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Marx, K. Reprodução Simples e Lei Geral da Acumulação Capitalista

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4. K. MARX: REPRODUÇÃO SIMPLES E LEI GERAL 
DA ACUMULAÇÃO CAPITALISTA *
Υ
Reprodução simples
Qualquer que seja sempre a forma social do processo de produção, 
ele tem de ser contínuo ou periodicamente percorrer, novamente, as 
mesmas fases. Assim como uma sociedade não pode parar de consumir, 
também ela não pode parar de produzir. Todo processo social de pro-
dução, considerado na sua continuidade e no constante fluxo de sua 
renovação, é, portanto, ao mesmo tempo, processo de reprodução.
As condições de produção são, simultaneamente, as condições de 
reprodução. Nenhuma sociedade pode continuamente produzir, isto é, 
reproduzir, sem retransformar constantemente uma parte de seus pro-
dutos em meios de produção. Permanecendo invariáveis as demais con-
dições, ela só pode reproduzir ou manter sua riqueza no mesmo nível 
substituindo, durante o ano, por exemplo, os meios de produção con-
sumidos, isto é, instrumentos de trabalho, matérias-primas e matérias 
acessórias, in natura, por meio de um quantum igual de artigos da 
mesma espécie, separados da massa anual de produtos e incorporados, 
de novo, ao processo de produção. Um determinado quantum do pro-
duto anual pertence, portanto, à produção. Destinado desde o princípio
Reproduzido de M a r x , K . D as Kapital. 21. ed. Berlim, Dietz Verlag, 1975: 
parte VII, cap. 21 — “Einfache Reproduktion”, p. 591-6; cap. 23 — “Das 
allgemeine Gesetz der kapitalistischen Akkumulation”, item 1, p. 645-9; item 2, 
p. 650-7; item 4, p. 673-5. Traduzido por Régis Barbosa. Revisão técnica da 
tradução por José Paulo Netto.
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ao consumo produtivo, este quantum apresenta-se sob formas naturais 
que, por si mesmas, excluem o consumo individual.
Se a produção tem a forma capitalista, também a terá a reprodução. 
Assim como no modo capitalista de produção o processo de trabalho 
só aparece como um meio para o processo de valorização, a reprodução 
é apenas um meio para reproduzir o valor adiantado como capital, 
isto é, como valor que se valoriza. A caracterização econômica do capi-
talista apenas cabe a uma pessoa quando o seu dinheiro funciona conti-
nuamente como capital. Se, por exemplo, a quantia adiantada de 100 
libras esterlinas se transforma, neste ano, em capital e produz uma 
mais-valia de 20 libras, terá de repetir a mesma operação no próximo 
ano, etc. Como incremento periódico do valor do capital, ou fruto 
periódico do capital em ação, a mais-valia recebe a forma de' uma 
revenue [renda] que provém do cap ita l1.
Se esta revenue [renda] apenas serve ao ôapitalista como fundo de 
consumo, gastando-o no mesmo período em que o ganha, então há, 
permanecendo iguais as demais circunstâncias, reprodução simples. 
Embora esta seja mera repetição do processo de produção no mesmo 
nível, essa mera repetição ou continuidade imprime ao processo certas 
características novas ou, antes, dissolve as características aparentes que 
possui como ato isolado.
O processo de produção se inicia com a compra da força de trabalho 
por um tempo determinado, e este início se renova constantemente logo 
que vença o prazo estipulado, tendo decorrido assim um determinado 
período de produção, semana, mês, etc. Mas o trabalhador só é pago 
depois de a sua força de trabalho ter atuado e realizado tanto o seu 
próprio valor como a mais-valia sob a forma de mercadorias. Desta 
forma, ele produziu tanto a mais-valia, que consideramos, por enquanto, 
apenas o fundo de consumo do capitalista, como o fundo de seu próprio 
pagamento, o capital variável, antes que este retom e a ele sob a forma 
de salário, e só estará empregado enquanto continuár a reproduzi-lo. 
Daí provém a fórmula dos economistas, mencionada em II no capítulo 
XIV, III, que apresenta o salário como parte do próprio p rodu to2.
1 “Os ricos que consomem os produtos do trabalho dos outros adquirem-nos 
apenas por atos de troca (compras de m ercadorias). Parecem, por isso, expostos 
a um esgotamento iminente de seus fundos de re se rv a .. . Mas, na ordem social, 
a riqueza ganhou a força de reproduzir-se através do trabalho alheio . . . A 
riqueza, como o trabalho e através do trabalho, fornece um fruto anual que 
pode ser destruído todo ano sem que o rico se torne mais pobre. Este fruto é 
a revenue [a renda] que provém do capital.” (S ism o n d i. Nouv. prínc. d ’Êcon. 
Pol. t. I, p. 8 1 , 8 2 .)
2 “Salários, como também lucros, devem ser considerados partes do produto 
a c a b a d o .” (R a m s a y . An essay on the distribution of wealth. p. 142 .) “A parte 
do produto que compete ao trabalhador sob a form a de salário.” (M il l , J. 
E lem ents o f Political Econom y. Trad. de Parisot. Paris, 1823. p. 33 , 3 4 .)
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Ê uma parte do produto continuamente reproduzido pelo próprio traba-
lhador que volta constantemente para ele sob a forma de salário. O 
capitalista lhe paga, contudo, o valor das mercadorias em dinheiro. Mas 
este dinheiro não é mais do que a forma transformada do produto do 
trabalho ou, mais exatamente, uma parte dele. Enquanto o trabalhador 
transforma uma parte dos meios de produção em produto, retransforma 
uma parte de seu produto anterior em dinheiro. É com seu trabalho 
da semana passada ou do último meio ano que seu trabalho de hoje, 
ou do próximo meio ano, será pago. A ilusão gerada pela forma dinheiro 
desaparece imediatamente, logo que se considera a classe capitalista e 
a classe trabalhadora em vez do capitalista e do trabalhador individual. 
A classe capitalista dá constantemente à classe trabalhadora, sob a forma 
de dinheiro, letras que lhe facultam receber uma parte do produto feito 
por ela e apropriado pela primeira. Mas o trabalhador devolve conti-
nuamente estas letras à classe capitalista, e retira-lhe, com isso, aquela 
parte de seu próprio produto que lhe é atribuída. A forma mercadoria 
do produto e a forma dinheiro da mercadoria disfarçam a transação.
