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CENTRO UNIVERSITÁRIO MONTE SERRAT ALINE FERREIRA MARINHO DA SILVA CLEBERSON CARLOS FERREIRA DA SILVA LUCAS MIGUEL FORCINETTI MARCELO MARTINATTI RAYANE ELIZABETH FACINCANI Evolução geológica, implicações tectônicas e estruturas associadas ao Rift Continental do Sudeste Brasileiro Santos 2015 ALINE FERREIRA MARINHO DA SILVA CLEBERSON CARLOS FERREIRA DA SILVA LUCAS MIGUEL FORCINETTI MARCELO MARTINATTI RAYANE ELIZABETH FACINCANI Evolução geológica, implicações tectônicas e estruturas associadas ao Rift Continental do Sudeste Brasileiro Trabalho apresentado ao Centro Universitário Monte Serrat como exigência para a disciplina “Projeto Integrador VI”, integrada ao curso de graduação em Geologia. Orientador: Maurício Borba Santos 2015 Facincani, Rayane Elizabeth; Forcinetti, Lucas Miguel; Martinatti, Marcelo; Silva, Aline Ferreira Marinho da; Silva, Cleberson Carlos Ferreira da. Evolução geológica, implicações tectônicas e estruturas associadsas ao Rift Continental do Sudeste Brasileiro / Facincani, Rayane Elizabeth; Forcinetti, Lucas Miguel; Martinatti, Marcelo; Silva, Aline Ferreira Marinho da; Silva, Cleberson Carlos Ferreira da. – Santos : [s.n], 2015. 16 f.: il. color. Orientador: Maurício Borba. Trabalho de Projeto Integrador VI - Centro Universitário Monte Serrat, Curso de Graduação em Geologia. 1. Rifte. 2. Estruturas Tectônicas. 3. Bacias Tafrogênicas. 4. Sudeste Brasileiro. ALINE FERREIRA MARINHO DA SILVA CLEBERSON CARLOS FERREIRA DA SILVA LUCAS MIGUEL FORCINETTI MARCELO MARTINATTI RAYANE ELIZABETH FACINCANI Evolução geológica, implicações tectônicas e estruturas associadas ao Rift Continental do Sudeste Brasileiro Trabalho apresentado ao Centro Universitário Monte Serrat como exigência para a disciplina “Projeto Integrador VI”, integrada ao curso de graduação em Geologia. Orientador: Maurício Borba EXAMINADORES: Nome do examinador: Titulação: Instituição: Nome do examinador: Titulação: Instituição: Centro Universitário Monte Serrat Data da aprovação: _____/_____/_____ RESUMO O Rift Continental do Sudeste Brasileiro de idade Cenozoica, que se estende desde o Paraná até o Rio de Janeiro, é uma importante feição estrutural, alvo de estudos desde a década de 70. Destaca-se principalmente devido às suas estruturas geneticamente associadas a esta feição, como extensas depressões tectônicas e regiões montanhosas. A compreensão dos processos tectônicos envolvidos no desenvolvimento dessa feição é intensamente discutida por inúmeros autores. Com isso, diversas denominações têm sido utilizadas para: Sistema de Rifts da Serra do Mar (Almeida, 1976), Sistema de bacias tafrogênicas do Sudeste Brasileiro (Melo et al., 1983) e Rift Continental do Sudeste do Brasil (Riccomini, 1989). O presente trabalho foi realizado através de revisão bibliográfica, e destaca os aspectos tectônicos e estruturais desse sistema. Bem como apresenta sua evolução geológica, as implicações tectônicas e estruturas associadas. Palavras Chaves: Rifte. Estruturas Tectônicas. Bacias Tafrogênicas. Sudeste Brasileiro. ABSTRACT The Continental Rift of Southeastern Brazil of Cenozoic age, extending from Paraná to Rio de Janeiro is an important structural feature, object of studies since 1970s. It has been studied mainly because of its genetically associated structures, such as large tectonic depressions and mountainous regions. The understanding of tectonic processes involved in developing this feature is intensely discussed by many authors. Therefore, many denominations have been used to name it: System Rifts of Serra do Mar (Almeida, 1976), System taphrogenic basins of Southeastern Brazil (Melo et al., 1983) and Continental Rift of Southeastern Brazil (Riccomini, 1989). The present work through literature review, it show the tectonic and structural features of this system and presents its geological evolution, the tectonic implications and associated structures. Key Words: Rift. Tectonic Structures. Taphrogenic Basins. Southeastern Brazil. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Localização do Rift Continental Sudeste do Brasil. ............................ 7 Figura 2: Províncias estruturais do Escudo Atlântico ....................................... 10 Figura 3: Subdivisões da Província Mantiqueira.. ............................................ 11 Figura 4: Os sistemas transcorrentes do Cinturão Ribeira e da porção sul da Província Tocantins. ......................................................................................... 13 Figura 5: Perfil morfológico simplificado de um rifte continental. ...................... 15 Figura 6: Reconstituição da Serra do Mar Cretácea . ...................................... 20 Figura 7: Esboços paleotectônicos da evolução do segmento central do RCSB proposto por Riccomini. .................................................................................... 21 Figura 8: Comportamento deformacional em ambientes tectônicos colisionais na formação de riftes de antepaís e bacias transtencionais. ................................. 23 Figura 9: Evolução tectônica da Bacia de Taubaté e sua relação com o campo de tensões Andino. ........................................................................................... 23 Figura 10: Mapa de distribuição dos quatro riftes do SRCSB: ......................... 24 Figura 11: Visão 3D (O para E) da Zona de Acomodação de Queluz (Rifte do Paraíba do Sul). ............................................................................................... 26 Figura 12: Mapa geológico da Bacia de São Paulo e porção sudoeste da Bacia de Taubaté ....................................................................................................... 27 Figura 13: Coluna litoestratigráfica da Bacia de Taubaté e eventos tectônicos cenozoicos. ...................................................................................................... 29 Figura 14: Mapa geológico da Bacia de Taubaté. ............................................ 29 Figura 15: Mapa geológico do cenozoico da região da bacia de Volta Redonda ........................................................................................................... 31 Figura 16: Imagem de satélite com a interpretação estrutural detalhada do Graben da Guanabara.. ................................................................................... 32 Figura 17: Mapa geológico da Bacia do Macacu:. ............................................ 