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Economia Internacional

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O sistema de Bretton Woods de gerenciamento econômico internacional vigorou entre 1945 e 1971. Este sistema funcionava sob cinco pilares: (01) taxas de câmbio fixas, mas passíveis de ajuste; (02) Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e Fundo Monetário Internacional (FMI); (03) única moeda conversível em ouro seria o dólar; (04) controle de capitais; e por último, (05) multilateralismo.
A partir do início dos anos 1960, os mentores da política econômica americana se preocuparam em tentar lidar com os crônicos problemas do balanço de pagamentos e com a sorte da principal moeda do mundo. Uma das principais vítimas da grande depressão e da Segunda Guerra Mundial fora o sistema bancário internacional. Uma explosão de falências bancárias, atrasos e violentas contrações no comércio e no investimento internacional dissiparam a confiança em empréstimos internacionais. A instituição do sistema monetário de Bretton Woods restaurou a confiança no comércio e nos investimentos internacionais. Os acordos estabeleceram um novo conjunto de regras para governar o comércio, as finanças e as taxas de câmbio – pontos cruciais da economia mundial do pós-guerra.
Com o sistema de Bretton Woods em vigor, os Estados Unidos aumentaram a quantidade de emissão de dólares no mundo. As economias estavam todas lastreadas em ouro, porque o dólar era lastreado em ouro. Era muito mais fácil, portanto, ter reservas de dólares do que reservas de ouro. Como o dólar era lastreado em ouro, se alguém tivesse certa quantidade de dólares significava que essa pessoa teria certa quantidade em ouro, por conta da conversibilidade do dólar-ouro. Por isso, muitos passaram a obter reservas em dólares. Com a aquisição cada vez maior de reservas de dólares, aparece entre aqueles que adquiriram dólares, certa desconfiança em relação à conversibilidade do dólar. Começou-se a desconfiar se os Estados Unidos realmente teria a quantidade suficiente em ouro para emitir a quantidade de dólar que emitia. Portanto, configurou-se um cenário, a partir de 1960, de crise de confiança com relação à conversibilidade do dólar. 
Surgiu, então, o dilema de Triffin. As opções que os Estados Unidos tinham diante do cenário de desconfiança que se configurou eram duas: ou paravam a emissão de moeda e colocavam o mundo em uma recessão, ou perderiam a credibilidade do dólar porque emitiriam tanto dólar que as pessoas saberiam que não tinham ouro equivalente para garantir o lastro do dólar. Os Estados Unidos decidiram então por continuarem emitindo dólar mesmo que perdessem a credibilidade do dólar. Como consequência dessa escolha feita pelos Estados Unidos, configurou-se um quadro de inflação naquele período, ou seja, o aumento do nível geral de preços. Outra consequência dessa escolha feita pelos Estados Unidos foi que em outros países, também se configurou um quadro de inflação.
AVALIAÇÃO SEMESTRAL – ECONOMIA INTERNACIONAL II
03 DE JUNHO DE 2016
Para tentar contornar a crise da credibilidade ocasionada pela escolha dos Estados Unidos de não parar a emissão do dólar e, portanto, perder a credibilidade da sua moeda, surgiu o Esquema Roosa, em 1962. Roosa era o secretário do tesouro dos Estados Unidos. O Esquema Roosa desenhou dois caminhos que deveriam ser percorridos: a criação dos direitos especiais de saque, e o imposto sobre equalização de juros (IEJ). Este mecanismo de controle de capitais foi criado porque as taxas de juros da Europa eram maiores do que as taxas de juros dos Estados Unidos. Um indivíduo, como financista, preferiria emprestar dos Estados Unidos por um valor menor e levar o dinheiro aos bancos que estavam na Europa, uma vez que as taxas de juros eram maiores e os lucros, portanto, seriam maiores. Os juros baixos são bons para o produtor, no entanto, para investimento, o valor das taxas de juros era melhor na Europa. Esse movimento gerou grande fuga de capitais dos Estados Unidos. O Imposto sobre Equalização de Juros (IEJ) era um imposto cobrado das pessoas e empresas que desejavam retirar o dinheiro dos Estados Unidos. Esse imposto representava uma das máximas do sistema Bretton Woods, que era o controle de capitais.
