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FILOLOGIA ROMANICA APOSTILA

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
FILOLOGIA ROMÂNICA 
 
 
 
 
U N I V E R S I DA D E
CANDIDO MENDES
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
Impressão 
e 
Editoração 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
UNIDADE 1 – CONCEITOS E OBJETOS DE ESTUDO DA FILOLOGIA .................. 7 
1.1. Filologia ........................................................................................................ 7 
1.2. Filologia clássica e suas tarefas ................................................................. 8 
1.3. A Filologia textual ...................................................................................... 10 
1.4. Filologia românica...................................................................................... 11 
UNIDADE 2 – FORMAÇÃO DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS ..................................... 13 
2.1. Os substratos, superestratos e adstratos ............................................... 16 
2.2. A România hoje .......................................................................................... 16 
UNIDADE 3 – DOMÍNIOS DIALETAIS NA ROMÂNIA DO SÉCULO XX ................. 20 
3.1. Península Ibérica ........................................................................................ 21 
3.2. Os dialetos portugueses ........................................................................... 25 
3.3. Os Dialetos Espanhóis .............................................................................. 26 
3.4. Os Dialetos Castelães ................................................................................ 27 
3.5. Os dialetos da Gália ................................................................................... 27 
3.6. Os dialetos da Itália e Suíça Meridional ................................................... 30 
3.7. A península Balcânica – os dialetos romenos ........................................ 36 
UNIDADE 4 – MÉTODOS DA FILOLOGIA ROMÂNICA .......................................... 40 
4.1. Método histórico-comparativo .................................................................. 40 
4.2. Método idealista ......................................................................................... 44 
4.3. Método da Geografia linguística ............................................................... 45 
4.4. Método de palavras e coisas ..................................................................... 50 
4.5. Método onomasiológico ............................................................................ 50 
4.6. Método neolinguístico ou espacial ........................................................... 51 
4.7. Método da teoria das ondas ...................................................................... 52 
UNIDADE 5 – INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES ................................................. 54 
5.1. Do Estruturalismo ...................................................................................... 54 
5.2. Da Gramática Gerativa ............................................................................... 56 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 58 
 
3 
 
INTRODUÇÃO 
 
A língua é, acima de tudo, um meio de comunicação entre os homens. É 
uma das características mais importantes de identidade e cultura de um povo. 
Também é verdade que a língua revela o que somos. Ela pode ir se modificando em 
gerações sem perder seu sentido original. Podemos até mesmo afirmar que ela é o 
maior patrimônio de um povo. 
Defesas e exaltações à parte, tecnicamente, Iordan (1962 apud MEXIAS-
SIMON, 2010) ressalta que cada língua funciona sincronicamente e se forma 
diacronicamente, mas esses termos não são antagônicos nem contraditórios, porque 
a formação realiza-se tendo em vista a função. 
Quanto ao português, é uma língua derivada do latim, que era falado 
antigamente na região do Lácio, onde ficava a cidade de Roma. 
Com o tempo, Roma foi crescendo e, à medida que conquistava novos 
povos, impunha o latim como meio de comunicação obrigatório, transformando-o 
assim em língua oficial por toda a extensão do longo império romano. 
Terras de línguas românicas 
 
Além do aspecto linguístico, os romanos traziam seus hábitos, seus valores 
espirituais, modificando as culturas locais que, desse modo, iam adquirindo feições 
latinas, romanizando-se. 
4 
 
No entanto, o latim levado a essas regiões era o popular (vulgar), uma língua 
em constante evolução, dinâmica, falada por soldados e pessoas que provinham de 
lugares bem diferentes, o que a tornava diferente da língua usada na cidade de 
Roma. 
Além disso, os povos conquistados pelos romanos já possuíam uma língua 
e, ao serem obrigados a empregar o latim, modificavam bastante a pronúncia, 
incorporavam ao vocabulário latino palavras suas, resultando disso uma língua, 
desenvolvida com o tempo, que não era exatamente o latim. 
São línguas românicas: português, espanhol, catalão, galego, francês, 
provençal, italiano, sardo, reto-romano e romeno. 
Como as conquistas romanas ocorreram em épocas diferentes e como os 
povos dominados possuíam línguas também diferentes, as transformações do latim 
nas várias regiões em que foi levado resultaram em línguas diferentes, embora 
guardando entre si semelhanças que atestam sua origem comum. 
Esse processo de influência e transformação provocou a dialetação do latim, 
surgindo assim as chamadas línguas neolatinas ou românicas (derivadas do latim) – 
nosso foco de estudo neste módulo. 
Pois bem, a Filologia é definida por Auerbach (1972, p. 11) como o conjunto 
das atividades que se ocupam metodicamente da linguagem do Homem e das obras 
de arte escritas nessa linguagem. Como se trata de uma ciência muito antiga, e 
como é possível ocupar-se da linguagem de muitas e diferentes maneiras, o termo 
filologia tem um significado muito amplo e abrange atividades diversas, tais como: 
 a Edição Crítica de Textos, que busca reconstituir o texto representativo do 
ânimo autoral; 
 a Linguística, que trata das línguas em geral e de sua comparação ou de um 
grupo de línguas aparentadas, ou de uma língua específica; 
 os Estudos Literários que se ocupavam da Bibliografia, da Biografia, da 
Crítica Estética e da História da Literatura; e, 
 o Comentário ou Explicação de Textos, que podia servir aos mais diversos 
propósitos, segundo os textos selecionados e às diferentes observações que 
neles se pudessem fazer. 
5 
 
Dentre essas atividades filológicas, a que melhor lhe guarda a memória é a 
primeira, a Edição Crítica de Textos, considerada pelos eruditos como a mais nobre 
e a mais autêntica das formas de fazer Filologia (CARVALHO, 2003). 
De maneira mais simples, Miazzi (1980) diz que se costuma chamar filologia 
românica ao estudo das línguas e literaturas românicas, desde as origens mais 
remotas até as fases atuais. A rigor, porém, deve-se estabelecer diferença entre 
filologia e linguística românica, ou seja, estudo dos textos neolatinos (não apenas 
literários, como de ordem pragmática) e o das várias línguas oriundas do latim, tanto 
sincrônica quanto diacronicamente. 
Tema que fascina muitos estudiosos, nosso caminhar pela história da língua 
românica remonta à antiguidade, desde a conquista de partes da Europa atual pelos 
romanos. 
Segundo Bassetto (2001),o conceito de Filologia não é unívoco; divergem 
muito os autores ao defini-la, ao determinar os limites de seu campo de atuação e 
até seu objeto de estudo. Daí a necessidade de se levantar a biografia do termo, 
ainda que concisa, na busca de seu conteúdo semântico. Obviamente, é necessário 
partir do que nos legaram os gregos, os inventores do termo. 
De maneira bem resumida, vejamos as fases apresentadas por Bassetto: 
1ª Fase – As primeiras ocorrências nos textos gregos dos séc. V e IV a.C. 
apresentam a acepção etimológica de “amigo da palavra”, isto é, aquele que gosta 
de falar ou de ouvir a palavra. Um ou outro texto sugere a conotação de “tagarela”, a 
grande maioria, porém, dá ao termo o significado de “estudioso”, “que gosta de 
aprender”, como em Plutarco (Cato Maior, 22,2) e Cícero (Ad Atticum, 11, 17), ou de 
“culto”, “sábio”, “refinado”, como estágio subsequente de quem aprendeu através da 
palavra, como em Aristóteles (Retórica, 1398) e Cícero (Ad Atticum, XIII, 12, 3). 
2ª Fase – Com Eratóstenes de Cirene (275-194 a.C.), filólogo é sinônimo de 
sábio, pessoa de vasta cultura e conhecimentos em todos os ramos, expressos em 
muitos livros. Trata-se de uma espécie de título, posteriormente atribuído também a 
Ateius e Longino. Esses filólogos estão sempre relacionados com a palavra, seja ela 
escrita ou falada ou ouvida, em geral. De fato, é uma especialização semântica do 
vocábulo, mas que coexiste com o significado etimológico e suas derivações 
6 
 
polissêmicas mais imediatas. Nessas acepções, o termo é encontrado em textos até 
ao século VI, quando se torna raro até praticamente desaparecer. 
3ª Fase – Com os primeiros indícios do Renascimento, na segunda metade 
do séc. XIV, volta-se a estudar novamente os clássicos na Itália e depois em toda a 
Europa. Reaparecem os filólogos, como os Escalígeros, Saumaise, Casaubon, Wolf, 
entre tantos outros nomes conhecidos, que estudam, comentam e editam os 
clássicos latinos e gregos. Com isso se fixa o conceito moderno, em sentido estrito, 
de filologia como a ciência do significado dos textos; e em sentido mais amplo, como 
a pesquisa científica do desenvolvimento e das características de um povo ou de 
uma cultura com base em sua língua ou em sua literatura. 
Além da história propriamente dita, ou seja, a origem das línguas românicas, 
veremos: conceitos, definições, a formação da filologia românica, métodos, dentre 
eles o método geográfico; os domínios dialetais do século XX, influências e 
contribuições do estruturalismo e da gramática gerativa. 
Duas observações se fazem importantes: 
Em primeiro lugar, sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa 
ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia. Pedimos licença 
para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para 
que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos 
científicos. 
Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das 
ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se 
tratando, portanto, de uma redação original. 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir 
para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 
7 
 
UNIDADE 1 – CONCEITOS E OBJETOS DE ESTUDO DA 
FILOLOGIA 
 
1.1. Filologia 
Etimologicamente Filologia deriva do grego φιλολογία (Philologia), dos 
termos φίλος (philos), que significa “amor, carinho, amado, querido, querido amigo”, 
e λόγος (logos), que significa “palavra, a articulação, a razão”, descrevendo um amor 
de aprendizagem, da literatura, bem como de argumentação e raciocínio, refletindo o 
leque de atividades incluídas no âmbito da noção de λόγος. O termo mudou pouco 
com a Philologia Latina, e mais tarde entrou para o idioma Inglês, no século XVI, a 
partir do francês médio philologie, no sentido de “amor pela literatura”. 
A Filologia estuda uma língua ou um grupo destas através de seus 
documentos escritos. 
Ao Filólogo cabe a tarefa de, localizado o texto, classificar as cópias 
existentes com base nas variantes ou lacunas, para fazer o levantamento dos dados 
de ordem externa e interna, com vistas à sua exegese (crítica textual, histórico-
literária, antigamente ditas “baixa” e “alta” crítica). 
Para Câmara Jr. (1986, p. 117): 
 
Filologia é um helenismo que significa literalmente “amor à ciência”, usado a 
princípio com o sentido de erudição, especialmente quando interessada na 
exegese dos textos literários. Hoje designa, estritamente, o estudo da língua 
na literatura, distinto, portanto, da Linguística. 
 
