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www.aofarmaceutico.com.br Programa de Desenvolvimento Profissional Ao Farmacêutico Módulo IV Doenças Cardiovasculares 2 Módulo IV Doenças Cardiovasculares Módulo IV: Doenças Cardiovasculares Caro(a) colega farmacêutico(a), As doenças cardiovasculares, como o infarto do miocárdio, o acidente vascular cerebral e a doença arterial periférica, são as principais causas de morte no Brasil e no mundo, responsáveis por aproximadamente 17 milhões de mortes/ano. Neste módulo, inicialmente, serão recordados alguns conceitos básicos de anatomia e fisiologia, além de abordar o conceito das doenças cardiovasculares, as manifestações clínicas da aterotrombose, o tratamento, as principais interações medicamentosas e a importância da orientação farmacêutica na adesão do paciente ao tratamento prescrito. Desejamos a você uma boa leitura! Equipe Ao Farmacêutico 3 Módulo IV Doenças Cardiovasculares 1. INTRODUÇÃO O Brasil, desde a década de 1940, vem passando por um processo de inversão nas curvas de morbidade e mortalidade em que se observa um declínio na mortalidade por doenças infecciosas e um aumento na mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, como, por exemplo, as doenças cardiovasculares (DCV). Segundo o Ministério da Saúde, esse processo chamado Fenômeno de Transição Epidemiológica ocorreu em todos os países hoje desenvolvidos onde a população de idosos é cada vez mais expressiva. O aumento da expectativa de vida e, conseqüentemente, a maior exposição aos fatores de risco, além das mudanças no estilo de vida que acompanharam a industrialização e a urbanização, podem estar relacionados a esta maior incidência. 1.1 Conceitos As funções primárias do sistema cardiovascular consistem em proporcionar oxigênio a todo o organismo e, ao mesmo tempo, libertá-lo das substâncias que devem ser eliminadas. Concretamente, essa função pressupõe recolher o sangue do organismo, pobre em oxigênio (sangue venoso), e bombeá-lo para os pulmões, onde é oxigenado e onde o gás carbônico é liberado; depois, o coração envia esse sangue rico em oxigênio (sangue arterial) para todos os tecidos do organismo. O sistema cardiovascular compõe-se das seguintes estruturas: A) Coração O papel do coração é enviar sangue rico em oxigênio a todas as células que compõem o nosso organismo. As artérias são as vias por onde o sangue é enviado do coração para todo o organismo. A aorta é a maior de todas as artérias, e origina-se no ventrículo esquerdo. As artérias se dividem em ramos cada vez menores, até os capilares sistêmicos, que são vasos extremamente finos através dos quais o oxigênio sai para os tecidos. Após a retirada do oxigênio e o recebimento do gás carbônico que se encontrava nos tecidos, os capilares levam o sangue até as veias. As veias transportam sangue com baixa quantidade de oxigênio e alto teor de gás carbônico, desde os tecidos, passando pelo coração e pulmões, até os capilares pulmonares, nos quais o sangue volta a receber oxigênio e a ter o gás carbônico removido, sendo o processo reiniciado. B) Sistema Vascular É composto por artérias, veias e capilares, sendo um sistema em paralelo, em que artérias e veias são conectadas por capilares. A parede das artérias é composta por três camadas: a camada externa é conhecida como túnica adventícia e é composta por tecido conjuntivo. A camada intermediária é a túnica média, que é composta por células musculares lisas e tecido elástico. É a camada mais desenvolvida, pois é responsável por absorver as pressões geradas pela bomba cardíaca e fazer a vasoconstrição e vasodilatação necessárias para impulsionar o sangue. A camada interna, que está em contato direto com o fluxo sangüíneo, é a túnica íntima. Essa camada é composta principalmente por células endoteliais. A cavidade interna do vaso na qual o sangue flui é chamada de luz. As paredes das artérias, ao contrário das paredes das 4 Módulo IV Doenças Cardiovasculares veias, têm mais resistência, fazendo com que, mesmo