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TCC Tássia Daniella Borges Santos, Direito 2017

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17
FACULDADE ARNALDO HORÁCIO FERREIRA
COLEGIADO DE DIREITO
TÁSSIA DANIELLA BORGES SANTOS
VIOLAÇÃO DA IMAGEM DA PESSOA MORTA: 
O DIREITO DO CADÁVER EM NÃO TER SUA IMAGEM VIOLADA POR MÍDIAS DE IMPRENSA
Luís Eduardo Magalhães – BA 
2017
TÁSSIA DANIELLA BORGES SANTOS
VIOLAÇÃO DA IMAGEM DA PESSOA MORTA: 
O DIREITO DO CADÁVER EM NÃO TER SUA IMAGEM VIOLADA POR MÍDIAS DE IMPRENSA
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade Arnaldo Horário Ferreira, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientadora: Prof.ª Raissa Cardoso Barbosa Mourão.
Luís Eduardo Magalhães – BA
 2017
TÁSSIA DANIELLA BORGES SANTOS
VIOLAÇÃO DA IMAGEM DA PESSOA MORTA: 
O DIREITO DO CADÁVER EM NÃO TER SUA IMAGEM VIOLADA POR MÍDIAS DE IMPRENSA.
Este Trabalho foi apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade Arnaldo Horácio Ferreira – FAAHF, obtendo a nota (média) de ______, atribuída pela Banca Examinadora, constituída pela Orientadora e membros abaixo. 
Luís Eduardo Magalhães, ______ de _______________ de 2017.
___________________________________________
Prof(a). Patrícia Torunsky – Coordenadora do Curso
Professores que compuseram a banca:
______________________________________
Orientador (a) Raissa Cardoso Barbosa Mourão
______________________________________
Examinador (a) : Regina Candida Führ
_____________________________________
Examinador: Lucas Araújo Pimenta 
AGRADECIMENTOS
Há cinco anos eu não me imaginava onde estou hoje. Parece engraçado, mas eu nunca acreditei que poderia conquistar tantas coisas sendo quem eu era. Durante cinco anos eu amadureci, tive medo de não conseguir chegar até o final, tive medo de me frustrar e me decepcionar com todos os planos que havia feito. O meu sonho sempre foi Direito, no ensino médio eu já era conhecida como “a que queria ser juíza”. Mesmo com todas as dificuldades, eu decidi que nunca iria desistir de mim, nem dos meus planos, todos os dias eu reconhecia que havia nascido para aquilo, ser uma operadora do Direito. Como dizia Machado de Assis: “Eu gosto de catar o mínimo e o escondido. Onde ninguém mete o nariz, aí entra o meu, com a curiosidade estreita e aguda que descobre o encoberto”.
Em primeiro lugar eu agradeço o Cara lá de cima, pois sem ele guiando meus pensamentos, minhas atitudes e minhas vontades, abrandando meu coração e me mostrando o caminho certo, minha consciência jamais conseguiria mover as minhas pernas e me fazerem andar para frente.
Agradeço aos meus pais, com todo meu coração, por nunca terem desistido de mim, por sempre me apoiarem, mesmo com as dificuldades que a vida nos impôs desde sempre, sempre estiveram unidos, fosse onde estivessem, sempre me deram o básico e além dele. Sem vocês desde o início nenhum sonho seria possível. Obrigado por terem sonhado comigo, por sempre terem dito que eu era capaz, pelos puxões de orelha para melhorar as notas, pelos conselhos, por tudo. Eu amo vocês e agradeço de todo coração e alma, vocês são maravilhosos e se eu tivesse que escolher uma família, com certeza seria com vocês.
Agradeço a minha orientadora, pelas preocupações e cobranças para que eu escrevesse um trabalho de conclusão de curso de qualidade. Pelas ideias, pelo carinho, por tudo. Obrigada, minha querida orientadora, sem a senhora nesta jornada final eu estaria incompleta. Obrigada pela paciência. Obrigada por pegar para si este trabalho e essa orientanda.
Agradeço ao meu amado esposo, pelo tempo disponibilizado para me ajudar com este trabalho de conclusão, agradeço as noites mal dormidas, as noites que me acolheu em seus braços, quando eu não conseguia dormir, por medo de não conseguir terminar a faculdade, o tcc e todo o resto. Agradeço pelos puxões de orelha, os conselhos que me fizeram levantar do fundo do poço e acreditar que eu poderia ser melhor. Obrigada por sempre acreditar em mim, por todo sushi do mundo na hora das minhas crises nervosas, pelos abraços silenciosos quando tudo desmoronava, por ser silêncio quando eu mais precisei, por compreender que nem sempre eu estaria inteira, mas que no final tudo valeria a pena. Obrigada por ser minha metade, por ser meu parceiro, melhor amigo, confidente, por ser tudo e nada quando eu mais precisei. Eu te amo de forma incomensurável, sem você, nada desse sonho que agora é real teria sentido, pois foi você quem foi minha âncora quando eu estava perdida. Obrigada por ser sol nos meus dias tempestivos. Obrigada, que não chega nem perto do tanto que tenho a te agradecer. Amo você, príncipe. 
E por fim, agradeço a pessoa responsável por me trazer até aqui: eu. Pois não importa quanta força externa eu recebesse, eu sempre soube que sem a pessoa que mais amo nesse mundo, nada disso valeria a pena. Sou guerreira por ter acreditado em mim, nas minhas apostas e nas minhas dedicações. Obrigado, de todo coração e alma, eu me amo. 
“Quem não sabe o que é vida, como poderá saber o que é morte?”
(Confúcio).
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a exposição de imagens de pessoas mortas por mídias de notícias, expondo a imagem, honra e dignidade da pessoa morta, sem se preocupar com os familiares e conhecidos do indivíduo exposto. Visando demonstrar a desnecessidade e violação desta exposição, este trabalho se prontifica a explicar as limitações da garantia fundamental de liberdade de imprensa e expressão, explicando o aparente conflito entre estas e o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana. Assim, pretende este trabalho demonstrar a necessidade do aperfeiçoamento jurídico vigente, visando estabelecer uma criminalização para tal prática.
 
Palavras-chave: Exposição de imagens. Cadáver. Direitos Fundamentais. Mídias de Imprensa. Vilipêndio à Cadáver.
ABSTRACT
This study aims to analyze the exposure of images of dead people by news media, exposing the image, honor and dignity of the dead person, without worrying about the relatives and acquaintances of the exposed individual. In order to demonstrate the unnecessaryness and violation of this exposition, this paper is prepared to explain the limitations of the fundamental guarantee of freedom of the press and expression, explaining the apparent conflict between these and the fundamental principle of the dignity of the human person. Thus, this work intends to demonstrate the need for legal perfectioning in order to establish a criminalization for such practice.
Keywords: Exposure of images. Corpse. Fundamental rights. Press Releases. Vilification to Cadaver.
	
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	9
1. dos direitos da personalidade.	13
1.1 A Constituição Federal de 1988 e os Direitos Fundamentais	13
1.2 Dos Direitos da Personalidade	15
1.3 Definição de Pessoa	16
1.3.1 Do fim da personalidade	18
2. dos direitos da pessoa morta	22
2.1. Do Direito à Imagem	22
2.2. Da Dignidade da Pessoa Morta	24
3. DA LIBERDADE DE IMPRENSA	27
3.1 Do Conceito de Liberdade de Imprensa	27
3.2 Das Limitações à Liberdade de Expressão	30
3.3 Das Limitações à Liberdade de Imprensa	31
4. da exposição de imagens póstumas em mídias de imprensa	33
4.1 Do Conflito Entre Garantias Fundamentais	33
4.1 Da Exposição de Pessoas Famosas	37
5. Da proteção e tutela à imagem e honra do cadáver exposto	40
5.1 Da Criminalização da Exposição Indevida de Imagens de Pessoas Mortas Como Forma de Vincular Notícias	41
Conclusão	45
REFERÊNCIAS	47
ANEXOS	52
Anexo 1 - Juiz Manda Tirar do ar Imagens do Corpo do Cantor Cristiano Araújo	52
Anexo 2 – Grave Acidente na BR-020 deixa Três Mortos Incluindo um Vereador de Luís Eduardo Magalhães.	60
INTRODUÇÃO
O tema deste Trabalho de Pesquisa versa sobre o direito do cadáver em não ter sua imagem violada por mídias de imprensa[footnoteRef:1]. É cediço que vivemos em uma época aonde a exposição de imagens de pessoas mortas vem se tornando cada vez mais frequente devido à curiosidade da população em saber todos os detalhes do fato ocorrido. [1: Grifo nosso] 
Como serádemonstrado a seguir, constitui garantia fundamental a liberdade de imprensa, sendo resguardado o direito à população, sendo livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
No entanto, os veículos de comunicação, muitas vezes, se aproveitam de tal garantia e, na justificativa de noticiar o fato ocorrido, expõem fotos do corpo do indivíduo no momento de sua morte, sem se preocupar com a imagem do de cujus, tampouco com os sentimentos dos familiares e amigos ao ver a imagem divulgada.
Deste modo o tema deste trabalho de pesquisa foi escolhido visando tal exposição indevida da imagem da pessoa morta, apresentando teses e fundamentos objetivando coibir essa exposição como se explicará abaixo.
O tema encontra sua delimitação na exposição de imagens de pessoas mortas somente pelas mídias de imprensa[footnoteRef:2]. [2: Grifo nosso] 
No tangente a mídias de imprensa estão incluídos os blogs noticiários, jornais e qualquer outro meio de divulgação de notícias.
