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i I, ; ;::'1 :11'I <, 'I I ,I; t,~ I i' i I (:~~ "'(J1~"~ , , ~[: j UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nelt ora Nilcéu Freirc Yice-reitor Celso Pereira de S:i ~ ~e(l~ uel" EDITORA DA UNIVERSiDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Conselho Editorial j Afonso Carlos Marques dos Santos Elon Lugcs Lima 1\'0 Burbicri (Presidente) José Augusto Messias Leandro Konder Luiz Bcrnurdo Leite Araújo P2sla nQ_ Cópias 3í? ProL: /..u.,1~Z'V,'11aLt-ç Disc.: CMl+-u.;fO ecl(hf~ Data:.JbJ../.Ll.QiViSIO: 5Juj(€k • q ,....- Yfufos --da-- CZJeDélSSél Prisão dos Letrados do Rio de Janeiro '179'1, ":~,~.~.. 2ôl edição ....,~ €3ed..w uel') Rio de Janeiro 2002 ".";.... ':;,N ~~Ií!líno do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo, de mil, setecentos, no- ~,l venta e quatro anos, aos onze dias do mês de dezembro, nesta cida- de de São Sebastião do Rio de Janeiro e casas de morada do Desembargador Antônio Diniz da Cruz c Silva, Chancclcr da relação da mesma cidade, [1011- de eu, João Manoel Guerreiro de Arnorirn Pereira, fui vindo. Logo aí, pelo di to Dcscmbargador-Chanceler, me foi dito que ele, em virtude de dois ofí- cios que adiante se ajuntam, do Ilustríssimo e Excclcntísslrno Conde de Rcscnde, Vice-Rei e Capitão-General ele Mar e Terra deste Estado do Brasil, devia proceder à devassa, para averiguar e examinar quais eram os indiví- duos que nesta cidade tratavam e mantinham conversações e práticas em que, envolvendo discursos os mais escandelosos e sacrílegos contra a nossa nugusta religião, se dirigiam a persuadir e a justificar a rebelião da noção francesa e a deprimir c destruir a autoridade e poder dos reis, emanado dos princípios mais depurados da mesma religião. E outrossim, pélra indagar se os sobreditos indivíduos se limitavam e continham só nos referidos sacríle- gos e revoltuoscs discursos, ou se, passando adiante, haviam formado algu- ma idéia ali plano elesedição. E pnra o dito fim me ordenou que, como escri- vão nomeado para escrever na dita devassa, pelo primeiro dos sobreditos dois ofícios, formasse este auto e que a ele ajuntasse os mesmos ofícios e mais papéis que com eles se achavam incorporados e haviam [de] servir de corpo de delito para, por ele proceder à dita devassa e inquirição de teste- munhas, cujo auto eu logo formei e o dito Desembargador-Chanceler assi- nou comigo, João Manoel Guerreiro de Amorim Pereira, escrivão nomeado para escrever nesta devassa, que o escrevi e também assinei. Silm fotia AJl/JlOe/ Guerreiro de Aurorim Pereira ~I~- ~~J~os onze dias do.mês de de7.~mbro do.~no de n:i1, setecen.t05, noventa e ~l quatro, nesta Cidade de São Sebastião do RIO de Janeiro e casas de residência do Desernbargador Antônio Diniz da Cruz e Silva, Chanceler da relação da dita cidade, ajuntei ao auto retro 05 dois ofícios e mais papéis a que o mesmo auto se refere, os quais me foram apresentados pelo referido Desornbnrgador-Chanceler, e são os que ao diante se seguem, de que faço este termo. Eu, João Manoel Guerreiro de Amorim Pereira, escrivão nornea- <I 70 r.. do par ••escrever ncstn devassa, lluC o escrevi e assinei, por mandado do mesmo Desernbargador, que também o assinou. Si/w lotio Mauoe! Guerretro de Amorun Percim 'Ww }~@.;.:,avendo chegado a minha notícia que muitas pessoas desta cidade, es-~~I-i~~1:. quccidas de si e da honra do nome português, que até o presente con- sistia principalmente no amor e fidelidade aos nossos clementíssimos sobe- ranos, se arrojam, não só em casas