Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 118 AS CIVILIZAÇÕES CLÁSSICAS DA AMÉRICA DO SUL: HOMENS E DEUSES FAZENDO A HISTÓRIA Antônio Carlos dos Santos PEREIRA1 Danilo Fernandes dos SANTOS2 Flaviano Grangeiro de MOURA3 Juvandi de Souza SANTOS4 1 Aluno graduando em Licenciatura Plena em História/ UEPB/Campus-III/Guarabira,PB. 2 Aluno graduando em Licenciatura Plena em História/ UEPB/Campus-III/Guarabira,PB. 3 Aluno graduando em Licenciatura Plena em História/ UEPB/Campus-III/Guarabira,PB. 4 Prof. Orientador. REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 119 AS CIVILIZAÇÕES CLÁSSICAS DA AMÉRICA DO SUL: HOMENS E DEUSES FAZENDO A HISTÓRIA. RESUMO Muito se pode falar sobre as grandes civilizações pré-colombianas conhecidas por todos: Maia, Inca e Astecas. Mas, pouco se sabe sobre as bases dessas civilizações que tiveram as suas raízes firmadas em povos que as antecederam e contribuíram para a formação multicultural dessas grandes culturas aqui citadas. Além do mais, esses pequenos povos não deixaram nenhuma fonte escrita que relate ou ao menos demostre como eles viviam, mas, deixaram monumentos incríveis que fogem da lógica de nossa percepção ao falarmos do cunho artístico e cultural produzidos por essas civilizações. Não iremos aqui discutir os conceitos de “civilizados”, pois, esse termo, só iremos incorporar ao discurso americano a partir da chegada dos europeus ao nosso continente, onde forçaram as culturas aqui existentes a adotarem costumes vivenciados e redigidos pelos povos europeus a sua maneira de ser e produzir, fugindo da naturalidade da produção cultural que as civilizações pré-colombianas desenvolviam. Também não iremos discutir os conceitos de “civilizações clássicas”, pois, a produção cultural expressa nas artes, cerâmicas, religiosidade, e em muitos casos, a semelhança entre a cultura egípcia em muitos aspectos arquitetônicos e artísticos, entre outras coisas, mostra que os povos pré- colombianos tinham capacidades de produzir uma cultura sustentável, rica e independente quão as culturas europeias ditas “clássicas” conhecidas por nós. Porém, para adentrarmos nos discursos que iremos produzir aqui, é viável destacarmos que muito ainda não se conhece sobre as culturas que antecederam as civilizações Maia, Inca e Asteca, mas, o pouco que podemos encontrar sobre elas, nos deixa claro que pouco somos perceptíveis sobre a capacidade de produção cultural e material desses povos. Entretanto, é relevante destacar que as informações abordadas aqui, expressam apenas as similaridades de ideias existentes entre os estudiosos dessas civilizações, onde os mesmos apresentam pontos contraditórios uns com os outros, nos deixando apenas, as ideias concordantes entre eles. Para isso, iremos apresentar as culturas Tiahuanaco, Moche ou Mochicas, Proto-Lima e Nazca de acordo com as informações por nós consideradas. PALAVRAS-CHAVE: Civilizações clássicas, Pré-colombianas e Indígenas. ABSTRACT The Classical Civilizations of South America: Men and gods making history. Much can talk about the great pre-Columbian civilizations known to all: Maya, Inca and Aztec. But little is known about the foundations of these civilizations that had their roots in people signed that preceded and contributed to the multicultural formation of these major crops mentioned here. Moreover, these little people do not leave any written source that report or at least prove it as they lived, but left incredible monuments fleeing the logic of our perception when we speak of the artistic and cultural imprint produced by these civilizations. We will not here discuss the concepts of "civilized" because this term, will only incorporate into American discourse from the Europeans arrived to our continent, which forced the cultures here to adopt existing experienced customs and drafted by the European peoples in their own way being and produce, fleeing the naturalness of cultural production that pre-Columbian civilizations developed. We will also not discuss the concepts of "classical civilizations", for cultural production expressed in the arts, ceramics, religiosity, and in many cases, the similarity between the Egyptian culture in many architectural and artistic aspects, among other things, shows that pre-Columbian people had capacity to produce a sustainable