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CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios i Sumário 1 INTRODUÇÃO AO CURSO ................................................................................... 1 1.1 Importância do estudo dos solos .................................................................... 1 1.2 A mecânica dos solos e a geotecnia ............................................................... 1 1.3 Aplicações de campo da mecânica dos solos ................................................. 3 1.3.1 Fundações ............................................................................................... 3 1.3.2 Obras subterrâneas e estruturas de contenção ....................................... 3 1.3.3 Projeto de pavimentos ............................................................................. 3 1.3.4 Escavações, aterros e barragens ............................................................ 3 1.3.5 Transporte de massa ............................................................................... 3 1.4 Desenvolvimento do curso .............................................................................. 3 2 ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS ................................................................. 4 2.1 Conceituação de solo e de rocha .................................................................... 4 2.2 Intemperismo .................................................................................................. 4 2.2.1 Intemperismo físico.................................................................................. 5 2.2.2 Intemperismo químico ............................................................................. 6 2.2.3 Intemperismo biológico ............................................................................ 6 2.3 Agentes de Intemperismo ............................................................................... 7 2.3.1 Material aparente ..................................................................................... 7 2.3.2 Clima ....................................................................................................... 7 2.3.3 Topografia ............................................................................................... 8 2.3.4 Tempo ..................................................................................................... 8 2.4 Perfis de intemperismo ................................................................................... 9 2.5 Ciclo rocha – solo ......................................................................................... 14 3 Classificação dos solos ........................................................................................ 19 3.1 Classificação segundo sua origem e formação ............................................. 19 3.1.1 Solos residuais ...................................................................................... 19 3.1.2 Solos sedimentares ............................................................................... 20 3.1.2.1 Solos eólicos .................................................................................................... 21 3.1.2.2 Solos aluvionares ............................................................................................. 22 3.1.2.3 Solos glaciais .................................................................................................... 23 3.1.2.4 Solos coluvionares ........................................................................................... 23 3.1.3 Solos orgânicos ..................................................................................... 24 3.2 Classificação quanto à estrutura ................................................................... 25 3.3 Forma das partículas .................................................................................... 27 CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios ii 3.4 Textura ......................................................................................................... 27 3.5 Identificação Visual e Táctil dos Solos .......................................................... 29 3.6 Classificação Granulométrica ....................................................................... 31 3.6.1 Ensaio de Granulometria ....................................................................... 31 3.6.2 Representação Gráfica do resultado do ensaio de granulometria .......... 32 3.7 Designação segundo a NBR-6502 ................................................................ 33 3.8 Composição Química e Mineralógica............................................................ 34 3.8.1 Solos Grossos - Areias e Pedregulhos .................................................. 35 3.8.2 Solos Finos – Argilas (Imagens da apostila de solos pasta separada) ... 35 3.9 Classificação Segundo o Sistema Unificado de Classificação dos Solos ...... 37 3.9.1 Solos Grossos ....................................................................................... 38 3.9.2 Solos Finos ............................................................................................ 40 3.9.3 Solos Pantanosos e Turfas .................................................................... 41 A linha U da carta de plasticidade ........................................................................ 41 3.9.4 Observações complementares .............................................................. 42 3.10 Classificação Segundo a AASHTO ............................................................... 42 3.10.1 Solos pertencentes aos grupos A1 ao A3 .............................................. 42 3.10.2 Solos pertencentes aos grupos A4 ao A7 .............................................. 42 4 CONSISTÊNCIA DOS SOLOS ............................................................................ 47 4.1 Noções básicas ............................................................................................ 47 4.2 Estados de Consistência .............................................................................. 47 4.3 Determinação dos Limites de Consistência .................................................. 48 4.3.1 Limite de Liquidez .................................................................................. 48 4.3.2 Limite de Plasticidade ............................................................................ 50 4.3.3 Limite de Contração ............................................................................... 51 4.4 Índices de consistência ................................................................................. 51 4.4.1 Índice de Plasticidade ............................................................................ 51 4.4.2 Índice de Consistência ........................................................................... 52 4.5 Índice de Atividade ....................................................................................... 52 5 FASES SÓLIDO - ÁGUA - AR ............................................................................. 54 5.1 Fase Sólida................................................................................................... 54 5.2 Fase Gasosa ................................................................................................ 54 5.3 Fase Líquida ................................................................................................. 54 5.3.1 Água Livre ............................................................................................. 54 5.3.2 Água Capilar ..........................................................................................54 5.3.3 Água Adsorvida (adesiva) ...................................................................... 54 5.3.4 Água de Constituição ............................................................................. 54 CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios iii 5.3.5 Água higroscópica ................................................................................. 54 6 ÍNDICES FÍSICOS ............................................................................................... 56 6.1 Introdução .................................................................................................... 56 6.2 Relações entre Volumes ............................................................................... 56 6.2.1 Índice de Vazios (e) ............................................................................... 56 6.2.2 Porosidade (n) ....................................................................................... 56 6.2.3 Grau de Saturação (S) ........................................................................... 57 6.3 Relações entre Pesos e Volumes ................................................................. 57 6.3.1 Peso específico aparente úmido ou natural (n ou ) .............................. 57 6.3.2 Peso específico aparente seco (s) ........................................................ 57 6.3.3 Peso específico aparente saturado (sat) ................................................ 