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Coerencia argumentativa pdf

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Coerência argumentativa 
 
• Lógica formal: também chamada de Lógica Simbólica, preocupa-se, 
basicamente, com a estrutura do raciocínio. A Lógica Formal lida com a 
relação entre conceitos e fornece um meio de compor provas de declarações. 
• Lógica do razoável: razão impregnada de pontos de vista estimativos, de 
critérios de valorização, de pautas axiológicas, que além de tudo traz consigo 
os ensinamentos colhidos da experiência própria e também do próximo 
através da história. 
• Regras são proposições normativas que contêm relatos objetivos, descritivos 
de determinadas condutas, aplicáveis a hipóteses bem definidas, 
perfeitamente caracterizadas, sob a forma de tudo ou nada. 
• Princípios são valores éticos e morais abrigados no ordenamento jurídico, 
compartilhados por toda a comunidade em dado momento e em dado lugar, 
como a liberdade, a igualdade, a solidariedade, a dignidade da pessoa 
humana, a boa-fé e outros tantos. 
O Direito é uma ciência dinâmica. Sempre que nos encontramos diante de 
uma questão jurídica nova, devemos nos perguntar qual a melhor maneira de 
resolver a lide que se nos apresenta. 
Quando um caso concreto trata de questão já prevista em lei, os processos 
silogísticos de subsunção do fato à norma auxiliam confortavelmente o advogado na 
solução do problema. Como, porém, solucionar temáticas inéditas? De que maneira 
a analogia e os princípios gerais do Direito podem subsidiar raciocínios jurídico-
argumentativos persuasivos? 
Percebemos que, em situações tais, a habilidade argumentativa pautada 
pela razoabilidade sobrepõe-se à necessidade do conhecimento da norma positivada 
que pouco contribui para dirimir o conflito de interesses entre as partes. 
Um dos casos singulares em que se observa esse problema é a polêmica 
ação judicial na qual os herdeiros de Humberto de Campos, ilustre escritor brasileiro, 
pedem a declaração judicial de que as obras psicografadas pelo médium Francisco 
Cândido Xavier, atribuídas ao espírito do escritor, não são desse autor, ou que, uma 
vez identificadas como de sua autoria, sejam pagos os direitos autorais aos seus 
sucessores. 
Compreendida essa realidade, propomos que seja lido o texto adiante, 
redigido por Maurício Lopes de Oliveira,[1] que esclarece sobre esse processo. 
 
TEXTO 
Marcelo Souto Maior, Jornalista que publicou a biografia de Francisco 
Cândido Xavier (As Vidas de Chico Xavier, Ed. Rocco, 1996), relata que no início do 
ano de 1944, o médium abriu um envelope enviado pela Oitava Vara Cível do Rio de 
Coerência argumentativa 
 
Janeiro e assustou-se. A viúva e os três filhos do escritor Humberto de Campos 
moviam um processo contra ele e a Federação Espírita Brasileira. 
O fato era que a editora da Federação Espírita Brasileira havia publicado 
cinco obras, duas delas já em terceira edição, atribuídas ao espírito do falecido 
escritor, psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier. 
Essas publicações deixaram a viúva de Humberto de Campos, Catarina 
Vergolino, numa situação incômoda, pois mantinha contrato com outra editora, que 
publicava a obra de seu marido, produzida por ele em vida. Diante de seu silêncio, 
os editores poderiam supor que ela lucrava com os títulos póstumos. Na verdade, 
Catarina não tinha recebido um tostão, sequer havia sido consultada. 
Assim sendo, a viúva do referido homem de letras constituiu advogado e 
promoveu ação declaratória, em face da Federação Espírita Brasileira e de Chico 
Xavier, colocando a Justiça no seguinte dilema: declarar que as obras não eram do 
espírito de Humberto de Campos, fazendo cessar a publicação; ou declarar que as 
obras eram do espírito de Humberto de Campos, reconhecendo os direitos autorais 
de seus herdeiros, dando-lhes participação nos lucros. 
Catarina requereu todos os meios de provas científicas possíveis, exigindo 
demonstrações mediúnicas para verificação da sobrevivência e operosidade do 
espírito de Humberto de Campos. 
Propunha exames gráficos dos textos escritos por Chico Xavier, além de 
provas testemunhais. Queria ter a certeza de que as cinco obras atribuídas ao espírito 
do escritor foram mesmo ditadas pelo morto. 
O Advogado Miguel Timponi, católico praticante, apresentou sua 
contestação. 
Timponi sustentou que afirmar ou negar que as obras fossem de Humberto 
de Campos seria decretar a oficialização de um princípio religioso, filosófico ou 
científico, o que o magistrado jamais poderia fazer, dada sua inerente neutralidade 
diante de tais princípios. 
Argumentou, ainda, que depois de morto, o indivíduo não pode adquirir 
direitos e que os herdeiros de Humberto de Campos não poderiam ser reconhecidos 
como sucessores de direitos patrimoniais sobre uma obra que inexistiu durante a 
vida do autor. 
Finalmente Timponi alegou que Humberto de Campos, ser humano que 
deixou de existir, não tem qualquer relação com o espírito, que sobrevive de acordo 
com os cânones do espiritismo. Assim, a designação "Espírito de Humberto de 
Campos", presente nas obras mediúnicas, não compromete o nome do escritor. 
Como testemunha em favor dos réus, Timponi convocou o próprio espírito 
de Humberto de Campos, que se manifestaria através do médium Chico Xavier. 
Coerência argumentativa 
 
