ainda está
na presença do hipnólogo, nem aquelas efe-
tivadas dias depois, quando o hipnólogo vê
o paciente durante esse intervalo de tempo.
Eles denominam essas sugestões de intra-
hipnóticas.
SUGESTÕES DE IMAGENS (VISUALIZAÇÃO)
Visualização significa formar conceitos,
sentimentos com imagens na mente. O pon-
to-chave é visualizar-se como sendo, tendo,
fazendo, agindo, alcançando, conseguindo,
obtendo ou como já tendo feito, agido, al-
cançado, conseguido, obtido o que se dese-
ja. Não é visualizando tentando conseguir ou
visualizando que irá conseguir ou que espe-
ra conseguir, que se obtém o resultado dese-
jado. Sugira ao paciente para visualizar-se
como tendo e sendo, para obter a resposta
desejada, porque o subconsciente não dis-
tingue entre fato real e fato vivamente ima-
ginado. Visualizando já tendo as qualidades
que se deseja ter, implanta-se no subcons-
ciente uma memória aprendida de uma ação
de sucesso, e informa-se ao subconsciente o
que espera alcançar. Com a visualização
criam-se dois objetivos: (1) A visualização
do objetivo realizado. (2) A visualização dos
passos conduzindo a realização do objetivo.
A visualização é poderosa porque vem de
dentro da pessoa e a pessoa acredita nela. A
pessoa imagina, visualiza imagens de suas
próprias memórias, experiências, sentimen-
tos e pensamentos. Portanto, a pessoa está
usando a linguagem do seu próprio subcons-
ciente para estabelecer mudanças. Quanto
mais praticar a visualização ou quanto mais
utilizar imagens visuais, tanto mais fácil e
detalhada será a visualização. A prática fa-
cilita a habilidade para visualizar. Geralmen-
te, a visualização é feita após a pessoa en-
trar num estado de relaxamento físico, men-
tal e psicológico. É preferível sugerir a
visualização de imagens em todos os senti-
dos, visualizando-se vivamente as sensoper-
cepções tácteis, olfativas, gustativas, auditi-
vas, visuais e cinestésicas. Fazer o enuncia-
do das imagens visualizadas de modo afir-
mativo e no presente do indicativo, detalha-
da e repetidamente. Descubra o tipo preferi-
DICA: Analise com calma e
detalhadamente cada frase da sugestão
pós-hipnótica, quanto ao conteúdo em
si, quanto às circunstâncias, quanto ao
tempo de aplicação e quanto às
respostas do paciente. A sugestão pós-
hipnótica é um aprendizado decorrente
da associação de informações que tende
a acontecer tanto melhor quanto mais a
atenção está focalizada durante esse
aprendizado.
96 CAP˝TULO 4
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do de visualização do paciente. Um paciente
para relaxar pode responder melhor à
visualização da sensação de pesado, outro à de
leveza, outro à de aquecimento, outro à
visualização das imagens auditivas de uma
música, outro às imagens visuais de uma
praia, outro às imagens gustativas de um ali-
mento e outro às imagens de movimento de
um baile.
Para sentir o poder da imaginação e
como as palavras podem curar, leia este
parágrafo visualizando cada frase desejan-
do sentir o que elas querem dizer. (Caso
não goste de pipoca, substitua por outro
alimento como amendoim.) Imagine-se
no verão no mês de janeiro. Visualize-se na
praia de sua preferência ... Você está
na praia de sua preferência. Você está dei-
tado sobre a toalha na areia da praia e é
meio-dia. O sol está a pique. Faz muito,
muito calor. Os raios do sol tocam no seu
corpo. Você está com sede ... Você sente
a garganta seca ... Faz muito, muito calor.
Você está com muita sede. Agora esta pas-
sando o vendedor de pipocas salgadas ... Você
compra um pacote e começa a comer ... O
sal nas pipocas aumenta a sua sede ... A
cada novo segundo a sua sede é maior.
Para sua sorte, neste momento, está pas-
sando o vendedor de melancia já cortada
em fatias e geladinha. Você compra algu-
mas fatias de melancia gelada e apetitosa
... Imediatamente você dá uma mordida
gostosa na melancia gelada ... Você per-
cebe o geladinho da melancia dentro da sua
boca. À medida que você saboreia a me-
lancia, ela vai matando a sua sede e vai
refrescando você por dentro. É provável
que chegando até este ponto da leitura
visualizando cada frase, você tenha senti-
do desejo de beber água, depois percebeu
a cor da melancia e sentiu o seu gosto, e
após ter comido um pedaço dessa fruta,
você esteja com água na boca e ainda à
medida que mastigava os pedaços de me-
lancia você se refrescava por dentro.
A opinião que uma pessoa faz sobre ela
mesma denomina-se auto-imagem. A auto-
imagem, esse retrato da pessoa, é o produto
das experiências passadas dessa pessoa, de
seus sucessos e de seus fracassos. A auto-
imagem pode ser modificada. A visualização
é o instrumento usado para modificar a auto-
imagem.59 Imagem é a representação de um
objeto na ausência do dado sensorial. É a
cópia que restou dentro de nós de uma per-
cepção anterior. As sugestões de imagens
(visualização) são importantes por vários
motivos: (a) Com elas vamos incorporando
ao nosso campo psíquico uma cópia de to-
das as experiências perceptivas, que pode-
rão ser utilizadas livremente em nosso tra-
balho mental. (b) Porque com as imagens
prescindimos da presença dos estímulos, re-
sultando em extrema comodidade mental,
pois não há necessidade de recorrer ao estí-
mulo que propiciou aquela imagem. Podem-
se visualizar imagens não apenas visuais,
mas imagens auditivas (como de sons, mú-
sica), imagens de sensações, imagens táteis,
imagens de calor, de frio, imagens com sen-
sação de analgesia ou anestesia, imagens
cinestésicas. (c) As sugestões de imagens são
sugestões que ampliam outras sugestões, por-
que criam imagens ou quadros mentais ou
cenários com propósitos definidos. Como
exemplo citamos cenários para rever o pas-
sado, cenários para sentir-se calmo, descan-
sado e relaxado, cenários para criar um am-
biente mais adequado às sugestões terapêu-
ticas para a reprogramação mental. (d) Para
reforçar uma sugestão verbal. (e) Para refor-
çar uma sugestão pós-hipnótica. (f) A PET
mostra que as sugestões de imagens intensa-
mente vividas e as imagens reais ativam as
mesmas áreas cerebrais.60
Considera-se três tipos de imagens para
três finalidades, segundo Fezler:61
CAP˝TULO 4 97
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1. Uma imagem específica para um pro-
blema específico. Por exemplo, se você joga
tênis de mesa e deseja melhorar a perfor-
mance, você imagina estar jogando esse es-
porte e você visualiza-se tocando na bolinha
com força adequada, com inclinação adequa-
da da raquete, no preciso momento, para
colocar a bolinha corretamente no exato cen-
tímetro quadrado da mesa, que você deseja,
do outro lado da rede.
2. Imagens para produzir um fenômeno
específico. O exemplo clássico seria o paci-
ente imaginar e visualizar uma luva espessa
de couro vestida na sua mão com a finalida-
de de obter a analgesia.
