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Universidade Federal do Ceará Faculdade de Medicina - Campus Sobral 2016.1 Complexo Principal de Histocompatibilidade & Receptores de Células T Monitoria de Imunologia Assis Barbosa COMPLEXO PRINCIPAL DE HISTOCOMPATIBILIDADE DESCOBERTA DO MHC O MHC do Camundongo O MHC foi descoberto em estudos sobre transplantes de tecidos. Sabia-se que os tecidos, como a pele, quando trocados entre animais não idênticos eram rejeitados, enquanto os mesmos enxertos entre gêmeos idênticos eram aceitos. Esse resultado mostrou que genes herdados deviam estar envolvidos no processo de rejeição dos tecidos. Na década de 1940, George Snell e colegas produziram cepas de camundongos endogâmicos a fim de analisar a base genética da rejeição de enxertos. Ao acasalar cepas congênitas de camundongos que rejeitavam enxertos de outras cepas, mas que eram idênticos para todos os outros genes, foi demonstrado que uma única região genética é primariamente responsável pela rápida rejeição dos enxertos teciduais, e essa região foi denominada lócus principal de histocompatibilidade. A região genética que controlava a rejeição de enxertos e continha vários genes ligados foi denominada complexo principal de histocompatibilidade. O MHC Humano (HLA) O MHC humano foi descoberto como resultado da procura de moléculas de superfície celular em um indivíduo, que seriam reconhecidas como estranhas por outro indivíduo. Isso foi possível graças a descoberta de que indivíduos que haviam recebido múltiplas transfusões de sangue e pacientes submetidos a transplantes renais apresentavam anticorpos que reconheciam células dos doadores de sangue ou de rim, enquanto mulheres multíparas produziam anticorpos circulantes que reconheciam as células paternas. As proteínas reconhecidas por esses anticorpos são denominadas antígenos leucocitários humanos (HLA). Análises subsequentes mostraram que a herança de alelos HLA particulares constitui um importante determinante da aceitação ou rejeição a um enxerto. GENES DO MHC O lócus do MHC contém dois tipos de genes do MHC polimórficos, os genes do MHC de classe I e de classe II, que codificam dois grupos de proteínas estruturalmente distintas, porém homólogas, e outros genes não polimórficos, cujos produtos estão envolvidos na apresentação do antígeno. As moléculas do MHC de classe I apresentam peptídeos e são reconhecidas pelas células T CD8⁺, enquanto as moléculas do MHC de classe II apresentam peptídeos às células T CD4⁺, fenômeno conhecido como “restrição do MHC”. Os genes do MHC são expressos de modo codominante, ou seja, para um determinado gene do MHC, cada indivíduo expressa os alelos que são herdados de cada um dos pais. O polimorfismo e a poligenia contribuem para a diversidade das moléculas do MHC expressas por um indivíduo. Expressão das Moléculas do MHC As moléculas de classe I são expressas em praticamente todas as células nucleadas, enquanto as moléculas de classe II são expressas apenas nas células dendríticas, nos linfócitos B, nos macrófagos e em alguns outros tipos celulares. Este padrão de expressão está ligado às funções das células T restritas à classe I e à classe II. A expressão das moléculas do MHC é aumentada pelas citocinas produzidas durante as respostas imunes tanto inatas quanto adaptativas. Na maioria dos tipos celulares, os interferons IFN-α, IFN-β e IFN-γ aumentam o nível de expressão das moléculas de classe I. Uma vez que interferons são citocinas produzidas durante a fase inicial da resposta imune inata a numerosos vírus, este é um dos mecanismos pelos quais a imunidade inata estimula respostas imunes adaptativas. O IFN-γ é a principal citocina envolvida na estimulação da expressão das moléculas de classe II nas APC, como células dendríticas e macrófagos. O IFN-γ pode ser produzido pelas células NK durante as reações imunes inatas e por células T ativadas por antígenos durante reações imunes adaptativas. A expressão das moléculas de classe II também aumenta em resposta a sinais dos receptores semelhantes a Toll que respondem a componentes microbianos, promovendo, assim, a apresentação de antígenos microbianos. As citocinas intensificam a expressão do MHC ao estimular a transcrição dos genes de classe I e de classe II em uma