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Introdução à Ecologia Comportamental

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TECHNICAL BOOKS EDITORA
um manual para o estudo do comportamento animal
COMPORTAMENTAL
ECOLOGIA
INTRODUÇÃO À
Kleber Del-Claro
um manual para o estudo do comportamento animal
COMPORTAMENTAL
ECOLOGIA
INTRODUÇÃO À
Kleber Del-Claro
um manual para o estudo do comportamento animal
COMPORTAMENTAL
ECOLOGIA
INTRODUÇÃO À
Kleber Del-Claro
T B
Rio de Janeiro
2010
Technical Book s ediTor a
1ª edição
Introdução à Ecologia Comportamental:
um manual para o estudo do comportamento animal
Copyright © 2010
Technical Books Editora Ltda.
Rua Gonçalves Dias, 89 - 2º andar - Sala 208
Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20.050-030
Tel/Fax: (21) 2252-5318
vendas@tbedi tora.com.br
www.tbedi tora.com.br
VENDAS:
Technical Books Livraria Ltda.
Rua Gonçalves Dias, 89 - 2º andar - Salas 205 / 206
Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20.050-030
Tel/Fax: (21) 2224-3177 - (21) 2531-9027
(21) 2242-4210 - (21) 2292-5525 - (21) 2252-9299
vendas@tbl ivrar ia.com.br
www.tbl ivrar ia.com.br
T B
Technical Book s ediTor a
Dados internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
D331 Del-Claro, Kleber. 
 Introdução à Ecologia Comportamental : um ma- 
 nual para o estudo do comportamento animal / Kle 
 ber Del-Claro. ─ 1. ed. ─ Rio de Janeiro : Tech- 
 nical Books, 2010. 
 128 p. : il. color. ; 21 cm. 
 
 Inclui bibliografia. 
 ISBN 978-85-61368-12-8 
 
 
 1. Ecologia Animal. 2. Animais – Comportamento. 
 I. Título. 
 
 CDD 591.51 
 
Dedicado aos meus amores,
Maura, Vergílio, Augusto e Túlio,
fontes de minha felicidade, paz 
e segurança de um mundo melhor.
Agradeço a todos que, direta ou indiretamente, colabora-
ram para minha formação profissional. Em especial, agradeço a 
Ângela Helena Torezan Silingardi, Gerson Augusto Ribeiro Sil-
veira, Newton Goulart Madeira, João Vasconcellos Neto (meu 
orientador de mestrado), Fernando Antônio Frieiro Costa, Rogé-
rio Parentoni Martins, Robert J. Marquis e Paulo Sérgio Moreira 
Carvalho de Oliveira (meu orientador de doutorado).
Agradeço à Universidade Estadual de Campinas (Uni-
camp), onde me formei, e à Universidade Federal de Uberlândia, 
onde trabalho, desde 1992. 
Agradeço imensamente ao Conselho Nacional de Pesquisa, 
Ciência e Tecnologia (CNPq), que me apoia formalmente como 
pesquisador, desde 1996. 
À Fundação de Amparo à Ciência do Estado de Minas Ge-
rais (Fapemig), agradeço pelos diversos apoios e recursos rece-
bidos.
Quero agradecer também aos programas de pós-graduação 
que muito me ajudaram e aos quais tenho correspondido com 
meu trabalho e dedicação. Sou especialmente grato aos progra-
mas de Ecologia da UFU, UFMS e de Zoologia da USP (FFCLRP), 
UFJF e UFPR. Nos últimos anos, tenho recebido um imenso 
apoio da diretoria do Instituto de Biologia da UFU, a cujo diretor 
e colega, Jimi Naoki Nakajima, agradeço por sempre fazer valer 
a verdade e a justiça, no trato do bem público.
Não poderia deixar de agradecer aos muitos colegas e alu-
nos que me enviam fotos, trabalhos e teses, para compartilhar 
Agradecimentos
ou corrigir, e aos que me convidam a participar de palestras e 
visitas científicas. Vocês são todos muito especiais e grande fonte 
de minha felicidade profissional.
Quero agradecer aos meus principais colaboradores cien-
tíficos: Paulo S. Oliveira, Helena Maura Torezan Silingardi, Lu-
célia Nobre Carvalho, Everton Tizo Pedroso, Jean Carlos Santos, 
Marina Farcic Mineo, Graziela Diógenes Vieira Marques, Jonas 
Byk e a todos os outros com os quais já publiquei ou estamos 
publicando em conjunto. Sou muito grato por seu apoio e con-
fiança.
Agradeço a Artur Andriolo e Jean Carlos Santos por algu-
mas fotos cedidas, que foram usadas neste livro.
A Everton Tizo Pedroso agradeço pelo tempo dedicado à 
leitura crítica dos originais do livro.
Quero agradecer também aos meus editores e àqueles que 
auxiliam na distribuição dos meus livros. Agradeço muito por 
sua compreensão para com minhas constantes solicitações de re-
dução de custos e margens de lucro, a fim de que os livros che-
guem aos alunos o mais barato possível.
Agradeço à Sociedade Brasileira de Etologia, à Sociedade 
Portuguesa de Etologia, ao CNPq e aos nossos incríveis estudan-
tes, por seu apoio e empenho na divulgação de nossos estudos e 
livros.
Não poderia esquecer de agradecer a minha família – minha 
esposa e meus filhos –, pela paciência, carinho e dedicação que 
têm comigo. Muitas vezes discutindo e dando atenção a um 
“maluco” que fala do incrível comportamento de uma estranha 
e diminuta formiguinha que carrega sementes ou suga gotículas 
em folhas de plantas com nomes estranhíssimos. Tenham a cer-
teza de que vocês são o que amo com mais ardor.
“O comportamento [...] orientado para uma meta está extrema-
mente disseminado pelo mundo orgânico; por exemplo, a maioria das 
atividades relacionadas a migração, obtenção de alimento, corte, ontoge-
nia e todas as fases da reprodução é caracterizada por tal orientação por 
uma meta. A ocorrência de processos orientados por uma meta talvez 
seja o traço mais característico do mundo dos organismos vivos.”
Ernest Mayr (1988)
“A literatura sobre comportamento animal está cheia de descri-
ções de comportamento animal claramente proposital, revelando pla-
nejamento cuidadoso. [...]. Nesse planejamento proposital não há, em 
princípio, diferença entre seres humanos e animais pensantes.”
Ernest Mayr (2005)
As formigas-correição são nômades e constantemente mudam seus ninhos 
para lugares onde poderão obter mais alimento e segurança, onde possam au-
mentar ou manter alto seu valor adaptativo. Crescer, se desenvolver, sobrevi-
ver e reproduzir, deixar descendência viável: eis a meta final.
“O sonho e a vida são dois galhos gêmeos;
são dois irmãos que um laço amigo aperta.
A noite é o laço.”
Gonçalves Dias
Toda utopia, quando boa, é mais sonho do que pesadelo. O 
meu sonho, ao escrever este livro, é que eu consiga lhe transmitir 
o mesmo prazer que sinto, quando estou livre para estudar com-
portamento animal. Parar calmamente no campo e sentar sobre 
uma pedra, sob uma grande e maravilhosa árvore, com respin-
gos da água gelada das corredeiras da Floresta Atlântica Brasilei-
ra batendo no meu rosto, enquanto observo uma simples formi-
guinha se alimentando das excreções açucaradas de um nectário 
extrafloral. E o melhor: ainda ser pago para fazer isso, para tentar 
entender os mistérios da natureza e do comportamento animal – 
ser pago para viver um sonho!
Este livro não tem, portanto, a menor pretensão de ser umaobra completa sobre Ecologia Comportamental e/ou Comporta-
mento Animal, para isto há livros excelentes, didáticos, cheios 
de exemplos enriquecedores, escritos numa linguagem científi-
ca padronizada. O que eu quero aqui é estimulá-lo, instigá-lo, 
aguçar sua curiosidade para o estudo do comportamento e da 
ecologia, de modo integrado. Quero lhe mostrar o quanto isto 
pode ser bonito, agradável e recompensador. Ao mesmo tempo, 
sonho em lhe fornecer as ferramentas básicas para que possa se 
iniciar no estudo do comportamento e da ecologia comporta-
mental. O que quero é que você pegue gosto pela coisa.
Prefácio
Ao longo de minha vida acadêmica, procurei afastar de 
minha mente idéias dogmáticas, finalistas. Por isso sou biólogo. 
Biologia é uma ciência única, na medida em que se transforma, 
pois modifica nossa forma de encarar o mundo e é modifica-
da por esse mesmo mundo, a cada dia. Mas algumas pequenas 
verdades parecem perdurar em meu caminho e uma delas é a 
identificação de que nossa ciência, globalmente e em todas as 
áreas do conhecimento, carece de bons e dedicados orientadores. 
Não estou dizendo que não existam, pelo contrário, há muitos e 
muito bons. O problema é que, perante o universo de estudantes 
que temos hoje, esses bons orientadores são poucos e, portan-
to, encontram-se sobrecarregados. Assim, a cada dia, encontro 
novos alunos com velhos problemas, como falta de leitura, pou-
co senso crítico, conhecimento técnico limitado, sem paciência, 
muitas vezes sem objetivo de vida, desorientados. O sonho aqui 
é, simplesmente, lhe propiciar alguma orientação na área da ci-
ência onde tenho um pouco mais de conhecimento.
Assim sendo, este livro será dividido em etapas e peço que 
você não salte nenhuma, pois da sua boa compreensão depende 
a sequência de seu aprendizado. Partiremos de uma introdução 
básica, definiremos comportamento, ecologia comportamental, 
suas origens e diferenças. Através de exemplos, vamos procu-
rar entender hipóteses, pressupostos, metodologias, buscando 
capacitá-lo para elaborar um projeto nesta interessante área do 
conhecimento. Então, seja bem vindo! Vamos sonhar juntos, pois 
como nos ensinou Marcel Proust: 
“Se sonhar um pouco é perigoso,
a solução para isso não é sonhar menos,
é sonhar mais”.