57 6.3.4 Peso específico dos sólidos (g) ............................................................. 58 6.3.5 Peso específico do solo submerso (sub) ................................................ 58 6.4 Relação entre pesos ..................................................................................... 59 6.4.1 Umidade (w) .......................................................................................... 59 6.5 Relação entre pesos específicos .................................................................. 59 6.5.1 Densidade real dos Grãos ..................................................................... 59 6.6 Relações entre os Índices Físicos ................................................................ 59 6.7 Densidade relativa (Dr) GRAU de COMPACIDADE ...................................... 60 6.8 Ensaios Necessários para Determinação dos Índices Físicos ...................... 61 6.8.1 Determinação da Umidade .................................................................... 61 6.8.2 Determinação do peso Específico do Solo ............................................ 61 6.8.2.1 Em Laboratório ................................................................................................ 61 6.8.2.2 Em Campo ....................................................................................................... 62 6.8.3 Determinação do peso Específico das Partículas .................................. 62 6.9 Valores Típicos ............................................................................................. 62 7 COMPACTAÇÃO ................................................................................................. 63 7.1 Introdução .................................................................................................... 63 7.2 O emprego da compactação ......................................................................... 63 7.3 Diferenças entre Compactação e Adensamento ........................................... 63 7.4 Ensaio de Compactação ............................................................................... 64 7.5 Curva de Compactação ................................................................................ 64 7.6 Energia de compactação .............................................................................. 66 7.6.1 Influência da energia de compactação na curva de compactação do solo 66 7.7 Influência da compactação na estrutura dos solos ....................................... 67 7.8 Influência do tipo de solo na curva de compactação ..................................... 68 CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios iv 7.9 Escolha do valor de umidade para compactação em campo ........................ 69 7.10 Equipamentos de campo .............................................................................. 69 7.10.1 Soquetes ............................................................................................... 70 7.10.2 Rolos Estáticos ...................................................................................... 70 7.10.2.1 Pé-de-Carneiro ............................................................................................ 70 7.10.2.2 Rolo Liso ...................................................................................................... 71 7.10.2.3 Rolo Pneumático ......................................................................................... 72 7.10.3 Rolos Vibratórios ................................................................................... 73 7.11 Controle da Compactação ............................................................................ 73 7.11.1 Influência do Número de Passadas do Rolo .......................................... 76 7.12 Índice de Suporte Califórnia (ISC) ................................................................ 77 7.12.1 Ensaio de Compactação ........................................................................ 77 7.12.2 Ensaio de Expansão .............................................................................. 77 7.12.3 Determinação do CBR ou ISC ............................................................... 78 8 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ........................................................................... 80 CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 1 1 INTRODUÇÃO AO CURSO 1.1 Importância do estudo dos solos Quase todas as obras de engenharia têm de alguma forma, de transmitir as cargas sobre elas impostas ao solo. Mesmo as embarcações, ainda durante o seu período de construção, transmitem ao solo as cargas devidas ao seu peso próprio. Além disto, em algumas obras, o solo é utilizado como o próprio material de construção, assim como o concreto e o aço são utilizados na construção de pontes e edifícios. São exemplos de obras que utilizam o solo como material de construção os aterros rodoviários, as bases para pavimentos de aeroportos, os túneis e as barragens de terra. Para o Engenheiro Civil, a necessidade do conhecimento das propriedades do solo vai além do seu aproveitamento como material de construção uma vez que cabe a ele absorver as cargas aplicadas na sua superfície, e mesmo interagir com obras implantadas no seu interior. Pode-se dizer que de todas as obras de engenharia, aquelas que de alguma forma utilizam a mecânica dos solos são responsáveis pela maior parte dos prejuízos causados à humanidade, sejam eles de natureza econômica ou mesmo a perda de vidas humanas. No Brasil, por exemplo, devido ao seu clima tropical e ao crescimento desordenado das metrópoles, um sem número de eventos como os deslizamentos de encostas ocorrem, provocando enormes prejuízos e ceifando a vida de centenas de pessoas a cada ano. Vê-se aqui a grande importância do engenheiro geotécnico no acompanhamento destas obras de engenharia, evitando por vezes a ocorrência de desastres catastróficos. 1.2 A mecânicados solos e a geotecnia Por ser o solo um material natural, cujo processo de formação não depende de forma direta da intervenção humana, o seu estudo e o entendimento de seu comportamento depende de uma série de conceitos desenvolvidos em ramos afins de conhecimento. A Mecânica dos Solos estuda o comportamento do solo sob o aspecto da Engenharia Civil. Como sabemos o solo cobre o substrato rochoso e provém da desintegração e decomposição das rochas, mediante a ação dos intemperismos físico, químico e biológico. Dando origem a uma verdade conhecida: “que em se tratando de solos e rochas, a heterogeneidade é a regra, a homogeneidade a exceção”. Assim, de maneira geral, por causa da sua heterogeneidade e das suas propriedades bastante complexas, é extremamente difícil desenvolver um modelo que caracterize de forma satisfatória o seu comportamento. Atualmente, a Mecânica dos Solos situa-se dentro de um campo mais envolvente que agrega também a Engenharia de Solos (Maciços e Obras de Terra e Fundações) e a Mecânica das Rochas (Túneis, Escavações e Fundações) em uma área, denominada Geotecnia que tem como objetivo estudar as propriedades físicas dos materiais geológicos (solos, rochas) e suas aplicações em obras de Engenharia Civil seja como material de construção ou como elemento de fundação. A Mecânica dos Solos é uma disciplina relativamente jovem da engenharia civil, somente sistematizada e aceita como ciência em 1925, quando Karl Terzaghi deu início à publicação de seus trabalhos sobre solos. Ele é conhecido, com todos os méritos, como o pai da mecânica dos solos. Por ser um material de origem natural, o processo de formação do solo influenciará muito em seu comportamento. Assim, além da Mecânica dos Solos, tornam-se CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 2 necessários para o entendimento do comportamento dos solos estudos referentes às ciências que compõem as chamadas Ciências da Terra e que são: Mineralogia: Estudo dos Minerais. De particular interesse para o engenheiro é o estudo dos minerais argilosos; Petrologia: Estuda detalhadamente as Rochas; Geologia Estrutural ou Tectônica: Estuda as dobras e falhas da estrutura da crosta terrestre. De fundamental importância nas questões relativas a cortes, túneis e fundações de barragens e obras de terra; Geomorfologia: Estuda as formas da superfície terrestre e as forças que as originam; Geofísica: Consiste na aplicação dos métodos da Física ao estudo das propriedades dos maciços rochosos e terrosos. São de grande importância os “métodos geofísicos de prospecção” da crosta terrestre; Pedologia: Estuda as camadas superficiais da crosta terrestre, em particular sua formação e classificação, levando em conta a ação de agentes climatológicos. Particularmente no que se referem ao estudo da umidade dos solos, os conhecimentos pedológicos vão se mostrando de interesse nos problemas de pavimentação; Mecânica das Rochas: Propõe-se a sistematizar o estudo das propriedades tecnológicas das rochas e o comportamento dos maciços rochosos, segundo os métodos da Mecânica dos Solos; Hidrologia: Ciência que se ocupa do estudo das águas superficiais e subterrâneas. O estudo e o desenvolvimento da mecânica dos solos são fortemente amparados em bases experimentais, a partir de ensaios de campo e laboratório. O solo como veremos adiante, é um material trifásico, composto basicamente de ar, água e partículas sólidas (Figura 1). A parte fluida do solo (ar e água) pode se apresentar em repouso ou pode se movimentar pelos seus vazios mediante a existência de determinadas forças. O movimento da fase fluida do solo é estudado com base em conceitos desenvolvidos pela mecânica dos fluidos. Figura 1 – Amostra de Solo CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 3 1.3 Aplicações de campo da mecânica dos solos Todas as obras de Engenharia Civil se assentam sobre o terreno e, por isso, requerem que o comportamento do solo seja devidamente considerado. 