De fato, durante todo o processo, o espírito se manifestou, demonstrando 
seu descontentamento com a situação. Em uma de suas mensagens psicografadas, 
o espírito lembrou que no prefácio de seu primeiro livro, ditado sete anos antes, havia 
mencionado o fato de finalmente estar livre dos contratos com sua editora, 
enaltecendo as vantagens do autor fantasma. 
Coube ao Juiz João Frederico Mourão Russel dirimir a controvérsia. 
Em sentença de 23 de outubro de 1944, o Juiz Russel salientou que a 
existência da pessoa natural termina com a morte, e que, conseqüentemente, com 
a morte se extingue a capacidade jurídica de adquirir direitos – mors omnia solvit. 
Merece destaque o seguinte trecho da referida sentença: 
Ora, nos termos do art. 10 do Código Civil "a existência da 
pessoa natural termina com a morte"; por conseguinte, com a 
morte se extinguem todos os direitos e, bem assim, a 
capacidade jurídica de os adquirir. No nosso direito é absoluto 
o alcance da máxima mors omnia solvit. Assim, o grande 
escritor Humberto de Campos, depois de sua morte, não 
poderia ter adquirido direito de espécie alguma e, 
conseqüentemente, nenhum direito autoral poderá da pessoa 
dele ser transmitido para seus herdeiros e sucessores. 
Nossa legislação protege a propriedade intelectual em favor 
dos herdeiros até certo limite de tempo após a morte, mas, o 
que considera, para esse fim, como propriedade intelectual, 
são as obras produzidas pelo de cujus em vida. O direito a 
essas é que se transmite aos herdeiros. Não pode, portanto, a 
suplicante pretender direitos autorais sobre supostas 
produções literárias atribuídas ao espírito do autor. 
 
Como se tratava de ação declaratória, o Juiz Russel assim concluiu sua 
sentença: 
Do exposto, conclui-se que, no caso vertente, não há nenhum 
interesse legítimo que dê lugar à ação proposta. Além disso, a 
ora intentada (ação declaratória) não tem por fim a simples 
declaração de existência ou inexistência de uma relação 
jurídica, nos termos do § único do art. 2º do Código de 
Processo, e sim a declaração da existência ou não de um fato 
(se são ou não do espírito de Humberto de Campos as obras 
referidas na inicial), do qual hipoteticamente, caso ocorra ou 
não, possam resultar relações jurídicas que a suplicante 
Coerência argumentativa 
 
enuncia de modo alternativo. Assim formulada, a inicial 
constitui mera consulta; não contém nenhum pedido positivo, 
certo e determinado,sobre o qual a Justiça se deva 
manifestar. 
Como observa, com razão, a contestação, a presente ação 
declaratória, tal como está formulada a conclusão inicial, 
jamais poderia ser julgada improcedente, se fosse admissível. 
Posto isso, julgo a suplicante carecedora da ação proposta e a 
condeno nas custas. 
 
Esta sentença foi confirmada, em 3 de novembro de 1944, por acórdão da 
Quarta Câmara do Tribunal do Distrito Federal. 
 
Se julgar necessário, leia, ainda, os esclarecimentos que seguem, presentes na 
mesma publicação eletrônica. 
A psicografia e o direito patrimonial do autor 
A idealização da personalidade é indispensável ao mundo jurídico, uma vez 
que o direito se concebe como uma organização da vida, onde, sob a égide tutelar 
da lei, se expande a faculdade dos indivíduos. Essa faculdade, assegurada pela ordem 
jurídica, é a irradiação de um foco – a personalidade. 
No nosso Direito, a personalidade jurídica tem começo no nascimento com 
vida. Conseqüentemente, com a morte termina a personalidade jurídica, deixando de 
existir capacidade para aquisição de direitos. 
Nesse sentido, Caio Mário da Silva Pereira assim doutrina: "A personalidade, 
como atributo da pessoa humana, está a ela indissoluvelmente ligada. Sua duração 
é a da vida" (Instituições de Direito Civil, vol. I, Forense, 1978, pág. 203). 
A inevitável conclusão é que o morto deixa de ser pessoa. Resta, entretanto, 
sua herança. Essa herança, que se caracteriza pelo conjunto de bens e direitos, 
patrimônio que o de cujus possuiu, se transmite aos herdeiros justamente porque o 
falecido deixou de ser capaz de ter direitos e obrigações na ordem civil. 
Logo, o direito hereditário é o complexo dos princípios segundo os quais se 
realiza a transmissão do patrimônio de alguém que já não mais existe. O patrimônio 
transmitido é, justamente, a herança. 
No caso dos direitos patrimoniais do autor, estes nascem com a criação da 
obra, e são transmitidos por sucessão causa mortis, sobrevindo, então, herdeiros e 
legatários à titularidade destes direitos. 
Coerência argumentativa 
 