Vale destacar que este trabalho não versa sobre a exposição dessas imagens através de redes sociais, como facebook, instagram, twitter entre outros, tampouco por meios de comunicação como menssenger, whatsapp, e-mail e semelhantes.
A propagação de imagens pela internet bem como o número de pessoas que compartilham a mesma fogem do limite da razoabilidade para uma possível punição, almejando isto, este projeto aborda apenas os sites e veículos de noticiário, que se utilizam da imagem do defunto para atrair telespectadores e saciar a curiosidade alheia.
Deste modo este trabalho de pesquisa identifica um problema no campo do direito que pode ser assim enunciado: É legal a exposição de imagens do cadáver em mídias de imprensa como forma de noticiar o fato ocorrido?[footnoteRef:3] [3: Grifo nosso] 
Como se demonstrará nos capítulos a seguir, tal exposição viola a dignidade da pessoa morta. 
Constitui garantia fundamental a inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, podendo essas requerer indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação conforme se demonstrará nos capítulos a seguir.
No entanto, como ocorre quando a vítima da exposição estiver morta?
Para responder tal pergunta é necessário compreender sobre os direitos que garantem a “humanidade” ao homem, os também chamados direitos personalíssimos.
Será demonstrado que a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida e tem seu fim com a morte do indivíduo. 
Após a morte do sujeito, extingue-se a definição de pessoa natural passando a ser denominado como cadáver. 
No entanto, cabe salientar que o cadáver não se torna um ser desprotegido ou desprovido de direitos. Mesmo com a morte, a dignidade da pessoa do falecido ainda permanece intacta conforme será explicado posteriormente. 
Assim, será demonstrado que há uma extensão dos direitos personalíssimos ao cadáver, recaindo assim, à família a responsabilidade de protelar pelo direito do morto.[footnoteRef:4] [4: Grifo nosso] 
Nestes termos, fica a família responsável de assegurar que o morto tenha sua dignidade, imagem, intimidade, e demais direitos inerentes à personalidade intactos. 
 Dessa maneira buscando uma possível hipótese para o problema formulado, deste trabalho de pesquisa apresenta a seguinte hipótese: 
A divulgação de imagens do cadáver, por seu aspecto imoral, que viola a dignidade da pessoa morta, abusa do direito de liberdade de imprensa, devendo ser considerado ato ilícito, devendo ser enquadrado como crime, resultando assim no aperfeiçoamento do ordenamento jurídico vigente.[footnoteRef:5] [5: Grifo nosso] 
Conforme será explicado nos capítulos que seguem, restarão nítido e cristalino que tal exposição é totalmente indevida e imoral, visto que não é necessária a divulgação das imagens para vincular a notícia do acontecido. 
A conduta de divulgar a imagem, vídeo ou outra forma de material que contenha imagens do morto ou partes dele, não possui tipificação penal, pois o cadáver de certa forma não pode protelar por seus direitos, diante disso, quem sofre com este ato são a família, os amigos, os conhecidos e os admiradores da pessoa exposta.
Isso acaba por ferir o sentimento de boa lembrança, respeito e veneração que se guarda em relação ao morto, sendo este o bem jurídico que deverá vir a ser protegido, cabendo a família a legitimação para requerer que cesse a ameaça e/ou violação a imagem do cadáver, podendo requerer dano sobre a exposição.
Diante disto, demonstrará nos capítulos seguintes a necessidade de um aprimoramento jurídico visando coibir a prática desta divulgação e proteger o cadáver de ter sua imagem violada, assim, este Trabalho de Pesquisa objetiva[footnoteRef:6] demonstrar tal necessidade de aperfeiçoamento jurídico, impondo a liberdade de imprensa um limite quanto ao respeito da dignidade da pessoa humana, deixando claro que a exposição dessas imagens configura ato ilícito. [6: Grifo nosso] 
Este Trabalho de Pesquisa tem seu embasamento nas diversas e rotineiras notícias de falecimento, acidentes e demais tragédias ou fatos que venham a causar a morte de um indivíduo, onde, para apresentar tal informação, as mídias de imprensa utilizam-se de fotos do cadáver em seu momento de morte, sem se preocupar com o sentimento dos familiares e amigos que se encontram em estado de profundo sofrimento.
Será utilizado como exemplo desta exposição, as imagens do cantor Cristiano Araújo e de sua namorada Allana Moraes, que faleceram vítimas de um acidente de carro no dia 24 de junho de 2015, e tiveram suas imagens e vídeos divulgados em sites de notícia onde estes se encontravam nus em fase de preparação do corpo para o velório com caixão aberto.
Esta, como outras exposições de pessoas famosas, são causadas pela necessidade de saciar a curiosidade da população, perdendo-se, quase sempre, a noção de moralidade.
 Isto não ocorre apenas com celebridades, mas também em sites e blogs de notícias locais, que são responsáveis por noticiar os fatos ocorridos em pequenas cidades e que, em muitas vezes, acabam por expor imagens das pessoas mortas, mesmo que censuradas por algum programa de efeitos, mas demonstrando claramente a maneira e a posição em que esta veio ao óbito.
Motivado por este tipo de noticiário, este Trabalho de Pesquisa encontra sua justificativa nestes atos.
A metodologia utilizará uma abordagem sócio-jurídica, importando na atividade de pesquisa orientada pela relação da ordem jurídica com a ordem social entendida como meio-ambiente humano.
Para tal será feito um levantamento onde será investigado sobre a existência de precedentes judiciais (jurisprudência, legislação), de doutrina, dados estatísticos, dados históricos e etc.
1. dos direitos da personalidade. 
Reconhecida como Norma Magna do ordenamento jurídico brasileiro atual, a Constituição Federal resguarda os valores e direitos que constroem a existência humana e possuem força vinculativa máxima. Conhecidos como direitos fundamentais, estes são o núcleo da proteção da dignidade humana[footnoteRef:7]. [7: COELHO, Inocêncio Mártires; MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 135.] 
1.1 A Constituição Federal de 1988 e os Direitos Fundamentais
Não se devem confundir direitos fundamentais com direitos humanos, visto que estes ainda não foram positivados ou acolhidos pela Constituição. Os direitos humanos são direitos da esfera internacional que dão base a uma futura positivação, enquanto os direitos fundamentais já foram acolhidos e positivados na Constituição Federal, fazendo parte do direito interno brasileiro[footnoteRef:8]. [8: DANTAS, Paulo Roberto Figueiredo. Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 272] 
Os direitos fundamentais visam proteger o homem do poder estatal, desta forma,
numa acepção estrita são unicamente os direitos da liberdade, da pessoa particular, correspondendo de um ladoao conceito do Estado Burguês de Direito, referente a uma liberdade em princípio ilimitada diante de um poder estatal de intervenção, em princípio limitado, mensurável e controlável[footnoteRef:9]. [9: BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 29. ed. São Paulo: Malheiros , 2014. p. 575] 
Para compreender os direitos fundamentais devem-se analisar suas características, pois decorrerem de um longo processo evolutivo acompanhando as necessidades históricas da humanidade; são garantidos a todas as pessoas, sem distinções; não são absolutos ou ilimitados; podem ser exercitados ao mesmo tempo mais de um direito ou garantia fundamental; não possuem natureza econômica, não sendo assim um patrimônio; não podem ser renunciados de forma alguma pelo seu titular, mesmo que, eventualmente, este deixe de exercê-los; não possuem prazo para seu exercício, bem como, não podem ser objeto de perda pelo não uso; em regra, não podem ser alienados; e por fim, não se transmitem com a morte do titular[footnoteRef:10]. [10: DANTAS, Paulo Roberto Figueiredo. op. cit. p. 270] 
Os direitos fundamentais tem fundamentação no princípio da dignidade da pessoa humana, estando diretamente relacionados ao Estado Democrático de Direito. Tem como objetivo tutelar os direitos individuais, sociais, políticos, econômicos e culturais, da fraternidade e solidariedade, em todas as esferas de interesses essenciais ao gênero humano[footnoteRef:11]. [11: DANTAS, Paulo Roberto Figueiredo. op. cit. p. 270 ] 
Definidos em três gerações, os direitos fundamentais são classificados quanto à sua ordem histórica e cronológica a qual passaram a receber amparo constitucional. Deste modo, são classificados como direitos fundamentais de primeira, segunda e terceira geração[footnoteRef:12]. [12: Ibidem, p. 276] 
Fazem parte dos direitos fundamentais de primeira geração os direitos individuais e os direitos políticos.
Os direitos individuais protegem o homem do poder estatal, com fundamento no principio da liberdade, onde delimita o poder do Estado, de modo que não desrespeite direito fundamental do cidadão como o direito a vida, à liberdade, à propriedade e congêneres. Os direitos Políticos permitem que o indivíduo participe do processo político do Estado, não apenas pelo exercício do voto ou outros meios de participação popular, mas como candidato a ser um representante da população na condução do estado a que este esteja vinculado[footnoteRef:13]. [13: Idem. p. 277] 
Os direitos de segunda geração são conhecidos como direitos sociais, econômicos e culturais. 
Possuem seu fundamento no princípio da igualdade, onde impõe ao Estado um dever de agir de modo que assegure a igualdade substancial, e não apenas formal, a população. São direitos fundamentais de segunda geração os direitos relacionados ao trabalho, à previdência social, à saúde e a proteção à velhice[footnoteRef:14]. [14: Ibidem, p. 277] 
Os direitos de terceira geração são conhecidos como direitos coletivos ou em sentido amplo. Possuem fundamento no princípio da solidariedade, onde estabelece o dever de respeitar os direitos fundamentais da pessoa como espécie e não somente como indivíduo ou categoria social[footnoteRef:15]. [15: Idem. p. 278] 
1.2 Dos Direitos da Personalidade
Impostos pela nova ordem do sistema civil, os direitos personalíssimos foram introduzidos pela Carta Magna de 1988, conforme exposto anteriormente, na forma dos direitos conhecidos como fundamentais, por trazerem ao ser humano um estado de proteção tanto para sua imagem, vida privada e íntima, quanto a sua honra, se caracterizando como seu primeiro bem.