culture, rich and independent how said European cultures "classic" known to us. But for we enter the speeches that we produce here is workable stand out that much REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 120 remains unknown about the cultures that preceded the Mayan civilizations, Inca and Aztec, but the little we can find about them, makes it clear that some are noticeable on cultural production capacity and material of these people. However, it is worth noting that the information covered here, just express the similarities existing ideas among scholars of these civilizations, where they present contradictory points with each other, leaving us only the concordant ideas between them. For this, we will present the Tiahuanaco cultures, Moche or Mochica, Proto-Lima and Nazca according to the information we considered. KEYWORDS: Classical Civilizations, Pre-Colombian and Indigenous REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 121 TIAHUANACO VIVE ENTRE SUAS RUÍNAS A margem do lago Titicaca se desenvolveu uma das mais belas e grandes culturas da região andina, a Tiahuanaco. Essa cultura era altamente desenvolvida, tanto em seus contextos culturais, quanto arquitetônico; são donos de cerâmicas bem trabalhas, além de contarem com uma organização social bastante estratificada, o que nos mostra seu elevado grau de aperfeiçoamento. Devido a esses grandes feitos ela foi denominada de “cultura clássica”5. Há muitas controvérsias entorno de como se formou tal civilização. Algumas das possíveis explicações são, para nós, de cunho fantasioso, como as dos extraterrestres que vieram colonizar a região e a lenda de que o deus Viracocha a teria fundado como mostra PEREGALLI (1987. p.56): “(...) Tiahuanaco existia antes do dia em que Viracocha criara as estrelas para livrar o mundo da escuridão”. Assim como as demais culturas desenvolvidas criaram seus mitos de origem. Todavia, com o desenvolvimento das escavações arqueológicas, foram sendo apontadas novas explicações e teorias com base científica, porém não conseguiram, ainda, explicar sua origem. As primeiras escavações foram feitas pelo Arqueólogo Wendell C. Bennett, cuja escavação foi nomeada de Estela de Bennett. Essas escavações revelaram grandes construções as quais os tempos haviam soterrado. A cultura Tiahuanaco é dona de construções de vários edifícios os quais eram trabalhados em pedra, ou seja, eles eram especialistas em construções líticas. Entre as ruínas deixadas por eles, podemos encontrar ao longo de todo campo, pedras esculpidas em formas antropomórficas. Construíram templos, alguns subterrâneos, os quais eram destinados a cerimônias ritualísticas, além da escultura dedicada aos seus deuses, o principal deles era Viracocha. A ruína mais importante deixada por esta civilização é a pirâmide truncada revestida com barro e possivelmente pintada, existindo semelhança com a Pirâmide do Sol dos Astecas, com o corpo principal, virado para o oeste. Construíram também a famosa Porta do Sol que mede 4 metros de largura e pesa 12 toneladas, foi esculpida em um único bloco, e em seu topo são representadasas imagens do deus Viracocha, 48 efígies, 32 faces humanas e 16 cabeças de condor. Tiahuanaco, como exposto, foi portadora de uma das mais desenvolvidas culturas, a qual dominou e criou vários mecanismos para se adaptar a sua região, conseguindo assim criar 5 De forma geral discordamos em denominar certo grupo cultural como Clássico, pois, ao fazermos isso estamos afirmando que estes foram desenvolvidos e os que não são colocados nesse patamar são atrasados e nada legaram para a humanidade, o que não é certo, pois pouco ou muito um grupo humano contribui com traços culturais para o desenvolvimento geral da humanidade. REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 122 melhores condições para que a sua população pudesse ter melhores condições de sobrevivência, principalmente com relação aos alimentos. Tiahuanaco formou um Estado. Sua sociedade já era estratificada, ou seja, já existia uma divisão dentro dela, implicando no surgimento de um governo teocrático. Uma das maneiras de distinguir os nobres era pelo formato da cabeça, onde era alongada a caixa craniana da criança assim que elas nasciam, muito parecido com a cultura egípcia. Sua principal fonte de