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16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 1/41 Bretton Woods Prof. Livio Ribeiro Descrição Apresentação do Bretton Woods, sistema monetário internacional em vigor desde o fim da Segunda Guerra Mundial até o início da década de 1970. Discussão sobre suas principais características e seus mecanismos de ajuste, bem como sobre os contextos históricos que possibilitaram seu advento e posterior abandono. Propósito Compreender um dos principais sistemas monetários já usados na história, parte básica da formação de economistas e historiadores. Objetivos Módulo 1 Acordos de Bretton Woods Descrever o surgimento e o funcionamento do sistema de Bretton Woods. Módulo 2 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 2/41 ódu o Sistema de Bretton Woods Descrever as pressões e os desequilíbrios inerentes ao sistema e as dificuldades para sua manutenção. Iniciada em 1939, a Segunda Guerra Mundial durou cerca de seis anos e terminou apenas em 1945. A partir dos anos de 1943 e 1944, tornava-se cada vez mais claro que os países aliados (liderados por Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido e França) derrotariam os países do eixo (a Alemanha, a Itália e o Japão). Os países do eixo perdiam território, especialmente na Europa, e não tinham mais condições de enfrentar os Estados Unidos e a União Soviética, potências militares que haviam entrado mais tarde na guerra. Diante da perspectiva de um cenário vitorioso para os aliados, os países ocidentais já planejavam como seria o sistema monetário internacional no pós-guerra. Dessa vez, os governos não pareciam dispostos a incorrer nos mesmos erros cometidos nos anos posteriores à Primeira Guerra Mundial, nos quais não houve uma coordenação para retorno da conversibilidade do ouro, tampouco uma organização de um sistema monetário internacional que fosse funcional para as condições econômicas da época. A falta de cooperação para a adoção do padrão ouro no período entreguerras impossibilitou o funcionamento estável de um sistema que, em determinado momento, tornou-se insustentável. Estados Unidos e Reino Unido não queriam que isso ocorresse novamente. Os acordos de Bretton Woods foram assinados justamente com a intenção de promover essa cooperação e garantir um funcionamento organizado do sistema monetário internacional após o fim da Segunda Guerra Mundial. Wood foi o primeiro sistema monetário internacional completamente negociado por seus principais participantes. Nesse sentido, é importante notar que, assim como qualquer negociação internacional, a distribuição de poder e a consequente capacidade de barganha de cada país signatário impactaram diretamente as diretrizes do acordo. As três décadas que sucederam o fim da guerra (os anos de 1950, 1960 e 1970) foram marcadas por taxas de crescimento econômico bastante altas e poucas vezes vistas. Essa boa performance de crescimento da produção, no entanto, não estava livre de crises econômicas, desequilíbrios externos e novas pressões sobre a manutenção da conversibilidade das moedas. Para muitos, a performance macroeconômica vivenciada no período está diretamente relacionada às diretrizes propostas em Bretton Woods. Aliada à cooperação para solucionar os problemas de balanço de pagamentos, a estabilidade cambial permitiu uma expansão sem precedentes do Introdução 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 3/41 1 - Acordos de Bretton Woods comércio internacional. A rápida integração comercial teria sido o principal vetor de crescimento econômico do período. No entanto, outros especialistas argumentam que o sistema de Bretton Woods foi tão disfuncional quanto o do padrão ouro durante o período entreguerras. Para eles, a estabilidade econômica e a facilidade de ajuste de desequilíbrios no balanço de pagamentos foram apenas consequência de um período de robusto crescimento econômico cujo otimismo afastava temores e movimentos desestabilizadores. Além disso, argumentam que, tendo em vista os controles dos fluxos de capitais vigentes à época, o crescimento do investimento estrangeiro ocorreu apesar de o sistema de Bretton Woods estar em vigor - e não em decorrência dele. Diante de visões tão opostas acerca de benefícios e custos de um sistema que marcou época, é conveniente apontar em detalhes sua ascensão, seu funcionamento e sua eventual derrocada. No módulo 1, apresentaremos o contexto no qual o sistema de Bretton Woods surgiu e as negociações que serviram de base para os acordos, bem como seu funcionamento. No módulo 2, abordaremos os principais vetores de desequilíbrio que levaram ao fim do sistema de Bretton Woods e as instituições, bem como as lições, que permaneceram mesmo após o seu abandono. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 4/41 Ao �nal deste módulo, esperamos que você descreva o surgimento e o funcionamento do sistema de Bretton Woods. Trilema de Mundell-Fleming: relembrando Antes de apresentar em detalhes a ascensão e o funcionamento do sistema de Bretton Woods, é conveniente discutir as possibilidades de decisão e as limitações que formuladores de política econômica enfrentam na prática. Para compreender melhor o funcionamento dos diferentes regimes monetários que podem ser adotados por um país (ou conjunto de países), é importante apresentar um conceito conhecido como Trilema de Mundell- Fleming (ou trilema monetário da economia aberta). Ao entender esse trilema, torna-se mais fácil observar as diferenças entre os sistemas e as vantagens e desvantagens inerentes a cada um deles. Três características principais definem e diferenciam os sistemas monetários: O regime cambial adotado A dinâmica de �uxos de capital A condução da política monetária Existe um trilema monetário do qual os formuladores de política não podem escapar quando buscam escolher a melhor combinação de características para determinada moeda. O Trilema de Mundell-Fleming relaciona o regime de câmbio fixo, a livre mobilidade de capital e a autonomia da política monetária, demonstrando que essas três características não podem coexistir em um mesmo sistema monetário: apenas duas delas podem valer a cada momento. Ou seja, se duas dessas características estão presentes, a característica restante não é alcançável. Considere o triângulo de impossibilidades apresentado a seguir. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 5/41 Veja de forma detalhada cada um dos regimes a seguir: Considere inicialmente um regime monetário A. Nesse regime, a taxa de câmbio entre diferentes moedas é fixa e existe livre circulação de capital entre os países, ou seja, não há controles sobre os fluxos de capital. Um país que adota um sistema monetário desse tipo não tem autonomia sobre sua política monetária. Isso ocorre, porque, para conservar uma taxa de câmbio fixa, é necessário manter os fluxos de entrada e saída de capital relativamente constantes, ou seja, um balanço de pagamentos equilibrado. Se o sistema apresenta livre mobilidade de capital, a única forma de controlar esses fluxos é modificar a taxa de juros a fim de atrair mais (ou menos) capital para manter o balanço de pagamentos equilibrado (e, consequentemente, uma taxa de câmbio fixa). Sendo assim, não é possível utilizar a taxa de juros como forma de política monetária para expandir ou contrair a demanda. A taxa de juros se torna apenas um instrumento de reequilíbrio das contas externas. O padrão ouro é um exemplo real de um regime monetário que apresenta taxas de câmbio fixas e livre circulação de capital. Nos anos de padrão ouro, os países definiam suas taxas de juros de acordo com a necessidade de reequilíbrio do balanço de pagamentos, sem considerar o estado da atividadeeconômica. Um regime monetário do tipo B também é chamado de regime de câmbio flexível. Nesse sistema, os países operam com livre circulação de capitais e autonomia