O capital variável, portanto, é apenas uma forma histórica parti-
cular em que se manifesta o fundo de meios de subsistência ou o fundo 
de trabalho, do qual o trabalhador precisa para sustentar-se e repro-
duzir-se e que ele mesmo sempre tem de produzir e reproduzir, em 
todos os sistemas de produção social. O fundo de trabalho apenas flui 
para ele continuamente sob a forma de meios de pagamento de seu 
trabalho, porque seu próprio produto afasta-se dele constantemente sob 
a forma de capital. Mas esta forma de manifestação do fundo de trabalho 
não altera em nada o fato de que o capitalista adianta ao trabalhador 
o próprio trabalho já materializado deste 3. Tomemos, por exemplo, um 
camponês, dependente de um senhor feudal. Trabalha com seus próprios 
meios de produção, no seu próprio campo, por exemplo, 3 dias por 
semana. Nos outros 3 dias úteis, é servo nas terras do senhor. Reproduz 
constantemente seu próprio fundo de trabalho, e este, em relação a ele, 
nunca assume a forma de meios de pagamentos adiantados por um 
terceiro, em troca de seu trabalho. Em compensação, seu trabalho for-
çado e gratuito nunca assume a forma de trabalho voluntário e pago. 
Se amanhã o próprio senhor se apropriasse do campo, dos animais de 
tração, das sementes, numa palavra, dos meios de produção do camponês 
dependente, então, daí em diante, este teria de vender sua força de 
trabalho ao senhor. Não se alterando as demais circunstâncias, traba-
lharia como antes, 6 dias por semana, 3 dias para si mesmo e 3 para 
o ex-senhor feudal transformado agora em senhor do salário. Continuaria
3 “Quando se emprega capital para adiantar ao trabalhador seu salário, não se 
adiciona nada ao fundo para a manutenção do trabalho.” (Cazenove, em nota à 
sua ed. de M a l t h u s . Definitions in Polit. Econ. Londres, 1853. p. 22.)
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utilizando os meios de produção como meios de produção e transfe-
rindo seu valor ao produto. Uma parte determinada do produto pros-
seguiria sendo absorvidapela reprodução. Mas como o trabalho do 
servo assumirá a forma de trabalho assalariado, o fundo de trabalho, 
produzido depois como antes pelo mesmo camponês, tomará a forma 
de um capital adiantado a este pelo senhor feudal. O economista bur-
guês, cujo cérebro limitado não sabe distinguir entre a forma de mani-
festação e o seu conteúdo, fecha os olhos ao fato de que até hoje o 
fundo de trabalho aparece apenas excepcionalmente sob a forma de 
capital no mundo que conhecemos *.
Na verdade, o capital variável só perde o significado de um valor 
adiantado a partir do próprio fundo capitalista5 se consideramos o 
processo de produção capitalista no fluxo contínuo de sua renovação. 
Mas ele tem de começar em qualquer ponto e em qualquer momento. 
A partir do ponto de vista que adotamos até agora, é provável, portanto, 
que o capitalista, alguma vez, se tom ou possuidor de dinheiro em 
virtude de uma acumulação primitiva, independente de trabalho alheio 
não-pago, e por isso teve acesso ao mercado como comprador de força 
de trabalho. A mera continuação do processo de produção capitalista, 
ou a reprodução simples, efetua, contudo, outras estranhas mudanças 
que não só atingem a parte variável do capital, mas também o capital 
total.
Se a mais-valia produzida periodicamente, por exemplo, anualmente, 
por um capital de 1 000 libras esterlinas for de 200 libras esterlinas, 
e se esta mais-valia for consumida todos os anos, então é claro que, 
depois de repetir-se o mesmo processo durante cinco anos, a soma da 
mais-valia consumida será = 5 X 200, ou igual ao valor do capital 
originariamente adiantado, de 1 000 libras esterlinas. Se a mesma mais- 
-valia anual apenas fosse consumida parcialmente, por exemplo, só pela 
metade, teríamos o mesmo resultado após dez anos de repetir-se o 
processo de produção, pois 10 X 100 = 1 000. Regra geral: o valor 
do capital adiantado dividido pela mais-valia consumida anualmente dá 
o número de anos ou períodos de reprodução ao cabo dos quais o capi-
tal adiantado originariamente foi consumido pelo capitalista e, portanto, 
desapareceu. A idéia do capitalista, de que consome o produto do
4 “Nem sequer num quarto da Terra, os meios de subsistência dos trabalhadores 
são adiantados a eles pelos capitalistas.” ( J o n e s , Richard. Textbook of lectures 
on the Polit. Economy of Nations. Hertford, 1852. p. 36.)
5 “Embora o manufacturer” (trabalhador da manufatura) “tenha seu salário adian-
tado pelo patrão, ele não causa a este, na realidade, nenhuma despesa, porque
o valor do salário junto com um lucro reconstitui-se no valor aumentado do 
objeto a que foi aplicado seu trabalho.” (S m i t h , A. Wealth of nations. livr. II, 
cap. III, p. 355.)
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trabalho alheio não-pago, a mais-valia, e mantém o valor do capital 
originário, não altera absolutamente nada no fato. Ao cabo de um certo 
número de anos, o valor do capital que ele possui é igual à soma da 
mais-valia apropriada por ele durante o mesmo tempo, sem dar o equiva-
lente em troca, e a soma do valor consumido por ele é igual ao valor 
do capita! originário. Certamente fica com capital nas mãos, cuja gran-
deza não se alterou e do qual uma parte, edifícios, máquinas, etc., já 
existia quando pôs a andar seu negócio. Mas aqui trata-se do valor do 
capital e não de seus componentes materiais. Quando alguém consome 
sua propriedade inteira, assumindo dívidas que se igualam ao valor desta, 
então esta propriedade representa apenas a soma total de suas dívidas. 
Do mesmo modo, quando o capitalista consumiu o equivalente de seu 
capital adiantado, o valor deste capital representa apenas a soma total 
da mais-valia de que se apropriou gratuitamente. Não subsiste nenhum 
átómo de valor de seu antigo capital.
