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Introdução à Mitologia Universal

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Índice 
 
 Pág. 
Mitologia Universal 01 
 
 Mito 01 
 Mitologia 01 
 
Mitos Teogônicos 02 
 
Mitos Cosmogônicos 03 
 
Mitos Escatoló gicos 04 
 
Mitologia Grega 05 
 
Mitologia Romana 07 
 
Mitologia Egípcia 09 
 
Mitologia Chinesa 16 
 
Mitologia Indiana 23 
 
Mitologias Pré-Colombianas 30 
 
O Segredo dos Astecas 32 
 
Incas – Misticismo e Fé 37 
 
Os Mayas 44 
 
Vocabulário Maya 53 
 
Mitologia Japonesa 54 
 
 
 
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 1 
MITOLOGIA UNIVERSAL 
MITO 
s.m. (Do gr. mythos, palavra expressa, discurso, fá bula, pelo b. lat. mythus.) 1. Relato ou 
narrativa de origem remota e significação simbó lica, que tem como personagens deuses, 
seres sobrenaturais, fantasmas coletivos, etc. 2. Narrativa de tempos fabulosos ou 
heró icos; lenda. 
MITOLOGIA 
s.f. (Do gr. mythologia.) 1. Estudo sistemá tico dos mitos. 2. Conjunto de mitos de uma 
determinada cultura transmitido pela tradição (oral ou escrita). 
Presentes em todas as culturas, os Mitos situam-se entre a Razã o e a Fé, mas sã o considerados 
sagrados. Os principais tipos de mito referem-se à origem dos deuses, do mundo e ao fim das 
coisas. Distinguem-se mitos que contam o nascimento dos deuses (Teogonia), mitos que 
contam a criaç ã o do mundo (Cosmogonia), mitos que explicam o destino do homem após a 
morte (Escatologia) e outros. Segundo alguns especialistas, os mitos encarnam fenômenos 
fundamentais da vida: o Amor, a Morte, o Tempo, etc., e certos fenômenos, como as 
Florestas, as Tempestades, têm sempre um mesmo valor simbólico, seja qual for a civilizaç ã o 
considerada. 
 
 
 
Vê nus, Sátiro e Cúpido 
 
 
 
 
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 2 
MITOS TEOGÔ NICOS 
 
Em muitas mitologias, delineiam-se hierarquias 
de deuses, cada uma com um ou mais deuses 
supremos. A supremacia pode ser partilhada 
pelos membros de um casal, ou ser atribuída 
simultaneamente a dois ou trê s deuses distintos. 
Pode também variar com o tempo, segundo 
circunstâncias históricas, como por exemplo o 
domínio de um povo sobre outro ou o 
predomínio de determinados interesses e 
atividades (de tipo agrícola, guerreiro etc.). Sã o 
freqüentes os relatos de deuses supremos, por 
vezes identificados como criadores originais do 
mundo, que a seguir ficam inativos e deixam o 
governo a cargo de outro deus ou deuses. Em tais 
casos, a supremacia significa perfeiç ã o, 
autonomia, onipotê ncia (relativa), mas nã o 
unicidade, como é o caso nas religiões monoteístas. Na Mitologia Grega, segundo a 
apresentaç ã o de Homero, Zeus é o "pai dos deuses e dos homens". Essa expressã o nã o 
significa que ele seja um deus criador, mas sim representante da figura do patriarca familiar. 
Os trê s grandes deuses escandinavos que ocupavam posiç ã o superior no grande templo de 
Uppsala eram Odin, Thor e Frey. Segundo o historiador das religiões Georges Dumézil, eles 
representavam as trê s funções da sociedade indo-européia: autoridade, poder e fecundidade. 
Odin era o deus da suprema autoridade cósmica, pai universal, rei dos deuses e senhor do 
Valhalla (a morada final dos guerreiros mortos em combate). Thor era o deus guerreiro e do 
trovã o, correspondente ao deus védico Indra. É representado como um gigante de barba ruiva, 
e os mitos narram seus festejos pela vitória sobre as forças do caos. Durante o período das 
migrações e do florescimento dos viquingues (entre o século IX e XI da era cristã , 
aproximadamente), em que predominava o ideal guerreiro, a primazia sobre os deuses era 
atribuída a Thor. Frey era o deus da fecundidade, representado com um falo de proporções 
exageradas. Governava a chuva e o brilho do sol e, conseqüentemente, o crescimento das 
plantas e as colheitas. No panteã o hinduísta, há uma entidade divina tríplice - a Trimurti - 
formada pelos deuses Brahma, Vishnu e Shiva, criador, conservador e destruidor do universo, 
respectivamente. Em certos aspectos, Brahma é um deus personificado; em outros, é um 
princípio impessoal e infinito. Vishnu é o deus social por excelê ncia e destruidor daqueles que 
ameaçam a boa ordem, enquanto Shiva representa a selvageria indomada. O interesse pelas 
próprias origens motivou a formaç ã o de mitos sobre os grandes ancestrais dos povos ou 
fundadores da sociedade. Na Mitologia Asteca, Huitzilopochtli conduziu seu povo até o lago 
Texcoco, onde se fundou a Cidade do México. A inimizade entre Tezcatlipoca e Quetzalcóatl 
representa a luta entre o povo asteca e o tolteca, e, quando este foi derrotado, o deus dos 
vencidos passou a figurar em lugar preeminente do panteã o asteca. A tendê ncia a incorporar 
os deuses dos povos conquistados é comum entre os povos politeístas. 
 
 
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 3 
MITOS COSMOGÔ NICOS 
Dentre as grandes interrogações que o homem permanece incapaz de responder, apesar de 
todo o conhecimento experimental e analítico, figura, em todas as mitologias, a da origem da 
humanidade e do mundo que habita. É como resposta a essa interrogaç ã o que surgem os 
Mitos Cosmogô nicos. As explicações oferecidas por esses mitos podem ser reduzidas a 
alguns poucos modelos, elaborados por diferentes povos. É comum encontrar nas várias 
mitologias a figura de um criador, um demiurgo que, por ato próprio e autô nomo, estabeleceu 
ou fundou o mundo em sua forma atual. Os mitos desse tipo costumam mencionar uma 
matéria preexistente a toda a criaç ã o: o oceano, o caos (segundo Hesíodo) ou a terra (nas 
Mitologias Africanas). A criaç ã o ex Nihilo (a partir do nada, sem matéria preexistente) já 
reflete algum tipo de elaboraç ã o filosófica ou racional. A cosmogonia chinesa, por exemplo, 
atribui a origem de todas as coisas a Pan Gu, que produziu as duas forças ou princípios 
universais do Yin e Yang, cujas combinações formam os quatro emblemas e os oito trigramas 
e, por fim, todos os elementos. No hinduísmo, o Rigveda descreve graficamente o nada 
original, no qual respirou o Um, nascido do poder do calor. 
A água é o elemento primordial mais freqüente das cosmogonias, sobretudo nas Mitologias 
Asiáticas e da América do Norte. A consolidaç ã o da terra se faz pela aç ã o de um 
intermediário (espírito ou animal) que a retira do fundo da água e introduz no mundo um 
elemento de desordem ou de mal. A criaç ã o a partir do nada, unicamente pela palavra de 
Deus, aparece claramente no livro bíblico do Gê nesis (associado, por sua vez, as Mitologias 
Mesopotâmicas) e em cosmogonias polinésias. Outras cosmogonias apresentam a origem 
divina do cosmo como emanaç ã o: por exemplo, a partir do suor, do sêmen ou do sangue de 
um deus. Outro mito cosmogô nico muito difundido (no Pacífico, na Europa e no sul da Á sia) 
é o do ovo primordial. Na tradiç ã o hindu, a oraç ã o do mundo é simbolizada pela quebra de 
um ovo. Alguns ciclos cosmogô nicos se referem a um par ou casal primevo, geralmente o céu 
e a terra, que tiveram de ser separados violentamente para tornar possível a vida no espaço 
intermediário. Essa separaç ã o dolorosa se verifica em outros modelos, nos quais se menciona 
um sacrifício inicial ou uma batalha entre seres superiores, de cujos membros esquartejados 
brotam o cosmo e a vida terrestre. Na grande lenda babilô nica da criaç ã o, o Enuma Elish, 
Tiamat, personificaç ã o do mar, é morto por Marduk, o deusprotetor da Babilô nia, que entã o 
constrói o universo a partir dos despojos daquele e cria os homens com o sangue de Kingu, 
outro deus rebelde. O "hino do homem primordial", nos Vedas, fala de Prajapati - o senhor 
dos seres, mais tarde identificado com o deus Brahma - como o homem cósmico cujo corpo é 
sacrificado e do qual surge a variedade do mundo das formas. Outros mitos, por fim, 
descrevem o surgimento da humanidade a partir das profundezas da terra (mitologia dos 
índios Zuni, da América do Norte) ou a partir de uma rocha ou de alguma árvore de 
importância cultural. 
 
