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DIREITO CONSTITUCIONAL III - CCJ0021 Tema: A Constituição de 1988 como um texto dirigente e compromissório Estrutura 1. O surgimento do constitucionalismo e do conceito de Estado de Direito. Constitucionalismo Movimento político, jurídico e ideológico que aperfeiçoou a ideia de estruturação racional do Estado e de limitação do exercício de seu poder, concretizada pela elaboração de um documento escrito destinado a representar sua lei fundamental e suprema. De acordo com o prof. Dr. José Joaquim Gomes Canotilho, o constitucionalismo é identificado em inglês, americano e francês, preferindo falar em “movimentos constitucionais”. Para esse doutrinador, o constitucionalismo moderno representa uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos. = juízo de valor. Teoria normativa da política. Montesquieu, autor de O Espírito das Leis (1748), merece destaque especial entre os principais teóricos políticos-filosóficos que, trata das relações entre as leis e as diversas coisas (entendem-se coisas relações de leis com a natureza e princípio de cada governo), veio a influenciar de maneira decisiva o constitucionalismo dos governos presidencialistas modernos. Montesquieu era simpático às monarquias em especial a inglesa. Preocupava-se com a liberdade, muito embora, afirme que dependa da organização do Estado e de suas instituições o alcance desse bem “liberdade não é a possibilidade de se fazer o que se quer, mas, no sentido diverso, de poder fazer tudo o que as leis permitem”. Conclui-se então, que para não sermos prejudicados não devemos prejudicar os outros em nome de nossa própria segurança. Montesquieu mostrava-se favorável a uma “divisão interna dentro do próprio Estado”, para tanto se faz necessária à separação dos poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Sustentava uma maior capacidade de “verificar os abusos do poder” se mais pessoas o observassem. Via as “preservações da lei” como garantia da liberdade. Para tanto, a Constituição deve obedecer aos propósitos de “garantir a estabilidade e aplicação efetiva das leis” e “impedir toda a concentração excessiva da potência de comando”. Deste último, resume a tese de separação dos poderes, tema principal de O Espírito das Leis. Origem história Tem sua origem nas Constituições dos Estados Unidos (1787) e da França (1791), ambas são Constituições escritas e rígidas, inspiradas nos ideais de racionalidade do Iluminismo do século XVIII e, sobretudo, na valorização da liberdade formal e do individualismo, marcas nucleares do Liberalismo. Essas Constituições estabeleciam regras acerca da organização do Estado, assegurada pela enumeração de direitos e garantias fundamentais do indivíduo. Nasceu com o constitucionalismo a expressão Direito Constitucional, o qual evidencia a organização estatal como uma ordem jurídica. Com a evolução do pensamento, a Constituição passou a representar o espelho de toda e qualquer forma de organização política. Atualmente, o constitucionalismo tornou-se político, democrático e social, mas sem perder o seu traço marcante que é a limitação, pelo Direito, da intervenção do Estado (Governo) na esfera privada. O Direito Constitucional é um ramo do direito público, fundamental à organização, ao funcionamento e à configuração política do Estado. Evolução histórica: Canotilho apontou dois grandes movimentos sociais na Europa: o constitucionalismo antigo e o moderno. 1. Constitucionalismo Antiguidade (até o século V – tomada do Império Romano do Ocidente pelos povos bárbaros – 476 d.C.): Antiguidade Clássica Karl Loewenstein verificou, entre os hebreus, o surgimento do constitucionalismo, ao limitar o poder político do Estado teocrático, pois garantiu aos profetas a legitimidade para fiscalizar os atos governamentais que extrapolassem os limites bíblicos. (LOEWENSTEIN, Teoria de La Constituición, p. 154). Destaca-se que, no século V a.C., esse mesmo filósofo-político germânico, utiliza como exemplo as Cidades Estados gregas como importante ato de democracia constitucional, na medida em que a democracia direta, consagrava “... o único exemplo conhecido de sistema político com plena identidade entre governantes e governados, no qual o poder político está igualmente distribuído entre todos os cidadãos ativos”. (LOEWENSTEIN, Teoria de La Constituición, p. 155). Constitucionalismo Idade Média (século V até o fim do Império Romano do Oriente, com a queda de Constantinopla, no século XV – 1453 d.C): Magna Carta de 1215 marco do constitucionalismo medieval. Constitucionalismo durante a idade Moderna (1453- 1789 – Revolução Francesa): Destacam-se: Petition of Rights, de 1628 Habeas Corpus Act, de 1679 Bill of Rights, de 1689 Act of Settlement, de 1701 Além dos pactos firmados, observam-se também os forais ou cartas de franquia, igualmente voltados para a proteção dos direitos individuais. A diferença desses para os pactos, é que admitem a participação dos súditos no governo local (elemento político). Ressalta-se que esses direitos individuais eram direcionados para determinados homens, e não sob a perspectiva da universalidade. (LENZA, Direito Constitucional Esquematizado, p. 71-72) Constitucionalismo moderno (durante a Idade Contemporânea): Destacam-se as constituições escritas “como instrumentos para conter qualquer arbítrio decorrente do poder”. Marcos históricos: Constituição norte-americana de 1787 e a francesa de 1791 (que teve como preâmbulo a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789), movimento que surgiu durante o Iluminismo e efetivado em adversidade as ideias do absolutismo. Verifica-se no constitucionalismo moderno o povo como titular legítimo do poder. 