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III FUNCOES MANIFEST AS E LATENTES SOCIOLOGIA ABORDAGEM A CODIFICAQAO DA ANALISE FUNCIONAL NA SOCIOLOGIA A ANALISE FUNCIONAL e, aO mesmo tempo, a mais promissora e possl.velmente a menos codificada das orientagoes contemporfmeas dos problemas de interpretagao socio16gica. Tendo-se desenvolvido em muitas frentes intelectuais ao mesmo tempo, cresceu em fragmentos € emendas e nao em profundidade. As realizag6es da analise funcio- nal sac suficientes para sugerir que a sua maior promessa sera cum- prida progressivamente, assim como suas atuais deficiencias dao teste- munho da necessidade de se revisar periodicamente ° passado, a fim de melhor edificar para 0 futuro. No minimo as re:o.valiagoes ocasionais trazem a luz da discussao franca muitas dificuldades clue, de outro mo· do, permaneceriam ticitas e nao mencionadas. Como todos os esquemas interpretaLivos, a analise funcional depen- de de uma triplice alianga entr" a tegria, 0 metodo e as dados. Dos ires aliado3. 0 metodo e, em todos os -;'spectos, ;'~~is fraco. -Muitos dos principais praticantes da analise funcional devotaram·se as formulagoes te6ricas e :w aclaramento dos conceitos; alguns encharcaram-se de dados diretamente pertinentes a uma estrutura funcional de referencia; porem poucos sao as que romperam 0 siH~ncio preponderante. relativo ao mo- do de coneretizar a analise funcional. No entanto. a quantidade e va- riedade das analises funcionais levam a conclusao de que alguns metodos tem sido empregados e despertam a esperanga de que mUito se possa aprender de seus estudos e exames. Embora seja possivel examinar com proveito os !!letodop sem refe- rencia a teoria au aos dados substantivos - e e precisamente esta a ta- ret:o. da metodologia ou da l6gica dos processos - as disciplinas empiri- camente orientadas sac servidas do modo mais completo pela investi- l!agao dos processos, se levados em conta seus problemas te6ricos e re- fiultados es!>enciais. Po is 0 usa co "metodo" envolve nao somente a 16- glca mas, desafortunadamente talvez, para aqueles que precisam lutar EDIToR A MESTRE JOU SAO PAULO ---I com as dificull1ades da pesquisa, tambem os problemas praticos de niveo Jar as dados com os requisitos da teoria. Pelo menos, esta e a nossl!> premissa. Em CDnseqi1€mcia,entreteceremos nossa exposiQao com uma .revisao sistematica de algumas das principais concepQaes da teoria fun· ~ional. Desde os seus ptim6rdios, a abordagem funcional na sociologia tem sofrido de confusao terminol6gica. Com demasiada jreqi.iencia, um s6 termo tem sido usado para simbolizar diferentes conceitos, assim como 0 mesmo conceito tem sido simbolizado por termos diferentes. Tanto a cIa· reza da analise como a adequaQao da comunicaQao tern side vitimas de tal leviandade no uso das palavras. As vezes, a analise sOfre pela invo- luntaria variaQao do conteudo conceptual de urn dado termo, e a comu- nicaQao com outras pessoas se rompe quando essencialmente 0 mesmo contet'ido e obscurecido par uma bateria de diversos termos. Nao teremos senao de seguir, pot breve espago, os caprichos do conceito de "f].lllQ3.o'::' para descobrir como a claridade conceptual se perde e a comunicaQao se destr6i com vocabuh'trios de analise funcional competidores entre si. te, e na verdade quase tipico, por alguns economistas que se referem a "anl11isefuncional de um gropo" quando relatam a distribuigao de ocupa- Qaes em tal grupo. Sendo esse 0 case, 'pode ser de born aviso seguir a sugestao de Sargent Florence 2 de que seja adotada para tais investiga- goes a frase descritivamente mais pr6xima, "analise ocupacional". Urn terceiro uso, representando uma variedade especial do anterior, encontrarse tanto na linguagem popular como na ciencia politica. 0 ter- mo funQao e usado frequentemente a fim de significar as atividades atri- buidas. ao ocupante de uma situagao social e, mais particularmente, de uI\1cargoou posigao politica. Isto deu origem ao termo"funcionario", ou "empregado", Embora neste sentido a fungao se sObreponha em sign(· ficagao mais extensa ao significado adotado para tal termo em sodolo· gia e em antropologia, seria melhor que a excluissemos, uma vez que ela distrai a atenQao do fato de que as fungoes sac realizadas nao s6 pelos ocupantes de posiQaes designadas, como tambem por uma extensa escala de atividades padronizadas, de processos sociais, de padraes de cultlira, e de sistemas de cr.enga encontrados numa sociedade. Desde que foi introduzida por Leibniz, a palavra funQao tern sua sig- nificaQao mais exata na maternatica, na qual ela se ref ere a uma varia. vel considerada em relagao a uma ou mais de outras variaveis, em ter· mos da qual 'ela pOde ser expressa, .ou de cujo valor depende seu pr6prio valor. Est.u concepgao, num sentido mais extenso (e freqi1entemente mais impreciso), e expressa por frases como "interdependencia fundo- 11al"e "relaQo~s funcionais", tao freql1entemente '3:dotadas por.:'(:ientistas sociais.3 Quando Mannheim observa que "cada fate social e uma fun· 0ao do,.te.mpq,_.e_doluglOl.t:em que ocone", ou-CiUandoumde~'afir. ma ,Que_:'osindices de nasciIrierito estao em funQao da situagao economl· ca", estao manifestarnente fazendo uSa da significaQao matematica, em· bora a primeira nw seja relatada na forma de equaQaes e a segunda 0 seja. 0 texto geralmente toma claro que 0 termo funQao esta sendo 118adoneste sentido matematico, mas os cientistas sociais movem·se de la para ca entre esta significagao e outra que the e relativa, embora dis- tinta, a qual tambem envolve a nogao de "interdependencia", "relaQao reciproca", ou "variagoes mutuamente dependentes". E esta quinta significaQao, que e fundamental na analise funcionaJ, Ilm 86 Termo, Diversos Conceitos A palavra "~" tem sido utilizada por diversas disciplinas e pela linguagem popular, com 0 resultado nao inesperado de que sua signifi· .:a.giioseja rreq\1entemente obscurecida na pr6pria sociologia, Limitando· -nos apenas a cinco significados comumente reservados a esta palavra, desprezaremos numerosos outros. Para comeQar, ha 0 use popular de acordo com 0 qual "funQao" se rafere a algurna reuniao publica ou f~ tividade, llsualmente realizada com tonalidades cerimoniais. E em tal sentido que se deve admitir 0 significado, quandO um jornal afirma num cabegalho: "0 Prefeito Tobin nao ap6ia a funQao social", pois a noticia esclarece que "0 Prefeito Tobin c'.eclarou hoje que nao esta interessado em qualquer funQiio social, nem 8utorizou a pessaa alguma que vendes- se bilhetes ou propaganda para qc;,alquer evento". Embora tal usa sejl\ bastante comurn, entra tao raramente na literatura academica, que em na- 'da contribui para 0 CaOsque prevalece na terminologia. Evidentemente, ·~ste significado da palavra e inteiramente estranho a analise funcional na :sociologia. Urn segundo uso torna 0 termo "fungao", virtualmente equivalente :ao termo "ocupUQao". Max Weber, por exemplo, define ocupagao como ~·o modo de especializag3.o, especificagao e combina<:;aodas fungaes de urn individuo, com referenda ao que para ele constitua a base de uma oportunidade continua de ganho ou lucro",! Este uso do termo e freqiien- 2. P. Sargent ¥lorence, Statistical Method in Economics, (Nova Iorque: Harcourt, Bra.ce & Co., 1929); 357-58n. 3. Assim, diz Alexander Lesser: "Em seus aspectos 16gicos essenciais, que e uma relac;ao funcional? Tem alguma diferen~a em especie com as relag6es funcionais ern outros campos da ciencia? Penso que nao. Uma relaQao verdadelramente fun clonal e a que se estabelece entre dols ou mais termos ou variiweis de modo tal que se possa afirmar que em certas condiQaes definidas (que formam um termo da relaQao) se observam certas expressaes determinadas das ditas condiQaes (que sao a outro tenno da relaQaoJ. A rela~ao ou relaQaes funclonais enunciadas de todo aspecto delimitado da cultura dever" ser tais, que expliquem a natureza e 0 carater do aspecto delimitadoem condi<;.oes definidas". "Punctionalism in social anthropology". American Anthropologist, N.S. 3\' (935), 386·93, pig. 392. 1. Max Weber, Theory of Social and Economic Organization, (editado por Talcott Parsons), (LolOdres: WlIliam Hodge & Co., 1947). 230. tal como tem sido praticada na sociologia e na antropologia social. De- rivando em parte do<sentido matematico nativo do termo, este uso e'inais frequente e expll.citamente ~dotado nas ciencias bio16gicas'l nas quais 0 \ermo fungao se refere aos bEP,",,~.s.sp~considerados nos ~pecto~_E;m_que contribuem para a mari.~tengao do organismo": 4 Com rri6dlficagoes apropriadas ao estudo da socledade ~umana, esta Slg- 2lificaQao corresponde de modo bastante pr6ximo ao conceito-chave de funQao tal como e adotada pelOs funcionalistas antropol6gicos, puros au moderados. 5 A .~adcli:~!e-Brown_~_..w.m.-COID-.ll1lO\.~_Y"-!'