3. Imagem para fortalecer uma imagem.
Essas imagens indicam para você trabalhar
em relembrar sensações que não havia antes
praticado criar. São imagens apresentadas ao
paciente como a visualização de uma praia,
de um jardim, de um lago, de uma praça.
Essas imagens possibilitam o paciente de-
senvolver o poder de imaginação, porque elas
ensinam a relembrar quase todos os compo-
nentes sensoriais que abrangem sua realida-
de.61 Fezler conceitua realidade, “for prac-
tical proposes, as what you feel, what comes
to you through the five sense of sight, sound,
touch, taste, and smell. An image is a men-
tal representation of yourfive-sensory rea-
lity”61 (p.32).* O ponto básico, essencial,
fundamental do benefício das informações
obtidas pela imaginação e visualização ad-
vém do fato de que quando a imagem é sufi-
cientemente real, pode produzir os mesmos
efeitos que as imagens reais que você está
contemplando.
Ao transmitir sugestões de imagens con-
sidere:34
(a) Na visualização de um cenário pas-
sado, tenha certeza de que não está associan-
do esse cenário com nenhum pensamento, sen-
timento ou experiência negativa do paciente.
(b) Quanto mais intensa, mais viva e mais
detalhadamente o cenário for imaginado, me-
lhor e mais bem-sucedida será a resposta.
(c) Os componentes mais importantes
do cenário são: tranqüilidade e solidão.
(d) Indicar para o paciente estar no cen-
tro da cena, experienciando-a com todos os
seus cinco sentidos, e não apenas vendo-a
como quando assiste a um filme. Após o pa-
ciente ter experienciado completamente o
cenário, traga-o de volta para o local em que
está no momento presente.
DICAS SOBRE IMAGINAÇÃO/VISUALIZAÇÃO
As sensações experimentadas em cada
pessoa ficam registradas para sempre desde
que não sejam perdidas por doença ou trau-
matismo cranioencefálico. As pessoas pos-
suem a capacidade de imaginação, de visua-
lização, em todos os sentidos. A capacidade
de visualização ocorre claramente com ima-
gens visuais, mas pode-se imaginar qualquer
outro tipo de sensação percebida pelos nos-
sos sentidos. Com a seqüência do tratamen-
to, as imagens visualizadas em todos os sen-
tidos tornam-se mais intensas, vivas e deta-
lhadas. Pode-se usar a definição de Fanning62
modificada, conceituando visualização como
a criação consciente, volitiva, de impressões
sensoriais mentais. A palavra consciente62
separa a visualização do sonho; a palavra
volitiva62 significa que escolhe-se o local, o
tempo, o propósito e o conteúdo geral da
visualização. Os termos impressões senso-
riais se referem às imagens em todos os sen-
tidos, como imagens visuais com as cores e
*Fezler conceitua a realidade “com propósitos práti-
cos, como você sente, o que vem para você através
dos cinco sentidos, visão, audição, tato, gosto e olfa-
to. Uma imagem é a representação mental da realida-
de em seus cinco sentidos.” (Tradução do autor.)
98 CAP˝TULO 4
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seus matizes; imagens de sons com altura,
tonalidade, timbre; imagens de sabores como
doce, salgado, amargo, azedo; imagens de
odores; imagens de formas, imagens de sen-
sações térmicas como calor, frio, morno;
imagens de sensação de pressão, de sensa-
ção vibratória, imagens de sensações táteis
como textura fina, grosseira, lisa, áspera,
suave, espessa; a sensação do seco, do úmi-
do e do molhado.
Em psiquiatria a sensopercepção englo-
ba dois aspectos: (a) sensação, que é um es-
tado de consciência consecutivo à modifica-
ção de um órgão dos sentidos; (b) percep-
ção que é o processo psíquico pelo qual rela-
cionamos as nossas imagens sensoriais com
a nossa experiência anterior. Seria uma sen-
sação colorida pela experiência passada ou
memória. As impressões sensoriais apresen-
tam intensidade, duração e tom afetivo. A
visualização é feita a partir de imagens re-
presentativas e de imagens fantásticas.* Para
proceder à visualização pode-se: (1) Pedir
para o paciente escolher um cenário agradá-
vel para ser visualizado em todos os senti-
dos e não apenas no visual. (2) Apresentar
algum lugar ou alguma situação para o paci-
ente criar dentro o seu cenário de visuali-
zação. Esse local apresentado pode ser o ce-
nário de uma praia, cachoeira, piscina, pra-
ça, montanha, de um lago, campo, jardim,
luar, pôr-do-sol. (3) Pedir para o paciente
visualizar uma tela de cinema, de televisão
ou a tela de um monitor de computador. Nes-
te caso o paciente precisa realmente visua-
lizar, sentir o cenário com o máximo possí-
vel de realidade, e não apenas assistir ao ce-
nário como se estivesse assistindo a um fil-
me. Ele pode movimentar as imagens, dar
um tom afetivo, adicionar detalhes, incluir
emoções apropriadas. (4) Pode visualizar o
cenário dentro de sua própria mente, como
se o filme rodasse dentro de sua tela mental.
Para tornar as imagens mais vivas, coloque
as cores complementares lado a lado,61 por-
que as cores complementares tornam as co-
res mais vivas. Assim, visualize lado a lado
as cores vermelha e verde, azul e laranja,
amarelo e púrpura. Outro modo de obter
imagens mais vivas é visualizando inicial-
mente uma parede branca, um campo bran-
co, um teto branco ou simplesmente fixar a
visualização no branco por uns dois minu-
tos sem se distrair, e imediatamente depois
visualizar o cenário escolhido. As imagens
visualizadas logo após a visualização de al-
guma coisa branca, como uma parede bran-
ca, são mais vivas e mais intensificadas.61
As imagens também são importantíssimas
porque podem produzir estados emocionais,
respostas fisiológicas e controlar impulsos
básicos. Cada realização de uma pessoa, quer
seja a compra de uma casa, de um carro, a
decoração de um apartamento, as compras
no supermercado, a performance num espe-
táculo, a vitória numa competição, a apre-
sentação de uma conferência, foi antes cria-
da na mente dessa pessoa. Logo, aprender a
imaginar, a visualizar é a chave para desen-
cadear o sucesso. O que é esperado tende
ser realizado.
Texto para Auxiliar os Pacientes com
Dificuldade para Imaginação/Visualização
“Vamos desencadear e desenvolver sua
capacidade de criar, sua capacidade de visua-
lizar com os olhos de sua mente. Para isso,
sente-se confortavelmente com os pés tocan-
do o assoalho. Agora vou explicar como você
pode respirar. Quando pedir, você inspira o
ar pelas narinas lenta e profundamente, o
*Imagem representativa é a imagem da lembrança, é a
reativação da imagem mnêmica, sem que o estímulo
esteja presente. Imagem fantástica ou imaginada é
constituída por imagens representativas criando uma
nova imagem.
CAP˝TULO 4 99
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máximo que puder. A seguir, prenda confor-
tavelmente o ar nos pulmões, enquanto con-
ta mentalmente até quatro. Depois, você vai
soltar o ar pela boca, lenta e totalmente. À
medida que você sopra o ar pela boca você
vai sentindo-se relaxado, calmo e tranqüilo.
