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1 Artigo apresentado como requisito para nota do G2, disciplina Ciência Política e TGE do Curso de Direito, do CESUCA – Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha- Faculdade INEDI, sob a orientação do Professor Emerson de Lima Pinto. 2 Acadêmico do Curso de Direito do Cesuca-Faculdade Inedi, disciplina de Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Página 1 A ATUAÇÃO DOS LOBBIES¹ Leonardo Garcez Guns² Resumo: Com este presente artigo busco definir os temas polêmicos sobre as atividades de ação exercidas pelos lobbies, fornecendo dessa maneira um conceito sobre as contribuições ou prejuízos decorrentes desta atividade. Para alcançar tal fim partiu-se da definição do que são grupos de interesse buscando uma breve diferenciação desses sobre os grupos de pressão, uma vez que tanto na doutrina como na imprensa, no emprego desses termos gera-se certa confusão. Definido este ponto venho após conceituar sobre a definição dos lobbies estendendo o trabalho e dissertando profundamente sobre seus principais meios de atuação e o reflexo que tais atividades podem causar no cenário democrático, sempre observando os aspectos positivos e negativos de cada atuação fundando-se em obras doutrinárias de Ciência Política e utilizando como base de apoio exemplos que nos passem uma melhor ideia de como ocorre esta atuação. Cabe a este artigo também dissertar sobre o porquê da necessidade e importância de uma regulamentação desta atividade lobista, que necessita de algumas mudanças corretivas, já que se torna presente não apenas exercendo pressão sobre os Poderes Legislativos, como se tende a caracterizar este tema, mas exercendo influência de uma forma paralela ao poder que acaba através de outros meios a especificar neste trabalho alterando de forma significativa as decisões políticas do país. Palavras-chaves: Grupos de Pressão; Lobbies; Partidos; Democracia; Opinião Pública. Sumário: Introdução. 1 – A Definição dos Lobbies. 2 – As Formas de ação dos Lobbies. 3 – A Imprensa e a Opinião Pública. 4 – A Pressão Parlamentar. 5 – A Dominação dos Partidos. 6 – O Poder Legislativo e os Órgãos Governamentais. 7 – Os Aspectos Presentes na Atividade. 8 – Considerações Finais. 9 – Bibliografia. INTRODUÇÃO O surgimento de grupos em nossa sociedade se tornou algo meramente comum, pois o fato de viver em uma democracia não significa apenas concordar com as questões políticas adotadas pelo governo, os interesses se diferenciam de cidadão para cidadão o que nos remete a entender que esses grupos formados dentro da nossa sociedade atual nada mais são do que várias pessoas que compartilham de uma característica em comum e que interagem umas com as outras em busca de seus interesses e ideais. Poderíamos dentro de uma idéia exemplificar esses grupos e defini-los como uma associação, o que nos levaria a imaginar um grupo de pessoas afiliadas ou sócias, 3 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de teoria do estado e ciência política – 5ºedição. São Paulo: Celso Bastos Editora, 2002. Páginas 256 e 257. 4 BONAVIDES, Paulo. Ciência política – 16ºedição. São Paulo: Malheiros Editores, 2009. Página 466. Página 2 por exemplo, de um clube de moradores de um condomínio, que acatem direitos e obrigações como membros de um grupo visando um melhor convívio social e reivindicando melhorias dentro de seu conjunto habitacional, porém essa definição aqui relatada se daria a um grupo de interesses. “Ao lado dos grupos de interesses existem outros, surgidos circunstancialmente da confluência sobre certas pessoas físicas ou jurídicas, de propósitos e objetivos que as unificam. Podem, então, passar a ação, atuando conjuntamente, normalmente sem personalidade jurídica, e às vezes sub-repticiamente, no sentido de obter medidas governamentais que atendam aos seus reclamos. A estes deve-se, de preferência, reservar o nome de grupos de pressão.”3 Em outras palavras os grupos de pressão são grupos sociais ou profissionais portadores de reclames específicos que em um determinado momento procuram obter normas, dispositivos e medidas (intervenções no processo político) de um modo geral favorável aos seus intentos, como nos casos profissionais em que almejam mudanças maiores e decisões que atinjam uma classe trabalhista, por exemplo, como no caso de sindicatos trabalhistas que vislumbrando ameaças ou aberturas de oportunidades agem como grupos organizados exercendo uma ligação entre o cidadão e o Estado, lutando em interesse por um bem coletivo que possa vir a se conquistar em uma decisão no Poder Legislativo, como na criação de uma lei que os beneficie. Nesses casos pode-se dizer que ali se encontra um Grupo de Pressão derivado de associações sindicais, que por sinal são uma das modalidades de grupos de pressão mais ativas que encontramos por se tratar de uma organização de massas trabalhistas. “A importância da cúpula que encabeça o grupo de pressão assoma com nitidez quando se trata de organizações de massas (sindicatos operários), visto que nessas entidades, conforme pondera aquele publicista, os interesses, ao contrário do que se passa com as organizações patronais, se reduzem com mais facilidade a um denominador comum. A quantidade pede em nome da eficácia da pressão, disciplina e liderança. Sem tais requisitos os grupos numerosos são os mais vulneráveis, expostos a caírem subitamente na impotência e frustação.”4 Essa organização dos grupos é de extrema importância, pois no momento em que os interesses dessa massa se concentram a uma reivindicação que seja comum ao interesse de todos, maiores serão as chances de êxito na conquista destes grupos, por isso vale se destacar a importância de uma liderança como a do Movimento Passe Livre 5 uma direção ou liderança organizada, acabaram se dissolvendo em apenas notícias. Poucos foram os grupos que nesse movimento obtiveram êxito, poderíamos aqui destacar o Movimento Passe Livre que de certa forma obteve a redução nas passagens de ônibus - http://lembramos que em Junho de 2013 o Brasil foi tomado por movimentos sociais que pela falta de saopaulo.mpl.org.br/2013/06/21/fomos-vitoriosos- viva-a-luta-do-povo/ 6 BONAVIDES, Paulo. Ciência política – 16ºedição. São Paulo: Malheiros Editores, 2009. Página 469. Página 3 em junho de 2013. 