.9.iienclaexplica tal signific~~o ao traQar seu eficaz conceito de funQao social em relaQao ao modele ana- 16gico encontrado nas ciencias biol6gicas. A maneira de Durkheim, ele afirma que "s funQao de um processo fisio16gico recorrente e assim uma correspondencia entre eSse e as necessidades (isto e, as condiQoes neces- sarlas de existencia) do organismo". E ua esfera social, em que os seres humanos individuais, "as unidades essenciais", estao ligadas por redes de relaQOes sociais num tedo integrado, "a fungao de qualquer atividade recorrente, tal como a puniQao de um crime, ou uma cerim6nia funebre, ./? e a parte que ela desempenha na vida social como um todo e, portanto, / a contribuir;ao que ela da a manutenQao da continuidade estrutural. "5 Embora MalinOwski divirja em diversos aspectos em relagao as for- mulag6es de_Radcliffe-Brown, ele concorda com 0 mesmo quando conside- ra que oa~clei>d~,'$E~alise funcional e oJstu~o "sIO;papel. que (~S fat~. res soc~is)-desemPen1la.nL.illLs.o?l~dade'. Malmowskl expoe numa de suas primeiras declaraQoes de prop6sitos: "illste tipo de teoria ob- jetiva a explanaQao dos fatos antropo16gicos em todos os nfveis de de- senvolvimento por sua fungiio, pela parte que lkes toca dentro do sistema integral de cultura, pela maneira com que slio relacionados a cada um dos outros componentes dentro do sistema ... " 7 Tal como veremos em breve, com alguns detalhes, frases que se re- petem como esta: "0 papel desempenhado no sistema cultural ou social", tendem a conferir imprecisao a importante distinQao entre 0 conceito de fungao no sentido de "interdependencla" e 0 de "processo". Nem ne- cessitamos fazer pausa aqui a fim de observar que 0 postulado susten- tador de cada item de cultura tem algumas relaQ6es duraveis com outros Hens, de que tem algum lugar distinto na cultura total, muito pouco pos- sa equipar 0 observador de campo ou 0 ~lllalista com um guia especffico para os processos de trabalho. Seria melhor que tudo isso aguardasse. No momento, necessitamos apenas reconhecer que certas formulag6es mais recentes tem aclarado e ampliado este conceit a de fungao atraves de especificuQoes progressivas. Assim, Kluckhohn diz: " ... um determi- {lado artigo de cultura e 'funcional' enquanto define um modo de rea· gao que e adaptativo, se considerado do ponto de vista da sociedade, e ajustavel, do ponto de vista do i:ndividuo".8 Dessas conotagoes do termo "fungao", e apenas tocamos em algu- mas poucas extrafdas de uma vasta lista, e claro que muitos con- ceitos sao inclufdos na mesma palavra. Isto e um convite a confusao . E quando muitas palavras diferentes sac usadas para exprimir a mesmo conceito, desenvolve-se confusao cada vez maior. o grande conjunto de termos usados de modo indiferente e qUase como sin6nimo de "funQao", i:nclui os significados de usa, utili dade, fi:na- lidade, motivo, intenQao, alva, consequencias. Se pusessemos estes e outros termos semelhantes em usa, para nos referirmos ao mesmo con- ceito estritamente definido, evidentemente haveria pouca utilidade em abservar sua numerosa variedade. Porem, e fate que 0 usa indisciplina- do destes termos, com sua referencia conceptual ostensivamente seme- lhante, conduz a afastamentos sucessivamente maio res, em relaQao a analise funcional rigorosa e justa. Os significados de cada termo, que mais diferem que coincidem com 0 significado que tern em comum, cons· tituem a base (i:nconsciente) para inferencias que se tomam crescente- mente duvidosas, na proporQao em que se distanciam progressivamente do conceito central de fungao. Uma au duas ilustraQ6es ressaltarao que um vocabulario m6vel estimula a multiplicagao dos mal-entendidos. No trecho seguinte, extrafd6 de urn dos mais sensates tratados da so- ciologia do crime, podem-se reconhecer as variaQoes do significado de termos nominalmente si:n6nimos, e as duvidosas inferencias que depen- dem de tais flutuaQoes de entendimento. (Os termos·chave sac grifa- dos a fim de nos ajudar a encontrar nosso caminho atraves do assunto.) 4. Vejam·se, por exemplo, Ludwig von Bertalanffy, Modern Theories of Development (Nova Iorque: OXford University Press, 1933), e 9 e segs., 183 e segs.; W. M. Bayliss. Principles of General Physiology (Londres, 1915), 706, on de descreve suas pesquisas sObre as fungoes dos harm6nios descobertos por Starling e por ele pr6prio; W. B. Cannon, Bodily Chan· ges in Pain, Hunger, Fear and Rage (Nova Iorque: Appleton & Co., 1929), 222, em que des creve as "funeoes de emerglmcia do sistema simpatico-supra-renal". 5. Lowle ;·faz distineao entre 0 "funcioneJlsmo puro" de Malinowski e a "funclonalismo mOderado", de Thumwald. Embora a distineao seja acertada, ver-se·" em segulda que nao e pertlnente aos nossos prop6sltos. R. H. Lowie, The History of Ethnological Theory (Nova Iorque: Farrar & Rinehart, 1937), Capitulo 13. 6. A. R. Radcllffe-Brown. "on the concept of function in social science", American Anthro· pologist, 1935, 37, 395-6. Veja·se tambem Seu posterior discurso presidencial perante 0 Royal Anthropological Institute, em que declara: " ... Eu definlrl'a a funeao social de urn modo de atividade soclalmente padronizado, ou de um modo de pensamento, com sua rela<;ao com a estrutura social para cuja exlstencla e continuldade faz qualquer contri- bulgao. An1l10gamente. num organlsmo vivo, a funeao f1siol6glca das batldas do coragao, au da secre(;ao dos sucos gastricos, e sua relaQao com a estrutura. orgAnica ... ~ "On social structure", The Journal of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, 1940, 70, Pt. I, 9·10. 7. B. Malinowski, "Anthropology", Encyclopaedia Britannica. Primeiro volume suplementar, (Londres e Nova Iorque, 192(j), 132-133 [0 r;rifo e nosso). 8. Clyde Kluckhohn, Navaho Witchcraft, Trabalhos do Museu Peabody de Atqueologla e Etnologia Americanas, Unlversidade de Harvard, <Cambridge: Peabody Museum, 1944). XXII, N." 2, 47a. Finalidade do castlgo. Em diferentes grupos, e em cpo cas dlferentes, tern sldo feitas tell' tattvas para determinar a finalidade ou fun~ao do castigo. Multos pesqulsadores tern l.uslstido em que algum motivo era 0 motivo do castlgo. POI' outro lado, sallenta-se a fuu~iio do castigo em restaurar a solldarledade do grupo, que fol enfraqueclda pelo crime. Thomas e Zna· niecki tern indicado que eutre os camponeses da Polbnia 0 castigo do crime e destiuado primariamente a restnurar a situa~ao que existia a.ntes do crime e a renovar a solidariedade do grupo, e que a vingan!;a e uma consideracao secunda-ria. D~ste ponto( de vista, 0 castigo dlz respcilo primariamcnte aoOgrupo e somente scc.uudariamcntc ao ofensor. POI' outro lado, a expia~ao, a intimlda~ao, a reform a, a lucro para 0 Estado e outras coisas tem sldo formu- ladas como a fun~iio do castlgo. No passado como no presente, nao e claro que algum destes seja 0 motivo; os castigos parecem derlvar de muitos motivos e reallzar muitas fun~6cs. 1sto c verdadeiro tanto em rela~ao as viti mas Individuals de crimes como em rela~ao ao Estado. Certamenteas leis da presente epoca nao sao congruentes em propositos au motivos; provavelmente exlstlam as mesmas condl~6es nas sociedades prlmltlvas. 9 Esta passagem, e' uma interessante mistura de pequenas ilhas de cIa- reza, no meio de vasta confusao. Semprc que eia erradamente identi- iica rn0tiyos ,(subjetivo..sLc...CllU.funQ6es (objetivas), abandona uma tomi'>- a:a-~dep6siQ§.o'funcfOnai lt1cida" Pais nao (; precise admitir, como vere- mos, G.u~s-motivos para contrair matrimonio ("amor", "razoes pessoais") sac identicos as junr;oes desempenhadas pelas familias (socializac;ao da crianQa). Ademais, nao e necessario admitir que as razoes apresentadas pelas pessoas para justificarem seu comportamento, ("n6s agimos por ra· z6es pessoais") sejam identicas as cO!1seqiienc~a..sobservadas de tais pa- dr6es de comportamento, '.f> disposiQao sUbjetivi\p_~~e i(:oincidin com a conseqiii~ncia i::>bjetiv~mas tambem pode {nao coincidir. As duas va- riam de modo independente. Contudo, quando se diz que as pessoas sac levadas a se lanQar em determinado comportamento que pode dar origem a funQ6es (nao necessariamente intencionadas), apresenta·se um escape para se sair do perturbado mar de confus6es. 11 Esta breve apresentaQao de terminologias em competiC;ao e suas desa- fortunadas consequencias pode servir-nos de guia em direQao a esforQos posteriores, para. atingir a codificac;ao dos conceitos de analise funcio- nal. Evidentemente havera muita ocasiao para limitar 0 uso do concei· to sociol6gico de "funQao", e havera necessidade de se distinguir claramen- te entre categorias sUbjetivas de disposiQao, e categorias objetivas de can- seqih~ncias observadas. Sa assim nao for, a substancia da orientaQao fun· cional podel'a perder-se numa nuvem confusa de definiQ6es. Em primeiro lugar, deveremos atentar para a lista dos termos que ostens1vamente se referem ao mesmo conceito: finalidade-, funQao, moti- vo, destinaQao prim!1ria e consideraQao secundaria, prop6sito. Exami- nando-os, torna-se claro que estes termos, se agrupam em estruturas con- ceptuais de rejerencia inteiramente distintas, Por vezes alguns d{Hes- motivo, desfgnio, prop6sito e finalidade, - claramente se referem as ex- plwitas jinaltdades dos representantes" do Estado. Outras vezes - mo· avos, consideraQao secundaria - referem-se, as jinalidad..es da vltima dO crime. E ambos estes conjuntos de termos sac por igual referfdos as ante· cipaQOes subjetivas dos resultados do castigo. Porem, 0 conceito de fun- Qao inclui 0 ponto de vista do observador, nao necessariamente 0 do par- . ticipante. A funQao social se ref ere as;conseqiU~ncias objetivas observQ..1J,.,~'ets, e nao as disposir;oes ,subjetivas (prop6sitos, motivos, finalidades). E ~~ a falha em distinguir entre as conseqiiencias sociol6gicas objetivas e as ;o~ disposiQ6es subjetivas, inevitavelmente conduz a confusao da analise fun- \ cional, como se pode perceber no seguinte fxcerto, (no qual tambem as pa· lavras-chave sac grifadas): o extremo da irrealidade e atlngldo na apresentaguo das chamadas "fungoes" da fami· lia. Ouvimos dizer que a familia, realiza importantes fun£il.~, na sociedade; proporciona a perpetua~lio d!Uo'Jm.~~~~mento dos jovens; preenchefuiiQ"oeSe'con:Omicas e religiosas, e assim pOl' diante. Quas., somoS"Ieviid:Qi-,i>.