Aos sonhadores,
com estima,
Kleber
Parte 1 ♦ História e Definições Básicas ........................................... 17
1.1. Uma breve história da ecologia comportamental .............................. 18
1.2. Definindo comportamento .......................................................................... 24
1.3. Quatro termos básicos para iniciar uma descrição ........................... 25
Parte 2 ♦ Guia Introdutório ao Comportamento Animal ............. 29
2.1. Uma linha de pesquisa motivadora ........................................................ 30
2.2. Ferramentas básicas ....................................................................................... 33
2.3. Conhecendo o objeto de estudo ................................................................ 46
2.4. Familiarizando-se com o animal e com o ambiente ......................... 48
2.5. Métodos clássicos de observação de comportamento ...................... 52
2.6. Dicas para estudar o comportamento de invertebrados ................. 57
2.7. Dicas para estudar o comportamento de vertebrados ..................... 62
2.8. Marcando seus animais para estudo ...................................................... 66
2.9. Cuidados pessoais para ter no campo e no laboratório ................... 74
2.10. Como planejar um estudo em comportamento animal? ............... 78
2.11. O que são etogramas? ................................................................................. 90
Parte 3 ♦ Guia Introdutório à Ecologia Comportamental ............. 95
3.1. A questão funcional e a questão evolutiva ........................................... 96
3.2. A questão da ecologia comportamental ................................................ 99
3.3. O teste de hipóteses na ecologia comportamental .......................... 101
3.4. Um exemplo do uso da ecologia comportamental na ecologia 
de interações (populações e comunidades) ........................................ 106
3.5. Como encontro meu caminho? ................................................................ 110
Parte 4 ♦ Bibliografia ........................................................................ 113
4.1. Literatura citada ............................................................................................. 114
4.2. Literatura recomendada ............................................................................. 114
Parte 5 ♦ Glossário ........................................................................... 119
Sumário
um manual para o estudo do comportamento animal
COMPORTAMENTAL
ECOLOGIA
INTRODUÇÃO À
Kleber Del-Claro
História e
definições básicas
P
a
r
t
e
 
1
18
Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
1.1. Uma breve história da Ecologia Comportamental
Nosso interesse pelos animais está enraizado em nossas origens. Arte, 
pintura ou gravura rupestre é o nome que se dá às mais antigas representa-
ções pictóricas conhecidas (figura 1.1). Mais de 40.000 a.C., milhares dessas 
gravuras rupestres foram gravadas nas paredes ou nos tetos de cavernas ou 
abrigos da África, Ásia, Europa e Américas. Na caverna espanhola de Alta-
mira, também conhecida como “Capela Sistina da Pré-história”, a pintura 
rupestre de um bisão impressiona pelo tamanho e pelo volume conseguido 
com o uso da técnica do claro-escuro. Em diversas outras cavernas espalha-
das pelo mundo todo, há inúmeras outras pinturas de animais, inclusive de 
alguns flechados ou encurralados por humanos. Essas gravuras rupestres 
representam os primeiros registros do interesse humano pelo comportamen-
to animal.
Figura 1.1. Pinturas rupestres em caverna de Serranópolis, GO, no centro-
oeste brasileiro, datada de 12.000 a.C., aproximadamente.
Cerca de 4.000 a.C., os egípcios usavam as fibras do caule de uma planta 
chamada Cyperus papyrus para confeccionar o precursor do papel. Essa planta 
Parte 1 ♦ História e Definições Básicas
19
era esmagada, prensada e secada para dar origem ao papiro, que era usado 
para documentar negócios do Estado, em grande parte, relacionados com a 
comercialização de animais. Nos documentos antigos das mais diversas re-
ligiões, há inúmeros relatos sobre o comportamento e características de ani-
mais domésticos e selvagens. Esse interesse pelos animais e seu comporta-
mento pode ser, em grande parte, explicado também pela zoolatria, isto é, 
adoração aos animais, que era comum à grande maioria das religiões polite-
ístas. Os próprios egípcios tinham um vasto panteão de divindades antropo-
zoomórficas, ou seja, parcialmente humanas, parcialmente animais.
Assim, se você pensa que foi um pioneiro, ao observar um pardal no 
seu quintal, está muito enganado. Nós, humanos, observamos o comporta-
mento animal desde que surgimos. Mas uma coisa não mudou desde o prin-
cípio e, provavelmente, é a grande razão de nosso enorme desenvolvimento 
científico e intelectual. Observamos o comportamento dos animais para saber 
como, quando e do que podemos nos alimentar; para domesticar os animais; 
para evitar a ação de predadores; para aprendizado; mas, principalmente, por 
curiosidade. A curiosidade é uma característica peculiar que ressalta a inteli-
gência humana. Em sendo curioso sobre tudo a sua volta e, em especial, sobre 
a natureza, o homem se tornou o ser dominante que hoje é.
A tradição oral, ou seja, a transmisão do conhecimento de uma geração 
a outra através da fala, contação de histórias, lendas e músicas, foi durante 
muito tempo o principal modo de perpetuaçãodo conhecimento adquirido 
a partir da observação animal para o grande público. Este modo simples de 
transmisão do conhecimento, foi muito útil e eficaz, principalmente se consi-
derarmos que, ainda hoje, grande parte da população mundial é analfabeta 
ou tem pouco domínio da leitura. A partir do século XVI, com as grandes 
navegações e a descoberta das rotas marítmas para África e Ásia, assim como 
a redescoberta do Novo Mundo, o ser humano passou a experimentar uma 
explosão de informações sobre a vida e o comportamento animal. Médicos e 
pintores de bordo, missionários, cartógrafos e um, pouco mais tarde, os pri-
meiros naturalistas, passaram a descrever, primeiramente em suas cartas e 
depois em livros e artigos científicos, o comportamento de espécies nunca 
antes vistas. Um dos documentos mais preciosos desse período data de 1526 
e foi escrito por Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés, intitulado Sumario 
de la Natural Historia de las Indias. Enviado ao Novo Mundo pelo rei Fernando 
da Espanha, Valdés fez a primeira descrição elaborada, rica em exemplos e 
detalhes específicos da flora e fauna da América Espanhola, principalmente 
da região do México. O documento continha não apenas a descrição de com-
portamento animal, mas também humano, o que atraía muito a atenção do 
público europeu ávido em conhecer as novas terras, sua gente, seus costumes, 
novos alimentos e possíveis medicamentos.
20
Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Ao longo dos dois séculos seguintes, inúmeras outras contribuições fo-
ram sendo feitas ao estudo do comportamento animal, mas de forma pontual 
e anedótica. Até que, entre o final do século XVIII e início do século XIX, os 
cientistas viajantes, denominados naturalistas, principalmente ingleses, ale-
mães, holandeses, franceses e já alguns americanos, começaram a divulgar 
os resultados de suas expedições pelo mundo afora. Dentre eles, destacou-
se o inglês Charles Robert Darwin, que publicou uma série de artigos e li-
vros, como seus volumes de Zoologia, dentre os quais podemos citar extensas 
monografias sobre a biologia e taxonomia de cracas vivas e fósseis. Em 1859, 
Darwin publicou seu mais famoso livro: A Origem das Espécies, estabelecendo 
um dos mais importantes pilares no estudo da ecologia comportamental até 
os dias atuais, o conceito da evolução por meio da Teoria da Seleção Natural. 
Em 1871, Darwin publicou A Descendência do Homem, que, embora não fosse 
um livro especificamente sobre comportamento, estabeleceu importantes ba-
ses para as futuras discussões que viriam nos anos seguintes sobre a origem 
do homem e das similaridades entre comportamentos sociais de humanos e 
outros primatas. Porém, em 1873, mais uma vez, Darwin ousou ao publicar A 
Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, talvez inaugurando o que, mais 
tarde, viria a ser a Psicologia Comparada.
O comportamento animal e humano, também conhecido como Etolo-
gia – do grego ethos, que significa “costume”, “hábito” – é uma área do conhe-
cimento multidisciplinar, pois envolve aspectos da biologia desenvolvimental 
dos organismos, fisiologia, genética, evolução, psicologia e também da sua zo-
ologia e ecologia. O termo etologia apareceu na França, no século XVIII, para 
designar a descrição de estilos de vida, em muito se confundindo com nossa 
definição atual de nicho ecológico. No sentido de se referir especificamente 
ao estudo do comportamento animal, o termo etologia foi empregado pela 
primeira vez no século XX, mais precisamente em 1950, pelo holandês Niko 
Timbergen. Devido aos trabalhos pioneiros no estudo do comportamento em 
condições naturais, com atenção voltada para padrões espécie-específicos de 
comportamentos, o alemão Oskar Heinroth e o americano Charles Whitman 
são também apontados por muitos como cofundadores da etologia moderna. 
Depois de um longo início descritivo, seguindo a tradição de histó-
ria natural empregada à etologia pelos naturalistas do século XIX, o estu-
do do comportamento ingressou em uma nova fase, mais experimental, 
buscando entender as causas evolutivas dos comportamentos. Do meio 
da década de 1950 até o final dos anos 60, três pesquisadores europeus 
se destacaram nesta nova abordagem: os austríacos Konrad Zacharias 
Lorenz e Karl von Frish, e o holandês Niko Timbergen. Em conjunto, 
por “seus estudos voltados para a compreensão da organização e elicitação dos 
comportamentos individuais e sociais”, em 1973, esses cientistas receberam 
Parte 1 ♦ História e Definições Básicas
21
o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, inaugurando uma nova era na 
etologia, que nos levaria à ecologia comportamental.