1.3.1 Fundações As cargas de qualquer estrutura têm de ser, em última instância, descarregadas no solo através de sua fundação. Assim a fundação é uma parte essencial de qualquer estrutura. Seu tipo e detalhes de sua construção podem ser decididos somente com o conhecimento e aplicação de princípios da mecânica dos solos. 1.3.2 Obras subterrâneas e estruturas de contenção Obras subterrâneas como estruturas de drenagem, dutos, túneis e as obras de contenção como os muros de arrimo, cortinas atirantadas somente podem ser projetadas e construídas usando os princípios da mecânica dos solos e o conceito de "interação solo-estrutura". 1.3.3 Projeto de pavimentos O projeto de pavimentos pode consistir de pavimentos flexíveis ou rígidos. Pavimentos flexíveis dependem mais do solo subjacente para transmissão das cargas geradas pelo tráfego. Problemas peculiares no projeto de pavimentos flexíveis são o efeito de carregamentos repetitivos e problemas devidos às expansões e contrações do solo por variações em seu teor de umidade. 1.3.4 Escavações, aterros e barragens A execução de escavações no solo requer frequentemente o cálculo da estabilidade dos taludes resultantes. Escavações profundas podem necessitar de escoramentos provisórios, cujos projetos devem ser feitos com base na mecânica dos solos. Para a construção de aterros e de barragens de terra, onde o solo é empregado como material de construção e fundação necessita-se de um conhecimento completo do comportamento de engenharia dos solos, especialmente na presença de água. O conhecimento da estabilidade de taludes, dos efeitos do fluxo de água através do solo, do processo de adensamento e dos recalques a ele associados, assim como do processo de compactação empregado é essencial para o projeto e construção eficientes de aterros e barragens de terra. 1.3.5 Transporte de massa Os conceitos obtidos do estudo do fluxo de água em solos podem ser estendidos para a análise do transporte de poluentes miscíveis ou não miscíveis em subsuperfície. A mecânica dos solos é uma das importantes ferramentas na realização de atividades de diagnóstico, prognóstico e proposição de medidas corretivas para problemas ambientais, no que mais recentemente se convencionou chamar de geotecnia ambiental. 1.4 Desenvolvimento do curso Este curso de mecânica dos solos pode ter sua parte teórica dividida em duas partes: inicialmente são apresentados os tópicos de origem e formação dos solos, textura e estrutura dos solos, análise granulométrica, estudo das fases ar-água-partículas sólidas, limites de consistência, índices físicos e classificação dos solos, onde uma primeira aproximação é feita com o tema solos e uma segunda parte, envolvendo tópicos de tensões geostáticas e induzidas, compactação, permeabilidade dos solos, compressibilidade dos solos, resistência ao cisalhamento, estabilidade de taludes e empuxos de terra e estruturas de contenção, onde um tratamento mais fundamentado na ótica da engenharia civil é dado aos solos. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 4 2 ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS 2.1 Conceituação de solo e de rocha O significado da palavra solo não é o mesmo para todas as ciências que estudam a natureza. Para a agronomia significa: material relativamente fofo da crosta terrestre, consistindo de rochas decompostas e matéria orgânica, o qual é capaz de sustentar a vida. Já para a geologia significa: material inorgânico não consolidado proveniente da decomposição dasrochas, o qual não foi transportado do seu local de formação. Na engenharia, é conveniente definir como rocha aquilo que é impossível escavar manualmente, que necessite de explosivo para seu desmonte. Chamamos de solo a rocha já decomposta ao ponto granular e passível de ser escavada apenas com o auxílio de pás e picaretas ou escavadeiras. Ou seja, esse material forma a fina camada superficial que cobre quase toda a crosta terrestre e no seu estado natural apresenta-se composto de partículas sólidas (com diferentes formas e tamanhos), líquidas e gasosas. Todo solo tem origem na desintegração e decomposição das rochas pela ação de agentes intempéricos ou antrópicos. Os solos resultantes destes processos de intemperismo podem apresentar maior ou menor concentração de determinado tamanho, forma ou tipo de partícula depende fundamentalmente da composição química da rocha matriz e do clima da região. Desta forma, podemos dizer que para a engenharia, solo é um material granular composto de rocha decomposta, água, ar (ou outro fluido) e eventualmente matéria orgânica, que pode ser escavado sem o auxílio de explosivos. 2.2 Intemperismo Intemperismo é o conjunto de processos físicos, químicos e biológicos pelos que as rochas sofrem ao interagir com a atmosfera para formar o solo. Estas interações, dependendo do tipo, tempo e condições de exposição a estes fatores, alteram massas de rochas sãs em fragmentos menores de vários tamanhos, que podem variar de grandes blocos até partículas muito pequenas de argila. Os processos de intemperismo em função dos mecanismos predominantes de atuação são classificados em três categorias: (i) intemperismo físico, (ii) intemperismo químico e (iii) intemperismo biológico. Na natureza todos estes processos tendem a acontecer simultaneamente, em determinados locais e condições climáticas um deles pode ter predominância sobre o outro. Vale ressaltar ainda que um tipo de intemperismo pode desencadear, auxiliar ou até mesmo acelerar outro tipo de intemperismo no processo de transformação rocha- solo. Os processos de intemperismo físico reduzem o tamanho das partículas, aumentando sua área de superfície e facilitando o trabalho do intemperismo químico. Já os processos químicos e biológicos podem causar a completa alteração física da rocha e alterar suas propriedades químicas. Dependente de muitos fatores externos, o intemperismo pode ocorrer de maneira distinta nos diversos tipos de rochas e pode originar produtos diferentes para um mesmo tipo de rocha mãe. O solo é, assim, uma função da rocha-mãe e dos diferentes agentes de alteração. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 5 2.2.1 Intemperismo físico O intemperismo físico é constituído por processos mecânicos que causam desagregação das rochas, com separação dos grãos minerais antes coesos e sua fragmentação, transformando a rocha alterada em material descontínuo e friável sem alteração química dos seus componentes. Os principais agentes do intemperismo físico são citados a seguir: a) Variações de Temperatura - Sabemos que todo material varia de volume em função de variações na sua temperatura. Estas variações de temperatura ocorrem entre o dia e a noite e durante o ano, e sua intensidade será função do clima local. Acontece que uma rocha é geralmente formada de diferentes tipos de minerais, cada qual possuindo uma constante de dilatação térmica diferente, o que faz a rocha deformar de maneira desigual em seu interior, provocando o aparecimento de tensões internas gerando fraturas que vão se propagando ao longo do tempo; b) Repuxo coloidal – O repuxo coloidal é caracterizado pela retração da argila devido à sua diminuição de umidade, o que em contato com a rocha pode gerar tensões capazes de fraturá-la; c) Ciclos de gelo/degelo – As fraturas existentes nas rochas podem se encontrar parcialmente ou totalmente preenchidas com água. Esta água, em função das condições locais, pode vir a congelar, expandindo-se e gerando esforços que vão abrir cada vez mais as fraturas preexistentes na rocha, auxiliando no processo de intemperismo (a água aumenta em cerca de 8% o seu volume durante o processo cristalização); d) Cristalização de Sais – A água pode transportar sais dissolvidos que ao infiltrar nas rochas e evaporar, cristalizam-se formando sólidos e aumentando seu volume, pode ainda transportar substâncias ativas quimicamente que ao reagirem com ácidos provocam cristalização com aumento de volume. Esse aumento de volume gera esforços que podem abrir ainda mais as fraturas; e) Alívio de pressões – Alívio de pressões irá ocorrer em um maciço rochoso sempre que da retirada de material sobre ou ao lado do maciço, provocando a sua expansão, o que por sua vez, irá contribuir no fraturamento, estricções e formação de juntas na rocha; f) Ação física de vegetais – Muitas rochas podem desagregar-se pelo crescimento de raízes ao longo de suas fraturas; g) Vento Estes processos, isolados ou combinados (caso mais comum) "fraturam" as rochas continuamente, o que permite a entrada de agentes químicos e biológicos, cujos efeitos aumentam o fraturamento e tende a reduzir a rocha a blocos cada vez menores. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 6 2.2.2 Intemperismo químico É o processo de decomposição da rocha com a alteração química ou mineralógica dos seus componentes. Há várias formas através das quais as rochas decompõem-se quimicamente. Pode-se dizer, contudo, que praticamente todo processo de intemperismo químico depende da presença da água. As argilas representam o último produto do processo de decomposição. Entre os processos de intemperismo químico destacam-se os seguintes: a) Hidrólise – É o mais importante agente químico, Os minerais são dotados de finíssimos capilares. A água penetra nesses capilares e combinados com íons do mineral, formam novas substâncias. É o mecanismo que leva a destruição dos silicatos, que são os compostos químicos mais importantes da litosfera. Por exemplo, os minerais na presença dos íons H+ liberados pela água são atacados, reagindo com os mesmos. O H+ penetra nas estruturas cristalinas dos minerais desalojando os seus íons originais (Ca++, K+, Na+, Mg++, etc.) causando um desequilíbrio na estrutura cristalina do mineral e levando-o a destruição; b) Hidratação / desidratação – Certos minerais podem adicionar ou subtrair moléculas de água de sua composição, formando novos compostos. Alguns minerais quando hidratados (feldspatos, por exemplo) sofrem expansão, levando ao fraturamento da rocha; c) Carbonatação – É a reação dos íons CO3 -2 ou HCO3 -1 com os minerais da rocha, formando o ácido carbônico pela presença do CO2 contido na água. O intemperismo por carbonatação é mais acentuado em rochas calcárias por causa da diferença de solubilidade entre o CaCO3 e o bicarbonato de cálcio formado durante a reação; d) Oxidação – Os minerais se decompõem pela ação oxidante de O2 e CO2, dissolvidos em água, formando hidratos, óxidos, carbonatos, etc.; e) Ação química dos organismos e matéria orgânica – O produto de decomposição microbiana e química dos detritos orgânicos é o Húmus que se transforma dando ácido húmico que, como outros ácidos, aceleram grandemente a decomposição das rochas e solos. Os diferentes minerais constituintes das rochas originarão solos com características diversas, de acordo com a resistência que estes tenham ao intemperismo local. Há, inclusive, minerais que têm uma estabilidade química e física tal que normalmentenão são decompostos. O quartzo, por exemplo, por possuir uma enorme estabilidade física e química é parte predominante dos solos grossos, como as areias e os pedregulhos. 2.2.3 Intemperismo biológico Neste caso, a decomposição da rocha se dá graças a esforços mecânicos produzidos por vegetais através das raízes, por animais através de escavações dos roedores, da atividade de minhocas, ou por uma combinação destes fatores, ou ainda pela liberação de substâncias agressivas quimicamente, intensificando assim o intemperismo químico. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 7 Pode-se dizer que a maior parte do intemperismo biológico poderia ser classificado como uma categoria do intemperismo químico em que as reações químicas que ocorrem nas rochas são propiciadas por seres vivos. 2.3 Agentes de Intemperismo Diversas características do meio em que se processa o intemperismo influenciam as reações de alteração quanto à sua natureza, velocidade e intensidade. Este item apresenta alguns fatores de influência do intemperismo. 2.3.1 Material aparente A alteração intempérica das rochas depende da natureza dos minerais constituintes, de sua textura e estrutura. As rochas silicáticas, como o granito, são menos susceptíveis a alterações do que as rochas carbonáticas, como o mármore. Vale salientar que independente dos minerais constituintes da rocha, quanto maior a área exposta e mais susceptível ao intemperismo, maior será a velocidade de alteração dos minerais. O conceito de alterabilidade relativa foi inicialmente proposto por Goldich (1938). Essa proposição foi baseada na estabilidade química de rochas com diferentes composições mineralógicas, submetidas às mesmas condições de alteração. A Figura 2 apresenta uma sequência de rochas, em função da susceptibilidade à alteração dos minerais constituintes. Figura 2 – Ordem de alteração química das rochas. 2.3.2 Clima O clima é o fator que, isoladamente, mais influencia o intemperismo. Os dois mais importantes parâmetros climáticos são a precipitação e a temperatura que regulam a natureza e velocidade das reações químicas. Nos climas tropicais, caso do Brasil, as alterações são mais intensas e rápidas do que em locais de clima temperado. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 8 Outros agentes de alteração de ordem climática também exercem grande influência no intemperismo tais como, umidade relativa do ar, vento e pressão atmosférica. A Figura 3 apresenta uma correlação entre temperatura, precipitação média anual e os prováveis tipos e intensidades de alteração (Teixeira et al., 2000). Figura 3 – Tipos de alteração em função da temperatura e precipitação (Teixeira et al.,2000). 2.3.3 Topografia A topografia regula a velocidade do escoamento superficial das águas pluviais, e, portanto, de certo modo controla a quantidade de água que infiltra nos perfis. As reações químicas do intemperismo ocorrem mais intensamente onde é possível uma infiltração de água significativa, percolação por tempo suficiente para as reações ocorrerem em sua totalidade, bem como a lixiviação dos produtos resultantes destas reações. Com a repetição ao longo do tempo deste processo, os componentes solúveis são eliminados, resultando em perfis mais espessos e profundos. 2.3.4 Tempo O tempo necessário para intemperizar uma determinada rocha depende dos outros fatores que controlam o intemperismo, principalmente da susceptibilidade dos minerais e do clima. Em condições de intemperismo menos agressivas é necessário um tempo mais longo de exposição às intempéries para haver o desenvolvimento de um perfil de alteração. Valores da ordem de 20 a 50m por milhão de anos podem ser considerados representativos para velocidade de aprofundamento do perfil de alteração, sendo o valor extremo atribuído aos climas mais agressivos (climas tropicais), Por outro lado em climas muito frio, essa velocidade de aprofundamento pode ser da ordem de milímetros, explicada pela existência de camadas de gelo. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 9 2.4 Perfis de intemperismo Com base em todos os fatores físicos e químicos, apresentados com suas respectivas correlações e influências, a deterioração das rochas é um processo natural que forma camadas com características distintas que se sobrepõem. Estas camadas individualmente são chamadas de horizontes e podem variar de poucos centímetros a vários metros de espessura dependendo de como estes fatores agiram ao longo do tempo. O intemperismo químico possui um poder de desagregação da rocha muito maior do que o intemperismo físico. Deste modo, perfis de solos gerados em regiões onde há a predominância do intemperismo químico tendem a ser mais profundos e mais finos do que aqueles perfis de solos formados em locais onde há a predominância do intemperismo físico. Além disto, obviamente, os solos originados a partir de uma predominância do intemperismo físico apresentarão uma composição química semelhante à da rocha mãe, ao contrário daqueles solos formados em locais onde há predominância do intemperismo químico. Um dado conjunto de horizontes é denominado de perfil de intemperismo, que é estruturado verticalmente. A partir da rocha sã na base, os materiais destes horizontes, se tornam tão mais diferenciados com relação à rocha mãe em termos de composição, estruturas e texturas, quanto mais afastados se encontram dela. Devido às incertezas nos processos de intemperização uma mesma rocha pode originar diferentes perfis de intemperização. A Figura 4 ilustra a formação típica de perfis de intemperismo característicos de climas temperados e tropicais. Note que, no clima tropical, a camada de solo residual é bem mais espessa, e que a camada de saprólito penetra mais na rocha fraturada diminuindo sua espessura. Por sua vez, a Figura 5 ilustra dois perfis originados de uma rocha metamórfica (Gnaisse) e de uma rocha vulcânica (Basalto), onde é possível perceber as diferenças de fraturamento e orientação das descontinuidades que tornam a ação do intemperismo diferenciada nos tipos de rocha sã. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 10 Figura 4 – Perfis de intemperismo típicos de climas temperado e tropical (Nunes, 2005). CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 11 Figura 5 – Perfis de intemperismo típico de rochas metamórfica (gnaisse) e ígnea (basalto) (Nunes, 2005). CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 12 A caracterização usual dos estados de alteração de um meio rochoso é realizada com base em variações de cor e brilho dos minerais da rocha. Ao longo dos anos, vários autores apresentaram classificações características para estes perfis de intemperismo. Entre as propostas mais difundidas e utilizadas tem-se a da ISRM (1978) que apresenta 6 horizontes distintos, dos quais 5 descrevem as características de alteração de rochas e apenas 1 representa o solo resultante do intemperismo. Há também as propostas de Vargas (1953), Nogami (1967), Deere e Patton (1971), De Mello (1972), Eletrosul-Copel (1980), apresentadas na Tabela 2. Note que Vargas (1953), Nogami (1967) e De Mello (1972)descrevem 4 horizontes bastantes parecidos e que Deere e Patton (1971) e Eletrosul-Copel (1980) mostram 3, porém, com subdivisões. Tabela 1 – Classificação de perfis ISRM (1978). CLASSIFICAÇÃO DESCRIÇÃO Sem Alteração Sinais de Alteração não visíveis. Rocha fresca/sã. Cristais limpos. Algumas descontinuidades mostram alteração reduzida. Rocha Pouco Alterada Intemperismo das descontinuidades abertas na superfície e intemperização reduzida do material rochoso. Descontinuidades com alteração que pode atingir até alguns milímetros da superfície. Rocha Moderadamente Alterada Intemperismo na maior parte do maciço rochoso. Maciço não friável (exceto em rochas sedimentares mal cimentadas). Descontinuidades alteradas com ou sem material de preenchimento. Rocha Altamente Alterada Intemperismo em todo maciço rochoso. Maciço friável. Rocha sem brilho. Todo material alterado, exceto quartzo. Material escavável com martelo de geólogo. Rocha Completamente Alterada Maciço totalmente intemperizado e decomposto em fragmentos friáveis que preservam textura e estrutura da rocha mãe. Aparência de solo. Solo Residual Solo com completa desintegração de textura, estrutura e mineralogia da rocha mãe. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 13 Tabela 2 – Classificação de perfis de alteração propostas por diversos autores (Nunes, 2005). PERFIS DE ALTERAÇÃO PROPOSTO CARACTERÍSTICAS DO MATERIAL Vargas (53) Nogami (57) Deere e Patton (71) De Mello (72) Eletrosul-Copel (80) Solo Residual Maduro Solo Superficial I - S o lo R e s id u a l IA - Horizonte "A" Solo Maduro S o lo Solo Colúvio-Residual Maduro Solo de aspecto maciço, marrom-avermelhado, silto- argiloso, poroso ("terra roxa"). IB - Horizonte "B" Solo Residual Jovem Solo de Alteração IC - Horizonte "C" (Saprólito) Solo Residual ou Saprólito Solo Saprólito ou Residual Jovem Homogêneo Solo de aspecto maciço, cores mais claras, muito variadas, argilo-siltosa - finamente arenoso. Com Estruturas Relictas Solo com estruturas reliquiares bem aparentes, cores muito variadas, argilo-siltoso finamente arenoso com fragmentos de rocha alterada. Rocha Desinte- grada Rocha Alterada II - R o c h a A lt e ra d a IIA - Transição (de solo residual e saprólito a rocha alterada) S a p ró lit o Saprólito Brando Saprólito semi-terroso, compacto, pouco a medianamente pedroso, alteração generalizada, evidências de decomposição esferoidal, escavável sob a forma de fragmentos brandos, angulosos, impermeável após compactação. IIB - Rocha Parcialmente Alterada Rocha Alterada Saprólito Duro Saprólito predominantemente pedroso, muito heterogêneo, formado por rocha dura muito fraturada e zonas semi-terrosas em menor proporção, que quando escavada a lâmina de trator mantém-se pedroso, semi-permeável após compactação. R o c h a Rocha Dura Pouco Alterada Rocha pouco alterada, dura, com fraturas amareladas ou com alguma decomposição incipiente ao longo de fraturas, trechos descorados, porém firmes, não pode ser escaváveis por lâmina de trator pesado. Rocha Sã Rocha Viva III - Rocha Sã Rocha Sã Rocha Sã Rocha praticamente sem qualquer alteração ou reduzida sem prejuízo de suas propriedades. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 14 2.5 Ciclo rocha – solo É sabido que todo solo provem de uma rocha pré-existente, mas dada a riqueza da sua formação não é de se esperar do solo uma estagnação a partir de um certo ponto. Como em tudo na natureza, o solo continua suas transformações, podendo inclusive voltar a ser rocha. De forma simplificada, definiremos a seguir um esquema de transformações que vai do magma ao solo sedimentar e volta ao magma (Figura 6). No interior do Globo Terrestre, graças às elevadas pressões e temperaturas, os elementos químicos que compõe as rochas se encontram em estado líquido, formando o magma (Figura 6 linha 1-6). A camada sólida da Terra pode romper-se em pontos localizados e deixar escapar o magma (vulcões). Desta forma, haverá um resfriamento brusco do magma (Figura 6 linha 6-1), que se transformará em rochas ígneas, nas quais não haverá tempo suficiente para o desenvolvimento de estruturas cristalinas mais estáveis. O processo indicado pela linha 6-1 é denominado de extrusão vulcânica ou derrame e é responsável pela formação da rocha ígnea denominada de basalto. A depender do tempo de resfriamento, o basalto pode mesmo vir a apresentar uma estrutura vítrea. Quando o magma não chega à superfície terrestre, mas ascende a pontos mais próximos à superfície, com menor temperatura e pressão, ocorre um resfriamento mais lento (Figura 6 linha 6-7), o que permite a formação de estruturas cristalinas mais estáveis, e, portanto, de rochas mais resistentes, denominadas de intrusivas ou plutônicas (diabásio, gabro e granito). Denominam-se normalmente de batólitos os grandes blocos de rocha intrusiva formados em subsuperfície. Por ocasião da ocorrência de processos erosivos, esses blocos podem vir a aflorar, resultando em belas paisagens. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 15 Figura 6 – Ciclo geológico de geração de rochas e solos. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 16 Podemos avaliar comparativamente as rochas vulcânicas e plutônicas pelo tamanho dos cristais, o que pode ser feito facilmente a olho nu ou com o auxílio de lupas. Cristais maiores indicam uma formação mais lenta, característica das rochas plutônicas, e vice-versa. Uma vez exposta, (Figura 6 linha1-1), a rocha sofre a ação das intempéries e forma os solos residuais (Figura 6 linha1-2), os quais podem ser transportados e depositados sobre outro solo de qualquer espécie ou sobre uma rocha (Figura 6 linha 2-3), vindo a se tornar um solo sedimentar. A contínua deposição de solos faz aumentar a pressão e a temperatura nas camadas mais profundas, onde, dependendo das condições e da profundidade a que estes sedimentos são submetidos pode ocorrer compactação e cimentação de seus grãos originando as rochas sedimentares (Figura 6 linha 3-4), este processo chama-se litificação ou diagênese. As rochas sedimentares podem, da mesma maneira que as rochas ígneas, aflorarem à superfície e reiniciar o processo de formação de solo (Figura 6 linha 4-1), ou de forma inversa, as deposições podem continuar e consequentemente prosseguir o aumento de pressão e temperatura, o que irá levar a rocha sedimentar a mudar suas características texturais e mineralógicas, a achatar os seus cristais de forma orientada transversalmente à pressão e a aumentar a ligação entre os cristais (Figura 6 linha 4-5). O material que surge daí tem características tão diversas da rocha original, que muda a sua designação e passa a se chamar rocha metamórfica. A distinção entre os três tipos de rochas é feita de acordo com os processos geradores. Entretanto, há variações nas condições de formação das rochas com mesma origem genética, resultando em diversos tipos de rochas em cada grupo. As principais características distintivas entre os três grupos de rochas são mostradas na Tabela 3. As rochas metamórficas podem se originar também datransformação de rochas ígneas por níveis de pressão e temperatura elevados. O Gnaisse, por exemplo, é muito encontrado no Rio de Janeiro (RJ). Este tipo de rocha que constitui o Corcovado e o Pão de Açúcar. A origem dessa rocha se dá da transformação do granito. A Figura 7 ilustra o formato achatado dos grãos de Gnaisse do Arpoador, no Rio de Janeiro. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 17 Tabela 3 – Características dos principais tipos de rochas MAGMÁTICAS SEDIMENTARES METAMÓRFICAS 1 – Aspecto maciço ou compacto. 1 – Geralmente friáveis ou riscáveis com o canivete. Aspecto maciço ou em camadas. 1 – Aspecto foliado ou maciço. 2 – Grãos imbricados, sem deixar poros (exceto algumas rochas vítreas, vulcânicas, como pedra-pomes). 2 – Grãos não imbricados, apesentando poros ou cimento. Fragmentado (alguns casos maciços) 2 – Grãos imbricados ou firmemente justapostos. 3 – Constituintes com formas irregulares ou geométricas devido à cristalização. Nunca mecanicamente arredondados. 3 – Constituintes com formas arredondadas ou ovaladas. Por vezes angulosos (pedaços quebrados). Raramente com formas geométricas 3 – Constituintes com formas geométricas ou irregulares. Raramente arredondados. 4 – Distribuição espalhada e homogênea; ausência de camadas ou estrados. 4 – Distribuição espalhada e homogênea dos grãos. Comum camadas, estratificações e fósseis 4 – Distribuição dos componentes em bandas. Por vezes dobradas. 5 – Ausência de foliação ou orientação dos grãos. 5 – Grãos não orientados. 