 
 
 
 
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 4 
MITOS ESCATOLÓ GICOS 
Ao lado da preocupaç ã o com o enigma da 
origem, figura para o homem, como grande 
mistério, a morte individual, associada ao temor 
da extinç ã o de todo o povo e mesmo do 
desaparecimento do universo inteiro. Para a 
Mitologia, a morte nã o aparece como fato 
natural, mas como elemento estranho à criaç ã o 
original, algo que necessita de uma justificaç ã o, 
de uma soluç ã o em outro plano de realidade. 
Trê s explicações predominam nas diversas 
mitologias. Há mitos que falam de um tempo 
primordial em que a morte nã o existia e contam 
como ela sobreveio por efeito de um erro, de castigo ou para evitar a superpopulaç ã o. Outros 
mitos, geralmente presentes em tradições culturais mais elaboradas, fazem referê ncia à 
condiç ã o original do homem como ser imortal e habitante de um paraíso terreno, e apresentam 
a perda dessa condiç ã o e a expulsã o do paraíso como tragédia especificamente humana. Por 
fim, há o modelo mítico que vincula a morte à sexualidade e ao nascimento, analogamente às 
etapas do ciclo de vida vegetal, e que talvez tenha surgido em povos agrícolas. 
A idéia do julgamento dos mortos, sua absolviç ã o ou condenaç ã o predominou no antigo 
Egito. Conforme descrito no papiro Ani, o coraç ã o do morto era levado à presença de Osíris 
num dos pratos de uma balança, para que fosse pesado em comparaç ã o com o que se 
considera justo e verdadeiro: uma pena do deus Maat (simbolizado pela figura de um 
avestruz) era posta no outro prato da balança. Os Hebreus, ao contrário, nã o tinham, até o 
século II a.C., uma idéia clara a respeito de um julgamento último e seu correspondente 
castigo ou recompensa: os escritos do Antigo Testamento mencionam apenas uma existê ncia 
ultraterrena num mundo de penumbra (sheol). Similarmente, o pensamento mítico grego, 
conforme explicitado por Homero, concebia a morte como uma desintegraç ã o, da qual apenas 
uma espécie de fantasma (eidolon) descia ao Hades, onde levava uma existê ncia infeliz e 
inconsciente. Já os mistérios de Elê usis, ao contrário, prometiam aos iniciados a felicidade 
supraterrena, enquanto a filosofia platô nica e o orfismo (seguindo, provavelmente, tendê ncias 
orientais) anunciavam a reencarnaç ã o. Zoroastro (século VI a.C.) falou de Chinvat, uma ponte 
a ser atravessada após a morte, larga para os justos e estreita para os perversos, que dela caíam 
no inferno. O zoroastrismo posterior elaborou a idéia de prêmio e castigo, de ressurreiç ã o dos 
mortos e de purificaç ã o final dos pecadores. 
Os mitos retratam freqüentemente o fim do mundo como uma grande destruiç ã o, de natureza 
bélica ou cósmica. Antes da destruiç ã o, surge um messias ("Ungido") ou salvador, que resgata 
os eleitos por Deus. Esse salvador pode ser o próprio ancestral do povo ou fundador da 
sociedade, que empreende uma batalha final contra as forças do mal e, após a vitória, 
inaugura um novo estágio da criaç ã o, um novo céu e uma nova terra. Os mitos da destruiç ã o 
escatológica manifestaram-se tardiamente, na literatura apocalíptica judaica, que floresceu 
entre os séculos II a.C. e II d.C., e deixou sua marca no livro do Apocalipse, atribuído ao 
Apóstolo Joã o. Exemplo típico de mito de destruiç ã o (embora nã o no fim dos tempos) sã o as 
narrativas a respeito de grandes inundações. É bastante conhecido o episódio do Antigo 
Testamento que descreve um dilúvio e o apresenta como castigo de Deus à humanidade. Esse 
tema tem origens mais remotas e provém de Mitos Mesopotâmicos. Em quase todas as 
culturas pré-colombianas encontram-se também mitos a respeito de dilúvios. 
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 5 
MITOLOGIA GREGA 
A Mitologia Helê nica é uma das mais geniais concepções que 
a humanidade produziu. Os gregos, com sua fantasia, 
povoaram o céu e a terra, os mares e o mundo subterrâneo de 
Divindades Principais e Secundárias. Amantes da ordem, 
instauraram uma precisa categoria intermediária para os 
Semideuses e Heróis. A mitologia grega apresenta-se como 
uma transposiç ã o da vida em zonas ideais. Superando o 
tempo, ela ainda se conserva com toda a sua serenidade, 
equilíbrio e alegria. A religiã o grega teve uma influê ncia tã o 
duradoura, ampla e incisiva, que vigorou da pré-história ao 
século IV e muitos dos seus elementos sobreviveram nos 
Cultos Cristã os e nas tradições locais. Complexo de crenças e 
práticas que constituíram as relações dos gregos antigos com 
seus deuses, a religiã o grega influenciou todo o Mediterrâneo 
e áreas adjacentes durante mais de um milê nio. Os gregos 
antigos adotavam o Politeísmo Antropomórfico, ou seja, 
vários deuses, todos com formas e atributos humanos. Religiã o muito diversificada, acolhia 
entre seus fiéis desde os que alimentavam poucas esperanças em uma vida paradisíaca além 
túmulo, como os heróis de Homero, até os que, como Platã o, acreditavam no julgamento após 
a morte, quando os justos seriam separados dos ímpios. Abarcava assim entre seus fiéis desde 
a ingê nua piedade dos camponeses até as requintadas especulações dos Filósofos, e tanto 
comportava os excessos orgiásticos do culto de Dioniso como a rigorosa ascese dos que 
buscavam a purificaç ã o. 
No período compreendido entre as primeiras incursões dos povos helê nicos de origem Indo-
européia na Grécia, no início do segundo milê nio a. C., até o fechamento das escolas pagã s 
pelo imperador bizantino Justinianus, no ano 529 da era cristã , transcorreram cerca de 25 
séculos de influê ncias e transformações. Os primeiros dados existentes sobre a religiã o grega 
sã o as Lendas Homéricas, do século VIII a. C., mas é possível rastrear a evoluç ã o de crenças 
antecedentes. Quando os indo-europeus chegaram à Gré cia, já traziam suas próprias crenças e 
deuses, entre eles Zeus, protetor dos clã s guerreiros e senhor dos estados atmosféricos. 
Também assimilaram cultos dos habitantes originais da península, os Pelasgos, como o 
oráculo de Dodona, os deuses dos rios e dos ventos e Deméter, a deusa de cabeça de cavalo 
que encarnava o ciclo da vegetaç ã o. Depois de se fixarem em Micenas, os gregos entraram em 
contato com a civilizaç ã o cretense e com outras civilizações mediterrâneas, das quais 
herdaram principalmente as divindades femininas como Hera, que passou a ser a esposa de 
Zeus; Atena, sua filha; e Á rtemis, irmã gêmea de Apolo. O início da filosofia grega, no 
século VI a.C., trouxe uma reflexã o sobre as crenças e mitos do povo grego. Alguns 
pensadores, como Heráclito, os Sofistas e Aristófanes, encontraram na mitologia motivo de 
ironia e zombaria. Outros, como Platã o e Aristóteles, prescindiram dos deuses do Olimpo para 
desenvolver uma idéia filosoficamente depurada sobre a divindade. Enquanto isso, o culto 
público, a religiã o oficial, alcançava seu momento mais glorioso, em que teve como símbolo o 
Pártenon ateniense, mandado construir por Péricles. A religiosidade popular evidenciava-se 
nos festejos tradicionais, em geral de origem camponesa, ainda que remoçada com novos 
nomes. Os camponeses cultuavam Pã , deus dos rebanhos, cuja flauta mágica os pastores 
tentavam imitar; as ninfas, que protegiam suas casas; e as nereidas,divindades marinhas. As 
conquistas de Alexandre o Grande facilitaram o intercâmbio entre as respectivas mitologias, 
de vencedores e vencidos, ainda que fossem influê ncias de caráter mais cultural que 
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autenticamente religioso. Assim é que foram incorporadas à religiã o helê nica a deusa frígia 
Cibele e os deuses egípcios Ísis e Serápis. Pode-se dizer que o sincretismo, ou fusã o pacífica 
