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• CAPÍTULO 4 • Integração e blocos A •econormcos __ ~~. • ~ ._ - . .• -A, ~ • 4.1 INTRODUÇÃO A COOPERAÇÃO ECONÔMICA ENTRE PAÍSES tem aumentado com a conscientização da necessidade de desenvolvimento dos países menos desenvolvidos, com a interdependência entre as economias resultante da crescente liberalização dos mercados. Após a implementação da Or- ganização Mundial do Comércio em 1995, a economia mundial sofreu mutações bruscas e por vezes imprevisíveis, quase sempre reflexo de crises financeiras - principalmente as asiáticas a partir de 1997.No en- tanto, a liberalização do comércio não parou de se intensificar - não somente no que diz respeito aos produtos, mas também com relação a serviços -, levando ao incremento dos processos de integração econô- mica regional. As crises financeiras - de 1990 até 2008 Crise doMéxico (1994) OMéxico, a partir de 1985, efetua uma série de reformas, intensificadas a partir de 1988 com a abertura da economia à competição internacio- nal, a privatização e desregulamentação, a taxa de câmbio nominal pre-determinada, o acordo celebrado com o patronato e sindicatos. A modificação efetuada no sistema cambial mexicano apreciou o peso mexicano em face do dólar e encorajou as importações, prejudicando a competitividade das indústrias nacionais e conduzindo a um déficit na balança corrente que atingiu 8% do PIB em 1994. Em dezembro de 1994, com a posse do presidente Zedillo, foi determinado que o peso pudesse oscilar em uma banda de 15%; tendo paralelamente aumentado a taxa de juro do Federal Reserve Board de 3,25% a.a. para 5,50% a.a., levando à fuga de capitais estrangeiros. Em 1995, o peso desvalorizou-se 50% em relação ao dólar, o PIB diminuiu 6,2% e a taxa de inflação foi de 52%. Os salários reais caíram, o desemprego e as taxas de juros aumen- taram, agravando o endividamento das famílias. Somente em 1995, a cooperação internacional encabeçada pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, aportou um auxílio de 47.750 milhões de dólares, repartido pelos Estados Unidos, pelo FMI e por outros bancos, e conse- guiu aliviar a crise. As crises asiáticas Os países asiáticos apresentaram, a partir dos anos 1960, taxas de cresci- mento elevadas rondando os 8%. Omodelo de desenvolvimento adotado baseou-se em captações de poupança por meio de taxas elevadas, atrati- vidade do investimento estrangeiro, câmbios fixos, com moedas ligadas ao dólar, políticas governamentais interventoras e forte predomínio das exportações.' A crise asiática, que teve por base a movimentação de capi- tais, começou na Tailândia em 1997, país que atraía grande quantidade de capitais estrangeiros, mas apresentava déficits sistemáticos na balan- ça comercial de cerca de 5% do PIB. A subida do dólar e a depreciação do iene japonês, em 1995, fizeram com que os produtos tailandeses perdes- sem a competitividade nos mercados internacionais. O banco central continuou com a política de câmbio fixo, fazendo, em 1997, com que o déficit corrente chegasse a 8% do PIB. Diante da instabilidade gerada, os capitais estrangeiros deixaram de ingressar no país. A moeda tailandesa chegou a perder 50% do seu valor em face do dólar. As restantes econo- mias asiáticas foram rapidamente contagiadas e as moedas da Indoné- sia, Malásia, Filipinas, China (Formosa) e Cingapura também sofreram grande desvalorização. A crise da Rússia Como resultado da transição político-econômica resultante do des- membramento da União Soviética, o Fundo Monetário Internacional preconizou para a economia um tratamento de choque em que os pre- ços seriam liberalizados, a moeda (rublo) convertível e a planificação central da economia abandonada. Em 1997, embora a economia russa apresentasse sinais de estabilização e a inflação estivesse controlada , MEDEIROS, Eduardo Raposo. Economia internacional. 7. ed. Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 2003. em 11%,o crescimento anual do PIB foi de somente 1%. Em 1997 veri- ficam-se os primeiros sinais de instabilidade com quedas elevadas na bolsa. Em 1998 o governo e o banco central reconhecem a crise, alar- gam a flutuação do rublo que se desvaloriza e suspendem o pagamen- to da dívida interna; os rendimentos reais caíram e o sistema bancário estava descapitalizado. A desvalorização de 1999 Mais de 15% das exportações brasileiras eram direcionadas à Ásia. Com a crise asiática, houve uma brutal diminuição das importações e com a depreciação das moedas asiáticas a competitividade empresarial aumen- tou, provocando diminuição nas cotações das matérias-primas. Também a crise russa afetou o país, tendo impulsionado a fuga de capitais (no se- gundo semestre de 1998 saíram do Brasil cerca de 45 bilhões de dólares). Em janeiro de 1999, o governo instaura a política de flutuação cambial e o real desvaloriza-se 60%. Foram então implementadas medidas de ajus- tamento e o Brasil tornou a crescer. A crise argentina A lei da convertibilidade de 1991 dolarizou a economia (associou o peso argentino ao dólar) e aplicou a política de câmbios fixos. Oplano da convertibilidade pressupunha um orçamento superavitário, um elevado aumento das exportações e uma grande entrada de capitais estrangeiros resultante das privatizações. No entanto, a partir de 1994 alguns elementos preocupantes começam a surgir, como o déficit na balança comercial e o aumento do desemprego, dando sinais de vul- nerabilidade, provocando desconfiança e afugentando investidores estrangeiros. Somente em 2002 o Congresso argentino aprova a Lei da Emergência, que termina com a paridade do peso/dólar e constitui o câmbio duplo (comercial para pagamento de importações essenciais e da dívida externa, e flutuante para pagamento de importações não essenciais e turismo). A crise dos Estados Unidos de 2007 Acrise dos subprímes", já considerada a pior crise mundial desde 1929, foi deflagrada no segundo semestre de 2006 com a elevada inadimplência dos empréstimos hipotecários nos Estados Unidos. Depois do 11 de se- tembro de 2001, o Federal Reserve Board (FED),para controlar os efeitos dos ataques terroristas nos mercados e procurar estimular o mercado imobiliário, decidiu baixar as taxas de juro. Em 2003, a criação de novos empregos e o investimento empresarial apresentavam níveis baixos, ten- do a taxa de juro descido para 1%. Quase ao mesmo tempo, as institui- ções bancárias deixaram de apresentar muitas exigências à concessão de novos empréstimos. Quando o FEDelevou os juros, as famílias ficaram sem capacidade para honrar as dívidas. Essa situação gerou uma crise de confiança no sistema financeiro que conduziu ao desmoronamento dos mercados financeiros e consequentemente a uma crise de liquidez. Os bancos centrais foram obrigados a injetar liquidez nos mercados finan- ceiros para diminuir o impacto da crise em todo o mundo. Numa nova tentativa para controlar a crise, o governo dos Estados Unidos estatizou parte das entidades financeiras que apresentaram maiores prejuízos. 