5 Porém sem uma representação adequada e com os interesses dispersos, as organizações patronais esbarrariam na impotência pela impossibilidade de harmonizar interesses (já que nestes casos patronais uns são produtores, outros fabricantes; uns importadores, outros exportadores), e tendo aqui feita uma definição considerando esta distinção entre os grupos de interesse e o os grupos de pressão, passarei agora a definir uma atividade de pressão exercida de uma forma a intervir diretamente no processo político. 1 – A DEFINIÇÃO DOS LOBBIES O Lobbie, método utilizado na formação das decisões políticas parece ser o que mais longe pode nos levar no propósito de desvendar a real estrutura do aparelho do poder político, e a este ponto estenderei este artigo procurando definir quais e como são esses métodos de ação empregados pelos lobistas para que essas decisões geralmente provindas do Poder Legislativo tornem-se benéficas para os interesses deste grupo que a partir deste ponto em diante serão referidos aqui neste artigo como grupos de ação volvidos a atividade lobista. Primeiramente procuremos definir o que venha a ser esta atividade de lobbie ou lobby como é encontrada em algumas definições de autores, inclusive essa segunda forma de expressão é provinda dos Estados Unidos que introduziu esta atividade de forma institucional em um sentido regulatório da atividade.“Com efeito, em 1946, o “Federal Regulation of Lobbying Act”, aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos, disciplinou pela vez primeira a atividade dos grupos de pressão que desde muito atuavam junto do poder legislativo, debaixo das seguintes denominações: lobby, ou seja, o grupo organizado (a palavra significa literalmente “antecâmara”, “corredor”, evocando o local da casa legislativa onde os agentes dos grupos de pressão buscavam de preferência estabelecer contato ou audiência com os congressistas), lobbying, o método de ação que eles empregam e lobbyisten as pessoas que se entregam a esse gênero de atuação política.”6 7 REALE, Miguel. Lições Preliminares do Direito – 27ºedição. São Paulo: Saraiva. 2011. Página 331. Página 4 Essa preocupação de legislar sobre a atividade lobista, inclusive obrigando estes a se registrarem em uma Câmara dos Representantes e na Secretária do Senado, seria uma forma de buscar uma limitação à atividade, e entenderemos no decorrer e no aprofundamento deste assunto o porquê dessa necessidade. Poderia de uma forma simplória comparar a ação do lobista como a ocasião de um filho tentar convencer seu pai a lhe dar um aumento de mesada ou quando um sindicato discute melhorias nas condições de trabalho com uma empresa, porém claro, como nessa atividade a influência (palavra esta que por si definiria muito bem a atividade do lobista), é voltada àqueles que detêm o poder de mudanças políticas em favor de grupos ou corporações específicas, onde, geralmente o que esta em pauta é interesses privados ou de ordem financeira, a estrutura destes grupos é outra. Os escritórios especializados nesta prática do lobbie, utilizando de exemplo o americano, podem ser definidos como verdadeiras empresas. Escritórios avançados na prática oferecem imediata informação, que permita orientar o representante, no geral parlamentar, alvo do grupo. Não muito raro estes escritórios serem constituídos de profissionais pesquisadores altamente capazes e competentes como advogados, responsáveis pelas ações jurídicas; contadores e economistas, responsáveis pelos assuntos financeiros; e marqueteiros, profissionais ligados à estrutura de marketing e propaganda. Tocante a este ultimo não devemos deixar passar que os profissionais ligados a esta atividade dispõem já de poderosas organizações jornalísticas e influências dentro dos meios de comunicação. “Ao lado da teoria e da técnica da legislação, cabe ainda à Política do Direito indagar dos campos de interesse que podem interferir no processo legislativo, como, por exemplo, os chamados “grupos de pressão” (lobbies), que por muitos modos, lícitos ou ilícitos, procuram determinar as opções normativas dos legisladores.”7 Merece destaque nesta passagem a expressão: lícitos ou ilícitos, o que firma o fato desta atividade lobista ser vista com mera desconfiança pública, porém, esta definição nos remete a destacar aqui um dos métodos empregados na ação destes grupos, que é o poder de influência em especial aos parlamentares, mesmo porque o objetivo principal desta atividade de lobbie se faz através deste meio de influenciar as decisões tomadas pelas autoridades governamentais por meio de informações, de ações coletivas e de outras estratégias para que deles, no caso dos parlamentares, se consigam obter determinadas medidas, decisões ou atitudes que concretizem os interesses 8 MOREIRA, Adriano. Ciência Política – 3ºedição. Coimbra: Edições Almedina, S A. 2006. Página 157. 9 MOREIRA, Adriano. Ciência Política. 3ºedição. Edições Almedina, S A. Coimbra. 2006. Páginas 170 e 171. Página 5 pretendidos pelos lobistas. Para garantir esse resultado eu retomo a importância de se constituir um escritório altamente capacitado. “A ação dos grupos pode incidir diretamente sobre o aparelho burocrático, em escalão conveniente, para que o poder político seja levado à decisão desejada; ou o poder político deseja cobrir-se formalmente com os atos de inteligência do aparelho burocrático que darão apoio à decisão antecipadamente tomada sob a influência dos grupos.”8 Dado este ponto poderemos agora definir melhor esse processo de influências, onde posteriormente através da definição mais aprofundada de cada etapa destas técnicas utilizadas pelos lobistas, poderemos melhor visualizar como e de que forma as decisões exercidas no governo podem ser influenciadas ou inclusive ocorrer o processo inverso onde o governo poderá se valer desta influência lobista legitimando atos decisórios frente aos cidadãos. 