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PPP nos presídios brasileiros

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Título provisório:
Parceria Público-Privada nos presídios brasileiros: A solução para o problema da superlotação?
Resumo
O presente artigo discorre sobre as Parcerias Público-Privada (PPP) na gestão dos presídios brasileiros, por meio de pesquisas acerca dos desafios que o Estado e a Iniciativa Privada enfrentarão para que os presídios tenham uma função punitiva e ressocializadora. A abordagem gira em torno do esclarecimento quanto ao papel da Parceria Pública Privada na resolução dos problemas endêmicos ao sistema prisional, como por exemplo: superlotação, abusos físicos e psicológicos, falta de higiene e péssimas condições de acomodação. A intenção da pesquisa não é esgotar as vias de discussão, mas sim, de acrescentar argumentos que possam desenvolver um horizonte de ideias a respeito do tema.
Palavras-Chave: Sistema prisional, Parceria Público Privada, Ressocialização.
Introdução
O modelo institucional da Parceria Público-Privada surge no Brasil em 1990, em uma das tentativas de desestatização que foram implantadas à época, visando o investimento em infraestrutura sem onerar excessivamente os cofres públicos, para o financiamento dos projetos necessários. A PPP pode ser compreendida como uma concessão do Poder Público à inciativa privada, para realizar atividades antes exclusivas da Administração Pública, mas que por questões econômicas, passam ao ente privado. 
A cessão do serviço público ao setor se dá por meio de contratos de “concessão comum”, na forma de Lei nº 8.987 de 1995, quanto por meio de contratos de “concessão patrocinada” e “concessão administrativa”, regidos pela Lei nº 11.079 (Lei de Parceria Público-Privada). 
Através das PPPS, almejava o governo, viabilizar o investimento em infraestrutura para promover o desenvolvimento, pois, alguns países estavam vivenciando boas experiências com esse tipo de instrumento. Esclarecendo este aspecto, José dos Santos Carvalho Filho, aduz:
“As parcerias público-privadas têm sido adotadas com sucesso em diversos ordenamentos jurídicos, como, entre outros, os de Portugal, Espanha, Inglaterra e Irlanda, e apresentam como justificativa dois pontos fundamentais, sobretudo em relação aos países ainda em desenvolvimento: a falta de disponibilidade de recursos financeiros e a eficiência da gestão do setor privado”.¹
Breve comentário sobre a atual situação do sistema prisional brasileiro e 
O sistema prisional brasileiro é conhecido mundialmente por algumas características tristes, a forma como os presos são tratados já foi manchete de diversos jornais de circulação nacional² e internacional³, órgãos estrangeiros que cuidam dos Direitos Humanos já constataram as terríveis condições as quais são submetidos os condenados, e o Brasil já sofreu condenação na Corte Interamericana de Direitos Humanos pelo caso “Presídio Urso Branco” [4]. Diante disso, constata-se que o sistema prisional público é ineficiente e não cumpre o estabelecido na Lei nº 7.210 de 1984 (Lei de Execução Penal), ou seja, de um lado existe um arcabouço jurídico que normatiza e assegura direitos aos presos, elegendo o Poder Público como guardião da segurança e integridade dos seus custodiados, mas por outro lado, surge o confronto da disposição normativa com a realidade material para por em prática o que está previsto em lei.
A introdução da PPP nos presídios brasileiros 
A Administração Pública, por meio da PPP, transfere ao parceiro privado, numa relação de prestação de serviços públicos, o encargo de financiar, construir, operar e manter a unidade prisional que foi concedida. Dessa forma, o Estado assume um papel de fiscalização do serviço público que é prestado pelo seu parceiro privado. Também existem critérios estabelecidos em contrato para exigir que a empresa que presta o serviço cumpra algumas determinações, pois, o Estado não visa somente à diminuição dos cursos que uma representa PPP, mas também que o custodiado possa cumprir sua pena e voltar a ser inserido na sociedade. 
Um argumento bastante utilizado por quem critica o modelo de implantação da PPP no sistema prisional brasileiro, é o de que uma vez que a iniciativa privada entra na gestão de um determinado serviço, ela sempre buscará o lucro, e cada preso representa um lucro maior, sendo assim, o governo vai criar uma “cultura do encarceramento” para atender às empresas que cuidam das prisões. Em ótima monografia sobre o tema, Fernanda de Aguiar Cunha, argumenta:
“Contudo, quem defende essa tese não leva em consideração, primeiramente, que há um número máximo de vagas por preso em cada unidade penal, conforme trata o próprio contrato da PPP de Ribeirão das Neves, não podendo o parceiro privado exigir um número maior do que o estabelecido.[...] O Contrato da PPP do Complexo Penal de Ribeirão das Neves, por exemplo, conforme será visto mais adiante, garante remuneração adicional à concessionária, por meio de um prêmio de excelência, se for estimulado o trabalho e o estudo do preso. Tanto o trabalho, quanto o estudo são indicadores de desempenho que, se forem cumpridos pela empresa privada, facilitarão a própria reinserção do preso em sociedade.” [5]
O papel da PPP na transformação das condições do cárcere
Um dos grandes problemas sociais que temos no Brasil é o sistema prisional, conhecido por todos como uma escola de delinqüência e que não cumpre seu papel de ressocialização do condenado. Com inúmeros problemas estruturais, a maioria dos presídios brasileiros é um verdadeiro “barril de pólvora”, dada a propensão a rebeliões. A superlotação e as péssimas condições carcerárias são grandes causadoras desta situação. 
Visando melhorar tal situação, eis que surge a figura da “Parceria Publico-Privado”, que busca atrair empresas privadas para construir e, principalmente, gerenciar os presídios. Geralmente, a empresa que vence a licitação realiza inúmeras adaptações no projeto, opera serviços de manutenção e de assistencia ao detento e oferece várias melhorias à condição dos cárceres. Inúmeros serviços são prestados, como: Fornecimento da mão-de-obra; Assistência médica e odontológica de baixa complexidade; Educação básica e média aos detentos; Espaço mínimo por detento; Cursos profissionalizantes; Recreação esportiva; Alimentação; Assistência jurídica; Assistência psicológica; Assistência religiosa e a Vigilância interna.
A ex-secretária nacional de Justiça, importante nome no mundo juridico, Elizabeth Sussekind, manifesta a sua opinião favorável às PPPs no sistema carcerário, pois acredita na eficácia desse sistema, uma vez que propicia ao preso melhores condições de aprendizado e ressocialização, condições essas que o Estado é incapaz de proporcionar:
"Um agente penitenciário corrupto, se for público, no máximo é transferido. Se for privado, é demitido na hora. Há quem diga que custam mais, mas isso só acontece porque oferecem mais. Fui secretária e cansei de entregar alvará de soltura a quem ficou preso por quatro anos e saiu da cadeia sem saber assinar o nome. Eles colocavam a digital no alvará porque o Estado foi incapaz de alfabetizá-los". (Revista Época, Privatizar Resolve? Disponível m:http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG76972-6009,00-PRIVATIZAR+RESOLVE.html acesso em 01 de março de 2015)
Portanto, a adoção do sistema de PPPs em presídios pode ser uma realidade interessante no Brasil, ficando a cargo do parceiro privado o investimento para a construção do sistema penitenciário, a operação e manutenção desse sistema. No que pertine ao Poder Público se estabelecem as obrigações, apenas, de nomear os diretores e chefes de funções-chave do estabelecimento penal; proporcionar segurança interna e externamente ao presídio; executar as penas e/ou medidas de segurança em todas as suas acepções; proporcionar o ensino fundamental, bem como, de acordo com o desempenho do trabalho efetivado pelo parceiro privado, arcar com o retorno financeiro a este.
Referências
 
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 23 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,2010, p. 460/461.
BARBOSA E RICARDO, Promotor denuncia caso de canibalismo no presidio de pedrinhas, G1 Rede Globo. Disponível em: <http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2015/10/promotor-denuncia-caso-de-canibalismo-no-presidio-de-pedrinhas.html.> Acesso em 1 de setembro de 2016.
Brazil prison breakout: Inmates blow up wall to escape, BBC. Disponível em: < http://www.bbc.com/news/world-latin-america-35397442>. Acesso em 1 de setembro de 2016.
KOSTER, Julia Impéria. Caso Presídio Urso Branco e a Corte Interamericana de Justiça– Direitos Humanos. In:Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 68, set 2009. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6784>. Acesso em 1 de setembro de 2016.

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