ampla variedade de tipos celulares. MOLÉCULAS DO MHC Propriedades Gerais das Moléculas do MHC Todas as moléculas de MHC compartilham certas características estruturais que são críticas para sua função na apresentação de peptídeos e no reconhecimento de antígenos pelos linfócitos: Cada molécula do MHC consiste em uma fenda ou sulco de ligação de peptídeo extracelular, seguida de domínios semelhantes à imunoglobulina (Ig) e domínios transmembrana e citoplasmático. As moléculas de classe I são compostas de uma cadeia polipeptídica codificada nos loci MHC e de uma segunda cadeia que não é codificada pelos loci MHC, enquanto as moléculas de classe II são compostas de duas cadeias polipeptídicas codificadas pelos loci MHC. Apesar dessa diferença, as estruturas tridimensionais globais das moléculas de ambas as classes são semelhantes. Os resíduos de aminoácidos polimórficos das moléculas do MHC estão localizados na fenda de ligação aos peptídeos e adjacentes a ela. Essa fenda é formada pelo enovelamento da porção aminoterminal das proteínas codificadas pelo MHC e é composta de um par de hélices α que repousam sobre uma base constituída de uma lâmina β-pregueada de oito fitas. Essa porção da molécula do MHC liga-se a peptídeos para apresentá-los às células T, e os receptores de antígenos das células interagem com o peptídeo apresentado e com as hélices α das moléculas do MHC. Os domínios não polimórficos semelhantes à Ig das moléculas do MHC contêm sítios de ligação para as moléculas CD4 e CD8 das células T. A molécula CD4 liga-se seletivamente a moléculas do MHC de classe II, enquanto a CD8 liga-se a moléculas de classe I. Moléculas do MHC de Classe I A molécula de classe I totalmente formada é um heterotrímero, que consiste em uma cadeia α (ou cadeia pesada, codificada pelo loci MHC), uma cadeia β₂ microglobulina (não codificada pelos loci MHC) e um peptídeo antigênico ligado. A expressão estável das moléculas de classe I na superfície celular exige a presença de todos os três componentes do heterotrímero. Moléculas do MHC de Classe II A molécula de classe II totalmente formada é um heterotrímero que consiste em uma cadeia α, uma cadeia β e um peptídeo antigênico ligado. Ambas as cadeias são codificadas pelos loci MHC. A expressão estável das moléculas de classe II na superfície celular exige a presença de todos os três componentes do heterotrímero. LIGAÇÃO DOS PEPTÍDEOS ÀS MOLÉCULAS DO MHC Características das Interações Peptídeo-MHC Existem várias características importantes nas interações entre moléculas do MHC e peptídeos antigênicos: Cada molécula do MHC de classe I ou classe II possui uma única fenda de ligação de peptídeo, que se liga a um peptídeo de cada vez. Entretanto, cada molécula do MHC pode ligar-se a muitos peptídeos diferentes. Os peptídeos que se ligam às moléculas do MHC compartilham características estruturais que promovem essa interação. Entre essas características, destaca-se o tamanho do peptídeo – as moléculas de classe I podem acomodar peptídeos com comprimentos de 8 a 11 resíduos, enquanto as moléculas de classe II ligam-se a peptídeos com 10 a 30 resíduos ou mais de comprimento. As moléculas do MHC adquirem sua carga de peptídeos durante a biossíntese e montagem no interior das células. Assim, as moléculas do MHC exibem peptídeos derivados de microrganismos que estão dentro das células do hospedeiro. Moléculas do MHC de classe I adquirem peptídeos de proteínas citosólicas,enquanto as moléculas de classe II adquirem peptídeos em vesículas intracelulares. A associação de peptídeos antigênicos com as moléculas do MHC é uma interação saturável, com velocidade de desligamento muito lenta, o que possibilita que, após uma molécula do MHC ter adquirido um peptídeo, ela apresentará esse peptídeo por um tempo longo o suficiente para maximizar a probabilidade de determinada célula T encontrar o peptídeo que ela reconhece, iniciando uma resposta. As moléculas do MHC de um indivíduo não discriminam entre peptídeos estranhos e peptídeos próprios. Assim, moléculas do MHC apresentam tanto peptídeos próprios – principalmente – quanto peptídeos estranhos, e as células T examinam esses peptídeos apresentados quanto à presença de antígenos estranhos. Base Estrutural da Ligação de Peptídeos às Moléculas