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Direio Penal Geral Aula 2 07 Material de Apoio Magistratura

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Magistratura e Ministério Público 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
MATERIAL DE APOIO 
 
Disciplina: Direito Penal Geral 
 Professor: Gustavo Junqueira 
Aula: 07 | Data: 07/04/2015 
 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
1. Erro de Tipo Essencial 
2. Erro de Tipo Acidental 
 
1. Erro de Tipo Essencial 
 
Recai sobre elementos essenciais do injusto. Tem duas formas consagradas: 
 
a) erro sobre elementar: artigo 20, CP. 
b) erro sobre descriminante, artigo 20, §1º, CP. 
 
Há quem trate de: 
c) erro sobre circunstância: construção doutrinaria. 
 
1) Erro sobre elementar: por equivocar compreensão da situação de fato, o sujeito não sabe que realiza as 
elementares do tipo. 
Exemplo: ao terminar a aula o professor distraído pela o celular da aluna que estava em cima de sua mesa. 
Exemplo: caçador caçando um urso na floresta, pensando se tratar de um urso acaba matando outro caçador. 
Consequência: se o sujeito não sabe o que faz, não tem dolo. O erro sobre elementar sempre exclui o dolo. 
 
O erro pode ser classificado em: 
 
a) inevitável (escusável): se o cuidado comum não o evitaria (mesmo com o cuidado comum o resultado 
aconteceria, não há quebra de cuidado relevante, não há culpa). 
A consequência é que como o resultado não deriva de quebra de cuidado fica excluída a culpa. 
 
b) evitável (inescusável): o cuidado comum evitaria o resultado, rompido o cuidado comum, o autor deverá 
responder por culpa se previsto. 
 
2) Erro sobre descriminante: a expressão descriminante é sinônimo de excludente de antijuridicidade. Há quem 
diga que pode ser chamado de erro de tipo sobre as circunstancias fáticas de uma excludente de antijuridicidade; 
há quem trate ainda como descriminante putativa (descriminante por imaginação, por pensamento). 
 
Conceito: por equivocada compreensão da situação de fato, o sujeito imagina estar em circunstâncias que se 
fossem reais tornariam sua conduta acobertada por uma excludente de antijuridicidade. 
 
Exemplo: vou explorar uma caverna com um amigo, a entrada da caverna desaba, ficamos presos muitos dias, 
esgano meu amigo para me alimentar dele e ao esganá-lo a equipe de resgate entra na caverna, não estava num 
estado de necessidade real e sim num estado de necessidade putativo por erro de tipo. 
 
Consequência: prevalece no Brasil a Teoria Limitada da culpabilidade, segundo a qual as consequências do erro 
de tipo sobre descriminante são as mesmas do erro de tipo sobre elementar, ou seja, sempre exclui o dolo. Se 
inevitável exclui a culpa (exemplo: o sujeito é jurado de morte, e o rapaz que o jurou de morte aparece em sua 
 
 
 
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casa e coloca a mão no paletó, o sujeito então atira e quando o que jurou de morte cai o sujeito verifica que ele 
iria lhe entregar o convite de casamento que estava no bolso de seu paletó, o sujeito agiu em legítima defesa 
putativa por erro de tipo) e se evitável permite a punição por culpa se previsto (exemplo: o pai ouve um barulho 
na cozinha, atira no indivíduo e verifica que era seu filho, há dolo, mas o pai responde por culpa, podendo haver o 
perdão judicial) essa culpa (evitável) é a chamada culpa imprópria que decorre de uma descriminante putativa 
por erro de tipo evitável. É denominada imprópria, pois o autor tem consciência e vontade, ou seja, a conduta é a 
princípio dolosa, mas por opção político-criminal (opção do legislador) será punida como crime culposo. 
 
Críticas à teoria limitada: 
I- a culpa imprópria é um exagero e criatividade do legislador, pois uma conduta dolosa não poderia ser 
transformada em culposa por ficção jurídica. Roxin responde que não importa a perda de uma suposta perfeição 
conceitual, mas sim que a resposta penal seja a mais apta a alcançar os objetivos político-criminais; 
 
II- a descriminante real mantém a proibição a priori da tipicidade, enquanto que a descriminante putativa (com 
erro inevitável) afasta a própria tipicidade. Ora, a descriminante putativa acaba menos desvalorada do que a real; 
 
III- a teoria limitada da culpabilidade tem dificuldade para explicar a viabilidade da legítima defesa real em face da 
legítima defesa putativa por erro de tipo inevitável. No erro de tipo inevitável a conduta seria atípica e assim a 
agressão não seria injusta. Resposta de quem defende a teoria limitada: ainda que subjetivamente justa a 
agressão se mantém objetivamente injusta permitindo a reação em legítima defesa real (exemplo: noivo que 
brigou com o amigo da noiva e o jurou de morte, aparece na casa do amigo e coloca a mão no bolso, o amigo 
imaginando que ele pegaria uma arma atira no noivo, mas na verdade ele estava pegando o convite de 
casamento, o noivo nesse caso poderia agir em legítima defesa, afinal há injusta provocação). 
 