Prescindindo de toda acumulação, a mera continuidade do procelso 
de produção, ou a reprodução simples, transforma necessariamente todo 
capital, após um período mais ou menos longo, em capital acumulado 
ou mais-valia capitalizada. Ainda que o capital, ao entrar no processo 
de produção, fosse propriedade adquirida através do trabalho do próprio 
aplicador, torna-se, mais dia menos dia, valor apropriado sem dar equi-
valente em troca, ou materialização, sob a forma de dinheiro ou outra, 
de trabalho alheio não-pago.
Vimos no capítulo IV: para transformar dinheiro em capital, não 
bastava a existência de produção e circulação de mercadorias. Antes, 
tinham de defrontar-se, de um lado, possuidor de valor ou dinheiro, 
do outro, possuidor da substância criadora de valor; de um lado, pos-
suidor de meios de produção e meios de subsistência, do outro, possui-
dor apenas de força de trabalho, nos papéis de comprador e vendedor, 
A separação entre o produto do trabalho e o próprio trabalho, entre 
as condições objetivas do trabalho e a força subjetiva do trabalho, era 
a base realmente dada, o ponto de partida do processo de produção 
capitalista.
Mas o que era, a princípio, apenas ponto de partida, é produzido 
e eternizado sempre de novo, por meio da mera continuidade do pro-
cesso, da reprodução simples, como próprio resultado da produção 
capitalista. De um lado, o processo de produção transforma continua-
mente a riqueza material em capital, em meios de valorização e de 
consumo para o capitalista. Por outro lado, o trabalhador sai do pro-
cesso sempre como entrou nele — fonte pessoal de riqueza, mas des-
pojado de todos os meios para realizá-la em seu proveito. Seu trabalho 
materializa-se durante o processo, constantemente, em produto alheio,
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porque já é, antes, alienado dele, apropriado pelo capitalista e Incor-
porado ao capital. Como o processo de produção é, ao mesmo tempo, 
o processo de consumo da força de trabalho pelo capitalista, o produto 
do trabalhador transforma-se coritinuamente não só em mercadoria, mas 
em capital, em valor que suga a força criadora de valor, em meios de 
subsistência que compram pessoas, em meios de produção que utilizam 
o p rodu to r6. O próprio trabalhador produz, por isso, constantemente 
a riqueza objetiva, mas como capital, como poder estranho a ele, que 
o domina e explora, e o capitalista produz também continuamente a 
força de trabalho, mas como fonte subjetiva de riqueza, separada de 
seus próprios meios de materialização e realização, abstrata, existente 
na mera corporalidade do trabalhador, numa só palavra: o trabalhador 
como trabalhador assalariado 7. Esta constante reprodução ou etemiza- 
ção do trabalhador é a condição sine qua non da produção capitalista.
[ . . . ]
• • •
A lei geral da acumulação capitalista
1. A demanda por força de trabalho aumenta com a acumulação, 
mantendo-se constante a composição do capital
[ . . . ]
Nas condições de acumulação até agora admitidas e mais favoráveis 
aos trabalhadores, sua relação de dependência para com o capital reves-
te-se de formas suportáveis, ou como diz E d e n 8, “cômodas e liberais” . 
Em vez de tomar-se mais intensiva, com o crescimento do capital, tor-
na-se apenas mais extensiva, isto é, amplia-se, com a sua própria dimen-
são e com o número de seus súditos, a esfera de exploração e dominação 
do capital. Do seu próprio produto excedente que se amplia e, aumen-
8 “Isto é uma propriedade particularmente notável do consumo produtivo: o que 
é consumido produtivamente é capital, e torna-se capital através do consumo.” 
(M ill , J. Elements of Political Economy. p. 242.) J. Mill, contudo, não investiga 
esta “propriedade particularmente notável”.
7 “É realmente um fato que a primeira instalação de uma manufatura dá emprego 
a muitos pobres, mas eles mantêm-se pobres e a continuação da manufatura pro-
duz ainda muitos outros mais.” (Reasons for a limited exportation of wool. 
Londres, 1677. p. 19.) “O arrendatário afirma agora, contra toda razão, que 
mantém os pobres. Em verdade, eles são mantidos na miséria.” (Reasons for the 
late increaseof poor rates: or a comparative view of the prices of labour and 
provisions. Londres, 1777. p. 31.)
8 E d e n , Sir F. M. The State of the poor. Londres, 1797.
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tado, transforma-se em capital adicional, retorna aos trabalhadores uma 
grande parte sob a forma de meios de pagamento, de tal modo que 
podem alargar o circuito de seus usufrutos, equipar melhor seu fundo 
de consumo, de roupas, móveis, etc., e formar pequenos fundos de 
reserva de dinheiro. Mas nem melhores roupas, alimentos, tratamento 
e um pecúlio maior suprimem a relação de dependência e a exploração 
quer dos escravos, quer dos trabalhadores assalariados. Elevação do 
preço do trabalho em conseqüência da acumulação do capital significa, 
de fato, apenas que a extensão e o peso da corrente de ouro que o 
trabalhador forjou para si mesmo permitem um afrouxamento de sua 
tensão. Nas controvérsias sobre este assunto, deixou-se de ver, na 
maioria das vezes, o principal, a saber,* a differentia specifica [diferença 
específica] da produção capitalista. A força de trabalho é comprada 
aqui não para que, por meio dela ou de seu produto, sejam satisfeitas 
as necessidades pessoais do comprador. Seu objetivo é a valorização do 
seu capital, a produção de mercadorias que contêm mais trabalho do 
que ele paga, ou seja, que contêm uma parte do valor que não lhe pusta 
nada e que é todavia realizada através da venda. Produção de mais- 
-valia é a lei absoluta deste modo de produção. A força de trabalho 
só é vendável9 enquanto conserva os meios de produção como capital, 
reproduz seu próprio valor como capital e proporciona, com trabalho 
não-pago, uma fonte de capital adicional. As condições de sua venda, 
se mais favoráveis ou se menos favoráveis ao trabalhador, incluem, por-
tanto, a necessidade de sua revenda contínua e a reprodução constante-
mente ampliada da riqueza como capital. O salário do trabalhador, 
como se viu, condiciona sempre, por sua natureza, o fornecimento pelo 
trabalhador de um certo quantum de trabalho não-pago. Deixando de 
lado a elevação dos salários associada à baixa do preço do trabalho, 
etc., um aumento significa, no melhor dos casos, apenas uma diminuição 
quantitativa do trabalho não-pago que o trabalhador tem de realizar. 