economia pode ser atribuída à agricultura, pois através do excedente desenvolveram o comércio proporcionando contatos com outras culturas. Eles também criavam lhamas e plantavam o milho. Ao Estado eram pagos os impostos os quais financiavam as grandes construções. Portanto, era inevitável o crescimento demográfico da população Tiahuanaco, pois como exposto, a condição para uma melhor subsistência estava dada, ocorrendo o crescimento populacional ocasionando sua expansão, o que levou a conflitos com outros povos, pois havia a necessidade de conquistas de territórios. Porém, como exposto por PEREGALLI (1987. p.56) os conflitos “(...) não significou a imposição de sua cultura, mas uma convivência com outras culturas. ” Portanto, a cultura Tiahuanaco, considerada clássica, deixou vestígios que mostram o quanto grandioso e inteligente foi essa civilização. De pequenas esculturas a grandes construções líticas a organizaram o “Estado” e uma sociedade estratificada. Não é de admirar que suas ruínas, já no primeiro contato com os espanhóis, tenham gerado tanta admiração, pois, ali existia uma civilização muito maior do que alguns Estados europeus da época. Percebemos também que as grandes construções e desenvolvimentos culturais na América Andina não podem ser atribuídos apenas ao império Inca, antes mesmo dessa cultura, existiram outras que contribuíram para seu desenvolvimento frente ao continente. Por isso, Tiahuanaco é considerada uma cultura clássica e muito significativa para a história da América. MOCHICAS: UMA HISTÓRIA CONTADA ATRAVÉS DA ARTE Os Mochicas eram povos que habitaram a região andina, onde tinham centros localizados no vale de Moche, Vicus e Chicamba, no Norte do Peru, por volta do século I ao VIII da era cristã, passando a dominar essa região por cerca de 500 anos, vivenciando o seu declínio aproximadamente entre o século VI e VII, onde os pesquisadores não encontraram ainda razões claras sobre esse evento. Os Mochicas eram ousados, possuíam uma cultura rica na fabricação de peças de cerâmica de cunho religioso, onde, as mesmas, representavam a prática sexual em rituais e REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 123 cerimônias religiosas, voltada ao contato direto entre vivos e mortos, dando-nos uma breve ideia de que o prazer era tido como uma forma de ligação entre o plano material e o espiritual. Porém, essa cerâmica também servia para representar momentos importantes e/ou íntimos de natureza humana, como o parto e/ou relações sexuais entre duas pessoas, mostrando que esses povos davam certa importância ao prazer sexual, além de atribuir a ele, caracteres religiosos e sobrenaturais. Os povos Mochicas são tidos como a primeira civilização pré-colombiana a compor uma sociedade estatal 14 séculos antes do Império Inca. Isso mostra que esse povo tinha uma solidez econômica voltada para a agricultura de irrigação, cultivo das mais diversas plantas, cereais e raízes como a batata, o feijão, o milho etc., além de desenvolverem a domesticação da lhama e o seu pastoreio, utilizados por outros povos da região andina. Esses povos tinham um poder centralizado representado por uma nobreza guerreira, que será aprimorada pelos Incas séculos depois. Essa classe guerreira comandava uma outra classe majoritariamente composta por camponeses, formando assim, o corpo social dessa civilização. Tinham características de uma sociedade patriarcal, onde as mulheres desempenhavam um papel inferior ao do homem, cabendo a elas cuidarem dos afazeres domésticos e as profissões eram exercidas por pessoas que se dedicavam à medicina, ao sacerdócio, entre outras, e eram isentas de trabalharem na agricultura. Muitos estudiosos ainda defendem que existiam classes aristocratas que eram representadas em vasos-efigie, que traziam imagens de ornamentos, ofícios e símbolos utilizados por essas classes, além do que, cada classe ou ofício, eram identificados por imagens de animais, centopeias, aves, libélulas, jaguar etc., que representavam um determinado grupo social e/ou seus respectivos ofícios exercidos por ele. A exemplo da raposa, que representava os sábios, os jaguares representavam os homens de autoridade, e outros animais ou insetos para representar os mensageiros. Os Mochicas também foram responsáveis por grandes obras arquitetônicas que