Esses direitos se diferenciam do Código Civil de 1916 que carregava consigo uma visão totalmente patrimonialista. 
 
Outrossim, para o Código de Beviláqua ser sujeito de direito significava ser “sujeito de patrimônio”, que para tanto precisa comprá-lo, sendo em igual medida “sujeito do contrato”, bem como sujeito de família, recebendo o Código a designação “de o ‘Estatuto Privado do Patrimônio’, exatamente porque se coloca como a constituição do homem privado titular de um patrimônio, idéia projetada, em parte, para o CCB de 2002”[footnoteRef:16]. [16: FACHIN, Luiz Edson. Teoria crítica do direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 298] 
O Código de 1916 era considerado de caráter individualista, patrimonialista e conservador. No entanto, com o processo de industrialização após a primeira guerra mundial, com o consequente amadurecimento da população, e, logo após, com a promulgação da Constituição de 1988, precisou se adaptar a realidade social, tendo por consequência a evolução dos três pilares que formavam a base deste instituto, família, propriedade e contrato[footnoteRef:17]. [17: ALBA, Felipe Camilo Dall’. Os três pilares do Código Civil de 1916: a família, a propriedade e o contrato. Revista Páginas de Direito, Porto Alegre, ano 4, nº 189, 20 de setembro de 2004. Disponível em: <http://www.tex.pro.br/home/artigos/109-artigos-set-2004/5147-os-tres-pilares-do-codigo-civil-de-1916-a-familia-a-propriedade-e-o-contrato> Acesso em: 16 de setembro de 2017] 
Diversos autores destacam a importância do direito da personalidade. O doutrinador Miguel Reale, em suas diversas obras, esclarece alguns pontos em relação ao tema:
 A pessoa, como costumo dizer, é o valor-fonte de todos os valores, sendo o principal fundamento do ordenamento jurídico; os direitos da personalidade correspondem às pessoas humanas em cada sistema básico de sua situação e atividades sociais. [...] Não há, pois, como confundir direitos da personalidade, que todo ser humano possui como razão de ser de sua própria existência, com os atribuídos genérica ou especificamente aos indivíduos, sendo possível a sua aquisição[footnoteRef:18]. [18: REALE, Miguel. Os direitos da personalidade. Disponível em: <http://www.miguelreale.com.br/artigos/dirpers.htm> acesso em: 10 de outubro de 2017.] 
Os direitos da personalidade são discutidos em diversos debates, ao passo que o ser humano ao nascer, deste o nascituro como previsto no texto legal, já possuem direitos próprios, portanto cada direito supracitado é inerente de cada pessoa, conforme destaca Sidney Guerra:
Esses direitos, na verdade, são inatos, porque nascem com o próprio homem. Daí a concepção naturalista, que relaciona os direitos da personalidade com atributos inerentes á sua condição da pessoa humana, como por exemplo, a intimidade, a honra, a privacidade, a intelectualidade, a liberdade, etc.[footnoteRef:19]. [19: GUERRA, Sidnei. A liberdade de imprensa e o direito de imagem. 2 ed.- Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 11. ] 
Para o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves, 
a concepção dos direitos da personalidade apoia-se na ideia de que, a par dos direitos economicamente apreciáveis, destacáveis da personalidade de seu titular, como a propriedade ou crédito contra um devedor, outros há, não menos valiosos e merecedores da proteção da ordem jurídica, inerente à pessoa humana e a ela ligados de maneira perpétua e permanente. São os direitos da personalidade, cuja existência tem sido proclamada pelo direito natural, destacando-se, dentre outros, o direito à vida, à liberdade, ao nome, ao próprio corpo, a imagem e à honra. [...] O grande passo para a proteção dos direitos da personalidade foi dado com o advento da Constituição Federal de 1988, que expressamente a eles se refere no art. 5º, X, [...] os direitos da personalidade constituem herança da Revolução Francesa, que pregava os lemas liberdade, igualdade e fraternidade.[footnoteRef:20] [20: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 13.ed. – São Paulo: Saraiva, 2015. p.186/187] 
Deste modo, os direitos personalíssimos são, conforme prevê o art. 11 do Código Civil, irrenunciáveis e intransmissíveis, além de inafastáveis, mesmo que por vontade do indivíduo.
1.3 Definição de Pessoa
Para compreender a amplitude dos direitos da personalidade deve-se definir quem é o sujeito que possui tais direitos. O Código Civil de2002 define que a personalidade civil da pessoa começa com a vida, mas a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro.
Conforme ensina Carlos Roberto Gonçalves, existem três teorias sobre a situação jurídica do nascituro. A teoria natalista, adotada pelo atual ordenamento jurídico, onde afirma que a personalidade civil tem seu início somente com a vida. Neste mesmo sentido, a teoria da personalidade condicional, que aparenta ser um desdobramento da teoria natalista, também defende que a personalidade se inicia com a vida, pois o nascituro é considerado uma pessoa condicional, sendo necessário o seu nascimento com vida como condição para adquirir personalidade. E por fim, a teria concepcionista, onde desde a concepção, institui personalidade ao nascituro, sendo ressalvado os direitos referente ao patrimônio, pois estes ficam condicionados ao nascimento com vida[footnoteRef:21]. [21: GONÇALVES, Carlos Roberto. op. cit. p. 103] 
Deste modo conceitua Paulo Roberto Moglia Thompson Flores,
pessoa é o ser humano ou, como diziam os romanos, com o sintetismo, precisão e simplicidade que lhes era peculiar, todo o ser nascido de mulher [...]. A pessoa é o ponto inicial do estudo do direito, eis que este decorre da necessidade social de regular os conflitos que surgem do paradoxo de um ser individual que, vivendo em sociedade põe-se em chove com outras pessoas ou com o próprio grupo. De outra parte, é igualmente, o fim último do direito que se justifica ao assegurar os princípios fundamentais do convívio humano, tais como, igualdade, liberdade, segurança jurídica, paz social, equilíbrio nas relações jurídicas, entre outros[footnoteRef:22]. [22: FLORES, Paulo Roberto Moglia Thompson. Direito civil, parte geral: das pessoas, dos bens e dos fatos jurídicos. 1. ed. – Brasília, DF: Gazeta Jurídica, 2013. P. 187] 
Neste sentido pessoa natural é o ser humano com vida e a sua dignidade é o fundamento principal da república do Brasil sendo ele a própria justificativa da ciência jurídica não podendo ser humano algum subtrair a qualidade de pessoa, assim à pessoa humana é valor fundamental sendo a única capaz de construir o mundo.[footnoteRef:23] [23: FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. 10. ed. – Salvador, BA: Editora JusPodvim, 2012. p. 297] 
Segundo Miguel Reale, o ser humano é algo que vale por si mesmo, decorrendo de sua auto consciência do que é e deve ser, de sua dignidade, de suas possibilidades de alterar a realidade fática em que vive, transformando o mundo cultural. Por isso, “não se é homem pelo mero fato de existir, mas pelo significado ou sentido da existência”.[footnoteRef:24] [24: FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. op. cit. p. 298] 
Neste ensejo dá-se-a ao feto separado do corpo da mãe o nome de nascido ficando comprovado o seu nascimento com vida mediante a presença de ar nos pulmões através da respiração[footnoteRef:25], ou seja, respirou, nasceu com vida[footnoteRef:26]. [25: O termo médico para se comprovar o nascimento com vida denomina-se docimasia hidrostática de Galeno ou docimasia pulmonar que significa que houve a presença de ar atmosférico nos pulmões do feto o que marca o início da sua personalidade.] [26: FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. op. cit.. p. 300] 
Ao citar Caio Mário, Thompson Flores justifica que
[...] a personalidade não decorre da consciência nem da vontade do indivíduo, a criança mesmo recém nascida, o deficiente mental ou o portador de enfermidade que desliga o indivíduo do ambiente físico ou moral, não obstante a ausência de conhecimento da realidade, ou a falta de reação psíquica, é uma pessoa, e por isso mesmo dotado de personalidade, atribuído inseparável do homem dentro da ordem jurídica, qualidade que não decorre de qualquer requisito psíquico e também dele inseparável[footnoteRef:27]. [27: FLORES, Paulo Roberto Moglia Thompson. op. cit. p. 198] 
Flores explica ainda que a personalidade não é um direito subjetivo, caso contrário deveria admitir a possibilidade de pessoas destituídas de personalidade, visto que, mesmo com sua essencialidade os direitos podem ser negados, violados, ou suprimidos, tendo como exemplo o direito à vida que acaba sendo violado diante da prática de um homicídio ou em casos excepcionais, suprimidos pela pena de morte. Deste modo classificar a personalidade como um direito não é admissível, pois a personalidade é a fonte de todos os direitos subjetivos e todos os direitos decorrem da personalidade.[footnoteRef:28] [28: Idem. p. 201] 
Para o direito romano a personalidade jurídica coincidia com o nascimento, antes do qual não havia falar em sujeito ou objeto de direito. O feto, nas entranhas maternas, era uma parte da mãe, “portio mulieres vel viscerum”[footnoteRef:29], e não uma pessoa, um ente ou um corpo. Por isso mesmo, não podia ter direitos, não podia ter atributos reconhecidos das pessoas. Mas, isto não obstante, os seus interesses eram resguardados e protegidos, e em atenção a eles, muito embora se reconhecesse que o nascimento era requisito para a aquisição de direitos, enunciava-se a regra da antecipação presumida de seu nascimento, dizendo-se que “nascituros pro iam nato habetur quoaties de eios commodis agitur”[footnoteRef:30]. [...] Pelo nosso direito, portanto, antes do nascimento com vida não há personalidade. Mas a lei cuida, em dadas circunstâncias, de proteger e resguardar os direitos do nascituro[footnoteRef:31]. [29: “Porção da mulher ou de suas entranhas”] [30: “O nascituro é considerado como já nascido, toda vez que se trata do seu interesse”] [31: PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. 24 ed. – Rio de Janeiro, RJ: Editora Forense, 2011. p. 183] 
Portanto, a personalidade se inicia com a vida, e a partir dai existe uma pessoa de direitos e obrigações, mesmo que o sujeito morra em seguida, o seu nascimento com vida o classifica como pessoa natural e assegura direitos que serão transmitidos com sua morte aos seus sucessores. O Código Civil prezou a simplicidade ao definir as condições da personalidade, quais sejam, nascer com vida[footnoteRef:32]. [32: PEREIRA, Caio Mario da Silva. op. cit. p. 185] 
1.3.1 Do fim da personalidade
	
Já definido onde se inicia personalidade, ponto importante a se ressaltar também onde a mesma termina.