Há, porém, um sentido mais lato para Filologia, muito generalizado em 
português; assim Vasconcelos (1926, p. 9 apud SILVA, 2012), entende por Filologia 
portuguesa “o estudo da nossa língua em toda a sua plenitude, e o dos textos em 
prosa e em verso, que servem para documentá-la”, o que vem a ser o estudo 
linguístico, especialmente diacrônico, focalizado no exame dos textos escritos em 
vez da pesquisa na língua oral por inquérito com informantes. 
Carvalho (2003) explica que a partir da segunda metade do século XX, 
observamos uma convergência entre língua e literatura que tem oferecido resultados 
frutíferos, sem se esquecer de mencionar a contribuição das outras áreas como a 
8 
 
Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, entre outras, renovando os pilares mais 
profundos desta prática filológica. Desse modo, chegamos aos nossos dias, com 
três subdisciplinas, aparentemente separadas, mas que, na verdade, dialogam entre 
si, conforme os interesses dos pesquisadores: Linguística, Literatura e “Filologia”. 
Logo, o que poderíamos chamar de focos de interesse contemporâneos são fruto 
tanto de uma trajetória interna das próprias disciplinas e de disciplinas contíguas 
como da evolução cultural ocidental. 
Modernamente, a Filologia se divide em dois ramos: 
a) O da Linguística – que faz o estudo científico das línguas do ponto de 
vista sincrônico (em uma dada época, em seu estado atual) – Linguística Descritiva 
– e/ou diacrônico (através dos tempos) – Linguística Histórica. Mais especificamente, 
o que melhor delimita este campo é o estudo comparativo e histórico das línguas. 
b) O da Filologia Textual/Crítica Textual – que se ocupa do processo de 
transmissão dos textos, com a finalidade de restituir e fixar sua forma genuína. 
Embora historicamente a Crítica Textual tenha privilegiado o estudo dos textos 
literários, atualmente considera tanto os textos literários como os não-literários. 
 
1.2. Filologia clássica e suas tarefas 
A Filologia Clássica é a ciência que se ocupa de todo material transmitido 
durante a Antiguidade e escrito nas línguas grega e latina. O objeto desta ciência é, 
portanto, o mundo greco-latino, ou melhor, mundo “clássico”, enquanto produziu 
monumentos sob a forma linguística. 
Consequentemente, está fora do âmbito da Filologia Clássica a Arqueologia, 
pois esta última se ocupa apenas da tradição material; do mesmo modo a História 
Antiga “strictu sensu”, porque no centro de seus interesses não está aquilo que os 
homens disseram ou escreveram, mas aquilo que fizeram, mesmo se há 
necessidade da Filologia Clássica como ciência auxiliar para entender os fatos 
históricos; permanece também excluso tudo aquilo que foi escrito numa língua 
diversa do grego ou do latim. 
Essas línguas consideradas mortas só são possíveis de estudo por meio dos 
textos, portanto, a Filologia Clássica, é ciência textual e assim se distingue da 
9 
 
Filologia Moderna. A menos que não apareçam novas descobertas no campo daPapirologia e da Epigrafia, lidamos, portanto, com uma ciência que se ocupa de um 
corpo “fechado” de textos (AVRELIVS, 2011). 
A primeira tarefa da Filologia Clássica é reconstituir os textos. Isto é, eles 
são seu ponto de partida, então ela realiza a crítica textual. Os textos gregos e 
latinos nos foram transmitidos através de manuscritos; em virtude dos inevitáveis 
erros dos copistas no decurso de mais de um milênio, tanto por isso não é sempre 
fácil a “reconstrução” do texto como foi idealizado pelo autor original (AVRELIVS, 
2011). 
A segunda grande tarefa da filologia clássica é o estudo da língua na qual os 
textos foram escritos. A crítica textual depende do conhecimento dessa língua, o 
estudo da língua, por sua vez, depende da crítica textual: um é impossível sem o 
outro. 
A linguística grega e aquela latina tem uma tradição mais que bimilenária e 
este fato constitui uma vantagem enorme em relação às línguas modernas; todavia, 
justamente por causa desta longa tradição, revela-se uma certa rejeição em se 
adotar novos métodos linguísticos desenvolvidos pelas modernas filologias. Em todo 
caso, hoje podemos admitir que todos os métodos da linguística se aplicam também 
às línguas grega e latina, mesmo que prevaleçam, naturalmente, os assim 
chamados métodos tradicionais. 
O exame da língua pode ser aplicado ao grego e ao latim, geralmente, à 
língua de um determinado período, à língua própria de um gênero literário, ou à 
língua – ou melhor, ao estilo – de um determinado autor ou texto. 
A terceira tarefa da filologia clássica é o estudo da literatura sob os mais 
diversos aspectos de natureza literária. Este campo sempre ocupou largo espaço na 
filologia clássica. A exegese dos textos, especialmente daqueles poéticos, era já em 
uso no século IV a.C. 
Os métodos de exegese se refinaram ao longo dos séculos, mas as 
moderníssimas experimentações das ciências literárias ainda têm poucas 
repercussões na filologia clássica, porque resultaram ineficazes em uma literatura 
totalmente diversa daquelas modernas, em uma literatura que não conhece, por 
10 
 
exemplo, o princípio da originalidade. Por isso a crítica literária normalmente se 
serve, também essa, dos métodos tradicionais. 
Quanto aos limites temporais da Filologia Clássica, seu estudo começa com 
os primeiros textos que chegaram até nós e com as conclusões que esses textos 
nos permitem elaborar sobre as fases precedentes. Não podemos dizer que existe 
um ponto final porque ainda se escreve em grego, em latim, mas estes textos são de 
interesse na atualidade aos bizantinólogos e ao medievalistas. Lato sensu, o limite 
natural para a Filologia clássica se dá no ano 500 d.C. (KRAMER; KRAMER, 1979 
apud AVRELIVS, 2011). 
 
1.3. A Filologia textual 
A Filologia/Crítica Textual tem por objeto de estudo o texto, tanto na sua 
existência material e histórica como na função de testemunho documental e literário. 
Sua tarefa consiste em resgatar os fios de transmissão dos textos, fazendo-se a 
inventariação e estudo dos afastamentos da tradição face ao original, se ausente, 
através da crítica da tradição, se presente, busca-se a lição mais próxima daquela 
que teve em sua origem, valorizando os materiais autênticos ou os seus vestígios, e 
os conhecimentos de que dispõe o filólogo no momento histórico em que trabalha. 
Carvalho (2003) pondera que devemos ficar atentos, porém, para a época 
em que esses textos foram produzidos, se antes ou depois do advento da imprensa, 
pois antes, dispúnhamos de cópias de cópias, e qualquer intento de restaurar o texto 
seria resultante de um processo difícil e complexo, através do método conjectural; 
depois, os textos interessam como realidades dinâmicas nas quais se mesclam, de 
muitas formas, diversas perspectivas de estudo, daí procurarmos estudar os 
materiais e as técnicas de escrita, as condições históricas e sociais que interferem 
em sua produção. 
Feitas essas observações, e levando-se em conta que o texto que se 
pretende reconstituir e conservar define, conforme as características que apresenta, 
o comportamento do editor que desenvolve teorias e metodologias apropriadas ao 
objeto em questão, a autora apresenta três modalidades da Crítica Textual: 
 a Crítica Textual Tradicional – aplicada a textos com original ausente, propõe-
se à restituição de um texto que se aproxime o mais possível do original 
11 
 
(MAAS, 1984 apud CARVALHO, 2003), eliminando os erros introduzidos na 
tradição (totalidade dos testemunhos, manuscritos ou impressos, conservados 
ou desaparecidos, em que um texto se materializou ao longo da sua 
transmissão, preparando-o para a publicação (DUARTE, 1997 apud 
CARVALHO, 2003); 
 a Crítica Textual Moderna – aplicada a textos com original disponível, com o 
objetivo de editá-lo, estabelecendo um texto que represente 
aproximadamente as intenções originais (ou finais) do autor (McGANN, 1983 
apud CARVALHO, 2003). Considera que as relações entre o poeta, a obra e 
seu público (leitor) têm definido princípios críticos adequados à publicação 
das obras modernas. Esta nova postura que vem sendo adotada, tanto do 
ponto de vista teórico quanto metodológico, apresenta elementos que 
identificam a antiga Filologia com a emergente Crítica Genética, que agora 
vem sendo amalgamadas. Tem-se comumente apresentado sob a rubrica de 
“Edição Crítico-genética”: edição crítica, quanto à obra publicada (fase 
editorial) e genética, por examinar os testemunhos de redação; 
 a Crítica Textual Genética – estuda a história do nascimento e do tornar-se 
escrita de uma obra, desde as suas marcas escritas primitivas até a sua 
última forma atestada (GRÈSILLON, 1994 apud CARVALHO, 2003). Aplicada 
a complexos de manuscritos autógrafos (notas, esboços, versões transitórias, 
cópias a limpo e texto definitivo), com o objetivo de estudar e determinar o 
processo de gênese do texto neles contido, dando especial atenção aos 
aspectos materiais que a documentam (marcas de manipulação). 
Sem entrar mais no mérito dos resultados, podemos fechar esse tópico 
afirmando que a Filologia sofre as consequências de abarcar múltiplos aspectos de 
seu objeto e que, por isso mesmo, apresenta diferentes perspectivas de estudo. A 
Filologia é plural, ela trata de língua, literatura e cultura através de textos, ela passa 
pela Linguística Histórica e Crítica Textual. 
 