da política monetária, mas a taxa de câmbio é flutuante. Regime monetário A Regime monetário B 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 6/41 A livre circulação de capital tipicamente torna o câmbio uma variável volátil. Ao exercer autonomia sobre sua política monetária, utilizando a taxa de juros para controlar a atividade econômica em vez de usá-la para controlar o balanço de pagamentos, chega-se a uma taxa de câmbio flutuante. Nesse caso, é a própria flutuação da taxa de câmbio que reequilibra as contas externas em situações de desequilíbrio. Em um regime monetário do tipo C, a taxa de câmbio é fixa, mas sua manutenção não está associada à taxa de juros, e sim aos controles sobre os fluxos de capital. Nesse sistema, o governo mantém autonomia para utilizar a taxa de juros para fazer política monetária, porém defende a manutenção da paridade estabelecida, controlando a entrada e a saída de capital — restrições à importação, por exemplo, já foram frequentemente utilizadas como forma de controle dos fluxos de saída. Uma vez apresentado o Trilema de Mundell-Fleming e a diferenciação das características de cada sistema possível, é conveniente destacar a conjuntura político-econômica que motivou a ascensão do sistema de Bretton Woods e que explica em qual tipo de regime monetário consistia esse sistema, assim como suas diferenças para o já conhecido padrão ouro. Plano Keynes x Plano White A nova ordem monetária a ser adotada após a Segunda Guerra Mundial começou a ser discutida e negociada anos antes do fim da guerra. Os países aliados não queriam reviver a desorganização monetária do período após a Primeira Guerra Mundial, tampouco a falta de cooperação vivenciada durante a Grande Depressão, que acabou prolongando ainda mais a crise de 1929. Como qualquer negociação, o poder de barganha das partes é determinante para o resultado a ser alcançado, as concessões realizadas e os compromissos firmados. No caso dos acordos de Bretton Woods, isso não foi diferente. Podemos perceber divisão de interesses entre duas nações: Regime monetário C Reino Unido P l d R i U id ti h i t i t tá i i d 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 7/41 Tendo em vista o contexto da época, o Reino Unido, que até a Primeira Guerra Mundial detinha uma posição hegemônica no cenário global, agora se encontrava em uma situação de clara inferioridade. Mesmo antes do final da Segunda Guerra Mundial, Eichengreen (2000) destacava que o Reino Unido e os Estados Unidos já haviam assinado a Carta do Atlântico, em 1941, e o Acordo de Ajuda Mútua de 1942. Nos termos desses acordos, o Reino Unido assumiu o compromisso de restauração da conversibilidade da libra esterlina e aceitou o princípio de não discriminação comercial. Em troca, os Estados Unidos ofereceriam ajuda financeira em condições favoráveis e respeitariam a prioridade que os britânicos atribuíam ao pleno emprego. Comentário A dependência britânica de ajuda financeira americana já demonstrava, de forma clara, a distribuição de poder em favor dos Estados Unidos e consequentemente a posição enfraquecida do Reino Unido nas Por um lado, o Reino Unido tinha interesse em um novo sistema monetário organizado antecipadamente para evitar as sucessivas crises de balanço de pagamentos que enfrentou durante o período entreguerras. Nesse período, ao tentar restaurar a conversibilidade em ouro à paridade vigente antes da Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido acabou por fixar uma taxa de conversão supervalorizada em relação ao seu nível de preços. Isso afetou diretamente suas exportações e requereu constantes esforços deflacionários, os quais, por sua vez, estavam associados a um alto nível de desemprego. Estados Unidos Por outro lado, os Estados Unidos queriam liderar o processo de organização de um novo sistema de forma a promover crescimento econômico e expandir seus interesses. O país havia se tornado o maior credor internacional e o maior detentor de reservas de ouro. À exceção do ataque japonês ao Havaí na Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos não sofreram a destruição material que os demais países industrializados da Europa sofreram. Esse fato, aliado aos esforços para oferecer os insumos básicos para a guerra, principalmente material bélico, o tornaram a maior potência industrial do mundo, bem como a economia mais próspera da época. Ao final da Segunda Guerra Mundial, estava clara a posição hegemônica exercida pelos Estados Unidos no mundo ocidental - não apenas econômica, mas também política e militar. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 8/41 negociações que seguiriam. Na esfera monetária, Reino Unido e Estados Unidos concordavam com algumas diretrizes básicas, porém discordavam em vários pontos cruciais. Considerando tais divergências, assessores econômicos de cada governo elaboraram planos para pautar a forma com que visualizavam o novo sistema monetário a ser implementado após a guerra. O plano do governo britânico ficou conhecido como Plano Keynes, que, na época, era consultor não remunerado do Ministério das Finanças britânico. Já o do governo dos Estados Unidos ficou conhecido como Plano White, economista do Tesouro norte-americano. Diante de significativas divergências entre os planos, é conveniente mostrar os principais pontos de cada um deles. Plano White A principal diretriz estabelecida no Plano White foi a restauração da conversibilidade em ouro, estabelecendo o metal como principal forma de reserva internacional. Para lidar com a escassez do metal em um cenário de aumento do comércio internacional após a guerra, foi proposto que toda moeda conversível em ouro poderia ser adotada como meio de pagamento internacional. Moedas sem conversibilidade em ouro não seriam aceitas como meio de troca. Essa diretriz, no entanto, não era apenas uma tentativa de aprimorar o sistema utilizado antes das grandes guerras, e sim uma forma de estabelecer o dólar como principal moeda global. O governo dos Estados Unidos sabia que, na prática, eram os únicos capazes de lastrear sua moeda ao ouro, tendo em vista que, ao final da Segunda Guerra Mundial, eles eram o país que detinha a maior parte das reservas mundiais de ouro e apresentavam constantes superavits da balança comercial. Ao propor essa diretriz, o dólar se tornaria a moeda de reserva obrigatória e aquela que seria usada como meio de pagamento internacional. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 9/41 No que diz respeito às taxas de câmbio, o Plano White previa paridades fixas entre as moedas e a supervisão dessas paridades por meio de uma instituição internacional com poder de veto sobre possíveis mudanças. Inicialmente, o Plano White propunha ainda um sistema sem controles tanto comerciais como de capitais. Mais tarde, esse ponto foi modificado para inserir controles de capital a fim de permitir a manutenção de taxas de câmbio fixas em um cenário de fluxos internacionais cada vez mais voláteis. Plano Keynes Os britânicos, cientes da posição dominante dos Estados Unidos em relação ao ouro, não gostariam que o dólar se tornasse a moeda de reserva internacional, mas sabiam que a libra esterlina não tinha condições de exercer tal papel central característico da época do padrão ouro. Para contornar essa questão, o Plano Keynes sugeria a criação de uma moeda nominal e escriturária chamada de bancor. Ela não seria usada como moeda nacional de nenhum país, sendo utilizada por todos apenas para transações externas. O bancor seria conversível em ouro a uma paridade fixa, mas que poderia ser alteradade acordo com a conjuntura. Ele seria considerado meio de pagamento entre países e reserva de valor internacional. Ao propor a utilização de uma moeda que não seria emitida por nenhum país, Keynes tentava impedir que, ao adotar o dólar como reserva internacional, o restante do mundo ficasse sujeito às decisões de política interna e externa dos Estados Unidos. Isso não significa dizer que, na proposta de Keynes, não havia interesses implícitos para favorecer o Reino Unido. Considerando que nenhuma nação seria emissora de bancor, o acesso à moeda estava condicionado à participação de um país no comércio exterior. O Reino Unido, assim como outros países da Europa, e os Estados Unidos tinham um elevado grau de abertura comercial. Isso faria com que o poder britânico sobre a nova moeda fosse ao menos competitivo em relação ao poder norte-americano. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 10/41 Pela proposta de Keynes, o bancor seria criado com uma instituição internacional denominada União Internacional de Compensações, que gerenciaria as trocas entre os países e atuaria como emprestador de última instância para aqueles com desequilíbrios no balanço de pagamentos. As taxas de câmbio seriam, a princípio, fixas. Elas, porém, poderiam ser desvalorizadas, assim como restrições comerciais poderiam ser adotadas caso fosse necessário reequilibrar o balanço de pagamentos. A ideia era a de que os países não teriam de incorrer em pesados choques deflacionários para alterar os termos de troca, como ocorria no padrão ouro. Afinal, esses choques eram acompanhados de: Queda na atividade econômica Elevado desemprego A flexibilidade em relação à desvalorização cambial alteraria os termos de troca de forma a favorecer as exportações e encarecer as importações, reequilibrando a balança comercial e evitando um pesado choque deflacionário. Além disso, o Plano Keynes previa que ajustes de balanço de pagamentos deveriam ser realizados não apenas pelos países deficitários, mas também pelos países superavitários. Os superavitários, por meio da União Internacional de Compensações, disponibilizariam recursos para financiar o balanço de pagamentos dos países deficitários. Mas qual era o objetivo dessa medida? Resposta 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 11/41 Essa medida tinha como objetivo possibilitar um ajuste mais gradual por parte dos países deficitários, sem fortes choques deflacionários com elevado desemprego. Esse gradualismo seria possível, pois o mecanismo proposto faria com que o financiamento de seus deficits estivesse assegurado durante algum período. Novamente, tal medida constituía mais um ponto cuja intenção principal era reduzir a vantagem dos Estados Unidos no novo sistema monetário. Conforme já frisamos anteriormente, os Estados Unidos eram a maior potência industrial do período e não tiveram sua economia destruída pela guerra. Por esse motivo, apresentavam constantes superavits comerciais e consequentemente um saldo positivo no balanço de pagamentos. Com essa proposta, o custo de reajustar o balanço de pagamentos não recairia apenas nos países deficitários (nações europeias em reconstrução após a guerra e países periféricos). Ele agora seria dividido entre todos. Particularmente, o mecanismo proposto por Keynes implicava que, caso continuassem a apresentar persistentes superavits, os Estados Unidos ficariam obrigados a financiar o deficit de outros países por meio de direitos de saque perante a União Internacional de Compensações. Pelos cálculos de Keynes, o valor do financiamento que seria de responsabilidade dos Estados Unidos poderia alcançar cerca de 23 bilhões de dólares na época. O Plano Keynes previa um montante de 26 bilhões de dólares de recursos para financiamento dos países deficitários. Inicialmente, o Plano White não previa qualquer mecanismo de financiamento dos países deficitários. Em sua versão final levada à conferência de Bretton Woods, ainda assim, ele incluiu um mecanismo semelhante. Seus valores, no entanto, eram bem diferentes daqueles propostos pelo Plano Keynes. Os recursos totais para esse tipo de financiamento seriam de apenas 5 bilhões de dólares, enquanto a obrigação máxima dos Estados Unidos seria de 2 bilhões, bem menos que os 23 bilhões propostos por Keynes. De modo geral, é possível notar que os planos White e Keynes se diferenciavam em vários aspectos, defendendo até mesmo posições opostas em alguns deles. Podemos ver dois exemplos de pontos de divergência no quadro a seguir: 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 12/41 Plano Keynes Plano KeynesPlano Keynes Plano Keynes Taxa de câmbio Admitia alguma flexibilidade de desvalorização para reajuste das contas externas. Defendia poder de veto de uma instituição internacional em relação às alterações dessas taxas. Desequilíbrios externos Previa uma cooperação de financiamento entre países superavitários e deficitários. A responsabilidade de realizar o ajuste recaia sobre os países deficitários. Obviamente, a principal diferença era em relação à moeda a ser adotada como reserva de valor internacional e meio de troca para transações comerciais. Funcionamento do sistema de Bretton Woods Uma vez apresentadas as principais características das duas propostas para um novo sistema monetário internacional, torna-se possível analisar melhor aquelas que prevaleceram nos acordos finais de Bretton Woods. Era de se esperar que os acordos finais buscassem uma via de convergência entre as duas propostas apresentadas, especialmente no que se refere aos pontos de maior divergência. Embora isso tenha acontecido em alguma medida, as diretrizes definidas nos acordos finais demonstram claramente a posição de superioridade e o grande poder de barganha dos Estados Unidos (e a consequente inferioridade dos demais). As diretrizes da versão �nal dos acordos de Bretton Woods eram muito mais próximas das propostas presentes no Plano White que as do Plano Keynes. A conferência de Bretton Woods, realizada em julho de 1944 — cerca de um ano antes do fim oficial da Segunda Guerra Mundial —, definiu uma série de regras e diretrizes para organizar as relações financeiras e comerciais e o sistema monetário internacional no pós-guerra. Assim como o proposto pelo Plano White, ficou definido que todas as moedas conversíveis em ouro poderiam ser utilizadas como reserva internacional e aceitas como meio de troca nas transações comerciais. Relembrando 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 13/41 Como mencionamos anteriormente, na prática, isso estabeleceu o dólar como moeda de reserva internacional, tendo em vista que os Estados Unidos eram o único país com reservas de ouro suficientes para garantir a conversibilidade. A paridade estabelecida entre o ouro e o dólar foi de 35 dólares para cada onça troy de ouro. Todos os demais países estabeleceram taxas de câmbio fixas em relação ao dólar. Em vez de lastrear as emissões de suas respectivas moedas nacionais em ouro — como era feito no padrão ouro —, eles passaram a fazer isso em dólar. Onça troy Uma onça Troy equivale a pouco mais de 31 gramas. Por esse motivo, o sistema de Bretton Woods também ficou conhecido como padrão ouro-dólar. Nos termos dos acordos, todos os países signatários deveriam manter suas taxas de câmbio em relação ao dólar dentro de uma banda de 1%, para mais ou para menos, em relação à paridade predefinida. Também conforme previsto no Plano White, foi criada uma instituição internacional: o Fundo Monetário Internacional (FMI). O objetivo do FMI era: Supervisionar as paridades cambiais estabelecidas. Atuar como emprestador de último recurso para países deficitários, auxiliando-os a efetuar o ajuste de suas contasexternas. Paul Krugman destaca que os estatutos do Fundo Monetário Internacional são uma combinação entre 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 14/41 disciplina e flexibilidade, ambas planejadas com o intuito de contornar os problemas monetários do período entreguerras. Por um lado, existia um consenso, à época, de que taxas de câmbio flutuantes eram um vetor de desestabilização do sistema. Por isso, o FMI pretendia impor disciplina cambial aos países signatários, fazendo