Em uma definição clássica, o comportamento animal em seu sensu 
stricto, inicialmente, apresentou três grandes áreas:
a) Psicologia Comparada – Inicialmente centrada nos Estados Unidos 
da América, esta é a área mais descritiva e que dá pouca importância 
às causas evolutivas dos comportamentos. O foco é o aprendizado 
associativo, especialmente em humanos. Nesses estudos, é comum 
o uso de animais como cães, pombos e ratos, como modelos experi-
mentais, visando entender os processos cognitivos e perceptuais em 
humanos.
b) Neurobiologia – A partir de uma base biológica, esta abordagem vol-
tou-se, durante muito tempo, para o entendimento dos mecanismos 
de funcionamento do sistema nervoso e suas respostas comporta-
mentais, em detrimento de considerações evolucionárias. Atualmen-
te, apresenta linhas com interesse filogenético, buscando entender as 
origens da formação e funcionamentos dos sistemas neurais e suas 
respostas comportamentais. É um dos campos mais promissores, no 
que se refere aos estudos do comportamento humano, no século XXI.
c) Etologia – O estudo descritivo do comportamento animal caracteriza 
a etologia clássica, que abordava principalmente as bases fisiológi-
cas dos comportamentos, incluindo os mecanismos causais e fun-
cionais, deixando para segundo plano as bases evolutivas (funções 
adaptativas) dos comportamentos.
Devido à formação acadêmica dos primeiros estudiosos do compor-
tamento, a etologia no século XX se desenvolveu inicialmente na Psicologia. 
Durante muito tempo, esses primeiros etólogos contemporâneos se preocupa-
ram com padrões estereotipados de comportamentos, os também chamados 
padrões fixos de ação (PFA).
Um PFA é todo e qualquer comportamento que pode ser elicitado por 
um estímulo sempre muito característico, denominado estímulo sinal ou 
liberador. Por exemplo, no ninho, quando um filhote de ave abre seu bico, 
exibindo para a mãe as cores fortes de sua mucosa (amarela, laranja ou verme-
lha), faz com que esta regurgite o alimento para ele. Com o passar do tempo 
e a descoberta de que a maioria dos comportamentos não são de fato tão este-
riotipados quanto se propunha no início da etologia moderna, os PFAs foram 
recentemente renomeados como padrões modais de ação (PMA).
Paralelamente a esses estudos, outros psicólogos direcionavam seus 
trabalhos para a investigação de atos comportamentais que pudessem ser cla-
22
Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
ramente quantificados, dando origem a estudos sobre aprendizado e sobre 
as bases fisiológicas dos comportamentos. Nesta linha, um fisiologista russo, 
Ivan Pavlov, trabalhando principalmente com cães e estudando sua capacida-
de de adestramento para a execução de pequenas tarefas, desenvolveu a ideia 
de condicionamento clássico, ou seja, condicionar um animal a desempe-
nhar uma determinada função.
A metodologia desenvolvida por Pavlov, criou as bases para que uma 
nova escola da psicologia fosse inaugurada, o Behaviorismo. Um dos mais 
importantes nomes nessa nova linha de pesquisa foi o americano Burrhus 
Frederic Skinner, que propôs que o estudo do comportamento animal fosse 
limitadoàs ações que pudessem efetivamente ser observadas. Skinner de-
monstrou que padrões de comportamento que pudessem ser recompensados, 
tenderiam a ser reforçados e aumentariam em frequência. Os clássicos exem-
plos – e os mais lembrados – são as caixas de Skinner, gaiolas contendo rati-
nhos que utilizam as patas dianteiras para abaixar uma barra, fazendo com 
que um grão de ração ou uma gota d’água (recompensa) seja liberada a sua 
frente. Os experimentos de Skinner mostraram que o controle do comporta-
mento pode ser muito influenciado por ação reforçada.
Entre o final da década de 1960 e o início dos anos 70, William D. 
Hamilton deu uma abordagem totalmente nova à etologia. Apoiado nas ideias 
de manipulação experimental (e.g. alteração de uma característica do ambien-
te para se testar a função de um ato comportamental) inicialmente propos-
tas nos estudos de Tinbergen, von Frish e Lorenz, este biólogo evolucionista 
britânico propôs, pela primeira vez, que os comportamentos exibidos pelos 
animais deveriam ser estudados no sentido de entendermos seu real impacto 
sobre o valor adaptativo das espécies, traduzido pela sobrevivência desses 
animais e de seus parentes. Assim, Hamilton propunha a aplicação da seleção 
natural como ferramenta para entendermos as bases genéticas que moldavam 
os comportamentos. De suas ideias e das do entomologista e biólogo america-
no Edward Osborne Wilson, emergiu uma nova ciência, a Sociobiologia, que 
busca entender as bases evolutivas da existência e a perpetuação dos compor-
tamentos sociais.
No somatório desses esforços, o que, de fato, se via nascer era um novo 
modo de se estudar e entender o comportamento animal. Esse novo modo 
era um resgate e um aperfeiçoamento do método hipotético-dedutivo (a ser 
detalhado, mais à frente), inicialmente empregado pelos darwinistas, apoia-
do na ideia de seleção natural, revigorada pelos conhecimentos modernos da 
genética e da evolução. Através da manipulação experimental e também do 
uso de ferramentas estatísticas e matemáticas, procurava-se entender não so-
mente como um animal exibia um determinado comportamento, mas princi-
palmente quais seriam as causas evolutivas que mantinham esse comporta-
Parte 1 ♦ História e Definições Básicas
23
mento vivo, em termos de alelos presentes em uma população, ou seja, o valor 
adaptativo dos comportamentos. Assim, o Comportamento Animal se transfor-
mava em Ecologia Comportamental.
Hamilton desenvolveu parte de seus estudos no Brasil, em discussões 
com o agrônomo e geneticista brasileiro Warwick Estevan Kerr. Através de 
seus estudos com abelhas sociais, Hamilton conseguiu demonstrar que o va-
lor adaptativo de um comportamento pode ser medido pela quantidade de 
prole (filhos) viável, com chance de sucesso reprodutivo futuro e que o com-
portamento permite que o indivíduo que o exibe produza ao longo de sua 
vida. Deste ponto em diante, as portas do estudo do comportamento animal 
foram gradualmente arrombadas pelos ecólogos, que passaram a tentar en-
tender não apenas como um determinado comportamento influía na sobre-
vivência e reprodução de um indivíduo, mas também os reflexos disso sobre 
as populações desses consumidores (herbívoros e carnívoros). E mais: o que 
isso representa em termos de impacto sobre os produtores (plantas), sobre as 
interações ecológicas e sobre a estrutura das comunidades.
Hoje, o Comportamento Animal, mais do que uma linha de investiga-
ção científica, transformou-se em uma das mais poderosas ferramentas no 
universo multidisciplinar da ecologia comportamental. Nos nossos dias, uma 
grande profusão de cientistas se dedica ao estudo da ecologia comportamen-
tal, em maior ou menor escala. Eles estão espalhados pelo mundo todo – ho-
mens e mulheres, alguns mais velhos outros mais jovens, como você!
Seria um absurdo querer listar aqui a ordem de importância do estudo 
desses colegas e de suas contribuições. Nesse novo e tão dinâmico universo, 
o nome do americano John Alcock1 merece destaque. Sua publicação, Compor-
tamento Animal: Uma Perspeciva Evolutiva, hoje na oitava edição, talvez seja a 
obra contemporânea que mais influenciou o desenvolvimento do estudo do 
comportamento animal, nas últimas duas décadas, entre jovens biólogos e 
ecólogos. Entre o final do século XX e o início do século XXI, o surgimento da 
internet, dos PDFs eletrônicos (Portable Document Format), têm disseminado, 
de forma cada vez mais rápida e em maior quantidade, os estudos publicados 
em todas as áreas do conhecimento. Não apenas textos, mas fotos e filmes so-
bre comportamento são hoje veiculados por famosos e anônimos, na tentativa 
de divulgar suas descobertas. Seja, portanto, cauteloso, prudente e criterioso 
em suas pesquisas na internet, pois quantidade nem sempre é sinônimo de 
qualidade.
Ernest Mary definiu ciência como sendo “um pequeno passo no esforço 
humano para entender melhor o mundo por observação, comparação, experimentação, 
análise, síntese e contextualização”. Se, nesse sentido, a Biologia é uma ciência 
única, pois é mutável e se adapta às transformações impostas pelo tempo, a 
Ecologia Comportamental pode ser considerada uma das filhas rebeldes da 
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Biologia – aquela xereta que entra em toda festa, e que, sem cerimônia nenhu-
ma, põe o dedo no glacê do bolo. O ecólogo comportamental de hoje equi-
vale ao naturalista do século XIX, porém revestido de todo o conhecimento 
acumulado pela Biologia, nos últimos dois séculos, da genética à ecologia, 
passando pela fisiologia, zoologia e botânica. Hoje, ele utiliza os mais moder-
nos equipamentos eletrônicos para documentação e análise, incluindo aí tudo 
que é pacote estatístico, mas... sem dispensar uma boa cadernetinha, lápis e 
borracha, além de uma confortável roupa de campo e um boné.
1.2. Definindo comportamento
Há muitas definições para Comportamento Animal. Como toda gran-
de área dentro da Biologia, as definições de comportamento também sofrem 
alterações, adaptações, aperfeiçoamentos, de tempos em tempos. Talvez a de-
finição mais simples e precisa seja aquela que define o comportamento como 
sendo tudo aquilo que um animal faz ou... deixa de fazer.
Quando vemos um animal correndo, pulando, se lambendo ou predan-
do um outro animal, fica muito claro que esse animal está exibindo algum 
tipo de comportamento (figura 1.2A). Entretanto, é bom lembrar que os ani-
mais podem exibir comportamentos nos quais deixam de realizar atividades 
que envolvem movimentações ou deslocamentos. Ao nosso olhar, parece que 
não estão fazendo nada. Por exemplo, dormir, hibernar, congelar-se ou fingir-
se de morto, o que denominamos tanatose (figura 1.2B). Mesmo quando um 
animal aparentemente não está fazendo nada, esse “não fazer nada”, também 
representa um tipo de comportamento e tem sua função. Assim sendo, pode-
mos sim entender comportamento como sendo o conjunto de todos os atos que 
um animal realiza ou deixa de realizar.