do MHC A ligação de peptídeos às moléculas do MHC é uma interação não covalente mediada por resíduos tanto nos peptídeos quanto nas fendas das moléculas do MHC. Os antígenos proteicos são clivados proteolicamente nas APC, gerando os peptídeos que serão ligados e apresentados pelas moléculas do MHC. Os receptores de antígenos das células T reconhecem tanto o peptídeo antigênico quanto as moléculas do MHC. PROCESSAMENTO DOS ANTÍGENOS PROTEICOS As vias de processamento do antígeno convertem os antígenos proteicos presentes no citosol ou internalizados do meio extracelular em peptídeos que são transportados até as moléculas do MHC para apresentação aos linfócitos T. A ligação do peptídeo às moléculas do MHC ocorre antes da expressão destas na superfície celular e constitui um componente integral da biossíntese e montagem das moléculas do MHC. Os antígenos proteicos que estão presentes no citosol geram peptídeos associados à classe I, que são reconhecidos pelas células T CD8⁺, enquanto os antígenos internalizados do meio extracelular para dentro das vesículas das APC geram peptídeos que são apresentados por moléculas do MHC de classe II e reconhecidos pelas células T CD4⁺. Via do MHC de Classe I para Processamento e Apresentação das Proteínas Citosólicas Fontes de Antígenos Proteicos Citosólicos: os antígenos estranhos no citosol podem ser produtos de vírus ou de outros microrganismos intracelulares que infectam essas células, antígenos proteicos produzidos por células tumorais e microrganismos e outros antígenos particulados que são internalizados em fagossomos, mas que escapam para o citosol. Digestão Proteolítica de Proteínas Citosólicas: o principal mecanismo para a geração de peptídeos de antígenos proteicos citosólicos consiste em proteólise pelo proteassomas, grandes complexos enzimáticos multiproteicos, com ampla variedade de atividade proteolítica, que são encontrados no citoplasma e nos núcleos da maioria das células. A degradação proteossômica ocorre através da ligação covalente de várias cópias de um pequeno polipeptídeo, denominado ubiquitina. As proteínas ubiquitinadas são, então, reconhecidas pelo capuz do proteassoma e, em seguida, desdobradas, a ubiquitina é removida e as proteínas são “estendidas em fio” através dos proteassomas, onde são degradadas em peptídeos. Alguns antígenos proteicos, entretanto, aparentemente não necessitam de ubiquitinação nem de proteassomas para a sua apresentação pela via do MHC de classe I e, presumivelmente, são degradados por proteases citosólicas. Transporte de Peptídeos do Citosol para o Retículo Endoplasmático: os peptídeos gerados no citosol são translocados por um transportador especializado – transportador associado ao processamento de antígeno (TAP) – para RE, onde moléculas do MHC de classe I recém-sintetizadas estão disponíveis para a ligação dos peptídeos. A proteína TAP localiza-se na membrana do RE, onde medeia o transporte ativo dependente de ATP de peptídeos do citosol para dentro da luz do RE. No lado luminal da membrana do RE, a proteína TAP associa-se a uma proteína denominada tapasina, que também possui afinidade por moléculas do MHC de classe I recém-sintetizadas e não ocupadas. Montagem dos Complexos Peptídeo-MHC de Classe I no Retículo Endoplasmático: os peptídeos translocados para dentro do RE ligam-se a moléculas do MHC de classe I que estão associadas ao dímero TAP através da tapasina. Uma vez carregadas com o peptídeo, as moléculas do MHC de classe I deixam de ter afinidade pela tapasina, de modo que o complexo peptídeo-classe I é liberado da tapasina e pode sair do RE e ser transportado até a superfície da célula. Expressão dos Complexos Peptídeo-MHC de Classe I na Superfície: os complexos de peptídeo-MHC de classe I estáveis que foram produzidos no RE movem-se através do complexo de Golgi e são transportados até a superfície da célula por vesículas exocíticas. Uma vez expressos na superfície celular, os complexos de peptídeo- classe I podem ser reconhecidos por células T CD8⁺ específicas de antígenos peptídicos, enquanto o correceptor CD8 desempenha um papel essencial através de sua ligação a regiões não polimórficas da molécula de classe I. Via do MHC de Classe II para Processamento e Apresentação das Proteínas Vesiculares