Muito bem, vamos começar. Inspire lenta e
profundamente o ar pelas narinas. ... Agora
prenda confortavelmente o ar nos pulmões
enquanto mentalmente conta de um a qua-
tro... Agora sopre pela boca len.. ta.. men..
te o ar de seus pulmões, e vá relaxando, ...
relaxando cada vez mais, cada vez mais re-
laxado, calmo e tranqüilo.
Agora, olhe para o seu corpo e veja a cor
da sua vestimenta. Preste atenção nos deta-
lhes da cor da sua vestimenta. Agora toque
com os dedos da sua mão no tecido da sua
vestimenta e sinta a textura. Muito bem, ago-
ra feche os olhos e visualize com os olhos
de sua mente a cor da sua vestimenta. Veja a
cor viva e detalhadamente. Agora visualize
a sensação do contato dos dedos da sua mão
com o tecido de sua vestimenta. Muito bem!
Abra os olhos e olhe para o seu pé direito.
Observe se está com sapato, chinelo, tênis,
sandália, ou apenas com a meia ou comple-
tamente descalço. Veja bem a cor ou as co-
res, observando as tonalidades e os detalhes
da forma. Muito bem! Agora, feche os olhos
e visualize com os olhos da sua mente o seu
pé direito. Procure imaginar vivamente como
está o seu pé direito, se com sapato, chinelo,
tênis, sandália, apenas com meia ou comple-
tamente descalço. Identifique algum detalhe
no seu pé direito. Agora abra os olhos e ob-
serve cuidadosamente a cadeira em que está
sentado. Veja bem a cor com suas tonalida-
des, sinta a textura do tecido. Sinta qual é a
sensação da pressão do seu corpo sobre a
poltrona; se é macia, fofa ou firme. Agora,
feche os olhos e visualize imaginando a pol-
trona na qual está sentado.Veja com a sua
imaginação a cor da poltrona com as tonali-
dades. Procure ver mais, mais vivamente a
cor ou as cores. Procure sentir a sensação da
textura do tecido da poltrona em que está
sentado. Agora visualize como sente a con-
sistência do assento, sinta a consistência do
assento, os detalhes do assento. Muito bem!
Neste momento eu vou contar de 1 a 3 e ao
pronunciar o número 3, você está totalmen-
te consciente e alerta. Número 1, ... Núme-
ro 2, ... Número 3.”
SUGESTÕES SUBLIMINARES, PERCEPÇÃO
INCONSCIENTE
Sugestões sublimares são as sugestões
que seriam percebidas abaixo do nível de
consciência, pelo subconsciente, podendo ser
auditivas e visuais, e, melhor ainda, a per-
cepção subliminar é a percepção na ausên-
cia de concorrente experiência fenomenoló-
gica.63 Em 1917 Poetzl64 foi quem primeiro
demonstrou a relação entre a estimulação
subliminar e a sugestão pós-hipnótica. So-
nhos e ações eram evocados dias ou sema-
nas após a exposição de uma pessoa aos es-
tímulos subliminares. A sugestão subliminar
teria influência no comportamento de uma
pessoa sem que essa pessoa percebesse cons-
cientemente. O subconsciente armazenaria
memórias, emoções, hábitos e também con-
trolaria as atividades automáticas. Quando
estamos aprendendo a andar, andar de bici-
cleta, dançar, tocar um instrumento, digitar,
o controle é voluntário, consciente. Posterior-
mente, quando já aprendemos e sabemos an-
dar, andar de bicicleta, dançar, tocar um ins-
trumento, digitar, o controle é automático
subconsciente. O subconsciente também
controla as funções autônomas, como a res-
piração, os batimentos cardíacos, o piscar, o
movimento do intestino, o calibre das
arteríolas e vênulas. O subconsciente influ-
encia através do consciente as atividades, o
100 CAP˝TULO 4
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comportamento e o modo de pensar de uma
pessoa. É postulado, sem prova definitiva,
que é extremamente mais fácil e rápido mo-
dificar aspectos da vida sobre o subcons-
ciente do que agindo diretamente sobre o
consciente. As sugestões subliminares vi-
suais seriam imagens ou texto escrito (fra-
ses com poucas palavras) projetados numa
tela ou monitor de TV, com extremamente
curta duração (milésimos de segundo), re-
petidas inúmeras vezes, que não podem ser
percebidas pela consciência. As sugestões
subliminares auditivas são sugestões sono-
ras verbais diretas, palavras ou frases mixa-
das com sons (como o produzido pelas on-
das do mar ou mixadas com uma música) de
modo que as palavras ou frases atinjam di-
retamente o subconsciente, sem percepção
consciente. O paciente ouve apenas o som
das ondas do mar ou o som da música, en-
quanto enviamos a fraseologia adequada para
cada caso, que atingirá apenas o seu subcons-
ciente. Desse modo seu subconsciente rece-
beria essas sugestões subliminares, que agi-
riam sobre o consciente, para traduzirem-se
nas modificações que o paciente deseja. A
maioria das vezes as sugestões subliminares
auditivas são gravadas em fita cassete ou em
CD, mescladas com uma música de fundo
ou com algum som adequado. Durante uma
hora de fita cassete subliminar, milhares de
sugestões (afirmações positivas) atingiriam
o subconsciente, sem a interferência ou o
senso crítico da mente consciente; sem a
necessidade de concentração do indivíduo,
e mesmo sem necessidade de o indivíduo
prestar atenção. A eficácia das sugestões
subliminares ofertadas em fitas de áudio ou
de vídeo dependeria obviamente do conteú-
do das sugestões e da qualidade da mixagem
eletrônica dos sons. Para a produção de fitas
com milhares de sugestões afirmativas seria
preciso que a pista da voz fosse acelerada
até tornar-se um guincho de alto tom não in-
teligível, e/ou multicamadas, muitas vezes até
haver uma deturpada confusão de sons.
Artesanalmente, poderíamos transmiti-las
num tom extremamente baixo (por vezes sus-
surrando as palavras), e tendo um som mu-
sical de fundo ou o som do farfalhar das ár-
vores de uma floresta ou o som das marés.
Neste parágrafo propositadamente deixamos
os verbos no tempo condicional porque mui-
tas pesquisas65-69 mostram que as fitas de
áudio com sugestões subliminares não pro-
duzem efeitos além dos decorrentes da ex-
pectativa do paciente. Os achados dos estu-
dos laboratoriais controlados indicam que a
percepção subliminar reflete a interpretação
pessoal do estímulo pela pessoa e não há evi-
dência de que as pessoas iniciem ações de-
correntes da percepção subliminar. Uma pes-
soa ao adquirir uma fita com mensagens
subliminares de auto-auxílio espera que essa
fita funcione para ela, de modo que não é a
mensagem subliminar, mas a expectativa65 e
a crença numa mensagem subliminar que po-
deriam causar os feitos esperados. Essas fi-
tas de auto-auxílio se tiverem algum benefí-
cio, serão devidos a uma resposta às expec-
tativas da pessoa e não diretamente por cau-
sa da mensagem subliminar. O estudo con-
trolado de Spangenberg et al. sobre mensa-
gens subliminares de auto-auxílio em fitas de
áudio para aumentar a auto-estima, realçar a
memória e reduzir o peso também não de-
monstrou nenhum efeito decorrente das pró-
prias mensagens subliminares.70
As sugestões subliminares visuais são pro-
duzidas em fitas de vídeo, de modo que as
mensagens subliminares possam ser imagens
ou frases curtas projetadas como “flashes” na
tela, raramente percebidas pela consciência.