A B
Figura 1.2. A. Zebra (Equus burchelli) pastando em uma área de savana. B. Pe-
rereca (Hyla geografica) fingindo-se de morta (tanatose) nas mãos 
de um pesquisador.
Parte 1 ♦ História e Definições Básicas
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1.3. Quatro termos básicos para iniciar uma descrição
O comportamento é hoje uma linha de pesquisa muito difundida não 
somente entre biólogos, incluindo-se aí ecólogos, zoólogos, geneticistas, para-
sitologistas e até mesmo alguns botânicos, mas também entre psicólogos, ve-
terinários, zootecnistas, médicos e alguns agrônomos. Portanto, é necessário 
que, logo de início, façamos algumas padronizações para um melhor entendi-
mento do estudo do Comportamento Animal e de suas aplicações na Ecologia 
Comportamental. Em muitos congressos da área e até mesmo em textos de 
revistas científicas que leio ou recebo para revisarou editorar, com frequência 
encontramos alguns enganos no uso de termos descritivos de comportamen-
tos animais. Vejamos alguns exemplos.
Na figura abaixo, como você descreveria a postura e a posição do ani-
mal? Observe, pense e tente escrever em uma folha de papel, antes de conti-
nuar a leitura.
Figura 1.3. Beija-flor (Eupetomena macroura), em Uberlândia, Minas Gerais, 
Brasil.
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
1) Postura – Quando falamos em postura, estamos nos referindo às par-
tes do corpo de um animal, em relação a ele mesmo. Assim sendo, o 
beija-flor apresenta postura normal de pouso, ou seja, está apoiado 
sobre um substrato (normalmente um ramo), com as asas fechadas, 
o corpo perpendicular ao substrato (postura “ereta”), com a cabeça 
direcionada para sua frente e o bico fechado.
2) Posição – Quanto à posição, podemos dizer que o animal está apoia-
do, ou pousado, sobre o ramo de uma árvore. Na descrição da posi-
ção, procuramos indicar agora a relação entre as partes do animal e o 
habitat, o substrato mais próximo, um referencial do meio.
Obviamente, é difícil separar postura de posição na descrição de um 
comportamento e o modo mais simples, geralmente o mais correto para des-
crever o animal da foto. Seria simplesmente: “o beija-flor está pousado sobre um 
ramo vegetal”, sendo o termo “pousado” referente à postura e a expressão “sobre 
um ramo” relativa à posição do mesmo.
Isto pode lhe parecer uma grande bobagem, mas é realmente comum 
encontrarmos em textos científicos, ou em painéis de congressos, confusões 
como: “o beija-flor está posicionado com as asas fechadas, numa postura frontal 
a uma árvore com flores”, o que constitui uma inversão total do correto uso dos 
termos descritivos básicos do comportamento.
Vejamos agora outros dois termos de uso muito comum. Analise a foto 
abaixo e tente descrever o comportamento do animal, não apenas quanto à pos-
tura e posição, mas também, quanto ao movimento e deslocamento executados.
A B
Figura 1.4. Gavião caracará (Caracara plancus) pousado (A) e levantando voo (B) 
a partir de um termiteiro na Serra da Canastra, Minas Gerais, Brasil. 
3) Movimento – A palavra movimento deve ser empregada no sentido 
de descrever mudanças de postura, ou seja, das partes do corpo de 
Parte 1 ♦ História e Definições Básicas
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um animal, em relação a ele mesmo. Assim, se o gavião mexe o pes-
coço, abre e fecha suas asas, ele está se movimentando. Mas, se o ga-
vião levanta voo a partir o termiteiro, ele não apenas se movimenta, 
mas também se desloca.
4) Deslocamento – O deslocamento considera as mudanças de posição, 
ou seja, do animal em relação aos substratos ambientais. Esses dois 
termos costumam ser usados de modo trocado, com muito mais fre-
quência do que você imagina. Muitas pessoas, erroneamente, des-
creveriam este comportamento como, “o gavião se movimentou em voo 
para longe do termiteiro”, por exemplo.
Algumas pessoas consideram um preciosismo de nossa parte quando 
insistimos no correto uso dos termos etológicos. Aprenda uma coisa: o capri-
cho em uma descrição, o uso de uma linguagem correta e a precisão da re-
dação são elementos decisivos, que irão aumentar as chances de seu texto ser 
bem entendido, do sucesso na transmissão de sua mensagem e, finalmente, 
de um trabalho seu ser aceito para publicação. Se, no passado, alguém se deu 
ao trabalho de padronizar uma linguagem científica, em qualquer que seja a 
área do conhecimento, nós devemos, por respeito e responsabilidade, acatar 
e utilizar essa linguagem, ou questioná-la e apresentar uma nova proposta.
Essas padronizações costumam contribuir de modo positivo para um 
melhor entendimento entre pesquisadores, para uma melhor compreensão 
dos estudos científicos e para evitar que um mesmo comportamento, comum 
ou estereotipado, seja descrito diversas vezes, por diferentes pesquisadores, 
tomando um enorme espaço editorial e, muitas vezes, causando grande con-
fusão. Vamos dar um exemplo de uma grande vantagem da padronização de 
alguns termos.
Na figura 1.2B, eu usei o termo tanatose. Para quem já estuda comporta-
mento eu não precisaria dizer mais nada, pois a pessoa já saberia que o animal 
estava se fingindo de morto, ou em imobilidade tônica. Em se tratando de um 
anfíbio, a mais comum das tanatoses ocorre em decúbito dorsal, com mem-
bros retraídos, boca e olhos fechados. Trata-se, portanto, de uma descrição de 
cinco a seis linhas de texto, que podem ser resumidas em uma única e precisa 
palavra. Mais adiante, vamos tratar de repertórios comportamentais ou eto-
gramas, nos quais a importância desses termos será ainda mais evidenciada.
Nos capítulos seguintes, vamos chamar sua atenção para as facilidades 
e os problemas em se trabalhar com comportamento animal, quais os cuida-
dos que devemos ter, enfim, vamos tentar lhe mostrar como o comportamento 
pode ser uma ferramenta útil, não apenas nos estudos da ecologia do compor-
tamento, mas também em outros estudos como na polinização, dispersão de 
sementes e na ecologia de interações.
Guia introdutório ao 
comportamento animal
p
a
r
t
e
 
2
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
2.1. Uma motivadora linha de pesquisa 
Animais podem fazer coisas extremamente interessantes, às vezes sim-
ples e alegres, outras vezes chocantes, mas coisas que chamam nossa aten-
ção e aguçam nossa curiosidade. Neste ponto, reside principalmente nosso 
imenso interesse pelo estudo do comportamento. Quem, por exemplo, não 
ficaria intrigado se soubesse que, nas Filipinas, existem pequenas aranhas 
Salticidae (Myrmarachne assimilis) que mimetizam formigas tecelãs muito 
agressivas (Oecophylla smaragdina), ou seja, imitam perfeitamente essas formi-
gas, juntando-se a elas em ninhos formados por folhas de plantas unidas por 
fios de seda2? Como este complexo interativo poderia ter se estabelecido? Com 
quais propósitos? Será que você já pensou em formigas que podem se orientar 
pela formação do céu à noite? Isto mesmo! Olhar para cima ao sair do ninho 
e ao invés de marcar o terreno com uma longa trilha química (de cheiro), 
simplesmente memorizar o contraste entre as copas das árvores, as estrelas, a 
luz da lua e se guiar por este mapa visual? (figura 2.1). Veja bem, não estamos 
falando de veados, coelhos e aves, mas de formigas!
Figura 2.1. Contraste entre o céu noturno e a sombra das copas das árvores.
Paulo Oliveira e Bert Holldöbler, dois colegas trabalhando num labo-
ratório de Harvard, observando o comportamento de formigas Odontomachus 
Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
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bauri (Ponerinae), notaram que toda vez que uma operária saía do ninho pa-
recia parar e olhar para o alto, na direção do observador. Intrigados com isso, 
eles tiveram a ideia de testar esta hipótese e conseguiram comprová-la3.
Outro exemplo. Diga que você não ficaria assustado ao observar ou 
tomar conhecimento de casos de infanticídio entre mamíferos? Em 1977, a 
pesquisadora Sarah Hrdy4 publicou os resultados de seus estudos pioneiros 
feitos na Índia com macacos langurs (gênero Presbytis). O estudo se iniciou 
quando ela evidenciou que após as disputas entre machos pelos haréns, que 
os vencedores matavam todos os jovens filhotes do bando. Intrigada com suas 
observações iniciais, Sarah Hrdy passou a uma longa fase de estudos obser-
vacionais de campo, testando diferentes hipóteses para explicar o fenômeno, 
o qual acabou relacionando com seleção sexual, embora seja um assunto con-
troverso até hoje.
Exemplos como estes que acabo de comentar aguçam sua curiosidade? 
Mexem com você? Você se sente motivado a estudar este tipo de assunto?
Se você se sente inseguro em responder a essas questões é bom saber 
que um conhecimentobásico sobre Zoologia, Botânica, Ecologia e Evolução 
pode ajudar muito quando a gente quer decidir se vai gostar ou não de estu-
dar comportamento. É importante que você tenha muita capacidade de leitu-
ra, que goste de estudar, que goste de ir ao campo e seja capaz de observar, 
com muita paciência e calma, detalhes mínimos, muitas vezes ocultos pela 
própria natureza. Veja, por exemplo, as fotos da figura 2.2.
A B C
Figura 2.2. A. Uma serpente Leptodeira engolindo sua presa, um sapi-
nho Eleuterodactilidae. B. Um ninho de pássaro joão-de-barro 
(Furnarius rufus) é feito pouco a pouco, com bocados de barro. 