2 – AS FORMAS DE AÇÃO DOS LOBBIES Os planos de ação empregados pela ação dos lobistas podem ser dados tanto pela oposição como pela cooperação em respeito àqueles que detêm o poder, como no caso citado anteriormente onde nossos governantes podem se valer ou acabarem sendo alvos destas ações, pois os meios utilizados para alcançar esta influência sobre as decisões na política se dão principalmente por intermédio da técnica de ação usada na formação e na mobilização da opinião pública; pela utilização do poder financeiro disponível legal ou ilegalmente direcionado a corrupção ou persuasão, o que nos levará a refletir sobre os fundos de campanha; pelas participações em greves e manifestações públicas, estas podem ser inflamadas pelo uso da opinião pública; e pela recusa de cooperação com os poderes públicos como exemplificado neste parágrafo seguinte destacado: “Deste modo, os grupos vêm a intervir em vários escalões do processo político: na formação da opinião pública, que, em processo democrático, julgará politicamente os agentes do poder político; nos parlamentos, que passam por ser os órgãos de soberania mais sensíveis a ação dos grupos; agindo diretamente sobre o aparelho administrativo, para influenciar os atos de inteligência do processo de formação de decisões, usando os Franceses o termo pantouflage para designar a ação corruptora sobre os serventuários dessa administração; assumindo oficialmente a posição de conselheiros no processo de formação de decisões, ou em organismos ocasionais ou em órgãos institucionalizados.”9 Página 6 Porém as técnicas utilizadas neste processo de buscar a decisão favorável aos interesses lobistas, não são sempre vistas como lícitas, aliás, tocante novamente a este ponto é que encontramos muitas divergências de opinião o que nos levará ainda neste artigo a discutir se realmente o trabalho exercido pelos lobistas é considerado dentro de um âmbito democrático uma forma positiva ou negativa de conquistar tais interesses junto aos poderes governamentais, visto que no meio das práticas utilizadas não raro encontraremos indícios de persuasão, corrupção, manipulação e inclusive intimidação já que os alvos de ação destes lobistas se estendem aos parlamentares, partidos políticos, os órgãos legislativos, o governo e a imprensa (esta última como veremos pode se tornar uma forte ferramenta de manipulação do lobbie). Dados esses principais alvos da ação passaremos agora a melhor definir como cada atividade é exercida: 3 – A IMPRENSA E A OPINIÃO PÚBLICA O ponto de vista da sociedade sobre os assuntos de natureza política é um dos alvos principais da ação dos lobistas, fundado em princípios democráticos a imprensa possui um relevante papel na sociedade, uma vez que é um dos maiores veículos de difusão de informações e formação de opinião, os meios tecnológicos de comunicação como o rádio, televisão e jornais estão em uma faixa intermediária entre o cidadão e o mundo, pois é através deles que colhemos as informações do dia a dia, e, consequentemente eles, os meios tecnológicos, é que exercem o papel desta leitura do que acontece pelo mundoe nos fazem, ou no caso que aqui esclarecerei, nos refazem essa informação a sua maneira transformando-a em um espetáculo. A influência de uma classe seja esta do funcionarismo público, comerciária ou trabalhista pode pesar muito nas questões da política, e tocante a este ponto sobre a opinião pública que me referi no paragrafo anterior, o lobista tem a função de expor e detalhar as propostas de seus interesses, com objetivo de torná-las públicas, e desta forma aumentar a repercussão das informações disponíveis sobre determinadas situações. “Tocante à imprensa, os grupos de pressão ou dispõem já de poderosas organizações jornalísticas ou influenciam os meios de comunicação de massas através da publicidade. A pressão mais refinada é aquela que se faz mediante notas e editoriais, que o público supõe inspiradas no interesse da coletividade. Forma o público portanto sua opinião segundo aquela pauta sutilmente imposta pelo grupo. Este acaba extraindo 10 BONAVIDES, Paulo. Ciência política – 16ºedição. São Paulo: Malheiros Editores, 2009. Páginas 468 e 469. 11 STRECK, Lenio. BOLZAN, José Luis. Ciência Política e Teoria do Estado – 6ºedição. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. Página 193. Página 7 enfim do poder executivo uma decisão acomodada na aparência ao interesse geral e sem atritos com a opinião já domesticada.”10 Concluímos através deste trecho como é criada uma forma sútil e indireta de ação dos lobistas, trabalhada com o auxilio desses meios tecnológicos que teriam como função criar e preparar essas informações, como uma espécie de manipulação mental, que é conseguida mediante o emprego desses instrumentos de comunicação em massa, que como no próprio exemplo citado pelo autor, faz de uso destas notas editoriais que encontramos nos jornais, uma ferramenta que acaba tornando as informações pretendidas com tais atos favoráveis a pretensão do lobista que acaba as legitimando perante os cidadãos com a conquista da opinião pública. Como podemos ver a imprensa de uma forma geral pode sim tornar-se uma ferramenta poderosa na ação dos lobistas que conseguem por intermédio dela direcionar a informação conforme o seu interesse em pauta, observemos a seguinte reflexão: “Dito de outro modo, vivemos um tempo em que não há uma história. Há mil histórias. Mil versões. Resulta daí um homem fragmentado, fruto da era da técnica, em que a imprensa (e algumas instituições jurídicas) são (e se consideram) uma espécie de superego da sociedade. Vivemos em uma sociedade em que, utilizando uma expressão de Habermas, o poder de sintetização da consciência cotidiana é roubada do cidadão, tornando-a fragmentada. O cidadão é realmente bombardeado com quantidades maiores de informação, mas o conhecimento