particulares, mas ainda nos lugares pú- blicos dela, com a ocasião das atuais alterações da Europa, a altercar ques- tões sobre o governo público dos estados, e em que algumas das referidas pessoas têm escandalosamente proferido: que os reis não são necessários; que os homens são livres e podem, em todo o tempo, reclamar a sua liberda- de; que as leis por que hoje se governa a nação francesa são justas e que o mesmo que aquela nação praticou se devia praticar neste continente; que os franceses deviam vir conquistar esta cidade; que a Sagrada Escritura, assim como dá poder aos reis para castigar os vassalos, o dá aos vassalos pam castigar os reis; cujas proposições, e outras de semelhante natureza, em que até envolvem a religião, além de mostrarem a pouca fidelidade de qllem as profere, como próprias de enganar e seduzir o povo rústico e ignorante, e de aparrá-lo do amor e fidelidade que deve aos seus legítimos e naturais sobe- ranos, ainda sendo proferidas sem o danado fim que elas parecem inculcar, em todo o tempo, e muito mais nos presentes, podem produzir conseqüên- cias muiro perigosas e que convém atalhar. Me pareceu ordenar a V. S., como por esta ordeno, que proceda logo a urna exata informação ou devassa, a quem servirá de corpo de delito, perguntando nela, sem determinado nú- mero, todas as testemunhas que lhe parecer, sobretudo °referido e o mais llllC a da for relativo, dando-me a miúdo conta do que dela resultar, pnrn eu dar as providências que julgar mais conformes ao serviço de Sua Majestade, illlllCI11 dou p.irtc desta minha resolução, c P,1/"01 escrivão dôl mesma infor- mação uu devassa nomeio ao Desembargador Juiz do Cível, João Mnnoel Guerreiro de Amorim Pereira, fiando de V. S.que em uma matéria de tanto peso e delicadeza, se portará com cuidado e zelo que deve[mJ as obrigações em que constituem o lugar que ocupa. Deus guarde a V. S. Rio, 11 de junho de 1794. COlide de Rest!lldt! Sr. Deselll/lm;'{odor-ClIfIJlceler A ntânio Dini: da Cnrz r S/7m -;471 ~, ~iW ~ endo por algumas justas e particulares considerações, especialmente '. - ..,, . . . . . . ~ por /11L'persuad Ir que as PI"{WIc!C'IlCI<lS, que' a este respeito tinha dado unteccdentemcntc, Iarlum cessar a escnndulosu liberdildc com que .llglll1'; indivíduos, envolvendo em seus discursos materiais d••religião, falavam nos negócios públicos da Europa, louvando e aprovando o sistema da rebelião da nação francesa e dando por este modo a conhecer o veneno de que seus ânimos se achavam contaminados, mandando suspender a devassa, o que o meu ofício de 11 de junho deste ano ordenava, que V. S. procedesse; sucede que, contra o que eu tinha razão de esperar, chegaram à minha presença os novos avisos que, com esta, remeto a V. S. pam que logo proceda à mesma devassa, para se evitar lima faísca, que ocultamente lavrando, poderá re- bentar em um grande incêndio; servindo de corpo de delito os papéis Llue remeto, e os mais avisos que, por efeito da minha diligência, chegaram à minha mão, e existem em poder de V. 5.; perguntando na mesma devassa, não só pelos fatos enunciados nos mesmos papéis. mas se além dos ditos escandalosos discursos, haviam os mesmos indivíduos formado ou insinua- do algum plano de sedição. Deus guarde a V. S. Rio, 8 de dezembro de 1794. COlide dL'Resende SI'. DeselllbtlrglTdor-CJlflllcf!la Antônio Dini: da Cruz eSilva SilLlfl "eiiS' ~ ~ ~ !~~ela ordem, que me deu o Exmo. Sr. Vice-Rei panl lhe expor o mais que : .....