C. Um casal de libéluas (Libelulidae) em cópula.
Estas imagens são exemplos distintos de oportunidades de observação 
ímpares, simples, mas que só vê quem vai ao campo e, além disso, com muita 
paciência. Conheço muita gente que, quando em um ambiente natural, é ca-
paz de olhar apenas para a paisagem. Geralmente, esse tipo de observador se 
cansa logo e já diz: “Pronto! Já vimos tudo por aqui. Vamos em frente?”. Ima-
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
gine só, se a pessoa não tem paciência, não tem a curiosidade de olhar dentro 
de uma flor, de escutar um barulhinho, de respirar os diferentes aromas... 
Imagine se, no campo ou no laboratório, essa pessoa vai conseguir encontrar 
algo realmente estimulante, que seja capaz de fazer com que ela se apaixone 
pelo estudo da Zoologia, Botânica ou Ecologia?
A primeira foto (figura 2.2A) foi feita na transição entre o Pantanal e a 
Amazônia, na fronteira entre Brasil e Bolívia. Foi uma tremenda sorte obser-
var e fotografar este evento de predação na natureza. Esta observação surgiu 
de um barulho. Na floresta, sempre caminho lentamente, quase em câmera 
lenta, tentando ouvir, cheirar, perceber o que acontece a minha volta. Esta 
serpente estava na beira de um riacho, no meio de folhas amareladas caídas 
no chão da floresta, e foi o barulho de seu bote sobre o sapinho que revelou 
sua presença.
O ninho de joão-de-barro (figura 2.2B) é comum no Brasil, mas a maio-
ria das pessoas quando a ele “apresentadas”, costumam mostrar surpresa. 
Será que é porque não olham para cima? Dê vez em quando, é bom nos preo-
cuparmos com as coisas que vem do alto. 
As libélulas fotografadas na Mata Atlântica (figura 2.2C) pareciam que 
estavam brigando. Se enrolavam uma na outra, subiam alto e sumiam entre 
as árvores, na beira de um pequeno lago natural. O grupo que estava comigo 
foi todo à frente. Eu e alguns alunos paramos e, dois minutos depois, elas 
pousaram a nossa frente e ali ficaram por alguns minutos, permitindo que 
observássemos, detalhadamente, o bombeamento do esperma do macho para 
a fêmea.
O que quero dizer a você é que existem inúmeros exemplos e situações 
estimulantes para se estudar comportamento animal. No mundo todo isto se 
repete – na floresta tropical, na tundra, no deserto, nos recifes de corais – e 
oportunidades não irão faltar, mas você tem que gostar do que faz, tem que 
sentir prazer e felicidade fazendo isto.
Uma coisa que chama a atenção nesses casos é que os estudos anterior-
mente citados e relatados podem ter começado com uma simples observação 
na natureza ou em laboratório, anotada com lápis em uma caderneta de cam-
po, fazendo as devidas correções com uma mera borrachinha branca. Este é 
outro fator muito relevante no estudo do comportamento animal. Você não 
precisa de grandes e caros materiais para se tornar um ótimo etólogo. Isto 
motiva muito, especialmente no início da carreira, ou para um leigo que quer 
ter esta atividade como uma simples forma de lazer. Então, quais seriam as 
ferramentas básicas, mínimas, para se estudar comportamento? Como posso 
evitar um investimento financeiro grande em um tipo de estudo que ainda 
não tenho certeza se vou gostar de fazer? Quais os cuidados iniciais que todo 
Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
33
pesquisador deveria ter? Como saber se o que eu escolhi estudar é interessan-
te para a ciência? Será que eu estou no caminho certo? Quando e a quem devo 
pedir ajuda?
Neste e no próximo capítulo, vou tentar ajudar você a encontrar o cami-
nho para estas respostas, para esclarecer suas dúvidas iniciais e para que sua 
motivação seja cada vez maior.
2.2. Ferramentas básicas
As ferramentas que vou apresentar aqui serão comentadas em outras 
partes deste livro, falando sobre seu uso, importância e utilidade. Muitas de-
las você já deve conhecer, outras apresentam variação em tamanho, forma 
e aspecto, dependendo da utilização. Vou dar maior destaque aos materiais 
mais simples, mais baratos e que você pode obter facilmente. Nas observações 
sobre cada item comentarei sobre as novidades, equipamentos eletrônicos etc. 
Vamos lá, vamos listar o que seria bom ter em nossa mochila de campo. 
Material de Registro:
a) Caderno de campo ou de laboratório – Sim, isto mesmo: caderno, 
lápis e borracha!
Você deve estar achando que estou maluco, pois na era do computa-
dor que cabe na palma da mão, eu venho falar de... caderno!
Olha, não conheço lugar melhor para fazer as anotações iniciais e 
elas devem ser feitas com um lápis preto, macio. Assim, não apaga 
com a água, caso seu caderno tome chuva, ou caia numa poça d’água 
ou mesmo num riacho. Já pensou no seu computadorzinho dentro 
de um aquário? Iiiiih! Escorregou da mão! Pois é. Lá se foram seus 
dados. 
Nos trópicos, chuvas torrenciais podem cair a qualquer momento 
e não há aparelho eletrônico totalmente seguro contra as forças da 
natureza. Uma rápida inversão térmica, comum na base de muitas 
montanhas europeias, pode simplesmente inutilizar muitos equipa-
mentos eletrônicos, temporária ou permanentemente. Assim como, 
o calor escaldante dos desertos ou das savanas africanas.
Eu gosto muito de cadernos com arame espiral, pois dá para reti-
rar mais facilmente páginas com anotações erradas. Além disso, são 
mais fáceis de virar as folhas e permitir a transcrição das informa-
ções para as planilhas eletrônicas no laboratório. Pranchetas com 
folhas e tabelas de campo podem substituir o caderno. Para quem 
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
trabalha diretamente na água, uma placa de PVC branca também 
pode servir de caderno e você pode escrever nela com lápis comum.
Dicas importantes:
► Se você tem boas condições econômicas e sabe fazer uso de equi-
pamentos eletrônicos, pode substituir o caderno de campo por 
um palm-top, notebook ou similar. Mas fique atento às circuns-
tâncias da natureza (rios, lagos, poças, intempéries) e aos impre-
vistos (possibilidade de quedas, tombos).
► Ter cópias é fundamental. Por isso, grave sempre seus dados de 
campo, tabelas, fotos e planilhas, num pen-drive ou dois (pen-
drives costumam falhar). Sempre faça cópias de seus dados de 
campo e guarde-as em lugares diferentes.
► Baterias novas (carregadas, obviamente) são equipamentos bási-
cos.
► Outra informação interessante: já há no mercado papéis à prova 
d’água e canetas que escrevem até embaixo d’água.
► Ah! Dinheiro também é um bom equipamento.
b) Gravador – Um gravador portátil pode ajudar muito, inclusive 
substituindo o caderno de campo algumas vezes, embora exista o 
inconveniente de obrigá-lo a transcrever as informações e o risco de 
algum barulho confundir o que foi dito por você.
O gravador pode ser muito útil para captar sons dos animais tam-
bém. Hoje em dia, há inúmeros modelos, de vários tamanhos e pre-
ços. Escolha o mais preciso, com melhor tempo de duração da bate-
ria, de menor tamanho e mais silencioso.
Dicas importantes:
► Hoje, muitos aparelhos de MP3, MP4, telefones celulares etc., per-
mitem gravar sons, mas existem equipamentos específicos para a 
gravação de sons de aves, anfíbios e animais aquáticos, porexem-
plo. Muitas vezes você vai precisar acoplar ao equipamento um 
microfone direcional ou um hidrofone (microfone subaquático).
► Esses equipamentos são bem mais caros e, quando o uso for even-
tual ou esporádico, é sempre bom buscar a parceria com colegas 
que já os tem. Não desperdice recursos financeiros, adquirindo 
bens materiais supérfluos ou cujo uso não será extensivo. Apren-
da a compartilhar com os colegas.
Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
35
c) Câmera fotográfica e filmadora – Há uns dez anos atrás, uma 
boa câmera fotográfica, com conjunto de lentes macro (para fo-
tografar animais pequenos, detalhes de flores, por exemplo) e 
teleobjetiva (para animais e objetos distantes), além de muito dis-
pendiosa ainda tinha os custos dos filmes e de revelação. Atual-
mente, com a revolução tecnológica da última década, tudo ficou 
muito mais fácil. As câmeras profissionais não são mais tão caras 
e podem ser encontradas com facilidade na maioria dos países. 
Você coloca as fotos num pen-drive, vai a um supermercado e 
você mesmo as imprime. O mesmo é válido para filmadoras que 
inclusive se tornaram muito mais compactas, práticas e de fácil 
manuseio. Entretanto, uma gama enorme de câmeras amadoras, 
com excelente resolução, muitas com zoom e outras que permi-
tem uma boa aproximação para flores e objetos pequenos podem, 
muitas vezes, substituir as câmeras profissionais, além de pro-
duzirem pequenos filmes. Isto proporcionou uma verdadeira re-
volução na documentação de comportamentos, tanto de animais 
como humanos.
Um detalhe importante é que as fotos e filmes podem ser armazena-
dos, reconfigurados e eletronicamente manipulados com um grande 
número de programas de computador que surgem a cada dia.
Dicas importantes:
► A leitura dos manuais é de fundamental importância, pois a infi-
nidade de recursos presentes nesses novos equipamentos requer 
treino para seu uso e manipulação. Um excelente equipamento 
nas mãos de uma pessoa destreinada pode trazer resultados frus-
trantes. É muito comum que, por inépcia, o usuário apague as 
imagens, sem antes salvá-las.
► Os programas de computador permitem aumentar ou diminuir o 
brilho, a nitidez etc. Mas tome cuidado com o seu uso, para não 
alterar artificialmente a realidade da documentação fotográfica 
ou da filmagem. Preserve sempre sua credibilidade. 