se assemelham em muito à grandes construções das “ditas” culturas clássicas da antiguidade ocidental, como a Grécia Antiga e a Egípcia, que para Peregalli (1950, p. 48) “Entre o rio Moche e o Serro Branco se localiza o conjunto arquitetônico mais representativo da cultura Mochica” que são as Huanca do Sol e da Lua. ” Que mostra a grandiosidade e audácia desse povo em construir através do barro, monumentos tão graciosos e ricos como esses. Para se ter uma ideia da dimensão de algumas obras arquitetônicas, elaborada pelos mochicas, Peregalli irá nos apresentar os dois templos Mochicasda seguinte maneira: REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 124 Trata-se da Huanca do Sol e da Huanca da Lua. A primeira é uma plataforma de 228 m de comprimento e 18 m de altura. Sobre ela se levanta a pirâmide propriamente dita, de 103 m de lado por 23 de altura, igualmente escalonada como base. (...) A Huanca da Lua consta de uma plataforma de 80 m de lado por 60 de altura, e uma pirâmide de 21 m, construída de barro e não de pedra (PEREGALLI, 1950. p. 48). Também iremos ver que não foi só nos templos que a cultura Moche produziu obras tão significativas, ainda em Peregalli (1950, p. 48), observamos que existem obras tão magníficas que resistem à ação do tempo pela tamanha tecnologia desenvolvida com o barro pelos Mochicas, quando ele diz: “Esta é uma característica fundamental da arte Mochica: a utilização do barro, tanto nas construções como no artesanato, que reproduzia fielmente o meio ambiente que os rodeia...” e conclui dizendo “ (...) Ainda resistem ao tempo o aqueduto do Vale Chicana, que atravessa uma quebrada de 1.400 m e um canal de 120 Km de comprimento”. Assim percebemos que se os egípcios construíram suas graciosas pirâmides com pedras gigantescas e já utilizavam o cimento, isso não quer dizer que os povos andinos pré- colombianos não tinham as suas próprias tecnologias para desenvolver a sua arquitetura, enem muito menos, podem ser taxados como inferiores a essas “culturas clássicas do mundo antigo” quando comparadas a elas. Na religião, essa civilização tinha rituais de sacrifícios que para controlar as fúrias dos deuses, eram sacrificados guerreiros Jovens e fortes, como demonstração de lealdade, ou eram sacrificados escravos capturados em guerras, como forma de agradecimento pela batalha vencida contra outros povos. A religião apresentava características dualista, onde os deuses mitológicos cultuados por esses povos eram: o El Degollador ou Ai-Apaec, o deus supremo, onde esse era responsável por manter a harmonia e a paz do mundo material e o Puma, onde esse deus era responsável por causar a desordem no mundo. Para os Mochicas, o equilíbrio do mundo material se deve a luta desses dois deuses, onde eram sacrificados jovens guerreiros em oferenda a Ai-Apaec como agradecimento. Outro aspecto interessante sobre os Mochicas é que eles estavam divididos em dois grupos independentes, mas que compartilhavam as tradições e similaridades políticas, fúnebres, artísticas e rituais entre si, que eram os Mochicas do Norte, que se limitavam a sua área tradicional, localizado-se entre os Vales de Mocho e Chicama, e os Mochicas do Sul, que empreenderam uma política de expansionismo em direção ao sul dos vales de Lambayeque e Jequetepeque, na costa norte peruano. O fim da civilização Mochica ainda é um grande mistério para os pesquisadores. Uma das dificuldades encontradas por eles é a falta de fontes escritas, já que os Mochicas não exerciam nenhum tipo de escrita, até mesmo, as informações que temos sobre esses povos são REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 125 as que foram expressas nas cerâmicas, permitindo adentrar um pouco na vastidão dessa cultura, ou os dados que foram repassados ao longo dos tempos por via oral, forma de preservar a memória e os costumes de civilizações como essa. O arqueólogo Steve Bourget, no ano de 1955, ao analisar os milhares de ossos encontrados na Huanca da Lua, e após observar os glaciares das montanhas andinas, levantou a hipótese de que uma das possíveis causas e explicações que podemos ter sobre o desaparecimento dos povos Mochicas é que por volta do ano de 560 a 650, a costa norte do Peru sofreu com a ação do fenômeno natural, hoje conhecido como o El Niño. Para ele, esse fenômeno