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__________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 1 Gustavo Buzatto - Introdução ao Direito II - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Se há uma disciplina jurídica que dependa, fundamentalmente, da perspectiva de quem a cultiva, é a Introdução ao Estudo do Direito. É que o mundo do Direito tem tamanha amplitude e tão largos horizontes que infinitas são as suas vias de acesso. Num mundo cada vez mais ameaçado por reducionismos perversos, ou pela perda do sentido de totalidade orgânica e diferençada, que gera o angustiado “homem unidimensional”, analisados por MacLuhan, ninguém mais do que o jurista deve procurar preservar os horizontes múltiplos e abertos essenciais ao Estado de Direito 1 . A Introdução ao Estudo do Direito é matéria de iniciação, que fornece as noções fundamentais para a compreensão do fenômeno jurídico. Apesar de se referir a conceitos científicos, a Introdução não é, em si, uma ciência, visto que ela não cria o saber, mas apenas recolhe das disciplinas jurídicas (Filosofia do Direito, Ciência do Direito, Sociologia Jurídica, História do Direito, Direito Comparado) as informações necessárias para compor o conhecimento. Todavia, considerando a sua condição de matéria do curso jurídico, deve ser entendida como disciplina autônoma, pois desempenha função exclusiva, que não se confunde com a de qualquer outra. 1. FONTES DO DIREITO: O termo “fonte” significa “nascente de água”. Assim, “remontar à fonte de um rio é buscar o lugar de onde as suas águas saem da terra” (Du Pasquier). Nesse sentido, a expressão “fonte do Direito” é empregada metaforicamente, e se refere ao “lugar” de onde provém o Direito, a origem primária do Direito. Falar sobre a fonte de uma regra jurídica é buscar o ponto pelo qual sai das profundidades da vida social para aparecer na superfície do Direito. Fontes do Direito são os diversos modos de formação do Direito, significando toda espécie de documento ou monumento que serve para revelar o Direito. As diversas Fontes do Direito são enumeradas pelos mais variados ramos jurídicos: LINDB Art. 4º Art. 4o. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. CPC/73 Arts. 126, 127 e 335 Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito Art. 127. O juiz só decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei. Art. 335. Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras da experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial. 1 Miguel Reale. __________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 2 Gustavo Buzatto - Introdução ao Direito II - NCPC Arts. 8º, 140 e 375 Art. 8o. Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. Art. 375. O juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece e, ainda, as regras de experiência técnica, ressalvado, quanto a estas, o exame pericial. CLT Art. 8º Art. 8º. As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. Parágrafo único - O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste. CTN Art. 100 Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; III - as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas; IV - os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Espécies de Fontes: 1 – Fontes Históricas: O Direito é um produto que se transforma no tempo e no espaço. Por isso, os contextos históricos dos quais as mais variadas regras surgem apresentam-se como fontes jurídicas. As fontes históricas do Direito indicam a gênese das modernas instituições jurídicas: a época, o local e as razões que determinaram a sua formação. A análise pode se limitar aos antecedentes históricos mais recentes ou se aprofundar no passado, na busca das concepções originais. A utilidade dessa espécie de fonte é evidenciada, por exemplo, em relação à interpretação do Direito, para a qual é fundamental captar a finalidade de um instituto jurídico, sua essência, seus valores, no contexto em que foi criado. Nessa perspectiva, o estudo, sobretudo, da História do Direito e do Direito Romano é essencial para se compreender muitos dos institutos vigentes no Direito brasileiro. 