Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ILICITUDE – UNIDADE 7 É a conduta humana que contraria o interesse social protegido pela norma penal. Teorias de sustentação da ilicitude 1-Teoria objetiva: sustenta que o fato típico é antijurídico independente do agente ser dotado de capacidade para entender e avaliar o caráter criminoso da sua conduta. Nesta, os loucos, os menores, os silvícolas aculturados cometem crime, embora esteja ausente a culpabilidade (dolo ou culpa). Assim, os inimputáveis praticam condutas ilícitas, isto é, contrários ao direito, ao ordenamento jurídico. O nosso código penal adota a teoria objetiva. Exemplo:Um deficiente mental que mata outra pessoa, pratica conduta ilícita (contrária ao ordenamento jurídico), embora não possa se impor a ele uma pena. Todo fato penalmente ilícito é necessariamente, típico. 2-Teoria subjetiva: esta teoria afirma que a proibição contida na lei penal somente se dirige aos imputáveis, pois só eles têm capacidade para entender as proibições da lei penal. Confunde ilicitude (fato contrário à lei) com culpabilidade (é um juízo de reprovabilidade para a imposição de pena). CAUSAS EXCLUDENTES DA ILICITUDE – ART. 23 CP O fato típico é, em princípio, também ilícito. Porém, quando o legislador retira essa ilicitude, temos então, as causas de exclusão da ilicitude. As causas exclusão ou causas justificantes podem ser legais, quando previstas em lei ou supralegais, quando não previstas em lei, mas que se admite de forma analógica. As excludentes de ilicitude são: 1- Legítima defesa; 2- estado de necessidade; 3- estrito cumprimento do dever legal e 4- exercício regular de direito. LEGÍTIMA DEFESA Consiste em repelir injusto ataque ou agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou de terceiro, usando moderadamente dos meios necessários. Para caracterizar a legítima defesa são necessários que o fato apresente os seguintes requisitos: 1- agressão injusta: não se exige que a agressão seja necessariamente um crime, podendo ser a proteção da posse (art. 1.210 do CC), ou dano culposo, ou furto de uso, etc. Admite-se a repulsa da agressão por parte de inimputáveis, pois ela independe da capacidade do agente agressor. Se a provocação for uma mera brincadeira de mau gosto ou um desafio tolerado no meio social, não autoriza a legítima defesa. 2- agressão atual ou iminente: atual é a que está em curso no momento da reação defensiva, e esta deve ser imediatamente ou durante a agressão. Nos crimes permanentes é possível a agressão defensiva a qualquer tempo, pois a conduta se protrai no tempo. Agressão iminente é a que está para acontecer a qualquer instante, e admite-se a repulsa desde já, pois o agente não está obrigado a esperar a aconteça a agressão para reagir. Não se admite a reação a agressão passada ou futura. 3- defender direito próprio ou de terceiro: poderá ocorrer que o agente defenda direito dele mesmo ou de terceira pessoa. Pode ocorrer que na legítima defesa de terceiro, a conduta poderá dirigir-se contra o próprio terceiro defendido, e neste, o agredido é ao mesmo tempo, também o defendido. Exemplo: Para evitar que Ébolos se suicide, Manoel o agride. 4- usar dos meios necessários para repelir: são aqueles menos lesivos que estão a disposição do agente no momento da reação. Há que se aquilatar também a proporcionalidade entre a agressão e a repulsa. Exemplos: 1-Um ladrão, tenta furtar o relógio de um paraplégico, que está em sua cadeira de rodas. Não tendo outro meio para defender-se, ele atira e fere o ladrão, recuperando o seu relógio. 2-Um homem com porte físico alto e musculoso, espanca outro com porte de pequena estatura e raquítico. Diante da agressão e da desproporção de físico, o homem raquítico faz usa de sua arma de fogo, ferindo gravemente o agressor. 5- usar os meios de forma de moderada: o uso moderado dos meios de que dispõe o agente é de suma importância para caracterizar a legítima defesa. Afastada a moderação, deve-se pesquisar se houve excesso na legítima defesa. O EXCESSO NA LEGÍTIMA DEFESA É a reação desnecessária de uma ação inicialmente justificada, deixando de existir a excludente, e neste caso, o agente passa a responder pelas lesões causadas. O excesso na legítima defesa pode ser doloso ou culposo. O excesso doloso ocorre quando o agente, ao se defender da injusta agressão, usa meios desnecessários para defender-se, ou age de forma imoderada na defesa, tendo plena consciência do ato. Exemplo: Balalayka, após ser agredido com um soco por Madson, reage inicialmente, com um tiro na perna de Madson, que o imobiliza. Insatisfeito, prossegue e dispara mais dois outros tiros, causando grave lesão na mão do agressor. Neste caso, o agente agredido, que inicialmente estava em legítima defesa, perde a razão e responderá pelo excesso, isto é, responderá por lesões corporais de natureza grave. No excesso culposo, o agente agredido, por temor, emoção ou nervosismo provocado pela agressão injusta, parte para atacar o agressor, mesmo já o tendo dominado, porém, não tinha a intenção de provocar a lesão ou a morte. Porém, houve uma falsa interpretação da realidade naquele momento de tensão. COMPARATIVO ENTRE LEGÍTIMA DEFESA E ESTADO DE NECESSIDADE a) no estado de necessidade o bem jurídico