Uma vez que estes direitos patrimoniais estão relacionados, 
intrinsecamente, com o meio de comunicação que exteriorizou a criação, o 
patrimônio corresponde a uma obra, inexistindo direitos sobre o que não se fez luz. 
Aceitando-se ou não a tese da sobrevivência do espírito, não há dúvida de 
que espírito não é capaz de direitos e obrigações. Assim, a obra de pensamento do 
espírito, psicografada, posteriormente à desagregação do corpo físico, não faz parte 
do patrimônio do de cujus, que deixou de ter personalidade jurídica. 
Não há que se questionar, portanto, direitos patrimoniais de autor sobre 
obras que não integravam – porque não existiam – o patrimônio deixado aos 
herdeiros. 
 
A psicografia e o direito moral do autor 
O jurista grego Georges Michaélidès-Nouaros, Doutor em Direito pela 
Universidade de Atenas, escreveu que le droit moral à as base la protection de la 
personnalité de l’auteur. (Le Droit Moral de l’Auteur, Librairie Arthur Rousseau, 1935, 
pág. 65). 
Segundo Carlos Alberto Bittar: 
Os direitos morais são vínculos perenes que unem o criador à 
sua obra, para a realização da defesa de sua personalidade. 
Como os aspectos abrangidos se relacionam à própria 
natureza humana e desde que a obra é emanação da 
personalidade do autor – que nela cunha, pois, seus próprios 
dotes intelectuais –, esses direitos constituem a sagração, no 
ordenamento jurídico, da proteção dos mais íntimos 
componentes da estrutura psíquica do seu criador. (Direito de 
Autor, Forense Universitária, 1994, pág. 44). 
 
As obras psicografadas são expostas nas livrarias com a declaração 
inequívoca da sua natureza, isto é, como sendo produção mediúnica. 
Os livros psicografados são sempre publicados por editoras espíritas, fato 
que especializa a obra. 
O nome da pessoa que psicografou é sempre o mais destacado, aparecendo 
no alto da capa, lugar normalmente reservado ao nome do autor. Já o nome da 
pessoa falecida, que teria ditado a obra, aparece acompanhado da expressão "ditado 
pelo espírito de" ou "do espírito de". 
Logo, não há risco de dúvida ou engano. É evidente que o consumidor, ao 
se deparar com um livro psicografado, ditado pelo espírito de algum célebre escritor 
Coerência argumentativa 
 
ou artista, verificará que não se trata de uma das obras criadas pela referida pessoa 
em vida. 
Isto se aplica aos que acreditam no fenômeno, pois, para esses, o espírito 
difere da pessoa, preexistindo antes de seu nascimento, subsistindo após sua morte. 
Também os céticos, por desacreditarem, não farão qualquer relação entre o espírito 
e a pessoa que, definitivamente, não mais existe. 
A obra psicografada não fere, portanto, a personalidade daquele que deixou 
de existir. Esta permanecerá intocada, relacionada às obras produzidas em vida, 
permanecendo devidamente resguardados os direitos morais do autor. 
 
Questão 
Realize uma pesquisa na Internet sobre casos de difícil solução, em virtude 
do ineditismo que apresentam, e procure identificar como o judiciário resolveu a 
matéria. De posse desse material, debata em sala de aula o caso concreto 
apresentado no texto de Maurício Lopes de Oliveira e produza um texto 
argumentativo de cerca de vinte linhas que reflita sobre a seguinte proposição: 
 
É possível conciliar os saberes científico, religioso, moral e cultural na 
prestação jurisdicional? 
 
Lembre-se de que a razoabilidade deve ser o norte de todos os seus 
raciocínios... 
 
 
 
 
[1] MAURÍCIO LOPES DE OLIVEIRA é Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro; Membro do Centro de Estudos de Direitos das Criações 
Imateriais da Universidade de Montpellier, França, onde é Mestrando em Direito e 
diplomado pelo Centro de Estudos Internacionais da Propriedade Industrial da 
Universidade de Strasbourg, França, e Membro do escritório Gusmão & Labrunie S/C 
Ltda., São Paulo. Disponível em: 
<http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewFile/6952
/6519>. Acesso em 18 de setembro de 2010.

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