que não contenham sangue, elas mantenham a sua forma tubular. As arteríolas se transformam em capilares, que são vasos finos e delicados, que estão banhados por um líquido intersticial ou linfa (produzido pelo sistema linfático). São responsáveis pela troca de gases e nutrientes entre o sangue e as células. A rede de capilares é tão grande que se fosse estendida atingiria uma superfície de aproximadamente 100.000 Km! Os capilares são convertidos em vênulas e posteriormente vão aumentando seu calibre e se transformando nas veias. As veias são os vasos responsáveis pelo transporte de sangue de volta ao coração, depois que já houve a troca de gases, nutrientes e produtos do metabolismo entre os capilares e as células. A pressão nas veias é baixa e, por isso, elas dependem da contração muscular para impulsionar o sangue. As veias têm válvulas que ajudam a impulsionar o sangue e impedem o refluxo. O sangue transportado pelas veias é geralmente pobre em oxigênio (sangue venoso), exceto pelas veias pulmonares, que transportam sangue oxigenado dos pulmões para o coração. Por isso não é correto dizer que as veias são os vasos sanguíneos que transportam sangue venoso. As veias são os vasos que chegam ao coração, trazendo sangue de todo o organismo. 5 Módulo IV Doenças Cardiovasculares C) Sangue É o líquido contido nos vasos sanguíneos que circula pelo organismo graças, principalmente, às contrações do coração. Através da circulação do sangue, os tecidos recebem oxigênio, nutrientes, água, hormônios, sais minerais e transportam gás carbônico e resíduos do metabolismo para o organismo eliminar pelos pulmões e pelos rins. O sangue também é responsável pela regulação da temperatura corporal e pela defesa do organismo contra agentes infecciosos. O sangue é formado por uma parte sólida (45%) e uma parte líquida (55%). A parte sólida compreende as células, representadas por hemácias (glóbulos vermelhos ou eritrócitos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas. A parte líquida compreende o plasma sanguíneo, que é constituído por 90% de água e o restante por moléculas de proteínas, como enzimas, fatores de coagulação, imunoglobulinas, anticorpos, hormônios, eletrólitos (cálcio, potássio, sódio) e resíduos, como uréia, ácido lático e dióxido de carbono. As plaquetas são fragmentos de uma célula chamada megacariócito. Sua principal função é a formação de coágulos, participando, portanto, do processo de coagulação sanguínea. D) Sistema Linfático É um componente especializado do sistema cardiovascular responsável pela absorção do excesso de fluido, pela defesa do corpo contra microorganismos e partículas estranhas e pela absorção de gordura pelas vilosidades intestinais. O sistema linfático é um sistema que trabalha paralelamente ao sistema circulatório. Ele é constituído por uma vasta rede de vasos, chamados vasos linfáticos, que são semelhantes às veias. Os vasos linfáticos são distribuídos por todo o corpo e recolhem o líquido tissular que não retornou aos capilares sanguíneos, filtrando-o e reconduzindo-o à circulação sanguínea. 1.2 Fisiologia Para saber como funciona cada medicamento, inicialmente, precisamos conhecer a fisiologia da ativação das plaquetas. Adesão e ativação plaquetária As plaquetas circulantes não interagem com o endotélio íntegro. Na presença de lesão vascular, o endotélio é um importante componente no processo de coagulação do sangue, pois favorece a adesão e ativação plaquetária. No processo de formação do trombo plaquetário, o endotélio é a principal fonte de produção do fator de von Willebrand, que funciona como uma “ponte” entre a superfície da plaqueta e o colágeno (fvW). Sob circunstâncias normais, as plaquetas não aderem ao endotélio, porém, após lesão vascular são capazes de responder rapidamente às propriedades trombogênicas das células endoteliais.Agressões (fatores de risco) que produzam alteração ou perda das células endoteliais levam a dois fenômenos simultâneos: a ativação de plaquetas e a coagulação, que são sinérgicos