O Código Civil traz em seu artigo 6º que o fim da personalidade se dá com a morte do ser humano natural, não havendo a necessidade de algum tipo de reconhecimento judicial de tal fato. Com a morte cessa-se as grandes funções orgânicas do corpo, perdendo-se assim o que é conhecido como pessoa humana[footnoteRef:33]. [33: PEREIRA, Caio Mario da Silva. op. cit. p. 222 ] 
O doutrinador civilista chileno Carlos Ducci Claro qualifica que “a morte corresponde ao término das funções vitais do indivíduo”.[footnoteRef:34] [34: FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. op. cit. p. 354] 
Sendo assim, havendo a morte da pessoa natural, ocorrerá instantaneamente a extinção da personalidade. Até este momento, no entanto, a pessoa natural se mantém com a personalidade que adquiriu, onde não haverá nenhuma limitação ao seu direito.[footnoteRef:35] [35: Idem. p. 354] 
Pontes de Miranda ressalta: “Com a morte termina a capacidade de direito, a personalidade. A morte não pode adquirir nenhum direito. Morto não tem direitos nem deveres. Para o direito, com a morte, tudo, que se refere à pessoa, acaba.”[footnoteRef:36] [36: FLORES, Paulo Roberto Moglia Thompson. op. cit. p. 239] 
Neste caso, faz-se necessário salientar, que, mesmo após a extinção da pessoa natural e de sua personalidade, o ordenamento jurídico titularia a tutela dos direitos da personalidade do de cujus (imagem, nome, honra...) aos seus legitimados. A doutrinadora Maria Helena Diniz, qualifica os legitimados supracitados como “indivíduos lesados indiretos, pois podem sofrer danos por conta da violação de bens jurídicos alheios, pertencentes aos entes queridos mortos. ”[footnoteRef:37] [37: FARIAS, CristianoChaves de. ROSENVALD, Nelson. op. cit. p. 355] 
É sabido que o ser humano adquire sua personalidade e todos os direitos inerentes a ela quando é concebido, e tais direitos o acompanham até a sua morte como encontra-se expresso no artigo 6º do Código supracitado. 
De acordo com Gonçalves: 
A morte real – que ocorre com o diagnóstico de paralisação da atividade encefálica, segundo o art. 3º da Lei n. 9.434/97, que dispõe sobre o transplante de órgãos – extingue a capacidade e dissolve tudo (mors omnia solvit), não sendo mais o morto sujeito de direitos e obrigações. Acarreta a extinção do poder familiar, a dissolução do vínculo matrimonial, a abertura da sucessão, a extinção dos contratos personalíssimos, a extinção da obrigação de pagar alimentos, que se transfere aos herdeiros do devedor (CC, art. 1.700) etc[footnoteRef:38]. [38: GONÇALVES, Carlos Roberto. op. cit. p. 143.] 
Após a morte do sujeito, extingue-se a definição de pessoa natural passando a ser denominado como cadáver. Juliana Aprygio e Marcela Berlink ao citarem Cifuentes: “Ensina que o homem quando morre se transforma em um ser opaco, insensível e sem movimento e vida. [...] com a morte o cadáver deixa de ser considerado pessoa, perdendo assim todos os atributos inerentes a esta[footnoteRef:39]”. [39: BERTONCELO, Juliana Aprygio. PEREIRA, Marcela Berlinck. Direito ao cadáver. Disponível em: <http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/Anais/sao_paulo/2502.pdf> Acesso em: 01 de fevereiro 2017 apud CIFUENTES, Santos. Derechos Personalíssimos. 2. ed. atualizada y ampliada. Buenos Aires, 1995, p.403] 
No entanto, cabe salientar que o cadáver não se torna um ser desprotegido ou desprovido de direitos. O corpo não goza dos direitos de uma pessoa viva, no entanto, possui proteção jurídica como, por exemplo, as leis nº 8.501/92 (Destinação de cadáveres não reclamados junto às autoridades públicas), Lei nº 9.434/1997 (remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo para fins de transplante e tratamento), art. 12 do Código Civil, arts. 209 a 212 do Código Penal Brasileiro entre outras[footnoteRef:40]. [40: BERTONCELO, Juliana Aprygio. PEREIRA, Marcela Berlinck. op. cit. ibidem.] 
Tais leis existem, pois mesmo com a morte, a dignidade da pessoa do falecido ainda permanece intacta, pois se trata de princípio fundamental garantido no art. 1º, III da Carta Magna, o que protege o cadáver e impões sansões para quem afrontar sua proteção. 
A morte, contudo, não impede que os bens da personalidade física e moral do defunto possam influir no curso social e que perdurem no mundo das relações jurídicas e sejam como tais autonomamente protegidos. É o caso das partes destacadas do corpo, das disposições de última vontade, de sua identidade, da imagem, da honra, do seu bom nome, da sua vida privada, das suas obras e das demais objetivações criadas pelo defunto e nas quais ele tenha, de um modo muito especial, imprimido sua marca[footnoteRef:41]. [41: BERTONCELO, Juliana Aprygio. PEREIRA, Marcela Berlinck, ibidem. ] 
 
Neste contexto, há uma extensão dos direitos personalíssimos ao cadáver, no entanto, o artigo 11 do Código Civil deixa expresso que os direitos personalíssimos são irrenunciáveis e intransmissíveis, neste caso, seria impossível caber ao morto velar por seus direitos. Para tal empasse, admite-se uma exceção, recaindo assim, à família a responsabilidade de protelar pelo direito do morto, conforme o parágrafo único do artigo in verbs. 
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau[footnoteRef:42]. [42: BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 1a edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.] 
Gonçalves ensina que, 
A violação do direito da personalidade que causa dano à pessoa acarreta, pois, a responsabilidade civil extracontratual do agente, decorrente da prática de ato ilícito. O direito subjetivo À sua reparação é interpretado de acordo com os ditames constitucionais, pois a responsabilidade pela violação do direito de personalidade não permanece exclusivamente no nível civil[footnoteRef:43]. [43: GONÇALVES, Carlos Roberto. op. cit. p. 195] 
Ensina ainda que além do ofendido, são legitimados para reclamar a reparação do dano, os herdeiros, o cônjuge, o companheiro, os membros da família a ele ligados afetivamente[footnoteRef:44]. [44: GONÇALVES, Carlos Roberto. op. cit. p. 197] 
Nestes termos, fica a família responsável de assegurar que o morto tenha sua dignidade, imagem, intimidade, e demais direitos inerentes à personalidade intactos. Vale destacar que tal legitimidade não é concorrente, vindo o parentesco mais próximo excluir o mais distante conforme o direito sucessório definido no mesmo código, não impedindo assim, um eventual litisconsórcio facultativo[footnoteRef:45]. [45: CARVALHO, Breno Tessinari de. Como se dá a proteção da personalidade da pessoa morta. Disponível em: <https://brennotessinari.jusbrasil.com.br/artigos/316692366/como-se-da-a-protecao-da-personalidade-da-pessoa-morta> Acesso em 01 de fevereiro de 2017.] 
 
2. dos direitos da pessoa morta
Conforme visto anteriormente, o ser humano adquire a sua personalidade ao nascer com vida, e junto a ela, todos os direito e deveres tipificados em nosso ordenamento. 
Com o fim de sua vida, o ser humano perde o caráter personalíssimo, passando a ser considerado cadáver. O cadáver não fica totalmente desamparado legalmente, visto que alguns direitos prevalecem sobre o corpo morto, no caso deste trabalho, tratar-se-á do direito a imagem e dignidade da pessoa morta como parâmetro para os próximos capítulos. 
2.1. Do Direito à Imagem 
Dentre todos os atributos inerentes a personalidade, a imagem é o direito que confere ao ser humano o seu caráter individual, neste sentido, “[...] trata-se de um bem personalíssimo, destacável do corpo e passível de representação”[footnoteRef:46]. [46: CONCEIÇÃO, Felipe Silva da. A relativização do direito de imagem: limites da sua (in)disponibilidade. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 784, 26 ago. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7171> . Acesso em: 20 out. 2017.] 