--s:creditar que as pessoas 'se"c'asanre'enl"li1hos porquc estao a~siosas, em desempenhar 'essas fun~5es necessarlas. Na realidade, as pesp:?as se casam porquc se enamoram, ou par outras raz6es menos romllnticas, porem, nao menop pessoais. A fungao da familia, a partir do. ponto de vista dos individuos, e satisfazer seu' desejos. A fungiio da familia ou de outra qualquer instltul~lio social c simJllesmente 0 llS0 que as pessoas dela fazem. AS "fun!;oes" sociais saa em sua maior 'parte raciona1iza~ije.s de praticas estabelecidas; nos agimos em primeiro lugar, explicamos depois; nos agimos por raz6es pessoais, e justifieamos nosso comportamento pOl' principios sociais e Clleos. Na. me- dlda em que essas fun£oes das Institui~6es tenham qualquer base real, devem-se aflrmar em termos dos processos soclais nos quais as pessoas atuam, na tentativa de satisfazer seus desejos. As fun~6es surgem da integra~ao dos seres humanos concretos e das finalidades eoncretas.10 Principalmente, 'mas nao somente em antropologia, os analist.as fun- ciOnais tem adotado comumente tres postulados interligados os quais, c-onforme agora sugeriremos, saa discutiveis e desnecessarios para a orien· tagao funcional. De modo sUbstancial, tais postulados mantem, em primeiro lugar, que as atividades padronizadas ou Hens cUlturros, sac funcionaill--para todo o si~~m.§.sociai-6ii--cu1turaf; errLsegundo lugar, que ..1!L~$--e~se.ll_itElnll..so- ciais e culturais pr~cn:em'funQ6es soc1OI6gicas; e em terceiro,' que tais Hens sac conseqUentemente'1ndis·pensQ.veis. Embora estes tres artigos de fe sejam vJstos comumente apenas uns em companhia dos outros, seria 11. ~stes dois exemplos de confuslio entre motivo e tungao sao tirados de um reposit6rln tacllmente acesslvel de materlais adicionais da mesma classe. Mesmo Radcliffe·Brown, que de costume evita esta pratica, de vez em quando esquece de fazer a distln~ao. Por exemplo: "... a troca de presentes nlio servia a mesma finaUdadc que 0 comerclo e 0 escambo em comunidades mals desenvolvidas. A finalidade que servia era uma flnalldade moral. 0 objeto da troea de presentes era produzir um sentlmento amlstoso entre as duas pesSoas afetadas e, se nao servia pa.ra isso, fracassava. em sua finalidade .... o "objeto" da transagao esta visto do ponto de vista do observador, do participante ou dos dois? Veja·se A. R. Radcliffe-Brown, The Andaman Islanders, (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1948), 84 [0 grifo e nosso J. 9. Edwin H. Sutherla.nd, Principles of Crlminology, 3.a edigao (Flladelfia: J. B. Lippincott, 1939), 349·350. 10. Wlllard Waller, Thc Family, (Nova torque: Cordon Company, 1938), 26. melhor que fassem examinados separadamente, desde que cada um de- les da origem a suas pr6prias dificuldades distintas. E Radcliffe-Brown quem de modo caracteristico estabelece esse postu- lado em termos explicitos: A func;;ao de urn uso social particular e a contribuiQao que ele faz para a vida social iolal como se dO.0 ·funcionamento do sistema social total. Tal visao impliea em que urn siste;"a social (a estrulura social tolal de uma sociedade, juntamente com a totalidade dos usos sociais, no aspecto em que a estrutura aparece e naquele de que ela depende para slla existencia continuada), tern uma certa especie de unidade, a que podemos nos referir como unidade funclonal. Podemos defini·la como uma condi~ao na qual tbdas as partes do ~~s.• tema social trabllltham em conjunto com urn grau suficiente de harmonia aU coerencia in· terna, isto e, sem produzir conflltos perllistentes, 08 quais nao podem ser resoividos nem regulados.12 Contudo, e importante notar qUe ele prossegue de screven do essa no- l,<ao de unidade funcional como uma hip6tese que exige prova comple- mentar. Poderia a principio parecer que Malinowski estava questionando a aceitabilidade empirica desse postulado, quando nota que "a escola so- ciol6gica" (na qual ele coloca Radcliffe-Brown) "exagerou a solidariedade social do homem primitivo", e "negligenciou 0 individuo".13 porem lo- gO se torna aparente que Malinowski nao abandona tal admissao dllbia, como ainda consegue acrescentar-Ihe outra. :ll:le continua a falar de pra- ticas e crengas padronizadas, como send a funcionais "para a cultura C0- mo urn todo", e prossegue admitindo que elas sac tambem funcionais pa- ra cada membro da sociedade, Assim, referindo-se as crengas primitivas no sobrenatural, ele escreve: Aqui a visao funcional e submetida eo sua. prova de fogo... E' obrigada a demonstrar de que maneira a cren~a e 0 rito trabalham para integra~ao social, para a efici~ncia.tecnlca e econ6micB, para a. c,ulturacomo um todo, indiretamente, portanto,. para 0 bem~estar bio- 101'llcoe mental de cada membro individual. 14 Se a suposigao nao qualificada, isolada, e questionavel, est a dupill. suposigao e duplamente questionavel. Be os itens culturais, uniforme- mente preenchem fungoes para a sociedade visualizada como urn sistem,a, 12. Radcliffe·Brown, "On the concept of function", op, oit., 39'1 [0 grifo e nosso]- 13. Ver Malinowski, "Antropology", op. cli., 132e "The group and the individual In func- tional analysis"', American Journal of Sociology, 1939, 44, 938-64, pag. 939. 14. Malinowski, "Anthropology", op. oit., 135. Malinowski manteve este ponto de vista, sem mUdan~a essenelal, nos seus trabalhos posteriores. Entre estes, veja-se par exemplo, "The group a.nd the Individual in functional analysis", op. cit., 962-3: "... vemos que toda institui~ao contribui de uma parte para 0 funcionamento integral da comunidade oomo um iodo, mas que tambem satistaz as necessidades derivadas e basicas do indi- viduo ... todos as beneficios que acabames de enumerar sao desfrutados par cada memo bra individual". [0 grifo e nessol. e para todos os membros da SOfliedade, .~ presurnivelmente uma guestao rlIripiri'ca d~ fato .••.ao inves de constituir-se.num axioma ....; ••".'""".~, ·Kluckhohn evidentemente pereebe 0",.problema. vis to que amplia as alternativas a fim de incluir.;a possibilidade ou de que as formas culturais "sao ajustadas ou adaptativas... para os membros da sociedade au para a soci6dade considerada como uma unidade duravel".15 Este primeiro passe e necessario para que se permita a variagao na unidade que e ser- vida pela fun~ao imputada. Compelidos pela f6r~a da observa~ao empi- rica, teremos ocasiao de alargar a faixa da variagao ainda mais, em re- lugao a essa unidade. Parece razoavelmente claro q~P a nociio da unidade fun_9.iQI!..~Ln_4~e ~lm postulatlo fora do alc~nce das pro vas emp~icas; ~.Q...CQ.ll.t.r.lll.io. o grau de integra~ao e uma variavel empirica,16 .~cill-.ruLm~smaJo- ciedade, de tempos a tempo~e diferindo entre s~qfL<.'!jJ.~J.gptes. Que t6das as sociedades humanas devam ter a/gum grau de integragao, e assunto de defini9ao e convida a interrogaQao. Po rem, 'mem tOdasas sociedades t,em aquele alto grau de integra1<ao no qual cada atividade 9u ~renga culturalmente padronizada_.seja funcig;:al ~~_~l~!9 __Uo..Q!~_ade como urn. £oao,euniformemente.,,.,funcionaLpara 0 ,,,povo,gue,,nela .,)li1?~. Efetivamente, Radcliffe-Brown nao precisaria olhar -;iem do seu pref'eri- do reino da analogia, a fim de suspeitar da adequabilidade de sua admis- sac da unidade func1onal. Pois encontramos variagoes significativas no grau de integragao, mesmo entre organismos biol6gicos individuais, em- bora a admlssao do senso comum nos contasse que aqui, segtN"amente, tadas as partes do organismo trabalham em diregao a uma finalidade "unificada". Considere-se· somente isto: Facilmente se pode ver que existem organismos altamente integrados sob estreito controle do sistema nervoso, ou dos hormonios, dos quais a perda de qualquer parcela maior afetar!l fortemente todo 0 sistema, e freqo.entemente causare. a morte. Porem de outro lado, existem os organismos inferiores muito mais frouxamenie correlacionados, nos quais a perda de mesmo uma grande parte do corpo causa somente um inconveniente temporario, durank a regeneraQao dos tecidos de sUbstitui~ao. Muitos desses animais organizados de mado mais frouxo sac tao pobremente integrados, que as diferentes partes podem estar ern oposi9ao umas as outras. Assim, quando uma estrela·do-mar comum e colocad'" de costas, parte dos bra~os pode tentar virar 0 animal numa direQao, enquanto que as outros trabalham p",ra viro.-Iona direQao oposta.,. Oomo resultado de sua frouxa iniegra~ao, a anemona-do·mar pode mover-se do lugar e deixar uma por~ao de seu pe agerrando-se fortemente a umi' tocha, de modo que a animal sofre seria ruptura.17 S" tal e verdadeirocom organisrnos isolados, poderia parecer a jor- tiori que 0 mesmo sucedesse com sistemas sociais complexos. 15. Kluckhohn, Navaho Witchcraft, 46b [0 grifo e nosso]. 16. A primeira revisao que fez Sorokin de teorias de unifica~ao social, tem 0 merito de nao ter perdido de vista este fato importante. Veja-se "Forms and problems ot culture- .integration", por P. A. Sorokin, em Rural Sociology, 1936,1, 121-41;344·74. 17. G. H. Parker, The Elementary Nervous System, citado por W. C. Allee, Animal Agg-re. gation. (University of Ohicago Press, 1931),81-82. Nao precisamos prosseguir muito longe neste ca~po'p'ar~:d~m(JIJ.$trar q~!J• .2\l1r~"~t~~~,,,,~idad,~oli~1mPi(Jna,l.,,,completa,<ltda;:,,,soCiea~~~l~ma e rep.~.ticIa,rn~~tl1,,99I,1t~~l,l?~W~,us:~e.OS~SOSjO~;se~tlmentos 'SOClalS1\~Odem ser ..funcionais .,t;p:j,E,~~l~JtB~t"g~p()s"e""..H~9.;~JE1~;9.n.~§;"p~ra.',0~tros~da/jtmes. ma:,sociedade. Os antrop6logos cltam com frequenCla a crescente so- Haariedade da comunidade", e "0 crescente orgulho da famil~a", como exem- plos de sentimentos funcionalmente adaptativos. No entanto, conforme .in- dicou Bateson18 entre outros, urn aumento de orgulho entre famfllas individuais pode freqiientemente servir para romper a solidarieda~e de uma pequena comunidade local. Nao somente 0 postulado da urn- dade funcional e contrario aos fatos, como tambem tern pequeno valor heurfstico desde que ele distrai 31 aten!;ao do analista em rela!;ao a possi- veis cons~qUencias dispares de urn dado item social ou cUltural (uso, crenQa, padrao de comportamento, instituiQao) para diversos grupos so- ctais e pam os membros individuais desses grupos. 0''' Se 0 volw.ne de observaQao e de realidade que nega a admissao .cia ~:midade funcional e tao grande e tao facilmente acessfvel como temos sugerido, e interessante perguntar como e que Radcliffe-Brown ~ ~?- t~ que seguem sua orientaQao tem continua do a sustentar esta ad~llss~•.