Material de Observação:
d) Binóculo e lupa manual – Para se observar animais à distância, um 
binóculo, ou até mesmo uma luneta, é muito útil e importante. Há 
binóculos de todos os tamanhos, potências e preços. Se você for um 
ornitólogo (ou mesmo observador amador de aves) ou um mastozoó-
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
logo, recomendo que, logo de cara, já adquira um bom binóculo, pois 
vai valer a pena o investimento.
Um bom binóculo também pode ser útil para entomólogos, espe-
cialmente para quem estuda borboletas, abelhas e libélulas, e tem a 
vantagem adicional de ainda poder ser usado em eventos esportivos, 
shows, para ver a lua etc., mesmo se você desistir de estudar compor-
tamento animal. Portanto, não será um dinheiro jogado fora.
Uma lupa manual é excelente para quem trabalha com pequenos ani-
mais no campo, ou para quem precisa examinar detalhes em partes 
específicas de animais capturados ou de vegetais que são utilizados 
ou consumidos por esses animais. Existem lupas com uma pequena 
lâmpada adaptada e uma alça para prender na testa, que são muito 
boas para quem estuda Biologia da Polinização.
e) Lanterna – É mais um equipamento com extrema variação de preço 
e tamanho. Pode ser usada tanto em ambiente seco quanto úmido, 
ou mesmo debaixo d’água. É um equipamento obrigatório mesmo 
para quem não vai ao campo à noite. Você pode precisar iluminar 
um oco de árvore, por exemplo, ou seu carro pode quebrar e você ter 
que passar a noite no mato.
Para quem lida com invertebrados, ter um pedaço de papel celofane 
vermelho para colocar na frente da lanterna é essencial. Insetos e ara-
nhas não enxergam a luz vermelha e você irá perturbar muito menos 
o comportamento desses animais se os observar à luz vermelha.
Uma boa lanterna também é um equipamento básico de segurança. 
Certa vez, eu estava trabalhando sozinho em uma savana, durante 
a noite, o que é uma tolice! De repente, percebi que estava sendo 
seguido por alguém que não se identificou. Caminhei um pouco na 
direção da pessoa, que se afastou e se escondeu. Prendi minha lan-
terna num galho de árvore, direcionando o foco para o último ponto 
em que vi o vulto, e me afastei na direção oposta, fazendo o contorno 
pelo mato, até alcançar a segurança do meu veículo novamente. A 
lanterna foi de fundamental ajuda, neste caso.
Material de Orientação:
f) Bússola ou GPS – A velha e boa bússola ajuda muito, mas o GPS é 
um equipamento cada dia mais acessível, devido à queda em seu 
preço de venda. Atualmente, o GPS (Global Positioning System) é um 
equipamento básico para marcação de localidades, medição de dis-
tância e para esquadrinhar áreas naturais. Hoje, muitos telefones ce-
lulares já vêm com as funções de GPS acopladas. São equipamentos 
Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
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de fácil uso e manuseio e com enorme confiabilidade dos dados que 
captam, armazenam e podem transmitir. Para quem trabalha nos 
trópicos, como a Amazônia, as savanas tropicais e as florestas chu-
vosas do Sul da Ásia, ou ainda em regiões remotas, como desertos 
quentes ou frios, o GPS é um equipamento obrigatório em qualquer 
kit de sobrevivência.
Dicas importantes:
► Considero o telefone celular um equipamento básico de orienta-
ção e segurança.
► Sem um carregador adaptado à bateria do veículo, o telefone celu-
lar não serve para nada. Dica de quem já ficou na mão!
Material de Coleta de Informação:
g) Trena – Serve para a medição de distâncias e alturas, sendo um dos 
mais úteis equipamentos para registro de trabalhos de campo.
h) Paquímetro – Este instrumento, que consta de uma escala graduada 
fixa, duas garras e um cursor, permite a medição precisa de animais, 
partes de seus corpos e partes florais, por exemplo.
i) Cronômetro – É um instrumento indispensável para o registro de 
comportamentos, para quantificação da duração de atos comporta-
mentais.
j) Termômetro e termo-higrômetro – Desnecessário dizer que um 
termômetro serve para medir a temperatura, mas há muitas varia-
ções deste instrumento, desde os comuns, aos mais complexos, que 
marcam a temperatura máxima e mínima. Já um termo-higrômetro, 
além de medir a temperatura, também afere a umidade do ar.
k) Oxímetro e pHmetro de mão – O oxímetro é o instrumento que de-
termina, fotoeletricamente, a saturação de oxigênio na água. O pH-
metro é o aparelho usado para medição do pH da água. Medir a oxi-
genação e o pH da água pode ser necessário para ictiólogos, herpe-
tólogos e limnólogos, em seus estudos associados a comportamento.
l) Refratômetro – O instrumento utilizado na medição do índice de 
refração de uma dada substância permite medir as quantidades de 
açúcares (geralmente frutose) presentes em nectários e exsudações 
vegetais.
m) Balança e pesola – Uma balança e uma pesola (balança vertical 
manual) são equipamentos básicos, quando se pretende capturar pe-
quenos animais para conhecer seu peso.
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Dica importante:
► Em alguns países, é bom andar com uma declaração com o objeti-
vo da pesola, para não ser confundido com traficantes de drogas, 
que fazem muito uso deste equipamento.
Não se assuste com esta lista, pois você não vai precisar de tudo 
isso. O tamanho de sua mochila de campo vai depender das res-
postas que você quer obter. Tem gente que jamais vai usar um 
medidor de pH,outros que nunca usarão um refratômetro e as-
sim por diante.
Material para Coleta:
n) Luvas – São muito úteis no manuseio de invertebrados e também na 
manipulação de aves e mamíferos (especialmente roedores e mor-
cegos).
o) Pinças – Há pinças dos mais variados tamanhos e formatos. Aquelas 
que estarão em sua mochila deverão atender as suas necessidades. 
Por exemplo, uma pinça fina, do tipo de relojoeiro, é útil para quem 
vai trabalhar com animais bem pequenos, ou para quem vai precisar 
fazer manipulações em flores e botões. Pinças médias, com borda 
rombuda, é apropriada para quem quer capturar pequenos insetos 
e aranhas, sem ferir os animais. Pinças grandes, com mais de 30cm, 
são indicadas para quem vai manipular animais perigosos como 
aranhas, escorpiões e morcegos. O bom senso do pesquisador deve 
prevalecer sempre.
p) Redes de captura e puçá – Em muitos lugares, especialmente nos 
países tropicais, estes importantes apetrechos são vendidos apenas 
com autorização oficial do governo.
Um puçá feito de filó, ou melhor, de organza, é um equipamento de 
campo básico para todo entomólogo. Na verdade, o puçá nada mais 
é que um enorme coador de café (figura 2.3). Com ele, você pode 
capturar pequenos espécimes: borboletas, abelhas, vespas, libélulas 
etc., com o objetivo de atender às necessidades de seu estudo: sexar o 
animal (examinar o sexo), marcá-lo, medi-lo e pesá-lo.
Na figura 2.3, apresento algumas dicas de como fabricar seu próprio 
puçá. Você vai precisar de um cabo de vassoura, um pedaço de ara-
me resistente (pode ser um cabide de roupas) e um pedaço de tecido, 
o qual recomendo que seja organza branca ou azul-claro. Algumas 
vezes, seu puçá pode ser um pequeno frasco coletor (Figura 2.8).
Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
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Figura 2.3. Para construir um puçá, pegue um cabo de vassoura (1) e um peda-
ço de arame firme (2). Dobre o arame para formar um aro com ele, 
com um diâmetro (x) de 20 a 25cm. Recorte o tecido nas dimensões 
e formato indicados na figura. Faça uma dobra no meio (linha pon-
tilhada) e costure (A + B), a fim de formar um saco. Ponha a boca 
do saco sobre o arame e costure novamente para prender o saco 
ao arame. Agora é só amarrar o arame no cabo de vassoura e está 
pronto o seu puçá.
q) Potes para coleta – Se você trabalha com invertebrados, como inse-
tos diminutos, como apanhá-los sem esmagá-los, ou sem que fujam? 
Potes coletores, de plástico ou de vidro, de diferentes tamanhos, são 
muito úteis para isto. Esses potes precisam ter dois furos. Você suga 
de um lado, criando um vácuo e o animal é puxado para dentro do 
pote. Veja como fazer o seu na figura 2.4.
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Figura 2.4. Para fazer seu frasco coletor ou aspirador basta pegar um pote de 
vidro com uma tampa ou rolha. Faça dois furos na tampa ou ro-
lha. Passe um tubo flexível por cada furo. Ponha uma pequena tela 
sobre o furo no qual você vai por sua boca, a fim de impedir que 
engula os insetos. Está pronto! Agora é só "chupar" os bichinhos 
para dentro do vidro.
r) Tesouras – Podem ser necessárias, tanto para o corte de pequenos 
pedaços de vegetais, quanto para a preparação de materiais de iden-
tificação no campo.
s) Material de herborização – Muitas vezes, você vai precisar saber 
a espécie vegetal sobre a qual seu modelo de estudo foi observado 
fazendo alguma coisa (pousado, comendo, repousando etc.). Então, 
você vai ter que saber como coletar e prensar o material, para fu-
tura análise. Assim sendo, é bom saber como montar uma prensa 
de campo e como herborizar corretamente o material. Uma prensa 
simples de campo consiste de duas placas de madeira, fazendo um 
Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
41
sanduíche com duas placas de zinco (opcionais), folhas de papelão e, 
por fim, jornal contento o material vegetal no meio (figura 2.5). Tudo 
isso amarrado por cordões ou barbantes.
Figura 2.5. Esquema de prensa para material vegetal (herborizador).
Dica importante:
► Para diferentes tipos de invertebrados há diferentes tipos de equi-
pamentos, muitas vezes específicos para um determinado grupo. 
Procure informações na internet, em publicações específicas ou 
com colegas.
