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Aula 3 A Análise Antropológica da Cultura

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Aula 3: A Análise Antropológica da Cultura
Objetivo desta aula:
1) Explicar o conceito de cultura como objeto de estudo privilegiado da análise antropológica;
2) Analisar a cultura como elemento condicionador da visão de mundo;
3) Descrever as práticas antropológicas utilizadas para categorizar comportamentos culturais;
4) Demonstrar a importância do principio de relativismo cultural, em contraposição ao etnocentrismo.
VÍDEO: FONTE: OQUE É CULTURA? ANTÔNIA ABUMJARÁ (AUTOR: AIMÉ CESÁIRE)
DICA: Moura, S. (org). Livro Didático de Fundamentos das Ciências Sociais. Estácio de Sá. Rio de Janeiro, 2014. Cap. 2 – Usos e abusos da cultura p. 31 a 48.
INTRODUÇÃO:
Fulano não tem cultura! Sicrano é muito culto! O governo não investe em cultura!
Acima temos exemplos da maneira que utilizamos a palavra cultura no nosso dia a dia, enquanto instrução, saber, estudo. Mas, esta é apenas uma maneira de utilizar a palavra cultura. 
Portanto o objeto de investigação da Antropologia constitui-se nos “usos e abusos” do conceito de cultura e suas implicações na vida social. Compreender esses “usos e abusos” é o objetivo desta aula.
Antes de começarmos, responda: O que é “cultura” para você?
O conceito de cultura é uma preocupação intensa atualmente em diversas áreas do pensamento, no entanto a Antropologia é a área por excelência de debate sobre esta questão.
O primeiro Antropólogo a sistematizar o conceito de cultura foi Edward Tylor que, em Primitive culture, formulou a seguinte definição: “Cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade.”
Uma definição mais contemporânea do termo cultura foi dada por Glifford Geertz em 1989 em a “Interpretação da Culturas”. Segundo ele cultura pode ser entendida como sistema simbólico, ou seja, seria: Um conjunto de mecanismos de controle – planos, receitas, regras, instruções – para governar o comportamento.
Diversidade cultural 
Lembra que na Aula 1 tratamos brevemente sobre diversidade cultural?
Vamos agora explorar um pouco mais esse conceito.
Primeiramente vamos relembra seu significado: Desde sempre os homens se preocupam em entender por que os homens possuíam outros hábitos alimentares, forma de se vestir, de formarem famílias, de acessarem o sagrado de maneiras diferentes das suas. A essa multiplicidade de formas de vida dá-se o nome de diversidade cultural.
VÍDEO RELACIONADO AO ASSUNTO ANTERIOR: ENCONTRO DA DIVERSIDADE CULTURAL – INDEPENDÊNCIA DA CULTURA
Foi a partir da descoberta do “Novo Mundo”, nos séculos XV e XVI, que os europeus se depararam com modos de vida completamente distintos dos seus, e passaram a elaborar mais intensamente interpretações sobre esses povos e seus costumes.  
É fundamental termos em mente que o impacto e a estranheza se deram dos dois lados. Os grupos não europeus também se espantavam com o ser diferente que chegava até eles desembarcando em suas praias e tomando posse de seu território.
Infelizmente não temos muitos relatos dos povos não europeus para conhecermos a visão que eles tinham dos brancos. Existem relatos esparsos, como o de povos que, após a morte de um europeu em combate, colocavam seu corpo dentro de um rio e esperavam sua decomposição para ver se eram pessoas como eles.
O olhar eurocêntrico sobre a cultura
Mas de onde surge a preocupação com o tema da cultura? Vamos posicionar nosso olhar. Toda construção científica nasce na Europa. A reflexão teórico-científica sobre a humanidade se iniciou neste ambiente e nesta perspectiva. Logo, a noção de ser humano de referência para todas as Ciências Humanas e Sociais é a do homem europeu e da sociedade europeia. 
No entanto, a partir dos esforços de conquista de outros continentes, os europeus “encontraram-se” com “seres” diferentes o suficiente para causarem estranhamento, mas “parecidos” o suficiente para produzirem o seguinte incômodo: serão estes seres “humanos”? 
A relação com agrupamentos humanos de localidades até então desconhecidas como as que hoje denominamos África, América, Austrália, fizeram com que os europeus se questionassem sobre as características peculiares ao humano e as razões de tanta diferença entre os componentes de uma mesma espécie.
O movimento pré-científico, que domina o campo da diversidade cultural até o século XVIII, é aquele que oscilava entre conceber o “diferente” ora como humano, ora como não humano, provido ou desprovido de alma, bom ou mau selvagem, etc. 