> me fosse lembrando respeito aos conventículos e mais idéias dos réus presos Manoel Inãcío da Silva Alvarenga, o médico Jacinto; Mariano de tal; e João Marques, professor de Grego; lembrou-me que, na noite em que lhes ouvi o que já expus, falando Manoel Inácio sobre a liberdade, despoís de haverem lido alguns discursos na língua francesa contra fi Soberania dos Monarcas, disseram que o nosso reino estava entregue a frades, que o prín- cipe nosso senhor até tinha feito uma cnrta ao Arcebispo de Brnga, ordcnan- do-lhe que desse conta de sua conduta a um frade, seu confessor,cujo IlLlI11I' ignoro, e que mandara vir água do rio [ordão para a princesa nossa senhoril conceber, censurando eles estes procedimentos como nascidos do fanatis- mo; e respondendo-lhe eu que, quanto à liberdade que se SUpC1L!nas respet;- Uvas, não era para os costumes de nossa nação, que semprefoi costumada a ·'.721'- [,L",dl'n'!" ;1 Ulll !a'>~[)Lll'r'II11·), l~qll~' l'::tl':: ::l'1l1pr.: 1'''1·,1111pais da p.ílriil, l' l>S povos como seus filhos que a isto respondeu Manoel Inácio: "Vossa Mercê diz iSS00 por máxima: faz bem em o dizer assim, que é prudência": rcpli- cnudo-Iheeu quc LIdizia por 5':1' iI própria verdade, começaram todos a CLlIH- ba ter-me e a sustentar a liberdade; e leram então uns artigos dos direitos Oll leis novamente estabelecidos na França. Lembra-me mais que ouvia a Gregório José Bítencourt dizer que pre- senciou uma noite no Cais de Palácio, governando ainda o Sr. Vasconcelos, dizer a João Marques, professor de Grego, alguns discursos em louvor da liberdade presente também Bento Sanchcs: c que este o fizera calar, conven- cendo-o com argumentos. Ouvi ao mesmo Gregório José, que a alguns deles ouvira dizer que os 1'l~L1Sda conjuração de Minas, porque ficaram mal, fo- ram tratados por rebeldes; mas Cjuese ficassem bem seriam uns heróis. Ouvi a Domingos Gomes Rodrigues dizer que, achando-se na porta da igreja do hospício, presenciou estar o médico Jacinto junto com o Dr. José de França dizendo publicamente algumas coisas contra as verdades da nossa santa religião, entre as quaís era estarem sustentando que não havia milagres, nem os santos tinham poder para os fazer. No dia imediato às prisões dos referi- dos réus, ouvi a muita gente, que entrou em minha casa por causa de suas demandas, fazerem discursos contra os mesmos, reconhecendo todos a li- berdade e escândalo com que falavam no seu ajuntamento dando graças a Deus e ao Exmo. Sr. Vice-Rci, dizendo uns que eles iludiriam fi muitos e seriam causa de 05 fazer padecer; outros, que, vindo alguma armada francesa con- tra nós, seriam capazes de entregar-nos; e outros discursos simples sem ain- da saberem por forma alguma a causa certa da sua prisão; e dizendo que estes mesmos discursos contra aqueles homens se ouvia pela cidade. Destes lembra-me o alferes Manoel Antônio Salgado, o Cônego [oaqulm José de Sá Freire; o dito Domingos Gomes Rodrigues que é um ferreiro que tem casas pegadas com o ferrador Chaves; o mesmo Gregório José Bitencourt: e ou- tros, cujos nomes me não lembram. Lembra-me que também freqüentavam a mencionada palestra um Estolano de tal e um Manoel Ferreira, mestre de meninos. Suposto que os não vi na noite em que se leram as gazetas e discur- sos franceses e o maisque tenho referido, ia do mesmo modo o médico Vicentc Cornos. ClllL'também o não vi na dita noite. É o que me lembra por ora: c I1W nüo lembrou ,1primeira V('Zpor causa das públicas Illoléslin~ quI.' p,,(lL~\otil' a[L'L"çÜL'~ncrvosus hipocond ríacas c grandes perturbações di! memória. Rio de janeiro, 7 de dezembro de 179,1. O Ri/Í-'rIi/a furo //u.,·Si/ll/os Ei'ill~\·t·I//(I.,.. jO$,; /k/'llJlrdo d/I 5I1i·'I.