33 Figura 18: Mapa estrutural da Bacia do Itaboraí .............................................. 35 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 7 1.1 METODOLOGIA ................................................................................... 8 2. GEOLOGIA REGIONAL ................................................................................ 9 2.1. PROVÍNCIA ESTRUTURAL MANTIQUEIRA ........................................ 9 2.2. CINTURÃO OROGÊNICO RIBEIRA ................................................... 10 3. DEFINIÇÕES ...............................................................................................14 3.1. CONCEITOS DE RIFTE ...................................................................... 14 3.2. AS DENOMINAÇÕES DO RCSB ........................................................ 15 4. GÊNESE E TECTÔNICA DO RCSB ........................................................... 17 4.1. EVOLUÇÃO GEOLÓGICA E ESTRUTURAL DO RCSB .................... 18 5. ESTRUTURAS E BACIAS TAFROGÊNICAS ASSOCIADAS AO RCSB ... 24 5.1. SEGMENTO OCIDENTAL .................................................................. 25 5.2. SEGMENTO CENTRAL ...................................................................... 25 5.2.1 Bacia de São Paulo ..................................................................... 27 5.2.2 Bacia de Taubaté ........................................................................ 28 5.2.3 Bacia de Resende ....................................................................... 30 5.2.4 Bacia de Volta Redonda ............................................................. 30 5.3. SEGMENTO ORIENTAL ..................................................................... 31 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 36 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 38 7 1. INTRODUÇÃO O estudo de estruturas tectônicas presentes no sudeste brasileiro, realizado por Almeida (1976), marca o início da compreensão de um conjunto de feições estruturais de caráter regional. Estas feições ocorrem como depressões tectônicas e regiões montanhosas soerguidas por movimentação de falhas, geneticamente associadas, denominadas inicialmente de “Sistema de Rifts da Serra do Mar”. Posteriormente este sistema foi renomeado por Riccomini, em 1989, como Rift Continental do Sudeste do Brasil ou RCSB. Segundo Riccomini et al. (2004) o RCSB consiste em uma depressão alongada e deprimida, que possui aproximadamente 900 km de comprimento e largura média de 70 km. Sua gênese data do início da era Cenozoica, possui estruturas de grabens e horst que se estendem da Serra do Mar a Serra da Mantiqueira, indo desde a cidade de Tijucas do Sul no estado do Paraná até Niterói no Rio de Janeiro (Figura 1). Figura 1 - Localização do Rift Continental Sudeste do Brasil. 1) embasamento pré- cambriano; 2) rochas sedimentares paleozoicas da Bacia do Paraná; 3) rochas vulcânicas toleíticas eocretáceas da Formação Serra Geral; 4) rochas relacionadas ao magmatismo alcalino mesozoico-cenozoico; 5) bacias cenozoicas do rifte (1- Bacia de Itaboraí, 2- Graben de Barra de São João, 3- Bacia do Macacu, 4- Bacia de Volta Redonda, 5- Bacia de Resende, 6- Bacia de Taubaté, 7- Bacia de São Paulo, 8- Graben de Sete Barras, 9- Formação Pariquera-Açu, 10- Formação Alexandra e Graben de Guaraqueçaba, 11- Bacia de Curitiba, 12- Graben de Cananéia); 6) zonas de cisalhamento pré-cambrianas, em parte reativadas durante o Mesozoico e Cenozoico. Fonte: Riccomini et al. (2004) 8 O trabalho apresenta a evolução geológica, as implicações tectônicas e estruturas associadas a esta feição geológica. Para melhor entendimento desta feição, no capítulo 2 apresenta-se uma breve descrição do contexto geológico regional ao qual o RCSB se insere. O Capítulo 3 traz as definições conceituais do processo de rifteamento, e a caracterização do RCSB, para no capítulo 4 abordar sua gênese e evolução geológica. O Capítulo 5 mostra as implicações tectônicas e as estruturas que se associam a elas. 1.1 METODOLOGIA O presente trabalho será realizado através de revisão bibliográfica de livros, periódicos, revistas eletrônicas, artigos e teses. Alguns dos principais autores utilizados são Almeida (1976), Riccomini et al. (2004), Zalán e Oliveira (2005). 9 2. GEOLOGIA REGIONAL O RCSB se localiza regionalmente no setor central da Província Mantiqueira (ALMEIDA & HASUI, 1984), e subsequentemente no de Dobramentos Ribeira (HASUI et al.,1975). Neste capítulo contextualizaremos brevemente a geologia regional, caracterizando a província Mantiqueira e o Cinturão Ribeira. 2.1. PROVÍNCIA ESTRUTURAL MANTIQUEIRA A Província Mantiqueira é uma entidade geotectônica localizada a leste dos crátons São Francisco e Rio de La Plata/Paraná (Figura 2). Com seu surgimento ao final do Neoproterozoico e início da Era Paleozoica, estende-se por cerca de 3.000 km, com orientação NNE–SSW, ao longo da costa atlântica, de Montevidéu no Uruguai ao sul da Bahia (HASUI et al., 2012). Ela preserva registros de uma enorme e complexa evolução do Neoproterozoico na América do Sul (900–520 Ma), além de dados remanescentes de unidades paleotectônicas arqueanas, paleoproterozoicas e mesoproterozoicas. Juntamente com a extremidade meridional da Província Tocantins, a Província Mantiqueira constitui o arcabouço pré-cambriano do sudeste brasileiro desenvolvido em resposta ao “Ciclo Brasiliano” (ALMEIDA, 1967 apud DELGADO et al, 2003). A Província Mantiqueira constitui-se por uma sucessão de cinturões de empurrão e dobramento, controlados por distintos sistemas transpressivos de cavalgamento em direção às margens cratônicas (DELGADO et al., 2003). A maioria desses cinturões corresponde a orógenos colisionais evoluídos diacronicamente durante a colagem neoproterozoica/cambriana, constituindo um mosaico de terrenos neoproterozoicos agregados. Esse evento ocorreu há aproximadamente 560 Ma quando deu origem ao Supercontinente Gondwana Ocidental (DELGADO et al., 2003). Segundo Hasui et al. (2012) o Sistema Mantiqueira é formado principalmente por rochas pré-silurianas (>450 Ma), que se expõem em grande 10 totalidade de sua área e representam registros de processos ocorridos no Ciclo Brasiliano entre 450 e 800 Ma. Figura 2: Províncias estruturais do Escudo Atlântico. Fonte: Delgado et al., 2003 (Modificado). Outras unidades são restritas a pequenos trechos, como diques de diabásio e corpos alcalinos do Cretáceo e Paleógeno, coberturas sedimentares cretáceas e neogênicas-quaternárias (HASUI et al., 2012). 