Há um equipamento extremamente preciso,
caro e difícil de manipular, denominado
taquitoscópio, usado para apresentar um estí-
mulo visual de curtíssima duração, da ordem
de 1 milessegundo. A estimulação subliminar
CAP˝TULO 4 101
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visual pode ser foveal ou parafoveal. Na
foveal, quando o estímulo é apresentado no
centro do campo visual para alcançar direta-
mente a fóvea, como, por exemplo, é projeta-
do no centro da tela do monitor de TV. Na
parafoveal, quando o estímulo é apresentado
fora do centro do campo visual, por exemplo
num dos cantos do monitor de TV.
As sugestões subliminares seriam extre-
mamente eficientes porque alcançariam dire-
tamente o subconsciente sem interferência do
consciente, sem a necessidade de prestar aten-
ção nelas. Estas sugestões são elaboradas se-
guindo os pontos básicos de melhor formula-
ção das sugestões, sendo essencialmente cur-
tas, claras, definidas, afirmativas no presente
do indicativo. Contudo, ainda há dúvidas na
comunidade científica sobre a eficiência des-
sa técnica, porque as pessoas têm limiares
diferentes de percepção, sendo difícil estabe-
lecer o nível mínimo de percepção visual e
auditivo para a transmissão dessas mensagens.
A informação percebida pelo consciente per-
mite a pessoa utilizá-la para agir e produzir
efeitos no mundo,71 ao passo que a informa-
ção percebida apenas pelo inconsciente pro-
duziria reações mais automáticas que não po-
deriam ser controladas pela pessoa.72,73
O estímulo percebido inconscientemen-
te pode influenciar as reações afetivas74 e as
reações afetivas são provavelmente mais in-
fluenciadas pelo estímulo inconscientemen-
te percebido do que pelo estímulo percebido
pelo consciente.75 Mas esses estudos mos-
tram a persistência do efeito por apenas al-
guns segundos após a estimulação. Numa
metanálise de 44 estudos com 2.517 pacien-
tes, investigando a memória sobre eventos
durante a anestesia geral, concluiu-se:76 (a)
que há efeitos da percepção inconsciente
mesmo após 24 horas da estimulação e até
36 horas, (b) as sugestões transmitidas du-
rante a anestesia não tiveram nenhum efeito
ou efeito muito pequeno na recuperação pós-
operatória. No estudo de Levinson,77 foi lido
um texto de algumas linhas para dez pacien-
tes sob anestesia geral. Um mês depois, os
dez pacientes foram hipnotizados, sendo que
quatro puderam lembrar quase todo o texto;
quatro tinham alguma memória do texto e
doisnada lembraram. Isso sugere que a per-
cepção inconsciente pode ter um relativamen-
te longo impacto de duração se a informação
percebida for predominantemente relevante
e significativa para a pessoa. O desafio dos
futuros estudos será pesquisar os meios para
estudar a importância de relevância pessoal
das informações na determinação do impacto
e na duração do efeito da percepção inconsci-
ente e também estabelecer se as pessoas dife-
rem em suas sensibilidades aos efeitos da per-
cepção das informações inconscientes.78 O
autor, embora com limitada experiência na
administração de fitas de áudio de auto-auxí-
lio com mensagens ditas subliminares, não
observou nenhuma eficácia.
SUGESTÕES DE RELAXAMENTO
Geralmente são as sugestões iniciais que
conduzem o paciente a um confortável re-
laxamento físico e psicológico. Essas su-
gestões podem incluir simplesmente frases
para ativar o relaxamento muscular, habi-
tualmente precedidas por pausas (...) para
permitir tempo para os músculos responde-
rem. São exemplos: “Relaxe ... permita seus
músculos permanecerem frouxos e soltos”.
Muitas vezes se usam imagens para refor-
çar o relaxamento muscular, como: “Os mús-
culos dos braços estão moles como espu-
ma”. Outras vezes usam-se palavras para
desencadear sentimentos, como: “Você está
se sentindo maravilhosamente bem e em
paz.” Pode-se também usar imagens para
desencadear o relaxamento e sentimentos
agradáveis, como, por exemplo, dizer para
102 CAP˝TULO 4
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quem gosta de praia e de sol: Imagine-se na
sua praia favorita ... imagine-se deitado so-
bre uma toalha na areia da praia. Pode-se
ainda utilizar toque para facilitar o relaxa-
mento muscular, que é mais evidente nas
crianças pequenas quando as embalamos
suavemente, ou pedir para o paciente ima-
ginar se sentindo confortável tocando um
bichinho de pelúcia (naturalmente se gos-
tar desses bichinhos e não tiver alergia).
Além disso, pode-se, por meio da música
de fundo adequada para cada pessoa, faci-
litar o relaxamento. Perguntar para o paci-
ente qual a música que lhe deixa mais con-
tente e confortável, e pedir para ele imaginá-
la ouvindo. Naturalmente, estes exemplos,
dependendo das pessoas, desencadeiam ou
não respostas mais intensas ou menos in-
tensas, após maior ou menor tempo de ação.
O ideal seria encontrar as palavras, as ima-
gens, os toques, as músicas mais adequa-
das para cada pessoa, para desencadear as
respostas desejadas e para isso pergunte as
preferências das pessoas. Lembrar também
que muitas vezes o relaxamento do múscu-
lo pode estar acompanhado de parestesias:
formigamento, amortecimento, sensação de
peso, de leveza, de calor ou de frio.
Apresentamos a seguir algumas manei-
ras para induzir o relaxamento muscular, o
relaxamento psicológico e a sensação de
tranqüilidade e de bem-estar que, na prática
clínica, podem ser modificadas para preen-
cher as necessidades de cada pessoa. Uma
vez obtido o relaxamento físico e a paz inte-
rior, pode-se ancorá-los por meio de um si-
nal condicionado. Nas consultas seguintes
basta executar o sinal condicionado para o
paciente entrar rapidamente no profundo re-
laxamento.
(a) Escolha uma posição confortável. ...
Respire fundo, inspirando o ar pelo nariz, re-
tendo o ar o máximo que confortavelmente
seja possível, e depois exalando o ar pela
boca. Quando tiver soprado todo o ar, con-
traia mais o abdome e o músculo diafragma
para expelir ainda mais ar, e relaxe. ... Sinta
o conforto do relaxamento. Agora contraia
os músculos dos seus membros inferiores,
desde os dedos dos pés, desde os dedos dos
pés, ... até a cintura, passando pelos mús-
culos das pernas, ... do joelho, e das coxas.
... Sinta os músculos dos seus membros in-
feriores contraídos. ... Muito bem! Agora
solte todos esses músculos, descontraia com-
pletamente e sinta o conforto do relaxamen-
to. ... Agora contraia os músculos dos dedos
das mãos e feche os dedos das mãos bem
apertados. ... Deixe contraídos os músculos
das mãos, dos punhos, dos antebraços, dos
braços e dos ombros. ... Contraia os mús-
culos desde os dedos das mãos até os ombros.
