Buscar

O conceito de civilização refere

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O conceito de civilização refere-se à um grande número de fatos e possibilidades, o que torna difícil defini-lo em poucas palavras. Porém, ao examinar o que de fato constitui a função geral do conceito de civilização notamos que este conceito expressa a consciência que o Ocidente tem de si mesmo. Ele resume tudo em que a sociedade Ocidental se julga superior a outras sociedades “primitivas”. Civilização, contudo, tem diferentes significados para diferentes nações ocidentais. Até certo ponto, o conceito de civilização diminui as diferenças entre os povos e evidencia o que é comum a todos seres humanos. Acima de tudo, é muito diferente a forma como os ingleses e franceses empregam a palavra por um lado e os alemães por outro. O emprego que é dado pelos os alemães para a palavra civilização, apesar significar algo útil, tem valor de segunda classe, ou seja, compreende apenas a superfície da existência humana. 
A palavra pela qual os alemães se interpretam, mais do que qualquer outra é “Kultur”. O conceito alemão de kultur dá ênfase especial a diferenças nacionais e à identidade particular de grupos. Os conceitos de civilização e kultur, entretanto, portam o selo de povos inteiros ou talvez apenas de certas classes e este fato demonstra que expressam necessidades coletivas e não individuais. A partir do ano de 1919 o conceito alemão de Kultur ganhou vida nova devido à guerra contra a Alemanha em nome da “civilização”, impulsionado por uma antítese que interagia consigo desde o século XVIII. Antítese fomentada por Kant em uma de suas obras onde ele polemiza um contraste social, por consequente um contraste nacional, entre a nobreza cortesã que viviam à maneira francesa de civilização e o extrato da “intelligentsia” da classe média cujo a modelagem de seu comportamento característico e diferente é fundamental. Esta intelligentsia, constituía um extrato muito distante da política, sua legitimação provinha das realizações intelectuais, cientificas e artísticas.
Não é fácil falar da Alemanha em termos gerais, pois nessa época (que estamos estudando) houveram muitos Estados com diversas características especiais. A burguesia alemã era pobre se comparada a burguesia inglesa ou francesa e não havia dinheiro disponível para luxos (arte e literatura por exemplo) e na corte onde havia recursos suficientes, as pessoas imitavam a corte francesa. O alemão era a língua das classes baixas e médias enquanto o francês se espalhava das cortes para a camada superior da burguesia.
À classe média couberam tarefas que na França e Inglaterra eram desempenhadas pelos aristocratas. Foram os “servidores de príncipes” cultos que tentaram criar os modelos do que é hoje a língua alemã e estabelecer uma unidade alemã que ainda não parece realizável na política. O conceito de Kultur tem a mesma função.
Segundo Norbert Elias a burguesia alemã fala uma língua diferente da do rei e seus gostos e condutas são quase opostos ao seu. Todo o movimento literário da segunda parte do século XVIII se opõe as inclinações estéticas e sociais à maneira francesa, todavia, certamente não é um movimento político. A literatura, tornou-se um escoadouro mais importante de uma classe que vivia sob uma imposição de costumes e comportamento. Conforme Norbert Elias afirma: “o movimento literário...não tem caráter político, embora, no sentido mais amplo possível, constitua uma manifestação de um movimento social, uma transformação na sociedade.
Nesta nítida divisão social a postura de auto-isolamento aparece como característica do desenvolvimento histórico alemão e por isso as entre várias classes sociais dentro da Alemanha foram mais intensas que em outros países ocidentais em expansão, tanto quanto a fragmentação do território em vários Estados soberanos. As diferenças entre a estrutura e a vida entre as classes sociais eram acompanhadas por diferenças entre a estrutura de comportamento, aspirações e moralidade. A luta da classe média, a intelligentsia burguesa, contra a classe cortesã superior é dirigida predominantemente contra características como “superficialidade” e “insinceridade”.
Norbert Elias pontua que a ideia da aristocracia cortesã alemã só recua após a Revolução Francesa. Com a lenta ascensão da burguesia alemã para classe governante a antítese Kultur e Civilização muda significação e função, “de antítese primariamente social torna-se primariamente nacional. ” Numerosas características originais da classe média transformaram-se em características nacionais.

Continue navegando