Jaime Siqueira ao citar Regina Ferreto ressalta que,
o direito à imagem alcançou posição importante no âmbito dos direitos da personalidade, graças ao importante progresso das comunicações e a importância que a imagem adquiriu na conjuntura publicitária. A captação e a difusão da imagem na sociedade contemporânea, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico, causou uma grande exposição da imagem, principalmente de pessoas que obtiveram destaque em suas atividades. Por via de conseqüência, à imagem foi agregado um valor econômico expressivo. Dotado de peculiaridades, o direito à própria imagem é um direito essencial ao ser humano. Destarte, não é lícito ao titular privar-se da sua própria imagem, embora dela possa dispor para tirar proveito econômico. Referida característica, é fundamental ao direito de imagem, vez que implica em uma série de conseqüências no mundo jurídico, pois, quando é utilizada a imagem alheia sem o consentimento do interessado, ou quando se ultrapassam os limites do que foi autorizado, ocorre uma violação ao direito à imagem.[footnoteRef:47] [47: SIQUEIRA, Jaime Pego. O direito à imagem e tutela inibitória. 2006. 120 fls. Dissertação (Mestrado em Ciências Jurídicas) – Centro Universitário de Maringá (CESUMAR). Maringá-Paraná. Disponível em: <http://livros01.livrosgratis.com.br/cp026885.pdf> Acesso em 15 out. 2017. Apud D’AZEVEDO, Regina Ferreto. Direito à imagem. Disponível em: Jus Navigandi,
Teresina, 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/
doutrina/texto.asp?id=7171>. ] 
A Constituição Federal de 1988 prevê o direito a imagemem seu art. 5º, incisos V, X e XXVIII, alínea “a”, como visto anteriormente, no rol das garantias e direitos fundamentais, onde protege o indivíduo quanto a uma possível violação do seu direito, estipulando a possibilidade de indenização em decorrência de dano moral ou material sob a sua imagem[footnoteRef:48]. [48: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988,Disponivel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm> Acesso em 15de out. 2017 ] 
O Código Civil de 2002 estipula em seu artigo 20, in verbis: 
Art. 20: “Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão ou a publicação, a exposição da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem aos fins comerciais.
Parágrafo único: Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes”[footnoteRef:49]. [49: BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 1a edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.] 
Nestes termos, SIQUEIRA explica que,
a proteção específica do direito em análise ao ressalvar que a divulgação da imagem só poderá ser feita com o consentimento de seu titular, prevendo, por outro lado, a possibilidade de indenização quando violado. Em seu parágrafo único, dá o mesmo estatuto legitimidade ao cônjuge sobrevivente, ascendentes e descendentes do morto ou do ausente, na hipótese de transgressão do mesmo direito. Em suma, a Constituição Federal de 1988, ao considerar expressamente o direito à imagem como um direito independente e autônomo e estabelecer a indenização por danos morais e materiais, colocou o direito brasileiro, nesta matéria, como um dos mais modernos no mundo, sendo um divisor de águas e fonte de inspiração para a legislação infraconstitucional brasileira[footnoteRef:50]. [50: SIQUEIRA, Jaime Pego. op. cit. Ibidem.] 
Deste modo quanto à proteção do direito à imagem, foi concebido expressamente em nível constitucional, sem deixar dúvidas quanto aos direitos fundamentais da intimidade, vida privada, e em destaque, à honra. Não havendo hodiernamente, discussão quanto à independência do direito à imagem em comparação aos demais direitos da “privacidade” (vida privada, intimidade e honra), mesmo que se confunda aos operadores do direito quanto ao que se relaciona com o direito à honra. O legislador criou previsão constitucional para cada um dos direitos acima elencados, restando claro sua independência, concluindo assim que a imagem não se mistura com a vida privada, com a intimidade ou com a honra. [footnoteRef:51] [51: GUERRA, Sidney. op. cit. p. 59/61] 
2.2. Da Dignidade da Pessoa Morta
É cediço que com a morte ocorre a extinção dos direitos referentes à personalidade do cadáver, bem como, institui-se aos herdeiros a legitimidade para adentrar com as medidas necessárias visando proteger os direitos da pessoa morta. 
O princípio da dignidade da pessoa humana não abrange somente o ser humano com vida, em seu aspecto moral, mas abrange também seu aspecto físico, qual seja, o corpo e no direito em garantir integridade a este corpo, seja essa garantia em vida ou em morte. [footnoteRef:52] [52: RENTZSCH, Cristiane Pederzolli. Dignidade também atinge quem já morreu, diz juíza. Disponivel em: <http://www.conjur.com.br/2010-fev-05/dignidade-pessoa-humana-tambem-atinge-quem-morreu-juiza> acesso em: 17 de fevereiro de 2017.] 
Os doutrinadores em sua grande maioria conceituam e concordam que com a morte há a extinção da pessoa humana, e ao ocorrer tal extinção os próprios direitos da personalidade também se perdem, porém, dentre esses direitos alguns acabam se estendendo após o falecimento. [footnoteRef:53] [53: BERTONCELO, Juliana Aprygio. PEREIRA, Marcela Berlinck. op. cit. ibidem ] 
Jean Ziegler ressalta que,
Os mortos continuam a agir para além da morte. Os cadáveres se dissolvem, mas as obras que eles criaram, as instituições que animaram, as ideias que lançaram ao mundo, os afetos que suscitaram continuam a agir e a fermentar. Quando um corpo volta ao nada, a consciência segue um destino social entre os vivos.[footnoteRef:54] [54: OLIVEIRA, Jakeline Gella de. O direito a honra, imagem, intimidade, privacidade e inviolabilidade do corpo do Cujus com relação a publicações na mídia. Cacoal/RO: UNIR, 2016 Disponivel em: <http://www.ri.unir.br/jspui/bitstream/123456789/1053/1/MONOGRAFIA%20JAKELINE.pdf> Acesso em: 10 de setembro de 2017 apud SILVA, Justino Adriano Farias da. Tratado do direito funerário. vol.1. São Paulo: Método, 2000 ] 
Destarte que a morte não impede que o espólio físico e moral do cadáver possam ter influência no percurso social e que conservem-se nas relações sócio jurídicas e sejam protegidos de forma autônoma. Ressaltando isto nos casos das disposições de última vontade, imagem, honra, vida privada, obras e tudo que o de cujus tenha deixado sua marca.[footnoteRef:55] [55: BELTRÃO, Silvio Romero. Direitos da Personalidade. De acordo com o Novo Código Civil. São Paulo: Atlas, 2005, p. 85] 
Szaniawski entende que,
[...] O Direito tem se ocupado em proteger o corpo humano após a morte no sentido de lhe dar um destino onde se mantenha sua dignidade. Este direito respeita aos parentes do morto, tratando-se de um direito familiar, diferente do tratamento que se dá às partes separadas do próprio corpo, e possui conotações e natureza de um direito de propriedade. O direito ao cadáver diz respeito ao próprio defunto, à sua memória, pois em certas ocasiões podem ocorrer atentados à memória do morto.[footnoteRef:56] [56: SZANIAWSKI, Elimar. Direitos de Personalidade e Tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p. 303.] 
Avulta-se que tal direito inerentes ao cadáver, não são exatamente de natureza personalíssima voltando tão somente a ser entendido como direito de propriedade, qual seja após a morte, os familiares vão exercer sob o de cujus apenas direito de propriedade.[footnoteRef:57] [57: BERTONCELO, Juliana Aprygio. PEREIRA, Marcela Berlinck. op. cit. ibidem] 
O direito brasileiro conclui que o direito de personalidade é um direito inerente ao cadáver, conforme destaca-se em seu artigo 12, § ú do Código Civil Brasileiro:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único: Em se tratando de morto terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau[footnoteRef:58]. [58: BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, op. cit.] 
É conclusivo que o cadáver em sua definição jurídica, possui uma extensão de direitos da personalidade, que sempre será após a morte, exercido pelos seus familiares.[footnoteRef:59] [59: Ibidem. ] 
Souza se posiciona ao passo que, 
Desse modo, e para além de certos direitos especiais da personalidade de pessoas falecidas expressamente regulados, o nosso legislador quis proteger individualmente as pessoas já falecidas contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à respectiva personalidade física e moral que existia em vida e que permaneça após a morte, assim se podendo também falar de uma tutela geral da personalidade do defunto.
É garantido que toda pessoa, mesmo após sua morte ainda possuir direitos da personalidade e que esses direitos sejam exercidos pelos ainda vivos interessados em resguardar a moral do de cujus, moral essa que não poderá sofrer nenhum tipo de ofensa ou conduta que venha ser desonrosa[footnoteRef:60]. [60: BERTONCELO, Juliana Aprygio. PEREIRA, Marcela Berlinck. op. cit. ibidem] 
Silva ressalta que “a honra, inquestionavelmente, consiste no agrupamento de alguns desses valores (as virtudes do homem). Portanto, o simples desaparecimento do corpofísico não o faz desaparecer”[footnoteRef:61]. [61: SILVA, Justino Adriano Farias da. Tratado do direto funerário. V.2. São Paulo: Método Editora 2000, p.790
] 
3. DA LIBERDADE DE IMPRENSA 
Antes de iniciar este capítulo, cabe aqui delimitar o tema deste trabalho. 
Este trabalho de conclusão de curso terá como abordagem apenas as mídias de imprensa, isto é, as mídias conhecidas por ser um meio de comunicação que tem como principal direção à publicidade, o jornalismo, que são os impressos, estampados ou publicados em locais específicos, como por exemplo, revistas, listas telefônicas, folhetos e folders, blogs, sites de notícia...[footnoteRef:62] [62: BRAZ, Bruna Carnielli. Mídia Impressa: Conceito, História e Evolução. Publicado em 01 de out. de 2014. Disponível em: <https://mimimidiando.wordpress.com/2014/10/01/midia-impressa-conceito-historia-e-evolucao/> Acesso em: 25 de agosto de 2017] 
Deste modo, restringir-se-á este trabalho a questionar apenas as imagens publicadas nestes veículos informativos, não sendo objeto de discussão a publicação de imagens em paginas de redes sociais e mídias de comunicação individual, como por exemplo wattsapp, twitter, facebook, e afins.