... Agora, solte esses músculos descontrai-
damente e relaxe, ... relaxe mais, ... relaxe
ainda mais. ... Agora, contraia os músculos da
testa, da face e do pescoço. ... Agora, relaxe
esses músculos e sinta o bem-estar do rela-
xamento desses músculos. ... Relaxe os mús-
culos em torno dos olhos. ... Relaxe os
músculos em torno da boca, deixando os lá-
bios entreabertos. ... Deixe a testa solta, dei-
xe solto os músculos da mandíbula, os lábios
ficam entreabertos. Todos os músculos de
sua face ficam relaxados. ... Incline a cabe-
ça para um lado, procurando tocar no om-
bro, ... e agora para o outro lado. ... Agora,
relaxe os músculos do seu pescoço. ... Suas
pálpebras estão pesadas, ... muito pesadas.
... Imagine suas pálpebras pesadas, muito
pesadas, ... pesadíssimas, pesadíssimas como
chumbo. Feche os olhos e sinta como estão
confortáveis. ... Agora, dirija a sua atenção
para a musculatura do seu tórax e relaxe os
músculos do seu tórax. ... Agora, relaxe os mús-
culos do seu abdome. ... Agora, solte os
músculos das suas costas, relaxe mais ainda
os músculos das suas costas. ... Relaxe os
músculos da sua coluna vertebral. ... Imagi-
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ne completamente relaxados os músculos da
sua coluna vertebral, ... relaxe profundamente, ...
continue relaxando mais profundamente. ...
Todo o seu corpo desde a cabeça até a ponta
dos pés está relaxado, ... completamente re-
laxado, ... profundamente relaxado. É ótimo
que você possa relaxar com tanta facilidade.
(b) Sente-se ou deite-se confortavelmen-
te. Concentre a sua atenção nos dedos dos
pés. Imagine os dedos dos seus pés pesa-
dos, muito pesados. Os dedos dos seus pés
estão pesados, muito pesados ... Imagine
agora seus pés, suas pernas, suas coxas pe-
sadas ... muito pesadas. ... Seus pés, suas
pernas, suas coxas estão muito pesadas ...
pesadíssimas. A sensação de relaxamento
se estende em seus membros inferiores, des-
de os dedos dos pés até a cintura ... Seus
membros inferiores estão pesados, frouxos,
soltos, relaxados, muito relaxados, profun-
damente relaxados. ... Você pode continuar
relaxando. Neste momento, visualize os de-
dos de suas mãos pesando muito, os dedos
de suas mãos pesados. ... Sinta os dedos e
suas mãos pesados. Agora imagine ainda
mais pesados os dedos de suas mãos. Essa
sensação de peso vai se estendendo, pelos
seus punhos, antebraços, cotovelos, braços,
até os seus ombros. Todos os músculos de
seus membros superiores estão pesados,
frouxos, soltos, relaxados ... profundamen-
te relaxados. ... Tudo está muito bem! Essa
sensação agradável do relaxamento vai en-
volvendo os músculos seu tórax e do seu
abdome. Os músculos do seu tórax e do seu
abdome estão soltos, frouxos, relaxados. ...
Muito bem, agora focalize os músculos da
sua coluna vertebral, imaginado-os frouxos,
soltos, relaxados, descontraídos, relaxados.
... Os músculos da sua coluna vertebral es-
tão relaxados, muito relaxados, ... cada vez
mais relaxados, profundamente relaxados.
Agora, dirija a sua atenção aos músculos
da sua cabeça e da sua face. Os músculos
da sua cabeça e da sua face relaxam. Os
músculos da sua cabeça e da sua face es-
tão frouxos e soltos, muito frouxos, soltos e
relaxados. ... Os músculos da sua mandíbu-
la estão frouxos e relaxados ... tão frouxos
e relaxados que seus lábios se entreabrem.
... As suas pálpebras estão pesadas ... mui-
to pesadas. ... Todo o seu corpo está frou-
xo, solto, relaxado, muito relaxado, profun-
damente relaxado, e você se encontra num
estado de calma, tranqüilidade e bem-estar.
É maravilhoso como você pode relaxar com
tanta facilidade.
(c) Eu vou contando de dez até um, e a
cada número que eu contar, vocêvai entran-
do num relaxamento cada vez maior. Os
músculos da sua cabeça e os músculos da
sua face estão relaxando. ... Os músculos das
suas pálpebras, da sua mandíbula e da sua
boca estão muito, muito relaxados, profun-
damente relaxados. ... Eu conto o número
dez, seus músculos do seu pescoço e do seu
tórax estão relaxando, ... continuam relaxan-
do. Os músculos do seu pescoço e do seu
tórax estão cada vez mais relaxados, profun-
damente relaxados. A cada número que eu
contar o relaxamento dos seus músculos é
mais intenso. ... Número nove, essa sensa-
ção de relaxamento, envolve ainda mais os
músculos do seu tórax, e invade os múscu-
los do seu abdome. Sinta como estão frou-
xos e soltos os músculos do seu tórax e do
seu abdome. ... Número oito, esse relaxamen-
to vai envolvendo os músculos de seus mem-
bros superiores desde os ombros até as pon-
tas dos dedos. Os músculos dos seus ombros,
braços, antebraços, punhos, mãos e dedos
estão cada vez mais relaxados, profundamen-
te relaxados. ... Número sete, os músculos
da sua cabeça e da sua face estão cada vez
mais frouxos, cada vez mais soltos, cada vez
mais relaxados, profundamente relaxados.
Os músculos do seu pescoço, do seu tórax e
do seu abdome estão cada vez mais frouxos,
104 CAP˝TULO 4
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mais soltos, mais relaxados, profundamente
relaxados. Os músculos de seus membros
superiores, desde os ombros até as pontas
dos dedos estão cada vez mais frouxos, cada
vez mais soltos, cada vez mais relaxados,
profundamente relaxados. ... Número seis,
esse relaxamento invade os seus membros
inferiores. Os músculos das suas coxas es-
tão relaxados, muito relaxados. ... Suas per-
nas estão relaxadas, muito relaxadas. ... Seus
pés estão relaxados, muito relaxados. Os
dedos dos seus pés estão relaxados, muito
relaxados. ... Você continua relaxando. Eu
conto cinco, ambos os seus membros inferio-
res estão ainda mais frouxos, mais soltos,
mais relaxados, profundamente relaxados.
Os músculos da sua cabeça, do seu pescoço,
da sua face estão profundamente relaxados
e seus lábios entreabertos. Os músculos do
seu tórax e do seu abdome estão cada vez
mais relaxados, estão profundamente rela-
xados. Os músculos dos seus membros su-
periores, desde os ombros até a ponta dos
dedos estão mais frouxos, mais soltos, mais
relaxados, profundamente relaxados. Os
músculos de seus membros inferiores desde
a cintura até a ponta dos dedos dos pés estão
ainda mais relaxados, profundamente rela-
xados. ... Agora eu conto quatro e você re-
laxa os músculos das suas costas. ... Imagi-
ne os músculos das suas costas frouxos e
soltos. ... Agora visualize os músculos das
suas costas frouxos, soltos e relaxados,
muito relaxados. Esse relaxamento agradá-
vel invade os músculos da sua coluna ver-
tebral. ... Você visualiza os músculos da sua
coluna vertebral se relaxando, se relaxan-
do cada vez mais, ... cada vez mais relaxa-
dos. Os músculos da sua coluna vertebral
continuam relaxando profundamente. A
cada número que eu conto, seu relaxamen-
to é ainda maior. Ao contar o número três,
todo o seu corpo está frouxo, solto, relaxa-
do, tranqüilo, com uma sensação maravi-
lhosa de bem-estar. Você sente essa agra-
dável sensação do relaxamento. Você está
completamente relaxado, desde a cabeça até
a ponta dos pés. Você sente essa maravi-
lhosa sensação de calma, tranqüilidade e de
bem-estar. Corpo totalmente relaxado, pro-
fundamente relaxado. Número dois, você se
sente relaxado, descontraído, calmo, tran-
qüilo. ... Todo o seu corpo está relaxado,
muito relaxado, profundamente relaxado.