4.2 COOP~RAÇÃO INT~RNACIONAL ~ D~S~NVOLVIM~NTO POR MEIO DA COOPERAÇÃO, pretendem os países reduzir as barreiras existentes a fim de tornar as relações econômicas mais flexíveis. Já nos processos de integração objetiva-se suprimir todas as barreiras e criar um mercado sem fronteiras. A cooperação é possível entre países com sistemas monetários dife- renciados, sistemas tributários diferentes e mesmo com distintas visões sobre organizações empresariais; já a integração somente é possível quando se consegue harmonizar o marco institucional da economia. a Subprimes são créditos à habitação de alto risco que se destinam a uma fatia da população com rendimentos mais baixos e uma situação econômica mais instável. A única garantia exigida nesses empréstimos é o imóvel. As agências de rating classificam esse tipo de crédito abaixo de A-prime, daí o nome subprime. A crescente interdependência entreas diferentes economias, resul- tado da quebra de protecionismos, dos avanços das tecnologias de infor- mação e comunicação em parte responsáveis pelo barateamento dos transportes e comunicações, constitui o eixo central da cooperação e da coordenação das políticas econômicas em nível internacional. A interdependência entre nações materializa-se na forma como de- terminada política aplicada por um país possa afetar outros países. Nes- sa linha, o efeito de políticas macroeconômicas aplicadas pelos países com maior influência nas economias integradas pode se tornar relevan- te, tornando pertinente a análise dos mecanismos de transmissão in- fluenciadores da interdependência. Os principais mecanismos de transmissão que influenciam essa in- terdependência são os que afetam os termos de troca: a renda, a taxa de juro e a taxa de câmbio. » A renda se apresenta como a locomotiva da economia. Em épocas de recessão econômica, as discussões centralizam -se na análise de quais nações ou blocos econômicos- têm as condições necessárias que per- mitam iniciar a recuperação dos outros países. Esse mecanismo de renda começa com o aumento da demanda em determinado país e com o consequente aumento de importações, ocasio- nando aumento de exportações e de demanda no país exportador. » A taxa de juro é determinada em nível mundial, devido à interde- pêndencia cada vez maior das economias. O funcionamento do mecanismo de transmissão da taxa de juro manifesta-se por au- mentos ou diminuições da taxa; um aumento em certo país poderá atrair capital para ele e consequentemente os restantes tenderão a subir sua taxa de juro. 3 Blocos econômicos são grupos de países que acordam facilitar transações comerciais entre si por meio de re- dução de barreiras tarifárias ou não tarifárias. A eficácia desse mecanismo dependerá do grau de mobilidade dos capitais e da perfeita substituição dos ativos e passivos nacionais por ou- tros estrangeiros. » A taxa de câmbio é um mecanismo de transmissão de alcance relati- vo, dado que: • A depreciação ou a apreciação de uma moeda são medidas com relação a outra moeda. • O aumento de competitividade derivado de uma alteração na taxa cambial é, em regra, medido em função da variação da competiti- vidade dos produtos nacionais em face dos similares estrangeiros. O mecanismo de transmissão da taxa de câmbio é negativo, pois se baseia na ideia de que o aumento da competitividade de um país pressu- põe a diminuição da competitividade de outro (um país enriquece en- quanto o outro empobrece].' Dessa forma, a eficácia desse mecanismo dependerá do grau de substituição dos produtos nacionais por estrangei- ros, ou seja, da elasticidade das importações. Em geral, todos os países estão interligados de alguma maneira, seja por acordos formais ou mesmo informalmente por interesses políticos ou econômicos. Os mecanismos de transmissão mencionados funcio- nam comandados pelos mais poderosos e influentes. Cabe aos mais fra- cos encontrar meios que permitam seu desenvolvimento; tarefa difícil, mas não impossível. 4.3 A INTEGRAÇÃO E OS INDICADORES DE INTERNACIONALlZAÇÃO Ao ESTUDAR AS POLÍTICAS DE LIBERALIZAÇÃO DO COMÉRCIO e de in- tegração econômica ocorridas na Europa e na América Latina, Balassa- , Por vezes denominada política de empobrecimento do vizinho. S BALASSA,Bela. The changing pattern of comparative advantage in manufactured goods. Review ofEconomics and Statistics, v. 61, n. 2, p. 259-66, mai. 1979. deduz que elas induzem à abertura econômica dos países e à alavanca- gem do comércio intraindustrial. 6 Uma maior integração conduz, em regra, a um maior grau de abertu- ra das economias perante o exterior "dependendo de numerosos fatores, envolvendo, com certeza, o elemento doutrinário entre o livre-cambis- mo e o protecionismo'", que pode ser apresentado de acordo com a se- guinte equação, indicativa do Graude Abertura Total (GAT): Grau de Abertura Total (GAT) ~ ~xportação + Importação PIB Grau de Abertura Parcial (GAP) ~ bportação da produção i = ~ Valor total da produção i Vi Explicando o tipo de internacionalização dos países, Balassa intro- duziu o Índice geral de Bela Balassa (IBB),que exprime a relação entre o saldo da balança comercial e as trocas comerciais globais. Valores pró- ximos de ± 1 indicam uma especialização unívoca, respectivamente ex- portadora e importadora. Em que: X = Exportações totais M = Importações totais Quando o índice se aproxima de (+1), ou seja [Xi - Mi, próximo de Xi +Mil. representa um grande grau de especialização intersetorial (ex- portações do produto i notáveis e importações pouco significativas). 6 o conceito de comércio intraindustrial foi introduzido por Bela Balassa na época da criação da Comunidade Econômica Europeia e pode ser definido como aquele em que os bens comercializados no exterior são substi· tuídos no seu consumo, na sua produção ou em ambos por outros, idênticos, importados. 7 MEDEIROS,2003. No caso de o índice apresentar valores próximos de (-1), o país em ques- tão terá fraca especialização no produto i e Xi tenderá a zero. Outro indicador utilizado na medição do comércio intraindustrial é o representado pelo Índice das Vantagens Comparativas Relevadas de Balassa. O IVCR; é definido do seguinte modo: Xij IVeR; = tvlij Xj tvlj Em que: Xij = Exportações do produto (i) pelo país (j) Xj = Exportações totais do país (j) Mij = Importações do produto (i) pelo país (j) Mj = Importações totais do país (j) Nessa conformidade, o país (j) tem vantagens comparativas no que diz respeito ao produto (i) quando a taxa de cobertura Xij/Mij for supe- rior à taxa de cobertura global (Xj/Mj), ou seja, quando o índice apre- sentar valor> 1. Em outra formulação do Índice de Vantagens Comparativas (IVCR;(2))'Balassa nos sugere a seguinte equação para determinação do índice de vantagens comparativas reveladas: [ Xi - tvli 2: Xi - tvliJ IVeR;(2) = . . - '" x 100 XI + t-n L.. Xi + r-n Em que: Xi = Valor da exportação de produtos (i) Mi = Valor da importação de produtos (i) Por essa forma é demonstrada a situação relativa em que se encon- tram, em cada ano, o produto ou grupo de produtos examinados (i) quanto ao correspondente total do país. Se a diferença relativa entre exportações e importações coincidir com o comércio total, o índice será igual a zero; no caso de ser maior, o índice será positivo (esse produto revela uma vanta- gem comparativa); em caso contrário, o resultado será negativo (desvanta- gem comercial). Um bom indicador que mede o efeito quantitativo global da proteção é dado pela evolução da taxa de abertura, expressa pela relação: TA = Importações PIB Estão incluídos nesse indicador "os obstáculos não pautais, o que não isola o grau de protecionismo, pois a taxa de abertura é influenciada pela dimensão econômica do país em causa, e pela sua própria estrutura econômica"." Uma determinação da tendência da TA indicará, no entan- to, a dinâmica das políticas protecionistas do país, podendo em certos casos indicar uma crescente falta de controle nas exportações. No caso do Brasil, a evolução dos índices GATe TApode ser observa- da no gráfico a seguir (Figura 4.1). Ao analisar a evolução do Grau de Abertura Total (GAT)da economia brasileira, verifica-se uma tendência crescente de abertura, e a partir de 1998 um grande impulso na interna- cionalização da economia." Também se observam, a partir de 2000, um deslocamento da taxa de abertura GAT em relação à TA proporcionada pelo aumento das exportações, e um decréscimo da TA (apartir de 2004) que poderá estar indicando um abrandamento da política protecionista ou muito provavelmente um menor domínio pela empresa brasileira dos circuitos de comercialização no exterior." 6 MEDEIROS.2003. p.131. 9 A partir de 1997/1998. verifica-se um aumento no ritmo das privatizações. '0 SOUSA.JoséMeireles. Análise de compatibilidade empresa/mercado de exportação com base na comparação dos índices de Bela Balassa. São Paulo: Revista de Administração Mackenzie. ano 6. n. 1. 2005. FIGURA 4.1 - GRAU DE ABERTURA DA ECONOMIA BRASILEIRA 40,0% 5,0% - 0,0% ~ - 25.0% ../ /' ... - ~---- ~------..•. , -0,0% -.........- ,..-•.. - -" 15.0% .-.~ - --~- -10,0% 5,0% 0,0% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 I GAT 7,0 6,3 6,9 6,8 8,4 8,6 10 9,4 8,7 9,5 8,3 8,5 9,3 I TA 13 12 12 12 16 17 20 21 21 24 21 21 21 3 3 - GAT - - - TA Medeiros", citando Bela Balassa", ao considerar os fatores mais im- portantes que influenciam o comércio intraindustrial nas relações bila- terais entre os países destaca os seguintes: Rendimentos per capita altos conduzem a um intenso comércio intrain- dustrial, pois consumidores são atraídos por produtos mais sofisticados. 11 As distâncias desencorajam o comércio intraindustrial, dados os custos de transporte. 11I A diferenciação de produtos dentro do mesmo setor tem efeito positi- vo para situações de concorrência monopolista; já a concentração industrial pode ter efeitos perversos diante da tendência de padroni- zação que leva à especialização, mas afeta o comércio intraindustrial. IV A produção multinacional pode anular efeitos, pois desloca o co- mércio (produzindo localmente), mas também importa produtos intermediários. u MEDEIROS, 2003. ra BALASSA,1979. v Os direitos aduaneiros e outros obstáculos têm efeitos fracos no co- mércio intraindustrial. Nesse sentido, Dominick Salvatore" afirma que o comércio intrain- dustrial reflete a vantagem comparativa adquirida, contrariamente ao comércio interindustrial que reflete a vantagem comparativa natural. Em processos de integração econômica, os mercados ficam liberali- zados e as vantagens comparativas só terão sentido se forem aproveita- das por quem as controla e não pelo país que as detém. 4.4 OS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO A DIMINUIÇÃO DE OBSTÁCULOS ao comércio também é consequência dos processos de integração econômica, mediante os quais vários países tentam formar um único mercado de maiores dimensões para seus pro- dutos, como é o caso do Mercosul. A integração econômica não é um fenômeno moderno; muitos paí- ses europeus se constituíram graças a um processo integrado r (aAlema- nha nasceu como resultado de uma união aduaneira). Na atualidade, a análise da integração econômica torna-se matéria relevante em face da proliferação de processos integradores e de experiências de integração com diferentes resultados. A integração inicia-se pela redução de tarifas de importação e outras barreiras quantitativas e termina com a criação de uma moeda única e a unificação política e econômica. Podem ser distinguidas cinco fases no processo de integração. 4.4.1 Formas de integração Os processos de integração são, em regra, sequenciais, partindo de for- mas simples resultantes de acordos bi ou multilaterais a soluções de in- tegração total, política e econômica, entre diversos países. ia SALVATORE, Dominick. Economia internacional. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. Analisaremos as fases do processo de integração partindo dos acordos preferenciais, passando pelas zonas de livre comércio, uniões aduaneiras, mercados comuns, união monetária, união política e eco- nômica até a fase de maior integração, a integração total ou confedera- ção. Outros autores, como Bela Balassa, consideram que o fenômeno da integração se desenvolve em cinco fases sucessivas de integração econômica: Fase I - Zona de Livre Comércio; Fase 11- União Aduanei- ra; Fase III - Mercado Comum; Fase IV - União Econômica; e Fase V - União Econômica Total. o índice do país (i) para o produto (j) será: RCAij = (Xij) x (Xi!) x 100, em que: XWJ Xw! Bela Balassa (1928-1991) nasceu na Hungria, estudou comércio exte-rior na Hungria e doutorou-se em direito e ciências políticas pela Universidade de Budapeste. No campo da literatura econômica, distin- guiu-se no âmbito da integração econômica, que define como processo e como situação: "Encarada como processo implica medidas destinadas à abolição de discriminações entre unidades econômicas de diferentes Es- tados; como situação pode corresponder à ausência de várias formas de discriminação entre economias nacionais", Bela Balassa, apud Medeiros (2003, p. 98). É ainda conhecido pelo chamado índice de Balassa, que mede a performance das exportações, por país e por indústria, definindo a porcentagem que o país detém nas exportações mundiais do bem sobre o total das exportações mundiais. Xij é exportador pelo país (i) (w = mundo) do bem (j) (t = total dos bens). 