Tal delimitação ocorre pela complexidade em identificar o sujeito por trás destas mídias individuais, podendo este se esconder na sobra do anonimato. 
Assim, delimita-se apenas sobre a exposição em mídias noticiarias, visto que, conforme irá ser explanado abaixo, ultrapassam o limite da liberdade de imprensa.
Ressalta-se, desde então, que as medidas propostas nos capítulos seguintes, poderão servir de embasamento para uma posterior discussão sobre a abrangência para todas as mídias de comunicação. No entanto, vale ressaltar que este trabalho se limita a apenas as mídias de imprensa, não sendo objeto de estudo as demais. 
3.1 Do Conceito de Liberdade de Imprensa
 
Existe muita dificuldade quando o assunto é conceituar liberdade de imprensa, principalmente quando este conceito é tratado no âmbito judiciário. Em primeiro plano, a partir deste capítulo far-se-á necessário a definição etimológica, não só da palavra liberdade, mas também do que venha a ser imprensa. 
A etimologia da liberdade nos remete à cultura grega, eleutheria, que significa liberdade de movimento. [...] Tratava-se de uma possibilidade do corpo, não considerada como um dado da consciência ou do espírito.[footnoteRef:63] [63: PORFÍRIO, Geórgia Bajer Fernandes de Freitas. Dicionário de Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-index.php?page=Liberdade>. Acesso em: 24 de outubro de 2017.] 
Nos tempos antigos, o homem na estrutura da polis era considerado livre. Quando se falava em “liberdade”, tal liberdade era um termo meramente político, era um status libertatis, adquirido entre privilégios do Estado. [footnoteRef:64] [64: RAMOS, Diogo Freitas. A COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS: A Liberdade de Imprensa e o Direito à Imagem. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/Diogo%20Freitas%20Ramos.pdf> Acesso em 15 de outubro de 2017.] 
Geórgia Porfírio ressalta que,
os antigos não conheciam a liberdade individual como autonomia ou determinação. Poder e liberdade eram palavras praticamente sinônimas. Compreendia-se a liberdade como poder de se movimentar sem impedimentos. [...] O acréscimo da liberdade com um dado da consciência poder ser historicamente visualizado com a descoberta da interioridade humana, região íntima responsável por determinar o modo de ser de cada um e a projeção que cada qual tem para seu futuro. [footnoteRef:65] [65: PORFÍRIO, Geórgia Bajer Fernandes de Freitas. op. cit. ibidem;] 
Em 1789, referente à liberdade de imprensa na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em seu artigo 11 in verbs:
A livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei[footnoteRef:66]. [66: BRASIL, Declaração de direitos do homem e do cidadão, 1789. Disponível em: < http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-cidadao-1789.html> Acesso em: 10 de out. 2017] 
Junto a isto, a ONU em sua declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em 1948, prevê que:
Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.[footnoteRef:67] [67: GUERRA, Sidney. op. cit. p. 76 apud Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ONU, 1948; ] 
Atualmente a liberdade é vista como uma gama de restrições as realizações completas do homem. Ardenghi solidifica essa questão:
Liberdade é insubmissão a um imperativo jurídico, o privilégio de aceitar ou recusar aquilo que a ordem jurídica não obriga rejeitar ou acatar. A liberdade passaria, então a ser um direito.[footnoteRef:68] [68: ARDENGHI, Regis Schneider. Direito à vida privada e informação jornalística. Dissertação (Mestrado em Ciência Jurídica) – Universidade do Vale do Itajaí, 2003, P.195.] 
Porquanto, o direito à liberdade, está presente em todos os textos constitucionais e também na Carta Magna de 1988, desde a apresentação dos direitos e garantias fundamentais, em seu artigo 5º, caput que traz em sua fundamentação a liberdade de imprensa como garantia.
A liberdade para Montesquieu consiste em “[...] fazer tudo o que as leis permitem; e se um cidadão pudesse fazer o que elas proíbem ela já não teria liberdade, por que os outros também teriam este poder[footnoteRef:69]”. [69: MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997, p. 78.] 
O termo imprensa, por conseguinte, foi criado no século XV, por Johannes Guttenberg. Em sua visão doutrinária, Sidney Guerra, diz que “Imprensa é a máquina com que se imprime ou estampa; arte de imprimir; instituição da publicidade tipográfica[footnoteRef:70]”. [70: GUERRA, Sidney. A liberdade de imprensa e o direito à imagem. 2 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.p 77.] 
A concepção da palavra imprensa atualmente é muito mais expansiva do que antigamente, com a existência de muitos avanços, a imprensa deixou de serem apenas impressões e também passou a ser conhecida em outros canais, como rádio, televisão e jornais online[footnoteRef:71]. [71: RAMOS, Diogo Freitas. op. cit. ibidem.] 
Em relação a isto Sidney Guerra conclui que “[...] a exemplo de outros autores, entendemos que a terminologia mais apropriada seria liberdade de informação”[footnoteRef:72]. [72: GUERRA, Sidney. op. cit. p.77.] 
Com a edição da lei 5.250/67, a conceituação de imprensa, contrária a sua edição na anterior, preceitua em seu artigo 12, parágrafo único, in verbs:
São meios de informação e divulgação, para efeitos deste artigo, os jornais e outras publicações periódicas, os serviços de radiodifusão e os serviços noticiosos[footnoteRef:73]. [73: BRASIL. Lei nº 5250, 09 de fevereiro de 1967. Regula a liberdade de manifestação do pensamento e de informação. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasíia, DF, 9 fev de 1967. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L525o.htm>. Acesso em: 10 de outubro de 2017.] 
No ato da criação da lei em 1967, ainda não existia internet, o que fez com que os serviços de notícias, como páginas de noticiários, fossem consideradas institutos que se englobavam no quesito de imprensa. [footnoteRef:74] [74: RAMOS, Diogo Freitas. op. cit. ibidem.] 
A respeito do conceito de imprensa, Godoy relata que,
É certo, que nos primórdios de sua vulgarização, a palavra imprensa englobava num mesmo conceito todos os produtos das artes gráficas, das reproduções por imagens e por processos mecânicos e químicos envolvendo livros, gravuras, jornais e impressos em geral, hodiernamente emvirtude de seu grande desenvolvimento, essas mesmas artes se subdividiram, esgalhando-se em planos distintos, formando cada qual uma nova especialidade, não sendo mais possível jungir a imprensa ao conceito dos velhos tempos.[footnoteRef:75] [75: GODOY, Claudio Luiz Bueno de. A liberdade de imprensa e os direitos da personalidade. São Paulo: Atlas, 2001, p. 59.] 
Em relação à imprensa, Karl Marx conceitua que “[...] a imprensa é livre é o espelho intelectual no qual o povo se vê e a visão de si mesmo é a primeira condição de sabedoria[footnoteRef:76]”. [76: MARX, Karl, A liberdade de Imprensa. Porto Alegre: LPM, 1980, p.42] 
3.2 Das Limitações à Liberdade de Expressão
Em diversos momentos históricos do Brasil, o que é conhecida hoje como liberdade de expressão foi extremamente censurada na época da ditadura militar e no Governo Getúlio Vargas[footnoteRef:77]. [77: DOMINGUES, Viviane. Liberdade de expressão desde a Ditadura até os dias de hoje. Disponível em < https://vividomingues123.jusbrasil.com.br/artigos/190259558/liberdade-de-expressao-desde-a-ditadura-ate-os-dias-de-hoje> Acesso em 10 de out. 2017.] 
Com a chegada da constituição de 1988, conhecida como a constituição da democracia, a liberdade de expressão ganhou garantias fundamentais asseguradas pelo artigo 5º, caput da Constituição Federal:
Art.5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direto à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...][footnoteRef:78]. [78: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 08 jun 2016.] 
É possível observar que a liberdade de expressão beneficia a todos. O ministro do STF Carlos Ayres Britto, no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 130, em seu voto, ressaltou que,
a imprensa é vista por si mesma e pela coletividade como ferramenta institucional que transita da informação em geral e análise da matéria informada para a investigação, denúncia e a cobrança de medidas corretivas sobre toda conduta que lhe parecer (a ela, imprensa) fora do esquadro jurídico e dos padrões minimamente aceitáveis como próprios da experiência humana em determinada quadra histórica[footnoteRef:79]. [79: BRITTO, Carlos Ayres, RELATÓRIO, ADPF 130, disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/adpf130.pdf>, acesso em 24 de outubro de 2017.] 
Juntamente com tudo que se enquadra como imprensa, é importante salientar também as ferramentas como, por exemplo, a internet, os blogs como ressalta Sarmento:
As pessoas devem ter amplo acesso à informação e pontos de vista diversificados sobre temas de interesse público, a fim de que possam formar livremente as suas próprias convicções. Ademais, elas devem ter também assegurada a possibilidade de tentarem influenciar, com as suas opiniões, o pensamento dos seus concidadãos[footnoteRef:80]. [80: SARMENTO, Daniel. “Livres e Iguais: Estudos de Direito Constitucinal” Ed. Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2010, p.281. ] 
A Constituição traz de forma clara que todos têm direito à liberdade de expressão, seja ela qual for e como se manifeste, garantindo a manifestação do pensamento. 
Os limites da liberdade de expressão trazidos pela Constituição em seus artigos 5º e artigo 220, conforme transcritos:
Art. 5°, IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
Art. 5°, IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
Art. 5°, XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardo do sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
 Art. 220 - A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a. informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição[footnoteRef:81]. [81: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 08 jun 2016.] 
