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5-1 5. CINEMÁTICA DOS CORPOS RÍGIDOS Os movimentos de corpos rígidos podem ser divididos em três movimentos planos e dois tridimensionais: i. Translação – quando qualquer reta unindo dois pontos conserva a mesma direção durante o movimento; ii. Rotação em torno de um eixo fixo – as partículas que formam o corpo rígido se movimentam em planos paralelos ao longo de uma circunferência; iii. Movimento plano geral – qualquer movimento plano que não seja os dois anteriores é considerado movimento plano geral ou simplesmente movimento plano; iv. Movimento em torno de um ponto fixo – é um movimento tridimensional em relação a um ponto fixo. Ex.: movimento de um pião sobre o solo; v. Movimento geral – movimento tridimensional qualquer diferente dos anteriores. 5.1. Translação O movimento de translação de um corpo rígido pode seguir uma trajetória retilínea ou curvilínea. Seja um corpo rígido em movimento de translação retilínea ou curvilínea e A e B dois pontos pertencentes ao corpo rígido. Sejam Arr e Brr , respectivamente, os vetores posição de A e B em relação a um sistema de referência fixo. Chamando A/Br r ou ABr r o vetor que une A a B, pode-se escrever que: ABAB rrr rrr += . Por definição de um movimento de translação de um corpo rígido, o vetor ABr r deve ser constante já que A e B pertencem ao mesmo corpo. Assim, sua derivada em relação ao tempo é nula e, portanto: AB vv rr = e AB aa rr = . Isso significa que quando um corpo rígido está em movimento de translação todos os seus pontos possuem a mesma velocidade e aceleração instantâneas. B2 A2 B1 A1 B A Br r A/Br r 5-2 5.2. Rotação em torno de um eixo fixo Sejam um corpo rígido em movimento de rotação em torno de um eixo fixo AA’, P um ponto fixo do corpo e rr o vetor posição deste ponto em relação a um sistema de referência fixo. Para facilitar a compreensão, considere que a origem dos eixos de referência está sobre o eixo AA’ e que o eixo z coincide com AA’. Considere ainda que B é a projeção de P sobre AA’. Como P deve permanecer a uma distância constante de B, ele descreverá uma circunferência de centro B e raio ( )φsenr ⋅ , sendo φ o ângulo formado por rr e AA’ e r o módulo de rr . A posição de P e, por conseguinte, de todo o corpo rígido fica completamente definida pelo ângulo θ que o segmento de reta BP faz com o eixo x. O ângulo θ é conhecido como coordenada angular do corpo. Ela é positiva quando, vista de A’, é medida no sentido anti-horário. O comprimento de ∆s de um arco circunferência da trajetória do ponto P é dado por: ( ) θφθ ∆⋅⋅=∆⋅=∆ senrBPs . Dividindo ambos os membros por ∆t e fazendo ∆t tender a zero, obtém-se: ( )φθ senr dt ds v ⋅⋅== & . Considerando um vetor de velocidade angular k r &r θω = , nota-se que a expressão acima é o módulo do vetor velocidade obtido pelo produto vetorial de ωr com o vetor posição rr : r dt rd v rr r r ×== ω . O vetor aceleração ar do ponto P será: ( ) dt rd r dt d r dt d dt vd a r rr r rr r r ×+×=×== ω ω ω vra rrrrr ×+×= ωα . A A’ z y x r r P φ θ B 5-3 Onde k r && r θα = . Como rv rrr ×= ω : ( )rra rrrrrr ××+×= ωωα Nota-se que o vetor