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CONSTITUIÇÃO (CAP. 2) – LENZA SENTIDOS DAS CONSTITUIÇÕES Sentido SOCIOLÓGICO – Ferdinand Lassalle As Constituições somente seriam legítimas se refletissem os fatores reais de poder. Caso contrário, não passariam de uma descartável “folha de papel”. Sentido POLÍTICO – Carl Schmitt Distingue Constituição de lei constitucional, sendo que aquela somente se refere às decisões políticas fundamentais (estrutura e órgãos do Estado, direitos fundamentais, democracia e etc.), e estas dizem com os dispositivos despidos de fundamentalidade material. Do pensamento de Schmitt, criou-se a classificação das Constituições materiais (=Constituição) e Constituições formais (=leis constitucionais). Sentido JURÍDICO – Hans Kelsen A Constituição é norma pura, puro dever- ser, sem qualquer pretensão filosófica, sociológica ou política. A Constituição possui dois aspectos: 1) lógico-jurídico, significando norma fundamental hipotética, que serve de fundamento lógico Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ transcendental para a validade da Constituição jurídico-positivo (2), que equivale ao conjunto positivado de normas constitucionais que repousa no mais alto grau da pirâmide normativa. A primeira norma é suposta; as segundas, postas. De Carl Schmitt, formulou-se a célebre distinção entre Constituição formal e material. O autor distingue Constituição de leis constitucionais, sendo aquela correspondente apenas a um conjunto de normas especialmente fundamentais ao Estado, também denominadas de “decisões políticas fundamentais”. A CF formal, a seu turno, refere-se às normas cujo texto está contido formalmente no corpo da Lei Maior (Dirley da Cunha Jr). O modelo de Constituição dogmática coincide com as Constituições escritas. Ser dogmática pressupõe seja a CF escrita, eis que o diploma deve consolidar os dogmas e princípios vigentes no momento em que elaborada. A pontualidade histórica de uma CF dogmática não poderia ser observada em uma CF consuetudinária. É de Karl Loewestein a classificação ontológica das constituições, que podem ser: 1) normativas, quando tenham efetivamente valor jurídico; 2) nominais, cujas normas não têm eficácia jurídica; são tomadas como constituições fechadas, pois não se “abrem” à realidade social; 3) semânticas, que, por sua vez, servem apenas para justificar juridicamente o exercício autoritário do poder (Dirley da Cunha Jr). Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ Classificação ontológica (Karl Loewestein) Características Constituições normativas Constituições com efetivo valor jurídico. É normativa porque a Constituição é reputada norma jurídica cogente. Constituições nominais Constituições sem valor jurídico. São “fechadas”, porque não espelham os anseios e valores da sociedade. Constituições semânticas Constituições como documento destinado apenas a justificar juridicamente o exercício do poder autoritário. MUITO CUIDADO: Expressão “Constituição Semântica” é utilizada por Alexandre de Moraes, para designar, quanto à hermenêutica constitucional, aquelas constituições cuja interpretação de suas normas dependa da averiguação de seu conteúdo significativo. Em outras palavras, dependa da análise de seu conteúdo sociológico, ideológico e metodológico, possibilitando uma maior aplicabilidade político-normativa-social do texto constitucional (Caiu em prova: BACEN/2009!). _______________________________________________________________ Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Elementos orgânicos Cuidam da estrutura do Estado e do Poder. São os títulos: “Da Organização do Estado”; “Da organização dos Poderes e do Sistema de Governo”; “Das Forças Armadas e Da Segurança Pública”; “Da Tributação e do Orçamento”. Elementos limitativos Normas que compõem o acervo de direitos e garantias fundamentais negativos ou de 1ª dimensão, que limitam o Poder do Estado. Elementos socioideológicos Normas que veiculam o compromisso da Constituição com o Estado Social, ponderando os valores liberais com a necessidade do bem comum. Constituem o rol de direitos fundamentais de 2ª geração. Elementos de estabilização constitucional Conjunto de normas destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas. São exemplos, as Ações Diretas de Inconstitucionalidade; a intervenção federal; os processos de emenda a CF; a jurisdição constitucional*; estado de defesa e de sítio. *ATENÇÃO: para fins de prova, embora seja função de um Poder, a Jurisdição Constitucional não é elemento orgânico, mas sim de estabilização constitucional. Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ Elementos formais de aplicabilidade Regras de aplicação da Constituição, tais como preâmbulo; ADCT; art. 5, §1º, que estabelece ser de aplicabilidade imediata as normas de direitos fundamentais. _______________________________________________________________ EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL NO BRASIL Constituição de 1824 Consagrou ideias do constitucionalismo liberal, identificadas com um importante rol de direitos civis e políticos. Todavia, esta lista de direitos era deficitária, haja vista a manutenção da escravidão e do voto censitário; Forma Unitária de Estado; Constituição semirrígida (único exemplo na história das Constituições brasileiras), isto é, o processo de alteração era mais dificultoso apenas para parte do texto constitucional. Eleições indiretas para o Legislativo; Sufrágio censitário, ou seja, para votar e ser votado, era necessário ser atingida determinadas condições econômicas. Religião oficial católica; Poder Moderador; ATENÇÃO: A CF Imperial, embora tenha tutelado a garantia da livre locomoção, não trouxe em seu texto o instituto do habeas corpus, que surgiu somente em 1830, e no plano infraconstitucional, com o Código Criminal. A primeira Constituição a tratar sobre o HC foi a de 1891. Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ Constituição de 1891 Influenciada pela Constituição dos EUA, de 1787, a CF/1891 foi marcada pelo (a): Sistema de governo presidencialista; Forma de Estado Federal; Forma de governo republicana; Constituição rígida; Aprimoramento da declaração de direitos, consagrando-se, no plano constitucional, a garantia do habeas corpus; Consagração pela primeira vez do Estado laico: não há mais religião oficial; Tripartição de Poderes clássica e extinção do Poder Moderador; Poder Legislativo bicameral, tanto na esfera federal quanto na estadual; Voto direto. Todavia, é bom que se atente que a primeira eleição para Presidente da República foi indireta, nos termos das disposições transitórias da CF/1891; Influenciada pela Constituição de Weimar, de 1919, a CF/1934 foi marcada pelo(a): Democracia Social ou Estado Social de Direito, com a consagração de direitos fundamentais de 2ª dimensão; Constituiçãorígida; Garantia do voto feminino com igual peso ao masculino e do voto secreto; Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ Constituição de 1934 Surgimento do Mandado de Segurança e da Ação Popular; Poder legislativo permanece bicameral, mas as casas passam a desempenhar funções distintas (bicameralismo desigual), em contrapartida ao paradigma anterior, marcado pela identidade das funções básicas das duas casas (bicameralismo rígido ou paritário). O Senado Federal passa a colaborar com a Câmara dos Deputados, motivo por que José Afonso da Silva afirma tratar-se de unicameralismo imperfeito, já que o SF era mero colaborador. Constituição de 1937 Influenciada pela Constituição Polonesa de 1935, a outorgada CF/1937 recebeu o apelido de Constituição Polaca e foi marcada pelo(a): Retrocesso de direitos e garantias fundamentais: foi instituída a censura; extinguidos o MS e a ação popular; proibidos a greve e o lock-out; elastecidas as hipóteses de pena de morte, para alcançar crimes políticos e homicídio cruel; Avanços na economia e conquistas de direitos trabalhistas; Forma federal de Estado apenas nominal, ou seja, sem correspondência com a realidade, já que os Estados-membros tiveram sua autonomia reduzida, havendo, por exemplo, a constante assunção de governos estaduais por interventores federais; O Senado Federal deixou de existir durante o chamado Estado Novo; foi substituído pela figura Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ do Conselho Federal, que atuava ao lado da Câmara dos Deputados; Sufrágio indireto nas eleições para Câmara dos Deputados e Presidência da República; Posterior dissolvição do Parlamento federal, estadual e municipal; ATENÇÃO: embora com a CF/1937 tenham sido garantidos diversos direitos trabalhistas, a greve era vedada. Constituição de 1946 Inspirando-se nas ideias liberais da CF/1891 e nas ideias sociais da CF/1934, a CF/1946 buscou harmonizar a livre-iniciativa com a justiça social; Retorno do voto direito, do MS e da Ação Popular; Reconhecimento do direito de greve; ATENÇÃO: durante a vigência da CF/1946, em 1961 foi instaurado o sistema de governo parlamentarista, cuja principal novidade foi a