Essa diminuição nunca pode chegar ao ponto em que ameaçaria o pró-
prio sistema. Abstraindo-se os conflitos violentos em torno da taxa de 
salário, e Adam Smith já demonstrou que, de um modo geral, em tais 
conflitos, o patrão permanece sempre o patrão, uma elevação do preço 
do trabalho oriunda de uma acumulação de capital pressupõe a seguinte 
alternativa: ou o preço do trabalho continua a elevar-se, porque essa 
elevação não perturba o progresso da acumulação — e não há nisto 
nada de surpreendente, pois, como diz A. Smith,
H Nota à 2.a edição: “O limite, porém, da ocupação de trabalhadores industriais 
como agrícolas, é o mesmo: a possibilidade para o empresário de extrair um 
lucro do produto do trabalho deles. Se a taxa do salário é tão alta que o lucro 
do patrão cai abaixo da média, ele cessa de empregá-los, ou só os emprega se 
concordarem com uma redução do salário.” (W a d e , John. Op. cit., [History of 
the middle and working classes], p. 240.)
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“mesmo com lucro reduzido os capitais aumentam, podendo crescer 
com maior velocidade que antes . . . Um grande capital cresce mesmo 
com pequenos lucros, em geral, mais rapidamente que um pequeno capi-
tal com grandes lucros”. (Op. cit. [Wealth of nations, liv. II], p, 189.)
Neste caso, é evidente que uma diminuição do trabalho não-pago 
de nenhum modo prejudica a expansão do domínio do capital. — Ou, 
e este é o outro lado da alternativa, a acumulação retarda-se em virtude 
de elevar-se o preço do trabalho, ficando embotado o aguilhão do lucro. 
A acumulação diminui. Mas com sua diminuição desaparece a causa 
que a gera, a saber, a desproporção entre capital e força de trabalho 
explorável. O mecanismo do processo de produção capitalista remove, 
portanto, os obstáculos que ele mesmo provisoriamente cria. O preço do 
trabalho volta de novo a um nível que corresponda às necessidades de 
valorização do capital, seja ele superior, igual ou inferior ao que era 
considerado normal antes do começo da elevação dos salários. Vê-se: 
no primeiro caso, não é a diminuição no crescimento absoluto ou pro-
porcional da força de trabalho ou da população trabalhadora que tom a 
o capital excedente, mas sim, ao contrário, o crescimento do capital que 
torna a força de trabalho explorável insuficiente. No segundo caso, não 
é o aumento no crescimento absoluto ou proporcional da força de tra-
balho, ou da população trabalhadora, que torna o capital insuficiente, 
mas sim, ao contrário, a diminuição do capital que torna excedente a 
força de trabalho explorável ou, mais ainda, o preço dela. São estes 
movimentos absolutos da acumulação do capital que se refletem, como 
movimentos relativos, na massa da força de trabalho explorável, e pare-
cem originar-se propriamente deles. Para utilizar uma expressão mate-
mática: a grandeza da acumulação é a variável independente, a grandeza 
do salário é a dependente, e não ao contrário. Assim expressa-se a queda 
geral dos preços das mercadorias, na fase de crise do círculo industrial, 
como elevação do valor relativo do dinheiro, e a elevação geral dos 
preços das mercadorias, na fase de prosperidade, como queda do valor 
relativo do dinheiro. A chamada Escola de Currency 10 conclui daí que 
circula dinheiro demais, quando os preços são altos, e de menos, quando 
os preços são baixos. A ignorância e o total desconhecimento dos fatos, 
por parte dos defensores desta teo riau , encontram paralelos dignos 
nos economistas que interpretam esses fenômenos da acumulação afir-
mando que ora existem trabalhadores demais, ora de menos.
10 Currency principies: escola econômica muito difundida na Inglaterra na pri-
meira metade do século XIX. Ela partia do princípio da quantidade do dinheiro; 
afirmava que o preço das mercadorias era determinado pela quantidade de 
dinheiro que se encontrava em circulação. [ . . . ] (N. do ed. al.)
11 Ver M a r x , Karl. Zur Kritik der politischen Oekonomie [Contribuição à crítica 
da Economia Política], p. 165 et seqs.
384
A lei da produção capitalista que serve de base à pretensa “lei 
natural da população” reduz-se simplesmente ao seguinte: a relação 
entre capital, acumulação e taxa de salários não é nada mais que a 
relação entre o trabalho não-pago, transformado em capital, e o trabalho 
suplementar necessário para colocar em movimento o capital adicional. 
Não é, de nenhum modo, uma relação entre duas grandezas indepen-
dentes uma da outra, de um lado a grandeza do capital, de outro o 
número da população trabalhadora. É antes, em última instância, apenas 
a relação entre o trabalho não-pago e o trabalho pâgo desta mesma 
população trabalhadora. Se cresce a quantidade dp trabalho não-pago 
fornecido pela classe trabalhadora e acumulado pela classe capitalista, 
de modo suficientemente rápido para que possa transformar-se em capi- 
tal apenas com um acréscimo extraordinário de trabalho pago, haverá 
então uma elevação de salário, e não se alterando as demais condições, 
decrescerá proporcionalmente o trabalho não-pago. Tão logo, p^rém, 
esse decréscimo atinge o ponto em que esse trabalho excedente, alímen- 
tador do capital, não é mais oferecido em quantidades normais, dá-se 
uma reação: uma parte mínima desta revenue [renda] é capitalizada, a 
acumulação enfraquece, e o movimento ascensional dos salários sofre 
um contragolpe. A elevação do preço do trabalho fica, portanto, confi-
nada nos limites que mantêm intactos os fundamentos do sistema capi-
talista e asseguram sua reprodução em escala crescente. A lei da 
acumulação capitalista, mistificada em lei natural, expressa, de fato, ape-
nas que a sua natureza exclui todo decréscimodo grau de exploração 
do trabalho ou toda elevação do preço do trabalho que possam com-
prometer seriamente a reprodução constante da relação capitalista e 
sua reprodução em escala sempre ampliada. Não pode ser de outra 
maneira, num sistema de produção em que o trabalhador existe para 
as necessidades de valorização de valores existentes, ao invés de a riqueza 
material existir para as necessidades de desenvolvimento do trabalhador. 
