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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão. Coordenação do Curso de Engenharia Química COEQ APOSTILA DE CENTRIFUGAÇÃO DISCIPLINA: OPERAÇÕES UNITÁRIAS I AUTOR: PROFESSOR DR. HARVEY ALEXANDER VILLA VÉLEZ COORDENAÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA QUÍMICA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIAS UNIVERSIDADE FEDERAL DE MARANHÃO SÃO LUÍS 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão. Coordenação do Curso de Engenharia Química 1 | P á g i n a COEQ 1. Centrifugação As centrifugas do tipo de rotor maciço, consistem em dispositivos de sedimentação que utilizam um campo centrífugo em lugar de um campo gravitatório para causar a separação dos componentes em um sistema líquido-sólido ou líquido- líquido. O campo centrífugo origina que as partículas da fase pesada “desçam” através da fase ligeira, distanciando-se do centro de rotação. Essa ação é exatamente a que se apresenta baixo a influencia do campo gravitacional na classificação. 2. Classificação das centrífugas Existem três tipos principais de centrifugas que se diferenciam pela força centrífuga desenvolvida, o rendimento normalmente obtido e a concentração de sólidos na qual podem ser operadas. Tabela 1. Características principais das centrifugas. Centrífuga de rotor tubular Centrífuga de rotor de discos Centrifuga de rotor maciço Gira em altas velocidades: desenvolvem forças na ordem de 13000 vezes a força da gravidade. Operam em vazões de 190 – 1890 L/h. Ideal para pequenas concentrações de sólidos. Usado para a separação de sistemas líquido- líquido principalmente. Desenvolvem forças na ordem de 7000 vezes a força da gravidade. Operam em vazões altas, até os 19000 L/h. Ideal para suspensões moderadas de sólidos. Usado para a separação de sistemas líquido- líquido ou líquido- sólido. Desenhadas para operação de separação com sólidos. Operam em vazões de 50 ton/h. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão. Coordenação do Curso de Engenharia Química 2 | P á g i n a COEQ Figura 1. Rendimento de um ciclone. 3. Teoria centrifuga e cálculos 3.1. Proporção de separação Para este tipo de cálculo, primeiro será realizado um balanço básico das forças que atuam sobre uma partícula que cai em um campo de força centrífuga, através da equação: 2 2 2 s D s C v Sdv r d m (1) Na separação de fases por sedimentação, seja em um campo gravitacional ou centrífugo, o grau de separação está limitado pela velocidade de queda das partículas menores presentes. Na maioria dos casos, estas partículas caem a velocidades suficientemente baixas para que exista um fluxo laminar e um coeficiente de atrito: Re 24 DC N (2) UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão. Coordenação do Curso de Engenharia Química 3 | P á g i n a COEQ Considerando que S [m 2 ] é área superficial de uma esfera com diâmetro Dp [m] e m a massa da partícula esférica [kg], podemos obter a seguinte relação: 3 2 46 6 4 p s s ps p D DVm S S D (3) Assim, substituindo as Eqs. (2) e (3) na Eq. (1), temos: 2 2 18s s s p dv v r d D (4) Sendo que as partículas se movimentam radialmente em um campo centrífugo, a intensidade do campo varia com sua posição, portanto, a velocidade terminal das partículas é uma função da sua posição radial. Nesse desenvolvimento, uma partícula em qualquer posição considera-se que se movimenta a uma velocidade terminal exclusiva característica da sua posição. Assim, para qualquer posição, dv/dθ = 0. Entretanto, para qualquer instante no movimento de uma simples partícula, dv/dr é positiva e, considerando uma posição particular, dv/dθ = 0 a Eq. (4) se converte em: 2 2 18 s p R r D v (5) onde: vR – é a velocidade terminal de queda de partículas esféricas de diâmetro Dp, com um raio r, em um campo centrífugo a uma velocidade angular ω. Além da velocidade podemos obter a distância radial percorrida pela partícula, multiplicando a Eq. (5) pelo tempo diferencial (dθ): 2 2 18 s p R r D v d dr d (6) Integrando Eq. (6): 2 2 18 s pDdr d r (7) 2 2 2 1 ln 18 s pDr r (8) UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão. Coordenação do