aceleração do corpo rígido é a soma de dois vetores: o primeiro é tangente à circunferência descrita por P, ou seja, é o vetor aceleração tangencial; o segundo é obtido por um duplo produto vetorial e estará dirigido para o centro B da circunferência, ou seja, é o vetor aceleração normal. rkrat rr&&r rr ×=×= θα ⇒ ( )φθ senrat ⋅⋅= && ( ) ( )rkkran rr&r&rrrr ××=××= θθωω ⇒ ( )φθ senran ⋅⋅= 2& 5.3. Movimento Plano O movimento plano pode ser considerado como a soma de uma translação com uma rotação. Exemplo 1: disco rolando sobre uma superfície plana em torno de um eixo retilíneo. Exemplo 2: barra cujas extremidades se deslocam ao longo de uma guia horizontal e outra vertical. Ou Translação Movimento Plano Rotação A1 B1 A2 B2 = + A1 B1 A1’≡ A2 B1’ A2 B2 B1’ A1 A2 B1 B2 = + A1’ A2 B2 A1 A1’ B1 B1’≡ B2 A1 A2 B1 B2 = + A1 A1’≡A2 B1 B1’ B1’ A2 B2 Movimento Plano Translação Rotação 5-4 Nota-se que, dados dois pontos A e B pertencentes ao corpo rígido, o movimento plano pode ser definido como sendo um movimento de translação somado a um movimento de rotação em torno de um eixo fixo, perpendicular ao plano de movimento, que passa por A (ou vice-versa). A velocidade absoluta do ponto B se obtém por meio de uma fórmula da velocidade relativa: A/BAB vvv rrr += . Como o ponto B gira em torno do ponto A, do movimento em torno de um eixo fixo pode-se afirmar que: A/BA/B rv rrr ×= ω . Então: A/BAA/B rvv rrrr ×+= ω . Isto significa que o movimento plano pode ser definido pela velocidade Av r de um ponto arbitrário A e pela velocidade angular ωr , que independe do ponto A escolhido. 5.4. Centro Instantâneo de Rotação no Movimento Plano Pode-se mostrar que, para qualquer instante do movimento plano de um corpo rígido, as velocidades das partículas que compõem o corpo são iguais àquelas que surgiriam com as mesmas girando em trono de um eixo, perpendicular ao plano de movimento, denominado eixo instantâneo de rotação. O ponto que este eixo corta o plano de movimento é chamado de centro instantâneo de rotação. Como foi visto anteriormente, o movimento plano pode ser definido pela velocidade Av r de um ponto arbitrário A do corpo rígido e pela velocidade angular ωr . A velocidade Av r pode ser obtida através do produto vetorial da velocidade angular ωr pelo vetor posição do ponto A em relação a um ponto C situado na reta perpendicular ao vetor velocidade Av r . Portanto, com relação às velocidades, o corpo rígido parece estar girando em torno do centro instantâneo C no instante considerado. A ω Av r ≡ A ω Av r C 5-5 O centro instantâneo de rotação também pode ser determinado a partir das velocidades de duas partículas A e B pertencentes ao corpo rígido: traçando-se perpendiculares aos vetores velocidades de A e de B, o ponto de interseção das duas retas perpendiculares será o centro instantâneo de rotação. 5.5. Mecanismos Mecanismo ou Sistema Mecânico é um conjunto de partículas ou corpos (ou ambos) que se movem em relação a um referencial fixo de tal modo que existe uma parcial ou total interdependência entre seus movimentos. Ex.: biela-manivela. 