Vestuário:
t) Roupas – Este é um dos itens mais importantes para quem trabalha 
com comportamento. As roupas devem ser confortáveis (nem quen-
tes, nem frias); devem proteger as partes expostas da excessiva ra-
diação solar e de animais e plantas que podem lhe causar injúrias. 
42
Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Por exemplo, formigas, aranhas, escorpiões, pernilongos, plantas 
urticantes etc.
Dica importante:
► Sugiro sempre cobrir a boca da calça com a meia ou apertá-la com 
um elástico. Pense como um escorpião que está no solo, vendo 
um tênis e uma calça comprida acima dele: “Oba! Um morrinho 
para subir e entrar num túnel escuro, úmido e quentinho... Que 
beleza!”. Pois foi exatamente isso que aconteceu com minha espo-
sa, quando estávamos no campo. Por sorte, ela não foi picada. De 
fato, foi muita sorte, pois estávamos a mais de 100 quilômetros de 
distância de um hospital razoável.
As cores das roupas usadas pelos pesquisadores, no campo, tam-
bém são de grande importância, pois, como veremos mais à fren-
te, elas podem influenciar no comportamento do animal observa-
do, estimulando ou inibindo comportamentos.
u) Calçados – A importância deste item deve-se ao fato de que, no 
campo, o pesquisador é obrigado a caminhar grandes distâncias e a 
permanecer muito tempo em pé. No laboratório, o pesquisador per-
manecer parado por um longo tempo. Por isso, é muito importante 
que você perceba como os calçados ou as roupas influem em sua 
circulação sanguínea.
Dicas importantes:
► Botas e perneiras são importantes proteções contra serpentes.
► Talco mentolado nas botas afasta carrapatos.
v) Proteção para a cabeça e para a pele – Chapéu, boné ou mesmo um 
guarda-sol pode ser necessário, dependendo do grau de exposição à 
luz ao qual você estiver sujeito durante seu estudo.
Dica importante:
► Embora isto nada tenha a ver com o vestuário, se você for traba-
lhar nos trópicos, é bom reservar dinheiro para comprar muito 
protetor solar (FPS de 30 para cima).
w) Traje de mergulho – Aqueles que vão trabalhar em ambiente aquá-
tico provavelmente precisarão de trajes de mergulho feitos de neo-
Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
43
prene com, pelo menos 4 milímetros de espessura, pois os riachos 
tropicais são muito frios. Dê preferência ao traje azul-escuro ou pre-
to, pois essas cores apresentam menor influência no comportamento 
dos peixes.
Materiais Diversos e Equipamentos de Laboratório:
Há uma grande diversidade de materiais que podem lhe ser úteis, des-
de produtos químicos até pequenos utensílios domésticos.
x) Produtos químicos – Álcool etílico, éter sulfúrico, água oxigenada, 
acetona, formol, ágar-ágar e detergente são produtos muito usados 
em comportamento, principalmente com a função de acondiciona-
mento e preservação de materiais coletados.
y) Recipintes – Potes de vidro e/ou plástico, desde diminutos tubos 
eppendorf, potes coletores para exames laboratoriais de urina e fe-
zes, até grandes sacos de plástico e pano podem ser úteis para acon-
dicionar e transportar animais do campo para o laboratório.
Mais uma vez o bom senso deve imperar. Como o que mais coleto 
são pequenos artrópodes, prefiro potes plásticos de acrílico transpa-
rente com tampa de pressão, pois são muito duráveis, leves, de fácil 
manuseio e permitem um exame detalhado do animal em seu inte-
rior. Muitas vezes, podemos fotografar partes do corpo do animal, 
através do pote.
z) Utensílios de laboratório – Placasou discos de Petri, bandejas plás-
ticas, lâminas de vidro, algodão hidrofílico, algodão hidrofóbico, al-
finetes entomológicos, etiquetas, papel vegetal, papel de filtro, placas 
de isopor e canetas especiais (para escrita em plástico, vidro e metal) 
são coisas básicas que sempre me ocorrem na montagem de um la-
boratório, ou quando tenho que comprar material de consumo para 
manutenção.
Alguns equipamentos podem ser fundamentais para a realização de 
um bom trabalho.
● Estereomicroscópio – Ter um bom estereomicroscópio (lupa 
de mesa) é de fundamental importância para a observação de 
detalhes de partes dos corpos dos animais, ou do comporta-
mento de animais pequenos, como formigas e pseudoescor-
piões. Este equipamento, assim como o microscópio óptico, é 
imprescindível para a fase de identificação de material animal 
e vegetal. Para você identificar a espécie com a qual trabalha, 
44
Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
ou alguma espécie de interesse para o seu estudo, você terá 
que lidar com chaves de identificação que vão de ordens e fa-
mílias, até gêneros, espécies e, algumas vezes, subespécies.
As estruturas que separam os animais podem ser muito pe-
quenas, como um detalhe na asa de um besouro, ou um pelo 
diferente no dorso de uma abelhinha. Como estes equipamen-
tos costumam ser muito caros, os pesquisadores só conseguem 
adquiri-los através da ajuda de órgãos governamentais de fo-
mento à pesquisa. Se você não tem, mas precisa de um deter-
minado equipamento, peça a ajuda de colegas de um laborató-
rio que tem o equipamento e ofereça sua colaboração. Lembre-
se de que uma mão lava a outra e é dando que se recebe.
● Balança analítica de precisão – Ter uma balança analítica de 
precisão, com até três casas decimais abaixo do zero, é sempre 
bom. Mesmo para quem for trabalhar com ursos, pode haver 
a necessidade de se pesar e quantificar pequenas sementes de 
gramíneas, eventualmente encontradas em suas fezes. No caso 
de pequenos peixes, anfíbios, passarinhos, artrópodes, dife-
renças mínimas no peso dos animais podem trazer importan-
tes informações sobre seu comportamento.
Há ainda alguns outros equipamentos que eu gosto de ter sem-
pre à disposição, pois eles podem apresentar usos diversos.
● Aquário / terrário – Além de servir para acondicionamento 
de peixes, um aquário pode ser facilmente convertido em um 
terrário. É um recipiente barato, portanto não entre nessa de 
pagar caro e prefira o “faça você mesmo”. A vida é para ser 
divertida. Veja bem: o que é um aquário além de cinco lâminas 
de vidro e um tubo de cola de silicone unidos com muita paci-
ência e capricho?
O mais importante é como você vai montar o aquário. Há mui-
tas dicas sobre isso em revistas e livros de aquariofilia. Eu sem-
pre montei aquários muito simples e que quase não me dão 
trabalho com manutenção:
1) Uma placa perfurada no fundo, com um tubo plástico, 
onde entra uma bomba submersa (o chamado filtro bio-
lógico) vai puxar a sujeira para o fundo.
2) Cubra a placa com uma camada de lã de vidro ou manta 
acrílica, depois cascalho fino, areia fina e lavada, casca-
lho fino e cascalho grosso, nessa ordem, de baixo para 
cima. Coloque plantas verdadeiras – nada de plástico. 
Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
45
Vallisneria spiralis é uma ótima opção, por ser uma plan-
ta muito resistente. Está pronto o seu aquário (figura 
2.6).
Dicas importantes:
► Muito barulho de bomba de ar e muita iluminação podem causar 
estresse excessivo nos animais. Por isso, a bomba e a iluminação 
devem ser ligadas por pouco tempo, o suficiente para puxar a 
sujeira para o meio das pedrinhas.
► Dois banhos de luz, de duas horas por dia, costumam ser sufi-
cientes.
Se você pegar este mesmo aquário e, em vez de enchê-lo de água, 
colocar nele folhas secas, algumas pedras e galhos e um pouco de 
areia fina no fundo, poderá transformá-lo em um terrário para 
lagartos e aranhas, por exemplo. Esse terrário pode ainda ser um 
excelente microestúdio fotográfico para fazer registros de insetos 
e outros animais que, no campo, fugiriam.
iluminação
Cascalho fino e grosso
areia
Cascalho fino
Manta acrílica
Placa perfurada - base do filtro
Figura 2.6. Esquema geral para montagem de um aquário simples, básico. Mo-
delo para estudos com água doce.
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Se, de alguma maneira, insetos estiverem envolvidos em seu estudo, 
montar uma coleção de insetos é muito bom. Há inúmeros livros de entomo-
logia, escritos ou traduzidos para as mais diversas línguas ensinando como 
fazer isso5. É bem simples: basta uma caixa de madeira (30cm de largura, 
45cm de comprimento, 7cm de altura) com uma tampa de vidro. No interior, 
uma placa de isopor (1cm) que cubra todo o fundo servirá para o iniciante 
fixar os animais coletados, que devem ser montados da forma correta5. Visite 
uma coleção de insetos em um museu de zoologia perto de você, quando tiver 
a oportunidade. É muito interessante.
Muitos outros utensílios e equipamentos poderiam ser descritos aqui 
como ferramentas básicas para o estudo do comportamento animal. Como já 
foi dito, use seu bom senso: não adquira todos os materiais de uma só vez. 
Veja antes o que você vai precisar e peça dicas a colegas mais experientes.
Há ainda uma ferramenta que, sem ela, você não fará nada. Ela se cha-
ma curiosidade! Ser curioso é fundamental para ser um bom biólogo, um ex-
celente etólogo e um ecólogo comportamental de primeira linha. Curiosidade 
pode ser treinada, portanto treine essa sua capacidade. Como? Saia da frente 
da televisão, de seu amado computador, fuja dos convites de páginas de bate-
papo. Leia mais, converse mais com os colegas. Vá bater papo de verdade com 
amigos, cara a cara e preste atenção nos movimentos, nos detalhes, nos dife-
rentes sorrisos, nas nuances. Vá ao campo, a um parque, a um quintal florido. 
Feche os olhos e tente ouvir, tape os ouvidos e tente enxergar mais longe, tente 
sentir os cheiros das flores à distância. Se você quer ser um ecólogo compor-
tamental do primeiro time, você precisa ser uma pessoa curiosa, atenta aos 
detalhes e paciente. Isto vai inclusive aumentar suas percepções humanas.