com que mantivessem suas taxas de câmbio fixas à paridade predefinida. Por outro lado, a experiência da Grande Depressão evidenciou a responsabilidade dos governos em buscar altos níveis de emprego e evitar choques deflacionários com elevado sacrifício social. Diante da adoção de um regime de câmbio fixo, no entanto, era difícil ajustar desequilíbrios externos sem incorrer em choques deflacionários. Nesse sentido, o sistema de Bretton Woods, por meio do Fundo Monetário Internacional, mostrou-se mais flexível que o sistema do padrão ouro. Foram incluídos nos estatutos do FMI dois mecanismos para auxiliar em tais ajustes: Ajuste 1 Utilização de recursos do Fundo para financiar o deficit de balanço de pagamentos, enquanto os países deficitários realizavam um ajuste mais gradual, com menor sacrifício social. Os recursos do Fundo seriam depositados por países credores cuja situação das contas externas era mais favorável. Ajuste 2 Desvalorização controlada da taxa de câmbio para países que apresentassem “desequilíbrio fundamental”. Ou seja, apesar de existir a disciplina em torno do câmbio fixo, havia a possibilidade de desvalorizações cambiais em caso de extrema necessidade. Essas desvalorizações deveriam ser autorizadas e supervisionadas pelo Fundo. No sistema Bretton Woods a taxa de câmbio era fixa, mas ajustável. De certa forma, essa flexibilidade presente nos dispositivos do Fundo Monetário Internacional consiste em um “meio-termo” entre o Plano White e o Keynes. Esse “meio-termo”, no entanto, mostrou-se claramente assimétrico em vários aspectos. Vejamos a seguir alguns deles: Disponibilidade de recursos para financiamento de países deficitários 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 15/41 Ao analisar a disponibilidade de recursos para financiamento de países deficitários prevista nos estatutos do Fundo, observa-se que o valor definido é consideravelmente abaixo daquele proposto pelo Plano Keynes. Conforme já destacamos, a proposta de Keynes sugeria um total de 26 bilhões de dólares, dos quais 23 bilhões seriam de responsabilidade dos Estados Unidos. O Plano White, em sua versão final, propôs um total de 5 bilhões de dólares, dos quais 2 bilhões seriam de responsabilidade do país norte-americano. Os valores definidos na assinatura dos acordos de Bretton Woods evidenciam a assimetria no poder de barganha entre os dois países. Ao final, ficou estabelecido um total de recursos equivalente a 8,8 bilhões de dólares — muito mais próximo dos 5 bilhões sugeridos no Plano White que os 26 bilhões do Keynes. O montante de responsabilidade dos Estados Unidos ficou estabelecido em 2,75 bilhões de dólares – novamente, muito mais próximo dos 2 bilhões sugeridos pelo Plano White que os 23 bilhões do Keynes. Situação semelhante ocorreu no que se refere ao mecanismo de desvalorização das taxas de câmbio. O Plano White propunha um sistema mais rígido no qual as paridades não deveriam sofrer alterações. Já o Keynes previa que as taxas de câmbio fossem ajustadas sempre que necessário para conciliar o equilíbrio entre as contas externas e o pleno emprego. O mecanismo adotado em Bretton Woods não era nem tão rígido conforme a proposta de White, nem tão flexível conforme a proposta de Keynes. A partir da versão final do acordo, todos os países poderiam alterar suas taxas de câmbio em até 10% da paridade predefinida - e, mesmo assim, somente após consulta com o Fundo Monetário Internacional e em resposta a um “desequilíbrio fundamental”. Variações acima de 10% só poderiam ser feitas mediante aprovação de três quartos dos países do Fundo que possuíssem direito de voto. Em outro contraste em relação ao sistema do padrão ouro, pelos acordos de Bretton Woods foram introduzidos controles sobre os movimentos de capital internacional. A proposta inicial do Plano White não previa qualquer tipo de controle sobre os fluxos internacionais, enquanto a de Keynes permitia o uso desses controles sempre de forma a conciliar o equilíbrio entre o balanço de pagamentos e o pleno emprego dos fatores. Desvalorização das taxas de câmbio Desvalorização das taxas de câmbio 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 16/41 A implementação de controles sobre os fluxos internacionais de capital acabou se tornando uma necessidade diante daquilo que foi acordado nos demais pontos de negociação. Por um lado, ao limitar a valores muito baixos o volume de recursos disponíveis para o mecanismo de financiamento dos países deficitários, o nível de gradualismo com o qual eles poderiam efetuar o ajuste externo diminuía. Ou seja, aumentava-se a necessidade de efetuar choques deflacionários. Caso contrário, esses países apresentariam uma situação de contas externas e eventualmente uma situação fiscal ainda mais frágil. Por outro lado, os governos já não estavam mais dispostos a colocar em prática o esforço deflacionário, prática comum nos anos do padrão ouro, tendo em vista o elevado sacrifício social. Somando esse cenário ao fato de que alterações cambiais também eram limitadas, existia o risco de que, assumindo livre fluxo de capitais, conforme o Plano White original, os países deficitários não seriam capazes de completar o ajuste deflacionário a tempo de impedir uma fuga generalizada de suas reservas. Nesse sentido, os Estados Unidos tiveram de ceder em seu posicionamento inicial e aceitaram a implementação de controles aos fluxos internacionais de capital. Trilema de Mundell-Fleming Neste vídeo, apresentaremos a teoria a respeito do Trilema de Mundell-Fleming para explicar a implementação de controles sobre o fluxo de capital internacional. Em resumo, o funcionamento do sistema de Bretton Woods era baseado em três pilares: Taxa de câmbio fixa, mas ajustável, para lidar com crises de balanço de pagamentos. C t l d fl d it l it i t l ti d t bili d 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 17/41 Percebe-se que esses três elementos eram complementares. Na prática, no entanto, o sistema não funcionou como planejado. Inicialmente, apenas os controles sobre os �uxos de capitais cumpriam, de forma efetiva, o seu papel. A possibilidade de ajuste nas taxas de câmbio foi raramente utilizada, com o temor de que mudanças na paridade resultassem em perda de credibilidade. Ao permitir que mudanças na paridade predefinida ocorressem apenas em situações de “desequilíbrio fundamental”, tais mudanças podiam ser contempladas apenas em períodos nos quais uma crise de restrição externa já estava instalada. Ou seja, esse mecanismo não permitia que governos se antecipassem à crise de forma a evitá-la. Um país que apresentasse contas externas frágeis permanecia nessa situação até a deflagração da crise. O sistema de Bretton Woods buscava uma composição entre: Padrão ouro Controle dos fluxos de capital para evitar movimentos especulativos desestabilizadores e garantir o câmbio fixo. Controle dos fluxos de capital para evitar movimentos especulativos desestabilizadores e garantir o câmbio fixo. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 18/41 Câmbio �xo (que poderia ser ajustado em caso de necessidade) Mas a própria possibilidade desse ajuste gerava insegurança sobreas taxas de câmbio. O ajuste não ocorria de forma automática para reequilibrar o sistema: ele apenas se dava de maneira imposta em situações de crises insustentáveis. Outro ponto que ficou evidente, na prática, após os acordos de Bretton Woods entrarem em vigor, foi o fato de os recursos do Fundo serem insuficientes para financiar o balanço de pagamentos dos países deficitários. Os deficits desses países eram muito superiores à quantia disponível pelo Fundo Monetário Internacional, especialmente quando se considera os anos iniciais após o fim da Segunda Guerra Mundial. O esforço de reconstrução da Europa requeria elevado volume de importações, sem que fosse possível, no entanto, financiá-las por meio das exportações, já que o parque industrial desses países estava destruído. Parte considerável desse deficit foi financiado com recursos do Plano Marshall, fora da alçada do Fundo Monetário Internacional. Diante desse cenário, os controles dos fluxos internacionais exerceram o papel de preencher a lacuna dos mecanismos de ajuste. Com o passar dos anos e a sofisticação dos sistemas financeiros, mesmo esses controles se mostraram de difícil coordenação. Em outras palavras, o sistema monetário internacional de Bretton Woods apresentava mecanismos de ajuste frágeis. Problemas de restrição externa e desequilíbrios cambiais estavam se tornando cada vez mais frequentes. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 19/41 Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Relação de forças no desenho do sistema monetário 20 min. Sistema monetário e padrão ouro 20 min. As decisões tomadas em Bretton Woods 20 min. MÓDULO 1 Vem que eu te explico! Relação de forças no desenho do sistema monetário 20 min. Sistema monetário e padrão ouro Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 20/41 Questão 1 A respeito do que foi apresentado acerca do sistema de Bretton Woods, é possível afirmar que seu caráter internacional foi: A resultado de um acordo de cooperação para organizar um novo sistema monetário, assinado em 1944, no qual as principais economias do mundo foram signatárias. B resultado de sanções comerciais e financeiras aplicadas sobre os países que se recusavam a aderir ao sistema. C resultado de imposições feitas pelos Estados Unidos a outros países por meio de guerras e invasões militares. D resultado não planejado de um contexto histórico específico favorável à adoção da libra esterlina como meio de pagamento de referência. E resultado da escassez de metais alternativos, tendo em vista que o ouro era o único metal facilmente encontrado cujo valor era amplamente reconhecido. Parabéns! A alternativa A está correta. O sistema de Bretton Woods foi resultado de negociações e acordos assinados em 1944 para organizar o sistema monetário internacional após o fim da Segunda Guerra Mundial. O objetivo dos acordos era evitar que a falta de cooperação característica do período entreguerras se fizesse presente. Questão 2 Na tentativa de evitar os mesmos problemas monetários ocorridos no período entreguerras, o sistema de Bretton Woods continha dispositivos que poderiam ser acionados em situações de crise. Esses dispositivos consistiam em: A ações coordenadas entre os países para sincronização da taxa de juros a fim de que nenhum deles apresente fluxos de saída de ouro. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 21/41 B mudanças automáticas na taxa de câmbio entre as moedas nacionais. C ajustes automáticos nos preços relativos (termos de troca), consequência de alterações na oferta de moeda e nos níveis de preço. D mudanças controladas na taxa de câmbio e disponibilidade de recursos para financiar os países deficitários. E suspensões temporárias e coordenadas da conversibilidade em ouro. Parabéns! A alternativa D está correta. O sistema de Bretton Woods previa taxas de câmbio fixas entre países. No entanto, de forma a permitir que ajustes pudessem ser realizados sem um choque deflacionário, os acordos incluíram a possibilidade de desvalorizações cambiais e um fundo de recursos que poderiam ser utilizados para financiar o déficit, enquanto esses países incorriam em esforços deflacionários mais graduais. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 22/41 2 - Sistema de Bretton Woods Ao �nal deste módulo, esperamos que você descreva as pressões e os desequilíbrios inerentes ao sistema e as di�culdades para sua manutenção. Desequilíbrios do sistema e controles de capital Com base no que já foi estudado até aqui, percebe-se que o sistema de Bretton Woods foi resultado da conjuntura internacional à época e buscou incorporar soluções para a instabilidade monetária que havia sido recorrente durante o período entreguerras. Na prática, muitos dos dispositivos construídos para lidar com esses problemas não se mostraram eficientes. Os países europeus, em especial, apresentaram sérias dificuldades para realinhar suas moedas ao sistema e manter suas contas externas equilibradas. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 23/41 Logo nos primeiros anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, ficou evidente que os países não conseguiriam restaurar a conversibilidade com o dólar sem que houvesse maior cooperação internacional. Novamente, assim como nos anos posteriores à Primeira Guerra Mundial, o caso do Reino Unido se tornou um exemplo clássico. Pelos acordos de Bretton Woods, os países signatários teriam aproximadamente oito anos para restaurar a conversibilidade de suas moedas. Tal conversibilidade poderia se dar em relação ao: Ouro Caso tivessem reservas suficientes para fazê-lo. Dólar Que, na prática, era o caminho mais factível. Apesar disso, o Reino Unido restaurou a conversibilidade da libra esterlina em dólar em 1947, apenas três anos após a assinatura do acordo e dois após o fim da guerra. Para Eichengreen (2000), a decisão de restaurar a conversibilidade naquele momento foi não apenas irresponsável, mas também subordinada, uma vez que era decorrente de uma exigência feita pelo governo dos Estados Unidos como contrapartida de um empréstimo para o tesouro britânico. Para os norte- americanos, era conveniente um rápido retorno à conversibilidade. Quanto mais países lastreassem suas moedas ao dólar, maior seria a influência da moeda norte-americana como reserva internacional e mais rápido os termos estabelecidos pelo novo sistema monetário entrariam em vigor. Além disso, era importante a restauração da conversibilidade no Reino Unido, considerando que a libra esterlina, apesar de fragilizada, ainda era a segunda moeda de reserva internacional (atrás somente do dólar). Assim, era mais provável que outros países também restabelecessem a conversibilidade caso ela se 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 24/41 tornasse conversível, pois as reservas em libra esterlina poderiam ser utilizadas como lastro para as demais moedas. As condições econômicas para manutenção da conversibilidade, no entanto, não estavam presentes. Após a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido se encontrava em uma situação delicada, apesar de seu parque industrial não ter sofrido a mesma destruição sofrida pelos países da Europa continental. Após a guerra: 1. Havia excesso de moeda em circulação e taxas de inflação elevadas; 2. As reservas de ouro e dólar haviam caído pela metade; 3. Ao emitir moeda sem lastro para financiar a máquina de guerra, os saldos em libra esterlina no exterior somavam mais de3,5 bilhões — mais de um terço do PIB britânico à época —, enquanto as reservas de ouro e divisas estrangeiras do Reino Unido acumulavam apenas meio bilhão de libras esterlinas. Ou seja, se os detentores de libra esterlina no exterior tentassem reequilibrar seus portfólios, convertendo suas reservas em libra por dólares, o Banco da Inglaterra não conseguiria honrar essa conversibilidade; 4. Para piorar a situação, tarifas comerciais elevadas e restrições quantitativas de importação por parte dos demais países europeus impediam que o Reino Unido aumentasse suas reservas por meio de maiores exportações. Diante desse cenário: A conversibilidade da libra esterlina foi suspensa após seis semanas. Um empréstimo norte- americano - que, ao ser concebido, estava previsto para durar até o final da década de 1940 - foi consumido em poucas semanas. Os Estados Unidos desistiram de insistir em antecipar a restauração da conversibilidade das demais moedas. A ti d 1948 i d Pl M h ll E t d U id li l d 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 25/41 Esse episódio fez com que fosse abandonada a ideia inicial que constava nos acordos de Bretton Woods: a de que desvalorizações cambiais, especialmente de moedas de maior peso, como... A libra esterlina A partir de 1948, por meio do Plano Marshall, os Estados Unidos ampliaram o volume de ajuda financeira para financiar os deficits externos dos países europeus. O montante de mais de 13 bilhões de dólares aliviou momentaneamente as dificuldades externas enfrentadas por esses países. Entre os anos de 1948 e 1949, no entanto, uma recessão afetou diretamente a economia norte-americana, reduzindo suas importações e, como consequência, as exportações dos países europeus. Isso gerou uma nova onda de instabilidades cambiais e restrições externas. Tornava-se cada vez mais clara a necessidade de desvalorizar o câmbio das nações europeias. Em setembro de 1949, o Reino Unido desvalorizou sua moeda. Mais 23 países fizeram o mesmo em um período de apenas uma semana. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 26/41 O franco francês O marco alemão ... poderiam ser controladas e deliberadas por uma comissão técnica. As desvalorizações cambiais promoveram um realinhamento das taxas de câmbio; em alguma medida, esse realinhamento surtiu efeito. As reservas britânicas tiveram sua queda interrompida, enquanto os franceses puderam relaxar as restrições cambiais que haviam sido impostas para lidar com a fuga de reservas. Apesar disso, a escassez de dólares na economia global ainda estava presente. Não estava claro quando os países europeus seriam capazes de restaurar a conversibilidade em dólares. Para contornar essa situação, os países europeus decidiram iniciar um processo de organização regional. Foi criada uma entidade regional para complementar as funções do Fundo Monetário Internacional: a União Europeia de Pagamentos. Até então, os países europeus ainda apresentavam controles sobre fluxos de transações correntes, mesmo para transações regionais. A instituição, que começou a funcionar em 1950, foi criada com o objetivo de promover uma restauração simultânea da conversibilidade. Foi estabelecido ainda o Código de Liberalização no qual ficava definida a eliminação de restrições para transações correntes feitas entre os países participantes. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 27/41 Por meio da União Europeia de Pagamentos, os países deficitários teriam acesso a quotas de crédito que eventualmente seriam compensadas por eles em ouro ou dólares. O mecanismo de crédito para financiar os deficits das contas externas se assemelhava ao crédito disponível no FMI, porém contemplava apenas alguns países europeus. Eichengreen (2000) chama a atenção para o fato de que, ao aceitar a criação de uma instituição europeia, sem participação norte-americana, os Estados Unidos admitiam que os recursos definidos nos acordos de Bretton Woods não eram suficientes para suprir a necessidade de financiamento dos países europeus. Além disso, por intermédio da União Europeia de Pagamentos, os países da Europa Ocidental reduziram barreiras do comércio intrarregional de forma mais rápida que em comparação com o comércio internacional. A preferência pelo comércio regional não deixava de ser uma forma de discriminação comercial. Comentário O fato de o governo norte-americano permitir esse tipo de prática, sem qualquer retaliação econômico- financeira, também pode ser visto como um reconhecimento de que, de fato, o problema monetário do período era justamente a escassez de dólares no mercado global - mesmo considerando o fluxo deles em decorrência do Plano Marshall. A aceitação dessas condições por parte dos Estados Unidos também ia muito além da constatação de que os acordos de Bretton Woods não proporcionavam um ajuste adequado para os países deficitários. A ascensão da União Soviética e a expansão de sua área de influência para os países do leste europeu foram determinantes para moldar a forma com que os Estados Unidos lidavam com as nações da Europa Ocidental. Apesar de ter participado da conferência de Bretton Woods, a União Soviética se recusou a assumir suas obrigações como membro do Fundo Monetário Internacional. Como forma de se contrapor à área de influência soviética no leste europeu, os Estados Unidos adotaram uma postura mais flexível em relação aos aliados na Europa Ocidental, permitindo medidas que facilitassem 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 28/41 a recuperação e o crescimento econômico desses países, mesmo quando tais medidas significavam uma desvantagem competitiva para a produção norte-americana. A ascensão da União Soviética também provocou mudanças relevantes na política interna dos países europeus. Em todos os principais países do continente, a participação de trabalhadores e sindicatos se tornava cada vez mais relevante, com especial influência na política partidária. Existia forte pressão para aumentos de salário e maior participação estatal na oferta de serviços públicos e expansão de programas sociais. Com o temor de que ideias muito radicais prevalecessem, os Estados Unidos impuseram que a ajuda financeira do Plano Marshall estava condicionada à não participação de partidos comunistas na coalizão governista dos países europeus que recebiam esses recursos. No entanto, a própria política interna de cada país se adaptou a essas condições. Partidos socialistas se tornaram mais moderados a fim de ampliar sua base eleitoral e obter maior representatividade. Em geral, esses partidos aceitaram: Conforme mencionamos, a prioridade dada ao pleno emprego e ao crescimento econômico estava no cerne da questão do ajuste a desequilíbrios externos. Durante os anos de padrão ouro, nos quais a classe A manutenção dos mecanismos de mercado e da propriedade privada em troca de maiores benefícios de um estado de bem-estar social. Moderar suas reivindicações trabalhistas em troca de uma política pública voltada para o pleno emprego e o crescimento econômico. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 29/41 trabalhista não tinha oportunidade para reivindicações, o ajuste era feito por meio de choques deflacionários, com elevado desemprego e redução nominal de salários. Esse mecanismo de ajuste já não estava mais presente durante os anos do sistema de Bretton Woods. Nenhum governo democraticamente eleito conseguiria se manter no poder diante de longos períodos de profunda crise econômica em nome da manutenção de um dado sistema monetário. Dessa forma, os países europeus, ao incorrerem em desequilíbrios no balanço de pagamentos, não poderiam elevar a taxa de juros para atrairmais capital e deflacionar a economia. Pelo Trilema de Mundell-Fleming, se um país deseja manter uma taxa de câmbio fixa, mas não tem autonomia para fazer alterações na taxa de juros quando bem entende, precisa adotar controles sobre os fluxos de capital para preservar uma configuração de entrada e saída de capital que permita a manutenção da paridade. Controle de fluxos de capital foram implementados de maneira significativa. As principais economias europeias sofreram crises de balanços de pagamentos durante o período de Bretton Woods. A Alemanha enfrentou uma única crise no segundo semestre de 1950. Restrições às importações se mostraram um importante mecanismo para suprimir os déficits externos. Vejamos a seguir um exemplo dessa implementação: Restrições às importações, acompanhadas de maior ímpeto das exportações, promoveram o reequilíbrio do balanço de pagamentos e crescimento econômico para o país. A boa performance macroeconômica do Reino Unido permitiu até mesmo que o governo utilizasse a taxa de redesconto do Banco da Inglaterra para facilitar o ajuste sem que fosse acusado pelos trabalhadores de suprimir o crescimento e elevar o desemprego. Os controles dos fluxos de capital se mostraram um importante mecanismo para manutenção do sistema diante da: Impossibilidade de flexibilizar a taxa de câmbio a qualquer momento. Exemplo - Reino Unido 