2. Conceito de Constituição Sentido sociológico (Ferdinand Lassale): “O que é Constituição”. Constituição não é uma folha de papel. Constituição é a soma dos fatores reais de poder que emanam da população. Todo Estado tem uma Constituição. Sentido Político (Carl Shmitt): Constituição é uma decisão política fundamental (posição decisionista). Sentido jurídico (Hans Kelsen): “Teoria Pura do Direito”. Segundo Kelsen, o sentido jurídico se divide em duas partes: c.1.) sentido jurídico-positico: a Constituição é uma lei. É a lei mais importante de todo o ordenamento jurídico. É o pressuposto de validade de todas as leis (para que uma lei seja válida precisa ser compatível com a Constituição). Kelsen representa esse sentido, por meio de uma pirâmide. TIDH (art. 5º, §3º, CF/88): Convenção sobre os direitos das pessoas c/ de- CF ficiência TIDH não aprovados c/ o proce- dimento do art. 5º, §3º (Pacto de São José da Costa Rica) LO, leis delegada, LC, MP Atos infralegais, decretos, portarias e etc. ATENÇÃO: Segundoo Supremo Tribunal Federal, Lei Ordinária e Lei Complementar têm a mesma hierarquia. Procedimento de incorporação dos tratados internacionais: Celebração do tratado: é o Presidente, nos termos do art. 84, da CF/88. É necessário o referendo do Congresso Nacional (aprovação) Decreto-Legislativo (art. 49, inciso I, CF). Decreto presidencial ingressa no Direito brasileiro. Os tratados internacionais ingressam no Direito Brasileiro com qual hierarquia? OBS.1: Em regra, os tratados ingressam com força de Lei Ordinária. OBS.2: Os tratados internacionais sobre direitos humanos aprovados nas duas Casas do Congresso Nacional, em dois turnos, com quórum de 3/5, ingressam no direito brasileiro com força de Emenda Constitucional (artigo 5º, § 3º da CF). Emenda Constitucional 45/04. REGRA: 2235. OBS.3: Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos não aprovados com o procedimento do art. 5º, § 3º, da CF. Segundo o STF, ingressam no direito brasileiro como norma supralegal (acima das leis) e infraconstitucional (abaixo da CF). Atualmente, para que uma lei seja válida no Brasil, precisa passar por um duplo controle, ou seja, controle de constitucionalidade e de convencionalidade. Controle de Constitucionalidade é a verificação da compatibilidade das leis e atos normativos com a Constituição. Controle de Convencionalidade: verificação da compatibilidade das leis e atos normativos com os tratados supralegais. c.2) Sentido lógico-jurídico: segundo Kelsen, o Direito é um sistema hierárquico de normas (a norma inferior obtém sua validade na norma superior). - Na teoria de Kelsen há um problema: Onde a CF tira sua validade? Sentido lógico jurídico: acima da CF há uma norma não escrita (norma fundamental hipotética), cujo único mandamento é que “obedeça a constituição”. - Existe hierarquia entre leis Federais, Estaduais e Municipais? Não existe hierarquia entre leis Federais, Estaduais e Municipais, pois cada ente federativo tem uma competência diferente, ou seja, cada um deles fala de temas diferentes. No entanto, todas elas devem respeitar a constituição. Cada ente federativo tem sua pirâmide, devendo respeitar a CF. - E se uma lei municipal invade aquilo que é competência do Estado? Ou se o Estado invade aquilo que é competência da União? Se um ente federativo invade a competência de outro ente federativo essa lei será inconstitucional, por violar a repartição de competência prevista na CF. Sentido material: nesse sentido, o que importa é se a norma tem caráter constitucional ou não, ou seja, é o conteúdo. Constitucional será aquela norma que define e trate das regras estruturais da sociedade, de seus alicerces fundamentais (formas de Estado, governo, seus órgãos e etc.). No critério material é possível encontrarmos normas constitucionais fora do texto constitucional. Sentido formal: o que importa é como a norma foi introduzida no ordenamento jurídico. “Nesse sentido, as normas constitucionais serão aquelas introduzidas pelo poder soberano, por meio de um processo legislativo mais dificultoso, diferenciado e mais solene que o processo legislativo de formação das demais normas do ordenamento”. (LENZA, Direito Constitucional Esquematizado, pág. 90). Ex.: O art. 242, §2º, da CF/88 determina que o Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal.
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