2.2. CINTURÃO OROGÊNICO RIBEIRA O Cinturão Orogênico Ribeira ou Setor Central consiste em uma das três subdivisões da Província Mantiqueira: setentrional, central e meridional, que correspondem respectivamente aos cinturões orogênicos: Araçuaí, Ribeira e 11 Tijucas, conforme . igura 3 (HASUI et al., 2012). Os setores Tijucas e Araçuaí não serão abordados neste trabalho. Em função da complexidade litoestrutural e geocronológica dos cinturões orogênicos, subdivide-se estes em numerosos domínios. Dentre estes os principais são o Varginha, Embu, Costeiro, São Roque, Apiaí, Curitiba, Paranaguá e Luís Alves (HASUI et al., 2012). Figura 3: Subdivisões da Província Mantiqueira. Os três cinturões representam os setores aqui considerados, com as designações indicadas. Em amarelo, coberturas fanerozoicas. Fonte: Hasui et al., 2012. Para Hasui et al. (2012) o Cinturão Ribeira limita-se com o Cinturão Araçuaí na região da divisa de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, b1cz Texto digitado F 12 estendendo-se para sudoeste até o Paraná e leste de Santa Catarina. A oeste é encoberto pela Bacia do Paraná e a leste faz limite com a Província da Margem Continental Leste. No centro-sul de Minas Gerais relaciona-se com a porção sul do Cinturão Brasília, e sua extremidade sul, com o Cinturão Tijucas. Segundo Silva (2010) possui orientação NE-SW, sendo resultante da interação entre o Cráton São Francisco com a porção sudoeste do Cráton do Congo e com outras microplacase arcos de ilhas situados a sudeste. Silva (2010) difere-se de Hasui et al. (2012) ao descrever o Cinturão Ribeira constituído por quatro terrenos tectono-estratigráficos (Tabela 1), separados por falhas de empurrão e por zonas de cisalhamento oblíquas transpressivas. São denominados terreno Ocidental, Oriental, Paraíba do Sul e Cabo Frio. Sua colagem gerou a imbricação de escamas crustais vergentes para oeste, em direção ao Cráton São Francisco. Os três primeiros terrenos citados teriam sido amalgamados ente 605 e 580 Ma, enquanto o terreno Cabo Frio juntou-se aos demais somente há cerca de 520 Ma (TUPINAMBA et al., 2007; HEILBRON et al., 2000; 2004; TROUW et al., 2000; MACHADO et al., 1996; HEILBRON & MACHADO, 2003; SCHIMITT et al., 2004 apud SILVA, 2010). Tabela 1: Compartimentação tectônica da parte central do Cinturão Ribeira. Fonte: Silva (2010). A estruturação do Cinturão Ribeira apresenta deformações tangenciais e transcorrentes, resultantes de processos orogênicos brasilianos gerando feições de ampla abrangência, visíveis em escalas micro a macroscópicas. A exemplo macroscópico tem-se dobras recumbentes, falhas de empurrão e empilhamento de nappes (HASUI et al., 2012 e SOUZA, 2008). Terrenos Domínios Estruturais Principal Período Colísional Domínio Andrelândia Domínio Juiz de Fora Klippe Paraíba do Sul Domínio Cambucí Domínio Costeiro Domínio Italva S-SE Terreno Cabo Frio Colisão III ca. 520 Ma (535-510 Ma) N-NW Ocidental Terreno Oriental ou Microplaca Serra do Mar Colisão II ca. 580 Ma (605-560 Ma) 13 No setor central, tais feições foram reconhecidas em várias porções, com vergências para sudeste, nos domínios Curitiba e parte oriental paranaense do domínio Apiaí-São Roque. A sobreposição do domínio Paraíba do Sul sobre Juiz de Fora e deste sobre o domínio Mantiqueira, configura um sistema de cavalgamento, relacionado ao período Riaciano-Orosiriano (HASUI et al., 1988 apud HASUI et al., 2012 e SOUZA, 2008). Estruturalmente o aspecto de maior destaque no cinturão foi à deformação transcorrente, que acompanhou tardiamente os cavalgamentos no final do Ciclo Brasiliano. Essa deformação transcorrente deixou o Cinturão Ribeira fortemente transfigurado pelas numerosas falhas que formam feixes e configuram sistemas transcorrentes (zonas de cisalhamentos), com deslocamentos que podem alcançar até centenas de quilômetros. Estes sistemas transcorrentes têm direção NE-SW no Paraná, passam para E-NE-W- SW no leste de São Paulo e oeste do Rio de Janeiro e infletem para N-S no sudeste de Minas Gerais e norte do Rio de Janeiro. Essa inflexão está relacionada com os deslocamentos horários do Sistema Transcorrente Paraíba do Sul, conforme a Figura 4 (HASUI & OLIVEIRA, 1984; EBERT & HASUI, 1998; HEILBRON et al., 2004 apud HASUI et al., 2012; SOUZA, 2008). Figura 4: Os sistemas transcorrentes do Cinturão Ribeira e da porção sul da Província Tocantins. Fonte: Hasui & Oliveira (1984); Ebert & Hasui (1998) modificado por Souza (2008). 14 3. DEFINIÇÕES 3.1. CONCEITOS DE RIFTE Os sistemas de riftes antes da aceitação da Teoria da Tectônica de Placas, eram considerados por muitos autores fossas tectônicas, formadas por abatimento de blocos falhados originados por esforços de tração epirogenéticos (LEINZ e AMARAL, 2003). Dentro dos conceitos modernos de tectônica de placas, os riftes continentais consistem em regiões de deformação extensional, onde a litosfera foi estirada e deformada sob a influência do esforço deviatórico (FOSSEN, 2012; KEAREY et al., 2014). O início de um rifte depende de uma série de fatores físicos e tectônicos. Para inicia-lo, deve existir um campo de esforço deviatórico tracional horizontal suficiente para quebrar a litosfera, preferencialmente em zonas de fraqueza herdadas de antigas zonas orogênicas. Esse esforço pode ser gerado por uma combinação de forças, como a movimentação de placas litosféricas, ressurgências da astenosfera, tração da base da litosfera gerada por convecção da astenosfera e compensação isostática causada pela variação da espessura crustal (FOSSEN, 2012; KEAREY et al., 2014). A evolução de um sistema de riftes é controlada principalmente por fatores físicos, que geram modelos diversos e complexos. Os principais fatores são os regimes termais da crosta e manto superior, a reologia da litosfera e fatores temporais como a duração e a taxa de rifteamento (RUPPEL, 1995). São eles que determinam se haverá o rompimento da litosfera e a formação de uma nova bacia oceânica ou a formação dos chamados riftes abortados, também conhecidos como aulacógenos (KEAREY et al., 2014). De acordo com Kearey et al., (2014), a partir dos fatores citados como responsáveis pelo desenvolvimento de riftes, pode haver diferentes comportamentos da crosta. Locais onde a litosfera é espessa, fria e resistente os riftes tendem a formar zonas estreitas de esforço localizado. Quando a 15 litosfera se encontra fina e frágil, os riftes tendem a gerar zonas largas, onde o esforço é distribuído em centenas de quilômetros de largura. Estas definições caracterizam os tipos de riftes existentes, riftes estreitos e riftes amplos. O RCSB é considerado um rifte do tipo estreito, devido as características apresentadas, dentre elas principalmente a formação de bacias sedimentares, limitadas por falhas normais e morfologia assimétrica de hemigrabens (Figura 5) (FOSSEN, 2012; KEAREY et al., 2014). Outras características são a sismicidade rasa, esforço tracional regional; afinamento crustal local modificado por atividade magmática, manto superior adjacente de baixa densidade e baixa velocidade com elevado fluxo de calor (KEAREY et al., 2014). Figura 5: Perfil morfológico simplificado de um rifte continental. Fonte: Olsen (2006). 