que resulta desta permanece “difuso” e difícil de ser empregado de maneiras críticas.”11 A necessidade da imprensa numa sociedade democrática é inegável, entretanto, ela pode induzir os seus destinatários a erro transmitindo uma notícia de maneira muitas vezes viciada, e tocante a isto fazemos uma análise dessa passagem identificando um dos aspectos negativos mais criticados entre as ações dos lobistas que seria exatamente o da mistificação da opinião pública o que nos leva a desacreditar na veracidade das informações repassadas pelos instrumentos de comunicação de massas por se tratar muitas vezes de uma reprodução moldada resultando em uma opinião pública construída sob medida, controlada, forjada e voltada a interesses próprios patrocinados pela ação dos lobistas. Como consequência dessa despersonalização da opinião pública, as ideias, as críticas e a autonomia do raciocínio da população, acabam sendo roubadas 12 BONAVIDES, Paulo. Ciência política – 16ºedição. São Paulo: Malheiros Editores, 2009. Página 467. Página 8 cedendo lugar à ideologia destes lobistas, podendo com o êxito desta manipulação derrubar ou erguer governos conforme suas necessidades e ímpetos ideológicos. “Dobrar a opinião e em casos mais agudos dar no público uma lavagem cerebral se consegue mediante o emprego dos instrumentos de comunicação de massas. O grupo mobiliza rádio, imprensa e televisão e por meios declarados ou sutis exterioriza a propaganda de seus objetivos, quer pela publicidade remunerada, quer pela obtenção da condescendência e simpatia dos que dominam aqueles, meios. Produzido o clima de apoio, ao grupo se lhe depara a autoridade pública já favoravelmente predisposta aos seus interesses.”12 Estendendo-se mais a este ponto que trabalha na obtenção da simpatia e consequentemente no apoio das massas populosas (povo) o uso da opinião pública pode ser a melhor ferramenta lobista bastando a ele direcionar e construir a publicidade conforme o seu interesse, o que nos direciona a entender que através deste meio pode se ter um grande inflamador para a organização de passeatas, movimentos sociais, greves e protestos que agregam diariamente conteúdo as mídias jornalísticas e acometem ao governo. A técnica lobista nesses casos é utilizada para dar respaldo de legitimidade nas suas pretensões através desta via indireta moldando esta opinião pública para conquista de interesses como, por exemplo, um projeto de lei em tramitação na Câmara pode ter sua sanção obtida mais rapidamente no momento em que uma publicidade de apoio a tal projeto for veiculada de uma forma que obtenha a conquista de uma maioria do povo favorecendo assim a sua concretização ou a contraponto utilizar este mesmo meio para derrubada de um projeto (o que demonstra que o uso pode se dar a favor ou contra o governo) e inclusive em casos que melhor definiremos no decorrer deste artigo utilizar- se desta opinião pública para causar implicações a parlamentares que possam vir a se tornar obstáculos dentro de um processo que seja de interesse lobista, o que não encerra este ponto, mas nos introduz a outro. 4 – A PRESSÃO PARLAMENTAR Sempre se esperou que de um regime democrático, os atos e as decisões tomadas pelos governantes devessem ser de aberto conhecimento do povo, já que este elege seus candidatos esperando uma representação dentro do próprio governo. Esta seria uma relação de proximidade entre o governante e o governado, ou seja, o eleito e o eleitor 13 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de teoria do estado e ciência política – 5ºedição. São Paulo: Celso Bastos Editora, 2002. Página 257. Página 9 respectivamente, que através dos meios de comunicação de massa teriam facilidade em ter esta distância encurtada. Porém, a publicidade indireta do governo é feita, sobretudo através da imprensa, que como já citada anteriormente pode se tornar uma forte ferramenta daqueles que tem por objetivo influenciar decisões em favor de determinados interesses. Os lobistas exercem a pressão buscando influenciar acima de tudo o tomador de decisões na esfera do poder público, geralmente parlamentares de modo individual que exercem influência sobre os demais, buscando assim o lobista o atendimento de seus pedidos. “Ele é sempre faccioso, parcial, egoísta, não tendo preocupações com o interesse geral. Eles foram – e certamente o são até hoje – suspeitos não só pelo tipo de interesse que encapam como também pelos meios utilizados. Num primeiro momento utiliza-se a argumentação racional, a informação técnica, o diálogo, todas as técnicas enfim voltadas à persuasão. Ao depois, esta mesma persuasão pode ser procurada pela utilização de meios condenáveis eticamente, como o suborno e a corrupção, sem falar na própria intimidação.”13 Num primeiro momento esta ação acontece de uma forma técnica, pois o lobista munido de toda a sua habilidade de persuasão apresenta ao parlamentarem questão todo um argumento preparado para que este mesmo parlamentar ao defender, por exemplo, um projeto de lei frente à câmara esteja preparado com todas as informações, diálogos e propostas bem elaboradas para o convencimento de tal projeto, o que ajuda a tornar o processo político na tomada de decisão mais eficiente, provendo dados e assessoramento acurado sobre os efeitos de determinadas legislações ou políticas públicas que poderão ser implantadas. Todo este trabalho é meramente preparado e adiantado por toda uma equipe capacitada e empenhada em tal ação lobista, que além de oferecer ao parlamentar o farto material demonstrativo do assunto em pauta deixa claro a ele inclusive sobre as implicações que sua posição assim que tomada poderá refletir no futuro da sua carreira parlamentar, e neste ponto como exemplo podemos se referir a votos e inclusive subsídios para campanhas providos de possíveis empresas beneficiadas, que explicita que se tratando da ação de lobistas podemos esperar os mais variados meios para a obtenção desta reivindicação que venha a coroar seus interesses. 