Eu conto um, você está num estado mara-
vilhoso de calma, tranqüilidade, bem-estar
com seu corpo relaxado, muito relaxado,
profundamente relaxado.
(d) Sentado na poltrona o peso do seu
corpo se descarrega no assento e os braços
caem soltos ao lado do corpo no colo, e você
começa perceber os seus pés dentro dos sa-
patos, e sente os pés dentro das meias sendo
como uma sensação de formigamento ou
deslizamento, enquanto seu corpo relaxa. ...
Você percebe seu corpo de encontro ao as-
sento da poltrona enquanto você vai rela-
xando confortavelmente cada vez mais, e ou-
vindo a minha voz e relaxando mais. A cada
palavra que ouve você relaxa ainda mais.
Seguir desse modo para outras partes do
corpo.
SUGESTÕES PARA SINTONIZAÇÃO,
TREINAMENTO E APROVEITAMENTO (SSTA)
As sugestões para sintonização, treina-
mento e aproveitamento (SSTA)* são for-
muladas para o paciente tornar-se cada vez
mais sintonizado e responsivo às sugestões
necessárias para o tratamento específico. As
chamadas sugestões de aprofundamento, que
nós chamamos de sugestões para sintoniza-
*Aspectos adicionais sobre as SSTA no Capítulo 8
— Facilitar a hipnose, sugestionabilidade e susce-
tibilidade.
CAP˝TULO 4 105
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ção, treinamento e aproveitamento (SSTA),
esclarecem e intensificam as motivações do
paciente,79 superam equívocos ou mal enten-
dimentos ou preferências estéticas do paci-
ente, modificando expectativas do paciente,
do hipnólogo ou de ambos.79 As SSTA sin-
tonizam mais o paciente aos objetivos dese-
jados, mas a capacidade real do paciente para
a hipnose permanece a mesma. Dentro do
contexto de cada conjunto de SSTA apresen-
tado, crie frases com as associações que se-
jam universais nas experiências das pessoas,
porque essas associações usualmente favo-
recem à sintonização delas com os resulta-
dos esperados. Ex: Você está respirando e
relaxando, e neste momento você percebe o
movimento do seu tórax em cada movimen-
to respiratório e relaxa mais.
1. SSTA verbais diretas. Você está cada vez
mais receptivo a sua reprogramação mental.
Seu relaxamento está cada vez mais profundo.
Os músculos do seu corpo estão relaxados, pro-
fundamente relaxados. Você se envolve cada
vez mais com a reprogramação mental.
2. SSTA relacionadas com o que o paci-
ente experiencia no momento. A sugestão que
estamos transmitindo é associada ao que o pa-
ciente está experienciando no momento, para
facilitar ainda mais a aceitação das sugestões
de reprogramação mental. Assim, quando di-
zemos ao paciente para respirar fundo, e ele
faz uma respiração profunda, adicionamos: a
cada respiração sua, seu relaxamento torna-
se ainda maior ou a cada respiração você pode
continuar relaxando mais.
3. SSTA relacionadas com a contagem.
“Vou contar de um a cinco e a cada número
que eu disser você fica mais relaxado. À
medida que eu for contando você vai-se tor-
nando profundamente relaxado. Vou come-
çar a contar. Número um, você vai ficando
relaxado. Número dois, os músculos do seu
corpo estão cada vez mais relaxados. Nú-
mero três, você está relaxado, muito relaxa-
do, profundamente relaxado. Você pode con-
tinuar relaxando. Número quatro, Você está
cada vez mais relaxado, com todos os mús-
culos do seu corpo cada vez mais relaxados,
profundamente relaxados. Número cinco,
você está total e completamente relaxado,
sentindo uma sensação maravilhosa de cal-
ma, tranqüilidade e de bem-estar”.
4. SSTA relacionadas com uma resposta
que será necessária obter durante o trata-
mento específico. Quando vamos eliminar o
hábito de fumar, podem-se dar sugestões para
a extensão e a abertura dos dedos da mão,
extensão do pulso e do cotovelo, a fim de
tornar impossível a colocação de um cigarro
na boca. Então, durante o treinamento pode-
se sugerir a rigidez dos dedos da mão e do
braço. Para determinados tratamentos pode-
se induzir movimentos automáticos, fecha-
mento dos lábios com catalepsia, analgesia
na mão direita ou esquerda, indução de so-
nhos, provocar o diálogo com o paciente. O
treinamento da conversação do paciente po-
derá no futuro facilitar a hipnoterapia.
5. SSTA por meio das assim chamadas
sugestões pós-hipnóticas. Comunica-se ao
paciente que na próxima consulta maisrapi-
damente estará receptivo às sugestões, mui-
to mais receptivo do que se encontra agora,
e aceitará totalmente as sugestões.
6. SSTA por meio de imagens. Durante a
anamnese procurar saber se as imagens que
pretendemos propor são agradáveis e desper-
tam sensações agradáveis. Então, segundo
cada caso, pode-se sugerir: Imagine um tú-
nel de aproximadamente cem metros de com-
primento. ... Imagine-se entrando no túnel.
Visualize-se andando e iniciando o percurso
desse túnel, e a cada passo você fica ainda
mais receptivo a sua reprogramação mental
... (ou aqui introduzir o tipo de sugestões te-
rapêuticas necessárias). Por exemplo, no
caso do tratamento para tornar-se e perma-
necer esbelto, dizemos: Você fica mais re-
106 CAP˝TULO 4
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ceptivo às sugestões de emagrecimento. Você
continua atravessando o túnel e a cada pas-
so torna-se mais receptivo às sugestões de
emagrecimento. É ótimo que você possa fi-
car receptivo às sugestões de emagrecimen-
to com tanta facilidade. ... Agora você está
no meio do túnel e entende como é fácil pra-
ticar alguma atividade física. ... Você conti-
nua percorrendo o túnel e entendendo como
é tão fácil praticar uma atividade física como
andar, dançar ou fazer exercícios. ... Enquan-
to você vai passando pelo túnel você vai per-
cebendo como pode ser fácil manter-se afas-
tado de açúcar, bolos, tortas e sorvetes. ...
Quando você sair do túnel você estará ainda
mais sintonizado com o seu objetivo de tor-
nar-se e permanecer esbelto, com um corpo
atrativo e bem-modelado. ... Você continua
visualizando-se passando pelo túnel. Você
pode continuar sintonizando-se ainda mais
com a sua meta de emagrecimento. ... Ago-
ra, você aproxima-se do final do túnel. À
medida que você continua andando vai au-
mentando a sua receptividade às sugestões
terapêuticas. ... Você continua andando e sen-
tindo uma sensação maravilhosa de calma,
tranqüilidade e bem-estar, e profundamente
receptivo às sugestões terapêuticas. ... Nes-
te momento, você chega ao final do túnel e
sente-se ampla e totalmente receptivo às su-
gestões terapêuticas para a sua saúde e feli-
cidade. Você sai do túnel e você está ampla
e totalmente receptivo às sugestões terapêu-
ticas para tornar-se e permanecer esbelto.