é exposto a perigo; já na legitima defesa o bem jurídico sofre uma agressão. b) no estado de necessidade há conflito entre os bens jurídicos; já na legítima defesa há ataque ou ameaça de lesão a um bem jurídico. c) no estado de necessidade o perigo poderá vir de conduta humana, força da natureza ou ataque de irracionais; já na legítima defesa a agressão tem que partir de pessoa. d) No EN o agente necessitado poderá dirigir sua conduta contra terceiro alheio ao fato; já na LD o agente agredido deve dirigir sua reação contra o agressor; e) No EN a agressão não necessita ser injusta; já LD somente se caracteriza se houver injusta agressão. LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA É aquele em que o agente, por erro, acredita que está sendo atacado de forma injusta, atual ou iminente, a direito seu ou de terceiro. Exemplo: Antônio foi jurado de morte por Pedro. Em certa noite, ao se encontrarem na rua, Pedro coloca no bolso da calça para tirar a cigarros. Antônio, acreditando que ele ia pegar uma arma para mata-lo, saca a sua e atira contra Pedro. Durante o tramitar das investigações policiais, descobre-se que Pedro estava desarmado e que naquele momento ia apenas pegar a carteira de cigarros. Então, Antônio estava em legítima defesa putativa, pois imaginava, pelo quadro circunstancial, que Pedro iria matá-lo. Não será condenado. LEGÍTIMA DEFESA E ABERRATIO ICTUS 1- um agente para se defender de uma injusta agressão, atira e erro o alvo, atingindo outra pessoa, matando-a. Trata-se de legítima defesa com aberratio ictus, e agente não será condenado pois agiu para se defender. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL – ART. 23, III É a realização de um fato típico no desempenho de uma obrigação imposta por lei, que afasta a ilicitude do agente. Exige-se que o agente se comporte dentro do que determina a lei, fora da qual não se pode falar em excludente de ilicitude. Dever legal significa toda e qualquer obrigação direta ou indiretamente decorrente de lei. Pode ainda este dever constar de decreto, regulamento ou qualquer outro atoadministrativo ou sentença judicial. A excludente de ilicitude alcança servidores públicos ou agentes políticos, bem como o particular que exerce função pública, como mesários da Justiça Eleitoral, jurados, peritos designados pela Justiça EXEMPLOS DE ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL 1- policial que prende cidadão em flagrante delito ou por ordem judicial. 2- o carrasco que aplica a injeção letal ou liga a chave da cadeira elétrica no caso de condenados a pena de morte. 3- Oficial de justiça, que cumpre ordem judicial de penhora de bens. 4- policial que cumpre ordem judicial de despejo de imóvel. 5- cidadão que prende outro em flagrante delito. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO – ART. 23, III Consiste no exercício de uma prerrogativa constante de lei e que é caracterizada como fato típico. Fundamenta-se na permissão do Estado e no consentimento válido do agente. O exercício regular de direito abrange todas as formas de direito subjetivo, penal ou extrapenal. Assim, o direito do pai que corrige o filho, deriva do artigo 1.634, I do Código Civil. As práticas esportivas, as multas, fechamento de estabelecimentos comerciais e outras punições aplicadas pelos órgãos de fiscalização sanitária são exemplos de exercício regular de direito. EXEMPLOS DE EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO 1- médico que procede a uma cirurgia; enfermeira que aplica uma injeção. 2- lutador de boxe que lesiona outro em um lance do esporte; jogador de futebol que machuca outro numa determinada jogada. 3- aquele que tem a sua propriedade invadida possui o direito de expulsar os invasores; 4- a gestante tem o direito de fazer aborto se a gravidez resultou de estupro; 5- o advogado tem o direito profissional de criticar o trabalho do delegado de polícia, do juiz de direito e do promotor de justiça, mas sem excessos; 6- qualquer pessoa tem o direito de colocar ofendículos em seu imóvel, desde dentro das normas legais; OFENDÍCULOS São obstáculos ou meios empregados para impedir ofensa a bens jurídicos. Exemplos: Cachorros, cacos de vidro no muro, maçanetas eletrificadas, cercas elétricas, pontas de ferro nos portões, arame farpado, alarme eletrônico, defesa mecânica predisposta (arma que dispara quando se abra porta ou janela). Alguns doutrinadores não consideram a defesa mecânica predisposta como ofendículo, já ela fica geralmente oculta, como se fosse uma armadilha e sem qualquer aviso de perigo. Já câmera de vídeo não é ofendículo porque não visa impedir eventual ofensa a bem jurídico, mas apenas comprovar essa ofensa. A eletrificação de cerca de uma residência constitui exercício regular de direito, e portanto, cria um risco autorizado e permitido para terceira pessoa. E quem cria riscos permitidos não pratica crime, e assim, não há desaprovação da conduta. Se uma cerca elétrica é colocada dentro do que determina a lei, e portanto, não cria risco proibido, e uma criança a procura de sua bola vem a falecer, o proprietário por nada responderá, pois está no seu exercício regular de direito, defendendo a sua propriedade, de acordo com o artigo 1.210, parágrafo primeiro do CC.
Compartilhar