das diversas religiões, foi a característica dominante do período Helenístico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 7 
MITOLOGIA ROMANA 
Os romanos ultrapassaram todos os outros povos na 
sabedoria singular de compreender que tudo está 
subordinado ao governo e direç ã o dos deuses. Sua 
religiã o, porém, nã o se baseou na graça divina e sim 
na confiança mútua entre Deuses e Homens; e seu 
objetivo era garantir a cooperaç ã o e a benevolê ncia 
dos deuses para com os homens e manter a paz entre 
eles e a comunidade. Entende-se por religiã o romana 
o conjunto de crenças, práticas e instituições 
religiosas dos romanos no período situado entre o 
século VIII a.C. e o começo do século IV da era 
cristã . Caracterizou-se pela estrita observância de ritos 
e cultos aos deuses, de cujo favor dependiam a saúde 
e a prosperidade, colheitas fartas e sucesso na guerra. 
A piedade, portanto, nã o era compreendida em termos 
de experiê ncia religiosa individual e sim da fiel 
realizaç ã o dos deveres rituais aos deuses, concebidos 
como poderes abstratos e nã o como Divindades Antropomórficas. Um traço característico dos 
romanos foi seu sentido prático e a falta de preocupações filosóficas acerca da natureza ou da 
divindade. Seus preceitos religiosos nã o incorporaram elementos morais, mas consistiram 
apenas de diretrizes para a execuç ã o correta dos rituais. Também nã o desenvolveram uma 
mitologia imaginativa própria sobre a origem do universo e dos deuses; seu caráter legalista e 
conservador contentou-se em cumprir com toda exatidã o os ritos tradicionalmente prescritos, 
organizados como atividades sociais e cívicas. O ceticismo religioso chegou a ser uma atitude 
predominante na sociedade romana em face das guerras e calamidades, que os deuses, apesar 
de todas as cerimô nias e oferendas, nã o conseguiam afastar. O historiador Tacitus comentou 
amargamente que a tarefa dos deuses era castigar e nã o salvar o povo romano. A índole 
prática dos romanos manifestou-se também na política de conquistas, ao incorporar ao próprio 
panteã o os deuses dos povos vencidos. Sem teologia elaborada, a religiã o romana nã o entrava 
em contradiç ã o com essas deidades, nem os romanos tentaram impor aos conquistados uma 
doutrina própria. Durante a república, no entanto, foi proibido o ensino da Filosofia Grega, 
porque os filósofos eram considerados inimigos da ordem estabelecida. Os valores 
dominantes da cultura romana nã o foram o pensamento ou a religiã o, mas a retórica e o 
direito. 
Com as crises econômicas e sociais que atingiram o mundo romano, a antiga religiã o nã o 
respondeu mais às inquietações espirituais de muitos e, a partir do século III a.C., começaram 
a se difundir religiões orientais de rico conteúdo mitológico e forte envolvimento pessoal, 
mediante ritos de iniciaç ã o, doutrinas secretas e sacrifícios cruentos. Nesse ambiente 
verificou-se mais tarde a chegada dos primeiros cristã os, entre eles os apóstolos Pedro e 
Paulo, com uma mensagem ética de amor e salvaç ã o. O cristianismo conquistou o povo, mas 
seu irrenunciável monoteísmo chocou-se com as cerimô nias religiosas públicas, nas quais se 
baseava a coesã o do estado, e em especial com o culto ao imperador. Depois de sofrer 
numerosas perseguições, o cristianismo foi reconhecido pelo imperador Constantinus I no 
ano 313 d.C. Sã o escassas as fontes que permitem reconstruir a vida da primitiva Roma, 
pequena cidade-estado que se formou por volta do século VIII a.C. A descriç ã o mais antiga é 
do historiador romano Marcus Terencius Varrã o, do século I a.C., mas seu testemunho já 
mostra a grande influê ncia da Cultura Grega, que motivou a reinterpretaç ã o da tradiç ã o 
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religiosa. No período de formaç ã o original, a religiã o dos romanos já apresentava 
características utilitárias, em que as preocupações se centravam na satisfaç ã o das necessidades 
materiais, como boas colheitas e a prosperidade da família e do estado em tempo de paz e de 
guerra. Entre os deuses mais importantes dessa época estã o Júpiter, deus do céu, o maior 
deles; Marte, deus da guerra; Quirino, protetor da paz, identificado depois com Romulus; e 
Juno, cuja funç ã o principal era dirigir a vida das mulheres. Outras deidades menores eram 
figuras vagas de funções limitadas e claramente definidas. Como os deuses maiores, tinham 
poderes sobrenaturais e, pelo culto adequado, podiam ser induzidos a empregá-los em 
benefício dos adoradores. A curiosidade dos romanos, porém, nã o passava desse ponto: os 
deuses nã o tinham mitos, nã o formavam casais e nã o tinham filhos. Os romanos nã o tinham 
também uma casta sacerdotal; seus ritos eram executados com meticulosa exatidã o por chefes 
de família ou magistrados civis. Essas atividades clericais, porém, eram reguladas por 
colégios sacerdotais. 
Na segunda metade do século VI a.C., os Etruscos conquistaram a cidade de Roma e 
introduziram nas práticas religiosas o culto às estátuas dos deuses, os templos, a adivinhaç ã o 
mediante o escrutínio das entranhas de animais sacrificados e do fogo e maior solenidade nos 
ritos funerários. O primitivo calendário religioso lunar, de dez meses, foi substituído pelo 
calendário solar de 12 meses. Nesse período ocorreu a incorporaç ã o de deuses que nã o eram 
apenas etruscos. Júpiter ganhou como consortes Juno e Minerva, uma uniã o que resultou da 
influê ncia grega, já que as duas deusas foram identificadas como Hera e Atena, mulher e 
filha de Zeus. Vênus e Diana surgiram de fontes italianas. Entre os deuses incorporados ao 
panteã o romano por influê ncia etrusca estã o Vulcano, deus do fogo, e Saturno, divindade de 
funções originais obscuras. O Período Republicano, do século V ao século I a.C., 
caracterizou-se pela ampliaç ã o da influê ncia da cultura grega, cujos mitos revitalizaram os 
deuses romanos ou introduziram novas divindades, como Apolo, que nã o tinha um 
equivalente romano geralmente reconhecido, e Esculápio. Outro costume importado da Grécia 
foi convidar os deuses para o banquete sagrado, o Lectisternium, no qual eram representados 
por suas estátuas e associados em casais, como Júpiter e Juno, Marte e Vê nus etc. As figuras 
juntas nos banquetes formaram o grupo grego popular e típico de 12 deuses. Foram 
introduzidos ainda cultos orgiásticos do Oriente Médio, como o da deusa Cibele, a Grande 
Mã e, e o de Dioniso, que em Roma foi identificado como Baco. O imperador Augustus quis 
reavivar os cultos tradicionais - ele mesmo foi divinizado após a morte - e reconstruir os 
templos antigos. A crescente demanda por uma religiã o mais pessoal, porém, que nem as 
religiões tradicionais gregas nem as romanas eram capazes de satisfazer, foi atendida por 
vários cultos do Oriente Médio, que prometiam a seus seguidores o favor pessoal da 
divindade e mesmo a imortalidade se certas condições fossem atendidas, entre elas a iniciaç ã o 
secreta em ritos misteriosos. O primeiro deles foi o de Ísis que, embora de origem egípcia, 
sofreu modificações em sua passagem pela Gré cia. Depois veio o culto de Atis, consorte da 
Grande Mã e, e por último o de Mitra, de origem Persa, que se tornou o predileto dos soldados 
romanos.No último período do Impé rio Romano, desenvolveu-se de forma particular o culto 
ao Sol, e o imperador Aurelianus proclamou como suprema divindade de Roma o Sol 
Invicto. Mas essas tentativas de reavivar uma religiã o que sempre servira aos interesses do 
estado fracassaram, ante a expansã o do Cristianismo que, em 391, foi declarado religiã o 
oficial do estado pelo imperador Theodosius I, que suprimiu o culto tradicional. 
 
