Buscar

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO, AGENTES E PROCESSOS, ESCALAS E DESAFIOS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO OESTE PAULISTA – UNOESTE – ARQUITETURA E URBANISMO – URBANISMO IV
JAQUELYNE SOARES BALSANI
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO: AGENTES E PROCESSOS, ESCALAS E DESAFIOS
O processo de circulação contribui para a produção do espaço e reforça as diferenciações socioespaciais. A metrópole, diante dessa realidade, transforma-se no espaço onde melhor se percebem as mudanças do setor produtivo. Cria-se uma situação onde, de um lado loteamentos fortificados onde as classes mais abastadas vivem, procurando se isolar dos perigos (problemas sociais) urbanos, e de outro lado a população de baixos recursos financeiros. A metrópole é o espaço de concentração populacional, de riquezas de tecnologia, de inovação, de difusão da modernidade e de possibilidades, já que há a existência concentrada de atividades e serviços. De um mesmo modo, mas a outro lado, a metrópole também é marcada pelo aumento da pobreza, da violência, das formas precárias de habitação e pela ampliação do numero de trabalhadores informais que ocupam os espaços públicos para a reprodução da vida. Ambos os lados se articulam dialeticamente, não podendo ser entendidos unilateralmente. Milton descreve São Paulo como uma metrópole corporativa e fragmentada, que possui uma hierarquização reforçada no atual momento produtivo, marcado pela produção flexível em que os fluxos de informações, de mercadorias e financeiros não essenciais. As implicações de tal fato podem ser percebidas pela expansão do trabalho informal, do habitat precário e pelo aumento da diferenciação socioespacial (inerente ao processo de produção capitalista e pode se manifestar distintamente de acordo com a escala de análise: na rede urbana, pode aparecer como diferenciação funcional; na escala intraurbana, traduz-se pela divisão econômica e social do espaço). Para compreender a sociedade a partir de sua produção espacial, ou seja, as diferenciações socioespaciais, é necessário entender a desigualdade, funcionalidade e novos conteúdos de centralidade. O território brasileiro optou pelo sistema rodoviário para a articulação dos espaços produtivos, mesmo havendo as linhas férreas. O fatores que provocam a imobilidade e/ou imobilidade tanto espacial como social: insuficiência de recursos para manutenção das necessidades cotidianas advindas das baixas remunerações; aumento das despesas com aluguel, alimentação, vestuário, transporte, perda de emprego ou atividade que possibilitava a inserção no sistema produtivo e que permitia a reprodução da vida. Mudar essa situação pressupõe ter acesso a localizações que concentram as possibilidades de empregos e ou atividades informais que permitam minimamente a sobrevivência. A mobilidade física em geral está associada a uma imobilidade social. Há três décadas considerava-se a cidade dividida em dois espaços antagônicos, o centro e a periferia, a riqueza e a pobreza, respectivamente. O centro tem a centralidade, a capacidade de concentrar em determinado espaço vários elementos necessários à reprodução da vida. O centro das cidades era único, hoje temos vários tipos de centros, alguns com centralidades específicas e mono funcionais, muitas vezes destinados a grupos específicos da sociedade, outros mais tradicionais, com comércio diversificado e uma mescla maior de grupos sociais. O centro é mais do que funcionalidade econômica e política. Ele é um referencial social, é da vida cotidiana, e justamente por isso pode gerar o processo de valorização e desvalorização espacial pela acessibilidade que oferece. Ao passo do tempo vão atraindo populações de baixa renda que preferem estar perto das benfeitorias da cidade. A expansão das periferias em que a diferenciação socioespacial se manifesta a partir de espaços aparentemente contraditórios: condomínios fechados e bairros precários. Mas os mais abastados tem condições de viver com qualidade de vida e tem bons acessos ao centro, o contrário acontece com as periferias de sentido tal o nome popular comum. A geografia influenciada pela sociologia limita-se a indicar áreas distantes do centro, mas não necessariamente eram compostas por populações de baixa renda. A associação periferia-pobreza generaliza falar em periferização das áreas centrais. Ainda que existam precariedades, parte do que normalmente se denomina periferia teve grandes mudanças ao longo das duas últimas décadas: ruas são pavimentadas, há energia elétrica, água tratada, equipamentos públicos como escolas, delegacias, postos de saúde, bem como o desenvolvimento de várias atividades necessárias para a sobrevivência dos moradores locais, como salões de beleza, bares, lan houses, etc. A concentração da propriedade privada está nas mãos de poucos. As ocupações periféricas de baixa renda já são uma forma de segregação espacial, e ainda mais, são culpabilizados pelo que a eles são submetidos. A partir do momento em que determinado espaço passa a ser incorporado pelas estratégias do mercado imobiliário. O Estado está ausente ao definir salários insuficientes para a reprodução da vida, não prover o acesso universal aos meios e equipamentos de uso e consumo coletivo. Faz da cidade um negócio. A mobilidade social relaciona-se com a mudança da posição do indivíduo na sociedade.