Geração de Proteínas Vesiculares: os peptídeos associados à classe II derivam, em sua maioria, de antígenos proteicos que são capturados do meio extracelular e internalizados em endossomos por APC especializadas. Digestão Proteolítica das Proteínas em Vesículas: as proteínas internalizadas sofrem degradação enzimática nos endossomos tardios e lisossomos, gerando peptídeos que também são capazes de ligar-se às fendas de ligação de peptídeos das moléculas de MHC de classe II. Biossíntese e Transporte das Moléculas do MHC de Classe II para os Endossomos: as moléculas do MHC de classe II são sintetizadas no RE e transportadas até os endossomos com uma proteína associada, a cadeia invariante (Ii), que ocupa as fendas de ligação de peptídeos das moléculas de classe II recém-sintetizadas. Associação dos Peptídeos Processados às Moléculas do MHC de Classe II em Vesículas: no interior das vesículas endossômicas, a Ii dissocia-se das moléculas do MHC de classe II pela ação combinada de enzimas proteolíticas e da molécula HLA- DM, e os peptídeos antigênicos são então capazes de liga-se às fendas de ligação de peptídeos disponíveis das moléculas de classe II. Expressão dos Complexos Peptídeo-MHC de Classe II na Superfície Celular: as moléculas do MHC de classe II são estabilizadas pelos peptídeos ligados, e os complexos peptídeo-classe II estáveis são transportados até a superfície da APC. Então, os complexos peptídeo-classe II são reconhecidos por células T CD4⁺ específicas para antígenos proteicos, e, nesse processo, o correceptor CD4 desempenha um papel essencial através de sua ligação a regiões não polimórficas da molécula de classe II. Apresentação Cruzada Algumas células dendríticas têm a capacidade de capturar e de ingerir células infectadas por vírus ou células tumorais e apresentar os antígenos virais ou tumorais a linfócitos T CD8⁺ virgens. Nessa via, os antígenos ingeridos são transportados das vesículas até o citosol, pelo qual os peptídeos entram na via da classe I. Importância Fisiológica da Apresentação de Antígenos Associada ao MHC Natureza das Respostas das Células T: a apresentação de proteínas citosólicas versus vesiculares pelas vias do MHC de classe I ou de classe II, respectivamente, determina quais os subtipos de células T que responderão aos antígenos encontrados nesses dois reservatórios de proteínas e está estreitamente ligada às funções dessas células. Através da segregação dos peptídeos derivados desses reservatórios, as moléculas do MHC orientam os subtipos de células T CD4⁺ e CD8⁺ a responderem aos microrganismos que podem ser mais bem atacadospor cada um desses subtipos. Imunogenicidade dos Antígenos Proteicos: as moléculas do MHC determinam a Imunogenicidade dos antígenos proteicos de duas maneiras relacionadas: o Os epítopos de proteínas complexas que induzem as melhores respostas são os peptídeos gerados por proteólise nas APC e que se ligam com maior afinidade às moléculas do MHC. o A expressão de determinados alelos do MHC de classe II em um indivíduo determina a sua capacidade de responder a antígenos específicos. Complexo Principal de Histocompatibilidade – Aspectos Clínicos MHC I: CD8 (A, B, C) e MHCII: CD4 (DP, DQ, DR). O MHC humano é denominado HLA. Quando o MHC humano apresenta antígenos próprios aos linfócitos T pode haver o desenvolvimento de uma doença autoimune. Tipos de transplante: autoenxerto, isoenxerto, aloenxerto e xenoenxerto. Mecanismos para evitar rejeições: compatibilidade ABO e qualificação imunogenética pré-transplante (tipificação HLA e provas cruzadas). Isquemia fria: tempo que o órgão resiste fora do doador. Rejeição hiperaguda: rápida; ABO incompatível; reação de anticorpos pré-formados. Rejeição aguda: mais comum; 6 meses; células T CD4⁺. Rejeição crônica: o órgão tem sua função lentamente perdida; fibrose; idiopática; não há tratamento. Mimetismo molecular: as moléculas do MHC podem estar envolvidas no desenvolvimento de doenças autoimunes por meio do mecanismo de mimetismo molecular. As moléculas do MHC não reconhecem o peptídeo como um todo, uma vez que isto causaria um alto gasto energético, mas apenas certas porções de seus aminoácidos, denominadas “resíduos de ancoragem”. Consequentemente, algumas vezes estes resíduos coincidem com sequências