 
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 9 
MITOLOGIA EGÍPCIA 
Como em todas as civilizações antigas, a 
Cosmogonia ocupa a primeira parte dos textos 
sagrados egípcios, tentando explicar com a fantasia e 
o relato milagroso tudo quanto se escapa do reduzido 
âmbito do conhecimento humano. Para os egípcios, 
como para o resto das grandes religiões, a criaç ã o do 
Universo faz-se de um único ato da vontade 
suprema, a partir do nada, da escuridã o, do caos 
original. O seu criador chama-se Nun e era o espírito 
primigê nio, o indefinido ser que tinha tomado o 
aspecto do barro. Este barro que aparece com tanta 
freqüê ncia em todas as mitologias junto dos 
parágrafos das criações de deuses e de homens, a 
matéria-prima por excelê ncia dos oleiros e (por 
assimilaç ã o) a matéria lógica para os deuses 
criadores, nã o era senã o a terra e a água próximas 
dos antigos povoadores do mundo. Por isso o barro 
Nun foi o berço espiritual, a primeira força em que ia 
tomando forma o novo espírito da luz, Ra, o disco solar, pai de tudo o que habita sob os seus 
raios. Da vontade de Ra vã o nascer os dois primeiros filhos diferenciados da divindade: sã o 
Tefnet e Chu. Ela é a deusa das águas que caem na terra e ele é o deus do ar, e os dois filhos 
estarã o com o grande pai Ra no firmamento, compartilhando a sua glória e o seu poder e 
ajudando-o na longa e eterna viagem. Mas também Chu e Tefnet vã o continuar a obra iniciada 
por Ra, criando da sua uniã o outros dois novos filhos, os dois sucessores da última geraç ã o 
celestial: o deus da terra Geb, e a sua irmã e esposa, a deusa do céu Nut, para que eles relevem 
à primeira geraç ã o e criem a terceira, a que vai estar na terra do Egito. 
Os filhos de Geb e Nut, os quatro filhos do Céu e da Terra, dois homens e duas mulheres 
(embora haja versões que dã o um quinto filho, chamado Horoeris), formam a primeira 
geraç ã o de seres que vivem no solo do Egito, os quatro primeiros deuses que se ocupam dessa 
terra escolhida e que velam por ela, ou que entram no mundo egípcio para completar o 
binômio do bem e do mal, da vida e da morte. O primeiro dos homens e o mais velho dos 
quatro, Osíris, é o deus da fecundidade, a divindade que representa e sustenta a continuidade 
da natureza; ele é quem faz nascer a semente, quem a amadurece e quem agosta os campos; 
Osíris é o princípio da própria vida. Ísis, a sua irmã e esposa, reina em igualdade sobre o 
extenso domínio do Nilo, em perfeita harmonia com o seu irmã o, formando o casal positivo 
do binômio. Se Osíris se encarrega de proporcionar a vida aos humanos, Ísis está sempre à 
frente, após a invenç ã o de todas as artes necessárias para desenvolver a vida, desde a moagem 
do grã o até às complexas regras e leis da vida familiar. Neftis, a segunda irmã e a mais 
pequena de todos, nã o podia ter a sorte de Ísis, a sorte de ser esposa do bom e belo Osíris; por 
isso Neftis ficou à margem da felicidade; também por isso era a representaç ã o do resto do país 
útil, a deusa das terras menos felizes, as terras secas junto dos campos de cultivo; as parcelas 
de sequeiro que nã o tinham a sorte de ser regularmente inundadas pela água e pelo limo do rio 
nas suas cheias anuais. Set, o segundo homem e o terceiro dos filhos, é a criatura que 
pressagiou o seu destino ao nascer prematuramente, dado que abriu o ventre da sua mã e Nut, 
fazendo-a sofrer cruelmente; Set é o deus da maldade, o espírito negativo e o representante do 
deserto sem vida, a personificaç ã o da morte. 
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Naturalmente, Set odeia desde a infância o primogê nito Osíris; esta é a fábula constante do 
bom irmã o diante do mau; é a lenda exemplificadora do mau assassinando o bom, tentando 
evitar a sua clara superioridade, tentando apagar com a morte a distância entre ambos. Mas 
continuemos com a história dos quatro filhos de Geb e Nut, e digamos que Set casou com a 
sua irmã Neftis, mantendo a tradiç ã o iniciada pelos seus antecessores divinos. Mas Neftis foi 
esposa do malvado Set também mau grado seu, porque ela amava Osíris, e deste casamento 
nã o surgiu nenhum filho, porque Set tinha que ser forçosamente estéril pela sua maldade. Mas 
nã o sucedeu a mesma coisa com Neftis, dado que ela sim, conseguiu ter um filho e, 
precisamente um filho de Osíris. Para conseguí-lo, embebedou o seu irmã o e deitou-se com 
ele. Esse filho nasceria mais tarde e seria conhecido com o nome de Anúbis. Neftis amava 
tanto Osíris e tanto desprezava o seu marido que, quando se produziu o seu assassínio, a boa e 
infeliz Neftis fugiu do seu perverso marido, para poder estar ao lado do amado, junto da sua 
irmã Ísis, ajudando-a no embalsamamento. Após aquele momento, Ísis e Neftis 
permaneceriam sempre unidas à morte, acompanhando o piedoso defunto na sua sepultura, 
para proporcionar-lhe a ajuda que necessitasse no outro lado da morte. Ao assassinar Osíris, 
Set só conseguiu divinizar ainda mais o seu odiado irmã o, porque o Osíris triunfante sobre a 
morte ia estabelecer-se como a personificaç ã o divina do ciclo, e voltaria a nascer e morrer 
eternamente, reinando na vida eterna do céu e deitando sobre o seu traidor irmã o na terra, ao 
ficar com as suas posses e ser a figura amada pelas duas irmã s Ísis e Neftis, a figura adorada e 
homenageada por todos os egípcios, a divindade bondosa que governava as estações e o 
benéfico Nilo em proveito dos homens. 
Nã o foi demasiado difícil a Set terminar com a vida do seu bom irmã o, o grande rei Osiris, 
apesar da constante vigilância que Ísis mantinha sobre as suas idas e vindas, dado que ela sim 
conhecia bem o seu malvado irmã o e nã o confiava de maneira nenhuma nas suas artes. 
Depois de tentar uma e outra vez assassiná-lo sem ê xito, finalmente Set tramou um plano que 
lhe permitia iludir Ísis e assim mandou construir uma caixa muito rica e bela, com o tamanho 
exato do seu irmã o. Com a caixa em seu poder, Set organizou uma grande festa, à qual 
convidou Ísis e Osíris, junto com outras setenta e duas personagens, que nã o eram outras que 
os seus aliados no sinistro plano. Terminada a festa, Set comentou que tinha idealizado um 
jogo, que consistia em ver quem de todos os presentes cabia melhor naquela magnífica arca, e 
para o feliz tinha reservado um grandioso prêmio. Os convidados provaram sorte, mas 
nenhum dava o tamanho adequado, de maneira que chegou a vez de Osíris e ele sim, enchia 
completamente o buraco da caixa. Mas nã o havia tal prêmio; os presentes lançaram-se em 
tropel e encerraram o rei dentro dela; depois lançaram-na ao Nilo e o rio arrastou a caixa e a 
sua carga para o mar. Ísis saiu em perseguiç ã o do baú e Neftis uniu-se ela rapidamente na 
procura, enquanto Set e as suas seis dúzias de cúmplices celebravam precipitadamente a 
suposta vitória do usurpador. As duas irmã s entretanto, encontraram a caixa onde Osíris tinha 
sido encerrado e comprovavam que já era simplesmente um cadáver. Com os seus tristes 
lamentos e prantos, as irmã s comoveram os deuses e estes decidiram trazer de novo à vida ao 
infeliz Osíris, mandando-as que amortalhassem o seu corpo embalsamado em ligaduras, 
dando assim a pauta para o posterior rito funerário, ou que reunissem os seus restos para 
poder insuflar de novo a vida no seu destroçado corpo, segundo a versã o correspondente. 
Também se conta, em outros relatos sagrados, quea arca tinha saído para o mar quando Ísis 
chegou à foz do Nilo, e só terminou a sua viagem na muito longínqua costa da Fenícia, indo 
de encontro a um tronco que crescia à beira do Mediterrâneo, muito próximo da cidade de 
Biblos. a árvore, milagrosamente, cresceu num instante, englobando o féretro flutuante no seu 
tronco para dar-lhe o último abrigo. Movido pelo destino, o rei de Biblos viu aquela 
gigantesca árvore e mandou cortar o seu tronco e com ele ordenou construir uma coluna para 
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 11 
o seu palácio. Mas Ísis soube também do portentoso fato e empreendeu a viagem até chegar à 
cidade de Biblos, onde pediu ser recebida pelo rei, para fazer-lhe saber a razã o da sua penosa 
expediç ã o. O rei ouviu o relato da rainha e ordenou imediatamente que lhe fosse devolvido o 
caixã o onde repousavam as restos mortais do bom Osíris. Concedido o seu desejo e com o 
caixã o em seu poder, regressou sigilosamente para o Egito, nã o sem antes tentar ocultar o 
cadáver do infeliz esposo da maldade de Set. Mas Set, senhor da noite e das trevas, deu com 
ele e voltou a tentar terminar com a ameaça que Osíris representava, fazendo com que os seus 
restos fossem dispersos por todo o imenso e intransitável delta do grande rio. De novo Ísis 
empreendeu a procura dos restos de Osíris nos pântanos do Nilo e, um a um, reuniu outra vez 
o cadáver. Quando os conseguiu, tomou a forma de uma grande ave de presa e pousou-se 
sobre os despojos, batendo as suas asas até que com o seu ar benfeitor insuflou uma vida 
renovada em Osíris. O esposo ressuscitado tomou-a e a boa Ísis ficou grávida de Hórus, o 
filho que teria de vingar o pai assassinado e restauraria a ordem divina no Egito. Mas, 
enquanto chegava o momento do nascimento de Hórus, Ísis ocultou-se de Set nos pantanosos 
terrenos do delta do Nilo. 
Osíris retornou ao reino dos mortos, mas já tinha deixado a sua semente em Ísis e dela nasceu 
felizmente Hórus em Jenis. Com a presença devota da sua mã e foi educado no maior dos 
segredos, preparando-se com esmero e paciê ncia o sucessor do rei assassinado no seu 
esconderijo do Delta, enquanto a mágica Ísis o cobria com a impenetrável couraça dos seus 
conjuros, esperando até que chegasse a hora da vingança definitiva. E esta hora chegou, mas a 
luta entre Set e Hórus seria longa e angustiosa; uma briga que aparecia nã o ter fim, na qual 
um e outro infringiam tanto mal como o que recebiam do seu adversário. Tã o penoso era o 
combate que Tot, o deus da Lua e a divindade da ordem e a inteligê ncia, se apiedou dos 
combatentes e interveio para mediar na disputa, levando a ambos perante o tribunal dos 
deuses e fazendo comparecer também Osíris, para que todos pudessem ouvir as razões de um 
e dos outros. O tribunal sentencia que, na causa entre Set e Osíris, seja Osíris quem recupere o 
reino que teve em vida, e acrescenta à sua coroa a parte do país que originalmente 
correspondeu ao seu irmã o e assassino. Na longa e controversa vista da briga entre Set e 
Hórus, que durou nada menos que oitenta anos, os juízes celestiais terminaram por sentenciar 
o pleito sobre os direitos sucessórios a favor de Hórus. O filho póstumo de Osíris recuperava 
o que correspondia pela sua linhagem: a sucessã o no trono de Egito. Assim, o filho era 
reconhecido pela divindade como soberano indiscutível, dentro da tradiç ã o clássica que 
adjudicava aos reis e aos reinos um sentido de vontade divina. Por estas duas sentenças Set 