1) Mecanismo biela-manivela (problemas resolvidos 15.3 e 15.7 do Beer Johnston, 5ª edição) No mecanismo da figura, a manivela AB possui uma velocidade angular constante de 2000 rpm no sentido horário. Determinar para a posição da manivela indicada na figura: a) a velocidade angular da biela BD; b) a velocidade do pistão P; c) a aceleração angular da biela BD; d) a aceleração do pistão P; e) o centro instantâneo de rotação. l = 0,2032 m r = 0,0762 m O ponto A será adotado como origem do sistema fixo de referência com oeixo x na horizontal e y na vertical. Os sentidos positivos destes eixos são, respectivamente, para a direita e para cima. Movimento da manivela AB Velocidade angular: =ABω 2000 rpm = 2000 . 2pi / 60 rad/s = 209 rad/s Vetor velocidade angular: kkABAB rrr 209−=−= ωω (rad/s) r l β 40º P A B G D A Av r C Bv r A Av r C B Bv r 5-6 Vetor velocidade do ponto B: ABABAB rvv rrrr ×+= ω , onde 0=Av r . Vetor posição do ponto B em relação a A: ( ) ( ) jsenricosrrAB rrr °⋅+°⋅= 4040 Então ( ) ( )( )jsenricosrkv ABB rrrr °⋅+°⋅×−= 4040ω ∴ ( ) ( ) jcosrisenrv ABABB rrr °⋅⋅−°⋅⋅= 4040 ωω j,i,vB rrr 23122610 −= (m/s) Vetor aceleração do ponto B: ( )ABABABABABAB rraa rrrrrrr ××+×+= ωωα , onde 0=Aar . O vetor aceleração angular da barra AB ABα r é igual a zero, pois a velocidade angular desta barra é constante. Então ( ) ( )( )jcosrisenrka ABABABB rrrr °⋅⋅−°⋅⋅×−= 4040 ωωω ∴ ( ) ( ) jsenricosra ABABB rrr °⋅⋅−°⋅⋅−= 4040 22 ωω jiaB rrr 21492561 −−= (m/s²) Movimento da biela BD Para determinar o vetor posição do ponto D relativo ao ponto B BDr r será necessário determinar o ângulo β da barra BD com a horizontal. Usando a Lei dos Senos em um triângulo: ( ) ( ) r sen l sen β = °40 ∴ °≅ 9513,β O vetor posição BDr r será então ( ) ( ) jsenlicoslrBD rrr ββ ⋅−⋅= Vetor velocidade do ponto D: BDBDBD rvv rrrr ×+= ω . Como não se conhece o vetor velocidade angular BDω r da biela BD ele será admitido como sendo kBDBD rr ωω = . Então: ( ) ( ) ( ) ( )( )jsenlicoslkjcosrisenrv BDABABD rrrrrr ββωωω ⋅−⋅×+°⋅⋅−°⋅⋅= 4040 ( ) ( )[ ] ( ) ( )[ ] jcoslcosrisenlsenrv BDABBDABD rrr βωωβωω ⋅⋅+°⋅⋅−+⋅⋅+°⋅⋅= 4040 Como a velocidade do ponto D é a mesma do pistão P, sabe-se que só existe velocidade na direção horizontal, ou seja, a componente vertical de Dv r é nula. Então: ( ) ( ) 040 =⋅⋅+°⋅⋅− βωω coslcosr BDAB ⇒ ( )( )βωω cosl cosr ABBD ⋅ °⋅ ⋅= 40 ∴ 062,BD =ω rad/s = 592 rpm a) a velocidade angular da biela BD é 062,BD =ω rad/s = 592 rpm no sentido anti-horário. O vetor velocidade do pistão é ( ) ( )[ ] i,isenlsenrvv BDABDP rrrr 291340 =⋅⋅+°⋅⋅== βωω (m/s) 5-7 b) a velocidade do pistão é =Pv 13,29 m/s para a direita na direção horizontal. Vetor aceleração do ponto D: ( )BDBDBDBDBDBD rraa rrrrrrr ××+×+= ωωα . Como não se conhece o vetor aceleração angular BDα r da biela BD ele será admitido como sendo kBDBD rr αα = . Então: ( ) ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )( )[ ]jsenlicoslkk jsenlicoslkjsenricosra BDBD BDABABD rrrr rrrrrr ββωω ββαωω ⋅−⋅××+ +⋅−⋅×+°⋅⋅−°⋅⋅−= 4040 22 ( ) ( ) ( )[ ] ( ) ( ) ( )[ ] jsenlcoslsenr icoslsenlcosra BDBDAB BDBDABD r rr βωβαω βωβαω ⋅⋅+⋅⋅+°⋅⋅−+ +⋅⋅−⋅⋅+°⋅⋅−= 22 22 40 40 Da mesma forma que o vetor velocidade do pistão, sabe-se que só existe aceleração na direção