Como, na religião, o homem é dominado pela criação de sua própria 
cabeça, da mesma forma na produção capitalista é ele dominado pelo 
produto de sua própria mão 12.
12 “Se voltamos, porém, à nossa primeira investigação, onde está demonstrado.. 
que o capital é apenas o produto do trabalho humano. . . então parece inteira-
mente incompreensível que o homem pudesse cair sob o domínio de seu próprio 
produto, o capital, e se tomasse subordinado a ele; e como isto é na realidade 
um caso incontestável, impõe-se involuntariamente a pergunta: como pôde o 
trabalhador transformar-se, de senhor do capital, de criador dele, em escravo 
do capital?” (V o n T h u e n e n , Der isolirte Staat. Parte segunda, seção segunda. 
Rostock, 1863. p. 5 e 6.) O mérito de Thuenen é ter formulado a pergunta. Sua 
resposta é simplesmente infantil.
385
2. Decréscimo relativo da parte variável do capital na continuação da 
acumulação e da concentração que a acompanha
Segundo os próprios economistas, não é nem o volume existente 
da riqueza social nem a grandeza do capital já adquirido que levam a 
uma elevação dos salários, mas pura e simplesmente o crescimento pro-
gressivo da acumulação e o grau de velocidade do seu crescimento 
(Sm it h , A. livro I, cap. 8 ). Até agora temos observado apenas uma 
fase especial deste processo, aquela em que se realiza o acréscimo do 
capital, permanecendo constante a composição técnica do capital. Mas 
o processo ultrapassa esta fase.
Uma vez dados os fundamentos gerais do sistema capitalista, che-
ga-se sempre, no curso da acumulação, a um ponto em que o desen-
volvimento da produtividade do trabalho social se tom a a mais poderosa 
alavanca da acumulação.
“A mesma causa”, diz A. Smith, “que eleva os salários, a saber, o 
aumento do capital, impulsiona ao aumento das forças produtivas de 
trabalho e capacita uma quantidade menor de trabalho a produzir uma 
quantidade maior de produtos.”
Excetuando-se as condições naturais, como fertilidade dos solos, 
etc., e a habilidade de produtores, trabalhando independentes e isolados, 
a qual se comprova, porém, mais qualitativamente nos produtos do que 
quantitativamente na massa produzida, o grau de produtividade social 
do trabalho expressa-se nos volumes relativos dos meios de produção 
que um trabalhador, durante um dado tempo, com a mesma intensidade 
da força de trabalho, transforma em produto. A massa dos meios de 
produção, com a qual ele opera, cresce com a produtividade de seu 
trabalho. Esses meios de produção desempenham um duplo papel. O 
crescimento de uns é conseqüência; o de outros, condição da crescente 
produtividade do trabalho. Por exemplo: com a divisão mapufatureira 
do trabalho e a utilização das máquinas, transforma-se, no mesmo tempo, 
mais matéria-prima e, por isso, quantidade maior de matéria-prima e de 
materiais acessórios entra no processo de trabalho. Esta é a conse-
qüência da crescente produtividade do trabalho. Por outro lado, a massa 
da maquinaria utilizada, dos animais de trabalho, dos adubos minerais, 
das tubulações de drenagens, etc., é condição da crescente produtividade 
do trabalho. E, igualmente, a massa dos meios de produção concentrados 
nas construções, altos-fomos, meios de transportes, etc. Porém, quer con-
dição, quer conseqüência, o crescente volume dos meios de produção 
em comparação à força de trabalho neles incorporada expressa a produ-
tividade crescente do trabalho. O acréscimo desta última aparece, por-
tanto, no decréscimo da quantidade de trabalho em relação à massa 
dos meios de produção que põe em movimento, ou na diminuição do
386
fator subjetivo do processo de trabalho comparado com os seus fatores 
objetivos.
Esta mudança na composição técnica do capital, o crescimento 
da massa dos meios de produção, comparado com a massa da força de 
trabalho nela vivificada, reflete-se na composição de seu valor, no acrés-
cimo da parte constante do valor do capital às custas de sua parte 
variável. Se, por exemplo, de um capital, calculado percentualmente, 
50% são originalmente aplicados em meios de produção, e outros 50% 
em força de trabalho, mais tarde, com o desenvolvimento do grau de 
produtividade do trabalho, serão aplicados 80% em meios de produção 
e 20% em força de trabalho, etc. Esta lei do aumento crescente da 
parte constante do capital em relação à variável é confirmada a cada 
passo (conforme já vimos antes) pela análise comparativa dos preços 
das mercadorias, não importando se comparamos diferentes épocas eco-
nômicas para uma única nação ou diferentes nações na mesma época. 
A grandeza relativa do elemento do preço que representa apenas o 
valor dos meios de produção consumidos, ou a parte constante do fcapi- 
tal, está na razão direta, e a grandeza relativa do outro componente, 
que paga o trabalho ou representa a parte variável do capital, está na 
razão inversa ao progresso da acumulação.
O decréscimo da parte variável do capital em contraposição à cons-
tante, ou a composição mudada do valor do capital, mostra, entretanto, 
apenas, de maneira aproximada, a alteração ocorrida na sua composição 
técnica. Se, por exemplo, o valor do capital hoje aplicado numa fiação 
se compõe de 7 /8 de capital constante e de 1/8 de variável, enquanto 
no começo do século XVIII a proporção era de 1 /2 constante e 1/2 
variável, a massa de matérias-primas, de meios de trabalho, etc., hoje 
produtivamente consumida por um determinado quantum de trabalho 
de fiação é centenas de vezes maior que no começo do século XVIII. A 
razão é simplesmente que, com a produtividade crescente do trabalho, 
não apenas aumenta o volume dos meios de produção consumidos por 
ele, mas cai o valor desses meios de produção comparado com seu 
volume. Seu valor cresce, portanto, em termos absolutos, mas não 
em proporção com seu volume. O crescimento da diferença entre o 
capital constante e o variável é, portanto, muito menor que o cresci-
mento da diferença entre a massa dos meios de produção em que se 
converte o capital constante e a massa da força de trabalho em que 
se transforma o capital variável. A primeira diferença cresce com a 
segunda, porém em menor grau. i o i í i» * ‘a*1**
De resto, quando o progresso da acumulação reduz a grandeza 
relativa da parte variável do capital, não exclui de modo algum, com 
isto, o aumento de sua grandeza absoluta. Admitamos que um capital 
se divida, no começo, em 50% de capital constante e 50% de capital 
variável, mais tarde 80% constante e 20% variável. Se, nesse intervalo,
387
o capital original elevar-se de 6 000 libras esterlinas para 18 000, sua 
parte variável terá crescido também de 1/5. Era 3 000 libras esterlinas 
e aumentou agora para 3 600. Mas onde anteriormente bastava um 
acréscimo de capital de 20% para aumentar de 20% a procura de 
trabalho, é necessário agora triplicar o capital originário.