7. SSTA por meio de uma afirmação posi-
tiva seguidas de perguntas subjetivas. A afir-
mação positiva indica o caminho, enquanto as
questões subjetivas levam a imaginação do
paciente profundamente para o subconsciente.
Exemplo: Olhe para o céu. O que você sente?
8. SSTA utilizando uma questão positiva
afirmativa. Diga-me como se sentirá quan-
do estiver ainda mais profundamente em hip-
nose? Com qual rapidez você pode entrar
mais profundamente na hipnose? Questões
afirmativas e positivas envolvem o paciente
com a resposta.
9. SSTA enunciadas pelo próprio pacien-
te. Pedimos para o paciente contar de um a
dez, e a cada número que ele pronunciar,
ele vai-se tornando mais receptivo a sua
reprogramação mental. Você pode falar e
continuar sentindo essa sensação maravilho-
sa de bem-estar e de relaxamento. Conte o
número um, o paciente diz um, e o hipnólogo
acrescenta: A cada número que você conta,
você torna-se mais receptivo às sugestões
terapêuticas de sua reprogramação mental.
Continuar assim até o paciente chegar a dez.
SUGESTÕES PARA CANCELAR CRENÇAS
NEGATIVAS
As afirmações são importantes na mudan-
ça de atitudes e de hábitos. As afirmações
agem no subconsciente e no consciente pela
repetição. O subconsciente está repleto de
crenças, informações, pensamentos e expe-
riências. Quando numa pessoa predominam
as crenças, informações, os pensamentos, os
sentimentos e as experiências negativas, pes-
simistas, de derrota, fracasso, incompetên-
cia, medo, insucesso, dificuldade, incapaci-
dade, essa pessoa tende apresentar compor-
tamento negativo, pessimista, acabando por
colher muitos fracassos na vida. Geralmen-
te, os pensamentos negativos vão se estrati-
ficando na mente desde a infância. É o caso
daquela pessoa que foi criada sob o julgo da
palavra não. Não pode fazer isso. Não pode
fazer aquilo. Mais tarde, já na escola, a mí-
nima dificuldade é considerada como uma
barreira intransponível, e a criança já come-
ça colher fracassos. Essa criança continua
crescendo, concentrando-se no ponto de que
para ela as coisas não podem dar certo. Re-
almente as coisas não dão certo porque ela
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só antevê dificuldades e derrotas, e será isso
que colherá. Quando adulto essa pessoa é o
resultado de seus próprios pensamentos ne-
gativos, traduzindo-se por um total fracas-
so. Para remover essas crenças negativas que
são constituídas de pensamentos, sentimen-
tos, idéias, significados e experiências desa-
gradáveis, o profissional de saúde primeiro
precisa reconhecer a existência, depois pro-
curar encontrar a causa oculta dentro da
negatividade, e depois limpar, cancelar do
subconsciente e do consciente todo esse en-
tulho negativo. As crenças negativas podem
estar relacionadas com resultados (isso não
funciona), com incapacidade (não consegui-
rei), com identidade (eu não mereço). Para
Dilts80 as crenças são o estabelecimento de
molduras que determinam como as coisas
depois tornam-se interpretadas. Para uma
pessoa o sentimento de uma crença é que ela
representa uma realidade por meio da qual
ela vê o mundo de acordo com a sua crença,
isto é, de acordo com a sua realidade. Pode-
se considerar uma crença como um progra-
ma que a pessoa executa para pensar, sentir,
perceber, ser ou relacionar-se. A crença or-
ganiza o comportamento e afeta o organis-
mo. Uma fraseologia para cancelar as cren-
ças negativas poderia ser a seguinte: agora
você prefere cancelar os pensamentos nega-
tivos, os sentimentos negativos, as experi-
ências negativas, do seu consciente e do seu
subconsciente ... você elimina de seu cons-
ciente e de seu subconsciente todos os pen-
samentos negativos, todas as experiências
negativas ... você cancela de seu consciente
e de seu subconsciente todas as experiências
passadas de fracasso.
Muitas vezes, antes de fazer a reprogra-
mação mental com as sugestões terapêuti-
cas, cancela-se do subconsciente tudo de
negativo que lá existe. Uma maneira de lim-
par o subconsciente é através da visualização
numa tela na cor cinza das informações in-
desejáveis e depois afirmando que elas es-
tão eliminadas de todos os níveis do pensa-
mento do paciente.81 A seguir, pedir para o
paciente visualizar a palavra cancelo, em
preto na tela, e ao ver essa palavra que ele
repita para ele mesmo cancelo ... cancelo ...
cancelo as idéias negativas sobre isto (men-
cione sobre o quê). A seguir afirme que são
cancelados do seu pensamento hábitos inde-
sejáveis (mencione aqui os hábitos). Estes
hábitos indesejáveis (mencione-os aqui) são
cancelados do seu pensamento. Agora,
visualizar uma luz brilhante piscando na tela
que simboliza a remoção das idéias negati-
vas. Neste instante afirmar que a mente do
paciente está pronta para aceitar idéias com-
pletamente positivas, e que ele visualiza na
tela na cor dourada, as afirmações referen-
tes ao que deseja obter,81 tais como: eu me
sinto com confiança; eu mereço o melhor;
faço de minha vida um êxito completo. Ago-
ra, pedir para o próprio paciente dizer para
ele mesmo que o seu subconsciente aceita
essas verdades.
A fraseologia exposta pode funcionar
apenas para algumas pessoas. O ideal é
desativar as crenças negativas, e isso é fei-
to executando as seguintes etapas: (1) Iden-
tificar as crenças negativas relacionadas
com o problema do paciente. (2) Colocar
em dúvida as crenças negativas por meio
do questionamento. (3) Associar as cren-
ças negativas com situações que realmente
o paciente tenha dúvida, incerteza e inse-
gurança. (4) Associar as crenças negativascom alguma coisa que definitivamente o
paciente não acredite. Na realidade, não
dispomos de comprovação objetiva da eli-
minação do entulho negativo da estrutura
psíquica de uma pessoa. Contudo, os efei-
tos desejados são obtidos e esse entulho
negativo deixa de se manifestar. Portanto,
uma vez desacreditada a crença negativa,
quer sejam pensamentos, sentimentos, sig-
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nificados ou experiências desagradáveis,
pode-se, na fraseologia sugestiva, especifi-
camente, eliminá-los. Eliminar, apagar e
limpar também os sentimentos de ressenti-
mento, preocupação, raiva, amargura, má-
goa, tristeza, fracasso e derrota. Após a eli-
minação do entulho negativo, criar expec-
tativas para o próprio paciente desenvolver
crenças saudáveis, usando afirmações po-
sitivas, repetidas, que criam pensamentos,
sentimentos, hábitos e atitudes saudáveis,
otimistas, éticas, honestas, de vitória, pro-
gresso e sucesso. As afirmações positivas,
repetidas várias vezes, são intensificadas ao
máximo pela visualização detalhada do ob-
jetivo-alvo. O estabelecimento de uma nova
crença de comum acordo com o paciente,
segue algumas etapas: (1) Estabelecer de
acordo com paciente o objetivo a atingir,
como já atingido. (2) Criar na mente do
paciente uma vaga representação de uma
idéia adequada para o objetivo estabelecido.