·/;-'1 filli/,' -:/73/:- ~i·~ 0~ ue indo eu a casa de Manoel Inãcio da Silva Alvarenga e juntando-se ~ n médico jacinto, e João Marques mestre do Grego, c o Dr. Mariano: ouvi fazerem discursos contra a pessoa e governo do Exrno. Sr. Vire-Rei e, com liberdade. e dizendo-lhe eu que se abstivessem, se enfureceram e o tra- taram, dizendo que não governava bem, que ficava com os dinheiros das ohrns l'iOlS, que tinha interesse nas fazl'nd;1S, quando ;15 não havia. Leram-se ns obras poéticas feitas contra vários religiosos de Santo Antônio, 1',11<1["<1111 contra os Prelados Eclesiásticos, leram gazetas vindas de França e outros discursos sobre a liberdade, louvando muito os franceses e a mesma liberda- de e as repúblicas. Dlssernm mais: que a Sagrada Escritura mente quando diz, ou pur dizer, que Moisés derreteu o novilho de uiro e II dcu .io pllVll ".11'.1 beber, ao que lhe respondi que ele o não derreteu, mas sim, que o reduziu a pó. E outras idéias gerais, tanto a respeito da religião, como dos magístra- dos; e sempre ofensivos, por cuja causa me retirei: que Deus fez aos homens a sua imagem e semelhança e que os homens lhe pilgilram tão bem que tarn- bém o fizeram à imagem deles. Neste tempo, em minha casa, vindo a ela João Marques e um clérigo que o não conheço, começou a soltar discursos a favor da França e outros mais contra Religiosos e Ministros, que me foi pcrcíso atalhar a conversa e levantar-me; e vindo de noite dois homens ao meu corredor a falar-me, persuadi-me serem justas que viriam indagar as conversações do di to João Marques: por esta causa chamei a dois religiosos, por me achar doente, comunícando-lhes que queria dar parte ao Sr. Vice- Hei, O que juro. Rio de [aueiro, janeiro de 1794. losé Bernardo do SlIvelÍ71 Frade <:m~ ~ corre-me mais, tocado ou perguntado pelo Exrno. Sr., que a maior parte destes homens se ajuntaram também em casa do Dr. José de França e sua botica da rua Direita onde se acha um moço chamado José, meio calvo, e um José Jacinto, escrevente do Cível, e Antônio Joaquim, pardo, escreven- te do Dr. Silvestre de Carvalho, e promovem e tratam semelhantes conver- sações, murmurando escandalosamente dos maiores superiores, com relu- ção ao mais que fica dito era ni supra. José Bentnrdo da SilvelÍ17 Frade .:1 7'1 I!. ~ii\S' ~5!l'o d~a S do corrente ~ês de de~embro ouvi ao alferes reformado ~o ~\,; regimento velho, jacinto Martins Parnplona Corte Real, que no dia imediato às prisões de Manoel Iruicio da Silva Alvarenga, médico Jacinto e os ou tros, lhe dissera um boticário que mora para o campo que ouvira dizer publicamente qlle os ditos presos diziam quc era bem feito que viesse aqui urna nrrnacla Irnnrcsn e destruísse ,1 cidade j;Í que eram tolos, pois que o plano dos Irnnccses cru o melhor quc se podia crer e que l1il1buélll tinh;l11brigõ1ç'-iu de obedecer a um só homem. O referido juro aos Santos Evangelhos. Rio, 9 de dezembro de 1794. jllS,: ',"Tlliln!tJ da S/I,'" Fr,,'/,' ~..~ ;:;~ eclaro que, segundo minha lembrança, o dito boticário chama-se Luís ~~~ José; e este mesmo alferes é dos que disseram que o povo estava con- tente, dando louvores a Deus e ao Exrno. Sr. Vice-Rei por semelhante provi- dência antes que infeccionassem a outros era ut supm. 1051 Bernardo da Silm Frade ~i~ C'~~~Ú(o dia 11do corrente mês de dezembro, ouvi a Gregório José Bitencourt ~:;;. dizer que lhe dissera pessoa certa, que não quis nomear, que aqueles homens ou alguns deles disseram que, passados anos, não havia de haver mais testas