de aminoácidos próprias, culminando na apresentação de proteínas próprias aos linfócitos T, dando início a uma autoimunidade. Esse mecanismo pode ser observado no lúpus eritematoso sistêmico. RECEPTORES DE CÉLULAS T O COMPLEXO RECEPTOR E A SINALIZAÇÃO DAS CÉLULAS T O TCR foi descoberto no início da década de 1980, praticamente na mesma época em que foram definidas as estruturas das moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) associadas aos peptídeos. A Estrutura do Receptor de Antígeno das Células T Os receptores de antígenos das células T CD4⁺ auxiliares (helper) e das células T citotóxicas CD8⁺ (CTL) MHC-restritas consistem em heterodímeros formados por duas cadeias polipeptídicas transmembrana (designadas TCR α e β) ligadas covalentemente entre si através de ponte dissulfeto através dos resíduos de cisteínas presentes nas porções extracelulares das cadeias do TCR. Cada cadeia α e β do TCR consiste em um domínio variável (V) N-terminal ao domínio da Ig, um domínio constante (C), também semelhante ao domínio C da Ig, uma região transmembrana hidrofóbica e uma região citoplasmática curta. As regiões V das cadeias α e β do TCR contêm duas sequências curtas de aminoácidos, nas quais se concentra a maior taxa de variabilidade entre os diferentes TCR. Estas sequências formam as regiões hipervariáveis ou regiões determinantes de complementaridade (CDR). As regiões C das cadeias α e β do TCR estendem-se para dentro das regiões globulares, que contêm moléculas de cisteína necessárias para interação entre as cadeias via pontes dissulfeto. O domínio globular é seguido pelas regiões transmembrana hidrofóbicas. As cadeias α e β do TCR têm extremidades carboxiterminais muito pequenas para transduzir sinais, assim, as moléculas específicas associadas ao TCR (CD3 e ζ) devem desempenhar essa função. As proteínas CD3 e ζ estão associadas de forma não covalente ao heterodímero TCR αβ e, quando este receptor reconhece um antígeno, estas proteínas associadas transduzem os sinais que resultam em ativação da célula T. Cada domínio citoplasmático das proteínas CD3 contém um motivo de ativação de receptores via tirosina (ITAM), enquanto cada cadeia ζ possui uma região citoplasmática que contém três ITAM. Iniciação dos Sinais pelo Receptor das Células T O acoplamento do TCR aos complexos de peptídeos-MHC resulta no agrupamento dos correceptores com o receptor de antígenos e na fosforilação das moléculas de tirosina do ITAM. A fosforilação das moléculas de tirosina do ITAM inicia a transdução de sinais e a ativação das tirosinocinases subsequentes que, por sua vez, fosforilam as moléculas de tirosina presentes em outras proteínas adaptadoras. As etapas subsequentes da transdução de sinais são geradas pelo recrutamento específico de enzimas essenciais, que iniciam diferentes processos de sinalização. O Papel dos Correceptores CD4 e CD8 na Ativação das Células T O CD4 e o CD8 são os correceptores das células T que se ligam a regiões não polimórficas das moléculas do MHC e facilitam a sinalização pelo complexo TCR durante a ativação dessas células. Essas proteínas são conhecidas como correceptores porque se ligam às moléculas do MHC e, desse modo, reconhecem uma parte do mesmo ligante (complexos peptídeo- MHC) que interage com o TCR. O CD8 e o CD4 interagem com as moléculas do MHC de classe I e II, respectivamente, e são responsáveis pela restrição destes subtipos celulares do MHC de classe I ou II. As extremidades citoplasmáticas do CD4 e do CD8 ligam-se à cinase LcK da família Src. Ativação das Tirosinocinases Durante a Ativação das Células T A fosforilação das moléculas das proteínas desempenha uma função central na transdução dos sinais gerados pelo complexo TCR e pelos correceptores. Os ITAM da cadeia ζ com tirosinas fosforiladas transformam-se em “sítios de atração” para a tirosinocinase ZAP-70. Uma vez acoplada, esta funciona como substrato para a Lck adjacente, que fosforila resíduos específicos de tirosina da ZAP-70. Consequentemente, a ZAP-70 adquire sua própria atividade de tirosinocinase e, em seguida, consegue fosforilar algumas outras moléculas citoplasmáticas de sinalização. Recrutamento e Modificação das Proteínas Adaptadoras A ZAP-70 ativada fosforila várias proteínas adaptadoras (inclusive SLP-76 