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5. Neurose e psicose

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NEUROSE E PSICOSE
Em seu trabalho “O ego e o id”, Freud concebeu o aparelho psíquico subdividido em id, ego e superego. Descreveu os numerosos relacionamentos dependentes do ego e sua posição intermediária entre o mundo externo e o id. Quanto à origem e prevenção das psicoses, recorre a uma fórmula simples que trata com o que talvez seja a mais importante diferença entre uma neurose e uma psicose: a neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o id, ao passo que a psicose é o desfecho análogo de um distúrbio semelhante nas relações entre o ego e o mundo externo.
- id – desejo = faça (princípio do prazer / mundo interno)
- ego – mediador = eu
- superego – sensor = não faça (princípio da realidade / mundo externo)
1. NEUROSE
É o conflito entre o ego e o id. As análises mostram que as neuroses se originam do fato de o ego recusar-se a aceitar um impulso vindo do id (gozo sem limite, algo próximo ao instinto animal), defendendo-se com o mecanismo do recalque. Nem sempre o impulso é bem recalcado e algo vaza, insistindo em se manifestar e lutando contra ser recalcado, criando para si próprio uma representação substitutiva que se impõe ao ego mediante uma conciliação: o sintoma. O ego tem a sua unidade ameaçada e prejudicada por esse intruso e continua a lutar contra o sintoma tal como contra o impulso original. Não é contraditório que empreendendo o recalque o ego esteja seguindo as ordens do superego, originadas no mundo externo, tomando o partido de forças (civilização e suas leis) mais intensas que as exigências do id. O ego é a força que põe o recalque em movimento contra o id por meio do anti-investimento da resistência, entrando em conflito com o id a serviço do superego e da realidade – esse é o estado das coisas em toda neurose.
2. PSICOSE
Por outro lado, é igualmente fácil, nas psicoses, aduzir exemplos que apontam para um distúrbio no relacionamento entre o ego e o mundo externo. Na confusão alucinatória, que constitui talvez a forma mais notável de psicose, o mundo exterior não é percebido de modo algum ou a percepção dele não possui qualquer efeito. Normalmente, o mundo externo governa o ego por duas maneiras: em primeiro lugar, através de percepções atuais e presentes e, em segundo, mediante o armazenamento de lembranças, as quais, sob a forma de um “mundo interno”, são uma possessão do ego e parte constituinte dele. Na psicose não apenas é recusada a aceitação de novas percepções, mas também o mundo interno perde sua significação. O ego cria um novo mundo externo e interno e não pode haver dúvida quanto a dois fatos:
I - que esse novo mundo é construído de acordo com os impulsos de desejos do id;
II - que o motivo dessa dissociação do mundo externo é alguma frustração muita séria de um desejo, por parte da realidade.
A afinidade da psicose com os sonhos é inequívoca (o sonho é a nossa psicose cotidiana e a psicose seria um sonho que persiste durante o dia). Algumas das precondições do sonhar são o sono e o completo afastamento da percepção e do mundo externo. As psicoses também – esquizofrenias, por exemplo – se inclinam a acabar em um torpor afetivo, isto é, em uma perda de toda participação no mundo externo.
Com referência à gênese dos delírios, a análise ensina que eles encontram-se aplicados como um remendo no lugar em que originalmente uma fenda apareceu na relação do ego com o mundo externo. Isso se deve ao fato de que, na psicose, as manifestações do processo patogênico são amiúde recobertas por manifestações de uma tentativa de cura ou uma reconstrução.
A causa comum de uma neurose e de uma psicose permanece a mesma. Ela consiste na não realização de um daqueles desejos de infância que nunca são vencidos e que estão profundamente enraizados em nossa organização histórica. Essa frustração é sempre uma frustração externa, mas num caso individual ela pode proceder do agente interno que assumiu a representação das exigências da realidade: o superego. O efeito patogênico depende de se o ego permanece fiel à sua dependência do mundo externo e tenta silenciar o id (neurose), ou se ele deixa-se derrotar pelo id e é, portanto, arrancado da realidade (psicose). Uma complexidade é apresentada pelo superego que reúne influências originárias tanto do id quanto do mundo externo e constitui um modelo ideal para o ego: uma reconciliação entre os seus diversos relacionamentos dependentes. Deve-se presumir que tem de haver também doenças que se baseiam em um conflito entre o ego e o superego. A perversão é um exemplo e reserva-se o nome de perversões narcísicas para distúrbios desse tipo. Pode-se tornar a explicação desta forma:
- as neuroses correspondem a um conflito entre o ego (eu) e o id (gozo sem limite);
- as psicoses correspondem a um conflito entre o ego e o mundo externo (realidade);
- as perversões narcísicas correspondem a um conflito entre o ego e o superego (consciência).
As neuroses, as psicoses e as perversões se originam nos conflitos do ego com as suas diversas instâncias governantes, refletindo um fracasso no funcionamento do ego, que se vê em dificuldades para conciliar todas as várias exigências feitas a ele. Dois fatores apontam em que circunstâncias e por que meios o ego tem êxito em emergir de tais conflitos, sempre presentes, sem cair enfermo: em primeiro lugar, o desfecho de todas as situações desse tipo indubitavelmente depende das forças das tendências que estão lutando entre si; em segundo lugar, é possível ao ego evitar uma ruptura em qualquer direção deformando-se, submetendo-se a usurpações em sua própria unidade e até mesmo efetuando uma clivagem (separação) ou divisão de si próprio.
Desse modo as incoerências, excentricidades e loucuras dos homens aparecem sob uma luz semelhante às suas perversões sexuais, através de cuja aceitação poupam a si próprios os recalques. Quanto às psicoses, resta a considerar a questão de saber qual o mecanismo, análogo ao recalque, por cujo intermédio o ego se desliga do mundo externo. Segundo parece, tal mecanismo deve, como o recalque, abranger uma retirada do investimento enviado pelo ego.