5 – Frequentemente a orientação dos componentes, com foliação da rocha. Um dos exemplos mais impressionantes e belos do processo de formação de rochas ígneas é encontrado na ilha de Staffa, na Irlanda. Neste local, a ocorrência de um derrame de basalto foi impedido pela existência de uma espessa camada de calcário compacto. Desta forma, formou-se uma camada de basalto subjacente à camada de calcário, a qual teve tempo para se resfriar lentamente. Os processos de cristalização e resfriamento produziram a formação de belíssimas colunas hexagonais de basalto, algumas com mais de 10 metros de altura. Com os processos erosivos que ocorreram posteriormente, a camada de calcário diminuiu de espessura, revelando o caráter hexagonal das seções das colunas em alguns pontos (Figura 8). CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 18 Figura 7 – Achatamento e alinhamento dos grãos minerais provocados pelo processo de metamorfismo (http://www.meioambiente.pro.br/arpoador/rochas.html) Figura 8 – Colunas hexagonais de basalto expostas na ilha de Staffa, na Irlanda. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 19 3 Classificação dos solos Como material da natureza que e, o solo necessita de ser identificado e classificado a fim de ser objeto de pesquisa e aplicação em projetos. Todo problema de solos inicia-se, portanto, com o enquadramento, dentro de uma classificação escolhida do solo ou solos em questão. Os cálculos de qualquer projeto de engenharia envolvendo solos serão baseados nas propriedades especificas da classe a que pertence. Compreende-se dai a importância da classificação do material em Mecânica dos Solos. Um sistema de classificação dos solos deve agrupar os solos de acordo com suas propriedades intrínsecas básicas. Devido à natureza extremamente variável do solo, contudo, é inevitável que em qualquer classificação ocorram casos onde é difícil se enquadrar o solo em uma determinada e única categoria. Ate 1950, o problema da classificação dos solos era muito controvertido devido a diferenças de métodos utilizados, existindo por isso varias classificações. Isto motivou a reunião da ASTM e nela foram confrontados os diferentes métodos, sugerindo a partir desta data uma tendência de uso de um sistema americano (Bureau of Public Roads) e a classificação de Casagrande que atualmente já e mais conhecida como classificação unificada (Bureau of Reclamation). O conhecimento das classificações de solos, incluindo as propriedades típicas dos diversos grupos, e fundamental para os responsáveis pela prospecção, quer de fundações de estruturas, quer de empréstimos de terras para a construção. Neste capítulo serão apresentados os sistemas de classificação segundo a origem e formação e segundo sua estrutura, além dos dois sistemas de classificação dos solos mais difundidos no meio geotécnico, a saber, o Sistema Unificado de Classificação dos Solos, SUCS (ou “Unified Soil Classification System”, USCS) e o sistema de classificação dos solos proposto pela AASHTO (“American Association of State Highway and Transportation Officials”). 3.1 Classificação segundo sua origem e formação Há diferentes maneiras de se classificar os solos, como pela origem, pela sua evolução, pela presença ou não de matéria orgânica, pela estrutura, pelo preenchimento dos vazios, etc. Na classificação segundo sua origem e formação, os solos são divididos em dois grandes grupos, sedimentares e residuais, a depender da existência ou não de um agente de transporte na sua formação, respectivamente. Os principais agentes de transporte atuando na formação dos solos sedimentares são a água, o vento e a gravidade. Estes agentes de transporte influenciam fortemente nas propriedades dos solos sedimentares, a depender do seu grau de seletividade. 3.1.1 Solos residuais São solos que permanecem no local de decomposição da rocha. Para que eles ocorram é necessário que a velocidade de decomposição da rocha seja maior do que a velocidade de remoção do solo por agentes externos. A velocidade de decomposição depende de vários fatores, entre os quais a temperatura, o regime de chuvas e a vegetação. As condições existentes nas regiões tropicais são favoráveis a degradações mais rápidas da rocha. Como a ação das intempéries se dá, em geral, de cima para baixo, as camadas superiores são, via de regra, mais trabalhadas que as inferiores. Este fato nos permite visualizar todo o processo evolutivo do solo, de modo que passamos de uma condição de rocha sã, para profundidades maiores, até uma condição de solo residual maduro, em superfície. A Figura 9 ilustra um perfil típico de solo residual. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 20 Figura 9 – Perfil típico de solo residual. Conforme se pode observar da Figura 9, a rocha sã passa paulatinamente à rocha fraturada, depois ao saprólito, ao solo residual jovem e ao solo residual maduro. A rocha alterada caracteriza-se por uma matriz de rocha possuindo intrusões de solo, locais onde o intemperismo atuou de forma mais eficiente. O solo saprolítico ainda guarda características da rocha mãe e tem basicamente os mesmos minerais, porém a sua resistência já se encontra bastante reduzida. Este pode ser caracterizado como uma matriz de solo envolvendo grandes pedaços de rocha altamente alterada. Visualmente pode confundir- se com uma rocha alterada, mas apresenta relativamente à rocha pequena resistência ao cisalhamento. Nos horizontes saprolíticos é comum à ocorrência de grandes blocos de rocha denominados de matacões responsáveis por muitos problemas quando do projeto de fundações. O solo residual jovem apresenta boa quantidade de material que pode ser classificado como pedregulho. Geralmentesão bastante irregulares quanto à resistência mecânica, coloração, permeabilidade e compressibilidade, já que o processo de transformação não se dá em igual intensidade em todos os pontos, comumente existindo blocos da rocha no seu interior. Os solos maduros, mais próximos à superfície, são mais homogêneos e não apresentam semelhanças com a rocha original. De forma geral, há um aumento da resistência ao cisalhamento, da textura (granulometria) e da heterogeneidade do solo com a profundidade. 3.1.2 Solos sedimentares Os solos sedimentares ou transportados são aqueles que foram levados ao seu local atual por algum agente de transporte e lá depositados. As características dos solos sedimentares são função do agente de transporte. Cada agente de transporte seleciona os grãos que transporta com maior ou menor facilidade, além disto, durante o transporte, as partículas de solo se desgastam e/ou quebram. Resulta daí um tipo diferente de solo para cada tipo de transporte. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 21 Esta influência é tão marcante que a denominação dos solos sedimentares é feita em função do agente de transporte predominante. Pode-se listar os agentes de transporte, por ordem decrescente de seletividade, da seguinte forma: Ventos (Solos Eólicos) Águas (Solos Aluvionares) Água dos Oceanos e Mares (Solos Marinhos) Água dos Rios (Solos Fluviais) Água de Chuvas (Solos Pluviais) Geleiras (Solos Glaciais) Gravidade (Solos Coluvionares) Os agentes naturais citados acima não devem ser encarados apenas como agentes de transporte, pois eles têm uma participação ativa no intemperismo e, portanto na formação do próprio solo, o que ocorre naturalmente antes do seu transporte. 3.1.2.1 Solos eólicos O transporte pelo vento dá origem aos depósitos eólicos de solo. Em virtude do atrito constante entre as partículas, os grãos de solo transportados pelo vento geralmente possuem forma arredondada. A capacidade do vento de transportar e erodir é muito maior do que possa parecer à primeira vista. Vários são os exemplos de construções e até cidades soterradas parcial ou totalmente pelo vento, como foram os casos de Itaúnas - ES e Tutóia - MA; os grãos mais finos do deserto do Saara atingem em grande escala a Inglaterra, percorrendo uma distância de mais de 3000km. Como a capacidade de transporte do vento depende de sua velocidade, o solo é geralmente depositado em zonas de calmaria. O transporte eólico é o mais seletivo tipo de transporte das partículas do solo. Se por um lado grãos maiores e mais pesados não podem ser transportados, os solos finos, como as argilas, têm seus grãos unidos pela coesão, formando torrões dificilmente levados pelo vento. Esse efeito também ocorre em areias e siltes saturados (falsa coesão) o que faz da linha de lençol freático um limite para a atuação dos ventos. Pode-se dizer, portanto que a ação do transporte do vento se restringe ao caso das areias finas ou silte. Por conta destas características, os solos eólicos possuem grãos de aproximadamente mesmo diâmetro, apresentando uma curva granulométrica denominada de uniforme. São exemplos de solos eólicos: As dunas As dunas são exemplos comuns de solos eólicos nordeste do Brasil). A formação de uma duna se dá inicialmente pela existência de um obstáculo ao caminho natural do vento, o que diminui a sua velocidade e resulta na deposição de partículas de solo (fig. 2.7) A deposição continuada de solo neste local acaba por gerar mais deposição de solo, já que o obstáculo ao caminho do vento se torna cada vez maior. Durante o período de existência da duna, partículas de areia são levadas até o seu topo, rolando então para o outro lado. Este movimento faz com que as dunas se desloquem a uma velocidade de poucos metros por ano, o que para os padrões geológico é muito rápido. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 22 Os solos Loéssicos Formado por deposições sobre vegetais que ao se decomporem deixam seu molde no maciço, o Loess é um solo bastante problemático para a engenharia, pois a despeito de uma capacidade de formar paredões de altura fora do comum e inicialmente suportar grandes esforços mecânicos, podem se romper completa e abruptamente devido ao umedecimento. O Loess, comum na Europa oriental, geralmente contem grandes quantidades de cal, responsável por sua grande resistência inicial. Quando umedecido, contudo, o cimento calcáreo existente no solo pode ser dissolvido e o solo entra em colapso. 3.1.2.2 Solos aluvionares São solos resultantes do transporte pela água e sua textura depende da velocidade da água no momento da deposição, sendo frequente a ocorrência de camadas de granulometrias distintas, devidas às diversas épocas de deposição. O transporte pela água é bastante semelhante ao transporte realizado pelo vento, porém algumas características importantes os distinguem: Viscosidade - por ser mais viscosa a água tem uma capacidade de transporte maior, transportando grãos de tamanhos diversos. Velocidade e Direção - ao contrário do vento que em um minuto pode soprar com forças e direções bastante diferenciadas, a água têm seu roteiro mais estável; suas variações de velocidade tem em geral um ciclo anual e as mudanças de direção estão condicionadas ao próprio processo de desmonte e desgaste do relevo. Dimensão das Partículas - os solos aluvionares fluviais são, via de regra, mais grossos que os eólicos, pois as partículas mais finas mantêm-se sempre em suspensão e só se sedimentam quando existe um processo químico que as flocule (isto é o que acontece no mar ou em alguns lagos). Eliminação da Coesão - vimos que o vento não pode transportar os solos argilosos devido a coesão entre os seus grãos. A presença de água em abundância diminui este efeito; com isso somam-se as argilas ao universo de partículas transportadas pela água. a) Solos pluviais A água das chuvas pode ser retida em vegetais ou construções, podendo se evaporar a partir daí. Ela pode se infiltrar no solo ou escoar sobre este e, neste caso, a vegetação rasteira funciona como elemento de fixação da parte superficial do solo ou como um tapete impermeabilizador (para as gramíneas), sendo um importante elemento de proteção contra a erosão. A água que se infiltra pode carrear grãos finos através dos poros existentes nos solos grossos, mas este transporte é raro e pouco volumoso, portanto de pouca relevância em relação à erosão superficial. De muito maior importância é o solo que as águas das chuvas levam ao escoar de pontos mais elevados no relevo aos vales. Os vales contém rios ou riachos que serão alimentados não só da água que escoa das escarpas, como também de matéria sólida. b) Solos fluviais Os rios durante sua existência têm várias fases. Em áreas de formação geológicas mais recentes, menos desgastadas, existem irregularidades topográficas muito grandes e por isso os rios têm uma inclinação maior e consequentemente uma maior velocidade. Existem vários fatores determinantes da capacidade de erosão e transporte dos rios, sendo a velocidade a mais importante. Assim, os rios mais jovens transportam mais matéria sólida do que os rios mais velhos. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 23 Sabe-se que os rios não possuem a mesma idade em toda a sua extensão; quanto mais distantes da nascente, menor a inclinação e a velocidade. As partículas de determinado tamanho passam a ter peso suficientepara se decantar e permanecer naquele ponto, outras menores só serão depositadas com velocidade também menor. O transporte fluvial pode ser descrito sumariamente da seguinte forma: Os rios desgastam o relevo em sua parte mais elevada e levam os solos para sua parte mais baixa, existindo com o tempo uma tendência a planificação do leito. Rios mais velhos têm, portanto menor velocidade e transportam menos. Cada tamanho de grão será depositado em um determinado ponto do rio, correspondente a uma determinada velocidade, o que leva os solos fluviais a terem uma certa uniformidade granulométrica. Solos muito finos, como as argilas, permanecerão em suspensão até decantar em mares ou lagos com água em repouso. De um modo geral, pode-se dizer que os solos aluvionares apresentam um grau de uniformidade de tamanho de grãos intermediário entre os solos eólicos (mais uniformes) e coluvionares (menos uniformes). c) Solos marinhos As ondas atingem as praias com um pequeno ângulo em relação ao continente. Isso faz com que a areia, além do movimento de vai e vem das ondas, desloquem-se também ao longo da praia. Obras que impeçam esse fluxo tendem a ser pontos de deposição de areia, o que pode acarretar sérios problemas. 3.1.2.3 Solos glaciais De pequena importância para nós, os solos formados pelas geleiras, ao se deslocarem pela ação da gravidade, são comuns nas regiões temperadas. São formados de maneira análoga aos solos fluviais. A corrente de gelo que escorre de pontos elevados onde o gelo é formado para as zonas mais baixas, leva consigo partículas de solo e rocha, as quais, por sua vez, aumentam o desgaste do terreno. Os detritos são depositados nas áreas de degelo. Uma ampla gama de tamanho de partículas é transportada, levando assim a formação de solos bastante heterogêneos que possuem desde grandes blocos de rocha até materiais de granulometria fina. 3.1.2.4 Solos coluvionares São solos formados pela ação da gravidade. Os solos coluvionares são dentre os solos transportados os mais heterogêneos granulometricamente, pois a gravidade transporta indiscriminadamente desde grandes blocos de rocha até as partículas mais finas de argila. Entre os solos coluvionares estão os escorregamentos das escarpas da Serra do Mar formando os tálus nos pés do talude, massas de materiais muito diversas e sujeitas a movimentações de rastejo. Têm sido também classificados como coluviões os solos superficiais do Planalto Brasileiro depositados sobre solos residuais. Tálus Os tálus são solos coluvionares formados pelo deslizamento de solo do topo das encostas. No sul da Bahia existem solos formados pela deposição de colúvios em áreas mais baixas, os quais se apresentam geralmente com altos teores de umidade e são propícios à lavoura cacaueira. Encontram-se solos coluvionares (tálus) também na Cidade Baixa, em Salvador, ao pé da encosta paralela à falha geológica que atravessa a Baia de Todos os Santos. De CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 24 extrema beleza são os tálus encontrados na Chapada Diamantina, Bahia. A fig. 2.8 lustra formações típicas da região. A parte mais inclinada dos morros corresponde à formação original, enquanto que a parte menos inclinada é composta basicamente de solo coluvionar (tálus). Figura 2.8 - Exemplo de solos coluvionares (tálus) encontrados na chapada diamantina. 3.1.3 Solos orgânicos Formados pela impregnação do solo por sedimentos orgânicos preexistentes, em geral misturados a restos de vegetais e animais. Podem ser identificados pela cor escura e por possuir forte cheiro característico. Têm granulometria fina, pois os solos grossos tem uma permeabilidade que permite a "lavagem" dos grãos, eximindo-os da matéria impregnada. Turfas Solos que incorporam florestas soterradas em estado avançado de decomposição. Têm estrutura fibrilar composta de restos de fibras vegetais e não se aplicam aí as teorias da Mecânica dos Solos, sendo necessários estudos especiais. Têm ocorrência registrada na Bahia, Sergipe, Rio Grande do Sul e outros estados do Brasil. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 25 3.2 Classificação quanto à estrutura Denomina-se estrutura dos solos a maneira pela qual as partículas minerais de diferentes tamanhos se arrumam para formá-lo. Como os solos finos possuem o seu comportamento governado por forças elétricas, enquanto os solos grossos têm na gravidade o seu principal fator de influência, a estrutura dos solos finos ocorre em uma diversificação e complexidade muito maior do que a estrutura dos solos grossos. De fato, sendo a gravidade o fator principal agindo na formação da estrutura dos solos grossos, a estrutura destes solos difere, de solo para solo, somente no que se refere ao seu grau de compacidade. No caso dos solos finos, devido à presença das forças de superfície, arranjos estruturais bem mais elaborados são possíveis. Quando duas partículas de argila estão muito próximas, entre elas ocorrem forças de atração e de repulsão. Da combinação destas forças de atração e de repulsão entre as partículas resulta a estrutura dos solos, que se refere à disposição das partículas na massa de solo e as forças entre elas. Tradicionalmente consideram-se os seguintes tipos principais de estruturas. a) Estrutura granular simples: É característica dos pedregulhos e areias, predominando as forças de gravidade na disposição das partículas, que se apóiam diretamente umas sobre as