dualidade das funções do Executivo, as quais passaram a ser exercidas pelo PR e por um Conselho de Ministros, a quem incumbiu a responsabilidade pelo Governo. Outorgada. Obs.: há quem entenda, todavia, que do ponto de vista formal, a CF/64 tenha sido promulgada, já que votada e aprovada pelo Congresso Nacional, o que não prevalece para fins de concurso. Forma de governo republicana; Forma de Estado federal, conforme o texto constitucional. Entretanto, tal dispositivo é apenas Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ Constituição de 1964 nominal, já que, a bem da verdade, o modelo de Estado brasileiro mais se aproximava de um Estado unitário, com forte concentração de poder da esfera federal. Voto indireto para Presidência da República e direto para o Parlamento; AI-5 trouxe, dentre outras restrições, a impossibilidade de apreciação judicial dos atos praticados de acordo com o seu texto, bem como a suspensão da garantia do HC para crimes políticos, contra a economia popular ou contra a ordem econômica e social. Constituição de 1967 – EC 1/69 Destaca-se que, embora editada sob a forma de Emenda Constitucional, a doutrina considera que tal emenda é, a bem da verdade, manifestação do Poder Constituinte Originário, dado o seu caráter revolucionário. Constituição de 1988 Constituição Cidadã ora vigente. Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ HERMENÊUTICA (cap. 3) – Lenza MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL Método jurídico, hermenêutico clássico, ou de Forsthoff 1 A interpretação da Constituição não se distingue da interpretação de uma lei e, por isso, para se interpretar o sentido da lei constitucional, devem-se utilizar as regras tradicionais da interpretação. Em suma: lei e CF se equivalem do ponto de vista hermenêutico. Em suma: deve se aplicar às normas constitucionais os métodos clássicos utilizados para interpretação das leis. Método tópico-problemático 2 Parte-se de um problema para norma, já que as normas da CF são abertas, o que dificultaria tomá- las como ponto de partida. CASONORMA Método hermenêutico- concretizador 3 Parte da norma para o caso. Funda-se em um “círculo hermenêutico” condizente com “movimento de ir e vir” das pré-compreensões do intérprete (pressuposto subjetivo) e de sua consideração da realidade externa (pressuposto objetivo). NORMACASO Reputa a norma como fenômeno cultural. A análise da norma não pode ater-se à leitura fria da lei, mas deverá avançar ao substrato sócio-político Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ Método científico-espiritual 4 a ela inerente. Relaciona-se com a realidade social e com o movimento dinâmico de renovação constante dos sentidos normativos, em compasso com as modificações da vida em sociedade. ATENÇÃO: Foi considerada CORRETA a assertiva formulada pelo CESPE, segundo a qual “de acordo com o método de interpretação constitucional denominado científico-espiritual, a Constituição é um instrumento de integração, não apenas sob o ponto de vista jurídico-formal, mas também, e principalmente, em perspectiva política e sociológica, como instrumento de solução de conflitos, de construção e de preservação da unidade social”. Portanto, é bom se ter em mente que alguns elementos do PRINCÍPIO do efeito integrador estão presentes também no MÉTODO científico- espiritual. Método normativo-estruturante ou de Müller 5 Texto é diferente de norma. TEXTOCONTEXTONORMA Método da comparação constitucional 6 Relaciona-se com o Direito Comparado. A interpretação dos institutos se implementa mediante a comparação nas várias Constituições. Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL – LENZA Princípio da Unidade da CF 1 Refere-se à interpretação sistemática da CF. Obriga o intérprete a considerar a CF em sua globalidade e a procurar harmonizar os espaços de tensão existentes entre as normas constitucionais a concretizar (Canotilho) Princípio do Efeito integrador 2 As soluções extraídas pelo intérprete devem ser pluralisticamente integradoras (Canotilho); unidade política e integração social devem ser os objetivos desse princípio. CUIDADO: “unidade política” é expressão- chave do princípio do efeito integrador e NÃO do princípio da unidade da CF. Princípio da Máxima efetividade 3 Deve-se preferir a interpretação que reconheça maior eficácia às normas constitucionais, especialmente as de DF. Princípio da Justeza ou conformidade/exatidão/ Diz com a adequação ao esquema organizatório-funcional,entendido como o Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ correção funcional 4 modelo de Estado concebido pela CF. Ou seja, não pode o intérprete subverter a organização do Estado, alterando, por exemplo, as funções constitucionalmente estabelecidas. Protege-se, sobretudo, a Separação de Poderes. Princípio da Concordância prática/harmonização 5 Equivale à ponderação de interesses constitucionais. Busca-se evitar o sacrifício total de um princípio em relação a outro que lhe conflite com maior peso. Fundamenta-se na inexistência de hierarquia entre os princípios. Princípio da Força normativa (Konrad Hesse) 6 Como princípio hermenêutico, relaciona-se, sobremaneira, à necessidade de atualização das normas constitucionais, para adequá-las à realidade social vivenciada pelo povo. Confere- se, dessa forma, máxima efetividade às normas constitucionais, já que afetas ao pensamento constitucional vigente na sociedade. Já no que concerne à busca da força normativa quando da elaboração de uma CF, tem-se que as normas jurídicas e a realidade devem ser consideradas em condicionamento recíproco. A norma constitucional não tem existência autônoma em face da realidade. Para ser aplicável, a Constituição deve ser conexa à realidade jurídica, social e política, não sendo apenas determinada pela realidade social, mas determinante em relação a ela (TRF/2009). Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ A força normativa de uma CF depende da chamada “vontade de constituição”, entendida como a disposição do povo de orientar sua própria conduta segundo a ordem constitucional vigente. Esta vontade será tão mais intensa, quanto a Constituição espelhar os valores essenciais da comunidade política, captando seu espírito. É importante ressaltar que, para Hesse, no eventual conflito entre os fatores reais de poder de Lassalle e a Constituição escrita, esta nem sempre haverá de sucumbir, pois não se deve desprezar seu valor normativo e sua força para mudar a realidade. (Leo Van Holthe). Princípio da Interpretação conforme a CF 7 Diante de normas polissêmicas, deve-se dar a elas o sentido que mais se aproxime da CF. A interpretação conforme a CF somente pode ser operada quando a norma tenha espaço para várias interpretações (plurissignificativa ou polissêmica), pois o intérprete não pode atuar como legislador positivo, mesmo que a pretexto de adequar uma norma inconstitucional ao texto Maior. Nesse caso, a solução deve ser pela declaração de inconstitucionalidade. Pauta de natureza axiológica que emana diretamente das ideias de justiça, equidade, bom-senso, prudência, moderação, justa medida, proibição de excesso e de insuficiência, direito justo e valores afins (Karl Larenz e Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ Princípio da Proporcionalidade ou razoabilidade 8 Inocêncio Coelho). Preenche-se de três elementos: 1) necessidade ou exigibilidade: medida restritiva de direito só se legitima se indispensável; podendo-se substituí-la por outra menos gravosa, deve-se evitá-la; 2) adequação, pertinência ou idoneidade: o meio escolhido deve ser adequado ao fim buscado; 3) proporcionalidade em sentido estrito: refere- se ao custo-benefício da medida, que deve ser positivo; busca-se a máxima efetividade com mínima restrição. Na hermenêutica constitucional, a corrente interpretativista nega qualquer possibilidade de o juiz, na interpretação constitucional, criar o Direito, indo além do que o texto lhe permitir. De outra forma, a corrente não- interpretativista defende um ativismo judicial na interpretação da Constituição, proclamando a possibilidade e até a necessidade de os juízes invocarem e aplicarem valores substantivos (Dirley da Cunha Jr). Filosoficamente, a corrente interpretativista é procedimentalista, ao passo que a não-interpretativista é substancialista (CUIDADO: caiu na AGU em 2007!). Corrente Características Interpretativista - Ostenta características próprias da Escola Exegética, que viveu seu auge nos tempos do Código de Napoleão: a atividade judicante é apenas para reproduzir o que a lei, clara, perfeita e completa, já diz. O juiz interpreta de forma procedimental, não podendo ir além do texto. Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ Não-interpretativista - Ostenta características próprias do Neoconstitucionalismo. O juiz deve, interpretando o Direito, criar normas para o caso concreto. A expressão que bem caracteriza esta corrente é ativismo judicial. O juiz interpreta de forma substancial. Na hermenêutica constitucional, segundo o princípio do efeito integrador, a CF deve ser entendida como um projeto normativo global que se destine a assegurar a harmonia entre o social e o jurídico, com vistas à manutenção da ordem constitucional. Devem-se integrar os valores e anseios da Sociedade ao projeto de CF elaborado pelo Estado (Dirley da Cunha Jr). A interpretação constitucional deve prestigiar os sentidos que favoreçam a integração entre os setores da sociedade e a unidade política (Leo Van Holte). Na hermenêutica constitucional, tem-se o método de Forsthoff, também conhecido como método jurídico ou hermenêutico-clássico, segundo o qual a interpretação da Constituição não se distingue da interpretação de uma lei e, por isso, para se interpretar o sentido da lei constitucional, devem-se utilizar as regras tradicionais da interpretação. Em suma: lei e CF se equivalem do ponto de vista hermenêutico. _______________________________________________________________ Poder Constituinte – Lenza: O Poder Constituinte é ilimitado juridicamente, ou seja, não há regra jurídica anterior que lhe imponha quaisquer modos de agir. Todavia, isso não significa garantir ao constituinte originário um poder supremo, arbitrário, pois existem limitações de ordem política que devem ser respeitadas, sob pena de Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ ser tornada ilegítima a sua atuação. É que a titularidade do Poder Constituinte Originário é do povo. Sendo assim, aquele que se propõe a representá-lo, deve levar em conta os valores morais, éticos, religiosos e sociais, que, de fato, constituem a vontade do povo. Do contrário, a pretensa revolução constitucional não passará de um delito penal (art. 5º, XLIV, CF), conforme acentua Gilmar Mendes. CUIDADO: esse desdobramento deve ser considerado em provas discursivas, devendo ser analisado com reservas nas objetivas. Nestas, deve-se assinalar como correta a assertiva segundo a qual o Poder Constituinte Originário é ilimitado. Embora no DF a regência normativa se opere por Lei Orgânica, a bem da verdade, a natureza desse diploma é tipicamente constitucional, sendo, portanto, manifestação do Poder Constituinte Derivado. Assim, ato questionado em face da LODF enseja controle de constitucionalidade. CUIDADO: Ao contrário, Leis Orgânicas municipais, por deverem guardar sintonia tanto com a CF/88, como com a CE (dois graus), NÃO são manifestação do Poder Constituinte derivado, o qual deve decorrer direta e unicamente do Poder Constituinte Originário (CF/88). Essas leis são, pois, meros parâmetrosde legalidade, e não de constitucionalidade. LEI ORGÂNICA DO DF Diploma constitucional, decorrente do Poder Constituinte Derivado; Pode ser parâmetro de controle de constitucionalidade. LEIS ORGÂNICAS DOS MUNICÍPIOS Diplomas legais; Pode ser parâmetro de controle de legalidade (apenas). ATENÇÃO – PODER CONSTITUINTE DIFUSO: Diz-se Poder Constituinte Difuso o poder de fato que alterna informalmente a CF, por meio da técnica denominada de “mutação constitucional”. É, pois, corolário da manifestação do povo, nas ordens econômica, social, cultural e política, em ordem a contemplar novo sentido às normas constitucionais, SEM que lhes Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ sejam impingidas modificações formais, ou seja, no próprio texto normativo. É difuso porque desorganizado e implícito, características que não lhe retiram a legitimidade. O Direito brasileiro inadmite tanto a inconstitucionalidade superveniente (que, no caso de Direito pré-constitucional, resolve-se em juízo de revogação), como a constitucionalidade superveniente, já que vige o princípio da contemporaneidade do parâmetro de constitucionalidade. Assim, para que uma lei seja recepcionada, deve ela ser válida, formal e materialmente, em face da CF sob cuja regência fora editada, ainda que não tenha sido objeto de controle concentrado de constitucionalidade em momento pré-constitucional. Isso porque a nova CF não ressuscita ou revigora leis nulas, ainda quando tais leis sejam materialmente compatíveis com a nova ordem constitucional (caiu na PFN!). Vide quadro-resumo abaixo: CONSTITUIÇÃO REQUISITOS PARA RECEPÇÃO Antiga Constituição, sob cuja vigência foi editada a lei: Compatibilidade material e formal; Nova Constituição: Compatibilidade apenas material ATENÇÃO: O STF não admite a modulação temporal dos efeitos de suas decisões que impliquem a não recepção de norma pré-constitucional (hipótese distinta da modulação em controle difuso, que é admitida pela Corte): (...) 