3.2. AS DENOMINAÇÕES DO RCSB A área do presente estudo, hoje denominada RCSB, foi inicialmente nomeada por Almeida (1976) como Sistemas de Rifts da Serra do Mar, ao associar geneticamente depressões tectônicas e regiões montanhosas (RICCOMINI et al, 2004). Posteriormente Melo et al. (1983) ao estudar principalmente as bacias do atual segmento central do rifte, nomeia-o como Sistema de bacias tafrogênicas do Sudeste Brasileiro. Outros autores como Campanha et al. (1985) e Almeida & Carneiro (1998) tiveram importante contribuição com seus trabalhos para a atual proposta de 16 Riccomini et al. (2004). Riccomini (1989) justifica a denominação do Rift Continental do Sudeste do Brasil, baseado inicialmente no termo rifte no sentido geomorfológico (GREGORY, 1894 apud RICCOMINI et al., 2004), no singular pois, segundo o autor a feição era única e contínua. O uso do adjetivo continental, por tratar-se do desenvolvimento do rifte em área emersa. O termo Sudeste do Brasil foi designado, por ser geograficamente mais abrangente do que Serra do Mar (RICCOMINI et al, 2004). Consta ainda um trabalho mais recente na região de Zalán & Oliveira (2005), que denomina a área como Sistema de Riftes Cenozoicos do Sudeste do Brasil (SRCSB). Apesar das inúmeras denominações existentes para a região, o presente trabalho baseia-se no estudo de Riccomini (1989) e Riccomini et al. (2004) por tratar-se do tema do presente trabalho. 17 4. GÊNESE E TECTÔNICA DO RCSB A região Sudeste do Brasil é constituída por várias entidades geotectônicas (HASUI, 2010) e para seu entendimento é necessário compreender os eventos relacionados à evolução geológica da área e seu entorno. De acordocom Zalán & Oliveira (2005) o tectonismo e os processos de sedimentação responsáveis pela formação do RCSB tem sido frequentemente estudado por diversos pesquisadores das áreas de geociências. Para esses autores, a presença de topos aplainados por superfícies de erosão em grabens, servem como marcadores da movimentação tectônica diferencial atuante sobre os diversos segmentos do rifte ao longo do tempo. A hipótese de origem tectônica do RCSB é também sustentada por Almeida & Carneiro (1998), Riccomini (1989) e Riccomini et al. (2004) ao analisarem as causas e consequências do tectonismo cenozoico na região Sudeste do Brasil, em especial as bacias do segmento central do rifte. Destacam-se aqui, na perspectiva desses autores, os movimentos verticais opostos entre as bacias marginais e a área continental adjacente e a deformação e colapso da Superfície de Aplainamento Japi, desencadeando a formação das bacias tafrogênicas e das serras do Mar e Mantiqueira. Em concordância, Suguio & Martin (1996) ressaltam o papel da neotectônica relacionada aos eventos geológicos responsáveis pela abertura do Atlântico Sul e a evolução da costa brasileira, destacando a formação das bacias marginais e seus efeitos na plataforma continental adjacente. Considera assim como exemplo mais representativo desse tectonismo em escala regional, o RCSB. Esse capítulo pretende contextualizar de forma sintetizada a evolução do RCSB a partir da ação tectônica relacionada aos diversos eventos geológicos ao longo do tempo que, em maior escala refletem a história evolutiva da própria Placa Sul Americana. 18 4.1. EVOLUÇÃO GEOLÓGICA E ESTRUTURAL DO RCSB Segundo Riccomini (1989) o RCSB se desenvolveu sobre terrenos policíclicos no domínio do Cinturão de Dobramento Ribeira (ou Faixa Ribeira), de idade neoproterozoica. Insere-se assim em um complexo sistema de falhamentos transcorrentes, em zonas de cisalhamento dúcteis, oriundos de processos de fragmentação e colisão. Desenvolveram-se durante todo o Ciclo Brasiliano, culminando com a formação dos sistemas orogênicos Mantiqueira e Tocantins, na consolidação do Gondwana, por volta de 460 Ma (RICCOMINI,1989; HASUI, 2010). Durante esses processos ocorreram diversas colagens e interações de placas que deram origem a faixas móveis acrescionárias, colisionais ou transpressionais, que foram constantemente retrabalhadas. A isso, sucederam processos tafrogênicos, de aglutinação e dispersão de massas continentais, com a exumação e colapso dos orógenos sob regime distensivo (ALMEIDA & CARNEIRO, 1998). Hasui (2010) relaciona a essa etapa as bacias de distensão e a consolidação na região do que viria a integrar a Plataforma Sul-Americana. Na transição do Jurássico Superior-Cretáceo a região esteve sujeita a processos distensivos relacionados à ruptura do Pangea e abertura do oceano Atlântico, com a separação dos atuais continentes América do Sul e África (HASUI, 2010, RICCOMINI et al., 2004). O conjunto desses processos foi reunido no denominado Evento Sul- Atlantiano (SCHOBBENHAUS et al.,1984 apud RICCOMINI et al., 2004) e se associa a origem do RCSB. Está relacionado à ruptura da porção crustal adjacente à Bacia de Santos, por compensação isostática imposta pelos movimentos verticais opostos da subsidência da bacia e soerguimento da região costeira (ALMEIDA, 1967; RICCOMINI et al., 2004). Nesse contexto evolutivo, Zalán & Oliveira (2005) destacam o importante significado tectônico da Superfície de Aplainamento Japi (SAJ) para na análise dos perfis morfo-estruturais. Considera-se a geometria dos grabens e datação dos eventos deformacionais, por tratar-se de importante elemento de correção regional existente por todo embasamento pré-cambriano do Sudeste do Brasil. Almeida & Carneiro (1998) referem-se a SAJ como balizadora do início da 19 sedimentação em todas as bacias do RCSB e Riccomini et al. (2004) supõem que essa fase de erosão generalizada tenha aplainado e nivelado toda essa área até o final do Cretáceo. Durante essa etapa evolutiva tem-se o que foi denominado por Zalán & Oliveira (2005) como uma Serra do Mar Cretácea, constituindo-se em imenso planalto maciço, amplo e coeso que foi gradualmente aplainado pela SAJ, mantendo altitude estimada em torno de 2.000 metros. Para