3. A PERDA DA REALIDADE NA NEUROSE E NA PSICOSE
Uma das características que diferenciam a neurose da psicose é o fato de que em uma neurose o ego, em sua dependência da realidade, suprime um fragmento do id (ou um desejo). Já em uma psicose esse mesmo ego, a serviço do id, se afasta de um fragmento da realidade. Assim, na neurose existe uma predominância da influência da realidade, enquanto na psicose essa predominância seria do id. Na psicose a perda de realidade estaria sempre presente, ao passo que na neurose ela seria evitada.
Isso, porém, não concorda com a observação de que toda neurose perturba de algum modo a relação do sujeito com a realidade servindo-lhe de um meio de afastar-se dela e que, em suas formas graves, significa uma fuga da vida real. Essa contradição parece séria, porém é facilmente resolvida e a explicação a seu respeito nos auxiliará a compreender as neuroses.
A contradição existe apenas no começo da neurose, quando o ego, a serviço da realidade, se dispõe a recalcar uma pulsão (energia que põe em movimento um desejo). Porém isso não é, ainda, a neurose propriamente dita. Esta consiste no retorno do recalcado, que forma os sintomas. O afrouxamento da relação com a realidade é consequência desse segundo passo na formação de uma neurose. Pode-se verificar que a perda da realidade afeta precisamente aquele fragmento da realidade cujas exigências resultaram no recalque da pulsão ocorrida. Na neurose ocorre um recalque da pulsão e na psicose ocorre uma rejeição da realidade.
Ao surgir uma psicose ocorre algo análogo ao que se passa numa neurose, embora entre instâncias distintas da mente. Também na psicose duas etapas podem ser discernidas, das quais a primeira arrasta o ego para longe da realidade, enquanto a segunda tenta reparar o dano assim causado e restabelecer as relações do indivíduo com ela a expensas do id. Além disso, existe uma ampla semelhança entre osdois processos. O segundo passo da psicose destina-se a ser uma reparação da perda da realidade, contudo, não a expensas de uma restrição dela, senão pela criação de uma realidade nova que não levanta mais as mesmas objeções que a que foi abandonada. Tanto na neurose como na psicose o segundo passo é apoiado pelas mesmas tendências. Ambos os casos servem a desejos do id, que não se deixarão subjugar pela realidade. Ambas são, pois, expressão de uma rebelião do id contra o mundo externo, de sua incapacidade de adaptar-se às exigências da realidade. A neurose e a psicose diferem entre si muito mais em sua primeira reação introdutória (recalque ou rejeição) do que na tentativa de reparação que a segue (fantasia ou alucinação).
A diferença inicial assim se expressa: na neurose, um fragmento da realidade é evitado por uma espécie de fuga, ao passo que na psicose, a fuga inicial é sucedida por um remodelamento ativo da realidade. Ou, expresso de outro modo: a neurose não repudia a realidade, apenas a ignora; a psicose a repudia e a substitui. Chamamos um comportamento de “normal” ou “sadio” quando ele combina certas características de ambas as reações: repudia a realidade tão pouco quanto uma neurose e se esforça, como na psicose, por efetuar uma alteração dessa realidade. O comportamento normal conduz à realidade do trabalho no mundo externo. Ele não se conforma, como na psicose, em efetuar mudanças internas.
Tanto na neurose quanto na psicose a tarefa empreendida na segunda etapa é parcialmente malsucedida, de vez que a pulsão recalcada é incapaz de conseguir um substituto completo (na neurose) e a representação da realidade não pode ser remodelada em formas satisfatórias (não, pelo menos, em todo tipo de doença mental). A ênfase, porém, é diferente nos dois casos. Na psicose, ela incide inteiramente sobre a primeira etapa, que é patológica em si própria e só pode conduzir à enfermidade. Na neurose, por outro lado, ela recai sobre a segunda etapa, sobre o fracasso do recalque, ao passo que a primeira etapa pode alcançar êxito, e realmente o alcança em inúmeros casos, sem transpor os limites da saúde, embora o faça a certo preço e não sem deixar atrás de si traços do dispêndio psíquico que exigiu. Essas distinções são resultado da diferença do conflito, ou seja, se nele o ego rendeu-se à sua lealdade perante a realidade ou à sua dependência do id.
Uma neurose geralmente evita o fragmento da realidade que causa ansiedade e se protege contra entrar em contato com ele. A distinção nítida entre neurose e psicose é enfraquecida pela circunstância de que também na neurose não faltam tentativas de substituir uma realidade desagradável por outra que esteja mais de acordo com os desejos do sujeito. Isso é tornado possível pela existência de um mundo de fantasia, de um domínio que ficou separado do mundo externo real na época da introdução do princípio de realidade. Esse domínio ficou mantido livre das exigências da vida, como uma espécie de “reserva”. Ele não é inacessível ao ego, mas só frouxamente ligado a ele. É deste mundo de fantasia que a neurose haure o material para suas construções e geralmente encontra esse material pelo caminho da regressão a um passado mais satisfatório.
A rejeição da realidade insuportável desempenha o mesmo papel na psicose e aí também ele é o depósito do qual derivam os materiais para construir a nova realidade. O novo e imaginário mundo que uma psicose tenta colocar no lugar da realidade e emprestar a esse fragmento uma importância especial e um significado secreto é chamado de alucinação e delírio. Vemos, assim, que tanto na neurose quanto na psicose não interessa apenas a questão relativa a uma perda da realidade, mas também a um substituto para a realidade. Na neurose pela via fantasiosa e na psicose pela alucinação e delírio.

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