2.3. Conhecendo o objeto de estudo
Muito bem, estamos caminhando em nosso aprendizado. Até aqui, já 
vimos:
þ um pouco da história do Comportamento Animal, da Etologia e da 
Ecologia Comportamental;
þ que é muito importante ser curioso e gostar do que se vai estudar;
þ que existem algumas regrinhas básicas, tais como o uso correto de 
alguns termos;
þ que há um monte de materiais simples, baratos que podem ser muito 
úteis;
þ que uma pessoa comum, curiosa, estudiosa e dedicada pode se ani-
mar a fazer um bom trabalho de pesquisa em comportamento.
Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
47
Neste capítulo, vou continuar chamando sua atenção para alguns pon-
tos muito básicos, mas que muita gente esquece e acaba, desnecessariamente, 
passando por dificuldades, quando vai realmente iniciar seu estudo. Um des-
ses pontos básicos é que, após escolher qual será seu objeto de estudo, animal 
ou grupo de animais, você precisa se familiarizar com a anatomia e também 
com comportamentos comuns do grupo a ser estudado. Como você pretende 
descrever o comportamento de um animal se você não sabe os nomes corretos 
das diferentes partes do corpo desse animal? Vejamos a seguinte descrição: 
“Um Diptera, Sepsidae, pousou sobre o ramo mais apical da planta, tocando 
com os tarsos do primeiro par de pernas nos nectários extraflorais. A seguir, 
o animal dobrou as tíbias anteriores e apoiou o clípeo sobre a base do nec-
tário”. Muito bem, o problema já começa se eu não sei o que é um Diptera 
(moscas, mosquitos,pernilongos). Se não sei como é um espécime da família 
Sepsidae, pode complicar, pois há moscas enormes, de mais de 7 centímetros 
de comprimento, e um Sepsidae pode ser menor que um pernilongo. Tenho 
que saber também o que é um trocanter, uma tíbia, um tarso, um clípeo etc. 
Tenho que estar familiarizado com os nomes das partes do corpo do animal, 
para poder descrevê-lo (figura 2.7).
Figura 2.7. Desenho esquemático de um Diptera: Sepsidae com os nomes de 
algumas das partes de seu corpo.
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Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
Dependendo do estudo que você está fazendo, não apenas os nomes 
das partes do corpo do animal que você estuda serão suficientes. Se esse ani-
mal vive em plantas (dentro de uma flor, por exemplo), você precisará saber 
os nomes das diferentes estruturas florais.
Se você estiver no campo ou no laboratório, observando e descrevendo 
um comportamento e, num determinado momento, não se lembrar do nome 
de alguma estrutura necessária para sua descrição, faça um desenho esque-
mático do animal e marque a estrutura em questão. Saber desenhar é uma 
arte, um dom que pode ser aprimorado. Mesmo que você não tenha esse dom, 
nada o impede de fazer um esquema, um esboço que lhe permita lembrar a 
forma e localização de uma estrutura, para depois registrá-la adequadamen-
te na sua descrição. Conheço algumas pessoas que desenham relativamente 
bem, mas não sabiam disso, simplesmente por nunca antes terem tentado. 
Tente! Quem sabe, você não é uma dessas pessoas?
Qual o horário de atividade do animal que você pretende estudar? Esta 
é outra importante questão. Você precisa saber disso para saber em que horas 
irá para o campo e para ter uma ideia mais clara do tipo de material que vai 
precisar.
O animal que você pretende estudar apresenta algum tipo de sazona-
lidade? Ou seja, ele fica mais ativo em um determinado horário do dia, mais 
do que em outros? O tipo de alimento preferido varia com a época do ano? 
Quanto tempo ele vive? Quanto tempo ele demora para atingir a vida adulta? 
Qual a razão sexual (machos x fêmeas) da espécie? Ele tem um período espe-
cífico para se reproduzir? Há muita diferença entre o tipo de vida dos jovens 
e dos adultos? Ele pode migrar?
Imagine uma lagarta de borboleta e uma borboleta adulta... Quanta di-
ferença!
Dessa forma, toda e qualquer informação disponível na literatura 
existente vai ser importante, mas algumas delas você mesmo terá que des-
cobrir.
Quando, onde e o que estudar! 
2.4. Familiarizando-se com o animal e com o ambiente
Entre estudar no campo e em laboratório, há quem prefira mil vezes o 
campo, quem não queira sair do laboratório por nada deste mundo e quem 
se dá bem nos dois ambientes. Nos estudos de comportamento, mesmo que 
você não goste, que não se sinta muito bem em um ou outro ambiente, tan-
to o laboratório, quanto o campo, poderão trazer respostas complementares 
Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
49
ou confirmações definitivas para suas questões. Por isso, é bom ter a men-
te aberta para a possibilidade de explorar um local de trabalho no qual, a 
princípio, não se sinta muito confortável. Muitos alunos que já foram para 
excursões de campo comigo abominando a ideia de ir ao campo, acabaram 
gostando. Muitas vezes, esqueceram as dificuldades e se admiraram com as 
belezas a sua volta (figura 2.8). Mas o oposto também ocorre e até com certa 
frequência.
A B C
D E F
Figura 2.8. No alto, pesquisadores em um barco observando botos, trabalhan-
do com biologia de polinizadores e escavando um ninho de formi-
ga. Abaixo, a paisagem à frente dos pesquisadores, no momento 
em que executavam seu estudo de campo.
Uma coisa muito importante é você não trabalhar com limitações pes-
soais. Se não gosta mesmo de trabalho de campo, ajuste seu interesse às con-
dições de estudos manipulativos em laboratório. Se não tolera ir ao campo 
à noite, fica com sono, ou tem receio, fobias, não lute contra suas limitações 
individuais, se elas forem fortes. Isso só lhe trará sofrimento e problemas para 
seu estudo (possivelmente falhas). Se não sabe nadar, evite os rios, lagos e o 
alto mar. 
As mesmas ponderações que faço em relação ao ambiente de trabalho 
também valem, ainda com mais propriedade, para o objeto de estudo. Veja as 
fotos a seguir (figura 2.9).
50
Introdução à Ecologia Comportamental ♦ um manual para o estudo do comportamento animal
A B C
Figura 2.9. A. Lagarta de borboleta se alimentando em folha de Polteria 
ramiflora (Sapotaceae). B. Aranha migalomorfa. C. Cascavel (gê-
nero Crotalus).
Você imagina que tem gente que morre de paixão pela caranguejeira 
da foto central? Pois é, tem maluco pra tudo nesse mundo, não tem? Mas se 
você é como eu, e tem medo só de olhar para a foto, porque vai inventar de 
trabalhar justamente com o comportamento dessas aranhas? Esta aí era maior 
que a minha mão! Tirei a foto para um aluno que queria muito. Ao me deitar 
ao lado da aranha, pedi que ele ficasse com um pedaço de pau na mão, pronto 
para evitar que ela se virasse para mim. Eu disse a ele: “Se ela pular em mim, 
eu mato você depois!”.
Não lute contra suas limitações individuais, quando elas são muito for-
tes – não vai dar certo. Você vai ter medo, receio, ou nojo e não vai conseguir 
registrar os dados com a mesma facilidade, paciência e determinação que fa-
ria com um animal que não lhe causa nenhum transtorno, ou pelo contrário, 
que lhe cause prazer. Isto é o que você deve procurar. Se você sente atração ou 
curiosidade pelas cascavéis (figura 2.9), vá em frente! Devem ser animais fan-
tásticos. O importante é que você se sinta bem, confiante, que goste do animal 
e do ambiente no qual estuda. Isto é fundamental para o desenvolvimento de 
um bom estudo.
Problemas físicos e limitações pessoais também têm que ser bem tra-
balhados. Se você tem problemas na coluna, como vai ficar sentado por muito 
tempo, em uma mesma posição? Você deve procurar um trabalho de campo 
ou laboratório que não tenha esta exigência, ou que, de tempo em tempo, per-
mita uma pausa. Se você não enxerga bem, ou não escuta bem, vá ao médico, 
procure resolver o assunto antes de iniciar seu estudo. Em geral, para tudo 
há uma saída, na maioria das vezes, mais simples do que imaginamos. Seja 
flexível em suas escolhas: a vara que verga mas não se parte é a que perdura.
Para poder fazer um bom estudo, você deve examinar previamente as 
condições climáticas do ambiente natural onde vai trabalhar. Procure saber 
se há condições que exijam algum cuidado especial. Características simples 
do clima, comuns, como uma brusca virada de tempo, com queda de tempe-
Parte 2 ♦ Guia introdutório ao comportamento animal
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ratura acentuada, ou com pancadas de chuva, já podem prejudicar muito seu 
esforço de campo. Uma ida ao campo mal planejada pode resultar em frus-
tração, em gasto financeiro desnecessário e mesmo em acidentes. Eu sempre 
procuro saber se há possibilidade de chuvas fortes, a que horas o sol vai nas-
cer e se pôr, quais são as características fenológicas da vegetação, no período 
do estudo. Vou explicar: na savana tropical, por exemplo, na estação seca, há 
poucas plantas disponíveis para consumo pelos herbívoros, há poucos insetos 
no campo, os mamíferos e aves ficam mais expostos e você consegue enxergar 
longe na vegetação, pois ela fica aberta. Podem também ocorrer incêndios, o 
que é um grande problema e perigo. No sul da Austrália, os meses de janeiro 
e fevereiro têm sido terríveis, nesse sentido. Na estação chuvosa, a paisagem 
muda completamente nas savanas. No Brasil, dentro de uma savana típica, 
fica quase impossível você enxergar além de três ou quatro metros. As plan-
tas ficam cheias de folhas verdes, há muitos insetos, o calor é intenso e você 
ouve, mas não vê as aves. Enfim,

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