na formação do trombo. Após uma lesão endotelial, dentro de poucos segundos, as plaquetas aderem ao colágeno exposto do endotélio lesado (aderência plaquetária) e umas às outras (agregação plaquetária). A seguir, as plaquetas perdem suas membranas individuais e formam uma massa gelatinosa. Esse tampão plaquetário interrompe rapidamente o sangramento, mas, para que seja eficaz em longo prazo, deve 6 Módulo IV Doenças Cardiovasculares ser reforçado com fibrina. O reforço com fibrina resulta em estímulos locais da coagulação sanguínea: o colágeno exposto dos vasos lesados, as membranas e o conteúdo liberado das plaquetas. A produção local de trombina não apenas libera ADP plaquetário, um poderoso indutor da agregação plaquetária, como também estimula a síntese de prostaglandinas a partir do ácido aracdônico das membranas plaquetárias. Essas potentes substâncias são constituídas de outras duas substâncias que exercem efeitos opostos sobre a trombogênese. O tromboxano A2 (TXA2) é sintetizado no interior das plaquetas e induz à trombogênese e vasoconstrição. A prostaciclina (PGI2) é sintetizada no interior das paredes vasculares e inibe a trombogênese. A serotonina (5-HT) também é liberada das plaquetas, estimulando a agregação plaquetária e a vasoconstrição. Em um indivíduo normal, a coagulação é iniciada dentro de 20 segundos após a lesão ocorrer no vaso sanguíneo, causando dano às células endoteliais. As plaquetas formam imediatamente um tampão plaquetário no local da lesão. Essa é a chamada hemostasia primária. A hemostasia secundária acontece quando os componentes do plasma chamados fatores de coagulação respondem (em uma completa cascata de reações) para formar fios de fibrina, que fortalecem o tampão plaquetário. As plaquetas ativadas então liberam o conteúdo de seus grânulos, que contêm uma grande variedade de substâncias que estimulam uma ativação ainda maior de outras plaquetas e melhoram o processo hemostático. O processo hemostático primário pode ser dividido didaticamente em 4 fases: Vasoconstrição: após a lesão inicial, há um breve período de vasoconstrição arteriolar. Este efeito é transitório e o sangramento recomeçaria se não fosse a ativação dos sistemas plaquetário e da coagulação. Adesão: inicia-se quando as plaquetas aderem ao endotélio vascular. Essa aderência acontece com uma ligação entre a glicoproteína IB na superfície das plaquetas e colágeno exposto durante a lesão do endotélio. Essa ligação é mediada pelo fator de von Willebrand que funciona como uma “ponte” entre a superfície da plaqueta e o colágeno. Ativação Plaquetária: quando ocorre a ativação das plaquetas, elas mudam de forma e liberam conteúdos dos seus grânulos no plasma, entre eles produtos de oxidação do ácido aracdônico pela via cicloxigenase (PGH2 e seu produto, o tromboxano), ADP, fator de ativação plaquetária (PAF). Quando um indivíduo faz uso de AAS, ocorre a inativação da enzima cicloxigenase, evitando a síntese de PGH2 e tromboxano e ocasionando um prolongamento do tempo de sangramento. 7 Módulo IV Doenças Cardiovasculares Agregação plaquetária: as plaquetas se agregam umas às outras, formando o chamado “trombo branco”. A agregação plaquetária é promovida por vários agonistas, incluindo colágeno, trombina, ADP e TXA2, atuando sobre receptores específicos na superfície das plaquetas. A ativação por agonistas leva à expressão dos receptores GPIIb/IIIa que se ligam ao fibrinogênio e isso liga plaquetas adjacentes, que aderem umas às outras. Formação do trombo: esta adesão das plaquetas umas às outras dá origem ao processo final e ao que chamamos de trombo. 2. QUAIS SÃO AS CAUSAS? Não há uma causa única para as doenças cardiovasculares, mas sabe-se que existem fatores que aumentam a probabilidade de sua ocorrência. São os denominados fatores de risco cardiovascular. Entre eles, os principais são: hipertensão arterial, dislipidemia, tabagismo, diabetes mellitus, sedentarismo, obesidade, hereditariedade e estresse. A aterotrombose é a causa mais comum das doenças cardiovasculares, que colocam em risco a vida do paciente. É um processo patológico evolutivo que começa com a ruptura imprevisível e súbita de uma placa aterosclerótica, que causará a ativação das plaquetas, formação do trombo e a obstrução parcial ou completa das artérias, dando origem aos acidentes aterotrombóticos. 