esses autores tal configuração se tornou gravitacionalmente instável na medida em que a subsidência da Bacia de Santos progredia, ensejando o fraturamento e colapso desse megaplanalto no final do Paleoceno e início do Eoceno (Figura 6). Os trabalhos de Riccomini (1989) são concordantes com esse contexto, no qual a evolução tectônica relacionada as bacias e as estruturas de reativação mencionadas, se constituem nos elementos mais importantes na gênese do RCSB e suas deformações posteriores. Tem início então, durante o Paleógeno (Eoceno-Oligoceno) a primeira etapa de formação da depressão original (o qual denomina hemigraben). Esta, então, configurando-se como uma feição contínua, resultado de esforços extensionais de direção NNW-SSE decorrentes do basculamento da Bacia de Santos. A perspectiva de uma única unidade geomorfológica inicial é defendida também por Almeida (1976) que propôs geneticamente a existência de uma ligação dessas bacias em uma única calha deposicional, que posteriormente viriam a ser isoladas. Zalán & Oliveira (2005), ao analisarem as estruturas, geometria e orientação geral dos atuais grabens que compõem o RCSB, sugerem tratar-se de compartimentações tectônicas menores e que em sua origem constituíam uma única entidade maior (rifte). Segundo esses autores, a alternância nos regimes tensionais relacionados ao tectonismo deformador de sucessivos eventos, foi responsável por segmenta-los em uma sucessão de horsts e grabens escalonados e assimétricos. 20 Figura 6: Reconstituição da Serra do Mar Cretácea (delimitada pela área alaranjada) e sua relação com a linha de costa atual (linha azul). B -Riftes (cinza) desenvolvidos durante o Cenozoico por colapso gravitacional da SMC, segundo uma orientação (S51E) oblíqua ao alongamento N54E da serra e esforços transtensionais sinistro giros resultantes. Fonte: Zalán & Oliveira, 2005. 21 A sequência evolutiva do RCSB proposta por Riccomini (1989) e Riccomini et al. (2004) para região central do RCSB e que pode ser estendida em todo segmento, menciona uma sucessão de fases deformadoras envolvendo novas reativações (Figura 7). As primeiras fases de deformação teriam ocorrido durante o Neógeno e se estendido até o Quaternário, como ocorrência inicialmente de transcorrência sinistral de direção E-W com extensão NW-SE e localmente compressão NE-SW. Resultado desse campo de esforços foi a geração de novas falhas transcorrentes ou de empurrão que, associadas às antigas estruturas e dobramentos, promoveram a primeira desconfiguração do rifte original. Nessa etapa ocorreram ainda novos soerguimentos locais, com consequente erosão dos sedimentos que haviam sido depositados durante a abertura do rifte e, em alguns pontos blocos de rochas do embasamento sobrepuseram os antigos depósitos sedimentares (RICCOMINI et al., 2004). Figura 7: Esboços paleotectônicos da evolução do segmento central do RCSB proposto por Riccomini. Legenda no quadro D: 1) falhas de componente predominante normal; 2) falha de componente transcorrente sinistral; 3) falha de componente transcorrente destral; 4) falha de componente predominante reversa; 5) falha com movimentação não caracterizada. Fonte: Riccomini et al., 2004. 22 Ainda durante o Pleistoceno tardio Riccomini (1989) menciona uma fasede estabilização tectônica com contínua deposição de sedimentos e remodelamento do relevo, sucedida de transcorrência E-W destral com compressão NW-SE. Neste período teriam sido configurados os altos estruturais que atualmente separam em bacias do rifte em compartimentos isolados. Na transição entre o Pleistoceno tardio e o Holoceno ocorre o terceiro evento deformador representando uma mudança no regime de esforços em caráter distensivo com extensão WNW–ESE o qual, segundo Riccomini (1989) e Riccomini et al. (2004) teria dado o atual contorno e distribuição das bacias e sedimentos. Esses autores sugerem ainda a existência de um último evento deformador já durante o Holoceno e que se estenderia até os dias atuais, onde os campos de tensões indicam que a região se encontra atualmente em condições compressivas, causando a reativação inversa de falhas. Na dinâmica tectônica evolutiva e deformadora do RCSB, Riccomini (1989) relaciona a alternância entre transcorrência sinistral (esforços trativos) e destral (esforços compressivos) ao balanço entre as taxas de abertura na cadeia Meso-Atlântica e de subducção da Placa de Nazca sob a Placa Sul Americana, a qual tenderia a sofrer empuxos resultantes dos estados de tensão das duas bordas da placa. Com isso, durante a migração da Placa Sul Americana para oeste em relação às estruturas antigas do RCSB, ocorreria transcorrência destral e compressão (transpressão) quando o ridge-push1 superasse o slab-pull2, e transcorrência sinistral e distensão (transtração) no caso oposto (RICCOMINI, 1989).Outros fatores como o aporte de sedimentos na Bacia de Santos, a presença de soerguimentos regionais de menor expressão e a ascensão do nível do mar após a glaciação do Pleistoceno terminal também podem ter causado 1 Conjunto de esforços responsáveis pela separação e pelo afastamento das placas em zonas de divergência (NEVES, 2011) 2À medida em que se afasta da crista meso-oceânica, a litosfera oceânica se esfria, se adensa e se espessa, tendendo a se afundar no manto sotoposto, formando as zonas de subducção e tendendo a puxar para baixo a parte superficial da placa da sua retaguarda (NEVES, 2011) 23 interferência no balanço desses esforços (RICCOMINI & HIRUMA, 2002 apud RICCOMINI et al., 2004). Em um estudo recente, Gianni et al. (in press) propõem que o principal fator de formação desta área foi devido à subducção da Placa de Nazca (Figuras 8 e 9), diferentemente de Riccomini (1989), que associa a abertura do Oceano Atlântico como fator principal. Figura 8: Comportamento deformacional em ambientes tectônicos colisionais na formação de riftes de antepaís e bacias transtencionais. Fonte: Gianni et al. (in press). Figura 9: Evolução tectônica da Bacia de Taubaté e sua relação com o campo de tensões Andino. Fonte: Gianni et al. (in press) 24 5. ESTRUTURAS E BACIAS TAFROGÊNICAS ASSOCIADAS AO RCSB As estruturas contidas no RCSB foram estudadas por diversos autores, com isso, existem compartimentações diferenciadas a esta feição. Riccomini et al. (2000) divide o Rift Continental do Sudeste do Brasil em seguimento ocidental, central e oriental, enquanto Zalán & Oliveira (2005) separa o sistema em quatro riftes: o Rift do Paraíba do Sul, o Rift Litorâneo, o Rift Ribeira e o Rift Marítimo (Figura 10). Para Hasui & Ponçano (1978) esta feição nomeia-se Sistema de Riftes Cenozoicos do Sudeste do Brasil, que em um sistema bacias tafrogênicas preenchidas por sedimentos aluviais, fluviais e ocasionalmente lacustres continental. Dentre essas as principais são as de Volta Redonda, Resende, Taubaté, São Paulo e Curitiba. As estruturas e bacias tafrogênicas relacionadas a esta feição serão tratadas nos subcapítulos seguintes, adotando a compartimentação de Ricomini et al. (2004) Figura 10: Mapa de distribuição dos quatro riftes do SRCSB: (A) Paraíba do Sul, (B) litorâneo, (C) Ribeira, e (D) Marítimo; de suas falhas limitantes, preenchimentos sedimentares, intrusões e lavas alcalinas, charneira cretácea das bacias de Santos/Campos e o Rio Paraíba do Sul. Fonte: Zalán e Oliveira, 2005. 