perde o seu poder, conquistado com enganos, mas nã o é castigado senã o afastado do mundo; 
Set passa a ser também uma divindade necessária ao ser acolhido por Ra, divindade solar, 
para que se ocupe nos céus de alternar a noite com o dia e deixe que sejam os reis os que 
governem sobre a terra. Hórus, por sua vez, engendra quatro filhos: Amsiti, Hapi, Tuemeft e 
Kevsnef; embora nã o se especifique com exatidã o quem pode ser a mã e, se é que existe tal 
(há quem dizem que sã o filhos de Hórus e da sua mã e Ísis). Estes filhos, que acompanharã o 
Osiris nos julgamentos aos mortos, também cuidam dos quatro pontos cardeais e se ocupam 
de velar pelas necessidades e pela saúde das entranhas de Osíris. 
Como costuma contar-se em todos os mitos, uma vez passada a primeira época de harmonia, 
as criaturas terrestres, os seres privilegiados criados pela simples vontade de Ra, deus 
supremo, levantaram-se contra o seu senhor. Eram as sucessivas lutas à morte entre os 
inimigos da terra e as comitivas celestiais, lutas tã o ferozes que foram desgastando as energias 
de Ra, até o fazer perder a sua força e babar. Com essa baba caída da sua boca, Ísis formou 
um barro e com ele construiu o áspide que -colocado no caminho do deus- envenenou Ra. 
Feito isto, Ísis apresentou-se diante do ferido, prometendo o antídoto em troca de que a 
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 12 
divindade revelasse o seu nome secreto. Ra resiste enquanto pode agüentar a dor terrível, e 
trata em vã o de esquivar a resposta, pois sabe que o nome da coisa e o poder sobre ela sã o 
uma única coisa. Mas afinal, vencido pela crescente dor, Ra tem que aceitar e dizer ao ouvido 
de Ísis esse nome que agora também ela vai conhecer, comunicando-lhe com esse ato a sua 
força total. Uma vez vencido por Ísis, o enfraquecido Ra vai ser também o alvo de outros 
ataques dos seres humanos, e a sua vingança, através da deusa Sekhmet, a mulher-leoa que 
encarnava a guerra, é tã o terrível que quase termina com a humanidade, embora seja maior o 
amor que sente pela sua obra criadora, apiedando-se dos açoitados humanos justamente a 
tempo, ao enviar uma chuva de cerveja vermelha que cobre toda a superfície do planeta, 
confundindo Sekhmet, que a toma por sangue e trata de saciar a sua sede de morte com ela, 
embriagando-se com o vermelho líquido de tal maneira que deixa de executar a sentença de 
morte que Ra tinha decretado para os humanos. Depois deste ato de compaixã o para com os 
seus desagradecidos filhos da Terra, Ra retira-se para sempre de todo o relacionado com os 
assuntos de governo, cedendo ao filho do seu filho Chu, o bom Geb, representante divino do 
planeta, o poder sobre o globo terrestre e quem sobre ele habita, pessoas, animais ou vegetais, 
mas sem o abandonar à sua sorte, dado que Ra se compromete a ajudá-lo com os seus 
conselhos e perpétua vigilância. 
Já conhecemos Tot quando interveio nos pleitos divinos entre Osíris, Hórus e Set, levando a 
sua arbitragem ao tribunal dos deuses, mas fica por definir a sua origem, o seu poder, dado 
que ele era o ser que reinava sobre todo o Universo com a sua sabedoria e punha nele a 
ordem. O grande Tot é identificado com a posse de todos os conhecimentos mágicos e 
considerado inventor da palavra, criador da escritura, o ser superior que manejava os 
conceitos e possuía, pois, o poder sobre os seres e as coisas inanimadas. Por essa ordem, era o 
deus natural dos muito importantes e onipresentes escribas de Egito, o grupo dos mais 
significados funcionários de todo o reino, dos homens que contavam e relacionavam todos os 
atos, os que catalogavam as posses de reis e senhores, e os que narravam as crô nicas de cada 
época. Tot, por sua parte, estava encarregado, como escriba, em fazer a relaç ã o dos reis 
presentes, passados e futuros. Ele conhecia o destino dos rebentos reais e apontava qual deles 
reinaria pela vontade dos deuses sobre todo o império do Nilo e quanto duraria o seu feliz 
reinado. Tot determinava assim tudo o que estava escrito (pela sua própria mã o) que devia 
suceder, ele era a personificaç ã o do destino omnisciente. Desposado com Maat, deusa da 
justiça e filha de Ra, formava um casal que compreendia todo o âmbito da justiça, pois ele 
exercia-a sobre os deuses e os seres vivos, e Maat presidia o julgamento dos mortos, junto 
com Osíris. Tambémse apresenta Tot casado com outras duas esposas de ascendê ncia divina, 
Seshet e com Nahmauit, e era considerado o pai de outros dois deuses menores, Hornub, filho 
havido com a primeira, e NeferHor, na sua uniã o com a segunda, e gozava de um mê s com o 
seu nome, consagrado a ele, situado no princípio de cada ano. 
Se importante era a alma universal de Tot, Amon converteu-se no rei dos deuses a partir da 
capitalidade de Tebas, no poder divino aos faraós e no deus único e oficial do Egito, 
substituindo-se a partir do trono o culto ao cansado e enfraquecido Ra no transporte do disco 
solar ao longo do arco celestial. Amon, com um critério coerente com a importância do astro 
solar, passou a ser o deus da vida, da criaç ã o, da fertilidade. Quando desaparecia no céu 
visível, Amon passava a iluminar a noite dos mortos, o outro lado da vida. Depois, com o 
reinado de Amenofis (auto-batizado Akhaenaton), Amon foi substituído por Aton, um 
derivado do deus criador, Atum, que doador da vida original foi converter-se na representaç ã o 
do sol de Poente e de lá, por vontade do faraó, no deus único. Mas ainda mudando de nome 
continuava a ser o mesmo deus solar, e pouco custou -após a morte do herege rei Akhaenaton- 
devolver-lhe o velho nome e as antigas atribuições, para recuperar a sua identidade inicial de 
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 13 
Amon e ultrapassar os limites do império egípcio, sendo adotado como deus supremo nos 
povos vizinhos da Líbia, Núbia e Etiópia, convertendo-se em deus oracular no seu grande 
templo situado no meio das arenas desérticas da Líbia. O grande Amon, casado com a deusa 
Mut, teve um filho, Jons, que passou de ser uma divindade lunar secundária para converter-se 
em permanente acompanhante do seu pai nas diárias travessias a bordo da barca solar. Com 
Mut e Jons, completa-se o panteã o tebano e fecha-se completamente a sagrada trindade dos 
deuses de Tebas, à semelhança do trio formado por Osíris, Ísis e Hórus. 
Se grande era o poder dos deuses e quase tanto o dos seus designados, os faraós, o mundo da 
morte era, em definitiva, o que governava a vida dos humanos, dado que toda a vida se 
orientava a cumprir com o custoso rito do enterramento, da preservaç ã o do corpo do defunto e 
do reuniã o dos muitos bens que deviam acompanhá-lo na sua marcha para a vida eterna. Além 
de todo este cortejo de móveis, barcas rituais, imagens do morto, efígies dos deuses menores e 
maiores, alimentos, livros de orações e conselhos, devia permanecer o corpo, tã o intacto como 
se soubesse fazer, porque ainda nã o se tinha chegado a abstrair a idéia da "alma", e só se 
identificava a possibilidade da vida após a morte com a conservaç ã o do aspecto humano. Por 
isso, nos enterros mais privilegiados conservavam-se embalsamadas por separado, junto da 
múmia igualmente embalsamada, as vísceras do defunto, dado que nã o resultava possível, 
pela sua rápida deterioraç ã o, mantê -las dentro do cadáver. Aqui desempenhavam um papel 
decisivo os quatro filhos de Hórus, dado que -como faziam com as entranhas de Osíris - eles 
cuidavam do bom estado das vísceras humanas e as protegiam de qualquer perigo que pudesse 
ameaçá-las. As quatro repartiam as suas funções da seguinte maneira: Amsiti estava ao 
cuidado da vasilha que continha o fígado; Hapi velava pela urna onde se encontrava o 
pulmã o; Tuemeft vigiava o estômago do defunto; e, finalmente, Kebsnef cuidava do vaso no 
qual se conservavam os intestinos. Mas os quatro filhos de Hórus nã o estavam sozinhos 
nestas transcendentais tarefas de ultra-tumba, dado que Ísis acompanhava Amsiti; Neftis 
estava com Hapi; Tuemeft cumpria a sua missã o junto de Neith, a deusa das águas do Nilo; e 
Selket, divindade do Delta e que tinha criado o grande Ra, estava com Kebsnef. 
Osíris, com Hórus, Tot e Maat e os seus quarenta e dois assessores especializados nas 
quarenta e duas faltas que deviam ser calibradas, (sete vezes seis, um número duplamente 
mágico), presidia as cerimô nias do estrito julgamento dos mortos. Ante ele eram pesadas as 
boas e as más obras do defunto, a alma ou resumo da sua vida, e julgava-se essa relaç ã o de 
pecados ou virtudes. Mas nã o terminava o trâmite com a pesagem e defesa do defunto; após 
essa primeira parte, se passava a contrastar se o exposto tinha sido certo e tudo o julgável 
tinha sido trazido à luz. A veracidade do julgamento da alma era verificada com a pesagem 
minuciosa e precisa do coraç ã o, colocado na balança diante de uma leve pena, e bastava que 
esse coraç ã o fosse o que inclinasse a balança para o seu lado para que se condenasse o morto 
na verdadeira prova final, sendo condenado a padecer todos os sofrimentos possíveis, 
imobilizado na escuridã o da sua tumba ou imediatamente o seu corpo devorado por uma 
aterradora divindade, Tueris, uma criatura com cabeça de crocodilo e corpo de hipopótamo 
que aguardava pacientemente o mentiroso. Se tudo estava a favor do defunto, Osíris 
premiava-o com o renascimento e a passagem para a vida eterna. Mas junto dele estavam 
outras duas divindades especializadas no ciclo da morte: Anúbis, filho de Neftis e Osíris, 
embora criado e educado por Ísis, e Upuaut, um antigo deus da guerra. Os dois aparecem 
sempre com cabeça de chacal, ou de cã o (especialmente Anúbis) acompanhando Osíris no 
transe do julgamento como seus primeiros auxiliares. Eram dois seres acostumados a cuidar 
dos mortos, um por ter ajudado no seu dia a embalsamar o cadáver de Osíris, e o outro por ter 
tido que fazê -lo em tantas ocasiões, quando guiava as expedições guerreiras e devia cumprir o 
ritual com os seus guerreiros falecidos em combate. 
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Embora fundamental para a vida em Egito, o grande rio, o Nilo, nunca chegou a ter uma 
divindade que o representasse no panteã o nacional em igualdade de condições com os outros 
deuses, e só contou com o deus Hapi, que nã o era o mesmo que oficiava como filho de Hórus, 
dado que este tinha rasgos híbridos de mulher e de homem e luzia roupas de barqueiro do rio, 
tendo a sua morada numa caverna próxima da primeira catarata, a mais de mil quinhentos 
quilômetros da foz. Outras partes do rio tiveram quase mais importância do que Hapi, como 
foi o caso da grande corrente de água que conformava o rio - Satis - representada por uma 
mulher tocada com a tiara branca do alto Nilo e o arco e as flechas nas suas mã os, que era 