1.4. Filologia românica 
Filologia românica é a ciência histórica que tem como objeto de estudo as 
transformações do latim vulgar nas línguas românicas, ou seja, no português, no 
12 
 
espanhol, no provençal, no francês, no italiano, no catalão, no rético, no sardo e no 
romeno. Tendo no Romantismo o momento em que esta ciência tomou grande 
impulso. 
Assunto este a ser exaustivamente estudado nas próximas unidades. 
13 
 
UNIDADE 2 – FORMAÇÃO DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS 
 
Ao contrário do que se costuma pensar, as línguas românicas não se 
originaram diretamente do latim. Entre o latim e as línguas neolatinas ou românicas, 
houve diversas variações chamadas de romances – como são chamadas as 
variações regionais do latim, das quais saíram, de fato, as neolatinas (COUTINHO, 
1996). 
Bassetto (2001) fala que originalmente, o latim era apenas o dialeto de 
Roma, restrito à margem do rio Tibre. Língua de camponeses e pastores, era rude, 
concreta e sem refinamento de qualquer espécie. Pertence à família indo-europeia 
e, dentro dela, ao grupo Kentum. Juntamente com o osco dos samnitas, o sabélico, 
o volsco, o umbro e o falisco, o latim forma o grupo chamado itálico. 
Encontram-se agrupadas sob a designação de línguas românicas todas 
aquelas que tiveram a sua origem no Latim, em particularno Latim Vulgar, e a partir 
dele evoluíram. 
A partir do século V, motivado pela invasão dos povos bárbaros, a unidade 
linguística desfez-se, dando origem a diferentes falares, os romances, que 
correspondiam à contaminação do latim vulgar por diversos substratos e 
superstratos. Estes romances constituíam diferentes formas de falar intermédias 
entre o Latim Vulgar e as línguas românicas atuais. 
O Estado romano teve origem no século VIII ou IX a.C. (a tradição fixa em 
753 a.C. a fundação de Roma), e engrandeceu-se progressivamente até constituir, 
em sua fase de maior esplendor, no primeiro século de nossa era, um dos mais 
vastos impérios de todos os tempo (UFSC, 2012). 
A história romana se divide em três fases, correspondentes às três formas 
de governo: da Realeza (das origens a 509 a.C.), da República (de 509 a.C. a 27 
a.C.) e do Império (de 27 a.C. a 476 d.C.). 
Com os povos submetidos, os romanos adotaram geralmente uma política 
bastante aberta para a época. Impunham o direito romano e exploravam 
economicamente a região, mas respeitavam as tradições religiosas dos vencidos, e 
permitiam que estes continuassem a utilizar a sua língua materna, ao menos nos 
contatos entre si. 
14 
 
Vejamos a ilustração abaixo: 
Formação do Império Romano 
 
Fonte: Ilari (2004, p. 47). 
 
As línguas com que o latim entrou em contato por efeito das conquistas 
pertenciam a diferentes famílias linguísticas, e eram bastante diferentes entre si. 
O latim não suplantou as línguas indígenas em todo o território do Império. A 
fala dos vencedores conviveu por décadas e mesmo por séculos com as locais, 
sendo o bilinguismo a situação típica depois da conquista. 
O latim, contudo, presente nas regiões submetidas numa variedade popular 
(o latim falado do exército, dos comerciantes e, em certos casos, dos veteranos 
assentados como colonos), e numa variedade erudita (a variedade dos magistrados, 
da jurisdição e, até onde esta existia, da escola) ia-se impondo como a língua que 
exprimia uma cultura mais avançada e que abria melhores perspectivas de negócios 
e ascensão política e social. 
No século III, a absorção pelo latim das línguas indígenas da porção 
ocidental do Império Romano era fato consumado, e essa unidade linguística 
representava para os povos latinizados o traço mais evidente de uma forte unidade 
15 
 
espiritual. Para denominar essa unidade linguística e cultural, emprega-se o termo 
Romania. 
Romania deriva de romanus, e este foi o termo a que naturalmente 
recorreram os povos latinizados, para distinguir-se das culturas barbáricas 
circundantes. 
Sobre romanus formou-se o advérbio romanice, “à maneira romana”, 
“segundo o costume romano”, e a expressão romanice loqui se fixou para indicar as 
falas vulgares de origem latina, em oposição a barbarice loqui, que indicava as 
línguas não românicas dos bárbaros, e a latine loqui que se aplicava ao latim culto 
da escola. Do advérbio romanice, derivou o substantivo romance, que na origem se 
aplicava a qualquer composição escrita em uma das línguas vulgares (UFSC, 2012). 
Entre os romances que se formaram entre o século V e o século X, temos o 
castelhano, o leonês, o galo-provençal, o romance lusitânico, do qual o português é 
um prolongamento. 
São dez as línguas neolatinas: 
1. PORTUGUÊS: falado em Portugal, Ilhas, África, Ásia e Brasil. 
2. ESPANHOL: falado em Espanha, nas suas (ex-)colônias, na América Latina, 
entre outros. 
3. ITALIANO: falado em Itália, Córsega e Sicília. 
4. FRANCÊS: falado na França, Bélgica, Suíça, Mónaco, Canadá, Tunísia, 
Marrocos, Congo, Guiné. 
5. ROMENO ou valáquio: falado na Roménia e ao Norte da Macedônia. 
6. RÉTICO: também chamado reto-romano, romanche e ladino, falado no Tirol, 
no Friul e no cantão dos Grisões. 
7. GALEGO: falado na Galiza. 
8. PROVENÇAL: falado na Provença (Sul de França). 
9. CATALÃO: falado na Catalunha e nas Ilhas Baleares. 
10. SARDO: falado na Sardenha. 
16 
 
11. DALMÁTICO: até aos finais do século passado (1808), encontrava-se na 
Dalmácia, região da Jugoslávia. Atualmente é uma língua morta (RIBEIRO, 
2000). 
 
2.1. Os substratos, superestratos e adstratos 
As línguas românicas receberam diversas contribuições. Ilari (2004) discorre 
sobre substratos compostos de línguas pré-romanas. Estes apareceram na Itália 
peninsular; vindo dos povos do Mediterrâneo ocidental; dos povos da França, da 
região do Pó e dos Alpes e também de Vêneto, Dalmácia e região danubiana. 
Quanto aos superestratos, temos as contribuições dos reinos romano-
barbáricos; germânicos; Árabe e romeno. 
Quanto aos adstratos, encontramos nos gregos a adição de um grande 
número de palavras ao latim vulgar através do cristianismo, que surgiu num 
ambiente judaico-helênico. 
Enfim, muitas foram as contribuições do mundo antigo para a formação das 
línguas românicas. 
 
2.2. A România hoje 
Pelo termo România designa-se modernamente a área ocupada por línguas 
de origem latina. 
Se compararmos a România atual com o Império Romano, em sua fase de 
maior estabilidade, notaremos que os limites de ambos não coincidem. Boa parte 
das regiões outrora dominadas pelos romanos falam hoje línguas germânicas (como 
a Britânia), gregas (como a Grécia), semíticas (como a Síria e grande parte da África 
do Norte), entre outros. Por outro lado, falam-se línguas românicas na América 
Latina, que está fora dos horizontes do mundo antigo. 
Ilari (2004) pontua várias razões por que o latim não conseguiu manter-se 
como língua falada em todo o Império. São elas: 
17 
 
a) Romanização superficial 
Na Caledônia (atual Escócia), na Germânia, em boa parte dos países 
danubianos e mesmo em certas regiões montanhosas da Europa continental e 
mediterrânea, como os Alpes e a Albânia, a pequena densidade demográfica e as 
dificuldades de comunicação impediram a formação de grandes cidades, dando à 
romanização um caráter superficial. Submetidas posteriormente pelos bárbaros, 
algumas dessas regiões adotaram a língua dos novos senhores. Em outras, pode-se 
falar em sobrevivência de línguas pré-romanas. 
 
b) Superioridade cultural dos vencidos 
Quatro séculos de ocupação não bastaram para impor o latim como língua 
falada na Grécia e no Mediterrâneo oriental. Nessas regiões, que a cultura 
helenística havia profundamente impregnado, o grego manteve-se como língua 
coloquial e culta, uma posição que o Cristianismo – utilizando o grego como língua 
oficial nas suas origens – fortaleceu ainda mais. 
 
c) Superposição maciça de populações não-romanas 
Durante alguns séculos, a África mediterrânea, desde a Cirenaica até 
Gibraltar, foi profundamente romana. Floresceram ali os estudos latinos, 
destacando-se autores do porte de Apuleio, Tertuliano, São Cipriano e Santo 
Agostinho. 
Nos séculos VI e VII, os árabes superpuseram-se aos romanos (e aos 
vândalos, que ali haviam fundado um reino, depois de dominarem o sul da Península 
Ibérica), introduzindo uma nova língua e uma nova cultura. Apenas a toponomástica 
e os dialetos árabes (berberes) da região conservam vestígios latinos, que 
constituem para os romanistas elementos importantes para a reconstituição dos 
estágios mais antigos do latim. 
Por outro lado, através dos movimentos colonialistas iniciados com as 
grandes navegações do século XVI ou dos movimentos de propagação do 
catolicismo patrocinados, sobretudo por Portugal e pela Espanha, as línguas 
românicas foram levadas para os novos continentes onde se superpuseram às 
18 
 
línguas autóctones como “línguas de cultura” e como “línguas oficiais”; a 
recuperação da independência pelas colônias tem feito às vezes com que asantigas 
línguas nacionais recuperassem seu status de línguas oficiais. 
As línguas românicas no mundo 
 