Segunda teoria, que não é dotada no Brasil (prevalece a teoria limitada) – Teoria Extrema ou Extremada da 
Culpabilidade: toda descriminante putativa será sempre tratada como erro de proibição, não importando se o 
erro recai sobre a situação de fato ou sobre o conteúdo do ordenamento. 
 
3) Erro sobre circunstância: reconhecido apenas por parte da doutrina (Capez). 
 
Conceito: se o autor pratica o crime em circunstâncias diversas das queridas (pretendidas). Lembrar que 
circunstância é o dado acessório da figura típica que orbita as elementares e tem como função influir na dosagem 
da pena. 
Exemplo: sujeito quer furtar uma coleção de CDs do Elvis e quando chega em casa vê que furtou um CD do KLB e 
uma torradeira. 
 
Prevalece que deverá responder como se tivesse realizado o crime nas circunstâncias pretendidas. 
 
2. Erro de Tipo Acidental 
 
Incide em dados não essenciais a existência do injusto. 
 
São espécies consagradas: 
 
a) error in re (erro sobre o objeto): é o erro sobre a coisa que é objeto material do crime. Aqui a divergência 
entre a coisa imaginada e a atingida num mundo real não caracteriza uma circunstância, ou seja, não influi na 
pena. 
 
 
 
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Exemplo: sujeito quer furtar uma coleção de CDs do Elvis, mas na verdade furta uma coleção dos Beatles que tem 
o mesmo valor, não interfere no dolo, o sujeito tinha o dolo de subtrair coisa alheia móvel. 
 
Consequência: tal erro é irrelevante e não interfere no dolo. 
 
b) error in persona (erro sobre a pessoa): artigo 20, §3º, CP. Por equivocada identificação da vítima, o sujeito 
atinge pessoa diversa da pretendida. O erro é de identificação, erro de fisionomia. 
 
Exemplo: quero matar Pedro, se aproxima alguém semelhante a Pedro, abre o portão da casa de Pedro, atiro e na 
verdade era Paulo primo de Pedro. 
 
Consequência: responde como se tivesse atingido a vítima pretendida. 
 
c) aberratio ictus (erro na execução): artigo 73, CP. Trata-se de erro no golpe, por imprecisão no golpe 
executório, ou seja, por falha na mira o autor atinge diversa da pretendida. 
 
Exemplo: Paulo e Pedro estão andando lado a lado, atiro em Pedro, mas na verdade acerto Paulo. 
 
Consequências: 
 
I- resultado único ou simples - se atinge apenas terceiro: responderá como se tivesse alvejado a vítima 
pretendida; 
 
II- resultado múltiplo ou complexo - se atinge quem pretendia e também terceiro – responderá pelo crime 
doloso com aumento de pena do concurso formal. 
 
Obs: para a doutrina tradicional (Nucci) não se trata de um verdadeiro concurso formal, mas sim de um crime 
aberrante que dispensa prova da culpa em relação ao resultado não pretendido. Seria assim exceção ao Princípio 
da Responsabilidade Subjetiva (na precisa provar culpa do segundo resultado). Crítica: não deve mais ser aceita 
responsabilidade objetiva. 
 
Obs: é possível a combinação da aberratio ictus com excludentes de antijuridicidade, tanto no resultado simples 
como no complexo. Assim, o autor pode ser absolvido mesmo tendo atingido terceiro inocente, pois responde 
como se tivesse alvejado avítima pretendida (exemplo: um aluno vai em direção ao professor com uma faca, o 
professor atira no aluno e na verdade atinge outro aluno que não tinha nada a ver com a história, o professor 
atuará com legítima defesa, mesmo tendo atingido outro aluno, a mesma regra valeria se o professor atingisse o 
aluno que veio em sua direção com a faca e também o outro aluno). Crítica: o erro acidental não poderia 
interferir na existência do injusto.

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