25 5.1. SEGMENTO OCIDENTAL Segundo Riccomini et al. (2004) o segmento ocidental engloba a Bacia de Curitiba, (Formação Alexandra), os Grabens de Guaraqueçaba, Sete Barras e Cananéia (Formação Pariquera Açu). A seguir descreve-se sucintamente cada uma dessas estruturas. A Bacia de Curitiba consiste em uma depressão alongada com direção aproximada de N40º-50ºE, limita-se com duas grandes estruturas rúpteis regionais, a norte falhamento com direção NE-SW e a leste falhamento com direção N-S. Tais falhamentos alocam a Bacia de Curitiba em contato com os maciços graníticos da Serra do Mar (FORTIN, 1989; SALAMUNI, 1998). O Graben de Guaraqueçaba possui arcabouço ainda desconhecido na região da Baía de Paranaguá, devido à falta de informações de subsuperfície. Possivelmente está relacionado tectonicamente com o Graben de Cananéia, prolongando-se no seguimento sudoeste do mesmo (RICCOMINI et al., 2004). O Graben de Sete Barras constitui uma depressão alongada, com aproximadamente 19 km de comprimento, 5 km de largura e direção NE. As camadas sedimentares possuem até 200 metros, com mergulho do substrato para SE. Seu desenvolvimento ocorreu junto a falha de Cubatão, que cruza o Lineamento Guapiara durante movimentos tectônicos do Terciário (MELO et al., 1989; RICCOMINI et al., 2004). Situado na região litorânea entre Cananéia e Iguape, no estado de São Paulo, o Graben de Cananéia foi identificado através de levantamentos gravimétricos. Possui direção preferencial para NE, limita-se em seu flanco NW por falhamento normal, além de conter dois altos transversais que o subdividem em três compartimentos (SOUZA et al., 1996). 5.2. SEGMENTO CENTRAL O segmento central compreende as bacias de São Paulo, Taubaté, Resende e Volta Redonda, além das ocorrências menores de Bonfim e do Cafundó (RICCOMINI et al., 2000). Zalán & Oliveira (2005) denominam este segmento como Rifte do Paraíba do Sul, que se configura com todas as bacias 26 citadas anteriormente além das zonas de acomodação Arujá, Queluz (Figura 11) e Floriano-Barra Mansa. Figura 11: Visão 3D (O para E) da Zona de Acomodação de Queluz (Rifte do Paraíba do Sul). Fonte: Zalán e Oliveira, 2005. O Rifte do Paraíba do Sul encaixa completamente o curso do rio homônimo, e tem seu fluxo para o norte bruscamente capturado pelo Graben de Taubaté na altura de Guararema (SALVADOR, 1994; ZALÁN & OLIVEIRA, 2005). Estruturas relacionadas a quatro sistemas principais de lineamentos de direção ENE a E-W, N-NW, N-NE e W-NW, cortam o conjunto de sedimentos cenozoicos alojados nas bacias sedimentares do Rifte do Paraíba do Sul. Estes sistemas são caracterizados por falhas de movimentação predominantemente normal ou reversa, de componente direcional destral ou sinistral e situações intermediárias. Também é possível observar algumas falhas de empurrão, dobras e juntas (LIU, 1984; FRANCHITTO, 1987; RICCOMINI 1989; SALVADOR, 1994). 27 5.2.1 Bacia de São Paulo A Bacia de São Paulo se localiza na porção leste do estado de São Paulo, possui embasamento de rochas ígneas e metamórficas da Faixa Ribeira, com gênese relacionada a tectônica distensiva. As rochas sedimentares encontram- se distribuídas irregularmente numa faixa variando de 75 km a 25 km de largura, sua espessura máxima inferida é de 290 metros. A litoestratigrafia é constituída pelas formações Resende, Tremembé,São Paulo e Itaquaquecetuba (Figura 12) (TAKIYA, 1991; RICCOMINI,1989; RICCOMINI et al., 2004). Figura 12: Mapa geológico da Bacia de São Paulo e porção sudoeste da Bacia de Taubaté -1) embasamento pré-cambriano; 2) Formação Resende (sistema de leques aluviais proximais); 3) Formação Resende (sistema de leques aluviais medianos a distais associados a planície aluvial de rios entrelaçados); 4) Formação Tremembé 5) Formação São Paulo; 6) Formação Itaquaquecetuba; 7) sedimentos quaternários; 8 falhas cenozoicas, em parte reativadas do embasamento pré-cambriano. Fonte: Riccomini et al., 2004. 28 O contexto geotectônico evidência um retalhabalhamento por falhas pós- sedimentares, que gerou soerguimentos e abatimentos locais do seu substrato. O formato e distribuição das fácies sedimentares demonstra que a bacia era originalmente um hemigraben, controlado por falhas normais e reativadas ao longo das zonas de cisalhamento proterozoicas de Taxaquara e Jaguari (RICCOMINI et al., 2004; GURGUEIRA, 2013). 5.2.2 Bacia de Taubaté A Bacia de Taubaté é a maior depressão tectônica do RCSB, com 170 km de comprimento e 20 km de largura máxima, e uma área de aproximadamente 3200 km2. Dados geofísicos estimam uma espessura máxima em torno de 800 a 900 metros de profundidade (RICCOMINI, 1989; SAAD, 1991; FREITAS, 2007). A coluna litoestratigráfica da Bacia de Taubaté (Figura 13) é composta pela Formação Resende (leques aluviais-proximais e fluviais-distais), Formação Tremembé (lacustre), Formação São Paulo (fluvial meandrante). Existe outro pacote sedimentar de grande expressão, onde a deposição ocorreu posteriormente as anteriores, representada pela Formação Pindamonhangaba (fluvial), e pela Formação Itaquaquecetuba, atribuído a um sistema fluvial entrelaçado (RICCOMINI, 1989; GENARO, 2008). Dados geofísicos também possibilitaram a identificação de altos estruturais internos, que delimitam segmentos com alternância de depocentros ao longo do seu eixo Estes altos estruturais denominados de Caçapava e de Pindamonhangaba são considerados zonas de transferência, que subdividem a bacia em três compartimentos alongados segundo a direção NE. Os compartimentos foram nomeados de sudoeste para nordeste: São José dos Campos, Taubaté e Aparecida (Figura 14) (RICCOMINI, 1989; SAAD, 1991; FERNANDES & CHANG, 2001; FREITAS, 2007). A bacia foi intensamente retalhada por falhas pós-sedimentares que causaram soerguimentos e abatimentos locais de seu substrato (RICCOMINI, 1989). 