 
3.3 Das Limitações à Liberdade de Imprensa 
 
A liberdade de imprensa não pode ser conceituada de forma absoluta, pois a mesma possui limitações. Essas que podem ser encontradas na própria Lei de Imprensa.
Preceitua Lorenzenti que,
O direito à liberdade de imprensa pode ser limitado por algumas razões de interesse público, como, por exemplo: a) a censura prévia a espetáculos, a fim de se proteger a moral da infância e da adolescência; b) proibição de propaganda em favor da guerra e toda apologia do ódio nacional, racial ou religioso que incite à violência ou a ações discriminatórias[footnoteRef:82]. [82: LORENZETI, Ricardo Luis. Fundamentos do direito privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p.508] 
Todo cidadão tem o direito de informar e ser informado, Godoy acrescenta que: 
Esse direito de informação ou de ser informado, antes concebido como um direito individual, decorrente da liberdade de manifestação e expressão de pensamento, modernamente vem sendo estendido como dotado de forte componente e interesse coletivos, a que corresponde, na realidade um direito coletivo à informação[footnoteRef:83]. [83: GODOY, Claudio Luiz Bueno de. A liberdade de imprensa e os direitos da personalidade. São Paulo: Atlas, 2001, p. P 58 e 59.] 
A liberdade de imprensa não é voltada apenas para o que é bom, o que pode ser veiculado ou não, se constitui também no quesito dos excessos que muitas vezes são acometidos contra as pessoas, sendo esses limites internos ou externos[footnoteRef:84]. [84: RAMOS, Diogo Freitas. op. cit. ibidem. ] 
Caldas solidifica essa questão quando afirma que fica delimitado internamente quanto às responsabilidades sociais e principalmente no tocante ao compromisso com a verdade. Já quanto aos limites externos, deixa claro que a liberdade de imprensa pode atuar até o momento em que não inflija ou atinja demais direitos também resguardados pela constituição[footnoteRef:85]. [85: CALDAS, Pedro Frederico. Vida Privada, liberdade de imprensa e dano moral. São Paulo: Saraiva, 1997. P.108] 
4. da exposição de imagens póstumas em mídias de imprensa
Diante do exposto, chega-se enfim ao mérito deste trabalho onde será analisado a exposição de imagens de pessoas mortas, seja no momento de sua morte ou posterior, em mídias de notícias como forma de vincular a informação e angariar seguidores.
Assim discute-se também a necessidade de tal exposição e suas consequências jurídicas e eventuais formas de proteção a imagem do de cujus.
4.1 Do Conflito Entre Garantias Fundamentais
Conforme visto nos capítulos anteriores, a personalidade da pessoa se inicia do nascimento com vida. Desde o nascituro os direitos da personalidade já se fazem presente. 
Consegue-se observar também que estes direitos da personalidade abrangem o cadáver, pois este, mesmo depois de sua partida, deixa uma gama de impressões de sua vida, que ficam a mercê dos familiares protegerem, dentre essas impressões, sua honra, intimidade, obras e vida privada.
Não obstante no terceiro capítulo foi abordado o quesito da imprensa e até onde existe limitação para sua liberdade em expor determinados tipos de notícias, não se esquecendo de também que de nada se misturam liberdade de imprensa e liberdade de expressão, pois uma é ramo da outra. Observando-se a colisão entre liberdade de imprensa e o direito a imagem, ambos resguardados constitucionalmente.
É sabido que os direitos individuais bem como as garantias, liberdades e poderes são passíveis de limitações não havendo um direito absoluto.[footnoteRef:86] [86: COELHO, Inocêncio Mártires; MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. op. cit. p. 211] 
Tanto o direito a liberdade de imprensa quanto o direito a imagem e dignidade da pessoa mortafazem parte de garantias, conforme visto anteriormente, resguardadas expressamente no âmbito da Carta Magna. 
Ao publicar uma imagem de uma pessoa em seu leito de morte, expondo a imagem, a dignidade e a honra do indivíduo ali morto, ocorre um aparente conflito entre direitos fundamentais, de um lado o direito de noticiar, publicar, expressar e do outro a intimidade, a memória e a vida de um indivíduo.
Conforme Gilmar Mendes: 
Fala-se em colisão entre direitos fundamentais quando se identifica conflito decorrente do exercício de direitos individuais por diferentes titulares [...]. Assinale-se que a ideia de conflito ou de colisão de direitos individuais comporta temperamentos. É que nem tudo que se pratica no suposto exercício de determinado direito encontra abrigo no seu âmbito de proteção. Assim, muitas questões tratadas como relações conflituosas de direitos individuais configuram conflitos aparentes, uma vez que as práticas controvertidas desbordam da proteção oferecida pelo direito fundamental em que se pretende buscar abrigo.[footnoteRef:87] [87: COELHO, Inocêncio Mártires; MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. op. cit. p. 343] 
Existem duas formas de colisão de direitos fundamentais, podendo ela ser em sentido amplo ou em sentido estrito. Quando tratar apenas de direitos fundamentais a colisão será em sentido estrito, no momento em que caso abranja outros princípios ou valores que visam à proteção de interesses da comunidade, será a colisão em sentido amplo. [footnoteRef:88] [88: idem, p. 343] 
No caso em questão trata-se de uma colisão de direitos fundamentais em sentido estrito sobre direitos fundamentais diversos, de acordo com Gilmar Mendes:
 
Nas colisões entre direitos fundamentais diversos assumem peculiar relevo a colisão entre a liberdade de opinião, de imprensa ou liberdade artística, de um lado, e o direito à honra, a privacidade e a intimidade, de outro.[footnoteRef:89] [89: ibidem, p. 344] 
Quando o aparente conflito ocorre é possível uma tentativa de se estabelecer uma hierarquia entre os direitos individuais conflitantes. No entanto, mesmo sabendo que a constituição não estabelece uma hierarquia entre os direitos fundamentais, pois isto acabaria por desnatura-los por completo, ela também não repugna estabelecer diferentes pesos entre os direitos conflitantes dentro de uma determinada ordem constitucional. Deste modo embora a constituição não privilegie algum direito específico quanto à fixação das cláusulas pétreas (artigo 60, §4, CF), fica claro que os valores referentes ao princípio da dignidade da pessoa humana possuem especial relevo, visto que estão presentes nos fundamentos da República Federativa do Brasil expressos no artigo 1º, inciso III.[footnoteRef:90] [90: idem, p. 48] 
De acordo com Mendes:
Fica evidente aqui que, também no Direito brasileiro, o principio da dignidade humana assume relevo impar na decisão do processo de ponderação entre as posições em conflito. É certo, outrossim, que o Supremo Tribunal Federal está a se utilizar, conscientemente, do principio da proporcionalidade como “lei de ponderação”, rejeitando a intervenção que impõe ao atingido um ônus intolerável e desproporcional.[footnoteRef:91] [91: COELHO, Inocêncio Mártires; MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. op. cit, p. 257] 
Mendes ainda complementa que:
O ser humano não pode ser exposto – máxime contra a sua vontade – como simples coisa motivadora da curiosidade de terceiros, como algo limitado à única função de satisfazer instintos primários de outrem, nem pode ser reificado como mero instrumento de divertimento, com vistas a preencher o tempo de ócio de certo público. Em casos assim, não haverá exercício legítimo de expressão, mas afronta à dignidade da pessoa humana[footnoteRef:92]. [92: Idem, p. 264] 
Assim, conclui-se que no aparente conflito acima exposto, a dignidade da pessoa humana deve ser valorada perante a desnecessidade de expor a fotografia de uma pessoa morta como forma de vincular uma notícia este também é o entendimento da 4º turma do Superior Tribunal de Justiça que decidiu que os direitos do morto devem ser resguardados e merecem ser protegidos, no que diz respeito à sua imagem e honra, conforme trecho do Recurso Especial abaixo:
CIVIL. DANOS MORAIS E MATERIAIS. DIREITO À IMAGEM E À HONRA DE PAI FALECIDO.
Os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, deixa de merecer proteção a imagem e a honra de quem falece, como se fossem coisas de ninguém, porque elas permanecem perenemente lembradas nas memórias, como bens imortais que se prolongam para muito além da vida, estando até acima desta, como sentenciou Ariosto. Daí porque não se pode subtrair dos filhos o direito de defender a imagem e a honra de seu falecido pai, pois eles, em linha de normalidade, são os que mais se desvanecem com a exaltação feita à sua memória, como são os que mais se abatem e se deprimem por qualquer agressão que lhe possa trazer mácula.
 “Os ataques e ofensas à memória do morto são ofensas aos seus parentes próximos, causando-lhes sofrimento e revolta. Dessa forma, os parentes próximos de pessoas famosas falecidas passam a ter um direito próprio, distinto dos direitos de que era titular o de cujus, que os ligitima para, por direito próprio, pleitearem indenização em juízo. Tal é a espécie dos autos, porquanto as autoras pleiteiam indenização, por direito próprio, por danos materiais e morais que alegam ter sofrido pela publicação não autorizada da biografia do seu falecido pai.