superaqueceu as águas do mar do oceano Pacifico de tal maneira que chegou a derreter os glaciares das montanhas andinas, causando grandes cheias nos rios e nas regiões onde estavam habitados esses povos. Em consequência disso, o impacto climático e ambiental acabou gerando danos gravíssimos para a agricultura e para os povos das regiões atingidas pelas cheias, causando uma série de problemas, como epidemias, fome e outros fatores, culminado na extinção dessa formidável cultura humana. CIVILIZAÇÃO PROTO-LIMA: AS PINTURAS DE UMA HISTÓRIA AINDA NÃO CONTADA A cultura Proto-Lima era uma cultura pré-incaica que se desenvolveu na costa central do que hoje é a América do Sul, entre os anos 100 e 650 da era cristã*. A cultura Proto-Lima é contemporâneo com a cultura Moche, Nazca, Recuay. Essa civilização se destaca por sua cerâmica colorida e representações esculturais de seres entrelaçada de cobras e peixes, e, também, por seus edifícios feitos de pequenos tijolos confeccionados à mão e sua cerâmica policromada bem decorado com imagens geométricas. Essa cultura é mais conhecida como Cultura Lima, como diz o Arqueólogo Alemão Max Uhle. Cujo trabalho no Peru, Chile, Equador e Bolívia no final do século XIX e início do século XX, teve um impacto significativo sobre a prática da Arqueologia da América do Sul. Max Uhle (1856 – 1944) nomeou Proto Lima para cerâmica (pré-Tiwanaku), mais antigo encontrado no vale do rio Rimac [...]. Em 1963, Thomas Patterson [professor do Departamento de Antropologia UCR] propôs os termos de Miramar para a primeira fase e Lima para a segunda.6 6 (Monografias.com/Arte e culturas. Disponível em http://www.monografias.com/trabajos98/cultura-lima/cultura- lima.shtml, acesso em: 11 de junho de 2015.) REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 126 Em sua localização geográfica a cultura Lima ocupou a área do departamento atual de Lima (uma das 25 regiões que compõem o Peru), entre o deserto costeiro, as encostas e vales andinos. A adaptação e gestão do ambiente geográfico permitiu a construção de aldeias e centros urbanos cerimoniais. Sua arquitetura caracterizava-se pelas grandes pirâmides com praças e áreas residenciais adjacentes, acessíveis em seus cumes, por estradas ladeadas, por muros e rampas. A arquitetura monumental da cultura Lima utiliza duas técnicas recorrentes: Uma é o uso da lama, ou seja, paredes feitas de tijolos de barro. A segunda é o uso de pequenos tijolos de barro em forma de paralelepípedo, que substituiu o adobe. Muitas vezes, esses tijolos estão dispostos no interior da parede vertical, como livros em uma prateleira. Esta técnica não sobreviveu após o final da cultura Lima. O estilo de cerâmica da cultura Lima é caracterizada por figuras em forma de peixe ou serpentes entrelaçadas em conjunto, com algumas figuras geométricas de linhas e pontos, daí o nome de ‘intertravamento ‘que traduzido do Inglês significa "entrelaçado". Segundo os arqueólogos, as cerâmicas Lima são finas e agradáveis, mas também, encontraram grandes potes, com polpa espessa e aparência grosseira. Os finos vasos esféricos são encontrados ollitas, vasos cilíndricos, vasos e copos semelhantes a cálices, pratos e tigelas de cobertura suave, embarcações mamiformes ou em forma de tartaruga. Outro estilo de cerâmica é o Maranga, que apresenta uma utilização mais frequente de modelagem. Seu último estágio é tradicionalmente conhecido como estilo Nievería, e sob a influência Moche e Huari. Destaca o uso de argila de dimensões e condições muito finas e excelente acabamento superficial. Na sua decoração é caracterizada por frisos, peixes entrelaçados, linhas de interseção, triângulos, círculos e pontos brancos. Usaram como cores principais o vermelho, branco, preto e cinza (tetracolor) em um fundo de deslizamento laranja, magro, lustroso e brilhante. Na economia da cultura Lima destaca-se a pesca, a agricultura e o comercio. Por ser uma cultura costeira a pesca era uma atividade chave. O estranho é que, além de espécies de pesca artesanal (cavala, corvina, palma, pavão do mar etc.) também foram encontrados peixes que estão disponíveis apenas nas escalas que são de 100 a 200 m de profundidade. O que causou grande curiosidade aos pesquisadores. Na agricultura se tornaram muito ativos. Eles tornaram as terras