~. UIDa' pista possivel e proporcionada pelo fato de que esta concep0ao, em suas recentes formulaQoes, foi desenvolvida por antrop6logos sociais, isto e, por homens que se ocupam de modo primacial com 0 estudo de socie- dades agrafas. Em vista do que Radin descrev<;)ucomo "a natureza altamen- te integrada na maioria das civilizaQoesaborigenes", esta admissao pode ser l.oleravelmente adequada para algumas, senao para todas as sociedades {).grafas. Contudo, paga~SEl:t~excessivapenalidade intelectual por esta su- posiQao, que possivelmente seja 11til ao ambito 'de pequenas sociedades lletradas, para 0 das sociedades letradas, grandes, complexas e altamen· te diferenciadas. Talvez em nenhum outro campo os perigos de tal trans- ferencia de suposiQao se torne mais visivel do que na analise funcional da religiao. ltste assunto merece urn breve exame quando mais nao se- ja devldo ao fato de que ele exibe em audacioso relevo as icteias erroneas das quais nos tornamos herdeiros, quando adotamos simpaticamente es- ta suposiQao, sem uma. filtragem completa. ,A Interpretacii.o Funcional da Religiiio. Ao examinar 0 preQo pago pe-; Is. transferencia desta suposiQao tacit a de uma unidade funcional dp campo de grupos iletrados relativamente pequenos e comprimidos para 0 campo de sociedades mais diferenciadas e talvez mais integradas, e 11tHcon- siderar 0 trabalho dos soci610gos, 'Particularmente daqueles que sejam or- dinariamente sensiveis as suposicoes sObre as quais trabalham. Isto tem urn interesse passageiro devido a sua influencia sobre a questao mais ge- ral de procurar, sem modifica!;ao apropriada, aplicar ao estudo das 50- ciedades alfabetizadas, concepQaes desenvolvidas e amadurecidas no es- tudo das sociedades agrafas. (A mesma questao essencial vale quanta a transferencb de processos e tecnicas de pesquisa, porem nao e aqui Que este assunto sera tratado). As grandes generaliza!;oes, nao limitadas no espaQo e no tempo, acer- ca das "fun!;aes integradoras da religiao" sac derivadas em grande par- te embora evidentementenao seu todo, de observaQ6es efetuadas em s;ciedades agrafas. Nao tern sido raro verificar que 0 cientista social adota implicitamente os achados relativos a tais sociedades e prossegue discorrendo prolixamente s6bre as funQaes integradoras da religiao em geral. Dai, ha apenas urn passe para que se facam afirmaQ6es como a seguinte: A razao pela qual a religillo e necessaria esta aparentemente manifestada no fato de qUe a sociedade humana alcan~a sua unidade primariamente atraves da posse, por seu! membra:;, de certos valOres finais e objetivos em comum. Embora tais valOres e objetivos sejam de apreciaerio sUbjetiva, Mes influenclam 0 comportamento, e sua integracao capaclta a soCi", dade a operar como urn sistema.19 Numa sociedade extremamente avan~ada erguida s6bre a tecnologia cientifica, a clo.,'3sC !'clBcerdotal tende a. perder importancia, porque a tradi~§'o sagrada e 0 supernaturalismo caem paoTa urn segundo plano... [mas] Nenhuma socledade tornou·se tao completamente .ecularizada a ponto de liquidar intelramente a crenea em finalidades transcendentals e entidades sobrenaturais. Mesmo numa sociedade seculariza.da algum sistema deve existir para a integraeao dos valOres finais, para sua expressao rituallstiea. e par •• os ajustamentos emocionaig exigidos Pclo desengano, a morte e a desgra~a.20 "' . -------- Partindo da orienta!;ao de Durkheim, que era baseada na sua maior parte s6bre 0 estudo de sociedades-iietradas, estes autores tendem a i5o- lar somente as conseqiiencias aparentemente .integradorlls da religiao c a negligenr1ar suas consequencias posslvelmente desintegradoras em cer· tos tipos de cstrutura social. No entanto, considere-se a seguinte lista de :fatos e interrogaQoes: (1) Quando religiOes diferentes coexistem na mes- ma'sociedade, freqiientemente ocorrem conflitos profundos entre os diver- sos grupos religiosos (considere-se apenas a enorme literatura acerCa de confUtos inter-religiosos nas sociedades europeias). Entao, em que sen- tido a religiao proporciona a integraQao "da" sociedade, nas numerosas sociedades multi-religiosas? (2) E clara. a afirmaQao de que "a sociedade humana alcanQa sua unidade (na medida em que ela exiba tal unidade) primariamente atraves da posse por seus membros de certos valores e fins definitivos em comum". Porem, qual e a evidencia a indicar que os grupos "nao-religiosos", digamos, em nossa pr6pria 50ciedade, sUbscre--;;. vam com menor freqiiencia certos "valOres e objetivos" comuns. do ljue osgrupos devotados a doutrinas religiosas? (3) Em que sentido a rell- giao favorece a integraQao da sociedade em geral, se 0 conte11do de sua doutrina e de seus valOres esta em oposi!;ao ao conteudo de outros va- Jares nao-religiosos, adotados por muitas pessoas na mesma sociedade? (Considere-se, por exemplo, 0 conflito entre a oposiCao da Igreja Cat6- 19, Kingsley Davis e Wilbert E. Moore, USome principle,r,; of stratification", Ameriean Sociological Review, sbril de 1945, 10, 242·49, pag. 244 [0 grlfo oj nosso]. 20 Ihid .. 246 10 grlfo oj nossoJ. Iica a legislagao referente ao trabalho das crianQas, e os vaWres secula- res de evitar a "exploraQao de jovens dependentes". Ou as.avll,llagoes contrastantesdo contrale de natalidade por diversos gruposreligiosbsYi.de nossa sociedade). Esta li'i'ia de fatos que sac verdadeiros lugares-comuns, relativos ao papel cIa religHi.o nas sociedades letradas contemporaneas, poderia ser grandementc ampIiacIa, e elas sac evidentemente bem conhecidas daqueles antrop6logos c soci6logos funcionais que descrevem a religiao como integra- clora, sem limitar 0 alcance das estruturas sociais nas quais tal efeito efe- tivamente se da. Pelo menos e concebivel que uma orientagao te6rica, derivada da pesquisa realizada em sociedades agrafas, tenha servido para obscurecer dados de outro modo conspicuos, relativos ao papel funcional da religiao nas sociedades multi-religiosas. To,lvezseja a tro,nsferencia do,su- posigao da unidade fundonal a responsavel pela eliminagao de tada a hist6ria das guerras de religiao, da Inquisigao (a qual meteu 0 bedelho em uma sociedade ap6s outra) e dos conflitos sangrentos entre grupos reli- giosos. Pois 0 fato e que todo este material o,bundantemente conhe- ddo e ignorado em favor de ilustraQ6es extro,idas do estudo da ren· giao em sociedades agrafas. E ainda ha mais urn fate chocante naqlle- Ie trabalho acima citado, que prossegue, afirmando que "a religiao pro- porciona a integragao em termos de sentimentos, crengas e ritos", e que nenhurna referencia sequer faz aO papel possivelmente divisor da religiao. Tais analises funcionais podem significar, evidentemente, que a reli- giao proporciona a integragao daqueles que o,creditam nos mesmos vaW- res religiosos; porem, e improvavel que seja isto 0 que se tinha em mente, porque equivaleria meramente afirmar que teda coincidencia sabre qual- quer tabua de valares, produz a integrar;iio. Alem do mais, isso Hustra tambem 0 perigo de tomar a admissao da unidade funcional, a qual pode ser uma razoavel apro:xrlmagao para algumas &ociedades agrafas, como parte de urn modelo implicito pa- ra a analise funcional generalizada. Tipicamente, nas sociedades agrafas, r ha apenas urn sistema religioso predomimmte, de modo que, a parte asl desvios individuais, a filiagao da sociedade total e a filiagao da comuni-dade religiosa sac virtualmente coexistentes. Obviamente, neste tipo deestrutura social, uma escala comurn de val6res religiosos pode tercomo uma de sua..<;consequencias 0 refal'go de sentimentos comuns e da integra.- Q9.0social. Porem, isto nao se presta fadlmente a uma generalizagao que se possa defender para Qutros tipos de sociedade. Teremos ocasiao de voltar a outras consequencias te6ricas da analise funcional atual da religiao, porem, no momento, isto pode ilustrar os perigos que herdamos ao adotar c postulado nao qualificado da unidade funcional. .J:;sta unidade da sociedade total na~ pode afirmar-se com ~ 2) velto antes cia observagao. :E guestao de fate e nao materia de opi- ____ '-" 'niao. A estrutura te6rica da" analise· fu;;(;iQnal deve exigir expressamen-~ -_.__...- ..-_.....__._...._--=---_ ...- tequehaja especijicaci'io das unidades para as quais seja funcional urn ds· j d~emsor.ial 011 cultural. Ela deve conceder que urn determinado item Q1 Jr ten,ha",diversasevnsequencias, funcionais e disfuncionais, p.m:,aindivi- duos,para subgrupos, epara a estrutura e cultura socialmais ampJas. Do modo mais sucmto, este postulado afirma que -tq<!§s .. as .,formas so- c1atLQY.5!Y)tllrl!-i§,p~.qr.onizadas,.tem. funQues_positi..yas.JComo em .outros aspectos da concepQao funcional, Malinowski formula este em sua for- ma mais extrema: :~:!;';<" ;'c,i;" , • "0 conceito funcional da cultura insiste, portanto, s6bre 0 prino.ipio de que em cada tipo ue civHiza~ao, cada costume, objeto material. idela e cren~a preenc,he alg-uma funtlao vitnl. .. 