O novo Código Civil, atento aos princípios constitucionais e a toda legislação esparsa em nosso ordenamento jurídico relativos a esta matéria, disciplina os direitos da personalidade em seus arts. 11/21. Em seu art. 11 estabelece, após ressalvar casos previstos em lei, a intransmissibilidade e a irrenunciabilidade dos direitos da personalidade. Prevê, todavia, no parágrafo único do art. 12, que qualquer ameaça ou lesão a esse direito gera perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei e, em se tratando de morto, como no caso presente, os herdeiros indicados e o cônjuge são legitimados para buscar o ressarcimento ou a indenização decorrente de lesão. (...) De forma ainda mais explícita, em seu art. 20 e seu parágrafo único o novo Código Civil prevê a prévia autorização para a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa, pena de render ensejo a indenização, ocorrendo lesão a honra e a boa forma ou respeitabilidade, ou se destinarem a fins comerciais. Destaca, em seu parágrafo único, que em se tratando de morto, o caso presente, são partes legítimas para requerer a proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.  (...) No julgamento do Recurso Especial nº 268.660-RJ, interposto contra acórdão de minha relatoria prolatado na Apelação Cível nº 8.250/97, a Quarta Turma do STJ, relator o Min. Cesar Asfor Rocha, assim se pronunciou sobre questão idêntica: 'Vê-se, assim, ser certo que os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, deixa de merecer proteção a imagem de que falece, como se fosse coisa de ninguém, porque ela permanece perenemente lembrada nas memórias, como bem imortal que se prolonga para muito além da vida, estando até acima dela, como sentenciou Ariosto. Daí porque não se pode subtrair da mãe o direito de defender a imagem da sua falecida filha, pois são os pais aqueles que, em linha de normalidade, mais se desvanecem com a exaltação feita à memória e à imagem do falecido filho, como são os que mais se abatem e se deprimem por qualquer gesto que possa lhes trazer máculas. Daí porque têm eles legitimidade ativa para postular reparação por ofensas morais feitas à imagem de seus filhos, o que digo apenas de passagem já que o dano moral não foi aqui reconhecidoe nem está mais sendo questionado. Ora, se é assim com razão maior se dá quando se cuida de buscar indenização pela ocorrência de dano material, por veiculação indevida e desautorizada da imagem da filha falecida pois a mãe também postula por direito próprio na condição de sua sucessora[footnoteRef:93].  (Recurso Especial nº 521.697 – RJ.). [93: BRASIL, Recurso Especial nº 521.697/RJ disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7173288/recurso-especial-resp-521697-rj-2003-0053354-3/inteiro-teor-12903408?ref=juris-tabs#> acesso em: 05/06/2017 (grifo nosso)] 
Ademais, a doutrina se manifesta de mesma forma, indo contra o abuso da prerrogativa de garantia fundamental, conforme disserta o professor Silvio Rodrigues, 
O abuso de direito ocorre quando o agente, atuando dentre das prerrogativas que o ordenamento jurídico lhe concede, deixa de considerar a finalidade social do direito subjetivo e, ao utilizá-lo desconsideradamente, causa dano a outrem. Aquele que exorbita no exercício de seu direito, causando prejuízo a outrem, pratica ato ilícito, ficando obrigado a reparar. Ele não viola os limites objetivos da lei, mas, embora os obedeça. Desvia-se dos fins sociais a que esta se destina, do espírito que a norteia[footnoteRef:94]. [94: ALMEIDA, Antonia Lisania Marques De. Da lesão à imagem, intimidade e privacidade ao corpo do morto e direito da Dignidade do ser humano. Disponível em: <https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=4217#_ftnref3> Acesso em: 05/06/2017 apud RODRIGUES, Silvio –Curso de direito civil, Ed. saraiva.] 
Desta forma, os sites de imprensa, ao usar-se do exercício regular do direito de informar, para fazer publicar, ao expor fotografias em closes de pessoas mortas, pratica conduta reprimível, deixando os familiares em estado de perplexidade, evidenciando inquestionável desrespeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.
4.1 Da Exposição de Pessoas Famosas
É de notório conhecimento que devido sua vida pública as pessoas famosas são mais facilmente expostas em sites de notícias, ainda mais quando o assunto desta é a própria morte.
Longa é a lista de famosos que vieram a falecer e tiveram imagens de sua morte e de seus corpos divulgados em mídias que noticiaram o fato ocorrido. 
Um grande exemplo desta exposição foi à banda Mamonas Assassinas que faleceram vítimas de um acidente aéreo na data de 02 de março de 1996. Mesmo com o pouco acesso tecnológico da época as imagens de seus corpos despedaçados percorreram o mundo em sites de notícias.
Recentemente o caso da exposição das imagens do cantor Cristiano Araújo e de sua namorada Allana Moraes rodaram os sites e jornais. Ambos faleceram vítimas de um acidente de carro no dia 24 de junho de 2015, e tiveram suas imagens e vídeos divulgados em sites de notícia onde estes se encontravam nus em fase de preparação do corpo para o velório com caixão aberto. No caso de Allana Moraes que faleceu imediatamente após o acidente, foram divulgadas imagens no local do mesmo, onde esta se encontrava com o seu rosto dilacerado, membros fraturados e expostos[footnoteRef:95]. [95: Anexo 1 – BORGES, Fernanda. Juiz manda tirar do ar imagens do corpo do cantor Cristiano Araújo. Disponível em <http://g1.globo.com/goias/musica/noticia/2015/06/juiz-manda-google-e-facebook-tirar-imagens-de-cristiano-araujo-do-ar.html> Acesso em: 10 de outubro de 2017] 
Após tal exposição, a família do cantor (legitimados em requer que a ofensa pare conforme visto nos capítulos anteriores) procurou a justiça contra a empresa GOOGLE, responsável por divulgação de imagens e notícias, conseguindo, por decisão unanime a condenação da empresa em retirar fotos e vídeos do cantor sob pena diária de multa no valor de 10 mil reais pelo descumprimento da decisão[footnoteRef:96]. [96: ESTADÃO, Conteúdo. Google perde na Justiça e terá que excluir imagens de Cristiano Araújo morto. Disponível em: <http://odia.ig.com.br/brasil/2017-08-16/google-perde-na-justica-e-tera-que-excluir-imagens-de-cristiano-araujo-morto.html> Acesso em 10 de outubro de 2017.] 
A decisão ainda ressalta que a exclusão do acesso às fotos e vídeos não caracteriza violação ao princípio de liberdade de expressão porque, neste caso, prevalece "a necessidade de proteção à imagem e moral da pessoa envolvida na informação compartilhada".[footnoteRef:97] [97: Ibidem;] 
O processo de número 357751-62.2015.8.09.0051 corre sob segredo de justiça.
A exposição de imagens como as relatadas acima não ocorrem apenas com celebridades a nível nacional e internacional. Recentemente no âmbito do Município de Luís Eduardo Magalhães, Bahia, o vereador Mardônio da Rocha Carvalho faleceu devido a um acidente automobilístico nas proximidades do Município, tendo sua morte noticiada nas mídias locais[footnoteRef:98], expondo fotografias de seu corpo e dos demais ocupantes do veículo que vieram a falecer no acidente. As fotos que acompanhavam a noticia da morte mesmo que levemente “borradas”, possuíam caráter forte e desrespeitavam os familiares e amigos do vereador. [98: Anexo 2;] 
Assim como o cantor Cristiano Araújo ou o vereador Mardônio da Rocha, todos os dias imagens de pessoas são expostas por esses sites que deveriam apenas divulgar notícias.
Ressalta-se que fotos mostrando o local da morte, posição do corpo e afins é de uso da perícia técnica e não deveriam ser abertas para saciar a curiosidade da população.
Segundo o site do G1, diferentemente dos casos explanados acima, no tocante a tragédia que vitimou 70 pessoas que estavam a bordo da aeronave do clube de futebol Chapecoense, logo após começar a circular supostas imagens de pessoas mortas que seriam “vítimas do acidente”, houve uma enorme moção por parte da população pedindo que não houvesse o compartilhamento deste tipo de imagens, chegando a ser realizadas campanhas contra este tipo de divulgação[footnoteRef:99]. [99: G1. Usuários pedem que foto de mortos no acidente não seja compartilhada. Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/11/usuarios-pedem-que-foto-de-mortos-no-acidente-nao-seja-compartilhada.html> Acesso em 20/09/2017] 
Postagem de Utilidade Pública. Campanha contra o Vilipêndio de Cadáveres. Para os urubus e carniceiros de plantão, peço encarecidamente que evitem postar fotos das vítimas do acidente aéreo com jogadores da Chapecoense e demais passageiros. Sei que para alguns, a curiosidade fala mais alto, mas se coloque como familiar de uma das vítimas, e pense se gostaria que suas imagens fossem divulgadas nessas condições. Para mim, o interesse em ver é zero. Por favor, não compartilhe as imagens. Diga não à carniçaria humana[footnoteRef:100]. [100: G1. Usuários pedem que foto de mortos no acidente não seja compartilhada. op. cit. ibidem.] 
O trecho acima transcrito é apenas uma das diversas campanhas que percorreram a internet. O acidente foi assunto no mundo inteiro, causando grande comoção, chegando as hashtags #ForçaChape, #ForçaChapecoense e #Chapecoense no trending topping no Brasil e no mundo[footnoteRef:101]. [101: Ibidem.] 
5. Da proteção e tutela à imagem e honra do cadáver exposto
Conforme visto anteriormente, após a morte do indivíduo, de acordo com o artigo 12, parágrafo único do Código Civil cabe à família requerer que cesse a ameaça contra a imagem do de cujus. 
Os lesados indiretos são os parentes do morto que estão legitimados para requerer a tutela jurídica dos seus direitos da personalidade (art. 12, p. único e art. 20, p. único, CC). Pois, apesar de não haver direito da personalidade do morto, existe tutela jurídica dos direitos da personalidade da pessoa morta. É uma tutela reconhecida ao cônjuge/companheiro, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. Nesse caso, os parentes estarão em juízo pedindo em nome próprio, direito próprio, uma vez que foram lesados também (ainda que indiretamente). Trata-se, assim, de legitimidade ordinária, não restando caracterizada a substituição processual. Legitimidade dos parentes para propor ação por dano

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