- O português é falado hoje no Brasil, em alguns portos da Ásia (Macau, 
Timor, Goa, a península da Malaia), na Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cabo 
Verde, Ilha da Madeira e São Tomé e Príncipe. 
- O espanhol é a língua de toda a América do Sul (excetuando-se Brasil, 
Guiana, Suriname e Guiana Francesa), da América Central (excetuando-se Haiti, 
Jamaica); é ainda uma das duas línguas dos Estados bilíngues dos Estados Unidos: 
Flórida, Califórnia e Texas. 
- Fala-se francês na região de Quebec (Canadá), na Louisiana, na Guiana 
Francesa, no Haiti, no Senegal e em Madagáscar. 
- O italiano foi levado em fins do século passado e inícios do atual à Eritréia, 
à Somália e à Líbia. 
Nas vicissitudes pelas quais passam as línguas neolatinas nas antigas 
colônias da América e da África, que podemos evidentemente observar em nossos 
dias, reproduzem-se as situações pelas quais passou o latim nas colônias romanas; 
19 
 
um traço que ressalta dessa observação é a grande uniformidade da língua nas 
colônias (por exemplo, do português no Brasil) em oposição à extrema fragmentação 
dialetal do país de origem (por exemplo, a dialetação do português europeu); vários 
linguistas julgam que o latim também devia ser mais variado na Itália do que nas 
colônias da România Antiga (ILARI, 2004). 
20 
 
UNIDADE 3 – DOMÍNIOS DIALETAIS NA ROMÂNIA DO 
SÉCULO XX 
 
Segundo Ilari (2004), distinguem-se hoje no território europeu da România 
moderna onze áreas dialetais (ou, mais precisamente, onze sistemas de dialetos, já 
que em alguns casos as áreas dialetais são descontínuas): 
Os sistemas dialetais na România Antiga 
 
 
Península Ibérica 
 Dialetos portugueses 
Dialetos catalães 
Dialetos espanhóis 
 
Gália antiga 
 Dialetos franceses 
Dialetos provençais 
Dialetos franco-provençais 
 
Itália e Suíça 
Meridional 
 Dialetos réticos 
Dialetos galo-itálicos 
Dialetos italianos 
Dialetos sardos 
 
Península 
Balcânica 
 Dialetos romenos 
21 
 
3.1. Península Ibérica 
Na distribuição geográfica dos dialetos ibéricos, os romanistas julgam 
reconhecer os reflexos de dois processos de conquista: de um lado, a própria 
conquista da Ibéria pelos romanos; de outro, a “Reconquista”, nome pelo qual se 
indicam as guerras travadas entre os árabes e os cristãos a partir do fim do primeiro 
milênio, que redundaram na expulsão dos árabes e na consolidação das monarquias 
cristãs. 
As regiões da Hispania romana 
 
Fonte: Ilari (2004, p. 175). 
22 
 
Línguas da Península Ibérica por volta de 930 
 
 
a) A penetração romana na Ibéria se deu segundo duas direções: pelo Golfo 
de Valência, os romanos dominaram as regiões que acabaram por constituir a 
província chamada Hispania Citerior: Tarraconense e Galícia; pelo Golfo de Cádiz, 
dominaram as regiões que viriam a constituir a Hispania Ulterior: Bética e Lusitânia. 
Os dois movimentos de romanização estão distanciados não só no tempo (quase um 
século separa o estabelecimento de colônias na Tarraconense da vitória sobre os 
lusitanos, liderados por Viriato), mas também no tipo de latinização resultante: ao 
passo que a presença romana na Hispania Citerior teve um caráter militarista e 
vulgar, na Hispania Ulterior, que foi colonizada pela aristocracia e administrada 
durante séculos pelo Senado, um importante fator de romanização foram as escolas, 
que teriam existido até em grau superior. 
Essa circunstância é frequentemente lembrada como explicação para uma 
característica típica dos dialetos hoje falados na antiga Hispania Ulterior, seu caráter 
marcadamente arcaico. De fato, esses dialetos conservam os ditongos au e ai, que 
se reduziram a o e e no resto da lbéria; além disso, os dialetos portugueses, 
correspondentes à antiga Hispania Ulterior, preservaram o encontro consonantal -
mb- que passou tipicamente a -m- no domínio do castelhano. 
23 
 
b) Por outro lado, a distribuição dos dialetos portugueses, espanhóis e 
catalães em três faixas na direção norte-sul corresponde às três frentes em que se 
deu ao longo dos séculos X a XV a reconquista cristã do centro-sul da península. 
Esses três movimentos foram liderados pelas monarquias de Leão e Castela (no 
centro), de Portugal (a oeste) e de Aragão (a leste); partiram dos Montes 
Cantábricos, e alcançaram, em épocas diferentes, a Andaluzia, o Algarve e a região 
valenciana. 
Dadas as características dessa guerra, que parece ter consistido tanto do 
lado cristão como do lado árabe em incursões no território inimigo, que criavam uma 
faixa de “terras de ninguém”, perigosas e despovoadas, entre duas regiões mais 
estáveis e mais densamente povoadas, não houve propriamente contato entre as 
línguas correspondentes às duas culturas. A principal consequência é que o 
moçárabe, isto é, o romance falado pelos cristãos na região falada pelos árabes, que 
pode ser descrito como uma variedade de romance tipicamente ibérica e 
extremamente conservadora, foi completamente suplantado pelos dialetos dos 
conquistadores, à medida que as regiões conquistadas se repovoavam de colonos 
vindos do norte. 
Nesse processo, e em consequência da criação de um Estado espanhol sob 
a monarquia de Castela, o dialeto castelhano, falado inicialmente numa pequena 
região do centro-norte da península, em torno de Burgos, não só conquistou 
territórios ao moçárabe, mas também foi-se superpondo aos dialetos leoneses, a 
oeste, e aos dialetos aragoneses, a leste. Esses últimos dialetos ocupam hoje uma 
área bem mais reduzida que no passado, e a tendência é para sua progressiva 
assimilação. 
Em decorrência desses fatores, há uma forte semelhança entre os dialetos 
ibéricos pertencentes ao mesmo sistema dialetal: essa semelhança contrasta, por 
exemplo, com a extrema variedade dos dialetos da Itália do Norte, dos dialetos 
réticos ou dos franco-provençais (ILARI, 2004). 
24 
 
Abaixo temos mapas com mudanças de línguas na Península Ibérica por 
volta de 1200, 1300 e na atualidade. 
1200 
 
1300 
 
Atualidade 
 
25 
 
3.2. Os dialetos portugueses 
Falam-se dialetos portugueses num território aproximativamente 
correspondente ao Estado português. 
Os dialetos portugueses têm também uma morfologia peculiar. Merecem ser 
lembrados: 
 a terminação do plural sai em -s; 
 a aplicação da terminação -a, típica dos femininos, a palavras originárias da 
3ª declinação inclusive depois de formada a língua (lembrem-se os textos de 
poesia trovadoresca, onde ocorriam como femininas as palavras senhor e 
pastor, hoje substituídas por senhora e pastora); 
 o mais-que-perfeito latino: cantaveram > eu cantara; 
 os particípios passados com valor ativo: sou desconfiado, significando “eu 
desconfio” e não “desconfiam de mim”; o “infinitivo pessoal”: foi pena eles 
terem partido tão de repente, a ponto de não termos podido acompanhá-los. 
Na sintaxe, os fatos mais notáveis são a mesóclise pronominal (isto é, a 
possibilidade de colocar os pronomes pessoais átonos entre o radical e a 
terminação, nos futuros e condicionais) e a possível omissão do sufixo mente, numa 
sequência de dois advérbios de modo: serena e calmamente. 
Segundo Ilari (2004), a mais célebre classificação dos dialetos portugueses 
deve-se a Leite de Vasconcelos. Foi proposta há quase um século (1901) e abrange 
não só as variedades faladas no território português, continental e insular, mas ainda 
o português das antigas colônias e os dialetos de base portuguesa falados por 
algumas comunidades judaicas espalhadas em vários pontos da Europa e ÁsiaMenor. É esta, na íntegra, a classificação de Leite de Vasconcelos: 
I. Português propriamente dito: 
 Dialetos continentais: 
 - Interamnense (alto minhoto, baixo minhoto, baixo duriense); 
 - Trasmontano (raiano, alto duriense, subdialeto ocidental e central); 
 - Beirão (alto-beirão, baixo-beirão, subdialeto ocidental de Coimbra e 
Aveiro); 
26 
 
 - Meridional (estremenho, alentejano e algarvio). 
 Dialetos insulares (açoriano e madeirense); 
 Dialetos ultramarinos (brasileiro, indo-português e vários falares crioulos); 
 Dialetos judeu-portugueses. 
II. Codialetos: Galego, Riodonorês, Mirandês e Guadramilês 
Por muito tempo, o ponto mais discutido dessa classificação foram os 
codialetos. Entende-se hoje tratar-se de variedades de transição, que combinam 
características fonéticas e morfológicas típicas dos dialetos portugueses com outras 
típicas dos dialetos espanhóis (leoneses) vizinhos. 
 