Esta medida surgiu em 1962, para tentar resolver os sucessivos déficits na Balança de Pagamentos. Como o câmbio era fixo no sistema Bretton Woods, ou seja, não poderia ser alterado, optaram por criar esse mecanismo de controle de capitais, que era o Imposto sobre Equalização de Juros (IEJ). O Imposto sobre Equalização dos Juros resultou na transferência completa do sistema bancário americano para Londres. Foi a partir da adoção desta medida de controle de capitais que houve uma “transferência” do centro financeiro norte-americano, Wall Street, para Londres.
É então que se expande um mercado paralelo completamente desregulado, o euro-mercado. O eurodólar, um dólar americano circulando fora dos Estados Unidos, foi criado logo depois da Segunda Grande Guerra. Curiosamente, ele nasceu como resultado de transações em dólar feitas na Europa Ocidental pela União Soviética e China. O euro-mercado, portanto, começou como um tipo de mercado de dólar no exílio, onde os adversários dos Estados Unidos podiam transacionar em dólares sem perigo de uma intervenção política. Todavia, o euro-mercado não era uma força significativa na atividade bancária internacional, até que o Governo americano começou a deflagrar controles contra a exportação de capitais.
O euro-mercado proporcionava aos seus usuários grande liquidez. A liquidez era oriunda dos petrodólares. Os petrodólares eram o dinheiro proveniente do petróleo. Com a imensa quantidade de depósitos de dólares oriundos dos ganhos que os árabes tinham com o petróleo foi possível o empréstimo para mais Estados e empresas. Esses depósitos tornaram-se parte do gigantesco montante de eurodólares disponíveis para empréstimos para corporações e governos. O euro-mercado fez com que Londres se tornasse o maior centro financeiro do mundo. O euro-mercado torna privado algo que era estatal, que é a concessão de empréstimos, por exemplo. Ou seja, bancos privados passaram a emprestar para empresas.
Os bancos norte-americanos estavam tendo prejuízos nos Estados Unidos, uma vez que com a inflação, o spread dos bancos era cada vez menor. Ou seja, o dinheiro que os bancos esperavam ganhar era muito menor do que realmente ganhavam, e os lucros no exterior compensavam. No euro-mercado os bancos americanos poderiam emprestar o quanto queriam, e para quem quisesse. Fora dos Estados Unidos, os bancos americanos poderiam conceder empréstimos a prazo e receber depósitos em dólares. Além de ser vantajoso para os bancos norte-americanos o euro-mercado, para a Inglaterra, voltar a operar como centro financeiro comercial também era vantajoso. Conceder empréstimos e receber empréstimos em dólares mesmo num país cuja moeda era a libra também era benéfico para o país. Havia uma escassez de libra na Inglaterra naquele período, o que fez com que o governo permitisse a tomada de empréstimos em dólares para financiar o comércio interno (trade finance).
A partir dessas considerações é possível entender os determinantes do fim de Bretton Woods. O marco para o fim de Bretton Woods foi, em 1971, o fim da conversibilidade do dólar em ouro, medida adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon. O então presidente rompe unilateralmente com o padrão dólar-ouro. A partir de 1971, o dólar não tinha mais conversibilidade em ouro. A adoção desta medida tem impactos diretos nas economias da Alemanha e do Japão, uma vez que a quantidade de reserva de dólares que esses países tinham era imensa. A partir de 1973, os Estados Unidos rompe com mais um dos pilares de Bretton Woods, o câmbio fixo.
Os Estados Unidos queriam a desvalorização do dólar, pois tinham déficits recorrentes em sua Balança de Pagamentos. No entanto, o Japão e a Alemanha não tinham interesse em câmbio flutuante uma vez que tinham superávit em sua Balança de Pagamentos por conta das reservas em dólares. Os Estados Unidos precisavam desvalorizaro dólar em 25% para solucionarem o déficit em seu Balanço de Pagamentos, mas como o Japão e a Alemanha não tinham interesse nessa desvalorização surgiu um acordo entre estes países, o acordo Smithsoniano. O acordo Smithsoniano permitiu que os Estados Unidos desvalorizassem o dólar em 8%, enquanto Alemanha e Japão valorizassem suas moedas em 17%, garantindo seu objetivo de manter sua reserva em dólares.