14 BONAVIDES, Paulo. Ciência política – 16ºedição. São Paulo: Malheiros Editores, 2009. Páginas 467 e 468. 15 BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia – 8ºedição. São Paulo: Paz e Terra, 2000. Página 105. Página 10 “Se esses recursos porém falham e o representante não se mostra dócil à técnica de persuasão do grupo, poderá este empregar meios extremos que vão do suborno à intimidação. Uma campanha de incompatibilização do deputado com suas bases eleitorais é a arma de que os grupos se valem em alguns países contra parlamentares recalcitrantes. Chegam a utilizar meios de corrupção, ameaçando assim a carreira política do deputado que não tem nunca segura sua recondução ao posto eletivo. Exposto como candidato a uma pressão por vezes irresistível, acaba ele capitulando para garantir a própria sobrevivência política.”14 Todo esse trabalho realizado pelo lobista junto ao parlamentar com o intuito de influenciar nas suas decisões, através destes métodos que podem se propagar através da propaganda hábil ou como dita na citação se estender até os meios de intimidação, nos remeteria para um ponto que já fora citado anteriormente, o da opinião pública, que poderia ser persuadida através dos meios adequados, também já exemplificados, como a utilização da influência da imprensa, dando ao lobista uma opção de construir uma base de apoio a tal projeto em tramitação ou, no caso do parlamentar se negar a cooperar com a iniciativa proposta, acabar por intermédio de tais meios tecnológicos com o prestigio do parlamentar, o que poderá consequentemente afetar as suas bases eleitoreiras e a sua influência dentro da câmara legisladora e inclusive até mesmo o prejudicar dentro de seu próprio partido político. Nessa forma de intimidação citada poderíamos inclusive até entrar em um debate sobre a questão, se há alguma ética na ação de intervenção dos lobistas em meio às decisões dos poderes públicos já que como podemos observar poderá o parlamentar, alvo dos lobistas, ser atacado de forma pessoal com citações públicas sobre seu caráter atingindo novamente um ponto já aqui dissertado que envolve o uso da imprensa, mas antes disso, podemos inferir algumas questões sobre esta publicidade possivelmente escandalosa e negativa construída com a pretensão de conquistar tal apoio parlamentar a qualquer custo. “O que é que constitui um escândalo publico? Ou, dito de outra forma, o que é que suscita escândalo no público? E qual é o momento em que nasce o escândalo? O momento que nasce o escândalo é o momento em que se torna público um ato ou uma série de atos até então mantidos em segredo ou ocultos, na medida em que não podiam ser tornados públicos pois, caso o fossem, aquele ato ou aquela série de atos não poderiam ser concretizados.”15 16 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado – 24ºedição. São Paulo: Saraiva, 2003. Página 46. Página 11 Os fundos de campanha e a utilização do poder financeiro disponível, legal ou ilegalmente, direcionado a corrupção ou persuasão, acabam virando escândalos que estampam as nossas capas de jornais pela manhã, causando euforia nas massas (povo), que acaba discutindo e criticando os atos políticos. Nesse campo da corrupção o lobbie possui uma das armas mais frequentemente utilizadas quando se volvem propriamente aos partidos políticos. 5 – A DOMINAÇÃO DOS PARTIDOS Uma breve distinção cabe a ser feita para que entendamos os seguintes pontos divergentes entre a atividade partidária e a atividade lobista. “E a cada dia que passa assistimos à formação de novas sociedades, com as características mais diversas. Qual o fator determinante dessa multiplicação de sociedades? A primeira resposta é que os homens que buscam os mesmos fins tendem a agrupar-se para consegui-los mais facilmente.”16 Antes de prosseguirmos com o estudo das ações dos lobistas uma breve reflexão desse trecho de Dallari nos definirá: que os indivíduos com os mesmos objetivos preferem constituir um grupo à parte, num movimento de diferenciação, mas para sua sobrevivência é indispensável que os mesmos se solidarizem num ambiente harmônico para que cada um se beneficie das atividades desenvolvidas pelos demais, como exemplo no caso dos partidos políticos que foram criados para uma finalidade definida pelos seus membros e que dentro de um ambiente político para que se fortifiquem buscam alianças entre outros partidos como veremos quando falarmos da atuação no governo. Os lobistas por outro lado foram criados para que aqueles que os integram ou são por eles representados consigam atingir seus fins particulares o que nos leva a perceber que a política engloba a totalidade dos fatores do homem: ideologias sociais, crenças religiosas, interesses de classe, de grupo ou de fatores pessoais. “Onde o Estado assumiu a tarefa de governar a economia, a classe política exerce o poder não mais através das formas tradicionais da lei, do decreto legislativo, dos vários tipos de atos administrativos – que, desde quando existem um regime parlamentar e um Estado de direito (um Estado, entenda-se, em que os atos da administração pública são submetidos a um controle jurisdicional), começaram a fazer 17 BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia – 8ºedição. São Paulo: Paz e Terra, 2000. Página 117. 