3.3. Os Dialetos Espanhóis 
As características mais marcantes dos dialetos espanhóis, falados no centro 
da Península, estão tipicamente representadas no castelhano, o mais importante de 
todos eles, e são de ordem fonética, a saber: 
a) Ditongação de e em o em sílaba aberta ou fechada: terram tierra, petram 
> piedra, bonum > bueno, porta > puerta. Eventualmente o ditongo se reduz em 
seguida: frontem > friente> frente; castellum > castiello > castillo. 
b) A conservação das vogais, que faz com que um bom número de palavras 
termine em vogal. 
c) A passagem f > h > <Ø>: filium > hijo > hijo (onde o h já não é 
pronunciado). 
d) A tendência a resolver em ll [λ] os grupos formados por consoante + l: 
plenum, clavem, flammam > lleno, /lave, llama. 
e) A sonorização das consoantes surdas intervocálicas, e sua posterior 
passagem a africadas: lupum > lobo hoje pronunciado [loβo]. 
f) A simplificação das geminadas: bucca > boca. 
g) A palatalização das consoantes longas /ll/ e /nn/: annum, caballum > ano, 
caballo (pronunciado [kaβaλo]). 
27 
 
h) A criação de uma africada a partir do grupo /ct/, /Il/, via /it/: lacte > laite > 
leite > feche, multum > mucho (pronúncias [letʃe] e [mutʃo]). 
i) A passagem do grupo lj- à fricativa [x], via [λ, ɜ]. 
Além do castelhano, fazem parte hoje do sistema dos dialetos espanhóis o 
galego (falado na Galiza), o leonês (falado a noroeste do Reino da Espanha, numa 
região que corresponde imperfeitamente à província de León), o aragonês (falado a 
nordeste, numa área que tem por centro a cidade de Huesca), o estremenho e o 
andaluz. 
 
3.4. Os Dialetos Castelães 
A região oriental do território espanhol, compreendendo a Catalunha, 
Valência (até Alicante e Cartagena) e uma parte da província de Aragão, fala 
dialetos catalães. Também se falam dialetos catalães nas Ilhas Baleares e na 
República de Andorra; além Pireneus, em território francês, fala-se um dialeto 
catalão no departamento de Roussillon. 
Distinguem-se no catalão continental duas variedades – oriental e ocidental 
– separadas pelo rio Llobregat, que são por sua vez distintas do valenciano. Têm 
traços peculiares os dialetos falados no Roussillon e nas Baleares. 
Quanto às características dos dialetos catalães, uma das mais notáveis é 
que o artigo não deriva de ille mas de ipse: os artigos do catalão são es, sa, sos, 
ses. 
Por suas características, o catalão constitui um sistema de dialetos à parte, 
que não há vantagem em tratar nem com o espanhol, nem com o provençal ou o 
francês. Fica claro, contudo, que pelo catalão se passa do ibero-romance ao galo-
romance. 
 
3.5. Os dialetos da Gália 
O antigo território da Gália Transalpina compreende três sistemas dialetais: 
o dos dialetos franceses, o dos dialetos provençais e o dos dialetos franco-
provençais. Para os dois primeiros, têm-se utilizado às vezes as denominações 
28 
 
“langue d'oil” e “langue d'oc” (ou “occitano”), que identificam os dois sistemas a partir 
da palavra que exprime a afirmação nos próprios dialetos: oi! (que é o antepassado 
do francês OUI) e oe: essas denominações são mais exatas do que' 'francês” e 
“provençal”, porque em sentido estrito o provençal é apenas um dos dialetos do 
grupo occitano; além disso, por francês se entende às vezes o dialeto de Paris, que 
é apenas um dos dialetos de oi!. Quanto aos dialetos franco-provençais, a tese de 
que constituem um grupo à parte, proposta no começo do século por Ascoli, 
encontrou resistência em alguns romanistas importantes; os que não aceitam a 
autonomia desse terceiro grupo preferem a denominação mais neutra “dialetos do 
sudeste da França”. 
A área dos dialetos franco-provençais compreende: (i) na França: o monte 
Jura, a Savóia e as regiões de Grenoble e Lyon; (ii) todo o território da chamada 
“Suíça Francesa” (Suisse Romande); e (iii) na Itália, alguns vales alpinos com certa 
extensão (principalmente os de Aosta, de Lanzo e do rio Orco). 
A proposta de reconhecer os dialetos franco-provençais como um sistema à 
parte, no mesmo nível que o francês e o occitano, reflete a dificuldade de enquadrá-
los por suas características fonéticas tanto num como noutro grupo. Na realidade, 
seu vocalismo lembra o occitano e seu consonantismo os aproxima do francês. 
Confiram-se estes exemplos: 
lat. panem > pan; lat. casa > chieu; lat. desidero > desiro; lat. campu > tsã; 
lat. galbinu > dzuono. 
29 
 
Os dialetos galo-românicos antes da absorção pelo francês 
 
Os dialetos franco-provençais são falados numa região em que as 
comunicações são particularmente difíceis e são bastante semelhantes entre si dos 
dois lados dos Alpes; essa semelhança – surpreendente quando se pensa que os 
Alpes constituem um dos mais formidáveis obstáculos naturais para as 
comunicações humanas – mostra que as divisas da geografia física não se 
transformam automaticamente em divisas linguísticas; foi explicada a partir do fato 
de que os vales franco-provençais hoje pertencentes ao território italiano, juntamente 
com uma grande porção francesa do vale do Ródano, constituíram no passado a 
diocese de Vienne: os limites dialetais coincidem com os limites dessa antiga 
unidade religiosa e evocam um tempo em que a circulação de inovações linguísticas 
deve ter-se circunscrito a ela. 
30 
 
3.6. Os dialetos da Itália e Suíça Meridional 
No território, atualmente ocupado pela República Italiana, pela Córsega (que 
pertence politicamente à França) e no sul da Suíça, é costume reconhecer três 
grandes sistemas dialetais, a saber: 
a) O dos dialetos sardos. 
b) O dos dialetos réticos. 
c) O dos dialetos italianos. 
Um fato peculiar a respeito desses dialetos, no confronto com as outras 
regiões da România, é a sua maior vitalidade: embora sejam falados 
concomitantemente com uma língua oficial (italiano na República Italiana, francês na 
Córsega, alemão na Suíça), esses dialetos mantêm em relação a ela uma forte 
autonomia; outro traço é a forte variedade de estrutura: as diferenças estruturais são 
sensíveis, não só quando se comparam dialetos de grupos distintos, mas também 
quando se confrontam os de um mesmo grupo: por exemplo, não há compreensão 
recíproca entre falantes que utilizem os dialetos do vale do Pó e os da região ao sul 
dos Apeninos, embora ambas as variedades, em nossa classificação, se enquadrem 
no mesmo sistema. 
31 
 
Línguas e dialetos na Itália no século XX 
 
 
Com uma história política pouco ligada à Itália continental, a Sardenha teve 
poucos contatos com os dialetos italianos; o latim vulgar da Sardenha desenvolveu 
falares caracterizados por uma fonética fortemente conservadora. É a esses 
32 
 
dialetos, encarados como um sistema à parte, que se faz referência,genericamente, 
ao falar em “sardo”. 
As principais variedades do sardo são (de norte a sul): o galurês, o sassarês, 
o Iogudorês e o campidanês. 
O galurês, falado no extremo norte da ilha, assemelha-se aos dialetos 
próximos da Córsega, que são por sua vez uma variedade do toscano. O 
campidanês, falado na metade sul, compartilha alguns traços com os dialetos da 
Itália meridional. Já o logudorês, falado numa faixa entre o centro e o norte da ilha, 
tem sido encarado como o sardo típico. 
Entre suas características fonéticas, Ilari (2004) lembra: 
a) O tratamento diferenciado de e longo e i breve, de o longo e u breve. 
b) A conservação do i semivogal (precedendo vogal) que não se palataliza: 
lat. iugum > iugu. 
c) A conservação do valor velar de c antes de e e i (cerasea > kariasa). 
d) A conservação dos grupos cl, gl, bl e fl. 
e) A passagem de I a r (lat. plangere > prangere). 
f) A passagem de qu > b, gu > g. 
g) A passagem gn > nn (lat. lignum > linnu). 
h) A conservação das surdas intervocálicas. 
Por algumas dessas características fonéticas, o logudorês assemelha-se ao 
latim literário: isto não quer dizer que os falares da Sardenha se originaram do latim 
literário, mas que, devido às circunstâncias da latinização e da história posterior da 
ilha, remontam a uma fase mais antiga do próprio latim vulgar, em que o contraste 
deste com o latim culto era menos vincado. 
Em 1873, ao publicar seu Saggi Ladini, Graziadio Ascoli chamou a atenção 
para as semelhanças fonéticas existentes entre alguns dialetos distribuídos por 
regiões descontínuas da Itália do norte e sul da Suíça, e atribuiu essa semelhança a 
uma antiga unidade baseada na província romana da Récia, que ocupava, no 
período de maior expansão do Império Romano, um território correspondente grosso 
modo à atual Suíça Oriental. Como província linguística, a Récia sofreu sua principal 
33 
 
perda territorial no século V com a invasão dos alamanos, mas mesmo depois das 
grandes migrações de povos na Alta Idade Média o reto-romance foi-se retraindo, 
pela pressão contínua que exerceram os dialetos alemães ao norte e os italianos ao 
sul. Ascoli atribuiu a esse avanço a destruição da continuidade territorial dos dialetos 
réticos, que se reduziam, já no século passado, a três ilhas na fronteira entre a Itália, 
a Suíça e Áustria; tendo em vista a antiga unidade, propôs que essas três ilhas 
dialetais – delimitadas, sobretudo por critérios fonéticos – fossem consideradas 
como um único sistema de dialetos. Essa perspectiva prevaleceu, embora os 
romanistas modernos sejam mais céticos que Ascoli quanto aos limites antigos do 
rético e à sua separação dos dialetos da Itália do Norte (ILARI, 2004). 
A variedade mais oriental do rético é falada no cantão suíço dos grisões, e 
compreende algumas subvariedades entre as quais o sobressilvano e o engadino 
(nem todo o cantão dos grisões é de fala românica: em sua capital, Chur, fala-se um 
dialeto alemão). Algumas variedades dialetais do rético dos grisões foram usadas no 
passado para fins literários e desde 1938 foram reconhecidas como a quarta língua 
oficial da Confederação Helvética (ao lado do alemão, do francês e do italiano). 
A variedade “central” localiza-se toda em território italiano, e é formada por 
alguns vales na divisa entre as regiões do Vêneto e do Trentino-Alto Adige; a 
variedade oriental tem por centro a cidade de Udine, e corresponde à parte norte da 
região de Friuli; Trieste foi outrora uma cidade de fala rética (ILARI, 2004). 
É difícil apontar características (fonético-históricas, morfológicas, entre 
outras) do rético que sejam simultaneamente comuns a todos os seus dialetos e 
suficientes para distingui-los dos dialetos galo-itálicos e demais dialetos românicos. 
34 
 
Dialetos réticos 
 
Fonte: Ilari (2004, p. 191). 
 