Em 1973, portanto, os Estados Unidos além de realizarem o acordo com Alemanha e Japão, adotam o câmbio flutuante. É nesse período que surge a especulação cambial. Com a adoção do câmbio flutuante, muitas pessoas passam a apostar contra a moeda, esperando que o dólar valorize. Quem garantia a paridade dólar-ouro eram os Estados Unidos e quem garantia as taxas de câmbio fixo era o Estado. Ou seja, se havia problema cambial, este problema deveria ser resolvido pelo Estado. No entanto, com a adoção do câmbio flutuante, surge o risco cambial. A oscilação pode causar perdas ou ganhos, porque o Estado não garante mais a paridade. As pessoas passaram então, a apostar contra a moeda, mesmo com o câmbio flutuante, porque assim como poderiam perder, poderiam ganhar muito fazendo essa aposta.
Entre 1973 e 1979, há os três helicópteros da queda do império norte-americano. Os determinantes do fim de Bretton Woods foram três: (01) renúncia de Richard Nixon; (02) guerra do Vietnam; (03) fragilidade militar. Os sinais para o colapso de Bretton Woods foram além do fim da conversibilidade do dólar em ouro. Com a renúncia do presidente Richard Nixon, em 1973, apresentava-se uma fragilidade da política norte-americana naquele momento. Além disso, a grande potência norte-americana havia perdido a Guerra do Vietnam demonstrando a sua fragilidade econômica e militar.
Em 1979, o mundo entra em colapso com o choque dos juros. Em suma, o choque dos juros foi quando Paul Volcker, presidente do Federal Reserve dos Estados Unidos, triplica a taxa de juros norte-americana. Paul Volcker adotou essa medida em nome do combate à inflação e alcançou este objetivo. No entanto, o objetivo real era recuperar a credibilidade do dólar. “O remédio foi bom, mas matou o paciente”. Os Estados Unidos quebraram o mundo (bancos, empresas, países) com essa política, no entanto, o dólar voltou a se fortalecer. Com essa política adotada por Paul Volcker, o euro-mercado foi engolido. O choque dos juros aspirou ao euro-mercado, uma vez que com o aumento do preço dos juros, compensaria muito mais investir em títulos da dívida norte-americana, que ganharam imensa força com essa medida, do que no euro-mercado. Notou-se um movimento contrário neste momento, os banqueiros voltaram a se instalar em New York. O centro financeiro retornou da Inglaterra para os Estados Unidos. Em decorrência desta medida tomada pelos Estados Unidos, os demais países também começaram a aumentar os juros para tentar atrair capital para seus países, mas não obtiveram sucesso. Essa medida prejudicou, principalmente, os países em desenvolvimento. Especialmente a América Latina como um todo.
A adoção do câmbio flutuante, o choque dos juros e o choque do petróleo deram origem ao grande cassino capitalista, tese defendida por Strange. Strange afirma que, neste período, o capitalismo se transforma em um grande cassino. Strange atribui este termo ao capitalismo que vigorou a partir de 1979, pois tudo se tornou mercadoria (mercado de câmbio, ações, commodities). Cria-se um mercado futuro (mercado de derivativos), em que se faz uma venda futura de moedas. Este mercado surgiu baseado no mercado agrícola. O funcionamento deste mercado se dava da seguinte maneira: se alguém vende moedas para ganhos futuros, alguém compra moedas desse mercado futuro. Desse modo, sabe-se que há um grande movimento de especulação, ou seja, alguém apostando contra a moeda futura. Com a especulação, surge a privatização do risco cambial. A privatização significa em linhas gerais que o ônus ficará com quem estiver o dólar (indivíduo, empresa) no futuro. Neste momento, o Estado não é mais quem segura o câmbio. A adoção do câmbio flutuante fez com que o risco cambial ficasse nas mãos de empresas ou indivíduos, pessoas físicas ou pessoas jurídicas. Ou seja, quem arcaria com o ônus de uma desvalorização cambial ou de uma valorização cambial seria os indivíduos ou as empresas.
Além disso, surge a securitização (derivativos financeiros). Securitização é uma prática financeira que consiste em agrupar vários tipos de passivos financeiros (notadamente títulos de crédito tais como faturas emitidas e ainda não pagas, dívidas referentes a empréstimos entre outros), convertendo-os em títulos padronizados negociáveis no mercado de capitais interno e externo. Assim, a dívida é transferida, vendida, na forma de títulos, para vários investidores. Assim, securitização é a conversão de uma dívida (duplicatas, cheques, notas promissórias) em título lastreável e negociável entre instituições financeiras. O que acontecia naquele período é que cada vez mais havia rotatividade desses títulos, e quanto maior a rotatividade, maior o risco de não se receberem esses títulos.