2.1 Mas o que é aterosclerose? Trata-se de uma doença crônico-degenerativa que leva à obstrução das artérias em razão de um processo proliferativo, de deposição de lipídeos, e inflamatório, caracterizado pela presença de macrófagos, monócitos, linfócitos e outras células, em resposta a uma agressão à parede da artéria. As artérias afetadas perdem elasticidade e, à medida que as placas de gordura crescem, provocam o seu estreitamento. As placas podem se romper, expor as substâncias de seu interior e deflagrar o processo de coagulação sanguínea, provocando a obstrução total e súbita do vaso. O acúmulo de gordura ocorre desde a primeira década de vida, mas as manifestações clínicas, geralmente, só ocorrem no adulto. 8 Módulo IV Doenças Cardiovasculares 2.2 Qual a diferença entre aterosclerose, arteriosclerose e arteriolosclerose? Aterosclerose: É a situação caracterizada pelo depósito de colesterol, detritos celulares, cálcio e fibrina (material da coagulação do sangue) na camada média das artérias. Arteriosclerose: É definida pelo endurecimento e espessamento da parede das médias e grandes artérias, em virtude da perda ou diminuição da elasticidade arterial. Arteriolosclerose: Apresenta a mesma definição de arteriosclerose, mas ocorre em pequenas artérias, as arteríolas. 3. DOENÇAS RELACIONADAS À ATEROSCLEROSE 3.1 O que é infarto agudo do miocárdio (IAM)? Caracteriza-se pela morte de células de uma região do músculo cardíaco por causa da ausência ou insuficiência da irrigação sanguínea. Normalmente é causado pela oclusão de uma artéria coronária em razão da formação de um trombo, mas também pode ocorrer devido a um espasmo coronário (como no abuso de cocaína) ou de embolia coronária (rara), porém são menos freqüentes. 3.1.1 Quais são os sintomas? O sintoma mais freqüente é a angina (dor no peito), que pode se irradiar para o pescoço, a mandíbula, os membros superiores e o dorso, acompanhada por náuseas, vômitos, sudorese e palidez. 9 Módulo IV Doenças Cardiovasculares 3.2 O que são síndromes coronarianas agudas (SCAs)? São causadas pela oclusão permanente ou temporária de uma artéria coronária que irá resultar em uma lesão miocárdica, que vai desde a isquemia até a morte do músculo cardíaco. A causa mais comum de uma SCA é a ruptura de uma placa aterosclerótica. 3.2.1 Quais são os sinais e sintomas? O sintoma mais comum é o aperto ou pressão no peito (angina pectoris). É comum em pacientes que têm a doença na artéria coronária, mas também pode ocorrer em pacientes com coronárias normais, em hipertensos não controlados e nas doenças das valvas cardíacas. 3.3 O que é doença arterial periférica (DAP)? É definida pela redução do fluxo sanguíneo para as pernas e pés devido à oclusão das artérias dos membros inferiores. Sua causa está ligada aos fenômenos ateroscleróticos e aterotrombóticos, mas, também, pode ocorrer em virtude de arterite, aneurisma e embolia. 3.3.1 Quais são os sintomas? O sintoma mais comum é a claudicação intermitente, caracterizada como dor do tipo cãibra ou fadiga dos músculos provocada pelo esforço físico da caminhada e que melhora em repouso. 10 Módulo IV Doenças Cardiovasculares 3.4 O que é acidente vascular cerebral (AVC)? Acidente vascular cerebral é o resultado da interrupção ou diminuiçãodo transporte de sangue ao cérebro em conseqüência da obstrução de um vaso. A ausência de irrigação impede a oxigenação e nutrição das células provocando morte celular e danos às funções neurológicas. 3.4.1 Como é classificado? Acidente vascular cerebral isquêmico - Ocorre devido à formação de um trombo que bloqueia ou diminui a passagem de sangue. Cerca de 80% dos AVCs são causados por isquemia. Acidente vascular cerebral hemorrágico – Ocorre quando há ruptura de um vaso sanguíneo. 