4.4.2 Acordos preferenciais ou preferências aduaneiras O sistema de preferências aduaneiras é baseado no conceito de que um conjunto de países concede entre si uma série de preferências aduanei- ras não extensíveis a terceiros países. Esse tipo de acordo prevê a suspen- são da cláusula da nação mais favorecida dos acordos do GATTem que está prevista essa exceção. Exemplos de zonas de preferências aduaneiras são as áreas preferen- ciais da Commonwealth britânica", os territórios da União Francesa (Ter- ritoire d'outre-mer), hoje designados por Collectivité d'Outre-Mer (COM), como é o caso da Polinésia Francesa, Nova Caledônia ou de Mayotte, os acordos de parceria entre os Estados ACP e a União Europeia celebrados em Cotonou [Benin] que sucederam às várias convenções de Lomé, e ain- da os acordos do sistema global de preferências comerciais (SGPC), de que o Brasil é parte interessada. 4.4.3 Zonas de livre comércio São grupos de dois ou mais países entre os quais se eliminem, para parcela representativa do intercâmbio comercial dos produtos origi- nários da região, os direitos aduaneiros e os demais regulamentos co- merciais restritivos. A fraca estabilidade é característica desse tipo de integração, pois as zonas de livre comércio são criadas como formas transitórias de integra- ção entre as zonas preferenciais e as uniões aduaneiras, e as forças de mer- cado existentes tendem a convertê-Ias em uma daquelas modalidades de integração. A experiência mostra que a formação de zonas de livre comércio so- mente é aplicável a conjuntos de países com graus elevados de desenvol- vimento e homogêneos, pois no momento em que determinado país pre- tenda ampliar suas atividades além dos limites tradicionais enfrenta obstáculos tarifários dos outros países-membros. Tal fato dificulta a par- ticipação dos países com grandes diferenciais no seu desenvolvimento ou menos desenvolvidos, pois seria necessário aplicar tarifários diferen- ciados às importações, o que vai contra esse tipo de integração. É o caso da posição brasileira no Mercosul, que está em período de transição entre a zona de livre comércio e a união aduaneira, pois sendo o país de maior desenvolvimento entre os do bloco encontra obstáculos " Commonwealth é a associação de territórios autônomos, mas dependentes do Reino Unido, criada em 1931 e formada atualmente por 53 nações, a maioria das quais independentes, mas incluindo algumas que ainda mantêm laços políticos com a antiga potência colonial britânica. ao estabelecimento de acordos de livre comércio com outros países fora do bloco. As zonas de livre comércio mais atuantes no mundo são: European Free Trade Association (Efta), hoje constituída por alguns países euro- peus que não pertencem à União Europeia (Islândia, Liechtenstein, No- ruega e Suíça); North America Free Trade Association (Nafta), integrada pelos Estados Unidos da América, Canadá e México; como vimos, o Mer- cosul atualmente é uma integração em processo evolutivo entre a zona de livre comércio e a União Europeia. 4.4.4 União aduaneira Na união aduaneira existe um só território aduaneiro formado pelos países integrantes, de modo que os direitos aduaneiros e demais regu-lamentos comerciais restritivos sejam eliminados e cada um dos mem- bros aplique, ao comércio com os demais países, tarifas e regulamentos comerciais idênticos. A união aduaneira pressupõe a adoção de duas medidas: lª A supressão imediata ou gradual das barreiras tarifárias e comer- ciais à circulação de mercadorias entre os países que a constituem. Essa operação é denominada desarmamento tarifário e comercial. 2ª Estabelecimento de uma tarifa externa comum ante a países tercei- ros; esse é o principal elemento diferenciado r da união aduaneira perante a zona de livre comércio. Nos acordos do GATT,estabelece- -se que os direitos aduaneiros em uma união aduaneira não poderão exceder os praticados por seus membros à época do estabelecimento da união aduaneira. Alguns autores afirmam que também as uniões aduaneiras não são formas de integração estáveis, pois ao se estabelecer liberdade comercial sem barreiras dentro da união aduaneira inevitavelmente aparecerá uma série de problemas ocasionados, entre outros motivos, pelos dife- rentes sistemas monetários e fiscais dos diferentes Estados-membros. Dessa forma, quando consolidada, a união aduaneira implica a har- monização dos elementos que compõem o marco institucional da econo- mia e origina uma união econômica, como será o caso do Mercosul. 4.4.5 Mercado comum Omercado comum consiste em uma união aduaneira na qual os partici- pantes se obrigam a implementar a livre circulação de pessoas, bens, mercadorias, serviços, capitais e fatores produtivos, eliminando toda e qualquer forma de discriminação. O mercado comum poderá alcançar o estatuto de "mercado único" caso se aperfeiçoe eliminando na totalidade as barreiras físicas (alfânde- gas), técnicas (abrindo os mercados públicos de cada país e harmonizando normas técnicas sobre qualidade e certificações) e ainda fiscais (harmo- nizando impostos). 4.4.6 União monetária Oestágio de união monetária pressupõe, de forma adicional aos anterio- res, o controle de inflação e déficits públicos e a aplicação de políticas monetárias comuns, podendo ainda ser criada uma moeda única, com vistas a uma área de estabilidade monetária. O conceito de união monetária refere-se a um espaço econômico em que se implementam três condições: ® as moedas de cada país-membro devem ser convertíveis; ® as taxas de câmbio deverão ser fixadas com caráter irrevogável; @ deverá existir livre circulação de capitais. A centralização das políticas monetárias, a constituição de um ban- co central único e a instauração de uma moeda única são elementos que conduzem a uma maior integração e permitem aproveitar ao máximo as vantagens da união monetária. 4-4.7 União política e econômica A união econômica é entendida como um mercado único no qual bens, serviços, capitais e pessoas podem circular livremente, no qual realiza-se uma série de políticas comuns, destinadas a favorecer o desenvolvimen- to regional e coordenam-se as políticas macroeconômicas dos países. A união política e econômica adiciona à união econômica uma política ex- terna e de defesa comuns. 4.4.8 Integração total ou confederação A integração total ou confederação é o estágio mais avançado de mo- delo de integração político-econômica, consistindo na união econô- mica, política, bem como na unificação dos direitos civil, comercial, administrativo, fiscal etc. Tal estágio ainda não foi alcançado por ne- nhum país no mundo. 4.5 OS REFLEXOS DA INTEGRAÇÃO NOS PAíSES-MEMBROS INDEPENDENTEMENTE DO GRAU DE INTEGRAÇÃO, existe uma série de efeitos - estáticos e dinâmicos - que atingem cada país de forma diferen- ciada. Uma integração econômica pressupõe um tratamento diferenciado entre seus membros e não membros. Como os processos de integração são marcadamente comerciais, especialmente nas primeiras fases, a in- tegração pode provocar mudanças no padrão de comércio entre mem- bros e não membros produzindo dois tipos de efeitos: Criação de comércio - quando se altera a origem de um produto des- de um produtor-membro com uma estrutura de custos elevados até um produtor-membro com custos baixos. 