outras; Figura 10 – Estrutura granular simples (compacta e fofa) b) Estrutura alveolar ou em favo de abelha: É o tipo de estrutura comum nos siltes mais finos e em algumas areias. Quando da formação de um solo sedimentar, um grão cai sobre o sedimento já formado, devido à predominância da atração molecular sobre o seu peso, ele ficará na posição em que se der o primeiro contato, dispondo-se assim em forma de arcos; Figura 11 – Estrutura alveolar ou favo de abelha CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 26 c) Estrutura Floculenta: Nesse tipo de estrutura, que só é possível em solos cujas partículas componentes sejam todas muito pequenas, as partículas, ao se sedimentarem, dispõem-se em arcos, os quais, por sua vez, formam outros arcos. Trata-se, pois, de uma estrutura de ordem dupla. Na formação de tais estruturas, desempenham uma função importante as ações elétricas que se desenvolvem entre as partículas, as quais, por sua vez, são influenciadas pela natureza dos íons presentes no meio onde se processa a sedimentação. Em geral a estrutura molecular desses solos é aberta, isto é, uma das moléculas tem como que uma carga elétrica ainda disponível, possibilitando, assim, a formação dessas estruturas; Figura 12 – Estrutura floculenta d) Estrutura em esqueleto: Nos solos onde, além de grãos finos, há grãos grossos, estes se dispõem de maneira tal a formar um esqueleto, cujos interstícios são parcialmente ocupados por uma estrutura de grãos mais finos. É o caso das complexas estruturas das argilas marinhas. Figura 13 – Estrutura em esqueleto CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 27 3.3 Forma das partículas Dependendo dos processos de intemperismo sofrido, do tamanho das partículas e do tipo de rocha mãe a forma das partículas os solos classificam-se em: Esferóiais – Podemapresentar cantos angulares (arestas vivas) ou cantos arredondados (sem arestas) Lamelares – Teem forma de placa (Argilas) Fibrilares – Apresentam forma alongada (Turfas) 3.4 Textura Pela sua textura os solos podem ser classificados em dois grandes grupos: solos grossos (areia, pedregulho, matacão) e solos finos (silte e argila). Esta divisão é fundamental no entendimento do comportamento dos solos, pois a depender do tamanho predominante das suas partículas, as forças gravitacionais (solos grossos) ou elétricas (solos finos) se sobressaem. De modo geral, pode-se dizer que nos solos grossos as forças gravitacionais exercem mais influência que as elétricas e nos solos finos ocorre o oposto. a) Solos Grossos São considerados solos grossos, quando as partículas que o constituem possuem dimensões maiores que 0,06mm (ABNT), e são classificados areia (fina, média e grossa) ou pedregulho. Nos solos grossos, por ser predominante à atuação de forças gravitacionais, resultando em arranjos estruturais bastante simplificados, o comportamento mecânico e hidráulico está principalmente condicionado a sua compacidade, que é uma medida de quão próximas estão às partículas sólidas umas das outras, resultando em arranjos com maiores ou menores quantidades de vazios. Os solos grossos possuem uma maior percentagem de partículas visíveis a olho nu ( = 0,074 mm) e suas partículas têm formas arredondadas, poliédricas e angulosas. Pedregulhos São classificados como pedregulho as partículas de solo com dimensões maiores que 2,0 mm (ABNT). Os pedregulhos são encontrados em geral nas margens dos rios, em depressões preenchidas por materiais transportados pelos rios ou até mesmo em uma massa de solo residual (horizontes correspondentes ao solo residual jovem e ao saprolito). Areias São classificamos como areia as partículas com dimensões entre 2,0 mm e 0,06 mm (ABNT). As areias se distinguem pelo formato dos grãos que pode ser angular, sub-angular e arredondado, sendo este último uma característica das areias transportadas por rios ou pelo vento. O formato dos grãos de areia tem muita importância no seu comportamento mecânico, pois determina como eles se encaixam e se entrosam, e, em contrapartida, como eles deslizam entre si quando solicitados por forças externas. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 28 b) Solos Finos Quando as partículas que constituem o solo possuem dimensões menores que 0,06 mm (ABNT), o solo é considerado fino e, neste caso, será classificado como argila ou silte. Nos solos formados por partículas muito pequenas, as forças que intervêm no processo de estruturação do solo são de caráter muito mais complexo e serão estudadas no item mais adiante. Os solos finos possuem partículas com formas lamelares, fibrilares e tubulares e é o mineral que determina a forma da partícula. As partículas de argila normalmente apresentam uma ou duas direções bem superior àquele apresentado na terceira direção. O comportamento dos solos finos é definido pelas forças de superfície (moleculares, elétricas) e pela presença de água, a qual influi de maneira marcante nos fenômenos de superfície dos argilo-minerais. Argilas A fração granulométrica do solo classificada como argila (diâmetro inferior a 0,002 mm (ABNT)) se caracteriza pela sua plasticidade marcante (capacidade de se deformar sem apresentar variações volumétricas) e elevada resistência quando seca. É a fração mais ativa dos solos. Siltes Apesar de ser classificado como solos finos, o comportamento dos siltes (diâmetro entre 0,06 e 0,002 mm (ABNT)) é governado pelas mesmas forças dos solos grossos (forças gravitacionais), embora possuam alguma atividade. Estes possuem granulação fina, pouca ou nenhuma plasticidade e baixa resistência quando seco. Areia Pedra de Argila Silte Fina Média Grossa Pedregulho Mão mm 0.002 0.06 0.20 0.60 2.0 60.0 Figura 14 – Escala granulométrica adotada pela ABNT (NBR 6502) CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 29 3.5 Identificação Visual e Táctil dos Solos Muitas vezes em campo temos a necessidade de uma identificação prévia do solo, sem que o uso do aparato de laboratório esteja disponível. Esta classificação primária é extremamente importante na definição (ou escolha) de ensaios de laboratório mais elaborados e pode ser obtida a partir de alguns testes feitos rapidamente em uma amostra de solo. No processo de identificação táctil visual de um solo utilizam-se frequentemente os seguintes procedimentos (vide NBR 7250): a) Sensação ao tato - Esfrega-se uma porção do solo na mão, buscando sentir a sua aspereza. As areias são bastante ásperas ao tato e as argilas dão uma sensação de farinha ou pó, quando secas, ou de sabão, quando úmidas. b) Plasticidade – Tenta-se moldar bolinhas ou cilindros de solo úmido. As argilas são moldáveis enquanto as areias e siltes não são moldáveis. c) Resistência do solo seco - As argilas são resistentes à pressão dos dedos quando se tenta desagregá-lo com os dedos; os siltes apresentam alguma resistência e as areias nem formam torrões. d) Dispersão em água – Coloca-se uma porção de solo seco com água em uma proveta, agitando-a e verificando em seguida o tempo de deposição dos sedimentos. As areias depositam-se rapidamente, enquanto que as argilas turvam a água e demoram a sedimentar. e) Impregnação – Esfrega-se uma pequena quantidade de solo úmido na palma de uma das mãos. Colocar a mão embaixo de uma torneira aberta e observar a facilidade com que a palma da mão fica limpa. Solos finos se impregnam e não saem da mão com facilidade. f) Mobilidade da água intersticial - O teste permite obter uma informação sobre a velocidade de movimentação da água dentro do solo. Para a realização do teste deve- se preparar uma amostra de solo com cerca de 15 mm de diâmetro e com teor de umidade que lhe garanta uma consistência mole sobre a palma de uma das mãos, de modo que não apareça uma lâmina d'água. O teste é iniciado batendo-se vigorosamente a lateral de uma mão contra a lateral da outra mão, diversas vezes. Deve-se observar o aparecimento de uma lâmina d'água na superfície do solo e o tempo para a ocorrência. Em seguida, a palma da mão deve ser curvada, de forma a exercer uma leve compressão na amostra, observando-se o que poderá ocorrer à lâmina d' água, se existir, à superfície da amostra. Nas areias, a água aparece rapidamente na superfície e, ao abrir-se a mão, a superfície brilhante desaparece deixando trincas. Nos solos argilosos, a superfície brilhante permanece por bastante tempo e não ocorrem fissuras ao abrir a mão. O aparecimento da lâmina d’água durante a fase de vibração, bem como o seu desaparecimento durante a compressão e o tempo necessário para que isto aconteça deve ser comparado aos dados da Tabela 4, para a classificação do solo. CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDI DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL Apostila Geotecnia – 2015.2 - Prof. Marcelo Rios 30 Tabela 4 – Teste de dilatância Descrição da ocorrência de lâmina d’água durante Dilatância Vibração (aparecimento) Compressão (desaparecimento) Não há nenhuma visível Nenhuma (argila) Aparecimento Lento Desaparecimento lento Lenta (silte ou areia argilosa) Aparecimento médio Desaparecimento médio Média (silte, areia siltosa) Aparecimento rápido
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