horizontal. Então: ( ) ( ) ( )βωβαω senlcoslsenr BDBDAB ⋅⋅+⋅⋅+°⋅⋅− 22 40 ⇒ ( ) ( )( )β βωω α cosl senlsenr BDAB BD ⋅ ⋅⋅−°⋅⋅ = 22 40 c) a aceleração angular da biela BD é 9940=BDα rad/s². O vetor aceleração do pistão é ( ) ( ) ( )[ ]icoslsenlcosra BDBDABD rr βωβαω ⋅⋅−⋅⋅+°⋅⋅−= 22 40 = iaD rr 2832−= (m/s²). d) a aceleração do pistão é 2832 m/s² para a esquerda na direção horizontal. O centro instantâneo de rotação será obtido pela interseção das retas perpendiculares aos vetores velocidade em B e D (setas nestes pontos na figura abaixo). Em relação ao ponto A, as distâncias nas direções horizontal e vertical são: ( ) ( ) =⋅+°⋅= βcoslcosrxC 40 0,255 m ( ) =°⋅= 40tanxy CC 0,214 m e) a posição do centro de rotação em relação à origem do sistema fixo de referência (ponto A) é (0,255; 0,214) em metros. r l β 40º A B D C 5-8 2) Exercício 15.30 do Beer & Johnston (roda de carro ≡ disco de rolamento) Um automóvel se desloca para a direita com uma velocidade v de 72,4 km/h. Se o diâmetro d da roda é 0,559 m, determine as velocidades dos pontos B, C, D e E à margem da roda. (β =30º) A roda gira em torno do ponto A, portanto, o movimento de qualquer ponto da roda pode ser obtido pela soma da velocidade de translação do ponto A com a velocidade do ponto causada pela rotação em torno de A, ou seja, a velocidade relativa ao ponto A do ponto considerado. A expressão da velocidade em qualquer ponto P da roda será: APAA/PAP rvvvv rrrrrr ×+=+= ω Considerando que a roda não derrapa, o número de revoluções N em 1 hora será: = ⋅ = ⋅ ⋅ = 5590 724001000 ,d vN pipi 41227 revoluções Isto significa que a velocidade angular da roda será: ω ≅ 72 rad/s (= 41227 / 3600 . 2pi). Considerando a origem do sistema fixo de referência no ponto A, o eixo x na horizontal, positivo para a direita e o eixo y na vertical, positivo para cima: k rr 72−=ω . Os vetores posição em relação ao ponto A de cada ponto são: jdrAB rr 2 = , jdrAC rr 2 −= , idrAE vr 2 = e ( ) ( ) jcosdisendrAD rrr ββ ⋅+⋅−= 22 . As velocidades em cada ponto serão: Ponto Vetor velocidade (m/s) Módulo (m/s) B i, r 240 40,2 C 0 0,0 D j,i, rr 110537 + 38,9 E j,i, rr 120120 − 28,4 Como a velocidade no ponto C é nula, então este ponto é o centro instantâneo de rotação da roda no instante considerado, isto é, o ponto da roda que toca o solo sempre será o centro instantâneo de rotação. Isto significa que em uma roda que rola sem derrapar, a velocidade do ponto que toca o solo será sempre nula. A B C E D β 5-9 3) Roda que gira e derrapa Suponha que no exercício anterior a velocidade do carro seja a mesma, mas a velocidade angular da roda seja de 80 rad/s. Determine as velocidades dos pontos B e C e conclua que a roda derrapa além de girar. Utilizando a expressão APAP rvv rrrr ×+= ω , tem-se que: i,jdki,vB rrrrr 542 2 80120 = ×−= (m/s) i,jdki,vC rrrrr 252 2 80120 −= −×−= (m/s) Como a velocidade no ponto de contato C, da roda com o solo, não é nula, pode-se concluir que a roda não está simplesmente rolando, mas também derrapando. Como a velocidade no ponto C é negativa, um exemplo é o de um carro que arranca cantando pneu.
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