2 Desvio de comércio - quando se altera a origem de um produto de um produtor não membro com uma estrutura de custos baixos a um produtor-membro com altos custos. Além dos efeitos referidos, considerados estáticos, é possível que a economia dos países participantes (políticas econômicas, estruturais) evolua de forma diferente do que aconteceria se não houvesse integração econômica. Vários aspectos estão entre os efeitos referidos e podem alte- rar não somente as trocas comerciais, mas também outros aspectos da economia, tais como: • Ampliação de mercado, potencializando as economias de escala que são resultado de uma maior eficiência baseada na maior dimensão das produções e, consequentemente, permitindo custos médios mais baixos e facilitando a concorrência com produtos similares. • É possível que a integração econômica estimule o investimento ao diminuir os riscos e as incertezas, pois, sendo o mercado maior e existindo livre circulação de fatores, aumentará a eficiência das empresas. • Aumento da concorrência, pois um mercado maior atrairá maior número de empresas e conduzirá a uma melhor percepção pela qua- lidade, à diminuição de preços e à aceleração das inovações, espe- cialmente as de alta tecnologia. • Possibilidade de desenvolvimento de novas atividades praticamente impensáveis no âmbito nacional, como é o caso de grandes obras de infraestrutura, desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia e, principalmente, todas as que requerem elevados investimentos que cada país não conseguiria bancar sozinho. • Aumento do poder de negociação, pois o bloco representa um PIB maior e maior volume de comércio no cenário internacional. • Formulação mais coerente das políticas comerciais, pois ao entrar em processos de integração os países se obrigam a melhorar suas po- líticas econômicas e a realizar uma série de mudanças e transforma- ções da estrutura da economia nacional. Por outro lado, alguns aspectos são negativos e também devem ser considerados, especialmente porque os processos de integração apresentam custos muito antes de evidenciar benefícios. Os principais custos ou aspectos negativos da integração comercial derivam de:" Desigual incidência sobre setores e grupos. Embora o comércio in- ternacional tenha efeitos globalmente favoráveis, não garante que determinados agentes e alguns setores sejam com ele beneficiados. Essa a razão de que em processos de integração (que nas primeiras etapas é essencialmente comercial) existem ganhadores (os setores e empresas mais competitivos do espaço integrado) e perdedores que pouco ganham com as integrações. 11 Ajustes de elevado custo originados pela reordenação do sistema pro- dutivo. Ao ser liberalizado e intensificado o comércio interindustrial, as indústrias nacionais que se mantêm graças a protecionismos de- vem reconverter-se, provocando muitas vezes elevados custos sociais e políticos. Como exemplo, a deslocalização de indústrias de compo- nentes para países com maiores facilidades, logísticas ou de outro tipo, poderá provocar aumento das taxas de desemprego. 11I Integração comercial sem integração econômica. Sempre que um país produz políticas que sejam apercebidas pelos outros membros como negativas, faz realçar a importância da integração econômica em paralelo com a comercial. Como exemplo, a taxação das expor- tações de trigo argentino que provocaram elevações além das nor- mais por alta de preço da commodity nos países importadores como o Brasil. IV Tentativa de adoção de estratégias mais agressivas ou protecionistas nas negociações internacionais - como no caso da União Europeia nas negociações com os Estados Unidos sobre temas como a agricultura ou as telecomunicações. V Perda parcial de soberania. Ao serem exigidas maior harmonizaçãoe coordenação entre as políticas econômicas nacionais, são impostas restrições ditadas pelos países com maior peso no grupo. " REQUEl]O,Jaime. Economia mundial. 3. ed. Madri: McGraw Hill, 2006. Além de possíveis vantagens econômicas que podem ser deduzidas do processo de integração, existem outras razões, sobretudo políticas, que ex- plicam o próprio processo. O argumento principal é o de aumento do peso político do espaço integrado em nível internacional, pois se considera a premissa de que com o avanço do processo integrador o grupo terá maior peso que cada Estado-membro individualmente. Outros argumentos po- dem também ser aduzidos, como é o caso da constituição do Nafta com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do México, frear a corrente migratória para os Estados Unidos e ainda permitir a entrada do poderoso setor de serviços americano no mercado mexicano. 4.6 OS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM MEADOSDO SÉCULOPASSADO,vários países da América Latina manifestaram a necessidade de que uma zona de livre comércio fosse criada. As motivações que levaram a tal desejo foram em grande parte ocasionadas pela constituição da Comunidade Econômica Europeia com uma política marcadamente protecionista e, por outro lado, a revisão no âmbito do GATTdos acordos bilaterais entre países sul-americanos. Efetivamente, no final dos anos 1950 o grau de progresso alcançado pelas indústrias nacionais tornava dificil a concorrência de produtos por elas manufaturados nos mercados dos países desenvolvidos ou de outros países em desenvolvimento. Em face dessa situa- ção, passou a ser considerada a ampliação dos mercados, mediante processos de integração das economias da América Latina como forma de permitir uma maior especialização em escala mais adequada e com melhor organização do desenvolvimento industrial. (... )A formação de um mercado comum abaste- cido principalmente por indústrias localizadas na região permitiria à Améri- ca Latina resolver questões de insuficiência dinâmica, estrangulamentos ex- ternos e esgotamento dos modelos de substituição de importações." is UNESCO·SELA.Guia de Ia Integración de América Latina y el Caribe 1999, Iniciativa UNESCOy Sistema Económi- co Latino Americano (SELAj,Nações Unidas, Washington, 1999, p. 2. Com esse objetivo e a partir dessa época começam a surgir os primeiros acordos de integração regional que iriam evoluir de acordo com as caracte- rísticas políticas e econômicas de cada uma das nações do subcontinente. 