Na ótica dos europeus, estes “maus selvagens” eram vistos como perigosos, mais próximos aos animais, brutos, imbuídos de uma sexualidade descontrolada, primitivos, com uma inteligência restrita, iludidos pela magia, enfim, seres limitados que precisavam ser “civilizados” pela cultura europeia.
VÍDEO: TRAILER DO FILME: “HANS STADEN” SOBRE UM IMIGRANTE QUE NAUFRAGOU NO LITORAL DE SANTA CATARINA, SENDO ENCONTRADO POR ÍNDIOS TUPINAMBÁS, QUE O PRENDERAM COM O INTUITO DE MATÁ-LO E DEVORÁ-LO. ELE ENTÃO PRECISAVA ARRANJAR MEIOS PAR ACONVENCER OS ÍNDIOS A NAÕ DEVORÁ-LO E PERMANECER VIVO.
Você sabe o que significa o termo “alteridade”?
Alteridade é um processo de diferenciação que acontece entre o “eu”, interior e particular de cada um, e o “outro”, diferente. Isto é quando nos confrontamos com o estranho, o não particular. ESTRANHAR o “outro” é reconhecer em outro indivíduo, ou em um conjunto deles, as sua peculiaridades, diferenças e equivalências.
Desta maneira o “outro” ou “outros” se tornam identificáveis, possibilitando hierarquizar, separar, classificar, normalizar, dominá-los. Tal como na situação que acabamos de ler nas telas anteriores, na qual na perspectiva dos europeus (“eu”), os povos da África, das Américas e da Oceania (outros) eram vistos ora como: não humanos providos ou desprovidos de alma, bom ou mau, selvagem, que precisavam ser civilizados.
Realmente a alteridade não é possível sem o etnocentrismo. Segundo Lewis (1973 p. 13): “O etnocentrismo é a condição natural da humanidade”. Porém, a alteridade é também a condição fundamental para compreender o “outro”, os outros grupos e a si mesmo. Por isso a Antropologia configura-se como a ciência da alteridade, pois busca a compreensão do “outro” no seu contexto cultural para então elaborar teorias que possam ser úteis na compreensão não apenas daquele contexto, mas também de outros contextos culturais, inclusive o do próprio pesquisador.
A PRÁTICA ETNOGRÁFICA
ANTROPOLOGIA DE GABINETE
Entramos no século XIX. Os Antropólogos estudam culturas “exóticas” buscando descrever seus hábitos, costumes e a forma de ver o mundo (cosmovisão). No entanto, eles não iam ao campo; não eram os Antropólogos que experimentavam o dia a dia dos grupos” selvagens”. 
Eram enviados viajantes pessoas comuns que eram deslocados para essas tribos e ali ficavam por um certo tempo, registrando tudo que viam e ouviam, afim de entregar esse material aos Antropólogos que aí sim analisavam esses relatos, desenvolvendo suas teorias sobre as diferentes culturas. Esta é a denominada a “Antropologia de Gabinete”.
A Antropologia configurou-se desde então como a ciência da alteridade. Alteridade quer dizer a busca da compreensão do Outro em seu contexto cultural, para então elabora teorias que possam ser úteis na compreensão de outros contextos culturais, inclusive do próprio pesquisador.
Na segunda metade do século XIX a “Antropologia de Gabinete” é questionada. Afinal, como falar de uma cultura que nunca se viu?
Como se descrever eventos que nunca se vivenciou?
Assim, Malinowski estrutura a prática etnográfica que é o procedimento metodológico característico da Antropologia até os dias de hoje. O próprio Antropólogo vai ao campo, entra no grupo, vivencia esta cultura diferente, deixa-se fazer parte desde dia a dia, registra esta vivencia, retorna para sua própria cultura e finaliza seu trabalho de escrita que é o registro final desta experiência.
No entanto, não é nada fácil vivenciar outra culturadiferente da nossa. Por quê? Não sentimos nossa cultura como uma construção específica de hábitos e costumes: pensamos que nossos hábitos e nossa forma de ver o mundo devem ser o mesmo para todos! Achamos normais os nossos costumes e achamos o do outro “diferente”. Diferente de quê? Qual é o padrão” normal” segundo o qual analisamos o “diferente”?
Geralmente estabelecemos a nossa cultura como o padrão, a norma. Assim tudo que é diferente é concebido como estranho, e mesmo errado. Tal postura é o que denominamos de etnocentrismo.
Etnocentrismo
Segundo Everardo Rocha, em O que é Etnocentrismo, trata-se da “visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.”.
O autor nos alerta ainda para a questão do choque cultural. Como ele afirma, “de um lado conhecemos o "nosso" grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um "outro", o grupo do "diferente" que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro" também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe.”.  