18 MOREIRA, Adriano. Ciência Política – 3ºedição. Coimbra: Edições Almedina, S A. 2006. Página 155. Página 12 parte da esfera do poder visível – , mas também através da gestão dos grandes centros de poder econômico (bancos, indústrias estatais, indústrias subvencionadas, etc.), da qual acima de tudo extrai os meios de subsistência dos aparatos dos partidos, dos aparatos dos quais por sua vez extrai, através das eleições, a própria legitimação para governar.”17 Esse poder invisível, forma esta que poderíamos usar para definir estas empresas, encontraram uma forma de “institucionalizar-se” no governo. Não assumiriam posse direta no poder, mas se apoiariam em parlamentares para propugnar seus interesses como pretensões e exigências que tornadas públicas afetariam o prestígio das agremiações políticas como nos já citados escândalos que estouram inesperadamente, e põem a opinião pública diante destas novidades desconcertantes, lembrando que em meio a estas empresas, poderá estar presentes os próprios veículos de imprensa revelando o descuido e a impotência do governo em tais casos. Muitas vezes sem disfarce e outras vezes se revestindo de aparente legalidade, a corrupção chegou a ser justificada como um meio de criar uma classe média. Conhecidoscasos revestiram-se como forma de ganho ao jogo público de cartas, como a abertura de ações em empreendimentos privilegiados com a garantia de recompra a preço de mercado assim que as ações destas empresas subissem na Bolsa de Valores conforme a afirmação de MOREIRA na citação a seguir: “Os subsídios para fundos de propaganda eleitoral, a concessão de posições privilegiadas na comunicação social, a circulação dos postos políticos para as administrações das empresas fazem parte dos meios tornados públicos. Alguns escândalos internacionais, como o da companhia de aviação americana Lockheed, derrubaram governos ao redor da Terra, tantos foram os casos de corrupção denunciados pelo próprio Governo dos EUA, que todavia se absteve de indenizar as empresas concorrentes lesadas e os erários públicos defraudados em favor da exportação americana. A denúncia não correspondeu em nenhum caso a um arrependimento ativo.”18 Exemplos como este não são apenas de um caso isolado do Governo Americano (EUA), correm esses tipos de escândalos ao redor do mundo, esse jogo político que angaria fundos para campanhas eleitorais e ao mesmo tempo serve como espécie de recompensa pelo incentivo prestado em campanhas acaba beneficiando empresas através de concessões e licitações estampam manchetes de jornais e inflamam o setor econômico do país o que nos remete a definir que as grandes empresas, em geral Página 13 multinacionais, pela composição do capital, pelo relacionamento e influência em ações internacionais, representam uma forma de Lobbie já que a intervenção na ação política é frequentemente citada e discutida. Certos escândalos como os já citados podem de uma forma devastadora derrubar a popularidade dos partidos envolvidos, o que sem dúvida refletirá diretamente nas bases eleitoreiras e por consequência nos fundos de campanha levando em consideração que é possível que alguns militantes afiliados que de um modo geral prestam uma colaboração muitas vezes em espécie (dinheiro) para a manutenção dos partidos se decepcionem com as manchetes divulgadas e se afastem do mesmo. Outros possíveis casos que podem ser citados é o de as próprias empresas financiadoras de campanhas não quererem ter seus nomes vinculados às práticas cometidas pelo partidário corrupto rompendo relações com o partido, rumo este que outros partidos que também possuem alianças poderão seguir o que pode derrubar um governo. Para que se livre de tais casos e que se mantenha a ideologia do partido, relacionado ao escândalo, intacta é possível que a alternativa mais sensata seja a de afastar o candidato ou representante envolvido em tal denuncia, técnica esta que pode inclusive ser elaborada pelo próprio lobista que pode evitar a perda de alianças com outros segmentos de grupos profissionais que nos levam a organizações que envolvem autoridades governamentais, empresas e bancadas dentro da Assembleia Legislativa o que nos remete a outro segmento da atuação lobista. 6 – O PODER LEGISLATIVO E OS ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS Dentro desta esfera os lobbies teriam alguma coisa a ver com os partidos políticos, pois ambos são grupos intermediários entre o governo e o indivíduo, porém atuam em níveis diferentes, pois enquanto os partidos possuem programas e ideologias desenvolvidas e aptas a se tornarem do próprio Estado, os lobbies trabalham em interesses próprios, o que não raras vezes vêm reforçar determinados assuntos partidários onde podem assumir compromissos recíprocos. Os interesses lobistas expressos em determinado grupo despertam organização na luta pela preservação de certos valores como na defesa de minorias étnicas ou religiosas exercendo papel importantíssimo na luta pela preservação de certos valores muitas vezes de cunho eminentemente moral como na afirmação de MOREIRA: 19 MOREIRA, Adriano. Ciência Política – 3ºedição. Coimbra: Edições Almedina, S A. 2006. Página 155. 20 BONAVIDES, Paulo. Ciência política – 16ºedição. São Paulo: Malheiros Editores, 2009. Página 468. Página 14 “Fala-se em grupos caracterizados pela situação comum dos seus membros, como seria o caso de minorias étnicas e religiosas, em países onde a integração não se deu. Os EUA são férteis em grupos desse tipo, em grande parte originados pelo problema dos negros.”19 Questões deste tipo dividem o governo em grupos de atuação de interesses como as bancadas que se organizam, não apenas pelos seus direitos políticos, mas também pelos seus interesses que abrangem uma série de problemas, como exemplos, a questão dos exportadores que possuem o seu próprio grupo, os agricultores, os comerciantes enfim cada qual com sua atividade particular que permite avaliar o possível efeito das suas atitudes no comportamento eleitoral geral. Quanto a estas “relações governamentais”, os críticos consideram que estas podem ser também consideradas como sendo a orientação de atividades legislativas e regulatórias conduzidas nos níveis federal pelos Poderes Públicos, cuja estratégia é o lobbie, aqui considerado como meio de comunicação entre agentes, sejam eles públicos ou privados, com o fim de materializar determinada ação ou política. Nessa linha podemos retroceder todos aqueles métodos de influência que já vimos para entendermos como os lobistas agem para a conquista de tais interesses, o que nos leva a visualizar algumas ações como forma de movimentos circulares onde uma ação pressupõe a outra, como a retomada da influência parlamentar exemplificada no seguinte trecho: “Quanto ao poder legislativo, os