3.4.2 Quais são os sinais e sintomas? Os sinais mais comuns são déficit sensitivo, alterações na coordenação motora, dificuldade para focar a visão, para deglutir, paralisia facial, distúrbios da fala e outros. 11 Módulo IV Doenças Cardiovasculares 4. TRATAMENTO Quais são os medicamentos utilizados para o tratamento das doenças aterotrombóticas? Como visto anteriormente, as plaquetas constituem papel essencial nas doenças aterotrombóticas, em virtude desse fato, os medicamentos indicados para o tratamento são os agentes antiplaquetários. Abaixo seguem os principais medicamentos utilizados na terapia antitrombótica. Apesar de todos possuírem o mesmo efeito final, que é inibir a agregação plaquetária, eles diferem quanto ao mecanismo de ação, à especificidade, à eficácia e ao perfil de eventos adversos. ácido acetilsalicílico: atua inibindo irreversivelmente as cicloxigenases, COX1 (plaquetas, estômago e rim) e COX2 ( SNC, traquéia, rim, células endoteliais, testículos, ovários). A COX1 é responsável pela síntese de tromboxano (TXA2), cuja função é promover agregação plaquetária. O tempo para o início de ação é de 20 a 30 minutos e o pico de ação se dá em uma ou duas horas nas preparações convencionais e de três a quatro horas quando são revestidas. O tempo de meia-vida plasmática é de 15 a 20 minutos e seu efeito persiste durante o tempo de vida das plaquetas, que é em média de 10 dias. Entre os efeitos adversos destacam-se úlceras e hemorragia gastrointestinal. dipiridamol: seu mecanismo de ação inibe a enzima fosfodiesterase e bloqueia a captação de adenosina pelo endotélio vascular e hemácias, proporcionando um aumento do AMP cíclico plaquetário, dificultando a adesão e agregação das plaquetas. Sua eliminação é feita através da via biliar e apresenta tempo de meia-vida de 10 horas, administrado duas vezes ao dia. Entre os efeitos adversos destacam-se vômito, diarréia, cefaléia, vertigem, hipotensão, falta de ar e taquicardia. bissulfato de clopidogrel: possui mecanismo de ação diferenciado do ácido acetilsalicílico, inibe seletivamente a ligação do difosfato de adenosina (ADP) ao seu receptor plaquetário, age modificando irreversivelmente o receptor do ADP impedindo assim a agregação. A dose diária recomendada é de 75 mg, apresenta pico de concentração plasmática 1 hora após a ingestão e tempo de meia-vida de 8 horas. O clopidogrel pode provocar dor abdominal, dispepsia (azia), gastrite, prisão de ventre, diarréia, alterações na pele e hemorragia. cloridrato de ticlopidina: seu mecanismo é o mesmo do clopidogrel, interfere na agregação plaquetária através da inibição seletiva dos receptores de ADP ligados à membrana das plaquetas, impedindo a ação do fibrinogênio. O pico da concentração é atingido, aproximadamente, entre 1 e 3 horas e a meia-vida varia entre 24 e 36 horas (após dose de ataque) ou entre 4 e 14 dias, após a dose recomendada de 500 mg/dia dividida em duas tomadas. Apresenta como efeitos adversos rash e depressão da medula óssea (neutropenia). 12 Módulo IV Doenças Cardiovasculares Segundo estudos clínicos, pacientes com diabetes tratados com bissulfato de clopidogrel tiveram um menor risco de IAM, AVC isquêmico, morte vascular e re-hospitalização por eventos isquêmicos / sangramentos quando comparados com os pacientes que fizeram uso de AAS. Após 1 ano, o uso em longo prazo de clopidogrel demonstrou uma redução do risco relativo de 26,9% do objetivo composto primário (morte, IAM ou AVC). Clopidogrel é usado como dose de ataque após eventos e oferece menos efeitos colaterais e mais segurança que o AAS e ticlopidina. Associado ao AAS apresenta ótimos resultados. 