4.6.1 A Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) AAssociação Latino-Americana de Integração (Aladi) foi instituída pelo Tratado de Montevidéu, em 12/8/1980, para dar continuidade ao proces- so de integração econômica iniciado em 1960 pela Associação Latino- Americana de Livre Comércio (Alalc). Esse processo visa à implantação, de forma gradual e progressiva, de um mercado comum latino-america- no, caracterizado principalmente pela adoção de preferências tarifárias e pela eliminação de restrições não tarifárias. A Aladi foi constituída com base em características diferenciadoras em relação à Alalc: • O programa de liberalização comercial multilateral da Zona de Livre Comércio foi substituído por um sistema de preferências tarifárias. • O caráter essencialmente comercial da Alalc foi incorporado às me- didas de cooperação econômica. • Embora no tratado anterior fosse reconhecido um tratamento espe- cial para os países menos desenvolvidos da região, na Aladi se incor- porou um sistema integral de apoio a seu favor. A Aladi é o maior grupo latino-americano cuja meta é a integração. É formada por 12 países-membros, representando, em conjunto, 20 mi- lhões de quilômetros quadrados e mais de 500 milhões de habitantes. Os países-membros são classificados em três categorias, de acordo com as características econômico-estruturais:" De Menor Desenvolvimento Econômico Relativo (PMDER) • Bolívia • Equador • Paraguai " MDIC, 2008. • De Desenvolvimento Intermediário (PDI) • Chile • Colômbia • Peru • Uruguai • Venezuela • Cuba • Demais países • Argentina • Brasil • México A Aladi promove a criação de uma área de preferências econômicas na região, objetivando um mercado comum latino-americano, por meio de três mecanismos: • uma preferência tarifária regional, aplicada a produtos originários dos países-membros ante as tarifas em vigor para terceiros países; • acordos de alcance regional (comuns a todos os países-membros); • acordos de alcance parcial, com a participação de dois ou mais países da área. Tanto os acordos regionais como os de alcance parcial podem abran- ger matérias como: desagravação tarifária e promoção do comércio, complementação econômica, comércio agropecuário, cooperação finan- ceira, tributária, aduaneira e sanitária, preservação do meio ambiente, cooperação científica e tecnológica, promoção do turismo, normas técni- cas e muitos outros campos previstos expressamente ou não no tratado. Por isso, pode-se concluir que o Tratado de Montevidéu é um "tratado quadro?" e, por conseguinte, juridicamente, ao assiná-Ia, os governos dos pa- íses-membros autorizam seus representantes a legislar por meio dos acordos sobre os mais importantes temas econômicos de interesse para os Estados. 'S Acordo entre países estabelecendo direitos e obrigações entre as partes, de natureza não muito específica e que devem ser posteriormente regulamentados. Os países qualificados como de menor desenvolvimento econômico relativo da região (Bolívia, Equador e Paraguai) gozam de um sistema pre- ferencial. Por meio das listas de abertura de mercados, oferecidas pelos países em favor dos PMDER,de programas especiais de cooperação (roda- das de negócios, pré-investimento, financiamento, apoio tecnológico) e de medidas compensatórias em favor dos países mediterrâneos, busca-se que esses países participem plenamente do processo de integração. O Tratado de Montevidéu (1980) está aberto à adesão de qualquer país latino-americano, haja vista que em 26/7/1999 a República de Cuba formalizou o depósito do Instrumento de Adesão, constituindo-se no dé- cimo segundo membro pleno em 26 de agosto do mesmo ano. A Aladi abre, também, seu campo de ação para o restante da Améri- ca Latina por meio de vínculos multilaterais ou acordos parciais com ou- tros países e áreas de integração do continente. Contempla, igualmente, a cooperação horizontal com outros movimentos de integração do mun- do e ações parciais com terceiros países em via de desenvolvimento ou suas respectivas áreas de integração. Na estrutura jurídica da Aladi cabem os mais vigorosos acordos sub- regionais, plurilaterais e bilaterais de integração, que surgem, cada vez mais, no continente (Comunidade Andina das Nações, Grupo dos Três, Mercosul etc.). Por conseguinte, cabe à Associação - como âmbito ou li guarda -chuva" institucional e normativo da integração regional- apoiar e fomentar esses esforços a fim de que confluam progressivamente para a criação de um espaço econômico comum. A transformação em Aladi representou o reconhecimento da impossi- bilidade de cumprir compromissos e do fracasso do processo de integra- ção, pelo que a nova estrutura flexibiliza o processo sem se comprometer com quantidades preestabelecidas e com outros elementos, de forma a avançar em segurança para etapas posteriores do processo de integração. 4.6.2 O regime de origem na Aladi Uma das características de maior impacto nas operações de comércio exterior são as regras de origem, que são os critérios de transformação substancial eleitos por países ou blocos para caracterizar a origem das mercadorias. Cada bloco econômico interpreta de forma diferenciada os requi- sitos necessários que os produtos devem conter para ser considerados originários de países exportadores. Quando se trata de aplicar regimes de denominaçãode origem aos produtos que circulam no espaço eco- nômico Aladi, o Regime de Origem da Aladi é mais flexível que o esta- belecido pelo Mercosul, pois nos casos em que o requisito de origem é o valor agregado é permitido que os produtos tenham 50%, no míni- mo, de conteúdo nacional para todos os países, exceto para os de me- nor desenvolvimento econômico, que poderão ter 40%. No Regime de Origem do Mercosul é necessário que o produto apresente 60% de con- teúdo regional. OCertificado de Origem Aladi é emitido pelas Federações de Comér- cio, Indústria e Agricultura e algumas associações comerciais habilita- das na Aladi para tal fim.'? 4.6.3 OPacto Andino Em 1966 os presidentes do Chile, Colômbia, Venezuela, Equador e Peru assinaram a Declaração de Bogotá, em que manifestaram o propósito de criar, no âmbito da Alalc, um mercado sub-regional de forma a poderem se integrar mais rapidamente que os demais países da associação. Em 1969, os países que aderiram à Declaração de Bogotá, com exce- ção da Venezuela que somente se incorporou em 1973, assinaram o Tra- tado de Cartagena, também conhecido por Pacto Andino. Esse acordo previa não apenas a eliminação dos obstáculos aos intercâmbios inter- nos, mas também o estabelecimento de uma tarifa externa comum, a harmonização das políticas econômicas e a coordenação dos planos de desenvolvimento. OAcordo de Cartagena integra três grandes eixos: ,. As entidades credenciadas à emissão de Certificados de Origem Aladi encontram-se relacionadas no docu- mento Aladi/SEC/di n. 180, de 21/6/1997, periodicamente atualizado, no endereço http://www.aladi.org. Harmonização das políticas econômicas e coordenação dos planos de desenvolvimento. Os países do grupo andino desenham uma es- tratégia comum a fim de promover o desenvolvimento da região e reduzir as diferenças entre seus membros. Essa estratégia desen- volveu-se em quatro eixos: regime comum sobre o tratamento dos capitais estrangeiros, reconhecendo a sua importância para o de- senvolvimento do grupo andino; atração de empresas multinacio- nais com maioria de capital pertencente a países do pacto; políticas de fomento industrial; e coordenação dos planos de desenvolvi- mento regional. 2 Programação industrial. Os países-membros se comprometeram a empreender um processo de desenvolvimento industrial mediante uma programação conjunta, aprovando programas integrados de desenvolvimento setorial e planejando novos investimentos e sua lo- calização nos diferentes países-membros. 