Curso de Engenharia Química 4 | P á g i n a COEQ Se θ é o tempo da partícula na centrifuga, representada pela relação: V Q (9) onde: V – é o volume do material contido na centrífuga [m3]; Q – é o gasto volumétrico de alimentação na centrífuga. Substituindo Eq. (9) em Eq. (8), tem-se: 2 2 2 1 ln 18 s pDr V r Q (10) O diâmetro da partícula na Eq. (10) é o de uma partícula onde seu raio varia de r1 até r2 durante seu tempo de estadia na centrífuga. Talvez resulte mais fácil compreender o significado desta equação, relacionando-a com a equação paralela válida quando a camada líquida dentro da centrífuga é muito fina comparada ao raio. Neste caso, o campo centrífugo considera-se constante e a Eq. (6) pode ser escrita diretamente em termos do tempo de estadia (V/Q). 2 2 18 s p R r D V v x Q (11) onde: x – é a distância radial percorrida por uma partícula de diâmetro Dp no tempo de estadia disponível dentro da centrífuga. Se tomarmos x como a metade da espessura da camada líquida [(r1-r2)/2], a metade das partículas de certo diâmetro D´p se sedimentarão sobre a parede, enquanto a outra metade delas permanecerá em suspensão quando o fluido sair da centrífuga. D´p é o “diâmetro crítico”. As partículas com um diâmetro maior que D´p se sedimentarão predominantemente da fase fluida e as partículas de diâmetro menor D´p permaneceram predominantemente na solução. Resolvendo a Eq. (11) para D´p e substituindo [(r1-r2)/2 por x, é obtida a seguinte equação: 2 ' 2 1 2 9 p p s QD r r D V r (12) onde: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão. Coordenação do Curso de Engenharia Química 5 | P á g i n a COEQ D´p – é p diâmetro crítico da partícula; r2-r1 – é a espessura da camada líquida. Comparando a Eq. (10) observa-se que para o caso em que a espessura da camada líquida é suficientemente grande, para que a variação do campo centrífugo com o raio seja considerada, o valor efetivo deve ser: 2 1 2 1 2ln ef r r r r r (13) onde: (r2-r1/r)ef – é o valor efetivo que deve usar-se na Eq. (12) quando r2-r1, é a espessura da camada líquida na centrífuga, não é desprezível comparado, seja com r1 ou comr2. Partindo da equação da lei de Stokes (Eq. (14)) e da Eq. (12), pode-se obter uma solução características muito útil na centrifuga, resolvendo-se para Q, como indicado na Eq. (15). 2 18 s p t gD v (14) onde: vt – é a velocidade de sedimentação terminal de uma partícula em um campo gravitacional. 2 2 2 1 2 9 s p t gD V r Q v g r r (15) onde: Σ – é uma característica da centrífuga e não do sistema a ser separado. Este fator pode ser usando como meio de comparação entre centrífugas, o qual representa a superfície da seção transversal de um sedimentador, que separasse partículas do mesmo diâmetro similar à centrifuga, quando suas proporções volumétricas são iguais. Assim, este termo pode ser usado para comparar também duas centrífugas que desenvolvem a mesma função: 1 2 1 2 Q Q (16) UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão. Coordenação do Curso de Engenharia Química 6 | P á g i n a COEQ A quantidade pode ser determinada para centrífugas comerciais, a pesar de que em certos casos sua determinação requer métodos de aproximação. Para a centrífuga de rotor tubular, aplicando a Eq. (13), obtém-se: 2 22 2 1 2 2 2 1 ln r rl rg r (17) onde: l – é o comprimento do rotor [m]. Já para a centrífuga de discos Ambler, tem-se: 3 3 22 12 3 tan n r r g (18) onde: n – é o número de espaços entre os discos na seção; r2, r1 – são os raios exterior e interior na seção de discos, respectivamente. Ω – é o meio ângulo cônico. No desenvolvimento das Eqs. (1) a (18) foi definido Dp como diâmetro da partícula, com a condição de que a partícula deve ser sólida. Se a separação é líquido- líquido, o mecanismo não é diferente do que as separações sólido-líquido. Neste caso a migração é de gotas de líquido, em vez de partículas de sólido e, esta migração leva-se através de uma fase líquida que se une com a outra fase, em vez de ser uma migração através de uma fase fluida até a parede. A proporção de migração continua sendo mensurável através da Eq. (12) modificada apropriadamente para a centrífuga usada. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão. Coordenação do Curso de Engenharia Química 7 | P á g i n a COEQ Tabela 2. Rendimento comparativo de centrífugas. Equipamento Características Valores de Σ [pés2] Calculados por geometria Dados experimentais de sistemas ideais de clarificação Extrapolação em sistemas comerciais (provas com supercentrífugas) Supercentrífuga de laboratório (rotor tubular de 1 3/4 " diâmetro interno x 7 1/4" de comprimento) a 10000 rpm 582 582 582* a 16000 rpm 1485 1485 a 23000 rpm 3070 3070 1290 a 50000 rpm 14520 14520 não se usa Supercentrífuga No. 16 (rotor tubular de 4 1/8" diâmetro interno x 29" de comprimento) a 15000 rpm 27150 27150 27150 Centrífuga de disco No. 2, 1 7/8" r1 x 5 3/4" r2 nos discos 52 discos, 35o ângulo médio, 6000 rpm 178800 98000 89400 - 178800 50 discos, 45o ângulo médio. 134000 72600 67900 - 134000 Super-D-cantor (centrífuga de rotor maciço) PN-14 (rotor cônico), 3250 rpm (D=14" - 8", L=23") 4750 2950 2950* PY-14 (rotor cônico), 3250 rpm (D=14", L=23") 8940 5980 5980* Fonte: Foust et al., (1975). *Para propostas de produção relativamente baixas. 3.2. Colocação dos escorregadores de saída Na separação líquido-líquido, a posição dos escorregadores de saída resulta mais importante que nas separações sólido-líquido, já que estes além de controlar a retenção volumétrica na centrifuga, determinam o grau de separação obtido. Na Figura 2 mostra- UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão. Coordenação do Curso de Engenharia Química 8 | P á g i n a COEQ se uma situação física na disposição de uma centrífuga para clarificar uma fase líquida, dos sólidos: Figura 2. Disposição dos escorregadores em uma centrífuga de rotor tubular. (a) centrífuga de rotor tubular adequado para clarificar um líquido com sólidos em suspensão. (b) centrífuga de rotor tubular adequada para a separação das duas fases líquidas. Na Figura 5, as distâncias têm os seguintes significados: r1 – é o raio da parte superior da camada do líquido ligeiro; r2 – é da interfase líquido-líquido; r3 – é o raio do canto exterior do escorregamento; r4 – é o raio da superfície do líquido pesado, corrente abaixo do escorregamento. A localização da interfase fixa-se por um balanço de forças que compreendem as cargas hidráulicas das duas capas líquidas. Expressando essas forças como pressões, obtém-se: 2 22 2 f f f i i i r r r p r r r c c r rl dr DdF a dm dP A g A rl g (19) Onde o caso geral utiliza-se quando a camada líquida se expande desde qualquer raio inicial (ri) até um raio final (rf). Simplificando Eq. (19), temos: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão. Coordenação do Curso de Engenharia Química 9 | P á g i n a COEQ 2 f i r r c r dr P g (20) Integrando-a, é obtida a Eq. (21): 2 2 2 2 1 2 c P r r g (21) Aplicando a Eq. (21) à situação física da Figura 2, onde a pressão deve ser a mesma em cada lado da interfase líquido-líquido em r2, tem-se: 2 2 2 2 2 2 2 4 2 1 2 2 h l c c r r r r g g (22) ou 2 2 2 4 2 2 2 1 l h r r r r (23) onde: ρl – é a densidade da fase ligeira [kg/m 3 ]; ρh – é a densidade da fase pesada [kg/m 3 ]. Com o objetivo de que as centrífugas separem as duas fases líquidas, a interfase líquido-líquido deverá localizar-se em um raio menor a r3, e maior do que na parte superior ao escorregamento (r4). 4. Referências bibliográficas FOUST, A. S.; WENZEL, L. A.; CLUMP, C. W.; MAUS, L.; ANDERSEN, L. B. Principios de operaciones unitarias. 7 ed. México: C.E.C.S.A, 1975. CREMASCO, M. A. Operações unitárias em sistemas particulados e fluidomecânicos. 2. Ed. São Paulo: Blucher, 2014. GEANKOPLIS, C. J. Processos de transporte e operações unitárias. 3. Ed. Cidade de México: Companhia Editorial Continental, 1998. 993 p. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão. Coordenação do Curso de Engenharia Química 10 | P á g i n a COEQ McCABE, L. W.; SMITH, J. C.; HARRIOT, P. Unit operations of chemical engineering. 5. Ed. New York: McGraw-Hill, 1993. 1. Centrifugação 2. Classificação das centrífugas 3. Teoria centrifuga e cálculos 3.1. Proporção de separação 3.2. Colocação dos escorregadores de saída 4. Referências bibliográficas