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7- Legitimidade Direito e Consenso Social

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Legitimidade, Direito 
 e 
 Consenso Social 
Para o pai do positivismo jurídico, 
Hans Kelsen, baseando-se num 
procedimento tecnicista, o princípio 
da legitimidade é aquele que a 
norma de uma ordem jurídica é 
válida até que a validade termine por 
um modo determinado pela própria 
ordem jurídica, isto é, até ser 
substituída pela validade de uma 
outra norma da mesma ordem 
jurídica. 
 
Com base no entendimento de 
Kelsen, tem sido predominante a 
ideia de que legitimidade é aquilo 
que é legal. Noutras palavras, que 
está de acordo com a lei. 
 
Hoje, porém, este entendimento 
passa por uma desconstrução 
conceitual. Cresce o consenso de 
que a legitimidade não se limita à 
legalidade. 
Ela também se relaciona à noção de 
validade e de adequação ao 
exercício do poder político. 
 
Isto significa que um ato, mesmo 
sendo legal (inserido na própria 
constituição), pode não ser legítimo, 
se não encarnar o princípio da 
validade e o da adequação ao 
exercício do poder político. 
Isso se dá a partir do momento que 
esse ato não tem consenso social. 
A norma constitucional precisa ter 
a vontade consensual da população 
ou então se torna ilegítima. 
Como exemplo, temos o exercício 
do governo legal nos países 
comunistas (China, Cuba, ex-URSS, 
Alemanha Nazista, Itália Fascista, 
Brasil na Ditatura Militar etc. 
 
Sabe-se que esses governos eram 
ilegítimos, embora se 
apresentassem juridicamente (legal) 
constituído. 
O conceito de legitimidade foi 
discutido por diversos autores, um 
deles foi Habermas. 
 
Segundo ele, a base de construção 
da legitimidade, fundamento último 
da legalidade, é a tradicionalização, 
que dá caráter legítimo a uma 
decisão legal. 
Habermas tenta elaborar um 
conceito diferente sobre a questão 
da legitimidade. 
 
Procura se livrar dos vícios e 
preconceitos positivistas que 
acabam limitando o alcance das 
interpretações sobre “legitimidade”. 
“Esta exige que distingamos entre 
normas, princípios e procedimentos 
justificatórios, procedimentos 
conforme o qual possa examinar se 
as normas, à luz dos princípios 
válidos, podem contar com o 
assentimento de todos” (Habermas). 
Outro sociólogo político, o jurista 
italiano Norberto Bobbio também 
procura distinguir o conceito de 
legalidade do de legitimidade. 
Segundo ele, “...costuma-se falar em 
legalidade quando se trata do 
exercício do poder e em 
legitimidade quando se trata de sua 
qualidade legal”. 
Ainda, para Bobbio, “(...) o poder 
legal é um poder que está sendo 
exercido de conformidade com as 
leis. O contrário de um poder 
legítimo é um poder de fato; o 
contrário de um poder legal é um 
poder arbitrário”. 
Bobbio também relata que o “Estado 
será mais ou menos legítimo na 
medida que tornar expressão 
concreta de um consenso livremente 
manifestado por uma comunidade de 
homens autônomos e conscientes” 
Monopólio da violência legal 
 
A violência sempre esteve ligada à 
experiência humana. 
 
Administrá-la tem sido um grande 
desafio desde a pré-história. 
 Hoje, afora os crimes passionais, a 
violência está diretamente, 
relacionada às desigualdades 
sociais, que acabaram criando uma 
sociedade de apartheid. 
Na Bahia, preocupados com o 
crescimento espantoso da 
criminalidade urbana, o Ministério 
Público, Secretaria de Segurança 
Pública (Polícias Civil e Militar), e 
Universidade do Estado da Bahia 
(Uneb) promovem um Programa de 
Capacitação e Educação em Direitos 
Humanos (Procedh). 
O Procedh é um programa-piloto de 
capacitação para agentes do setor 
público responsáveis pelo controle 
da ordem pública, distribuição e 
administração da Justiça. 
O objetivo é o de contribuir para a 
melhoria da eficácia das instituições 
públicas, a redução da violência, por 
meio de geração de políticas públicas 
e de uma cultura social dos direitos 
humanos. 
O luxo extraordinário e a pobreza 
cruel disputam os espaços públicos. 
Dessa disputa, tem-se um confronto 
simbólico das classes sociais, que 
aguça as contradições. 
Essa observação é de Gey 
Espinheira, doutor em Sociologia 
pela Universidade de São Paulo 
(USP) e professor da Universidade 
Federal da Bahia, participante do 
referido Programa. 
Em meio a este quadro de 
aguçamento das contradições de 
classe, cabe ao Estado, ente 
regulador e normativo, responsável 
por promover a coesão social, 
proteger cidadãos e patrimônio 
público, a busca da pacificação dos 
conflitos. 
Porém, segundo o sociólogo Mateus 
Soares, o Estado brasileiro não age, 
de forma eficaz, efetivação de suas 
responsabilidades constitucionais. 
Não normatiza as coisas públicas 
adequadamente; tem baixa 
efetividade social e, quase sempre, 
descumpre a lei. 
“É um Estado em desmanche e 
desmantelo devido a uma força 
econômica maior, que vitimiza os 
pobres, os que não têm consciência 
dos seus direitos”, afirma Mateus 
Soares. 
Por outro lado, com o poder 
legitimado, cabe ao Estado o 
monopólio da violência. 
Conforme observa Soares, como o 
Estado não consegue promover 
principalmente educação adequada, 
entre outras necessárias ações, ele 
se torna vulnerável e fortemente 
permeado pelo crime e pela 
violência. 
Como estratégia de manutenção, o 
Estado utiliza-se do monopólio da 
violência como instrumento de 
pacificação de conflitos. Porém, o 
emprego da violência, muitas vezes, 
ocorre num clima de discriminação 
racial, de gêneros e 
socioeconômica. 
Com isto, o Estado tem sido 
colocado sob suspeição quanto à 
legitimidade, ora pela omissão, ora 
por ações discricionárias. 
Hoje há muita preocupação dos 
gestores do Estado de evitar que a 
crise de legitimidade se instale e 
reine. 
Os confrontos, principalmente com 
o crime organizado, e o grau de 
respostas às demandas sociais têm 
sido instrumentos aferidores do 
nível de legitimidade do Estado. 
Referências 
 
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de 
Sociologia Jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 2006. 
 
GOHN, Maria da Glória. Conselhos Gestores e 
Participação Sociopolítica. São Paulo: Cortez, 
2001. 
 
PÍPOLO, Maria Alcina. Com o poder legitimado, o 
Estado detém o monopólio da violência. 
http://mp-ba.jusbrasil.com.br/noticias/775939/com-o-
poder-legitimado-o-estado-detem-o-monopolio-da-
violencia.

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