29 Figura 13: Coluna litoestratigráfica da Bacia de Taubaté e eventos tectônicos cenozoicos. Fonte: Genaro, 2008 (modificada de Riccomini, 1989). Figura 14: Mapa geológico da Bacia de Taubaté. 1) embasamento pré-cambriano; 2) Formação Resende; 3) Formação Resende; 4) Formação Tremembé; 5) Formação São Paulo; 6) Formação Pindamonhangaba; 7) sedimentos quaternários; 8) falhas cenozoicas; 9) eixos de dobras principais. Fonte: Freitas, 2007 (modificada de Riccomini, 1989). 30 5.2.3 Bacia de Resende A Bacia de Resende consiste em uma depressão alongada com cerca de 43 km de comprimento e média de largura entre 5 e 6 km, uma área de aproximadamente 230 Km2, e direção preferencial de ENE (RICCOMINI et al., 2004). Segundo Ramos (2003) a litoestratigrafia da Bacia de Resende é composta pelas formações Quatis, Resende e Floriano. Dados de sondagem mostram espessura sedimentar superior a 220 metros (MELO et al.,1983; RICCOMINI, 1989; RICCOMINI et al., 2004; FREITAS, 2007). Estruturalmente a Bacia de Resende possui compartimentação transversal, atribuída ao Alto Estrutural de Resende de direção NE. Ele atuou como fonte de sedimentos fanglomeráticos, preservando remanescentes de sedimentos paleogênicos em seu topo (MELO et al.,1983; RICCOMINI, 1989; RICCOMINI et al., 2004; FREITAS, 2007). De acordo com Riccomini et al. (2004) a Bacia de Resende pode ser caracterizada como um hemigraben, em razão da disposição das falhas mestras de direção ENE (reativadas do embasamento), ao longo de sua borda norte e pela inclinação do seu assoalho no rumo NNW. 5.2.4 Bacia de Volta Redonda A Bacia de Volta Redonda situa-se na porção ocidental do estado do Rio de Janeiro. Consiste em uma depressão tectônica estreita e alongada de direção principal ENE (SANSON et al., 2006; NEGRÃO et al., 2015). Negrão et al. (2015) caracterizou na Bacia de Volta Redonda três depocentros principais com registro sedimentar paleogênico e dois depocentros com registro aflorante essencialmente quaternário, além de diversas ocorrências descontínuas de idade paleogênica (Figura 15). Esses setores são definidos por complexos vinculados ao estágio rifte, e amplamente reativadas por estruturas neotectônicas. O Graben de Casa de Pedra é o mais complexo depocentro paleogênico, ele além de conter registro aluvial mais complexo da bacia, inclui também em 31 seu preenchimento as únicas manifestações vulcânicas eocênicas reconhecidas no segmento central do RCSB (NEGRÃO et al., 2015). O Graben de Dorândia está situado ao leste do Graben de Casa de Pedra, este graben possui preenchimento essencialmente aluvial. Já na porção oeste da bacia, está localizado o Graben de Colônia Santo Antônio, considerado a menor feição com registro aluvial paleogênico contínuo (NEGRÃO et al., 2015). : Figura 15: Mapa geológico do cenozoico da região da bacia de Volta Redonda exibindo seus diversos domínios, além dos principais sistemas de falhas responsáveis pela geração e deformação deste setor do RSCB. Fonte: Negrão et al., 2015. 5.3. SEGMENTO ORIENTAL No segmento oriental se insere o Graben da Guanabara, onde estão alojadas as Bacias do Macacu e Itaboraí, além do Graben de Barra de São João (RICCOMINI et al., 2004). Segundo Ferrari (2001) o Graben da Guanabara abrange toda a área de relevo deprimido que se estende da Baía de Sepetiba (W), até o distrito de São João (E) no estado do Rio de Janeiro. Encontra-se sobre rochas pré-cambrianas principalmente gnaisses, migmatitos e granitos. Possui uma evolução complexa, 32 possivelmente relacionada a interação de esforços de borda com esforços locais, e recorrência de anomalias térmicas geradoras de soerguimento. Zalán (2004) subdividiu o Graben da Guanabara nos sub-grabens da Baía, Guandu-Sepetiba e Paraty. Estes sub-grabens estão separados pela Zona de Transferência Tinguá-Tijuca, e pela Zona de Acomodação de Ilha Grande- Sepetiba, conforme a Figura 16. Figura 16: Imagem de satélite com a interpretação estrutural detalhada do Graben da Guanabara. Fonte: Zalán e Oliveira, 2005. A Bacia do Macacu (Figura 17) situa-se junto ao limite NE da Baía de Guanabara, estende-se na direção ENE, com aproximadamente 30 km de comprimento e 20 km de largura. Ao longo da borda sul da bacia estão as maiores espessuras de sedimentos, configurando-a como um hemigraben com mergulho de assoalho para SSE. Também são reconhecidos rejeitos verticais de menor monta ao longo da falha, que limita a borda norte da bacia (FERRARI, 2001). A tectônica deformadora visível em quase todos os afloramentos afetou os depósitos da Formação Macacu. Essa tectônica deformadora é caracteriza por falhas normais mesoscópicas, que foram identificadas a partir de parâmetros estratigráficos. Foram realizadas analises geométricas, cinemáticas e das relações estratigráficas das falhas que afetam os depósitos da Formação Macacu, elas permitiram a separação de três grupos distintos gerados em 33 diferentes eventos de extensão: Extensão NW-SE; ExtensãoNE-SW e; e extensão E-W a WNW-ESE (FERRARI, 2001; RICCOMINI et al., 2004). Figura 17: Mapa geológico da Bacia do Macacu: 1) embasamento pré-cambriano; 2) plugas e stocks de rochas alcalinas mesozoico cenozoicas; 3) Formação Macacu, Membro Porto das Caixas (depósitos de leques e planícies aluviais); 4) Formação Macacu, Membro Rio Vargem (depósitos lacustres); 5) sedimentos quaternários; 6) falhas (definida – traço contínuo, inferida - tracejado). Fonte: Zalán e Oliveira, 2005. Ferrari (2001) identificou paleotensões a partir de falhas e microfalhas que afetam os sedimentos da Formação Macacu. A idade dos eventos de extensão pode ser obtida pela cronologia relativa entre os três grupos de falhas citado no parágrafo anterior. As falhas de direção NE-SW são seccionadas pelas falhas de direção NW-SE, e as falhas de direção em torno de N-S afetam o colúvio, indicando que a extensão NW-SE é a mais antiga, e a extensão E-W a WNW- ESE é a mais nova. Já a Bacia do Itaboraí constitui um pequeno hemigraben com cerca de 1500 metros de comprimento e 500 metros de largura, que está encravado em terrenos granito-gnáissicos proterozoicos. (RICCOMINI et al., 2004) A bacia alonga-se na direção ENE, sendo limitada ao sul pela Falha de São José, possui espessura máxima de sedimentos de 125 metros, sendo esses carbonáticos (RODRIGUES & CUNHA, 1978; FERRARI, 2001). Segundo Riccomini et al. (2004) a Bacia do Itaboraí registra os primeiros estágios de formação do RSCB no Paleoceno, tendo sua instalação