3 Programa de liberalização, com o objetivo de eliminar as restrições comerciais de todo o tipo relativas aos produtos de importação de qualquer Estado-membro e estabelecer uma tarifa externa comum perante a terceiros países. Nos primeiros anos, os mecanismos previstos no Pacto Andino fun- cionaram satisfatoriamente. Em 1975,porém, começaram a aparecer as primeiras divergências, prejudicando seu funcionamento, resultado das diferentes políticas econômicas da região, agravadas com o abandono em 1976 do Chile, de Pinochet, com a crise econômica dos anos 1970 e os permanentes problemas políticos da região (guerrilha na Colômbia, con- frontaçôes entre o Peru e o Equador). Vários autores destacam que o Pacto Andino foi durante muitos anos um dos esquemas de integração econômica regional que funcio- nou de forma dinâmica. Vários compromissos assumidos levaram muito tempo até serem postos em prática. Em 1993 o grupo finalmente adotou um sistema tarifário comum, embora a criação do mercado único con- tinue adiada. 4.6.4 OMercosul O Mercosul evoluiu de um processo de aproximação econômica entre Brasil e Argentina, iniciado em meados dos anos 1980. Esse processo pode ser descrito na seguinte ordem cronológica: 1° Em 1985,os presidentes do Brasil e da Argentina firmaram um acor- do de integração conhecido como Declaração de Iguaçu. 20 Em 1986, assinou -se a Ata para Integração Argentino- Brasileira, oca- sião em que foi instituído o Programa de Integração e Cooperação Econômica (Pice) entre os dois países. A ata baseia-se nos princípios que mais tarde nortearam o Tratado de Assunção: flexibilidade (que permitiria ajustes no ritmo e nos objetivos), gradualismo, simetria (para que houvesse harmonização de políticas específicas que inter- ferem na competitividade setorial) e equilíbrio dinâmico (que pro- porcionaria uma integração setorial uniforme). 3° Em 1988, assinou-se o Tratado de Integração, Cooperação e Desen- volvimento Argentina-Brasil. Na oportunidade, foram assinados protocolos (perfazendo um total de 24) sobre diversos temas, tais como: bens de capital, trigo, produtos alimentícios industrializados, setor auto motivo, cooperação nuclear, transporte marítimo e terres- tre, entre outros. 4° Em julho de 1990, foi firmada a Ata de Buenos Aires, que fixou para janeiro de 1995 a data do início da vigência de um mercado comum entre os dois países. 50 Em dezembro de 1990, os protocolos acima referidos foram consolida- dos em um só instrumento denominado Acordo de Complementação Econômica (ACE14),firmado entre Brasil e Argentina, que constituiu o referencial adotado posteriormente no Tratado de Assunção. 60 Em 26/3/1991 foi firmado o Tratado de Assunção, entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, para a constituição do Mercado Comum do Sul (Mercosul). 7° Em 4/7/2006 é firmado em Caracas o Protocolo de Adesão da República Bolivariana da Venezuela ao Mercosul. 4.6.4.1 Objetivos do Mercosul O Mercosul é um processo de integração econômica entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, iniciado com a assinatura do Tratado de As- sunção, que tem como objetivo a conformação de um mercado comum, por meio de: • livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos; • eliminação das restrições incidentes sobre o comércio recíproco; • estabelecimento de uma tarifa externa comum; • adoção de políticas comerciais comuns perante terceiros países; • coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais. 4.6-4.2 Os acordos e tratados posteriores ao Tratado de Assunção Com a assinatura do Tratado de Assunção, iniciou-se um processo transitório que culminaria, em 1994, com o estabelecimento de uma zona de livre comércio implicando a eliminação das barreiras tarifá- rias e não tarifárias no comércio das mercadorias entre os países. Nes- sa transição foi estabelecido o Programa de Liberação Comercial, que consistia em reduções tarifárias e eliminação de obstáculos não tarifá- rios ou outros de efeito equivalente que restringissem o comércio en- tre os Estados-membros. O passo seguinte até o objetivo de mercado comum era o estabeleci- mento de uma união aduaneira, que pressupunha que a etapa de integra- ção da zona de livre comércio estaria terminada e seria estipulada uma tarifa externa comum. Nesse sentido, os países-membros assinaram os acordos de Ouro Preto, em 1995, determinando as reformas necessárias à liberalização comercial, à adoção de uma tarifa externa comum, ao esta- belecimento de uma política comercial comum, à coordenação das polí- ticas macroeconômicas e à organização de uma estrutura institucional que permitisse o funcionamento normal do Mercosul. Entre os aspectos citados realçam-se os seguintes pontos: Liberalização comercial. O desmantelamento das barreiras ao comércio entre os países vem seguindo um esquema diferenciado dada a as simetria entre os países-membros. Foram criadas listas de produtos sensíveis, excluídos do programa de liberalização, que viram seus prazos alargados até 1999 (Brasil e Argentina) e 2000 (Paraguai e Uruguai). Embora as barreiras tarifárias na gran- de maioria tenham sido eliminadas, vários obstáculos técnicos permaneceram. • Tarifa Externa Comum (TEC). Embora a tarifa média tenha dimi- nuído com a introdução da TEC,em certos casos as tarifas nos países aumentaram para poder se igualar aos restantes; foram criados perío- dos transitóriospara os bens de capital e de informática. Outros bens ficaram de fora da TEC,como foi o caso do setor auto motivo, que não ficou sujeito a normas comuns, e do açúcar. No entanto, a todos os produtos não afetados pela TEC são aplicadas as regras de origem, com exigência de 60% de conteúdo nacional nas produções comer- cializadas entre países da região integrada. • Elaboração de políticas comerciais comuns. Com essa finalidade foram criados diversos comitês: tarifas aduaneiras, nomenclatura, regras de origem etc. • Coordenação das políticas macroeconômicas. Atualmente ape- nas a política comercial é coordenada, mesmo assim está sujeita a diferentes interpretações que incidem diretamente sobre os fluxos comerciais entre países-membros. • Estrutura institucional. Os acordos de Ouro Preto atribuíram per- sonalidade jurídica ao Mercosul, possibilitando negociações com terceiros países e outros blocos regionais. OMercosul está estruturado da seguinte forma: • Conselho do Mercado Comum. Órgão superior do bloco, formado pelos ministros de Economia e Relações Exteriores que tratam da condução do processo de integração e dos acordos com outros países, organismos e blocos econômicos. • Grupo do Mercado Comum. Órgão executivo do Mercosul, forma- do por técnicos e especialistas em integração. Suas funções são pro- por projetos de decisão do Mercado Comum e fixar programas de trabalho que garantam avanços. • Comissão de Comércio do Mercosul. Órgão de