Neste mercado de derivativos surgiram as ações em head. Eram feitos empréstimos e cedidos créditos a partir das ações em head, o que significa venda de uma quantia fechada. Começam a surgir mecanismos de controle como as ações em head dentro do cassino capitalista para que se controlassem as questões de sorte e azar. O cenário que permitia a existência do cassino capitalista era o câmbio flutuante, as altas taxas de juros e o choque do petróleo. A partir daquele momento, tudo estava desligado do comércio, ou seja, o mundo se transforma em grande medida em um mundo financista.
Na década de 1980, Margaret Thatcher (Reino Unido), Ronald Reagan (Estados Unidos) assumem o poder. Esses governantes viam a economia de Estado como uma economia doméstica, ou seja, é preciso que se tenha superávit primário (Estado arrecade mais do que gaste). Desmantela-se, desse modo, todo o consenso Keynesiano que existia na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o ideal de Walfare State. Surge a partir de então uma sociedade em que as grandes finanças operam dentro do Estado sem reguladores.
Entre os anos de 1973 e 1979 observou-se o declínio do dólar, o que contribui, portanto, para a queda do Império norte-americano. A crise de 1979 é considerada a pior crise no sistema financeiro, que se originou nos Estados Unidos. O que explica a crise de 1979 ser a pior crise no sistema financeiro são seis princípios: (01) endividamento das grandes empresas; (02) endividamento crescente do terceiro mundo; (03) desordem cambial e financeira por conta da valorização do dólar; (04) fim dos superávits da OPEP; (05) dívida incobrável de US$ 600 bilhões; (06) generalização da recessão mundial. O endividamento das grandes empresas deveu-se ao fato de que os Estados Unidos aumentaram as taxas de juros, de modo que as empresas do mundo aumentaram os passivos das dívidas. O que significa que, os empréstimos que eram feitos em dólar, precisavam ser pagos em dólar. Com o aumento dos juros, houve um aumento dessa dívida. O endividamento crescente do terceiro mundo deveu-se ao aumento das taxas de juros. Mais de 60 países declararam moratória. A desordem cambial e financeira por conta da valorização do dólar deveu-se a valorização fictícia do dólar. O fim dos superávits da OPEP está relacionado com os petrodólares.
O diagnóstico da situação foi, portanto, que ou se abaixavam os juros dos Estados Unidos, ou acabava o capitalismo. Neste sentido, entre 1980 e 1981, os Estados Unidos buscaram a retomada de sua hegemonia. Para retomar a sua hegemonia, os Estados Unidos aumentaram os juros, e enquadraram a Alemanha e o Japão na lógica do dólar forte, forçando-os valorizarem as suas moedas. A diplomacia do dólar forte era benéfica para o G3 (Estados Unidos, Alemanha e Japão). A Alemanha e o Japão exportavam para os Estados Unidos, estando superavitários no Balanço de Pagamentos. Com os dólares recebidos porsuas exportações, Alemanha e Japão investiam nos títulos norte-americanos. No entanto, ao enquadrarem a Alemanha e o Japão na diplomacia do dólar forte, os Estados Unidos entre 1982 e 1984 passou a apresentar um déficit comercial muito grande, pois importavam muito da Alemanha e do Japão.
A diplomacia do dólar forte vigorou entre 1984 e 2005. No entanto, é preciso considerar a diferença entre o capitalismo alemão e o capitalismo japonês, e o capitalismo dos Estados Unidos. O capitalismo alemão e o capitalismo japonês apresentavam uma relação simbiótica entre o Estado e o banco, e por isso, se mantém fortes. No entanto, o capitalismo norte-americano apresentava uma relação diferente, entre mercado financeiro e banco, por isso começa a perder força. A partir de 1984, de acordo com Conceição Tavares, acontece a destruição criativa, que é a destruição da indústria pesada em detrimento da nova tecnologia, facilitada pelos financistas. Além disso, há uma modernização conservadora com o Consenso de Washington (1985). Este período apresenta uma grande financeirização mundial, uma imensa liberalização econômica e comercial proporcionada pelo Consenso de Washington e para o terceiro mundo, através do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Outro elemento que se apresenta neste período é uma grande assimetria de poder. Diante da nova Divisão Internacional do Trabalho, aumenta-se a distância entre centro e periferia. A periferia se especializa cada vez menos, produzindo cada vez mais produtos manufaturados, e o centro se especializa cada vez mais, produzindo cada vez mais produtos industrializados. É na década de 1980 que surgem os oligopólios, ou seja, poucas pessoas dominando grandes empresas.

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