controlada 34 pela atividade da Falha de São José, de direção ENE, sendo está reativada do embasamento. Ferrari (2001) diz que essa bacia possui evidências de estiramento mais intenso comparada a outras bacias do RCSB, isso é evidenciado pelo mergulho de até 35° das camadas. Também são evidenciadas diferentes taxas de estiramento pela variação do mergulho das camadas, sendo essas taxas associadas a compartimentação da bacia em dois blocos estruturalmente distintos, que são separados por uma falha transversal. Ferrari (2001) em seu trabalho propôs uma síntese dos eventos deformacionais da Bacia do Itaboraí (Figura 18), essa síntese ainda inclui o novo contorno da bacia. O Graben da Barra de São João é uma depressão assimétrica de direção NE, com cerca de 20 km de largura e 4 km de comprimento, localizado na plataforma de Cabo Frio. (RICCOMINI et al., 2004). Para Mohriak e Barros (1990) a geometria crustal do graben de Barra de São João é caracterizada por notável assimetria, com depocentros locais, controlado por falhamento normal antitético na borda sul. Dados obtidos de seções sísmicas transversais ao eixo da bacia, mostram duas falhas principais delimitando o graben. A primeira falha que fica na borda sul, possui maior rejeito e indicações de rotação em bloco das camadas sedimentares basais. A segunda falha na borda norte, delimita um graben interior, mais simétrico (MOHRIAK & BARROS, 1990; RICCOMINI et al., 2004). Segundo Mohriak e Barros (1990) dados de subsuperfície sugerem, como mecanismo formador do Graben da Barra de São João, uma distensão crustal atuante no Terciário, com depocentros locais em blocos compartimentados por zonas de transferência, nas quais haveria a inversão de polaridade dos falhamentos extensionais. 35 Figura 18: Mapa estrutural da Bacia do Itaboraí, com a incorporação de dados publicados, dados novos. E também o novo contorno da bacia, definido a partir da interpretação dos perfis de sondagem da Companhia Nacional de Cimento Portland. Fonte: Ferrari, 2001. 36 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A área que abrange o Rift Continental do Sudeste do Brasil preserva uma grande variedade de eventos que se sucederam desde o Neoproterozoico até os dias atuais. Esses eventos variaram em magnitude, ambientes tectônicos, sistema tensional e esse conjunto de fatores geraram as mais distintas litologias e estruturas. Do Neoproterozoico ao Siluriano, formou-se nessa região um conjunto de cinturões orogênicos, marcado por espessamento crustal, regime compressivo e sistema tensional dúctil-rúptil a dúctil. Foi nesse período que se formaram grande parte das rochas do embasamento cristalino do RCSB, caracterizadas pela alta deformação, magmatismo anorogênico e metamorfismo. Esse embasamento possui alta heterogeneidade litológica, estrutural e em propriedades físicas, constituindo-se basicamente de filitos, xistos, gnaisses de baixo até alto grau, migmatitos, milonitos e granitos anorogênicos não deformados sob o sistema dúctil. No Período Siluriano até o Triássico Superior, com a consolidação do Supercontinente Pangea, houve uma diminuição na intensidade dos esforços compressivos. A estabilidade tectônica sob uma área de crosta espessa e alto nível topográfico favoreceu a exumação das rochas de zonas mais profundas, devido aos processos de erosão intensa e compensação isostática por soerguimento. A compensação isostática gera um alívio de pressão na astenosfera, o que pode causar uma distensão regional no antigo orógeno. Durante a transição do Jurássico Superior e o Cretáceo, houve um aumento dos esforços distensivos devido ao processo de ruptura do Gondwana e posterior abertura do Oceano Atlântico. Esse processo afetou como um todo a área do RCSB, pois foi o fator determinante para a sua gênese. Ele causou a reativação de antigas estruturas do embasamento, o abatimento de blocos com formação de hemigrabens e o magmatismo alcalino. A formação da depressão principal, formada por esforços extencionais de direção NNW-SSE, dá-se durante o Paleógeno, evidenciado pela deposição de rochas constituídas de sedimentos interpretados como sendo de leques aluviais proximais de diferentes formações em diferentes bacias. 37 A partir do Paleógeno, diversos eventos deformadores em sistema rúptil atuaram tanto sob as rochas do embasamento cristalino, quanto as rochas sedimentares depositadas até recentemente. Esses eventos foram responsáveis pela compartimentação do rifte principal em diversos riftes e bacias menores. Um importante evento deformador que merece destaque foi a inversão/reativação durante os estágios compressional para transpressional no Neógeno. Diversos autores apontam que a geometria, orientação e deformação interna desses riftes menores devem-se as propriedades físicas das diferentes rochas do embasamento Pré-Cambriano em cada setor do rifte principal. Um exemplo, as bacias de Taubaté, Volta Redonda e Resende, as principais do RCSB, foram nucleadas em torno de zonas de cisalhamento dúcteis de direção NE-SW de idade Pré-Cambriana da Faixa Ribeira. Existem basicamente dois modelos para explicar a origem das forças tectônicas que geraram o sistema de riftes. Um deles, atribui a responsabilidade à contínua evolução da margem continental e do Oceano Atlântico, sobretudo a subsidência isostática da Bacia de Santos. O outro modelo explica que o RCSB, assim como quase toda a Plataforma Sul-Americana, estariam sob um regime compressivo, causando a reativação inversa das falhas. Isso se deve a convergência dos esforços gerados pela subducção da Placa de Nazca sob a Placa Sul-Americana a oeste, e a geração de nova crosta oceânica na margem leste da Placa Sul-Americana. A área do RCSB, ao se considerar todas as unidades litológicas presentes, registram uma infinidade de estruturas de regime dúctil, como dobras, formação de milonitos e migmatitos, além de estruturas de sistema rúptil, como falhas normais e inversas, falhas de empurrão, juntas e fraturas, entre outras. Existem evidências da atuação de esforços compressivos de direção E-W até aatualidade, gerando estruturas sobretudo rúpteis. Ao se concluir esse trabalho, pode-se compreender a complexa extensão dos processos aos quais essa região esteve submetida ao longo do tempo geológico em diferentes ambientes tectônicos, sob diferentes regimes de tensão e em direções distintas, formando uma grande diversidade litológica e estrutural. 38 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, A.P.B. 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