Quanto aos dialetos galo-itálicos e vênetos, a principal divisa entre os 
dialetos falados na Itália coincide com a divisa entre România Oriental e România 
Ocidental, e acompanha o divisor de águas dos Apeninos, no trecho em que 
separam a Itália do Norte e a Itália Peninsular. A primeira dessas regiões é ocupada 
pelos dialetos galo-itálicos (na região outrora habitada pelos gauleses) e pelos 
dialetos vênetos. 
Os dialetos galo-itálicos costumam ser classificados em Piemonteses, 
lombardos, lígures, da Emília e Romagna. 
São traços comuns a eles: 
a) A sonorização das oclusivas surdas intervocálicas (que em alguns desses 
dialetos passam a fricativas e caem) (1, 2, 3). 
b) A presença de Ƴ e Ø (2, 3). 
c) A palatalização dos grupos cl, gl, pl, bl (4, 5). 
d) A palatalização de ct (6). 
e) A queda de todas as vogais finais exceto a. 
f) A redução de todas as geminadas, inclusive li e nn (7, 8). 
35 
 
g) A queda das vogais átonas, pré e postônicas (9, 10): 
(1) rotundum > riund; (2) lupum > Iy, rusticum > rystik; (3) focum > fØ; (4) 
clamare > tʃame; (5) plenum > pjen; (6) factum > fait e fatʃ; (7) annu > an; (8) 
caballum > caval; (9) monica > munja; (10) auric(u)la > urØdɜa. 
 
Uma característica morfossintática digna de nota é a necessidade de dobrar 
o sujeito por meio de um pronome clítico nominativo e a perda da forma nominativa 
dos pronomes: 
Ia mare a Ia parla (literalmente “a mãe ela fala”) 
mi i rispunt (literalmente “mim eu respondo”) 
Pertencem ao grupo vêneto os dialetos falados em Veneza, Verona, 
Vicenza, Pádua e a região do Polesano, Feltre e Belluno, Trieste e a Veneza Júlia. 
Em contraste com os dialetos galo-itálicos, que lembram de algum modo o 
francês, os dialetos vênetos assemelham-se mais ao italiano padrão por 
características como a falta de Ƴ e Ø, a preservação das vogais finais (exceto e e o, 
que caem nas palavras paroxítonas), a presença dos ditongos ie e uo, e a 
conservação das vogais pré e postônicas: comparem-se estas vozes com os 
exemplos extraídos dos dialetos galo-itálicos: 
dico > digo; catti > gati; lupo > lu; monica > monega; rusticum > rustego etc. 
Ao sul da linha La Spezia-Rimini, cabe distinguir os dialetos toscanos, nos 
quais se baseia o italiano literário, dos dialetos centrais e meridionais. 
Os dialetos centrais e meridionais – desde as Marcas até extremo sul da 
península, incluindo a Sicília – são costumeiramente divididos em três grupos 
correspondentes a: 
a) Marcas, Úmbria e Lácio. 
b) Abruzos, norte das Pulhas, Molise, Campânia e Lucânia. 
c) Salento, Calábria e Sicília. 
As diferenças entre essas variedades são grandes, mas é possível apontar 
algumas características comuns a boa parte delas: 
36 
 
 A redução de nd e mb a nn e mm: quando> quanno; camba > camma (em it. 
standard: quando e gamba). 
 A redução de pl a kj: plus > kjú (it. standard: piú). 
 A pronúncia lábil das vogais finais. 
 A redução de b inicial a v: bucca > vocca (it. standard: bocca). 
 
Nos dialetos italianos centro-meridionais, são bastante comuns os 
fenômenos de metafonia: a vogal tônica da palavra muda de timbre para assimilar-
se à vogal final, que é coincidentemente a que expressa gênero e número; com a 
queda posterior da vogal final, a alternância de timbres na tônica pode assumir papel 
morfológico (como no exemplo clássico do port.: avô, avó). 
Por dialetos toscanos, entende-se um conjunto de falares que compreende o 
florentino, o dialeto de Pisa, Lucca e Pistoia, o senês, os falares de Arezzo e Chiana. 
Ao passo que é bem marcada a distinção desses dialetos em confronto com 
os galo-itálicos e os meridionais, é forte a semelhança com os da Córsega, que 
podem ser considerados como sua continuação. Os dialetos toscanos são 
particularmente importantes porquanto é num deles – o florentino – que se baseia o 
italianoliterário (ILARI, 2004). 
 
3.7. A península Balcânica – os dialetos romenos 
Investigações desenvolvidas no fim do século passado por Meyer-Lubke 
chamaram a atenção dos romanistas para um conjunto de dialetos falados outrora 
na costa adriática da Península Balcânica, e que constituíam o elo natural entre os 
dialetos da Itália e o romeno. Trata-se dos dialetos dalmáticos. Há cerca de três 
séculos, eles ainda ocupavam a região costeira da Iugoslávia, mas desapareceram 
pela superposição do serbo-croata no sul e de outros dialetos neolatinos (veneziano 
e friulano sobretudo) ao norte. 
A última variedade de dalmático – o dialeto da ilha de Veglia ou veglioto – 
extinguiu-se em meados do século XIX; contudo foi levantado a seu respeito um 
amplo conjunto de informações, através de documentos escritos do passado e de 
37 
 
um informante que, no final do século, se lembrava de tê-lo falado na juventude. As 
pesquisas sobre o dalmático lançam luzes sobre uma antiga continuidade dialetal 
entre a Itália e a Dácia, e permitem enfocar de maneira mais global a questão dos 
limites entre România Oriental e România Ocidental. 
Extinto o dalmático, o latim levado à Península Balcânica sobrevive num 
número considerável de palavras recebidas por empréstimo pelo albanês, e nos 
dialetos romenos. 
Estes dividem-se em quatro grupos, a saber: 
1º) O daco-romeno (falado no atual território da República Romena, na 
República Soviética da Moldávia e partes do Banal e da Bucóvina, que pertencem 
politicamente à Iugoslávia). 
2º) O macedo-romeno ou aromeno, falado nas regiões da Tessália e do 
Epiro (Grécia), da Musáquia (Albânia), da Macedônia iugoslava e em algumas 
comunidades espalhadas pelo território búlgaro. 
3º) O megleno-romeno ou meglenítico, falado por algumas comunidades 
espalhadas pela Macedônia grega, pela Dobrúgia e pela Ásia Menor. 
4º) O istro-romeno, falado em umas poucas cidades da Ístria. 
Os dialetos dos quatro grupos são bastante diferentes entre si, 
impossibilitando a comunicação entre falantes não cultos; também são bastante 
diferentes entre si pelo número de pessoas que os falam: mais de vinte milhões para 
o daca-romeno e algumas centenas apenas para o istro-romeno. Ainda assim, os 
traços estruturais comuns são suficientes para sugerir que essas quatro classes de 
dialetos derivem de uma mesma variedade de romance balcânico, que os 
romanistas têm indicado pelo nome de proto-romeno (ILARI, 2004). 
A referência ao proto-romeno levanta uma questão delicada, em que se 
confundem aspectos linguísticos e políticos: a de saber em que ponto da Península 
Balcânica se teria formado o protoromeno, e com ele a nação romena, que tem, 
precisamente na preservação de suas origens latinas, um de seus traços distintivos 
mais marcados em face das nações eslavas vizinhas. 
A atual localização dos dialetos romenos e a presença de características 
fônicas e lexicais que lembram o romeno nos empréstimos latinos do albanês 
38 
 
sugerem que o proto-romeno não se formou no atual território da Romênia, e sim no 
território correspondente ao antigo reino da Sérbia, na margem direita do Danúbio. 
Assim, a Dácia teria sido o alvo de uma segunda conquista por parte de populações 
romanas. Esta tese, conhecida como a tese da “re-imigração”, é a que goza de 
maior crédito entre os autores não-romenos; quanto aos autores romenos, adotam 
em geral uma outra posição, segundo a qual o local de formação do romeno seria a 
margem esquerda do Danúbio, onde teriam permanecido durante toda a Idade 
Média núcleos de populações romanas remontando à conquista de Trajano (“tese da 
continuidade”). 
Entre os traços dos dialetos romenos que são comuns aos quatro grupos de 
dialetos (e, portanto podem ser atribuídos ao protoromeno) estão: 
a) Conservação da distinção entre o longo e u breve [ao passo que o proto-
romeno acompanha a România Ocidental na transformação de i breve em e 
fechado] (1, 7 vs. 2, 3, 5, 10). 
b) ct > pt, cs > ps (cp. 3, 11; 5). 
c) Posposição do artigo (16). 
d) Formação do futuro com volo (17). 
e) A palatalização das velares quando seguidas de e e i (7, 8). 
f) A redução de a a ä, pronunciado [ə], em sílaba átona (5, 9, 10, 11, 12...). 
g) A passagem de a a î pronunciado [i] quando seguido de n ou de m (13, 
14). 
h) A passagem a -r- do -l- intervocálico (4). 
i) A labialização completa de qu e gu (> p, b) (12, 15). 
Eis os exemplos: 
(1) lupum > lup, cp. port. lobo; (2) sudore > sudoare cp. port. suor; (3) nocte 
> noapte; (4) quale > care; (5) coxa> coapsä; (6) decem > zece; (7) fugit > fuge; (8) 
gente > ginte; (9) herba > , iarbä; (10) hora> oarä; (11) lactuga > läptukä; (12) Iingua 
> Iimbä; (13) lana > lînä; (14) anima> înîmä; (15) aqua > apä; (16) cîinele negru = o 
cão negro; (l7) Maria va dormi [vá é o verbo querer, não é o verbo ir] (ILARI, 2004). 
39 
 
Dialetos romenos 
 
Fonte: Ilari (2004, p. 197). 
40 
 
UNIDADE 4 – MÉTODOS DA FILOLOGIA ROMÂNICA 
 
Dentre os vários métodos utilizados em Filologia Românica, uns são mais 
adequados e, por isso, mais produtivos, enquanto outros, emprestados de ciências 
afins, trazem apenas alguma contribuição para um conhecimento maior dos 
conteúdos da Romanística. Para uma visão mais completa de determinados 
problemas, frequentemente é preciso aplicar mais de um método e confrontar os 
resultados obtidos. 
 