esposa da divindade da primeira catarata - Jnum - um deus com cabeça de carneiro, embora 
haja que precisar que foram quatro os diferentes Jnum venerados sobre as águas do Nilo. 
Também era esposa do Jnum da primeira catarata a deusa Anukit, a divindade que 
representava o estreitamento do rio à sua passagem pelas gargantas rochosas de Filae e Siena, 
ou o deus dos lagos -Hersef- que aparecia aos homens com o corpo de um homem e a cabeça 
de um borrego. Sabek, com cabeça de crocodilo, era a divindade das inundações benfeitoras, 
filho da deusa Neith, protetora das terras fecundas do Delta. Para as terras secas do Egito 
existia também uma divindade masculina específica, Minu, relacionada com a proteç ã o dos 
viajantes que cruzavam as solitárias e calorosas arenas do deserto, e também encarregado da 
fecundidade dos campos e do gado. Nejbet, como mulher tocada com a tiara branca, ou em 
forma de abutre que voava sobre a cabeça dos reis, era a deusa protetora do Alto Egito. 
Hathor, além de ser a vaca criadora de tudo o visível e a protetora das mulheres e a 
maternidade, também estava situada no limite entre as terras férteis e as secas, oferecendo das 
figueiras a água e o pã o aos mortos que se aproximavam do seu terreno para fazer-lhes saber 
que eram bem-vindos. 
Se a alegre e feliz Hathor tinha a forma de uma vaca, o seu animal companheiro devia ser o 
muito relevante deus Ápis, o boi divino adorado desde os primeiros tempos da existê ncia do 
Egito, embora nã o chegasse à sua categoria celestial. Nã o é de admirar esta representaç ã o 
animal dado que todos os deuses egípcios tinham uma característica animal que geralmente 
portavam nas suas figurações em lugar da cabeça humana, quer fosse uma de falcã o, como no 
caso de Hórus; de chacal ou cã o, como a que distinguia Anúbis; de leoa, como a que 
personificava a deusa Sekhmet; de vaca, como às vezes levavam Ísis e Neftis; de bode, como 
podiam luzir Ra e Osíris; a cabeça de gato que diferenciava Bast e Mut; a de ganso que era a 
de Amon; o íbis e o macaco que encarnavam o supremo Tot; o escorpiã o que representava o 
espírito da deusa Selket, ou o fê nix triunfal, que era a melhor forma de dar a conhecer a 
eternidade da alma dos dois grandes deuses Ra e Osíris. Mas o boi Á pis era um verdadeiro 
animal, selecionado entre os seus congê neres de acordo com umas marcas sagradas que 
deviam exibir, para servir de centro do seu culto; era cuidado no seu templo de Mê nfis 
durante vinte e cinco anos, se chegasse a alcançar tal idade, depois era afogado e mumificado, 
para dar lugar ao seu sucessor. Mas junto da magnificê ncia do boi Á pis, nã o há que esquecer 
o escaravelho sagrado, o Jepri, representaç ã o viva e múltipla do deus do sol e venerado em 
todos os cantos do Egito, sendo uma das representações mais freqüentes da divindade solar, 
que faz parte essencial da civilizaç ã o egípcia e que está imortalizado entre os signos 
escolhidos para a linguagem escrita. 
Como pudemos ver, na envolvente da muito importante civilizaç ã o egípcia se gera grande 
parte dos conhecimentos que vã o fazer parte das culturas mediterrâneas. Como é natural, 
também no Egito nascem grande parte dos mitos recolhidos posteriormente pelos povos 
próximos, por hebreus e cristã os na Bíblia e pelos muçulmanos no Corã o. Egito é o berço da 
gê nese hebraica, é a primeira cultura que trata de sintetizar a criaç ã o do mundo e o seu barro 
original, é aceita para explicar também os diferentes credos que se elaboram a partir do seu. 
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Egito é, sobretudo, o berço indiscutível do monoteísmo, do futuro deus único; do Egito, esta 
proposta sai para o norte com os hebreus que viviam e trabalhavam para os faraós; os cristã os 
retomam-na e os muçulmanos elaboram-na com novos dados, conservando o núcleo dos 
relatos bíblicos e acrescentando os elementos cristã os posteriores na sua singular recopilaç ã o 
do relato dos livros santos; também lá, com Set e Osíris, está a origem do mito de Caim e 
Abel como o vai estar o de Maria, nos primeiros séculos do cristianismo, da diocese de 
Alexandria, como mã e do menino Jesus, à qual se passa a denominar Rainha dos Céus, 
aproveitando o fervor que esta imagem levanta nos fiéis egípcios, mantendo-a igual a Ísis 
quando era adorada com o seu filho-irmã o Osíris nos braços como prova do seu contínuo 
renascimento. Ainda mais importante: a vida depois da morte é outra das grandes idéias, 
talvez a fundamental, sobre as quais gira o espírito religioso egípcio, e essa promessa de vida 
eterna de uma melhor vida para os justos. 
Se se quer encontrar a melhor aportaç ã o da mitologia egípcia às religiões posteriores, há que 
procurá-la na grande esperança que implica o seu sistema de julgamento dos seres humanos. 
A recompensa imensa que os sucessivos deuses únicos (Jeová, a Trindade, Alá) vã o oferecer 
aos hebreus, aos cristã os e aos muçulmanos, é a mesma que se descreve no Egito com o relato 
do julgamento de Osíris e a possibilidade da eternidade feliz; ao sair do seu contexto 
faraô nico original democratiza-se e torna-se acessível a todos os fiéis por igual, ou mais 
concretamente, é oferecida com maior segurança a quem mais sofre, a quem menos possuí e 
desfruta nesta vida terrena, sendo a de Osíris a primeira idéia que o homem forja sobre a 
existê ncia de um ser superior que tem que julgar os méritos e deméritos de cada um de nós. 
Com Osíris estã o os seus quarenta e dois assessores, e deles nasce e fortalece-se a idéia do 
pecado estabelecido, a regra da religiã o exata e canô nica, que toma corpo nos livros que no 
futuro querem ser norma inapelável. Para os cristã os, as tríades dos deuses egípcios (Osíris, 
Ísis e Hórus, ou Amon, Mut e Jons) consolidam-se e mantêm-se no conceito trinitário do seu 
deus. Egito, inicialmente isolado pelo deserto e pelos terrenos pantanosos do Delta, abre-se 
aos gregos e aos romanos e, através de Roma, a sua última dominadora, após a guerra entre os 
dois grandes rivais na luta pelo Império, Julius Caesar e Marcus Antonius, junto de Cleópatra, 
a rainha grega dos últimos dias da sua existê ncia independente e grandiosa, termina por 
exportar para o Oriente próximo e para o Ocidente inteiro a base do seu ideário mítico, 
quando parece que o seu poder já se extinguiu para sempre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MITOLOGIA CHINESA 
Quanto à mitologia de todo este vasto território do 
continente asiático, pode constatar-se que, realmente, 
talvez seja uma cópia da própria organizaç ã o 
hierarquizada da sociedade chinesa, pois assim como 
havia um governante máximo à frente de cada 
dinastia, também devia adorar-se um deus único e 
supremo, o qual recebia, ao mesmo tempo, 
obediê ncia e reverê ncia por parte das outras deidades. 
Alguns dos seus chefes religiosos foram 
considerados, entre a legendária populaç ã o chinesa, 
como seres imortais ou encarnações da denominada 
"Origem Primeira", deidade que fazia parte de uma 
trindade de deuses com poderes para vencer o mal e 
os seus representantes. No entanto, o panteã o chinê s 
conta com uma grande variedade de deuses. E até os 
fundadores de grandes movimentos religiosos 
tiveram em conta o ancestral -rico e variado- de todos 
os estados feudais assentados em território chinê s, 
para confeccionar os seus dogmas e assertos. A povoaç ã o agradeceu, na prática, este detalhe 
dos seus iluminados, pois elevou à categoria de mito tanto o autor como a sua obra. Deste 
modo, arraigará entre a populaç ã o o mítico conceito denominado "tan", cujo simbolismo é tã o 
rico que ultrapassa a sua origem primigénia; "tan" significa "caminho", "via". É um princípio 
guiador de tudo quanto existe e do universo inteiro. Pelo "tan" há verdade, e sabedoria, e 
harmonia. Sucede a mesma coisa com a introduç ã o da moral como único aspecto regulador de 
qualquer relaç ã o social, quer seja pública ou privada, que deveria desembocar, por obrigaç ã o, 
numa ética do altruísmo, do desprendimento, da solidariedade, do respeito e da tolerância 
entre os humanos. 
Tratar-se-ia de erradicar a beligerância, o ódio e as guerras e, ao mesmo tempo, substituí-los 
pelo amor universal e a paz. Há que acrescentar, além do mencionado, outros aspectos que 
completarã o este panorama, real e mítico ao mesmo tempo. A populaç ã o deste imenso 
território chinê s também adorava os fenômenos da natureza, as suas forças desatadas; 
comemorava o espírito dos antepassados; acudia a consultar os oráculos e participava de um 
ritualismo rico em sacrifícios e esoterismo mágico. Muito especialmente, se pretendia uma 
longevidade perene -o mito da eterna juventude- que, mais tarde, aparecerá em todas as outras 
culturas e civilizações, especialmente na mitologia greco-latina. A verdade é que o povo 
chinê s tinha um deus especialmente dedicado a procurar juventude e viçosidade a todos os 
que lho rogassem e, por isso, lhe ofereceram contínuos sacrifícios e preces. Esta deidade 
chamava-se Cheu-Sing e era a encarregada de guardar a vida dos humanos, pois, entre outras 
coisas, tinha poder para fixar o dia em que tinha de morrer uma determinada pessoa. Mas, 
segundoa crença popular, se podia mudar a vontade deste deus oferecendo-lhe sacrifícios e 
participando nos diversos rituais na sua honra. Tudo isto indica que era possível estender os 
anos de vida, bastava que Cheu-Sing prolongasse a data que tinha marcado de antemã o e, pelo 
mesmo motivo, ampliasse, assim, o tempo de vida daqueles mortais que mais fidelidade lhe 
tivessem demonstrado. 
No entanto, segundo as narrações mitológicas do povo chinê s, há uma deidade superior, 
criadora do mundo e de tudo quanto existe, rei dos mortais e dos outros deuses. Recebe o 
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nome genérico de "Venerável Celeste da Origem Primeira" e há já muito tempo -uma 
eternidade- que delegou todo o seu poder num dos seus discípulos e, ao mesmo tempo, 
segundo dos trê s deuses - denominados os "Trê s Puros"- que compõem a trindade chinesa. O 
nome deste deus, que realiza a pesada tarefa que lhe encomendou o seu mestre, é "Senhor do 
céu". E chegará um dia em que também ele deixará que o seu sucessor leve a cabo o trabalho 
de ordenar e governar o universo inteiro. Mas, por agora, é o último dos "Trê s Puros", e é um 
deus que se evoca pelo nome de "Venerável Celeste da Aurora". Para levar a cabo a ingente 
tarefa encomendada pelo primeiro dos deuses, o seu discípulo contava com a ajuda de outras 
deidades afins. Por exemplo, narra o relato mítico que o segundo dos deuses, isto é, o "Senhor 
do céu", delegava determinadas funções no "Segundo Senhor", um deus muito célebre e 
popular porque travava, a quem o invocava, os maus espíritos. Enviava contra estes o "Cã o 
Celeste", que os perseguia com raiva e nã o permitia que assustassem os humanos. Também 