21 Como tcmos visto, embora Kluckhohn faga concess6es a variaQao nil. unidade servida por uma forma cultural, ele se une com Malinowski ao postular 0 valor funcional para tadas as formas sobreviventes de cultu- ra. ("Meu postulado basico,., e que nenhuma forma de cultura sobre· \'iva em algum sentido .. ,"Xl) Este funcionalismo universal pode ser ou nao urn postu!ado heuristico; isto fica para sel" verificado. Porem ~os estar preparados para determinar se ele tambem desvia a o,tenguo critlca de uma vanedade de conseqiii'mcias nao-!uncionais de formas cUlturais ~xistentes De fato, quando Kluckhohn procura ilustrar sua a!lrmag~o mediante a atrlbuiQao de "fungoes" a Itens que aparentemente nao as tern, ele vol- ta a urn tipo de fUllg1l,Oque deverio, ser encontrada, por dejinic;ao ao in- yes de por invelltigac;ao,servida por todos os. itens persistentes da cultu- ra, Assim, ele sugere que: Os bot6es das mangas de uma roupa europeia de homem, presentemente inuteis do ponto / de vistamec{\nico, desempenham a "fun,ao" de preservar a familiar, de manter uma tradi,ao. As pessoas se sentem, em geraI, mais contorblveis, quando se tornam cOnscias de uma continuidade de comportamento, se consideram como seguidoras das form as de comporta· mento ortodoxas e social mente aprovadas.23 Isto pareceria representar 0 caso marginal em que a imputac;ao de funQoes P01J.CO ou nada acrescenta it ctescrigao direta do padrao de cultu- ra ou forma de comportamento, Pode-se bem admitir que todos os elemen- tos esrabelecidos de cUltura (os quais sac frouxamente descritos como "tra- diQao") tern a func;ao minima; embora nao exclusiva, de "preservar 0 fa- miliar, de manter uma. tradiC;ao". Isto equivale a dizer que a "funQao" do conformismo com qualquer pratica estabelecida e habilitar 0 confor- miSla a evitar as sanQoes em que incorreria ao se desviar da pratica con- 21. Malinowski, "Anthropology". op. eit., 132 [0 grifo, que e nosso. talvez seja superfluo, em vist", dn linguagem energica do original J. 12. Kluckhohn, Navaho Witohcrafl, 46 [0 grifo e nosM]. "J, Ibid., 47. sagrada. Isto e sem duvida verdadeiro, porem pouco esclarecedor. Con- tudo, serve para nos fazer recordar que teremos que explorar os tipos de junQoes que 0 soci610gopressupoe. No momento, isto· sugere a suposi- gaq;.provis6riade,que,embora qualquer manifestagao de cultura ou de eg- • ~rutura social possa ter fungoes, e prematuro sustentar inequlvocamen- Y--' ./ te que cada uma de tais manifestagoes deva ser funcional. . 0 postlllado do funcionalismo universal, evidentemente, e 0 produto da feroz, esteril e arrastada controversia acerca dos "sobreviventes", que grassava entre as antrop6logos durante a primeira parte do seculo. A nogao de uma sobrevivencia social, isto e, nas palavr30Sde Rivers, de "um costume. i. (que) nao pode ser explicado pel30sua utilid30deatual, porem somente se tom3o inteligivel atraves de sua hist6ria p3ossad3o,"24 data pe- 10 menos do tempo de Tucidides. Mas, quando as teorias evolucionis- tas da cultura se tornar3omproeminentes, a conceito da sobrevivencia pa- receu muito mais estrategicamente importante para reconstruir os "est§,- gios de desenvolvimento" das culturas, particul30rmente para as socieda- des agrafas, as quais llaO possuiam nenl1um registro escrito. Para os funcionalistas que desejavam afastar-se de algo que consideravam como a "hist6ria" usualmente fragmentaria e freqUentemente conjetural das so- ciedades agrafas, 0 ataque sObre a nogao da sobrevivencia tomou todo 0 simbolismo de um ataque sObre 0 total e repugnante sistema do pensa- mento evolucionista. Talvez, em conseqUencia, eles reagiram de modo _. J1y? t'xtremado contra este conceito central da teoria evolucionist3oe ofereceramv-r ;;;:::>um"postulado" igualmente exagerado, segundo 0 qual "todo e qualquer cos- /' tume (em qualquer lugar). " preenche alguma fungao vital". Seria Jamentavel deixar que as polemicas de nossos antep3oss3odosan- tropo16gicos criassem. esplendidos exageros no presente. Uma"vez desco- bertas, cata10gadas e estudadas, as sobrevivencias soclais nao podem ser cxorcizadas por um postulado. E se nao podem apresentar nenhum es- pecime de t30issobreviv~ncias, entao a discussao se extingue por si mesma. Alem do mais, pode-se dizer que mesmo quando tais sobrevivencias pos- sam ser identiticadas r.as sociedades letradas contemporaneas, elas pare- cem pouco acrescentar 300nosso entendimento do comportamento huma- no ou d30dinamica das mudangas sociais. Nao necessitando do duvido- so papel de pobres substitutos da hist6ria escrita, a soci6logo das socie- dades letradas pode negligenciar as sobrevivencias sem nenhum30 perda aparente. Porem, ele nao precisa ser impelido par uma controversia ar- eaica e irrelevante a adotar 0 postulado irrestrito, de que tOdas as ma- nifestagoes culturais exercem fung6es vitais, pois isto tambem e um problema de investigagao e nao uma conclusao que se anteponha a ela. 24. W. H. R. Rivers, "Survival in sociology", The Soctological Review, 1913, 6, 293·305. Veja-se tambem E. B. Tylor, Primitive Culture. (Nova lorque, 1874), especialrnente I. 70·159; e, para urna revisao mais recente da materia, Lowie, The History of Ethnologica! Theory, 44 e segs., 81 e seg. Uma e"posi~ao inteligente e moderada do problema pode ser encontrada em Emile Durkheim, Rnles of Sociological Method. Capitulo 5, especial· mente na plig. 9t. Muito mais 11tHcomo uma orientar;ao a pesquisa, poderia ser a admissiio provis6ria de que as formas persistentes tem um saldo liquido de conse. quencias juncionais tanto para a sociedade considerada como unidade, quanta para subgrupos suficientemente poderosos para que possam reter intatas essas form3os,atraves de coerr;ao direta ou persuasao indireta. Essa formulagiio evita imediatamente a tendencia da anaJise funcional no sentido de concentrar-se sObre fung6es positivas e dirige, ao mesmo tempo, a atengiio do pesquisador a outros tipos de consequencias. Postulado .:da ·.Indispensabiltdade o ultimo deste trio de postulados, comuns entre os cientistas SOClalS !uncionais, e 0 mais ambiguo em alguns aspectos. A ambigUidade tor- na-se evidente na declarar;8.o de Malinowski ja mencionada, segundo a qual em cada tipo de civiliza~ao, cada costume, objeto material, ideia e crenta preenche alguma funtao vital, tern alguma tarefa a cumprir, representa uma parte indispens"vel dentro de urn todo que funciona.25 Nesta passagem, nao e de todo claro se ete afirm30a indlspensabili- d30deda fungiio, ou da coisa (costumes, objeto, idei3o,crenga) que pre- enche a fungao, au de ambas. Esta ambigiiidade e bastante comum na literatura. Assim, os ante- riormente citados Davis e Moore relatam 0 papel da religiao, parecr,n- do a principio sustentar que 0 indispensavel e a instituigiio. "A razao pe- la qual a religiao e necessaria ... ", " ... 30religiao ... desempenha um pa- pel tinieo e indispensavel na sociedade".26Porem, logo se evidencia que nao e tanto a religiao que e considerada como indispensavel, mas ao in- yeS disso, as funQ.6~s_.cie_qu~ a ~ e tlpicamente encarregada de realizar. Para ~.~oore, a. religla~ e considerada como indispen- savel somentenaextensao em que)ll1tfunciOna, a fim de fazer as mem- bros de uma sociedacle adotarem·~J_Q§. valOres e fins definithws .em comum.'~/ Acrescenta-se que tais vaIOres e fins,' . . devem ... par~cer aos membros da sociedade como tendo alguma realidade e que e papel da cren~a rellg.osa e do ritual fomecer essa aparencia da realidade. Atraves do rito e ct" cr~n~a, os val6res e objetivos comuns sao Jigados a um mundo lmaginario, simbolizado pelos obJetos sagrados concretos, mundo ~ste que por sua vez Ii relacionado de maneira signifl' caUva aos fatos e dificuldades da vida do lndivlduo. Atraves da venera~ao dos objetos !agrados e das entldades que Hes simbollzam, da aceita~ao das prescrltlies sobrenatnrnts que ao mesmo tempo constituem c6digos de comport amen to, exerce-ge um poderoso contr61e s6bre a conduta humana, guiando-a ao longo de llnhas que sustentam a estrutura institu- cional e que sao conformes aos fins e va16res definitivos.27 Malinowski, "AnthropOlogy", op. cit., 132 [0 grlfo Ii nossol. K!ngSley Davis e Wilbert E. Moorej op. cit., 244, 246. Veja.se a r€VlSao mais recente de~te. ~ssunto por Davis em sua introdu~iio 11obra de W. J. Goode, Iteligion Among the Pnmltive.s, (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1951) e as instrutivas interpreta~6e5 funclOnals que se encontram nesse volume. 27. Ibid., 244-45 (0 grifo e nosso). Entao, a alegada indispensabilidade da religiao e baseada na admis- 5a,0 do fato de que e unicamente atraves do "culto" e das "prescriQoes so- " brenaturais" qUe pode ser alcanQado 0 minimo necessario de "contr61e ~s6bre a conduta humana" e a "integraQao em terroos de sentimentos c crenQas". Resumir,do, 0 postulado da indispensabilidade, tal como e comurnen- to afirmado, contemduas asserQoes relacionadas, porem distinguiveis. Primeiro, supoe-se que haja certas fungoes que saa indispensaveis no: sen- tido de que, a menas que nao sejam realizadas, a sociedade (a grupo au 0 individuo) nao persistira. Isto, entao, exprime urn conceito· de pre-re- quisitos funcionais, ou precondigi5es funcionalmente necessarias auma sociedade (teremos ocasiao de examinar este conceito com alguns deta- Ihes). Segnndo, e isto e assunto bastante diverso, admite·se que certas formas cu!turais ou sociais sac indispensaveis para preencher eada wn.a ~essas fun('oes. Isto implica urn conceito de estruturas especializadas e insubstHuiveis, e da origem a t6da especle de dificuldades te6ricas. Pois, nao s6 pode Se demonstrar isto como sendo manifestamente contra- rio aos fatos, mas tambem aearreta diversas suposiQoes subsidiarias, as quais tem afetado a analise funcional desde seu infcio. Isto desvia a atenQao do fato de que as estruturas sociais alternativas (e as formas tulturais) ttlro servido, sob condiQoes a serem examinadas, as funQoes necessarias a persistencia dos grupos. Prosseguindo, devemos estabele- cer urn teorema basieo da analise funeional; tal como a mesma coisa ____ .pode ter multiplas funr;()es, assim pode a mesma funr;lio ser diversamen- te preenchida par coisas diferentes. As necessidades funcionais sac aqul tomadas como permissivas, ao inves de determinantes das estruturas so- dais especificas. Ou, em outras palavras, ha uma margem de variaQao naS estruturas que preenchem a fUnQao em questao. (Os limites dessa margem de variaQao envolvem 0 conceito de coerQao estrutural, do qual trataremos mais detidamente a seguir). Contrastando com este conceito implicito de formas culturais indis- pensaveis (instituigoes, praticas padronizadas, sistemas de crenga etc.), ha entao, 0 conceito de alternativas funcionais, ou equivalentes luncio- nais, ou substitutos funcionais. :ltste conceito e amplamente reconheci- do e usado, mas e necessario observar que ele nao pode apoiar-se con- fortavelmente s6bre 0 mesmo sistema teorico que acarreta 0 postulado da indispensabilidade de formas culturais particulares, Assim, depois de haver revisto a teoria de Malinowski, da "necessidade funcional de mecallismos, tais como a magia", Parsons tern 0 cuidado de fazer a se- guinte afirmaQao: BlBLWT.cCA. Isto e urn grande afastamento da insistencia do pr6prio Malinowski, de que: Assim, pois, 2.1 magia preenche uma fun~iio indispensavel dentro do. cultuta. Eta satisfaz urns. necessidade definidu, a qua! nao pade ser satisfeita por quaisquer outros fat Ores da eivilizayao primitiva.29 Este duplo conceito da funQao indispensavel e do padrao insubsti- tuivel de crenga-e-aQiiofrontalmente exclui 0 conceito das alternativas funcionais De fatUI 0 conceito das alternativas ou equivalentes funcionais tern emergido repentinamente em cada disciplina que adotou uma estrutura !uncional de analise. Por exemplo, e extensamente usada nas ciencias psico16gicas, tal como ( indicado num trabalho de English. 