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 30/41 Resistência popular em relação a choques deflacionários. Esses controles, especialmente as restrições às importações, permitiram que os países deficitários lidassem com a pressão sobre seus balanços de pagamentos em momentos de exportações ainda fracas. Com o processo de abertura comercial e a modernização do sistema financeiro, esses controles se tornaram cada vez mais difíceis de se implementar. Fim do sistema de Bretton Woods De certa forma, os anos de maior estabilidade do sistema de Bretton Woods também foram aqueles nos quais surgiram as condições que favoreceram o fim desse sistema. Observemos a seguir alguns fatos ocorridos durante os anos 1950 e 1960, duas décadas marcadas por períodos de forte crescimento econômico na maioria dos países do mundo. Na Europa, isso não foi diferente: O processo de reconstrução da Europa foi sendo finalizado; com isso, as economias europeias passaram a ser pontos de atração de investimentos estrangeiros e ganhos de produtividade. Após a reconstrução e os problemas de balanço de pagamentos vivenciados nos anos seguintes ao fim da guerra, os países europeus passaram a apresentar robustos superavits no balanço de pagamentos. A reconstrução dos parques industriais reduziu a necessidade e a dependência de importações. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 31/41 Pela lógica do sistema, os bancos centrais deveriam sempre acumular dólares como reservas para lastrear o aumento na oferta de moeda nacional e garantir reservas para desequilíbrios externos futuros. O forte crescimento observado nesse período resultou em um aumento da demanda por moeda para satisfazer às crescentes transações comerciais. A fim de acompanhar esse aumento na demanda, os bancos centrais aumentaram a oferta de moeda em circulação. O aumento nessa oferta, no entanto, deveria estar acompanhado de um incremento nas reservas em dólares para que fosse possível manter a conversibilidade em dólar. Diante de um período de crescimento econômico generalizado, no qual quase todos os países industrializados apresentaram altas taxas de crescimento do produto, seria de se esperar que aumentos na oferta de moeda na economia também fossem generalizados. Se todas as moedas eram conversíveis em dólar e lastreadas na moeda norte- americana, um aumento generalizado na oferta de moeda deveria estar necessariamente acompanhado pelo crescimento na oferta de dólares no mercado global. Isso criava um problema para os Estados Unidos. A restrição externa dos outros países era diferente da norte-americana. Outros países Preocupavam-se em garantir contas externas equilibradas, em especial com superavits, para aumentar o seu nível de reservas, sustentar a conversibilidade de suas moedas e manter a paridade fixa em O processo de integração comercial ao redor do mundo gerou forte ímpeto para as exportações. Essa dinâmica fez com que os países europeus acumulassem reservas em dólares, eventualmente restaurando a conversibilidade e lastreando suas moedas nacionais à moeda norte-americana, conforme estabelecido nos acordos de Bretton Woods. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 32/41 relação ao dólar. Estados Unidos Os Estados Unidos, por outro lado, sendo emissores da moeda de reserva internacional, não se preocupavam em manter paridade fixa com as outras moedas, e sim em relação ao ouro. Os aumentos na oferta de dólares no mercado global, no entanto, não estavam acompanhados de elevações nas reservas de ouro nos Estados Unidos. Enquanto os demais países estivessem dispostos a conservar suas reservas em dólar ou em ativos remunerados em dólar, como os títulos do tesouro norte- americano, não haveria motivo para preocupação. Porém, caso a razão entre a quantidade de dólares emitidos pelo Federal Reserve e a de reserva de ouro subisse muito, poderia ocorrer uma crise de confiança. A�nal, se todos os detentores de dólar decidissem convertê-los em ouro, o Federal Reserve não teria condições de sustentar essa conversibilidade. Vamos resumir o que vimos. Os anos após o fim da Segunda Guerra Mundial foram marcados por clara reconstrução econômica dos países europeus. Essas nações não tinham grande capacidade de exportação e eram dependentes de importações e financiamento oriundos dos Estados Unidos. Como resultado dessa dinâmica, verificavam-se os seguintes aspectos: Robustos superavits comerciais nos Estados Unidos Elevados de�cits comerciais na Europa Escassez de dólares nos mercados globais 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 33/41 Após anos de suporte financeiro - especialmente por meio do Plano Marshall - e de controles de fluxos internacionais de capitais para garantir a conversibilidade, os países europeus conseguiram se reerguer economicamente. Comercialmente, eles já não eram tão dependentes de importações oriundas dos Estados Unidos. Somada à liberalização do comércio global, a modernização de seus parques industriais favoreceu as exportações. Com isso, a conjuntura internacional foi consideravelmente alterada. Os superavits comerciais norte-americanos diminuíram até se tornarem deficits. As potências europeias, antes deficitárias, haviam se tornado superavitárias. Esse novo contexto não apenas impedia os Estados Unidos de acumular mais reservas de ouro (mesmo que limitadas), mas também favorecia o escoamento de dólares para os mercados globais, que poderiam ser utilizados pelos outros países para derrubar o sistema caso eles desconfiassem que a conversibilidade já não podia ser mantida. Nesse sentido, foi a vez de os Estados Unidos implementar controles sobre os fluxos de capital, sobretaxando as importações na tentativa de reduzir os déficits comerciais. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 34/41 De certa forma, ao aplicar medidas restritivas para aliviar as pressões sobre o sistema, os Estados Unidos admitiam a gravidade do problema do dólar. Apesar disso, o governo norte-americano mostrava não lidar com as causas, e sim apenas com os sintomas. Para enfrentar as causas, seria necessário reformar o sistema de Bretton Woods, o que poderia implicar uma perda de relevância para o dólar como moeda de reserva internacional. O funcionamento do sistema foi mantido por meiode iniciativas de cooperação internacional. Em 1962 e 1963, o Federal Reserve: Negociou acordos de swap nos quais os bancos centrais estrangeiros concediam empréstimos de suas moedas. Retomou intervenções no mercado de câmbio à vista pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. No âmbito comercial, o governo norte-americano pressionava os governos estrangeiros a estimular importações oriundas dos Estados Unidos para incentivar as exportações norte-americanas e minimizar os deficits comerciais. Os governos estrangeiros deram sustentação ao sistema e ao dólar tanto pela posição norte-americana, que ainda era de superioridade, quanto pelo fato de não havia consenso sobre qual sistema poderia substituir os acordos de Bretton Woods da melhor forma. Início da década de 1960 Presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower assina um decreto proibindo cidadãos norte-americanos de manter ouro no exterior. 1961 No governo seguinte (de John F. Kennedy), esse decreto é complementado para proibir que cidadãos norte- americanos guardem moedas de ouro. 1965 São adotadas restrições voluntárias sobre as concessões de empréstimos de bancos comerciais norte- americanos ao exterior. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 35/41 A disposição de governos e bancos centrais estrangeiros não era, no entanto, ilimitada. Embora não desejassem o colapso do sistema, eles temiam que as medidas necessárias para sustentá-lo se tornassem inaceitáveis. Não havia uma solução clara para contornar o problema do dólar, assim como não existia interesse político por parte dos Estados Unidos em reformar o sistema. Uma medida para aliviar a situação era clara desde o início: Desvalorizar o dólar em relação ao ouro. E como isso foi feito? Elevando a paridade de 35 dólares para cada onça troy de ouro. Essa medida aliviaria momentaneamente a situação das contas externas, mas poderia ocasionar uma crise de credibilidade para o Federal Reserve. Caso a paridade fosse alterada uma vez, não havia motivo para esperar que ela não seria modificada novamente. Os demais países, cujas reservas eram denominadas em dólares, correriam para convertê-las em ouro antes que novas desvalorizações ocorressem. Resultado: essa corrida acabaria por colapsar o sistema. 1971 – Suspensão unilateral da conversibilidade do dólar em ouro Em agosto de 1971, após rumores de que França e Reino Unido converteriam parte de suas reservas em dólar por ouro, o governo do presidente Nixon anunciou a suspensão unilateral da conversibilidade do dólar em ouro. Ou seja, o governo dos Estados Unidos abandonou o compromisso de entregar ouro a governos credores em dólares pelo preço que fosse. Comentário É importante notar que essa decisão não foi tomada em consulta ao Fundo Monetário Internacional. O controle dos Estados Unidos sobre essa instituição era tanto que o Fundo foi apenas comunicado da decisão quando ela entrou em vigor. Resposta 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 36/41 Apesar dessa decisão, o problema não havia sido extinguido. Os Estados Unidos continuavam com elevados deficits no balanço de pagamentos. Pensando nisso, algumas atitudes foram tomadas. Os Estados Unidos, por exemplo: As principais moedas restantes, como o franco suíço, o iene japonês e o marco alemão, valorizaram suas moedas para favorecer as exportações norte-americanas. Essas medidas, no entanto, não se mostraram suficientes. Ainda havia um elevado grau de escoamento de dólares para o mercado internacional. O aumento contínuo na oferta de dólares no mercado internacional fazia com que os bancos centrais estrangeiros enxugassem essa liquidez em dólares em troca de um aumento da oferta de moedas nacionais. Esse aumento na oferta de moeda, por sua vez, resultava em alta inflação. 1973 – Colapso do sistema de Bretton Woods Nesse período, os governos já não estavam mais dispostos a aceitar taxas de inflação elevadas. Os Estados Unidos tampouco estavam mais perto de restaurar a conversibilidade. Em uma economia na qual era cada vez mais difícil controlar os fluxos internacionais, os governos decidiram, um por um, retomar a autonomia de suas políticas monetárias: Elevando taxas de juros para controlar a inflação. Liberalizando os fluxos de capitais. Impuseram uma sobretaxa de 10% sobre as importações, pressionando os outros países a valorizar suas moedas. De forma negociada, se comprometeram a desvalorizar o dólar em 8%. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 37/41 Aderindo a um sistema de câmbio flutuante. Os principais países industrializados permitiram que suas taxas de câmbio flutuassem em relação ao dólar em março de 1973, marcando o colapso do sistema de Bretton Woods e o fim de taxas de câmbio fixas a nível globalizado. Instituições de Bretton Woods Neste vídeo, apresentaremos as instituições do sistema de Bretton Woods. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Di�culdades na implementação da conversibilidade 20 min. A relação entre demandas dos trabalhadores e controles de capital 20 min. O �m do sistema 20 min. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 38/41 MÓDULO 2 Vem que eu te explico! Di�culdades na implementação da conversibilidade 20 min. A relação entre demandas dos trabalhadores e controles de capital Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os países europeus apresentaram sérias dificuldades para restaurar a conversibilidade em relação ao dólar após o fim da Segunda Guerra Mundial. Medidas extraordinárias precisaram ser tomadas por eles para contornar essas dificuldades. Uma dessas medidas foi: A Os países europeus apresentaram sérias dificuldades para restaurar a conversibilidade em relação ao dólar após o fim da Segunda Guerra Mundial. Medidas extraordinárias precisaram ser tomadas por eles para contornar essas dificuldades. Uma dessas medidas foi: B a criação da União Europeia de Pagamentos para facilitar compensações nas transações correntes. C a criação de uma moeda única, o Euro, que não precisava ser lastreada em dólar. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 39/41 D o rompimento precoce dos acordos de Bretton Woods que nem chegaram a entrar em vigor. E a elevação das taxas de juros para atrair o capital que fluía para os Estados Unidos. Parabéns! A alternativa B está correta. Os países europeus criaram a União Europeia de Pagamentos com o intuito de estabelecer um mecanismo de compensações e, ao mesmo tempo, promover uma liberalização regional do comércio, incentivando as exportações e reduzindo as restrições externas dos países europeus. Questão 2 Durante o período em que esteve em vigência, o sistema de Bretton Woods acumulou desequilíbrios que pareciam se tornar insustentáveis no longo prazo. A respeito do efetivo colapso desse sistema, é possível afirmar que ele foi o resultado de: A negociações que asseguraram um abandono coordenado do regime de câmbio fixo. B fortes movimentos especulativos que, culminados em um único dia, abalaram os mercados internacionais e levaram à suspensão emergencial da conversibilidade. C uma decisão unilateral dos Estados Unidos em abandonar a conversibilidade do dólar. D conversões realizadas pelo Reino Unido e pela França que acabaram por zerar as reservas de ouro dos Estados Unidos. E uma fuga para a libra esterlina diante da percepção internacional de que o dólar já não detinha mais qualquer valor. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 40/41 Considerações�nais Vimos neste conteúdo que os anos nos quais o sistema de Bretton Woods estava em vigor como regime monetário internacional constituíram um período de forte crescimento econômico e reconstrução de uma nova ordem mundial após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, eles também foram um período marcado por frequentes instabilidades monetárias e desequilíbrios nos balanços de pagamentos de muitas nações. Curiosamente, as soluções para as dificuldades iniciais dos países europeus em se adaptar ao sistema foram responsáveis por gerar as condições de desequilíbrio que, em última instância, ocasionaram o seu colapso. O Bretton Woods, afinal, era instável quando os Estados Unidos apresentavam tanto superavit comercial, pois isso gerava escassez de dólares nos mercados globais, quanto deficit comercial, o que suscitava dúvidas quanto à conversibilidade do dólar em ouro. A ausência de um mecanismo de ajuste automático que promovesse equilíbrio do balanço de pagamentos, desse modo, tornou o sistema insustentável em longo prazo. Podcast Neste podcast, apontaremos algumas constatações a respeito de Bretton Woods que serviram como lição para os anos posteriores. Parabéns! A alternativa C está correta. O fim do sistema de Bretton Woods foi marcado pela decisão do então presidente norte- americano Nixon de suspender unilateralmente a conversibilidade do dólar em ouro. O sistema finalmente chegou ao fim quando os principais países industrializados decidiram deixar suas moedas flutuarem em relação ao dólar. 16/03/2022 12:33 Bretton Woods https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02664/index.html#imprimir 41/41 Referências EICHENGREEN, B. A globalização do capital. São Paulo: 34, 2000. Explore + Você pode aprofundar seus conhecimentos consultando este livro: KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M. 10. ed. Economia internacional. São Paulo: Pearson Education, 2015. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
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