4.1. Método histórico-comparativo 
Frederico Diez, nascido em Giessen, Alemanha, em 1794 e falecido em 
1876, é considerado o fundador da filologia românica ao publicar a sua Gramatik der 
romanischen Sprachen, Gramática das línguas românicas (1836-1844), onde aplica 
o método histórico-comparativo. A esta obra fundadora seguiram outras, como 
Etymologisches Worterbuch der romanischen Sprachen (1853), Altromanische 
Glossard (1865) e Uber romanische Wortschopfung (1875), obra também 
importantíssima por tratar sobre a formação das palavras nas línguas românicas. 
Dentre as várias contribuições deste ilustre filólogo, deve-se destacar que foi 
ele quem, pela primeira vez, se debruçou a estudar sistematicamente as línguas 
românicas, analisando e comparando a sua evolução, fonética, sistema flexional, 
derivacional, bem como a sintaxe. Demonstrou também que tais línguas surgiram 
mediante evolução do latim vulgar e não do literário ou clássico e que o latim 
clássico e o vulgar não são duas línguas autônomas e independentes que 
desenvolveram-se por si mesmas, sem relação entre si (BARBOSA, 2011). 
Segundo Bassetto (2001), o método aplicado por Diez havia sido usado 
primeiramente por Franz Hopp no estudo das línguas indo-europeias e por Jakob 
Grimm no das línguas germânicas. Os resultados obtidos por Diez, ao aplicar o 
método às línguas românicas, foram os melhores possíveis, diferentemente do que 
ocorrera com os outros autores, porque são bem conhecidos e documentados tanto 
o “terminus a quo”, a base latina, como o “terminus ad quem”, as línguas e os 
dialetos românicos, o que não aconteceu com os outros casos. Por isso, Ferdinand 
de Saussure tinha razão ao dizer que Max Muller, Curtius e Friedrich Schleicher, os 
41 
 
principais mentores da Escola Comparatista, não se perguntaram para onde os 
levaram as comparações estabelecidas ou as relações encontradas, já que lhes 
faltavam conhecimentos suficientes das línguas originárias, ou seja, do “terminus a 
quo”. 
Com as línguas românicas, porém, são ideais as condições para a aplicação 
dos princípios comparatistas, tanto que novos métodos e novas teorias são 
primeiramente testados no mundo românico. 
Depois de Diez, Meyer-Lubke incorporou ao método princípios dos 
neogramáticos e, ao aplicá-lo desse modoà Filologia Românica, deu-lhe uma 
perspectiva histórica mais coerente e adequada. 
O método histórico-comparativo é aplicável a casos de grupos de línguas 
genealogicamente afins. Dados colhidos nas línguas com a mesma origem são 
comparados entre si para se lhes encontrar a forma originária, determinar os 
metaplasmos ocorridos, verificar-lhes o significado, a formação de novos campos 
semânticos, o motivo ou os motivos de tais formações, e inúmeras questões 
semelhantes. 
Ilari (2004) nos lembra que comparar é uma tendência natural e uma 
importante fonte de intuições e de descobertas em todos os campos do 
conhecimento. 
Na análise das línguas, a comparação e o confronto levam às vezes ao 
estabelecimento de tipologias (como a que distinguia, tradicionalmente, entre línguas 
monossilábicas, aglutinantes e flexivas), outras vezes à busca de características 
supostamente inerentes a toda língua humana (como nos levantamentos acerca dos 
“universais da linguagem” realizados pela linguística estrutural americana nas 
décadas de 1950 e 1960). Nesses casos, a comparação nada tem a ver com 
genealogia. 
Em Linguística Românica, porém, o método comparativo assume 
tipicamente propósitos genéticos, de reconstituição. Entende-se, em outras palavras, 
que a semelhança constatada entre expressões pertencentes às diferentes línguas 
românicas prova que elas se originam de uma mesma palavra latina; e que a forma 
que essas palavras assumem nas línguas românicas é indício da forma que deve ter 
tido a expressão originária (ILARI, 2004). 
42 
 
Enfim, as conclusões que se tiram da comparação das línguas românicas 
são tanto mais seguras quanto maior for o número de línguas românicas que 
apontam para elas e quanto mais afastadas no espaço forem essas línguas. O 
Sardo e o Romeno, que se situam hoje nos limites da România, e se desenvolveram 
por assim dizer à parte, sem comunicação com as outras línguas românicas, 
constituem uma espécie de teste da antiguidade e do caráter pan-românico das 
regularidades apontadas pela comparação. 
O campo em que o método comparativo deu os resultados mais sistemáticos 
é o da fonética; em morfologia e em sintaxe, sua aplicação exige a manipulação de 
dados mais complexos, e seus resultados foram menos espetaculares (ILARI, 2004). 
Para ilustrar o funcionamento do método histórico-comparativo, considere as 
palavras do quadro abaixo. Ele comporta cinco colunas, sendo que a primeira é 
formada por palavras do latim clássico e as outras contêm palavras portuguesas, 
espanholas, francesas e italianas. O quadro nos permite dois tipos de comparação: 
entre formas românicas e entre estas e a latim clássico. 
 
Segundo Ilari (2004), esses dois tipos de comparação são os que uma 
pessoa culta faria mais espontaneamente; e foram, historicamente, os que 
ocuparam as atenções dos primeiros romanistas. 
Ele explica que o quadro foi dividido em quatro grandes blocos, conforme as 
palavras latinas compreendem (1) um o breve (e acentuado), (2) um o longo, (3) um 
43 
 
u breve ou (4) um u longo. Dito isto, é possível verificar no quadro acima (que é 
apenas uma pequena amostra das comparações possíveis no terreno das vogais) 
uma série de correspondências, que registramos a seguir, sem a preocupação de 
ser totalmente exatos e exaustivos: 
Bloco 1: onde o latim tinha um o aberto e acentuado, o espanhol tem, 
sempre, o ditongo ue; o francês tem [Ø] [œ] grafados eu e o italiano tem o ditongo 
uo desde que na palavra latina a mesma sílaba fosse aberta, isto é, sem consoante 
depois da vogal; o português tem o. 
Bloco 2: onde o latim tinha um o fechado, as línguas românicas do quadro 
apresentam um o, exceto o francês; esta língua tem eu (pron. [Ø], [œ]) quando a 
sílaba latina era aberta, e tem o ou ou (pron. [u]) quando a sílaba latina era fechada. 
Bloco 4: onde aparecia o u longo latino, todas as línguas do quadro têm u 
(em francês, aparece u na grafia, correspondendo à pronúncia [y]). 
Examinando o bloco 3, que propositalmente foi deixado para o final destes 
comentários, constata-se que valem para ele, exatamente, as mesmas observações 
que foram feitas para o bloco 2. Esta constatação é importantíssima, pois leva à 
conclusão de que na origem das línguas românicas está uma variedade de latim 
com um quadro vocálico no interior do qual o o longo e o u breve do latim clássico se 
confundiam numa única vogal. De certo modo, então, a comparação das línguas 
românicas permite opor ao quadro vocálico bem conhecido do latim clássico um 
outro quadro mais simples, no qual a série posterior se reduz a três vogais distintas 
entre si não pela duração, mas pelo timbre: 
 
À medida que se acumulam observações deste tipo, configura-se uma 
variedade de latim que se pode estudar em confronto com o latim clássico, mas que 
não se confunde com ele: é a essa variedade de latim, cuja existência histórica é 
comprovada pela comparação das línguas românicas, que se chamou de latim 
vulgar ou proto-romance. 
44 
 
Evidentemente, as semelhanças das línguas românicas com o latim vulgar 
são mais diretas: por exemplo, o quadro acima poderia ser reduzido a três blocos, 
sendo as regularidades que ele exemplifica retomadas como segue: 
 