30 E na neu- rologia, LaShley tem indicado, baseando-se em eVidt'lncias experimen. tais e clinicas, a inadequaQao da "suposiQao de qUe os neur6nios indivi- duais sao especializados para funQoes particulares", sustentando, ao contrario, que uma funQao particular pode ser preenchida por uma va- riedade de estruturas alternativas. 31 A sociologia e a antropologia social tern 0 melhor motivo para evi- tar 0 postulado da indispensabilidade de certas estruturas, e para traba- Ihar sistematicamente com 0 conceito das alternativas funcionais e dos substitutos funcionais. Pois, assim como os leigos ha muito tern erra- do ao admitir que os costumes "estranhos" e crenQas de outras socieda- das eram "meras superstiQoes", assim os cientistas sociais funcionais correro 0 risco de errar no extremo oposto, primeiro, sendo super!iciais na determinaQao de valOres funeionais ou adaptativos em tais pratieas e c:e~Qa~,.e segundo, deixando de ver quais modos alternativos de SQao sao ..ehmmados agarrando-se a essas praticas. ostensivamente 'funcionais Assim, nao raramente se.encontra entre os funcionalistas a pretensfu) e~ Co~cl~.r-Jue a magia ou certos rjtos reJigiosos e crengas, sejam funcio- nals, _~~~~doa seu efeito sabre 0 estado de espirito au autoconfianQa do~r..e.nt~.. ~o entanto, pode-se dar em alguns exemplos, que essas pratlicas d.e .mag1a OpscuteQam e tomem 0 lugar de praticas seculares aces- Slve1Se mais adaptativas. Conforme FL. Wells observou: dos p~eg~r Uma ferradura aclma da porta, numa epldemla de variola, pode erguer 0 moral as r abltantes d~ casa. mas nao afastara a variola; tais crenQB.S e praticas nao suportarao p ovas clentlilcas as quais sao suscetlvels, e 0 senso de seguran~a que etas dao e preser. vado apenas enquanto as provas verdadeiras sao evltadas.32 29. Malinowski, "Anthopology", op. cit., 136, (0 grifo e nosso]. 30. Horace B. English, ~'Symbolic verSus functional equivalents in the neUroses of vation" J I f depri· 31. K. S.' L:S'::I~:, ~B:s~no~::~la~e~Oae~~~m~SY~:o~~~v~~~:" 3;~y~~~~:g'ieal Review 1930, ~~. " 32. F .. L. Wells, "Social maladjustments: ada.ptive regresslon" em Carl A Murchison edItor, Handbook of S 'I P I I ",de Wells . oe,a sye 10 ogy, (Clark University Press, 1935), 880. A observa~ao d' est!l mUlto longe de ser antlquada, Ate a decada de 1930 a variola "nao po la s€r eVltada" nos Estados de Idaho, Wyoming e Montana, as qUai~, na.o tendo leis ... Sempre que tais elementos de incerteza entrem a procurar objetivos emocionalment. importantes, pode·se esperar que apareQam, 5e nao a m21gia. Qutros !en6menos funcionalment,. equivalentes.2S 28. Talcott Parsons, Essays in Sociological Theory, Pure and Applied, (Glencoe, lllinai., The Free Press, 194D), 58. Mestr:do em 2~li'johgia Os funcionalistas que esUio obrigados, por sua teoria, a esperar os efeitos de tais praticas simb6licas, somente sabre 0 estado de espirito do individuo, e que, portanto, concluem que a pratica magica e funcional, Iliesprezam 0 fato de que estas mesmas praticas podem ocasionalmen· fe tomar 0 lugar de a!ternativas mais eficazes.33 E os te6ricos que se referem a indispensabilidade das pniticas padroniZadas ou das institui- gaes predominantes, devido a sua fungao observada de reforgar os sen- timentos comuns, deverao olhar primeiramente as sUbstitutcs funcio- nais, antes de chegar a uma conclusao, mais frequentemElnte prematura do que confirmada. Ap6s a revisao dessa trindade de postulados funcionais, emergem diversas considera~aes basicas, as quais devem ser fixadas em nosso es- forgo de codificar este modo da analise. Esmiugando, em primeiro lugar, o postulado do, unidade juncional, encontramos que nao se pode admi- tir a completa integragao de t6das as sociedades, mas que esta e uma questao de fato, empirica, na qual deviamos estar preparados a encon- trar uma escala de graus de integragao. E ao examinarmos 0 caso espe- cial das interpretagaes funcionais da religiao, estivemos prevenidos da pessibilidade de que, embera a natmeza humana possa ,serfeita de urna 56 pega, nae se segue que a estrutura das sociedades agrafas seja uni- 10rmemente semelhante a das sociedades altamente diferenciadas, e «letradas" . Uma diferenga em grau entre as duas - por exemplo, a ol'xistencia de diversas religiaes. dispares em uma e nao na outra - pode tornar aventurosa a passagem entre ambas. De um exame critico de tal postulado, verificou-se que uma teoria da analise funcional deve provocar a, especijicagrio das unidades sociais servidas por dadas fun- ~oes socials, e que se deve reconhecer que os itens de cultura tem mill- tiplas consequencias, algumas delas funcionais e outras, talvez, disfun- cionais. A revlsao do segundo postulado do juncionalismo universal, que as- severa serem t6das as formas persistenres de cultura inevitavelrnente funcionais, resultou em outras consideragaes que devemser satisfeitas por uma abordagem codificada em relaQao a interpretagao funcional. Pa- rece .que.nao s6 de~emos .esta: preparados para encontrarmos consequenclas ~als, como dlsfunclOnals dessas formas, assim tambem como 0 te6ri- co sera, ao final, confrontado com 0 dificil problema de desenvolver um 6rgao que possa avaliar 0 saldo liquido das consequencias, se e que sua pes- quTIra deva ser aplicavel a tecnologia social, De maneira clara, 0 con- selho dos peritos, baseado apenas sObre a avaliaQao de uma escala de consequ€mcias, l1mitada e talvez arbitrariamente selecionada, a ser anteci- pada como resUltado de uma agao contemplada, sera frequentemente su- jeito a erros e sera julgado, com razao, como de pouco merito. o postulad.o da indispensabilidade, segundo verificamos, acarretava duas proposiQaes distintas: uma, que alega a indispensabllidade de cer- tas f,:n.Qaese d~ or~gemao con.ceito da necessidade juncional ou dos pre- -requtsttos junctonats, a outra, que alega a indispensabilidade das insti- tuig6es sociais existentes, das formas de cultura, OU semelhantes, e is- to, quando discutido adequadamente, da origem ao conceito de altern a- tivas juncionais, equivalentes ou substitutos juncionais. Alem do mais, a circUlagao destes tres postulados, separadamente ou em harmonia, e a fonte da aprecia~ao comum, de que a analise fun- cional inevit1welmente envolve certos compromissos ideol6gicos. Uma yez que esta e uma questao que repetidamente vira ao pensamento a me- dida que roe examinarem as concepgaes ulteriores da analise funcional, :;:eramelhor examina·la desde ja, se quisermos que a nossa atengao nao seja repetidamente afastada dos problemas analiticos em estudo pelo ('spectro de uma ciencia social manchada de ideologia. para"'a'$vaclna obrlgat6rla, podlam jaetar·se de ter uns 4.300 casoS de variola num perlodo de clnco anos, ao passo que os Estadas mals popUlosoS de Massachus~ts. Pennsylvania e Rhode Island, que dlspunham de leis de vaclna obrlgat6rla, nao tlveram nero urn 86 caso dessa enfermidade. No que se refere as insuficiencias do "senso comum II nesses assuntos, veJ••-se The Patient's Dileollna, por Hugh Cabot (Nova Iorque: Reyual & Hltchcocl!:, 1940),166-67. ' 33. Talvez se deva salientar que esta afirmagao e felta com pleno conhecimento da obser. ve-Caode Malinowski, segundo a qual os trobrlandeses nao substltuiram suas crencas e pratlcas maglcas pela aplicaCao da tecnologla raclonal. Continua de pe 0 problema da avaliacao do grau em que 0 desenvolvimento tecno16glco e retardado pelo fato de que certas comunidades dependem, ate certo ponto, d•. magla, par •. lidar com •. "margem de Incerteza". Esta zona. de incerteza provavelmente naa e flxa, ma.s esta relaclona.ds com a. tecnologia. de que se disp6e. Os ritos destina.dos a. regular 0 tempo, POl exemplo, podem facllmente absorver as energias dos homens que, de outra. maneim. poderlam reduzir essa "zona. de Incerteza". atendendo a.os progressos dos cOhnecimentos meteoro16gicos. Ca.da. ca.so deve ser julga.do de per sl. Aqul nos referimos apena.s a tendencia. crese,ente entre os antrop6logos sClcla.19e os socl6logos a lImltar-se a.os efeltos '"morais" observados, provenlentes de pritieas sem fundamento raclonal nem empirico e ,a renunclar a analise das altemativas que poderiam ser utllizaveis em deterrninada situacao, se a orientagao para "0 transcendental" e Uo simb6Uco" nao enfocasse a atengao :s6bre outras mllMria.s. Finalmente, e de se esperar que tudo Isto nao seja Interpret ado como urn ret6rno ao ra.clonalismo. as vezes, Ingenuo do "Seculo das Luzes" (seculo XVIII, em que se desenvolveu na. Europa urn movimento f\los6lico e social caracterlzado ,pelo ra.cionalismo). [A expllcagao entre parentese e do tradutor1· A Anlilise Funcional como Elemento Conservador Em muitos setores, e com crescente insistencia, tem-se afirmado que qualquer que ~eja 0 valor intelectual da analise funcional, ela e inevita: velmente comprometida com uma perspectiva "conservadora" (e mes- mo "reaci:maria"). Para alguns desses criticos,-a· anaii~e funcional e pouco mms do que uma versao hodierna, da doutrina surgida no seculo XVII, .afirmando a identidade invariavel entre os interesses publicos e partlculares. Ela e considerada como uma versao secularizada da doutrina estabelecida por Adam Smith, por exemplo quando na sua ~heory oj Moral. Sentiments, escreveu acerca da "ord~m harm~niosa da ~atureza, sob onentagao divina, a qual promove 0 bem·estar do homem atraves da agao de suas propens6es individuais". 