assistência ao Gru- po do Mercado Comum, cujo objetivo é cuidar da aplicação dos ins- trumentos de política comercial. • Comissão Parlamentar Conjunta. Órgão representativo dos parla- mentos dos países do Mercosul. • Foro Consultivo Econômico-Social. Órgão representativo dos se- tores econômicos e sociais, integrado por entidades empresariais e trabalhistas. • Secretaria Administrativa do Mercosul. Órgão de apoio operacional, responsável pela prestação de serviços aos demais órgãos do bloco, for- necendo documentos e publicações das decisões tomadas no Mercosul. As fontes jurídicas do Mercosul são o Tratado de Assunção, seus pro- tocolos e os instrumentos adicionais ou complementares; os acordos ce- lebrados no âmbito do Tratado de Assunção e seus protocolos; as deci- sões do Conselho do Mercado Comum; as resoluções do Grupo Mercado Comum e as diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul. Na sequência dos acordos de Ouro Preto, outros acordos foram assi- nados. Um dos de maior importância é o Protocolo de Olivos (2002), que rege o sistema de solução de controvérsias no âmbito do Mercosul e for- nece orientações quanto à forma de resolução de controvérsias, à com- posição do Tribunal Permanente de Revisão e ainda ao foro internacional que decide o litígio. 4.6,4.3 Regime de origem noMercosul O regime de origem do Mercosul é atualmente regido pelo Quadragé- simo Quarto Protocolo Adicional ao Acordo de Complementação econômica n. 1820, que estabelece que serão considerados originários dos Estados-membros:" o Os produtos totalmente obtidos no território de uma ou mais Partes, dos reinos mineral, vegetal ou animal, incluindo os da caça e da pesca colhidos ou apanhados, nascidos e criados nas suas águas territoriais ou fora delas por barcos registrados ou matriculados em uma das Partes e autorizados para arvorar a bandeira dessa Parte, ou por barcos arren- dados ou fretados a empresas estabelecidas no território de uma Parte e mercadorias produzidas a bordo de barcos fábrica sempre que estes es- tejam registrados, matriculados em uma das Partes e estejam autoriza- dos a arvorar a bandeira dessa Parte, ou por barcos fábrica arrendados ou fretados por empresas estabelecidas no território de uma Parte; as mercadorias obtidas por uma das Partes do leito do mar ou do subsolo marinho, sempre que ela tenha direitos para explorar esse fundo do mar ou subsolo marinho; as mercadorias obtidas do espaço extraterres- tre, sempre que sejam obtidas por uma Parte ou uma pessoa de uma Parte e os resíduos e desperdícios resultantes da produção em uma ou mais Partes e matéria-prima recuperada dos resíduos e desperdícios de- rivados do consumo, que sejam recolhidos em um Estado Parte e não possam cumprir com o propósito para o qual haviam sido produzidos. ® Os produtos elaborados integralmente no território de qualquer um dos Estados Partes quando em sua elaboração forem utilizados, úni- ca e exclusivamente, materiais originários dos Estados Partes. @ Os produtos em cuja elaboração forem utilizados materiais não ori- ginários dos Estados Partes, quando resultantes de um processo de transformação que lhes confira uma nova individualidade, caracte- rizada pelo fato de estarem classificados em uma posição tarifária (primeiros quatro dígitos da Nomenclatura Comum do Mercosul] di- ferente da dos mencionados materiais, exceto nos casos em que o W o Quadragésimo Quarto Protocolo Adicional ao Acordo de Complementação Econômica n. 18 está disponível no site http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=s&menu=41O&refr=374. zt Síntese do documento. O Quadragésimo Quarto Protocolo Adicional ao Acordo de Complementação Econômi- ca n. 18 deverá ser consultado. pois é o documento original. processo de transformação operado não implica mudança de posi- ção tarifária (primeiros quatro dígitos da Nomenclatura Comum do Mercosul), em que será suficiente que o valor CIFporto de destino ou CIFporto marítimo dos insumos de terceiros países não exceda 40% do valor FOBdas mercadorias de que se trate. @ Os produtos resultantes de operações de ensamblagem ou montagem realizadas no território de um país do Mercosul, utilizando materiais originários de terceiros países, quando o valor CIFporto de destino ou CIFporto marítimo desses materiais não exceda 40% do valor FOB. ® Os bens de capital que cumprirem com um requisito de origem de 60% de valor agregado regional. 4.6.4.4 Resultados do Mercosul Embora no seu lançamento aparecessem muitas críticas, passados mais de 15 anos sobre o Tratado de Assunção e verificada sua evolução, os resulta- dos no comércio exterior de seus membros demonstram que foi a experiên- cia de integração de maior sucesso no continente sul-americano. Graças à eliminação das barreiras comerciais, o Brasil é o principal destino das exportações argentinas e a Argentina o segundo maior des- tino das exportações brasileiras; também o Uruguai e o Paraguai reali- zam quase metade do seu comércio exterior dentro do bloco. O êxito do Mercosul deve-se sobretudo às elevadas taxas de rentabi- lidade para os capitais, que constituem um dos principais focos de atra- ção do investimento estrangeiro no Mercosul. A confiança no seu êxito tornou possível ao bloco assinar diversos acordos com a União Europeia, o México e outros países da região: Chile, Bolívia e Venezuela. Entre os mais importantes acordos celebrados pelo Mercosul estão o fechado com o Chile e o acordo auto motivo celebrado com o México. Com o Chile foi firmado, em 1996, o Acordo de Complementação Econômica n. 35. A importância desse acordo é grande dado o interesse que o Mercosul tem na incorporação desse país ao bloco, pois, entre ou- tros motivos, o Chile tem nos seus portos uma via natural de escoamento das exportações para os mercados asiáticos. oAcordo de Complementação Econômica n. 55, subscrito entre Mer- cosul e México, regula o comércio entre as partes de automóveis e outros veículos com peso bruto total até 8.845kg, tratores agrícolas, colheitadei- ras e outras máquinas agrícolas, máquinas rodoviárias autopropulsiona- das e autopeças para os produtos automotivos, inclusive as destinadas ao mercado de reposição. Também de relevância é o acordo ainda em negociação com a União Europeia que visa: • obter a liberalização - bilateral e recíproca - do comércio de bens e serviços conforme as regras da OMC; • fomentar a melhorano acesso a compras governamentais nos mer- cados de produtos e serviços; • promover uma abertura e um ambiente não discriminatório aos in- vestimentos; • assegurar uma adequada e eficaz política de concorrência e um me- canismo de cooperação; • garantir adequadas e efetivas disciplinas no campo dos instrumen- tos de defesa comercial e estabelecer um efetivo mecanismo de solu- ção de controvérsias. Em negociação no Mercosul também se encontram os acordos com o Marrocos, a Turquia e a Iordânia.
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