havia deusas de segunda ordem que tinham como missã o predizer a possibilidade de 
casamentos estáveis. A elas acudiam muitos jovens para consultá-las acerca das qualidades do 
seu futuro marido e também sobre a conveniê ncia ou nã o de casar-se. 
O anterior nã o faz senã o avaliar a teoria defendida por quase todos os investigadores da 
mitologia. Estes, com respeito às lendas chinesas, afirmam que o imanente e o transcendente 
sã o uma mesma coisa, dado que, realmente, a organizaç ã o entre os deuses é similar à estrutura 
da sociedade dos humanos. Aqueles se servem de outros mais inferiores para levar a cabo as 
suas tarefas mais custosas; sucede a mesma coisa entre os mortais, pois os governantes se 
servem de subordinados -ministros, funcionários, etc.- para levar a cabo as suas realizações 
em pró do bem geral do seu povo. Tanto os deuses como os governantes devem procurar o 
bem material e moral dos humanos, pois, caso contrário, o universo e o mundo albergariam 
unicamente ruindade e desgraça. Portanto, segundo explicam as narrações dos mitos chineses, 
a atenç ã o e a própria existê ncia dos deuses e dos governantes sã o absolutamente necessárias. 
Mas os governantes têm que demonstrar sabedoria em todos os seus atos. E os deuses devem 
cumprir com diligê ncia a missã o que lhes foi encomendada pelos seus mestres ou pelos 
deuses superiores. E, assim, existiam deidades que se encarregavam de apontar as boas e más 
ações dos humanos e, ao mesmo tempo, deviam procurar levar ao mundo dos mortais a maior 
felicidade possível. A encomenda de distribuir paz, felicidade e alegria entre os humanos era 
uma tarefa invejável que nenhuma deidade eludia. 
Outros muitos deuses menores ajudavam a deidade superior "Deus do céu"; era o seu dever e 
a sua única funç ã o. Deste modo, o paralelismo com a estrutura da sociedade humana era uma 
realidade tangível, pois estes deuses inferiores cumpriam os mandatos da deidade que estava 
por cima deles e esta, por sua vez, devia obediê ncia à seguinte de grau superior. Assim até 
chegar ao mais poderoso de todos, por cima do qual ainda existia outro deus que tinha 
delegado nele as suas funções -a pesada carga de governar- mas que, nã o obstante, continuava 
sendo o mais poderoso de todos os deuses do panteã o chinê s. O mundo mitológico, portanto, 
tinha sido construído de acordo com os mesmos critérios usados nas próprias sociedades 
humanas. Aqui, o soberano -que tinha por cima dele os deuses- organizava o seu território e 
publicava as suas leis com a ajuda -com certeza, obrigatória- dos seus súditos, que se 
encontravam perfeitamente organizados por categorias e deviam cumprir fielmente os 
mandatos dos seus superiores. Portanto, humanos e deuses se organizavam sob uma estrutura 
similar; daqui que, segundo a mitologia chinesa, até as mais fúteis funções se encontravam 
encomendadas a uma deidade. Por exemplo, quando os cidadã os tinham cometido faltas 
graves contra os seus congê neres, ou contra os deuses da sua tribo, deviam elevar súplicas à 
deidade que perdoava os pecados e que conferia, de novo, a paz de espírito aos que já tinham 
sido purificados. 
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A populaç ã o da ancestral China chamava Ti-kuan ao deus que perdoava os pecados e, 
segundo a crença popular, era o "Agente da Terra" que formava tríade com outros dois 
deuses; o "Agente do céu" e o "Agente da água". Todos os desejos, e necessidades, dos 
humanos ficavam satisfeitos assim que estes invocavam o deus apropriado. Por tudo isso, o 
número de deuses familiares era considerável. Mas nã o só cada casa, mas também os bairros, 
circunscrições, povoações, cidades e territórios contavam com os seus deuses protetores. As 
próprias deidades se ocupavam de que tudo funcionasse perfeitamente; e assim os deuses do 
lugar guardavam a terra, a rua, a casa e todos os seus moradores. Em todos os lares havia uma 
imagem do "Deus do lar" que, geralmente, aparecia sob a figura de um anciã o com barba 
branca. No desenho -impreciso e carregado de colorido aberrante- aparecia também uma 
mulher, que se venerava como esposa do "Deus do lar", rodeada de animais domésticos, tais 
como porcos, galinhas, cã es, cavalos, etc., que cuidava e dava de comer. Nestes desenhos, que 
os chineses colocavam no interior das suas casas para adorar o verdadeiro espírito das figuras 
que lá apareciam, o artista tinha respeitado também a essê ncia hierárquica da mitologia destes 
povos do longínquo oriente, pois a verdade é que, em qualquer caso, o "Deus do lar" 
permanecia sempre sentado e relaxado sobre um colorido trono. Em compensaç ã o, a mulher 
estava em pé, preocupando-se dos labores domésticos, neste caso do cuidado dos animais que 
havia em casa. Isto indica que o "Deus do lar" tinha subalternos, por assim dizer, nos quais 
delegava a sua própria funç ã o de cuidar pessoas e fazendas. 
A mitologia chinesa conta com um lugar de perdiç ã o, similar ao que entre os greco-latinos se 
denominará Tártaro, Hades ou Inferno. Segundo a tradiç ã o popular chinesa, a alma dos 
mortais é conduzida a esse lugar de perdiç ã o para ser julgada e, como no mito clássico 
aparece o feroz cã o Cerbero custodiando as gigantescas portas do Tártaro, também aqui há um 
encarregado de controlar a passagem para o interior de tã o tétrico lugar: o "Deus da Porta". Se 
tudo estivesse em regra, a alma podia passar e toparia imediatamente com o deus de "Muros e 
Fossas", que era o encarregado de submetê -la ao primeiro, e mais benigno, dos julgamentos. 
No entanto, os interrogatórios duravam perto de cinqüenta dias -exatamente quarenta e nove, 
que era um número pleno de conotações simbólicas entre muitos povos do extremo oriente: 
"Este é o prazo de que necessita a alma de um morto para alcançar definitivamente a sua nova 
morada. É a terminaç ã o da viagem", durante os quais a alma permanecia retida nos domínios 
do deus de "Muros e Fossas". Este pode condená-la ou deixá-la em mã os do seguinte juiz. Se 
acontece o primeiro, a alma pode ser açoitada ou atada pelas suas extremidades superiores a 
uma tábua que a aprisiona o pescoço. 
Dequalquer maneira, a alma terá que passar, agora, à presença do "Rei Yama", que se 
encarregará de decidir, após um novo interrogatório, se aquela é uma alma justa ou um alma 
pecadora. Se for o primeiro, a alma será enviada para um dos paraísos chineses -o que se 
encontra na "Grande montanha" ou o denominado, de maneira pomposa, a "Terra da Extrema 
Felicidade de Ocidente", onde gozará de liberdade e felicidade eterna-, dado que aqui tudo se 
encontra embebido da presença do Buda. Se, pelo contrário, o "Rei Yama" sentenciou que se 
trata de uma alma pecadora entã o esta será arrojada para o abismo dos infernos para que lá 
purgue as suas culpas. Depois de sofrer dores e castigos sem fim, a alma chegará, por fim, ao 
décimo lugar de perdiç ã o. Uma vez aqui será obrigada a reencarnar-se e poderá escolher entre 
um animal ou um humano. Se se reencarnar num animal, nem por isso perderá o seu antigo 
sentir humano e, pelo mesmo motivo, sofrerá quando a maltratem ou quando a matem. Por 
exemplo, pô de escolher renascer como porco e, portanto, nã o durará muito sem ser 
sacrificado, em cujo caso a dor do animal é a mesma que sentiria o humano ao qual pertencia 
a alma antes de reencarnar-se. No entanto, ninguém reparará nisso pois o porco nã o poderá 
exprimir a sua dor e o seu sofrimento, de forma humana, dado que a alma reencarnada, antes 
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de sair do décimo Inferno e dirigir-se para o lugar onde se encontra a "Roda das Migrações", 
deve beber o "Caldo do Esquecimento" para, assim, guardar segredo obrigatório -pois nada do 
passado poderá já entã o recordar- de tudo quanto lhe aconteceu na sua digressã o infernal. Esta 
beberagem, segundo a lenda dos povos do longínquo oriente, era preparada pela deusa que 
habitava na misteriosa casa edificada à saída do Inferno. Todas as almas que abandonassem 
aquele lugar de perdiç ã o tinham que beber o "Caldo do Esquecimento" pois só entã o lhes 
seria permitido continuar para a frente e chegar à "Roda das Migrações", para assim 
consolidar a sua reencarnaç ã o. 
Algumas versões explicam, nã o obstante, que as almas dos mortos, antes de chegarem à 
presença do deus de "Muros e Fossas", recebiam a ajuda de Abida, deidade que tinha 
encomendada a tarefa de aliviar a todos os humanos à hora da morte, pois acolhia as almas 
puras e purificava as impuras. Também se diz que o Tártaro era um lugar de perdiç ã o, sim, 
mas constituído por cidades cheias de funcionários e também de vários edifícios que eram 
como sedes dos diferentes tribunais perante os quais tinham que comparecer as almas dos 
mortos para serem julgadas. O próprio palácio do Rei Yama encontrava-se numa das cidades 
principais do mundo infernal e, ao lado deste soberbo -e, ao mesmo tempo, tétrico edifício- se 
levantavam as diversas edificações que albergavam no seu interior as terríveis câmaras de 
tortura e suplício. Esta mítica cidade chamava-se Fong-tu e tinha uma entrada principal, 
denominada "Porta do Mal"; no extremo oposto, ficava protegida e resguardada por um 
pustulento rio -posteriormente, também entre os mitos greco-latinos aparecerá o rio 
Aqueronte, cujas turvas, lodosas e fedorentas águas, rodearã o o lugar de perdiç ã o chamado 
Tártaro, que contava com trê s pontes, as quais constituíam outros tantos acessos a Fong-tu, 
embora pelo lado contrário desse para a zona principal. A primeira ponte estava construída em 
ouro maciço e só os deuses podiam atravessá-la. A segunda ponte era de prata e estava 
reservado às almas que tinham sido justas. 
A terceira ponte era muito mais comprida e estreita do que as anteriores e atravessá-la 
resultava perigoso, pois carecia de corrimões para se agarrar. As almas que tinham sido 
perversas e viciosas estavam obrigadas a atravessá-la e, se caíssem no fedorento rio, seriam 
imediatamente trituradas por monstros que tomavam a aparê ncia de serpentes de bronze e de 
raivosos cã es de ferro. A mitologia dos povos do longínquo oriente contava, também, com 
lugares de felicidade e de dita, isto é, com paraísos. Como já se indicou, o da "Grande 
Montanha" era um deles. O outro era a "Terra da Extrema Felicidade de Ocidente", e, 
geralmente, era o lugar escolhido por "Rei Yama" para enviar aquelas almas dos mortais que 
tinha encontrado inocentes e que, pelo mesmo motivo, considerava justas. O primeiro dos 
paraísos estava habitado pela "Dama Rainha" (a quem a tradiç ã o mítica fazia esposa do 
poderoso "Senhor do céu" que, no cimo da montanha mais alta, tinha construído o seu 
grandioso palácio; este era um edifício fabuloso -contava com mais de nove andares-, rodeado 
de jardins com plantas e flores aromáticas e permanentemente verde. Aqui crescia, oculto 