34 Assim, dizem tais criticos, a teoria funcional e meramente a orientagao do cientista so· cial conservador, que defenderia a presente ordem de coisas assim comO ela e, e que atacaria a conveniencia de se fazerem mudangas embora moderadas. Sob este ponto de vista, 0 analista funcional sistematica· mente ignora a advertencia de Tocqueville, de nao confundir 0 familiar com 0 necessario: "... aquilo que chamamos de instituig6es necessanas, sac frequentemente apenas as instituig6es as C1uaisnos acostumamos ... " Fica por demonstrar que analise inevitavelmente cai, presa dessa ilu' sac atraente; mas, tendo revisado 0 postulado da indispensabilidade, podemos bem apreciar que este postulado, se for adotado, podera facH- mente dar ongem a tal acusagao ideo16gica. Myrdal e um dos que mais recentemente e nao de maneira menos tipica, entre os cnticos, arg'11ia ine- vitabilidade de uma inclinagao conservadora na analise funcional: zar do ch'"iro de nossos alimentos. 36 au, de maneira semelhante 0,0., te61ogos cristaos base ados no argumento do designio, ele podena se!' logrado por urn Benjamin Franklin, 0 qual demonstrava que evidente. mente De<ls "queria que nos bebericassemos, pois ele fez as juntas do brago just?mente do comprimentc necessario para levarmos um copo a boca, sem ultrapassar do alvo ou deixar de atingi-Io: "Adoremos, pois, de copo na mao, a esta benevolente sabedoria; adoremos, e bebamos". 37 au ele poderia estar disposto a cieclaragaes mais serias. como a de Mi. (~helet quando observava "quao belo tUdo que e disposto pela Natureza. Logo que a cria.Ilga chega a este mundo, €ncontra urna mae que esta pronta para cuidar dela".i8 De maneira semelhante a qualquer outro sistema de p€nsamen.to, que se limite com a teleologia, embora evitz atravessar a fronteira daquele estranho e improdutivo territ6rio, a ana- lise funcional ell: sociologia e ameaQada por uma redugao 0,0 absurdo, desde que adote 0 postulado de que t6das as estruturas sociais sac indis- pensaveis ao preenchimento de necessidades funcionais not6rias.... se Uffi2.1 coisa tem uma (lfunQao", ela e boa, au pelo menos essencial.· A palavta "fun~ao" somenie po de ter urn significado, em termos de uma imposta finalidadeju, se tal tinalidade e deixada Indelinida ou implicita, como sendo 0 "interesse da sociedade". 0 qual nao e ulterlormente definido •••• deixa-se uma consideravel tolga para a arbitrariedade, na consequencia pratica. porem ja se da a direcao principal: uma descricao das instituicoes soriais, em termos de suas fungoes, necessariamente conduzira a uma teleologia conser- vadora".35 As notas de Myrdal saa instrutivas, menos por sua conclusao do que par suas premissas, pais, cOnforme temos observado, Me se apoia em dois postulados tao frequentemente adotados por analistas funcionais, para chegar a acusagao irrestrita que aquele que descreve as instituigoes em termos de fungoes, esta, inevitavelmente, entregue a "uma teleologia conservadora". Porem, em nenhuma passagem Myrdal desafia a inevi- tabilidade dos postulados em si mesmos. Sera interessante perguntar como serao inevitaveis os postulados, quando 0 perquiridor escapou das premissas . De fato, se a analise funcional na sociologia fOsse eomprometida com a teleologia, ou pelo menos com a teleologia conservadora, ela tornar- ·se-ia logo sUjeita, e alias, adequadamente, a acusagaes ainda mais TU- des queessas. Tal como tem acontecid'J com tanta frequencia com a teleologia na hist6ria do pensamento humano, ela seria submetida a uma reductio ad absurdum, 0 analista. funcianal podena, entao, enfrentar 0 destino de S6crates (embora nao pela mesma razao) que sugeriu ter Deus eoloeado nossa boea logo abaixo do nari?:, a fim de que pudessemos go· ,1 Analise Fu.ncianal como Elemento Radical E muito interessante observar que outros <J.utore~.tem ...chegado a con- clusaes exatamente opostas a acusa98,o de. que a an;ilise funcional ..este- ja intrinsecamente comprometida. com 0 conceito de que tUdo 0 que 2xiste e bem e de que est.e.mundoe,. na verdade, 0 melhor dQJLmundos possfveis. Estes observadores, LaPiere por exemplo~- s~g~m q~~ a 3:nalise fun clonal seja uma abordagem inerentemente critic a na perspec- tlva, e pragmatica no julgamento: . liB.... uma s~~Hicacao mais ~rOfunda do que podetia parecer a primeira vista, na pas- sagem da descngao estrutural para a analise funcional, nas ciencias sociais. Esta passagem representa uma ruptura com 0 absolutlsmo .. social e 0 moralismo-<1aJ.eologia...crlsta. Se 0 aspecto Importante de qualquer estrutura SOCial e 0 de suas fungoes, segue-se qUe nenhuma estrutura pode ser julgada unicamente em termos de estrutnms. Na pratica isto signlficlt. por ex:mplo, que 0 sistema de familia patriarcal e coletivamente valiD so , unicamente s6 e na extensao. em que funcione atingindo a satisfacao das f1naUdades coletlvas, Gomo estrutur~ social, nno tern nenhum valor intrinseco, uma vez que seu valor funcional variara de tempo') em tempos e de lugar para lugar. o pon~o de vista funcional aplicado ao comportamento coletivo, sern duvida, afrontara todos aqneles que acreditam que as estruturas sociopsicologicas tenbam valores intrinsecos. A.ssim, pa:a aq~eles que acreditam que 0 ritual ecleslastico e bom, porque e um ritual eClesla.- tlCO, a aflrmagao de que algumas cerimonias eclesiasticas, SaD apenas movlmentos formals vazlos de slgniflcagao religiosa. e que outros SaD funcionalmente comparaveis a representagae; teatrais, e que alnda outros SaD uma forma de festanga e, portanto. sao comparaveis a uma orgla de bebados. sera uma afronta ao senso comum. urn ataque a Integridade das pessoas decentes, QU, pelo men~s, as desvarios de urn pobre lOlleo.39 36. Farrington tece algumas outras observagoes mUito Interessantes s6bre pseudoteleologia em SUa obm Science in Antiquity (·Londres: T. Butterworth. 1936). 160. 37. :crecho de uma carta de Franklin ao padre Morellet. extra.ldo das Memorias deste u!tllnO por Dixon Wecter. The Hero in Americ,a (Nova Iorque: Scribner. 1941). 53-54. 38. FOI Sigmund Freud que colheu esta observacao em A Mulher, de Mlchelet. 39. Richard LaPiere, Collective Behavior, (Nova Iorque: McGraw-Hill 1938) 55-56 [0 grifoe nossoJ. ' , 34. Jacob Viner, "Adam Smith and Laissez Faire". Journal of Political Economy, 1937, 35. 208. Deve-se admltir que Myrdal ace Ita gratuitamente a teorla d'" indispensabllidade como intrlnseca a t6da analise funcional. Isto. como vimos. nao somente e gmtuito. como falso. Aqul, Myrdal assinala apropriadamente 0 postulado va go e duvldoso da unidl1.de funcionai. ~5. Gunnar Myrdal. An American Dilemma (Nova Iorque: Harper & Brothers. 1944) II. 1056 [grifos e observagaes SaD nossos J. I- o fato de que a awl,lise funcional pode ser encarada par alguns co- mo inerentemente conservadora, ¢ por outros como intrinsecamentera- dical, sugere que talvez ela nao s~ja inerentemente uma coisa, nem outra. Sugere que a analise funcional pode naa implicar em nenhum compro- misso ideol6gico intrinseco, embora, como outras formas de analise so- ciologica, ela possa estar imbuida de uma extensa varie'dade de val6res ideologicos. Ora, nao e esta a primeira vez que se atribuem significa- qoes ideo16gicas diametralmente opostas a uma orientaQao teorica da r.iencia social au da filosofia social. Portanto, pode ser util examinar '.lm dos mais notaveis exemplos no qual uma concepgao sociologica e Pletodo16gica tenha side objeto das mais variadas imputaQoes ideol6- gicas e comparar este exemplo, na medida do po~sivel, com 0 caso da analise funcfonal. 0 exemplo de comparagao e 0 do materiallsmo ilia· letico. Sens porta-vozes sao os historiadores da economia, filosofos so- ClalS e revolucionarios profissionais, Karl Marx e seu intimo amigo e colaborador Friedxich Eng.els. As Orienta~oes Ideologicas do Materiallsmo DialOtico 1. "A mlstlllcagao que a dlalHlca solre nas mOps de Hegel, de modo algum 0 impede de ser a prlmelro a apresentar sua forma geral de funclonamento, de manel- ra compreenslva e consciente. Com I!le, ela esta de cabega para bal- xo. Ela podera ser novamente colocada dlreito, se f6r descoberta a parle central racional dentro da concha misUea. 2. uEm sua forma mistificada a dialetica tornou·se moda na Alemanha, porquc pa' receu transfigurar c glorificar 0 est ado de coisas existente. 3. "Em Sua forma racional e um es. cflndalo e uma abomina~ao para a burgue. sia e seus profess Ores doutrinarlos, porque abrange ern sen reconbecimento eom. preensivo e afirmativo do estado de coisas existente, tambem a.o mesmo tempo a reconhecimento da nega~ao daquele estauo [de coisas], de sua inevitavel ruptura; 4. "porque ela considers. cada forma desenvolvida historicamente como em mo. vimento fluida, 81 port21I1to, leva em C~jnt.l sua natureza transit6ria, nao menos que 'Sua existencia momenta-nea; porque ela nao permite que nada Se the imponha e e, em sua essencia, critica e revolucionarla." 40. As Oricnta~oe. Ideologica. c.omparaveis, d" Analise Funclonal 1. Alguns anaUstas funcionais, gratuita- mente, admitiram que tBdas as estrutura. soclais existentes preenchem fungoes sociais indispensaveis. Isto e pura fe, misticismo, 5e assim 0 qUiserem, em v·~z de ser 0 produto final de uma inquiri~ao sustentada e sistemMica. :m preclso ga. nhar 0 postulado, e nao herda-la, se e Clue ille deva conquistar a accitagao dos ho· mens da ciencla social. 