2 – Fontes Materiais: O Direito não é um produto arbitrário da vontade do legislador, mas uma criação que se lastreia no querer social. É a sociedade, como centro de relações da vida, que fornece ao __________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 3 Gustavo Buzatto - Introdução ao Direito II - legislador os elementos necessários à formação dos estatutos jurídicos. Como causa produtora do Direito, as fontes materiais ou reais são constituídas pelos fatos sociais, pelos problemas que emergem na sociedade e que são condicionados pelos chamados fatores do Direito, como a moral, a economia, a geografia, a religião, a política, entre outros. Portanto, fontes materiais ou reais se referem aos fatores reais que condicionam a origem da norma jurídica. Por serem fontes de produção do Direito Positivo, consistem no conjunto de fatos sociais determinantes do conteúdo do Direito e nos valores, que o Direito objetiva realizar, fundamentalmente sintetizados no conceito amplo de justiça. Neste sentido próprio de Fontes, as únicas Fontes do Direito seriam as materiais, pois fonte, como metáfora, significa a origem do Direito, ou seja, de onde ele provém. As fontes materiais podem ser divididas em 2 : - Fontes materiais DIRETAS: são representadas pelos órgãos elaboradores do Direito Positivo, como a sociedade, que cria o Direito Consuetudinário; o Poder Legislativo, que elabora as leis; e o Poder Judiciário, que produz a jurisprudência. - Fontes materiais INDIRETAS: são identificadas com os fatores jurídicos que levam à elaboração da norma. 3 – FontesFormais: Fontes Formais são os meios de expressão do Direito, as formas pelas quais as normas jurídicas se exteriorizam, tornam-se públicas e conhecidas. Para que um processo jurídico constitua Fonte Formal é necessário que tenha o poder de criar o Direito. Nesse sentido, criar o Direito significa introduzir no ordenamento jurídico novas normas jurídicas. A doutrina moderna tem admitido que os atos jurídicos que não se limitam à aplicação das normas jurídica e criam efetivamente regras de direito objetivo constituem fontes formais. Para os países de tradição Romano-Germânica (civil law), como o Brasil, a principal forma de expressão é o Direito escrito, que se manifesta por leis e códigos. As diferentes categorias de Fontes Formais revelam uma origem própria. Segundo Miguel Reale, toda Fonte pressupõe uma estrutura de poder. Assim, a lei é emanação do Poder Legislativo; o costume é a expressão do poder social; a sentença, ato do Poder Judiciário; os atos-regras, são manifestações do poder negocial ou da autonomia da vontade. De modo mais amplo, as Fontes Formais podem ser: 1) Legislativas: leis em sentido lato sensu. 2) Consuetudinárias: costumes. 3) Jurisprudenciais: jurisprudência interna e externa. 4) Convencionais: tratados internacionais, contrato coletivo de trabalho. 5) Doutrinárias: opiniões dos juristas pátrios e estrangeiros. Obs.: No sistema do common law, a forma mais comum de expressão do Direito é a dos precedentes judiciais. Sistema de origem anglo-saxônica. 2 Hübner Gallo. __________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 4 Gustavo Buzatto - Introdução ao Direito II - Atenção: Fontes Primárias e Secundárias: Fontes Primárias: são as Fontes Materiais ou reais; Fontes Secundárias: são as Fontes Formais. 3.1 - FONTES FORMAIS ESTATAIS: São as Fontes Formais decorrentes da atividade legislativa estatal. Ex.: Leis em sentido lato sensu (leis, decretos, regulamentos, medidas provisórias). 3.2 - FONTES FORMAIS NÃO ESTATAIS ou INFRAESTATAIS: São as Fontes que não dependem da atividade legislativa do Estado. Ex.: Costumes, contratos coletivos de trabalho, doutrina, jurisprudência. 3.3 – FONTES FORMAIS SUPRAESTATAIS: São as fontes decorrentes de relações e acordos internacionais. Ex.: Tratados e convenções internacionais, costumes internacionais, princípios gerais dos direitos dos povos civilizados. 4 – Fontes Formal-Materiais: Toda Fonte Formal contém, implicitamente, a Material, isto é, a sua fonte de produção, dando-lhe a forma, demonstrando quais são os meios empregados para conhecer o direito. Daí ser fonte de cognição, abrangendo Materiais e Formais, Estatais, Não Estatais e Supraestatais. 5 – Fontes Negociais: Fontes Negociais são as decorrentes do acordo entre partes com base na autonomia da vontade. Ex.: Acordos e convenções coletivas de trabalho, contratos. Atenção: Com o NCPC, a autonomia da vontade e, por consequência, as Fontes Negociais ganharam extrema importância: Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada. §3º. Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de proporcionar ambiente favorável à autocomposição. §4º. A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos interessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais Um dos pilares do NCPC diz respeito ao Princípio do Respeito ao Autorregramento da Vontade no processo. O processo, para ser considerado devido (Devido Processo Legal), não pode ser ambiente hostil para a autonomia da vontade. Pelo contrário, o processo deve primar pela liberdade, pelo poder de as partes regularem a própria vida. O Processo deve ser lugar propício para o exercício da autonomia privada, não podendo conter restrições irrazoáveis à liberdade. Está superada a ideia de que o processo, por ser ramo do Direito Público, não prestigia a autonomia privada. Ex.: Estímulo à autocomposição, mediação, arbitragem, etc.
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