áridas, agrícolas, através de uma rede de canais e aquedutos, alguns dos quais ainda estão em uso. Durante seu auge a Cultura Lima tornou-se um grande centro comercial. Seus vales ligados a locais estratégicos nas montanhas, com cujos habitantes trocavam os seus produtos REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 127 Com o fim da Cultura Lima, segundo os arqueólogos que escavaram densamente vários edifícios, indicam que foram abandonados durante o século oitavo e que as suas possíveis causas foram catástrofes naturais que dificultaram a sobrevivência desse povo. No entanto, os restos indicam que foi um fechamento organizado de espaços públicos com pleno respeito de regras precisas. Pátios e outras estruturas no topo das pirâmides foram enterradoscom preenchimentos intencionais. As entradas foram seladas com paredes de pedra e adobe, argila ou blocos de pedra, deixando no ar um grande mistério para ser desvendado: os reais motivos do desaparecimento de esplêndida cultura. CIVILIZAÇÃO NAZCA: AS LINHAS ALÉM DO TEMPO A civilização Nazca se desenvolveu no litoral sul do atual Peru e sua cultura foi prevalecente em torno da cidade de Cahuachi, considerado centro religioso e político. Os Nazca foram grandes matemáticos e arquitetos, construíram pirâmides e grandes templos religiosos. A sociedade Nazca era teocrática (governada pelo poder religioso). Era dividida em vales onde existiam muitos assentamentos. Cada aldeia tinha a sua própria autoridade que geralmente era um sacerdote. O Nazca elite vivia em construções piramidais, feito de paredes de adobe e coberta com uma camada de gesso ou cal para fechar as rachaduras. As pessoas que viviam na periferia da cidade, suas casas eram construídas com troncos de algarroba que formavam as paredes. A sociedade Nazca foi centralizada principalmente por sacerdotes, eles tinham o poder de organizar o trabalho da comunidade e dirigir as atividades religiosas cerimoniais. Sua economia era baseada na agricultura intensiva, praticada nos vales estreitos dos afluentes do Rio Grande de Nazca e o vale de Ica. Os habitantes Nazca construíram poços profundos ligados por uma rede de aquedutos subterrâneos. Os habitantes de Nazca também eram pescadores qualificados; com a pesca eles encontraram uma grande oferta de alimentos. Na agricultura praticada em Nasca evidencia-se o milho, feijão, abóbora, mandioca, amendoim, pimenta ou aji, goiaba, iúcuma, pacay e algodão. O comércio de Nasca teve uma importância fundamental, pois podiam muito bem atender às necessidades da população afetada, muitas vezes, pela longa estiagem. Os comerciantes de Nazca mantiveram contato constante com os comerciantes de cultura Huarpa, trocando produtos como batatas e lã em troca de peixe e algodão. Os Nazca desenvolveram variados objetos de cerâmica, artigos de ouro e tecidos de algodão. A cultura Nazca é caracterizada pela qualidade dos seus artigos, as representações REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 128 complexas pintadas em suas superfícies antes de ser cozido e as cores de seus objetos, são peças que têm seis ou sete cores e cerca de 190 tons diferentes. O mais típico dos vasos é a garrafa roast-ponte com dois aterros, mas panelas esféricas também foram produzidos, copos e vasos cerimoniais. A principal característica da cerâmica Nazca é o "abomina o vácuo", ou seja, que a Nazca não deixou nenhuma das suas cerâmicas algum espaço sem pintura ou sem decorar. Contudo, os gigantescos desenhos de animais, plantas e formas geométricas construídos com pedras representam um dos mais importantes e ainda intrigantes feitos realizados pelos Nazca. Pela sua proporcionalidade, o conjunto de obras Nazca somente pode ser visto do alto do céu. As linhas de Nazca são geóglifos e linhas direitas no deserto Peruviano. Foram feitas pelo povo Nazca, entre 200 a.C. e 600 d.C. ao longo de rios que desciam dos Andes. O deserto estende-se por mais de 1.400 milhas ao longo do Oceano Pacifico. A área de Nazca onde se encontram os desenhos é conhecida pelo nome de Pampa Colorada. Tem 15 milhas de largura e corre ao longo de 37 milhas paralela aos Andes e ao mar. As pedras vermelhas escuras e o solo foram limpas, expondo o subsolo mais claro, criando as "linhas". Não existe areia neste deserto. Do ar, as "linhas" incluem não só linhas e formas geométricas, mas também representações de animais e plantas estilizadas. Algumas, incluindo imagens de humanos, estendem-se pelas colinas nos limites do deserto. 