5. ••... tadas as situa~oes hist6rlcas sucessivas saa apenas estagios transit6rio.~, no infindavei caminho do desenvolvlmento da sociedade hurnana, da fcrrna inferior para a superior. Cads est agio e necessario, e, portanto, justificado para 0 tempo e condic;6es aos quais deve sua origem." 2. Os tres postulados: unidade tun- clonal, universa.lidade e indispensabilidade, compreendem um sistema de premissas. as quais inevltllvelmente conduzem a uma gloriflcagao do estado de coisas existente. 3. Em suas tormas mais empirlcamente orientadas e anallticamente preclsas, a analise funcional e freqilentemente enca' rade. com suspei~a.o por aqueies que ce!1~ sideram uma estrutura social existente como etetllamente fixada e imune 11 mt'- dan~a. Esta forma de analise funcion,,-, mais minuclosa abrange nao s6 um est ado das funQoes das estruturas sociais existen~ tes, mas tambem um estudo de suas dis· fun~oe. em rela~ao aos indivlduos dlversa· mente situsdos, aos subgrupos eu estrati~ fica~oes soelais, e 1J.sociedade considerada em sua maior extensao. Admite provl- soriamente, como veremos, que quando 0 saldo Iiquido do agregado de conseqiiencl •• de uma estrutura social existente e clara· 6. "Mas nas rnais novas e ma1s altas condiQaes que gradualmente se desenvol. mente disfuncional, desenvolve-se forte e insistente pressao para a mUdan~a. Aaui embors isto ainda tenha que ser comp;o. vado, e possivel que, para slem de urn certo ponto, esta presSao provocara ine. vitavilmente rumos mais ou menos deter. minllodos de mUdan~a socia!. 4. Embora a analise funcional haja fu- calizado com freqUencia a eslatica da es. trutura SOCial em veZ da dinamica d" mudanga social, tal aqui nao e intrinseco a esse sistema de analise. Apontando as fungoes, ao mesmo tempo que as dis. fungoes, este modo de an.Uise pode avaliar nao 56 as bases de. estabilidade social comotambem as fontes potenciais da mUdanga socia!. A frase "formas historicamente desenvolvidas" pode ser lembrete 11t11 de que as estruturas sociais estao tlpicamenl:.e sofrendo uma mUdan~a perceptive!. Res,a descobrir as pressoes que favorecem varlos tipos de mUdan~a. Na medida em que a analise funcional focalize inteiramente as conseqiienclas funclonais, ela se inclina a uma ideologla uitraconservllodora; na me- dida em que ela focalize inteiramen te as consequencias disfuncionais, inclina-se em dlre~ao a uma utopia ultra-radical "E.rn sua essencia", nao e uma. coisa nem outra. 5. Reconhecendo, como a devem fazer. que as estruturas sociais estao em perma. nente mudanga, as analistas sociais de- vern, nao Obstante, eX'Plorar as elementos interdependentes e com freqUencla miltua. mente apoiadores, da estrutura social. De modo geral, parece que a malor parte das socledades sao Integradas ao ponto. em que muitos, senao tados, dos seUs elemen. tos, estejam reclprocamente ajustados. As estruturas sociais nao poSsuem um sorti. mento de atrlbutos tornado 1'0 acaso, mas tals atributos estao entrela~ados de varlas maneiras, e com freqU~ncia se ap6iam mil. tuamente. Reconhecer Isso, nao e adota' uma aflrma~ao indiscriminada de to no status quo; deixllol' de reconhecer isso, e sucumbir lis tenta~oes de utopismo radica~. 6. As tensoes e as esforgos numa estru. tura social, que se acumulam como Con- 40. Ate aqui, 0 trecho esta citado Sem supressoes, nem acrescimos e somente com a ade~uado para dar maior enfase •. grande fonte do materialismo dialetico, que Cap,tal, de Karl Marx (chicago: C. H. Kerr, 1906), I, 25-26. 'Yj';",'; 'J. Esta comparagao sistematica podera :;er 0 bastante para sugerir que a analise funcional, da mesma -forma que a dialetica, nao acarreta- ne- cessariamente um compromisso ideo16gico especifico. IS50 nao quer di- zer que tais compromissos nao estejam freqiientemente implicitos nas obras dos analistas funcionais. Porem 1'&.rece extrinseco, em lugar de intrinseco 11 teoria funcional, Aqui, tal como em outros departamen- tos de atividade intelectual/o abuso nao impede as possibilidades do uso. CrHicamente revisada, a analise functonal e neutra relativamente aos principals sistemas ideo16gicos. Nossa extensao, e somente neste vem em sen proprio seio, cadll- uma delas perde sua validade e justifiea~ao. Ela neeessariamente d",ra lugar a form as mals elevadas que tambem por sua vez decaira,Q e perec.erao ... " 7. jlQ [materialismo dialetico], revela 0 carater translt6rlo de cada coisa e em cada coi5a; nada pode durar ante ~le, ex~ ceto 0 processo tnlnterrupto de vir a ser e de desaparecer... A [dlaletica] eviden tc· mente, tern tambem urn lado conservador: reoonhece que as estagios definidos do conheelmento e da soeledade silo jUBtlflca. dos por seu tempo e clrcunstilnclas; mas Bomente ate ai. ,0 conservadorlsmo de tal \ modo de encaral' "as~colsas '"6' "re"lativoi "p~ "rem----"seueariiter ·'reVdluCion ~rio e absoluto _ 0 unlco absoluto que ele admite" .41 sequencins disfuncionais de elementos existentes, nao sao apertadas, confinadas e cerceadas mediante planejamento social apropria.do, e no seu devido desenvolvi- menta conduzirao a ruptura institucianQl e a mudangas sociais basicas. Quando essa mudanga petSsou para a!em de urn ponto dado, nao fltCilmente identificavel e costumeiro dizer-se que Urb novo sistem~ social emergiu. "entido limitado,43 ela e semelhante aquelas teorias au instrumentos das clencias fis\cas os quais se prestam indiferentemente ao uso de grupos opostos, para finalidades que freqiientemente nao fazem parte da inten- c;.ao dos ciel:tistas. 7. Mas de novo, deve ser reiterado: nem s6 a mUdanga nem s6 31 fixidez s6zinha podem ser 0 objeto pr6prio do estudo do anaUsta funcional. A medida que exami, names 0 curSD da hist6ria, parece razea-- velmente claro que t6das as principals estruturas sociais, em seu devido tempo, tern sido cumulatlvamente modiflcadas ou abruptamente terminada.s. Em qualquer caso, elas nao tem side eternamente fixas e Inflexlveis as mUdangas. Porem, num dado momento de observagao, qualquer urns dessRs estruturas sociais pode est-ar toleravelmente acomodada, tanto aos va· lores sUbjetivos de mUitos, ou da maior parte da populagao, como as c!,mdig6es objetivas com que ela e confrontada. Re· conhecer isto e ser ,,Co-!lse_n.ta.lleocom os ffl' tos, e nao fiel a uma 'idEWlo'gi~ preestabe· lecida. E pelo mesmo motivo, quando se observa que a estrutura nao esta ajus· tad a as necessidades do povo, ou com as condlg6es de agao iguaJmente s6lidas, Isto tamMm deve ser reconhecido. Quem ousar fazer tudo Isso pode tomar-se um analista funcional; quem ousar menos, nao seril,42 Ainda e instrutivo voltar, se bem que resumidamente, a diseussao das fungoes da religiao, a fim de demonstrar como a 16gica da analise funcio- nal e adotada pOl' pessoas de suas posigoes ideo16gicas opostas. o papel social da religiao tem sido evidentemente observado e repe· tidamente interpretado atraves de muitos seculos. 0 nucleo central da continuidade de tais observaQoes consiste na enfase sabre a leligiao co- mo meio institucional de contra Ie social,quer se de no conceito de Pia· tao, de "nobres mentiras", quer na opiniao de Arist6teles, de que ela ope- ra "com vistas a persuasao da multidao", ou segundo 0 incomparavel julgamento de Polibio, de que "as massas, .. podem ser controladas apenas por terrores misteriosos e medos tragicos". Se as expressoes de Montesquieu acerea dos legisladooos romanos inform am que eles: procuravam "inspirar a um povo que nalla temia, 0 medo dos deuses, e usar tal me do para 0 conduzir onde quer que lhes aprouvesse", Jawa- harlal Nehru observou, depois, com base em sua pr6pria experienda, que "os tinicos livros que os funcionarios britanicos recomendavam 3calora- damente (aos prisioneiros politicos na India), eram livros religlOsos ou novelas. E maravilhoso quae caro e ao coragao do Governo Britanico 0 assunto da religHio, e quae imparcialmente ele encoraja t6das as formas dessa atividade".44 Poderia pare eel' que ha uma antiga e duradoura tra- UlQao que mantem, de uma ou de outra forma, que ?- religiao tem servi- do para controlar as massas, Igualmente e aparente que a linguagem em que esta proposiQao e vazada, usualmente fornece uma pista revelado- ra do compromisso ideo16gico do autor. Que e, entao, que S8 passa com algumas das atuais analises funcio- nais da religiao? Em sua consolidaQao critic a das diversas teorias prin- Cipals da sociologia da religHio, Parsons resume algumas das conclu- soes basicas que emergiram em relaQao a "signifieagao funeional da re- ligiao" : ':. se as norm as mora is e os sentimentos que as suportam saa de tao primordial imoor- t:lnclR, ~uais saa os mecanlsmos pelos quais elas saa mantidas, slem dos .processos e:ctte;no.'i de coa~ao? Durkheim opinava que os rituais religiosos erarn de primordial significar;ao COI1JO 41. Da mesma forma, este trech'o e cHado apenas com a supressao de material irrele- vante e tambem com grifo nossa, da obra de Friedrich Engels, Karl Marx, Selected Works, (Moscou; Sociedade Editora Cooperativa, 1935), I, 422. 42. Admite·se que esta paratrase contrarla a Inten~iio original do bardo, mas espera-,e que a ocasiao justifique a falta. 43. Nao se deve tome,r isto como negagao do importante fato de que os valores, impllcic$ e expllcitamente reconhecidoSj do dentista social, possam contribuir a fixar sua escolha de prob.lemas para a pesquisa e, par canseguinte, a utilidade de seus resultadOs para determlnados prop6sitos e nao para outros, Nossa afirmac;ao nao significa mais do qU~ diz: a analise :!uncional nao tenl compromisso intrinseco com qualquer campo idoo~ :6g1CO, Como S8 deduz, 2.10 menos, da discussao precedente, {~. Jawaharlal Nehru, Toward Freedom, (Nova Iorque: John Day, 1941), 'f. , urn mecanismo para
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