Na sua opinião, o etnocentrismo é positivo ou negativo? E que benefícios a Antropologia pode trazer para esta visão?
R. Roberto da Matta, no texto “Você tem cultura?” demonstra que “antes de cogitar se “aceitamos” ou não esta outra forma de ver o mundo, a Antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que ao seu jeito uma outra vida é vivida, segundo outros modelos de pensamento e de costumes. O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. 
O conceito de cultura, ou, a cultura como conceito, então, permite uma perspectiva mais consciente de nós mesmos. Precisamente diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente existiriam sociedades superiores e inferiores”.
FOTO: DARCY RIBEIRO E UM AMIGO INDÍGENA/referente ao assunto abaixo.
Relativismo cultural
Éa postura, privilegiada pela Antropologia contemporânea, de buscar compreender a lógica da vida do outro. Parte do pressuposto de que cada cultura se expressa de forma diferente. Dessa forma, de pregar que a atividade humana individual de ser interpretada em contexto, nos termos da cultura em que está inserida.
Para finalizar, as palavras de uma das mais notáveis antropólogas conhecidas a americana Margaret Mead , que prefácio de Sexo e temperamento afirmou: “toda diferença é preciosa e precisa ser tratada com muito carinho.”
 DE ACORDO COM A CHARGE:
HAMELET EXISTEM APENAS DOIS TIPOS DE PESSOAS NESTE MUMDO. (HAGAR)
NAVEGANTES E NÃO NAVEGANTES.
DE ACORDO COM QUEM PAI. (HAMELET)
COM OS NAVEGANTES.
A partir do conhecimento adquirido nesta aula, responda se, de acordo com a história em quadrinhos protagonizada por Hagar e seu filho Hamlet, a postura de Hagar  é etnocêntrica ou relativista? Justifique.
R. É uma postura etnocêntrica, pois o personagem classifica o mundo e as pessoas apenas a partir dos valores de seu grupo.
DICA: Assista ao vídeo da música “O Estrangeiro”, de Caetano Veloso, e acompanhe a letra. Compare as visões etnocêntricas e relativistas observadas na canção.
O Estrangeiro (Caetano Veloso)
O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara
O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela
A Baía de Guanabara
O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara:
Pareceu-lhe uma boca banguela
E eu menos a conhecera mais a amara?
Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela
O que é uma coisa bela?
O amor é cego
Ray Charles é cego
Stevie Wonder é cego
E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem
Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?
Uma arara?
Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara
Em que se passara passa passará o raro pesadelo
Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro
Eu não sonhei que a praia de Botafogo era uma esteira rolante de areia branca e de óleo diesel
Sob meus tênis 
E o Pão de Açucar menos óbvio possível
À minha frente
Um Pão de AçÚcar com umas arestas insuspeitadas
À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura
Do branco das areias e das espumas
Que era tudo quanto havia então de aurora
Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas
E uma menina ainda adolescente e muito linda
Não olho pra trás mas sei de tudo
Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo
Mas eu não desejo ver o terno negro do velho
Nem os dentes quase não púrpura da menina (pense Seurat e pense impressionista
Essa coisa de luz nos brancos dentes e onda
Mas não pense surrealista que é outra onda)
E ouço as vozes
Os dois me dizem
Num duplo som
Como que sampleados num sinclavier:
"É chegada a hora da reeducação de alguém
Do Pai do Filho do Espírito Santo amém
O certo é louco tomar eletrochoque
O certo é saber que o certo é certo
O macho adulto branco sempre no comando
E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo
Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita
Riscar os índios, nada esperar dos pretos
"E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento
Sigo mais sozinho caminhando contra o vento
E entendo o centro do que estão dizendo
Aquele cara e aquela: É um desmascaro
Singelo grito: "O rei está nu"
Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nú
E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo
E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.
("Some may like a soft brazilian singerbut i've given up all attempts at perfection").
Videoclipe da música “O Estrangeiro” gravado na praia de botafogo. Com Regina Casé, Paula Lavigne e outros.
Saiba Mais
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito Antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora,1997.
LAPLANTINE, François Aprender Antropologia. Brasiliense, São Paulo, 1996.
DA MATA, Roberto. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia social. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. P.17-27.
SÍNTESE DA AULA
Nesta aula, você:
Aprendeu a visão antropológica da cultura e o fenômeno da diversidade cultural;
Identificou a Etnografia como metodologia da Antropologia;
Atentou que o etnocentrismo nos dificulta a compreensão de sistemas culturais diferentes dos nossos;
Deu-se conta da importância da postura relativista para o entendimento das diferentes expressões culturais.

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