Na quarta parte mostramos como o desenvolvimento da força pro-
dutiva social do trabalho pressupõe a cooperação em grande escala; 
que apenas sob esse pressuposto se pode organizar a divisão e a combi-
nação do trabalho, economizar os meios de produção através de sua 
concentração em massa, forjar meios de trabalho, como o sistema- de 
maquinaria, que só se presta materialmente para a utilização em comum,, 
colocar a serviço da produção imensas forças naturais e transformar o 
processo de produção numa aplicação tecnológica da ciência. À base 
da produção de mercadoriasem que os meios de produção são pro-
priedades de pessoas privadas, onde o trabalhador manual produz mer-
cadorias de maneira isolada e independente ou vende sua força de tra-
balho como mercadoria por não ter meios para explorá-la, realiza-se 
aquele pressuposto da cooperação em grande escala apenas através do 
crescimento do capital individual, ou na medida em que os meios sociais 
de produção e de subsistência são transformados em propriedade par-
ticular de capitalistas. Somente assumindo a forma capitalista pode a 
produção de mercadorias tornar-se produção em grande escala. Uma 
certa acumulação de capital nas mãos de produtores individuais de 
mercadorias constitui, portanto, a condição do modo de produção especi-
ficamente capitalista. Por isso, tínhamos de admiti-la na transição do 
artesanato para a empresa capitalista. Pode ser chamada de acumulação 
primitiva, pois, em vez de resultado histórico, é fundamento histórico 
da produção especificamente capitalista. Como ela mesma surge, não 
necessitamos investigar ainda aqui. Basta saber que ela forma o ponto 
de partida. Mas todos os métodos para o aumento da força produtiva 
social do trabalho que crescem sobre esta base são, simultaneamente, 
métodos para elevar a produção da mais-valia ou do produto excedente, 
que, por seu lado, é o elemento formador da acumulação. São, portanto, 
ao mesmo tempo, métodos para a produção de capital por meio de 
capital ou métodos para acelerar sua acumulação. A contínua retrans- 
formação de mais-valia em capital apresenta-se como uma crescente 
grandeza do capital que entra no processo de produção. Esta, por seu 
lado, toma-se a base da produção em escala ampliada e dos métodos 
que a acompanham para elevar a força produtiva do trabalho e acelerar 
a produção de mais-valia. Quando aparece, portanto, um certo grau 
de acumulação do capital como condição do modo de produção especi-
ficamente capitalista, este último, reagindo, provoca uma acumulação 
acelerada do capital. Com a acumulação do capital desenvolve-se, por-
tanto, o modo de produção especificamente capitalista, e com este modo
388
de produção, desenvolve-se a acumulação do capital. Estes dois fatores 
econômicos produzem, segundo a proporção conjugada dos impulsos 
que se dão reciprocamente, a mudança na composição técnica do capi-
tal, por meio do qual a parte variável se tom a cada vez menor com-
parada com a constante.
Cada capital individual é uma maior ou menor concentração de 
meios de produção com o correspondente comando sobre um maior ou 
menor exército de trabalhadores. Toda acumulação se tom a meio de 
nova acumulação. Ela amplia, com a expansão da massa de riqueza 
funcionando como capital, sua concentração nas mãos de capitalistas 
individuais, portanto, a base da produção em grande escala e dos méto-
dos de produção especificamente capitalista. O crescimento do capital 
social realiza-se no crescimento de muitos capitais individuais. Pressu-
pondo todas as outras circunstâncias como constantes, os capitais indi-
viduais crescem, e com eles a concentração dos meios de produção numa 
relação na qual constituem partes alíquotas do capital social total. Ao 
mesmo tempo, destacam-se frações dos capitais originais e funcipnam 
como novos capitais autônomos. Entre outros fatores, desempenha nisto 
um grande papel a divisão da fortuna em famílias capitalistas. Com a 
acumulação cresce, portanto, mais ou menos, também o número dos 
capitalistas. Dois pontos caracterizam esta espécie de concentração, que 
se baseia diretamente na acumulação, ou antes, é idêntica a ela. Pri-
meiro: a crescente concentração dos meios de produção sociais nas 
mãos de capitalistas individuais, não se alterando as demais circunstân-
cias, é limitada pelo grau de crescimento da riqueza social. Segundo: 
a parte do capital social localizada em cada esfera particular da pro-
dução reparte-se entre muitos capitalistas que se confrontam como pro-
dutores de mercadorias, independentes uns dos outros e concorrendo 
entre si. A acumulação e a concentração que a acompanha estão não 
apenas em muitos pontos fragmentadas, mas também o crescimento dos 
capitais em funcionamento é coartado pela formação de novos e pela 
divisão de velhos capitais. Apresenta-se, por isso, a acumulação, por 
um lado, como a concentração crescente dos meios de produção e do 
comando sobre o trabalho, e, por outro lado, como repulsão recíproca 
de muitos capitais individuais.
Essa fragmentação do capital social total em muitos capitais indi-
viduais, ou a repulsão recíproca de suas frações,, é contrariada pela 
força de atração que atua sobre eles. E isto não é mais simples concen-
tração dos meios de produção e do comando sobre o trabalho, idêntica 
à acumulação. Isto é a concentração de capitais já formados, a supressão 
de sua autonomia individual, a expropriação do capitalista pelo capi-
talista, a transformação de muitos capitais pequenos em poucos capitais 
grandes. Este processo distingue-se do anterior porque pressupõe alte-
ração na repartição dos capitais que já existem e estão em funciona-
389
mento; seu campo de ação não está, portanto, limitado pelo acréscimo 
absoluto da riqueza social ou pelos limites absolutos da acumulação. 