métodos de pressão se exercem sobre ele talvez com mais facilidade, sobretudo nas comissões parlamentares. Com efeito são as comissões órgãos por excelência que têm merecido a preferência dos grupos. Ali podem eles concentrar todo o peso de sua influência sobre deputados em número bastante reduzido, pois as comissões sempre são pouco numerosas e com a vantagem de que a função daqueles deputados constitui a chave do processo legislativo. A sorte das leis, onde o parlamento ainda legisla, se decide menos no plenário do que nas comissões técnicas de cada câmara.”20 Já que praticamente participam do processo político através de parlamentares, os lobbies a partir de uma posição externa ao Estado se propõem a influenciar os detentores do poder estatal para a obtenção de medidas que lhe favoreçam os interesses, como ocorre em sessões de votação onde o numero de membros na Câmara, às vezes não corresponde ao percentual que necessitaria para ser obtida uma vitória em cima de um projeto de lei ou medida em fase de validação ou aprovação, empurrando ou adiando tal projeto que não faça parte ou atrapalhe o interesse lobista do momento. 21 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de teoria do estado e ciência política – 5ºedição. São Paulo: Celso Bastos Editora, 2002. Página 261. Página 15 Jogadas políticas como essas são reflexos das ações entre lobistas que podem estar presentes em diferentes partidos e conquistar o apoio de diversas bancadas já que os interesses dos grupos são mais facilmente identificáveis no meio social, claro que, nada obstante que divergências de natureza política convivam com interesses comuns como os do campo das atividades profissionais, o que nos leva a crer que na ausência da atuação partidária os lobistas passaram a exercer atividades que deveriam ser dos partidos. “Assim, a relativa rigidez político-partidária que se possa constatar no Congresso Nacional mostra-se de pouca ou nenhuma importância à ação dos grupos de pressão, pois sua atividade não é prejudicada por posturas partidárias, a menos que questões tratadas envolvam diretrizes e natureza programático-ideológica muiespecíficas, de cuja fidelidade o congressista, em geral, não se aparta. Ainda assim, o campo e atuação dos grupos pode ser tão amplo, a despeito de suas específicas reivindicações, que a ofensa a tais princípios é assaz remota, estando, quase sempre, o parlamentar, adstrito somente ao seu sentimento pessoal.”21 Outra possibilidade é a de Estado e Lobbie aparecerem paralelamente, pois nem sempre os grupos atuam de forma ilícita, na qual não raro às vezes em que ocorreria uma bilateralidade recíproca entre grupo e governo onde ocorreria coincidência ou identificação do interesse geral com os interesses abertamente propugnados pelo grupo. No que diz respeito quanto à questão de competência dos lobistas a elaborar e dispor de material para uma tomada de decisão legislativa, não há de se deixar margem para dúvidas, pois os mesmos se encontram muito bem aparados já que estes se constituem de próprios instrumentos de informação muito útil quando se trata de parlamentares. A competência desses grupos em reunir informações poderia se tornar uma valiosa fonte de subsídio à elaboração legislativa ou à tomada de uma decisão administrativa à disposição do governo oferecendo-lhe conselhos sensatos o que nos leva a refletir como e de que forma essa atividade poderia melhor ser utilizada em nossa esfera política. 7 – OS ASPECTOS PRESENTES NA ATIVIDADE É inegável ignorar esta atmosfera de desconfiança que circula sobre a ação dos lobistas, é muito difícil dizer quando um interesse grupal atenta contra um interesse geral. Uma vez que pegamos como exemplo ações como as que vão contra o 22 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de teoria do estado e ciência política – 5ºedição. São Paulo: Celso Bastos Editora, 2002. Página 258. Página 16 parlamentar, o intimidando e o levando a uma espécie de julgamento popular, onde o mesmo seria “sentenciado” a partir do uso da opinião pública. Poderia nesse caso citado isso ser considerado como uma transparência das ações que acontecem dentro do poder abrindo para o público o debate em torno de certas questões, claro que ações como essas podem ter sido manipuladas pelos próprios grupos visando essa conquista da opinião pública, eis ai o porquê desta difícil diferenciação entre o aspecto negativo e o positivo que circunda as ações dos lobistas. Mas vejamos com o seguinte exemplo: “Um julgamento sereno e isento dos grupos de pressão vai demonstrar que muito do que se considera serem suas vantagens ou desvantagens decorre da própria idéia de Estado que se tenha. Se se imagina um Estado paternalista que, ele mesmo, se incumbe de prodigalizar as suas benesses cabendo aos destinatários da sua atuação uma atitude passiva de reflexão, nesse caso, sem dúvida os grupos são negativos. Mas se se partir da concepção de um Estado mais ausente e mais neutro abre-se, naturalmente, um campo à atuação dos grupos de pressão que procurarão acioná-lo, acicatá-lo e estimulá-lo no sentido dos seus interesses.”22 Utilizando esta visão do autor podemos concluir que o Estado em si será uma limitação ou não à ação dos lobistas, inclusive poderá o Estado mesmo se beneficiar fazendo uso dessas ações, pois como o autor afirma onde o Estado funciona de forma ausente, ali o assédio destes grupos se tornaria mais eficaz e a sociedade naturalmente consagraria os interesses que soubesse melhor se estruturar os legitimando perante a nação. A contra ponto o Estado poderia valer-se destes benefícios como já visto anteriormente se beneficiando de tais capacidades e influências destes lobistas. Claro que caberia uma limitação quanto a tais inconvenientes como o do fato de atuarem em interesses específicos e setoriais, sem escrúpulos, abusando das ameaças que trazem para a atuação dos órgãos legislativos, principalmente considerando os meios utilizados que podem se valer da intimação, suborno e corrupção, prevalência que acabam por conferir aos interesses de maior poder econômico, ameaçando uma liberdade democrática. Porém, a utilização dos meios de comunicação, para uso de uma ação mistificadora da opinião pública, em uma visão social pode ser considerada uma das, senão a mais prejudicial ação lobista empregada para conquista de tais interesses. “Para eles, não somos capazes de observar uma realidade social a não ser por meio das ferramentas que empregamos para sua interpretação. Em outras palavras, a realidade objetiva não é acessível aos seres humanos e, nesse sentido, não existe. O que 23 NOGUEIRA, João Pontes. Teoria das Relações Internacionais: Correntes e Debates – 7°reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier. 2005. Página 204. 