5. QUAIS SÃO AS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS MAIS COMUNS? ácido acetilsalicílico com: antiinflamatórios não esteroidais: A associação pode potencializar o efeito de inibição das COX e provocar sangramentos e úlceras. insulina: Diabéticos que fazem uso de insulina e tomam ácido acetilsalicílico podem ter hipoglicemia, pois ele potencializa a ação da insulina. O mesmo pode ocorrer quando se faz uso de clorpropamida. anticoagulantes orais: Essa associação pode causar quadros de hemorragia. digitálicos: O ácido acetilsalicílico pode potencializar seus efeitos e causar dano à saúde do paciente. dipiridamol com: cetoprofeno: A administração concomitante pode aumentar o risco de sangramentos visto que o cetoprofeno em seu mecanismo de ação inibe COX e, conseqüentemente, TXA. Portanto não devem ser associados. anticoagulantes orais: Se associados provocam potencialização do efeito de antiagregação plaquetária, aumentando assim o risco da ocorrência de sangramentos. ácido acetilsalicílico: Apresenta efeito sinérgico com o dipiridamol e deve ser administrado com precaução. bissulfato de clopidogrel com: ácido acetilsalicílico: Em associação não modificam a inibição da agregação plaquetária mediada pelo clopidogrel, porém este potencializa o efeito do ácido acetilsalicílico na agregação plaquetária. No entanto, a administração concomitante de 500 mg de ácido acetilsalicílico, duas vezes por dia, durante um dia, não aumentou significativamente o prolongamento do tempo de sangramento induzido pelo bissulfato de clopidogrel. varfarina: risco de potencialização dos efeitos anticoagulantes com possibilidade de ocorrer de sangramentos. 13 Módulo IV Doenças Cardiovasculares fámacos metabolizados pela enzima CYP2C9 do citocromo P450: O clopidogrel provoca aumento nos níveis séricos dos medicamentos que são metabolizados por essa enzima por apresentar ação inibitória sobre ela. A tolbutamida e difenil-hidantoína são exemplos de fármacos metabolizados pela CYP2C9. cloridrato de ticlopidina com: antiinflamatórios não esteroidais: Podem potencializar o efeito dos anticoagulantes e causar hemorragias. ácido ascórbico: Atua em sinergia com a ação antiagregante da ticlopidina e pode provocar sangramentos. 6. QUAIS SÃO OS TRATAMENTOS CIRÚRGICOS E POR QUE DEVEM SER ASSOCIADOS AO TRATAMENTO MEDICAMENTOSO? Caso o paciente apresente alto risco de sofrer um evento aterotrombótico, o médico pode recomendar procedimentos cirúrgicos. A angioplastia é o procedimento para desobstruir artérias coronarianas. Através dela o fluxo sanguíneo é restabelecido, há alívio da dor e prevenção contra novos eventos. Algumas vezes, durante o procedimento, é colocado um stent para manter a artéria desobstruída. Como o stent é um corpo estranho, o organismo pode reagir e causar uma nova oclusão nas artérias. Uma forma de evitar que isso ocorra é administrar ao paciente medicamentos antiplaquetários. 14 Módulo IV Doenças Cardiovasculares 7. COMO O FARMACÊUTICO PODE ORIENTAR O PACIENTE QUE FAZ USO DOS ANTIAGREGANTES PLAQUETÁRIOS? É importante orientar o paciente para que não se esqueça de tomar os comprimidos e que procure obedecer ao horário das administrações, para que, assim, o risco da ocorrência de novo evento aterotrombótico seja minimizado. Além disso, informar as possíveis interações que podem ocorrer com esses medicamentos, principalmente associados aos que são livres de prescrição (OTC). Referências: Fuchs, F.D. Wannmacher, L. “Farmacologia Clínica - Fundamentos da Terapêutica Racional”. Guanabara Koogan: 2ª edição, 1998. Mano, R. “Doença Arterial Coronariana. Manuais de Cardiologia”. MS, out/ 2007. Disponível em: www.manuaisdecardiologia.med.br/dac/dac.htm.Acesso em: 11/02/08. Page, C; Curtis, M. et al. “Farmacologia Integrada”. Manole: 2ª edição brasileira, 2004. Rang, H.P. Dale, M.M. et al. “Farmacologia”. Elsevier: tradução da 5ª edição americana, 2004. CURE Trial Investigators. “Effects of clopidogrel in addition to aspirin in patients with acute coronary syndromes without ST-segment elevation”. N. Engl. J. Med., 2001. 345(7): 494-502. www.anvisa.gov.br: acesso em 28/01/08. www.saude.gov.br: acesso em 25/01/08. Elaborado por: Juliana Miranda Papine CRF-SP 44203 Francine C. Siqueira César Estagiária
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