2. MODULAÇÃO TEMPORAL DOS EFEITOS DA DECISÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE: TÉCNICA INAPLICÁVEL QUANDO SE TRATAR DE JUÍZO NEGATIVO DE RECEPÇÃO DE ATOS PRÉ-CONSTITUCIONAIS. - O Supremo Tribunal Federal tem reconhecido, excepcionalmente, a possibilidade de proceder à modulação ou limitação temporal dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, mesmo quando proferida, por esta Corte, em sede de Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ controle difuso. Precedente: RE 197.917/SP, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA (Pleno). - Revela-se inaplicável, no entanto, a teoria da limitação temporal dos efeitos, se e quando o Supremo Tribunal Federal, ao julgar determinada causa, nesta formular juízo negativo de recepção, por entender que certa lei pré-constitucional mostra-se materialmente incompatível com normas constitucionais a ela supervenientes. - A não-recepção de ato estatal pré-constitucional, por não implicar a declaração de sua inconstitucionalidade - mas o reconhecimento de sua pura e simples revogação (RTJ 143/355 – RTJ 145/339) -, descaracteriza um dos pressupostos indispensáveis à utilização da técnica da modulação temporal, que supõe, para incidir, dentre outros elementos, a necessária existência de um juízo de inconstitucionalidade. No Brasil, o fenômeno da desconstitucionalização, ou seja, tornar, na vigência da nova CF, infraconstitucional uma norma constitucional, não é regra, devendo o Constituinte, caso repute necessário, consubstanciá-la em texto expresso. Para o STF, em regra, a retroatividade da nova ordem constitucional é mínima, temperada ou mitigada, ou seja, aplica-se a fatos que venham a acontecer após a sua promulgação, referentes a negócios passados. Porém, o Constituinte Originário pode excepcionar tal regra por expressa previsão no texto constitucional. Tal possibilidade não é franqueada ao Poder Constituinte Derivado, que se limita a editar normas de retroatividade mínima, em razão da coisa julgada, direito adquirido e ato jurídico perfeito. _______________________________________________________________ Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ Eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais (cap. 5) – Lenza Normas de eficácia contida: o fator de restrição da eficácia dessas normas pode ser outra norma constitucional, lei infraconstitucional, ou mesmo circunstâncias de ordem pública, bons costumes e paz social, conceitos vagos cuja concretização é efetivada pela Administração Pública. Mesmo as normas de eficácia limitada, para cuja realização plena é necessária a edição de norma (lei ou EC) integrativa, possuem um mínimo de eficácia imediata, pois: 1) impõem o dever de legislar às autoridades com iniciativa para tanto; 2) servem de parâmetro de constitucionalidade; 3) criam situações subjetivas de vantagem ou desvantagem; 4) conformam a interpretação das normas constitucionais ou infraconstitucionais. Para José Afonso da Silva, o texto do art. 5º, §1º, da CF/88, ao estatuir que “as normas definidoras de direitos fundamentais têm APLICAÇÃO imediata”, não quer dizer que todos os direitos fundamentais são de APLICABILIDADE imediata. Aplicação é, portanto, diferente de aplicabilidade. O sentido que a referida norma constitucional pretende revelar é que: 1) os direitos e garantias individuais devem ser aplicados até onde existam possibilidades institucionais que assegurem a referida aplicação; 2) o Poder Judiciário está habilitado a prestar direitos fundamentais, ainda que garantidos em norma ressentida de plena eficácia, quando instado, no caso concreto, pelas vias do mandado de injunção. ATENÇÃO – DIFERENÇA ENTRE NORMA DE EFICÁCIA CONTIDA E NORMA DE EFICÁCIA LIMITADA: As normas referidas se diferenciam, principalmente, quanto ao início de sua eficácia jurídica. Isso porque as normas de eficácia contida nascem plenamente eficazes, com propensão, dessa maneira, para revelar-se no mundo dos fatos imediatamente. A lei posterior à norma constitucional apenas restringe essa eficácia, que nasceu plena. Por sua vez, a norma de eficácia limitada não nasce eficaz, pois necessita de uma norma posterior (“a lei instituirá...”) para espraiar seus efeitos no mundo real. A Preparação de qualidade para concursos? http://www.ebeji.com.br/ lei posterior, portanto, não se destina a restringir a sua eficácia, mas sim a constituí-la. _______________________________________________________________
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