(3) Acrescentar maior definição para essa
idéia. (4) Ampliar os conhecimentos sobre
essa idéia na mente do paciente. (5) Intensi-
ficar a idéia de modo que ele acredite nessa
idéia. (6) Apresentar razões, provas, testemu-
nhos ou analogias para que ele se convença
da idéia tornando-a uma crença positiva e
adequada para a resolução do seu problema.
(7) Expor repetidas vezes, quer diretamen-
te, quer por meio de metáforas, analogias,
comparações, essa crença adequada, posi-
tiva e correta para o paciente acreditar nela.
SUGESTÕES TERAPÊUTICAS ESPECÍFICAS E
INESPECÍFICAS
Quando auxiliado pelas sugestões tera-
pêuticas o paciente escolhe modificar a sua
maneira de observar a sua realidade, a sua
realidade modifica-se e ele começa melho-
rar.
As palavras são poderosas porque trans-
mitem poder. O poder pode ser entendido
como: (1) Capacidade de comunicação de
uma pessoa com outra. (2) Capacidade de
uma pessoa aprender com as palavras ouvi-
das ou lidas. (3) Capacidade de as palavras
modificarem o modo usual como uma pes-
soa está vivendo, deixando-a calma, ansio-
sa, alegre, triste, com felicidade ou infeli-
cidade. (4) Capacidade de modificar reações
do sistema nervoso autônomo, reduzindo ou
aumentando secreções internas e externas,
modificando as freqüências cardíaca e res-
piratória. (5) Capacidade para modificar
constituintes do sistema imunológico. Por-
tanto, as palavras podem ser poderosos fa-
tores para cura de doenças, quer essen-
cialmente orgânicas, quer essencialmente
mentais. As palavras fazem parte das su-
gestões verbais, que associadas às suges-
tões extraverbais e as sugestões não-ver-
bais, podem exercer seus poderosos efei-
tos terapêuticos.
Sugestões Terapêuticas Específicas
São sugestões de qualquer tipo, com con-
teúdo especifíco, especialmente direcionadas
para o tratamento de determinada manifes-
tação clínica do paciente. As fraseologias
dessas sugestões estão detalhadas nos capí-
tulos referentes ao tratamento das condições
clínicas que serão abordadas, como perma-
necer livre do fumo, manter-se afastado de
bebidas alcoólicas, tornar-se e permanecer
esbelto, eliminar as fobias, vencer a depres-
são. Há várias fraseologias para cada condi-
ção clínica. Escolher uma ou mais opções e
personalizar de acordo com a realidade de
cada paciente, para auxiliá-lo a acionar a sua
própria sabedoria interna para resolução do
problema. Ao transmitir cada frase ir modi-
ficando a fraseologia dependendo das res-
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postas não-verbais do paciente no momento
da formulação. Alguns hipnólogos procuram
ajustar também os verbos de cada frase ao
principal sistema representacional de cada
paciente.
Sugestões Terapêuticas Não-inespecíficas
Quando o conteúdo é inespecífico e dei-
xamos o próprio paciente digerir a sugestão
e criar os resultados, porque o sistema de cura
está dentro dele e a sua mente converte idéi-
as, imaginações intensas e expectativas em
realidades bioquímicas, os neuropeptídeos.
Exemplo: Deixe seu inconsciente trabalhar
para o seu benefício e bem-estar. Permita que
a sua mente e o seu organismo encontrem a
solução adequada para o seu problema. A
seguir deixar vários minutos para a mente
do paciente elaborar a própria resposta. Na
sugestão inespecífica não transmitimos uma
fraseologia para o paciente apresentar a res-
posta desejada. Não explicitamos como ele
faz. Ele mesmo “metaboliza” e cria a sua
resposta. Outras sugestões inespecíficas:
Seja feliz. Ganhe muito dinheiro honesta-
mente. Fique confortável. Sua mente encon-
tra solução adequada. Transmitimos a suges-
tão inespecífica sem dizer como fazer. Na
frase ganhe muito dinheiro honestamente, es-
pecifiquei o modo honesto, para evitar que
eventualmente alguém escolhesse um modo
desonesto. Assim, o próprio subconsciente
do paciente vai encontrar e escolher os meios
para ganhar dinheiro honesto. Muitas vezes,
as sugestões terapêuticas inespecíficas são
também indiretas, como no caso das analo-
gias, metáforas e conto de histórias. Para ela-
borar as sugestões inespecíficas não é preciso
detalhes particulares sobre o paciente, nem
conhecimento extremamente cuidadoso so-
bre a estrutura das palavras e frases esco-
lhidas.
Para cada tratamento as sugestões tera-
pêuticas específicas enfatizam o efeito de-
sejado, não apenas a remoção da sintomato-
logia. Elas podem ser desenvolvidas a partir
das próprias experiências do paciente. Para
cada tratamento, geralmente, utilizamos as
sugestões elaboradas e arranjadas no máxi-
mo em oito frases, que são repetidas muitas
vezes. A fraseologia envolve a visualização
do efeito desejado, como se estivesse acon-
tecendo no momento presente. Quando pos-
sível, usar fundo musical, especialmente
composto, arranjado e gravado, para estimu-
lar a criatividade e a imaginação.14,15,82 As
sugestões podem em determinados pacien-
tes visar à remoção de um sintoma, à redu-
ção de um sintoma, à substituição de um sin-
toma ou à manipulação de um sintoma. A
modificação de um sintoma pode ser obtida
com alterações da sua freqüência, alterações
da localização ou substituição desse sinto-
ma por outro. As sugestões terapêuticas po-
dem ser formuladas de modo direto ou indi-
reto, sob a forma de visualização e podem
ser transmitidas sob o modo subliminar, e
ainda podem ser desenvolvidas à medida que
for necessário utilizar técnicas de regressão
de idade, distorção do tempo, alucinações,
dissociações, indução ou recordação de so-
nhos.
Alternativamente, de acordo com Myron
Saling, em comunicação pessoal em 22 de
agosto de 1999, obtém-se resultado terapêu-
tico surpreendente permanecendo simples-
mente em silêncio durante 30 minutos. Quan-
do o paciente realmente quer superar algum
problema, vencer algum hábito, faz-se a
indução e aprofundamento durante uns dez
minutos, a seguir transmite-se a afirmação
que daquele momento em diante ele vai en-
contrar a solução desejada, proveitosa e be-
néfica para ele, e permanecemos em silên-
cio durante 30 minutos, permitindo ao pró-
prio paciente encontrar a solução adequada.
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Ainda segundo Myron Saling, se o paciente
entrar em sono natural e até roncar, deixá-lo
dormindo por esse tempo e depois trazê-lo
para o “estado natural”; se o paciente sair da
hipnose ou passar da hipnose para o sono e
depois sair, encerre a consulta. Durante todo
o tempo permanecemos ao lado do paciente.
As consultas

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