No início do processo de urbanização, a divisão social do trabalho era relativamente simples, era cidade e campo. Cada cidade comandava seu espaço rural, de onde provinha o excedente que a sustentava. As diferenças entre as cidades eram grandes, até porque muitas delas não chegaram sequer a tomar conhecimento da existência das outras. Misturar cidades não dá a elas um sentido real, pois há autonomia. A reestruturação não é um processo mecânico ou automático, nem tampouco seus resultados e possibilidades potenciais são pré-determinados. Ela implica fluxo e transição, posturas ofensivas e defensivas, e uma mescla complexa e irresoluta entre a reforma parcial e a transformação revolucionária, entre a situação de perfeita normalidade e algo completamente diferente. A reestruturação das relações entre as cidades se estabelece em duas grandes perspectivas: A intensificação das relações no âmbito de diferentes redes urbanas; A possibilidade e a realização de interações espaciais entre cidades componentes de redes urbanas distintas. Esse segundo é o que se caracteriza o período atual. Essa redefinição ocorre porque as lógicas de localização da atividade produtiva e de circulação de bens e serviços precisa se intensificar para viabilizar a estabilidade ou a ampliação da realização da taxa de lucros. Isso se dá num período de desenvolvimento do modo capitalista de produção. O resultado é a conformação de sistemas urbanos com níveis de integração progressivamente maiores, uns mais e outros menos, definidos na longa duração já que o processo de urbanização teve início e ritmos diversos, quando se consideram diferentes formações socioespaciais. No mundo atual, há crescente ampliação das relações econômicas em escala internacional, mediadas por novos sistemas técnicos e, principalmente, por práticas políticas e interesses de grandes grupos econômicos, o que exige ampliar a escala de compreensão das ações e dos fluxos que as revelam e as sustentam. A existência de uma sociedade de classes diferencia os seus membros a partir do lugar que ocupam tanto na produção como na distribuição da riqueza gerada. A ampliação dos espaços está sob o domínio do modo capitalista de produção, e enseja e exige a comparação entre realidades socioespaciais que distinguem-se. Todo problema decorre de que se esses instrumentos de mensuração e suas variáveis se tornam, para alguns, entrais para ler o mundo e, por meio dessa leitura, tentar desvendá-lo. Pode-se observar a diferenciação funcional dos centros urbanos como as diferenças entre os tamanhos de cidades porque a dimensão quantitativa expressa pelo tamanho das cidades, reflete-se numa qualidade diversa dos papéis urbanos. Os tecidos urbanos se estabelecem, crescentemente, em descontinuidade, ainda que se possa reconhecer que novos meios de transportee comunicação propiciam continuidades espaciais, mesmo que as descontinuidades territoriais estejam definidas nas formas. Não é possível se ver a cidade atual como unidade, porque não há o dentro e o fora, já que não é possível delimitá-la, já que mesmo que a delimitemos, as interações espaciais colocam em relação à ordem próxima e à ordem distante, num período em que as tecnologias da informação se combinam às formas de deslocamento material de pessoas e mercadorias, ainda que as condições não sejam oferecidas com equidade (as desigualdades socioespaciais aparecem no primeiro plano), nem sejam, necessariamente, apropriadas com o mesmo sentido ou com as mesmas finalidades (as diferenças socioespaciais são as principais nesse segundo plano). Se não há o dentro e o fora, se não é possível fazer delimitações precisas do objeto, ao menos no plano da análise, há que se retomar a crítica ao par centro-periferia, já que ele não é mais suficiente para explicar a cidade e a rede urbana no período atual. A descontinuidade das relações espaciais, em função das novas tecnologias de comunicação, coloca em questão a supremacia da contiguidade territorial e, portanto, do paradigma da área para a compreensão da posição que uma dada localização ocupa nos contextos de relações em que elas podem se inserir ou não. A distancia entre os desiguais, na cidade, não se opera mais, predominantemente, a partir da lógica de periferização dos mais pobres e de destinação, aos mais ricos, das áreas centrais e pericentrais, as melhores dotadas de meios de consumo coletivo. Os sistemas de segurança urbana oferecem recém ações para que a separação possa se aprofundar, ainda que se justaponham, no centro e na periferia segmentos sociais com níveis desiguais de poder aquisitivo e com diferentes interesses de consumo. A fragmentação urbana deriva da criação de fronteiras e rupturas internas às aglomerações, isolamento dos grupos. Intensificado por loteamentos fechados, disparidade no acesso aos serviços básicos e a falta do sentimento de pertencimento.

Continue navegando