e LAT) capazes de ligar-se às moléculas de sinalização. Como a fosforilação de muitas dessas proteínas adaptadoras depende da fosforilação de suas tirosinas pela ZAP-70 ativada, apenas o reconhecimento de antígenos desencadeia a transdução de sinais que resultam nas respostas funcionais das células T. Formação da Sinapse Imunológica Quando o complexo TCR reconhece peptídeos ligados ao MHC na APC, várias proteínas de superfície e moléculas de sinalização intracelular das células T são rapidamente mobilizadas para o ponto de contato entre estas células e a APC. Essa região de contato físico entre a célula T e a APC forma uma estrutura semelhante a um olho de boi, que é conhecida como sinapse imunológica ou agrupamento de ativação supramolecular (SMAC). Entre as moléculas da célula T que são mobilizadas rapidamente para o centro da sinapse imunológica estão o complexo TCR (o TCR, o CD3 e as cadeias ζ), os correceptores CD4 ou CD8, os receptores dos coestimuladores (inclusive CD28), algumas enzimas e as proteínas adaptadoras que se combinam com as extremidades citoplasmáticas dos receptores transmembrana. As sinapses imunológicas podem desempenhar algumas funções durante e após a ativação das células T: A sinapse estabelece um contato estável entre uma célula T específica de antígeno e uma APC que apresenta esse antígeno e, desse modo, facilita a sinalização eficaz e prolongada da célula T. A sinapse pode assegurar que a liberação específica do conteúdo dos grânulos secretórios e das citocinas por uma célula T corra diante de uma APC. A sinapse também pode ser um local importante para o turnover das moléculas de sinalização, o que pode contribuir para a interrupção da ativação dascélulas T. Vias de Sinalização da Cinase MAP dos Linfócitos T As proteínas G ativadas pelo reconhecimento de um antígeno estimulam proteinocinases ativadas por mitógeno (MAP) que ativam diferentes fatores de transcrição. As vias Ras/Rac- MAP quinase incluem o trifosfato de guanosina (GTP), que se liga às proteínas Ras e Rac, várias proteínas adaptadoras e uma cascata de enzimas que ativam uma MAP. As MAP quinases terminais dessas vias promovem a expressão de proteínas que se combinam para formar o fator de transcrição proteína ativadora 1 (AP-1), que aumenta a transcrição de vários genes das células T. Vias de Sinalização Mediadas pelo Cálcio e pela PKC dos linfócitos T A sinalização via TCR resulta na ativação da isoforma γ1 da enzima fosfolipase C (PLC γ1), e os produtos da hidrólise dos lipídios de membrana, mediada pela PLCγ1, ativam outras enzimas, que induzem fatores de transcrição específicos das células T. PLC-γ1 cliva fosfatidilinositol bifosfato (PIP2) para produzir diacilglicerol (DAG) e inositol trifosfato (IP3). O IP3 induz aumento de cálcio livre no citosol dentro de alguns minutos depois da ativação da célula T, que atua como molécula de sinalização ligando-se a uma proteína reguladora ublíqua dependente de cálcio, conhecida como calmodulina. Os complexos cálcio- calmodulina ativam várias enzimas importantes para os fatores de transcrição. O DAG, segundo produto da decomposição do PIP2, é um lipídio acoplado à membrana que ativa a enzima proteinocinase C (PKC), cujas isoformas participam da produção de fatores de transcrição. Ativação dos Fatores de Transcrição que Regulam a Expressão dos Genes das Células T As enzimas geradas pela sinalização do TCR ativam fatores de transcrição que se ligam às regiões reguladoras de diversos genes das células T e, desse modo, aumentam a transcrição desses genes. Receptores Coestimuladores das Células T Os sinais coestimuladores (2º sinal) são gerados pelos receptores que reconhecem ligantes induzidos nas APC pelos microrganismos e cooperam com os sinais originados do TCR (1º sinal) para ampliar a sinalização e ativar a célula T. A família CD28 de Receptores Coestimuladores: os coestimuladores mais bem definidos dos linfócitos T são duas proteínas relacionadas, conhecidas como B7-1 (CD80) e B7-2 (CD86), que estão expressas nas células dendríticas, nos macrófagos e nos linfócitos B ativados. Bibliografia: Imunologia Celular e Molecular – Abul K. Abbas, Andrew H. Lichtman e Shiv Pillai (7ª Edição) – Editora Elsevier (2012).
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