 
4.2. Método idealista 
A partir da percepção de Wilhelm von Humbold (1767-1835), de que a língua 
é o produto do espírito humano, “que se manifesta na língua como na sociedade, 
nas ciências e nas artes”, os idealistas chegaram à conclusão de que ela “não pode 
ser considerada como um produto, mas como uma criação” (VIDOS, 2001). Sendo 
assim, segundo Humbold, a língua não reproduz as coisas tais como são na 
realidade, mas tais como os falantes as idealizam. Essa forma interior da linguagem 
representa a realidade que os circunda, mas só se manifesta externamente através 
da fonética, da morfossintaxe, entre outras (SILVA, 2012). 
Bassetto (2001) explica que por seu caráter filosófico e de linguística geral, o 
método dito idealista de Karl Vossler (1872-19-19) foge um tanto dos parâmetros 
propriamente filológicos. Contudo, por ter Vossler aplicado seus princípios idealistas 
e estéticos às línguas românicas, sobretudo ao francês, convém resumir-lhes os 
pontos principais. 
Segundo Vidos (2001), Karl Vossler (1872-1949) pretendeu demonstrar que 
“as mudanças fonéticas dependem do acento e do ritmo e que estes, por sua vez, 
dependem do estado de espírito de quem fala”. Por isto, conclui que “toda expressão 
linguística é uma criação do espírito” e que “a história das formas de expressão 
linguística só pode ser a história das criações do espírito; noutras palavras, história 
do espírito, história da cultura” (VIDOS, 2001). 
Silva (2012) citando Vidos (2001) conclui que apesar de todas as suas 
deficiências, o método idealista tem o grande mérito de ter fixado a atenção sobre 
45 
 
quanto há de individual e de criativo na vida da linguagem. Cooperou eficazmente 
para fazer vir à luz os fatores artísticos, estéticos e espirituais na língua. Indicando a 
estética como a “rainha absoluta da filologia”, o idealismo fez justiça à estilística, até 
então descuidada, na qual o caráter estético, as possibilidades individuais de 
expressão da língua aparecem mais claramente e, com ela, também a sintaxe. 
Desta maneira, o idealismo reagiu saudavelmente contra o excesso de fonética por 
parte do método histórico-comparativo, contra o “positivismo fonetizante”, que muito 
positivistamente queria considerar a analogia na fonética como um fator de 
perturbação e não como uma força diretriz de origem espiritual. 
 
4.3. Método da Geografia linguística 
Enquanto o método histórico-comparativo parte de fatos devidamentecomprovados em textos ou observados nas línguas estudadas, a geografia 
linguística se ocupa com a situação em que uma língua se encontra num 
determinado momento, em localidades ou em regiões previamente escolhidas. Não 
se utiliza de documentos escritos como objeto de sua pesquisa, mas investiga, 
sobretudo a linguagem falada (BASSETTO, 2001). 
Sobre a geografia linguística, Iordan (1982, p. 199) diz o seguinte: 
 
Quando os linguistas se lembraram de apresentar os dados da investigação 
sob a forma de atlas, deu-se um passo em frente; estes se denominaram 
atlas linguísticos, dado que tinham objetivos diversos dos atlas geográficos. 
Esta ideia surgiu quase espontaneamente, quando os especialistas 
sentiram a súbita necessidade de estudar vários dialetos. Para compará-los, 
sem dificuldade, era imprescindível poder abarcar com uma vista de olhos 
qualquer particularidade fonética ou morfológica em todos os dialetos duma 
dada área. O meio que permitiu a realização deste objetivo foi a anotação, 
numa carta do território estudado, dos fenômenos em questão. Em vez de 
ser preciso compulsar algumas dúzias de glossários – e partindo do 
princípio que os temos à nossa disposição –, para observar como se 
transformou esta ou aquela forma fonética ou gramatical em dez dialetos a 
estudar, basta examinar a carta respectiva. 
 
A ideia do método geográfico encontra-se embrionariamente nos Saggi 
Ladini (“Ensaios Ladinos”) de Graziadio Isaia Ascolí, publicados em 1873, e nos 
quais estudou os dialetos da antiga Récia sob o ponto de vista histórico-geográfico. 
46 
 
Em fins do século passado, o linguista alemão Georg Wenker (1852-1911) 
pretendeu fixar em mapas o domínio dos dialetos alemães. Para isso, elaborou um 
questionário apenas fonético e o enviou a professores, párocos católicos e pastores 
protestantes de toda a Alemanha. Os primeiros mapas de Wenker são de 1889, mas 
só em 1926 se publicou o primeiro fascículo, sob o título Deutscher Sprachatlas 
(“Atlas Linguístico Alemão”) e coordenação de Ferdinand Wrede (1863-1934). Essa 
obra só foi concluída cm 1956 por W. Mitzka, em 128 mapas. Os resultados foram 
opostos aos esperados por Wenker: de fato não é possível delimitar claramente os 
dialetos, pois verificou-se a existência de grande influência mútua, de mutações 
constantes e muita permutas, tanto que nem foi possível traçar isoglossas 
(BASSETTO, 2001). 
Ainda para Bassetto, a contribuição do método da geografia linguística para 
a romanística foi, sem dúvida, valiosa, apesar de seu caráter unilateral: recolhe 
apenas dados linguísticos instantâneos; de modo geral, não registra aspectos e 
vocábulos satíricos, familiares e afetivos, dado seu caráter sintético. Por exemplo, o 
Atlas Linguístico francês (ALF) registra apenas 30 expressões para “avarento” e uma 
única para “rico”, quando se sabe que existem na Galo-românia cerca de 200 
expressões para “avarento” e 80 para “rico”: da mesma forma, o Atlas Linguístico e 
de Coisas da Itália e Sul da Suíça, conhecido pela sigla AIS dá apenas de 2 a 6 
termos para “cabeça”, e apenas um em 400 pontos, ora, isso certamente não 
correspondente à realidade linguística, já que “cabeça” é o ponto de partida para 
numerosas formas de caráter afetivo, jocoso, pejorativo e familiar. 
Contudo, tem o mérito de dar uma visão geral da situação atual da língua, 
causando uma revolução benéfica nos estudos da linguagem; com a geografia 
linguística, realizou-se o ideal neogramático de estudar a língua viva. Mostra como 
as palavras se chocam entre si, migram, arcaizam-se, renascem ou desaparecem, 
tornando claro que, em última análise, o fator determinante de todo esse processo é 
o aspecto semântico, cuja busca fez nascer outros métodos de pesquisa. 
Igualmente pensa Silva (2012), ao inferir que do início do século XX até hoje, 
a geografia linguística evoluiu muito, principalmente porque os equipamentos para 
coleta de dados sofreram enorme progresso, de modo que atualmente é possível 
transcrever o som e a imagem com precisão quase absoluta e disponibilizá-los em 
47 
 
arquivos virtuais para consulta direta e imediata pelo usuário, que pode ver e ouvir a 
manifestação dialetal dos informantes, onde estiver e a qualquer momento. 
No Brasil, o Projeto Atlas Linguístico do Brasil vem coordenando uma grande 
quantidade de pesquisas regionais para se produzir um Atlas linguístico resultante 
da fusão de numerosos atlas estaduais ou regionais, dos quais se publicou 
recentemente, o Atlas Linguístico do Estado do Ceará, em dois volumes, depois de 
vários outros já publicados anteriormente. 
Além dos diversos projetos regionais brasileiros que integram o Atlas 
Linguístico do Brasil, há pelo menos um projeto plurilinguístico que envolve o 
português do Brasil, o espanhol e o guarani (THUN et al., 2009 apud SILVA, 2012), 
do qual já foi publicado, na Alemanha, um volume de grande interesse para nós, 
como parte do projeto “Dialectologia pluridimensionalis Romanica”. 
A título de exemplo, vejamos nos dois mapas abaixo, as denominações da 
abelha no território francês e os nomes da galinha nos dialetos portugueses. 
48 
 
Distribuição das denominações da abelha no território francês 
 
49 
 
Os nomes da galinha nos dialetos portugueses 
 
 
50 
 
4.4. Método de palavras e coisas 
Sem abandonar o aspecto fonético da língua, a geografia linguística 
aprofundou as pesquisas no âmbito da semântica. Descreveu-se, então, a natureza, 
as medidas, as formas, os usos, entre outros, das coisas, considerando-se que isto 
facilitaria a fixação da origem e da história das palavras com as quais elas estão 
relacionadas. 
Cientes de que as coisas precedem as suas denominações, os filólogos que 
primeiramente aplicaram o método consideravam que há sempre uma relação muito 
estreita entre as coisas e suas denominações. Assim, pelo conhecimento profundo 
da “coisa”, chega-se ao étimo da palavra que a designa. 
Tornando mais objetivos os estudos filológicos e valorizando devidamente a 
semântica, o método de “Palavras e Coisas” ampliou as possibilidades do método 
histórico-comparativo, “buscando o que há de vivo e não sujeito às cegas leis na 
linguagem; buscando estabelecer a etimologia e até a biografia das palavras” 
(BASSETTO, 2001, p. 76). 
 
4.5. Método onomasiológico 
Investigando os aspectos vivos e as forças criadoras da linguagem, a 
onomasiologia estuda as denominações das “coisas” e identifica, na língua do povo, 
a cultura, os costumes, as ocupações, o instrumental, as crenças e crendices, a 
moradia, toda a relação do homem com o ambiente em que vive. Possibilita, 
inclusive, “caracterizar as atividades de uma região e situá-la no tempo”, como se 
pode perceber, comparando o vocabulário relativo a transporte de uma região 
servida de rios navegáveis como o Pará ou o Amazonas, com o correspondente 
vocabulário de região desprovida de tais rios, como é boa parte dos estados do 
Nordeste (SILVA, 2012). 
A onomasiologia, seguindo o caminho inverso da etimologia, é muito 
eficiente no estudo da história e da biografia das palavras, visto que a etimologia, 
segundo Bassetto (2001), [...] toma o significante para chegar aos significados, 
enquanto aquela procura dar a história da palavra, desde a época mais antiga até 
chegar aos nossos dias, explicando, ou pelo menos tentando explicar, as diversas 
51 
 
influências sofridas, os cruzamentos semânticos, sua vitalidade, frequência de uso, 
entre outras. 
Como diz Ilari (2004), a onomasiologia é uma orientação afim ao estudo das 
palavras e coisas, que consiste no levantamento de todas as expressões que 
designam um mesmo objeto ou conceito. Esse estudo leva naturalmente

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