O capital cresce enormemente aqui, nas mãos de um só, porque escapou 
das mãos de muitos, noutra parte. Esta é a centralização propriamente 
dita, que não se confunde com a acumulação e a concentração.
As leis desta centralização dos capitais, ou a atração do capital 
pelo capital, não podem ser desenvolvidas aqui. Bastam algumas expli-
cações efetivas. A batalha da concorrência é travada através do bara-
teamento das mercadorias. O barateamento das mercadorias depende, 
caeteris paribus [mantendo-se as mesmas condições], da produtividade 
do trabalho, e esta, por seu turno, da escala da produção. Os capitais 
maiores abatem, portanto, os menores. Demais, lembramos que, com o 
desenvolvimento do modo de produção capitalista, aumenta a dimensão 
mínima do capital individual exigido para levar avante um negócio em 
condições normais. Os capitais pequenos lançam-se assim naquelas esfe-
ras de produção de que a grande indústria apoderou-se apenas esporá-
dica ou parcialmente. A concorrência dá-se aqui na razão direta do 
número e na inversa da grandeza dos capitais que se defrontam. Ela 
acaba sempre com a derrota de muitos capitalistas pequenos, cujos capi-
tais ou se transferem para as mãos dos vencedores, ou soçobram. Além 
disso, a produção capitalista faz surgir uma força inteiramente nova, 
o sistema de crédito, que, em seu início, insinua-se furtivamente, como 
auxiliar modesto da acumulação, e por meio de fios invisíveis leva para 
as mãos dos capitalistas individuais ou associados grandes ou pequenas 
massas de dinheiro, dispersas pela superfície da sociedade, para logo 
tornar-se uma nova e terrível arma na luta da concorrência, e transfor-
mar-se, por fim, num imenso mecanismo social de centralização dos 
capitais.
Na medida em que se desenvolvem a produção capitalista e a 
acumulação, na mesma proporção desenvolvem-se a concorrência e o 
crédito, as duas mais poderosas alavancas da centralização. Ademais, 
o progresso da acumulação aumenta a matéria que pode ser centra-
lizada, isto é, os capitais individuais, enquanto a expansão da produção 
capitalista cria a necessidade social e os meios técnicos desses gigantes-
cos empreendimentos industriais cuja viabilidade está hipotecada a uma 
prévia centralização do capital. Hoje em dia, portanto, é muito mais 
forte a atração recíproca dos capitais individuais e a tendência à centra-
lização. Embora a expansão relativa e a energia do movimento centra-
lizador sejam determinadas, até certo ponto, pela grandeza já atingida 
pela riqueza capitalista e pela superioridade do mecanismo econômico, 
o progresso da centralização não depende, de maneira menhuma, do 
incrementopositivo do capital social. É isto, especialmente, que dife-
rencia a centralização da concentração, que é apenas uma outra expres-
são para a reprodução em escala ampliada. A centralização pode ocorrer 
por meio de simples modificação na divisão dos capitais já existentes,
390
através de alterações apenas do agrupamento quantitativo dos elementos 
componentes do capital social, O capital pode acumular-se aqui em 
imensas proporções, em uma só mão, por ter em outro lugar escapado 
a muitas outras mãos. Num dado ramo de negócios, a centralização 
teria alcançado o seu limite extremo quando todos os capitais investidos 
nele tivessem fundido em um único cap ita l1S. Em determinada socie-
dade, só seria alcançado esse limite no momento em que todo o capital 
social ficasse reunido em uma única mão, seja de um capitalista indivi-
dual, seja de uma única sociedade de capitalistas.
A centralização complementa a obra da acumulação ao capacitar 
os capitalistas industriais a ampliar a escala de suas operações. Seja 
este último resultado conseqüência da acumulação ou da centralização 
(quer se realize a centralização pelo caminho violento da anexação — 
onde certos capitais se tornam centros de gravitação tão poderosos para 
outros que rompem a coesão individual deles, absorvendo seus frag-
mentos — , quer ocorra a fusão de capitais já formados ou em formação, 
por meio do processo mais suave da formação de sociedades por ações) 
o efeito econômico permanece o mesmo. O aumento do tamanho dos 
estabelecimentos industriais constitui, por toda parte, o ponto de partida 
para uma organização mais vasta do trabalho total de muitos, para 
um mais amplo desenvolvimento de suas forças materiais, isto é, para 
a transformação progressiva dos processos de produção isolados e roti-
neiros em processos de produção socialmente combinados e cientifica-
mente organizados.
É evidente, porém, que a acumulação, o aumento progressivo do 
capital, pela reprodução que passa da forma circular para a de espiral, 
é um processo bastante lento, comparado com a centralização, que 
precisa apenas alterar o agrupamento quantitativo das partes integrantes 
do capital social. O mundo estaria ainda sem ferrovias se tivesse de 
esperar que a acumulação capacitasse alguns capitais isolados para a 
construção de uma ferrovia. A centralização, portanto, por meio da 
organização de sociedades por ações criou rapidamente as condições 
para isso. Aumentando e acelerando os efeitos da acumulação, a centra-
lização amplia e acelera, ao mesmo tempo, as transformações na compo-
sição técnica do capital, as quais aumentam a parte constante às custas 
da parte variável, reduzindo assim a procura* relativa de trabalho.
As massas de capital amalgamadas, da noite para o dia, pela centra-
lização, reproduzem-se e aumentam como as outras, mas com maior 
rapidez, de modo que se tomam novas alavancas poderosas da acumu-
l s Nota à 4.a edição: Os mais recentes trustes ingleses e americanos já têm esse 
objetivo, ao buscarem reunir, pelo menos, todas as grandes empresas de um 
ramo industrial numa grande sociedade por ações, com monopólio efetivo 
(N. de E.)
391
lação social. Se se fala, assim, do progresso da acumulação social, 
deve-se hoje considerar implícitos nela os efeitos da centralização.