7 Alguns“cientistas” acreditam que estas enormes linhas não poderiam ter sido feitas por homens, mas seres extraterrestres, a verdade é que, com um grande número de pessoas e um período mais longo de tempo teria sido possível sim, construir estas linhas. Algumas interpretações sugerem que eles foram criados pelos deuses ou extraterrestres, enquanto outros sugerem que eles eram uma espécie de calendário com alinhamentos astronômicos que ajudaram no plantio e colheita de culturas. Outros postularam que a finalidade das linhas de Nazca foi apenas como um caminho para a procissão cerimonial, ou seja, é possível que tinha uma função ritual relacionado com o ciclo da água em uma região desértica. As linhas de Nazca têm sido estudadas por especialistas de várias ciências, como antropólogos, arqueólogos e astrônomos, mas não encontraram evidências para apoiar qualquer dessas hipóteses, e sendo pouco provável que possamos saber o verdadeiro propósito dos geóglifos. A teoria mais recente propõe que os geoglifos podem ter servido como uma forma ritual: os fiéis andavam ao longo da rota, a viagem em si é uma forma de oração. Consequentemente, por motivos não esclarecidos, a população Nazca abandonou a cidade de Cahuachi e construiu outras cidades em diferentes regiões do atual Peru. 7Povos da Antiga América. Disponível em: http://povosdaantigaamerica.blogspot.com.br/2013/01/civilizacao- nazca.html Acesso em: 11 de junho de 2015 REVISTA TARAIRIÚ – ISSN 2179-8168 Campina Grande - PB, Ano VI – Vol.1 - Número 10 – Agosto de 2015 129 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos, esses povos aqui apresentados possuíam suas próprias tecnologias e formas para desenvolver e ampliar as suas culturas. É lamentável conhecermos tão pouco sobre eles, e principalmente, quando falamos das civilizações pré-colombianas, nos limitarmos apenas a falar das mais conhecidas por nós, como aqui já citadas. Entretanto, as novas descobertas arqueológicas nos mostram que não há limites para medirmos o tamanho da importância dessas pequenas, ou até mesmo, grandes civilizações, para o desenvolvimento de outras culturas posteriores a elas, como no caso aqui, a cultura Inca, que encontrará nessas culturas, a composição ideal para aprimorar e enriquecer o seu Império. Por fim, compreender que antes dos europeus chegarem a América,os povos aqui existentes já tinham em suas raízes as sementes do desenvolvimento cultural e artístico, nos convida a refletir mais sobre o que poderemos encontrar no futuro e as riquezas que nos aguardam com os avanços da tecnologia moderna, sobre esses povos. Mas, vale lembrar que, como o tempo não está em nossas mãos e que cada povo vive de acordo com os períodos que a “mãe natureza” determina, talvez o desconhecimento proporcional sobre esses povos, seja de grande beleza e que os mistérios que cobrem as histórias dessas civilizações, continuem a alimentar a nossa imaginação e curiosidade por muito tempo. REFERÊNCIAS Brasilescola.com/povos pré-colombianos. Disponível em: http://www.brasilescola.com/historia-da-america/mochicas- politica-religiao.htm. Acesso em: 11 de Junho de 2015. Culturamundial.com/ Cultura Mochica. Disponível em: http://www.culturamundial.com/2010/05/cultura-mochica.html. Acesso em: 10 de junho de 2015. Monografias.com/Arte e culturas. Disponível em: http://www.monografias.com/trabajos98/cultura-lima/cultura- lima.shtml. Acesso em: 11 de junho de 2015. PEREGALLI, Enrique. A América que os europeus encontraram. 3. ed. campina, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1987. Portal R7.com/ Mundo Educação. Disponível em: http://www.mundoeducacao.com/historia-america/civilizacao- nasca.htm. Acesso em: 11 de junho de 2015. Povos da Antiga América. Disponível em: http://povosdaantigaamerica.blogspot.com.br/2013/01/civilizacao- nazca.html. Acesso em:11 de junho de 2015. A América Pré-Colombiana. In: Revista Grande História Universal. Rio de Janeiro: Bloch editores. 1973. pp. 305- 321. Turmadahistória.Blogspot.com.br. Disponível em: http://turmadahistoria.blogspot.com.br/2011/06/cultura- mochica.html. Acesso em: 11 e 12 de junho de 2015.
Compartilhar