num lugar recô ndito, a mítica "Á rvore da Imortalidade"; dos seus frutos se alimentavam os 
bem-aventurados, isto é, aqueles que tinham levado uma vida reta e justa e que, portanto, nã o 
tinham enganado nem maltratado nenhum dos seus semelhantes. Por tudo isso lhes era 
permitido conviver com as deidades denominadas "Imortais". Era muito comum, entre as altas 
esferas da sociedade chinesa, tais como os seus monarcas e classes poderosas, dar culto -nos 
inícios da primavera e da estaç ã o outonal- ao Céu, à Terra, ao Deus da Guerra e ao grande 
mestre Confúcio. Também as duas luminárias eram objeto de adoraç ã o entre a populaç ã o do 
ancestral território do extremo oriente. 
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Tanto o Sol como a Lua eram astros considerados como personificações de certas deidades. E 
nã o só os imperadores e a classe poderosa mas também o povo apoiava o culto às citadas 
luminárias; pelo qual a veneraç ã o à Lua e ao Sol ficava convertida, ao mesmo tempo, em 
culto oficial e popular. Eram ofereciam sacrifícios aos citados astros coincidindo com ano par 
ou ímpar. Os anos ímpares estavam consagrados ao Sol e os anos pares à Lua. Ambas as 
luminárias apareciam também relacionadas com os dois princípios essenciais. O Sol era 
princípio ativo e, portanto, era associado com o "Yang"; ao passo que a Lua era princípio 
passivo, pelo qual aparecia sempre relacionada com o "Yin". Para a populaç ã o chinesa, estes 
dois princípios tinham uma importância capital. Se concebia a eternidade como um círculo 
que carecia de um princípio e que nã o tinha fim. O "Yang" e o "Yin" estavam dentro dela, 
como duas forças que se necessitam mutuamente e, pelo mesmo motivo, em vez de opor-se, 
se complementam. Na mitologia dos povos do extremo oriente, portanto, tudo se encontra 
estruturado com antecedê ncia -nã o há lugar para improvisações e se rejeita qualquer tipo de 
intuiç ã o-, e classificado em itens que se sobrepõem, a maneira de arquivo, para dar lugar a 
emoções, paixões, tendê ncias e necessidades. 
Outros mitos dos povos orientais -especialmente entre a populaç ã o que seguia os ensinos de 
Buda, o "Iluminado"- explicavam que o Tártaro se encontrava num lugar escuro e subterrâneo 
e, segundo a crença popular, tinha umas características bastante contraditórias. Havia oito 
infernos de fogo e outros oito de gelo. E ambos produziam nos condenados torturas pelo calor 
ou torturas pelo frio. No entanto, também existiam -distribuídos em cada um dos quatro 
pontos correspondentes aos infernos principais, tanto de fogo como de gelo- outros lugares de 
perdiç ã o inferiores que, em ocasiões, supriam os dezesseis principais. Contudo, nã o se sabia 
com certeza o sítio exato onde estes lugares de perdiç ã o iam surgir. Apareciam tanto -o que 
sempre sucedia de forma repentina- na profundidade de um vasto e verde vale como no pico 
de uma montanha; até uma árvore milenar podia converter-se subitamente em sede de um 
destes infernos inferiores. À s vezes surgiam no próprio espaço e o ar abrasava ou gelava os 
condenados. Por outro lado, todas as condutas estavamcontroladas pelos ajudantes e 
funcionários do "Juiz do Averno", que se sentava num trono duro encaixado entre duas 
estantes de pedra. Na da sua esquerda encontra-se o "Julgador que vê tudo"; é uma figura 
feminina que penetra com a sua vista no mais recô ndito do pensamento daqueles que 
comparecem para serem julgados. À direita situa-se o "Julgador que cheira tudo"; trata-se de 
uma figura masculina que tem como funç ã o descobrir, com o seu fino olfato, qualquer aç ã o 
injusta ou imoral que tenha cometido o mortal que comparece para ser julgado. Portanto, 
como se pode comprovar, nã o há escapatória possível para os condenados, dado que todas as 
suas ações foram "vistas e cheiradas". 
Embora, para reduzir a pena, estivesse permitido que os vivos intercedessem em favor dos 
condenados, o que requeria sempre uma atuaç ã o inteligente e um mestre budista como 
mediador. Toda a natureza, segundo a tradiç ã o popular, devia ser cuidada e mimada e 
resguardada, e preservada de qualquer mal, dado que através dela se manifestavam as 
diferentes deidades. Fenômenos naturais como o raio, o trovã o, a chuva torrencial, o vento 
forte. .., deviam a sua apariç ã o a uma deidade menor. E, assim, Yun-t Ong tinha a funç ã o de 
reunir as nuvens, depois de tê -las formado, e era invocado com certa freqüê ncia como o 
"jovem deus que reúne as nuvens". Também contavam os povos do extremo oriente com a 
"Dama do céu Sereno", que tinha a missã o de limpar todo o espaço, uma vez que a chuva 
parava. Se dizia que afastava as nuvens com o seu hálito purificador. Outra deidade, 
considerada como um agente celeste, era Tien-kuan, que se encarregava de levar ao mundo 
dos humanos a maior felicidade possível. Em ocasiões era associada com a "Mã e dos 
Relâmpagos" e, entã o, recebia o nome de Tien'mu. A lenda dos povos do extremo oriente 
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explica que Tien'mu produzia o raio servindo-se de dois espelhos. Também o ruído 
ensurdecedor do trovã o era produzido por uma deidade menor; recebia o nome de "Senhor do 
trovã o" e, por isso, estava considerado como o amo e dono do ruído. 
Também se venerava, especialmente entre as classes poderosas, o deus da riqueza. Em quase 
todas as casas dos ricos havia nã o só um desenho com o nome do deus gravado em caracteres 
ideográficos, mas também uma efígie representativa da deidade. Deste modo, sempre o 
consideravam próximo deles e podiam dirigir-lhe as suas preces com assiduidade, na crença 
de que, assim, nunca se veriam reduzidas a sua fortuna e o seu patrimô nio. O deus das 
riquezas era conhecido pelo nome de T'saichem; o seu poder era superior ao das outras muitas 
deidades similares e até tinha designados numerosos deuses para o servirem e levarem a cabo 
as tarefas que aquele considerasse mais duras e difíceis. Outro aspecto muito importante, que 
também estava regulado e protegido por uma deidade, era o estamento familiar com todas as 
suas implicações. A intimidade da família, e as relações pessoais entre todos os seus 
membros, ficavam a salvo de críticas adversas, proferidas por pessoas nã o integrantes do 
grupo familiar. De tudo isto se encarregava o deus T'sao-Wang e, em troca, recebia todos os 
dias o reconhecimento dos seus protegidos. Era freqüente, entre as famílias da populaç ã o do 
extremo oriente, honrar o deus que se erigia em seu protetor, por meio de um ritual que 
consistia em queimar varetas de incenso, ao mesmo tempo que se invocava o nome do deus 
T'sao-Wang, duas vezes; uma quando começava o dia e outra ao anoitecer. 
Cada profissã o, ofício e trabalho, tinham a sua deidade protetora. Entre todos estes deuses, a 
tradiç ã o popular destacava o deus das letras e da literatura, ao qual se atribuía uma obra de 
conteúdo simbólico e emblemático. Era conhecido pelo nome de Wen-t'chang e, segundo a 
lenda, antes de chegar a obter a distinç ã o de protetor das letras e da literatura já tinha passado 
por dezessete existê ncias; o dezessete estava concebido, entre os orientais, como um número 
repleto de significaç ã o mágica e esotérica. O livro que tinha escrito o próprio deus era, por 
assim dizer, uma espécie de biografia e nele se indicava o dado das dezessete reencarnações, 
ou novos nascimentos. Também se davam pautas a seguir para agir com moralidade e retidã o 
e, geralmente, se louvava o saber e a inteligê ncia sobre quaisquer outros aspectos. Segundo a 
mitologia dos povos do extremo Oriente, a interpretaç ã o dos caracteres ideográficos do livro 
escrito pelo deus Wen't-chang leva a considerar à sabedoria por cima de quaisquer outros 
aspectos. Mediante o saber e a inteligê ncia se pode superar qualquer obstáculo e, ao mesmo 
tempo, equilibrar qualquer sofrimento. A sabedoria, segundo explica na sua obra o deus das 
letras e da literatura, é como uma espécie de "Candeeiro da câmara escura", o que significa 
que até nos momentos mais difíceis da vida, quando vemos tudo negro, quando nos achamos 
encerrados na "Câmara escura" deste mundo dos mortais, sempre existirá a luz do 
"Candeeiro" que proporciona o saber e a inteligê ncia para, assim, tornar possível uma nova 
procura, uma soluç ã o inédita. Outro dos deuses principais que a populaç ã o oriental venerava 
recebia o nome de Fo. 
Este era um deus superior aos anteriores, pois ocupava o primeiro lugar entre as outras 
deidades que compunham a tríade da Felicidade. A sua importância, dentro da mitologia 
chinesa, era acrescentada porque representava, ao mesmo tempo, a Hierarquia, a Fortuna e a 
Honra. A ele acudia quem sentia o peso de um destino e um azar adversos; também os 
governantes solicitavam de Fo que os guiasse no momento de legislar, para que nenhuma 
norma injusta saísse da sua cabeça nem fosse permitida no seu reino. Era solicitado, além 
disso, por todos aqueles que tinham sido objeto de escárnio e desonra, mediante engano. Ao 
parecer -e segundo a crença popular-, Fo devolvia-lhes a sua honra perdida, pois por algo era 
um deus principal. O mito relativo a este deus poderoso nos fala do seu nascimento 
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portentoso, da forma em que surgiu da costela direita da sua mã e que, segundo conta a lenda, 
tinha sonhado antes que um belo elefante branco a possuía. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MITOLOGIA INDIANA 
Nos assentamentos urbanos do vale do Indo, entre os restos 
da civilizaç ã o precursora de Harappa, nas ruínas das 
altamente evoluídas cidades de Harappa e Mohenjo-Daro, 
encontraram-se as imagens em terracota e em selos de 
cerâmica de diversas divindades que bem podem 
considerar-se como precursoras das posteriores 
representações bramânicas. Esta cultura, que já se 
comunicava regularmente com a mesopotâmica no século 
XXIV aC, tinha o touro como animal emblemático 
principal, dada a abundância das suas representações, 
certamente como garante da fecundidade e como símbolo 
da vida após a morte; o touro ou boi sagrado compartilhava 
a sua popularidade, a julgar pelo número de achados, com 
uma deusa-mã e que também estaria a cargo da proteç ã o da 
fecundidade, de um modo similar ao que o faria séculos 
mais tarde a deusa Devi, esposa de Siva, uma figura da 
qual esta deusa inominada do vale do Indo pô de ser 
antecessora. O ubíquo e predominante touro sagrado 
aparece também em outras representações de perfil perante uma pira ritual, como o fará 
depois uma das advocacias de Siva, Nandi; assim como outra representaç ã o do touro sagrado, 
em lugar preeminente junto de outros animais, pode ser, por sua parte, assimilada à posterior 
advocacia de Siva como protetor dos animais, o deus Pashupanti. Outros

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