Os capitais adicionais que se formaram no curso da acumulação 
normal (ver cap. XXII, I) servem preferentemente de veículos para 
a exploração de novos inventos e descobertas, sobretudo aperfeiçoamen-
tos industriais. Mas também o capital velho alcança, com o tempo, o 
momento de renovar-se, de mudar de pele e de renascer com forma 
técnica aperfeiçoada, na qual uma reduzida massa de trabalho basta 
para pôr em movimento uma maior massa de maquinaria e matérias- 
-primas. A redução absoluta da procura de trabalho que necessariamente 
decorre daí será evidentemente tanto maior quanto mais tenha o movi-
mento de centralização combinado os capitais que percorrem esse pro-
cesso de renovação.
Por um lado, o capital adicional formado no curso da acumulação 
atrai, assim, relativamente à sua grandeza, cada vez menos trabalhadores. 
Por outro lado, o velho capital, periodicamente reproduzido com nova 
composição, repele, cada vez mais, trabalhadores que antes empregava. 
[ . . . ]
4. As diferentes formas de existência da superpopulação relativa.
A lei geral da acumulação capitalista 14
Quanto maior a riqueza social, o capital em funcionamento, a 
extensão e energia de seu crescimento, conseqüentemente a grandeza 
absoluta do proletariado e a força produtiva: de seu trabalho, tanto 
maior é o exército industrial de reserva. A força de trabalho disponível 
é ampliada pelas mesmas causas que aumentam a força expansiva do 
capital. A grandeza relativa do exército industrial de reserva cresce, 
portanto, com as potências da riqueza. Quanto maior, porém, este exército 
de reserva em relação ao exército ativo de trabalhadores, tanto maior 
é a massa da superpopulação consolidada, cuja miséria está na razão 
inversa do suplício de seu trabalho. Quanto maior, finalmente, essa 
camada de Lázaros da classe trabalhadora e o exército industrial de 
reserva, tanto maior é o pauperismo, para usar a terminologia oficial. 
Esta é a lei geral, absoluta, da acumulação capitalista. Como todas as 
outras leis, é modificada em sua realização por múltiplas circunstâncias, 
cuja análise não cabe aqui.
14 O item 3 do capítulo 23 de O capital compõe o tópico seguinte desta anto-
logia. (N . do Org.)
392
Compreende-se a insanidade da sabedoria econômica que predica 
aos trabalhadores adaptarem seu número às necessidades de valorização 
do capital. O mecanismo de produção capitalista e da acumulação adapta 
continuamente esse número a essas necessidades. A primeira palavra 
desta adaptação é a criação de uma superpopulação relativa, oü de 
um exército industrial de reserva; a última palavra é a miséria sempre 
crescente de camadas do exército ativo de trabalhadores e o peso morto 
do pauperismo.
Graças ao progresso da produtividade do trabalho social, uma quan-
tidade sempre crescente de meios de produção pode ser mobilizada com 
um dispêndio progressivamente menor de força humana. Esta lei, sobre 
a base da sociedade capitalista, onde não o trabalhador usa os meios 
de trabalho, mas sim os meios de trabalho usam o trabalhador, signi-
fica o seguinte: quanto maior a produtividade do trabalho, tanto maior 
a pressão dos trabalhadores sobre os seus meios de ocupação, j tanto 
mais precária, portanto, é a sua condição de existência: venda dá pró-
pria força para aumentar a riqueza alheia, ou para a autovalorização 
do capital. Um crescimento dos meios de produção e da produtividade 
do trabalho mais rápido que o da população produtiva, expressa-se, 
pois, inversamente no capitalismo: a população trabalhadora sempre 
cresce mais rapidamente que a necessidade de valorização do capital.
Vimos na parte quarta, quando da análise da produção da mais- 
-valia relativa que: dentro do sistema capitalista aplicam-se todos os 
métodos para elevação da força produtiva do trabalho às custas de 
trabalhador individual; todos os meios para o desenvolvimento da pro-
dução redundam em meios de domínio e exploração do produtor, muti-
lam o trabalhador a um fragmento de ser humano, degradam-no à 
categoria de peça de máquina, destroem o conteúdo de seu trabalho 
transformado em tormento, tomam-se-lhe estranhas as potências inte-
lectuais do processo de trabalho na medida em que este incorpora a 
ciência como força independente, desfiguram as condições em que 
trabalha, submetem-no durante o processo de trabalho a um despotismo 
mesquinho e odioso, transformam todas as horas de sua vida em horas 
de trabalho, e lançam sua mulher e seus filhos sob o rolo compressor 
do capital. Mas todos os métodos para a produção da mais-valia são, 
ao mesmo tempo,métodos de acumulação, e cada expansão da acumu-
lação toma-se, reciprocamente, meio de desenvolver aqueles métodos. 
Conclui-se, portanto, que, na medida em que se acumula o capital, a 
situação do trabalhador, seja qual for seu salário, alto ou baixo, tem 
de piorar. Por fim, a lei que mantém a superpopulação relativa ou o 
exército industrial de reserva em equilíbrio com a dimensão e a energia 
da acumulação, acorrenta o trabalhador ao capital mais firmemente
393
do que os grilhões de Hefaísto acorrentavam Prometeu aos rochedos. 
Esta lei condiciona uma acumulação de miséria correspondente à acumu-
lação do capital. A acumulação de riqueza num pólo é, portanto, ao 
mesmo tempo, acumulação de miséria, sofrimento de trabalho, escra-
vatura, ignorância, brutalização e degradação moral no pólo oposto, isto 
é, do lado da classe que produz seu próprio produto como capital.
Este caráter antagônico da acumulação capitalista 15 é expresso de 
diferentes formas pelos economistas políticos, embora eles as misturem 
com manifestações em parte também análogas, mas todavia essencial-
mente diferentes, de modos de produção pré-capitalistas.
is “Dia a dia, torna-se com isto mais claro que as condições de produção, nas 
quais a burguesia se move, não têm caráter unitário, simples, mas sim uma 
dupla face; que, nas mesmas condições em que se produz a riqueza, é produzida 
também a miséria; que, nas mesmas condições em que se processa o desenvol-
vimento das forças produtivas, desenvolve-se também uma força repreSsiva; que 
essas condições só geram a riqueza burguesa, a riqueza da classe burguesa, sob 
contínua destruição da riqueza de membros isolados desta classe e com a for-
mação de um proletariado sempre crescente.” (M a r x , Karl. Misère de la 
Philosophie. p. 116.)

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