24 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. LCC Publicações Eletrônicas – Capitulo III. (e-book). Página 17 existe são representações do real que aspiram ao status de verdade, mobilizando símbolos e discursos para produzir um efeito de realidade que, no mundo moderno, se legitima por meio do poder/ conhecimento.”23 O problema maior é esta aproximação fiel da realidade que nos remete ao ponto de chama-la de proposição verdadeira. Uma representação verdadeira, portanto não comportaria uma diversidade de significados muito menos a ausência destes significados o que nos leva a criticar esta atuação midiática exercida em consagração dos interesses lobistas. Além do mais, a descoberta destes grupos lobistas influenciando as decisões legislativas causaram certo escândalo devido sua infiltração nas cúpulas do poder, embora haja um risco deste tipo de atividade vir a se tornar um meio muito forte e exceder a representação política a intenção é que se definam os credenciamentos, se estabeleçam normas de conduta e de controle da atividade do lobby, pois parafraseando Maquiavel: “Ocorre aqui como no caso do tuberculoso, segundo os médicos: no principio é fácil a cura e difícil o diagnostico, mas com o decorrer do tempo, se a enfermidade não foi conhecida nem tratada, torna-se fácil o diagnóstico e difícil a cura. Assim também ocorre nos assuntos do Estado porque, conhecendo com antecedência os males que o atingem (o que não é dado senão a um homem prudente), a cura é rápida; mas quando, por não se os ter conhecido logo, vêm eles a crescer de modo a se tornarem do conhecimento de todos, não mais existe remédio.”24 Anotando todos os males acarretados pela ação da atividade do lobbie não devemos ignorar os aspectos positivos dessa atuação que os mesmos possuem dentro da política, já que em muitos países, a atividade do lobby é reconhecida e faz parte do processo de elaboração das leis e formulação das políticas públicas, apresentando inclusive regulação para profissão. 8 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Não podemos desconsiderar a ações positivas desta atividade de lobbie principalmente levando em consideração o auxilio que podem prestar aos legisladores no momento de uma tomada de decisão e nem tão pouco querer de alguma forma extirpa-los, mas partindo do pressuposto que essas atividades apresentem perigos, mas 25 CASINO JACK (O Super Lobista) – Direção: George Hickenlooper. Canadá, 2010 – SINOPSE: Um lobista muito famoso de Washington DC tem que jogar duro para vencer, responsável por cuidar de cassinos e influenciar a política dos Estados Unidos, aproveitando dessa situação para fugir das acusações de assassinato e corrupção. Baseado em uma história real, Kevin Spacey como protagonista. Página 18 também prestam serviços, quero exatamente com essa citação de Maquiavel em que encerro o capítulo anterior, fazer um comparativo entre as ações ilícitas dos lobistas e a violação do funcionamento de uma atividade democrática dentro do governo. Esses “males”, termo este empregado na citação pelo autore que aqui usarei de sinônimo para estas atividades tidas como ilícitas na ação dos lobistas, precisam, para que se estabeleça um verdadeiro ambiente democrático e livre de abusos, serem suprimidas de alguma forma e neste ponto eu retomo aqui o exemplo lá do inicio deste artigo, onde os Estados Unidos institucionalizou a atividade lobista como uma forma de prever os propósitos dos grupos atuantes nesta atividade e inclusive identificar estes indivíduos participantes. Cito como exemplo destes abusos o caso de Jack Abramoff no filme Casino Jack25 onde se beneficiando do grande acesso a deputados e senadores republicanos (muitos dos quais ajudou com polpudos cheques para suas campanhas de reeleição, e de quem teve ajuda para legislar em favor de seus clientes), cometeu ações de troca de favores recíproca, beneficiando empresas de clientes e acabando por revelar o tamanho da corrução entre lobistas e políticos, gerando um gigantesco escândalo nacional. Exemplos como esse a que me referi podem ser mais comum do que imaginamos é só pensarmos em quantas empresas podem neste momento estarem operando por beneficio de alguma concessão. Acredito que a partir de uma definição aberta perante a sociedade do que é o lobbie e de sua regulamentação específica a uma atividade, qualquer prática desvirtuada poderia ser enquadrada nos incisos previstos em nosso ordenamento jurídico, pois, não há de se negar a importância de uma representação adequada que faça a população se sentir presente nas decisões políticas, função essa que caberia aos partidos e que hoje foi tomada pelos grupos, porém em meio a escândalos, corrupção, persuasões e intimidações qualquer decisão resultante destes meios não caberia a se definir como uma legitima decisão democrática. Página 19 9 – BIBLIOGRAFIA BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de teoria do estado e ciência política – 5ºedição. São Paulo: Celso Bastos Editora, 2002. BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia – 8ºedição. São Paulo: Paz e Terra, 2000. BONAVIDES, Paulo. Ciência política – 16ºedição. São Paulo: Malheiros Editores, 2009. DALLARI, Dalmo de Abreu. 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