coroadas, porqlle os povos já tinham aberto os olhos e conhe- ciarn os seus direitos. Disse-me também o alferes reformado Jacinto Marfins Parnplona que, estando em minha casa e achando-se também o mestre de Grego, João Mar- qlles, este, com soltura de língua, falara contra os nossos monarcas defun- tos, o que, suposto fosse eu presente, não tenho licença das suas palavras, por me achar molesto, e sei gue o escrevente do Dr. Silvestre de Carvalho pardo. por nome Antônio Joaquim, assistia sempre as conversações que Ia- ziarn na botica: e em casa do Dr, França, sendo admitido por saber bem Iran- cês: e da botica °presenciava sempre o ministro da igreja José Teixeira e o moço da mesma botica, por nome José. Ouvi dizer ao Cônego Joaquim José de Sá Freire que João Marques combatia e refutava; até as confessou, dizendo ser a mesma que um homem .:< 75 >:. fosse dizer os seus pecados a outro homem; e eu dele mesmo ouvi alguns discursos ímpios e opostos às verdades da nossa religião, o que juro, Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 1794. Si/pu los! Bel1lfll'do da SIIW/i-tl Fmtfe "?hR-- Q~~;1!r.~'anocl Pereira Landirn vindo uma noute recolhendo-se, ouviu nas ~~Lescildas da igreja do hospício uma conversa e, parando a ouvi-Ia, era;! r(,sl1l'i 10 d,~ rralln.·sPs, ;!und,' SI' achnrnrn vá ri(lsslIj"i!ns: um ('1-;' nh;d i- co Jacinto, e outro lhe pereccu ser o mestre das retóricas Manuel ln.icio, L' outro lhe pareceu ser João Pcdro, cujos diziam que o reino de Portugal linha mandado seis mil homens, que eram uma ninhada de pintos queiam mor- rer todos na mão dos franceses, que, ainda que fosse todo o reino, eram pou- cos pM<1 os ditos franceses: e o dito médico Jncinto disse que desejava c-stur l.i ilgOl'i1 par,\ t.unbém ser gl!lll'ral C('1l10 l'ra n outro módiro qtll'l,í "~;I,I\'a IlI) dito lugar e me parece que a dita testemunha ouvira ao dito médico que conhecia o dito de França. E o dito Landim estando na sua lógía de marceneiro junto com um seu oficial chamado Inácío do Amaral e, entrando na dita um sujeito cha- rnado José de Oliveira, que é ourives, lhe ouviram dizer que na praia de D, Manoel por detrás da caldeira, se falava a respeito dos franceses com paixão pela dita França que são: João da Silva Antunes, marceneiro, e um Francisco Coelho Estolano, e outro morador na rua do Ouvidor, cujo nome ainda se ignora, A dita conversa que os três diziam em que a lei dos franceses era justa e santa e que a liberdade, Deus a tinha dado aos homens e que o dito Oliveira disse que já esteve guase resoluto a acusá-Ias por ver o modo com gue falavam tão largo, e entrando na dita lógia nesse tempo um pardo cha- mado Gregório do Arnaral, se não admirou da dita conversa pelo ter já ouvi- do a um alfaiate aonde vão o médico Jacinto, que tem dito ao alfaiate que a lei cios franceses é justa e santa porgue é tirada da Sagrada Escritura que, assim como o rei pode matar aos homens, também os ditos podem matar o rei. Em um dia santo, estando o dito Inácio do Arnaral na igreja do hospício, ouviu uma conversalarga ao médico Jacinto e a Manoel Inãcio, mestre da Retórica, e a João Pedra e ao devogado chamado França e quase ao fim da dita, chegou o médico Maneiros e outro que o dito não conheceu e constava a dita conversa sobre a religião: que frades não eram necessários, clérigos ':J 76 r.. alguns e que o Santo Ofício só servia para refrear alguns estudantes ra pazes e que já o Santo Ofício por causa diminuta tinha perdido um estudante em Coimbra: e depois de falarem largamente em várias matérias desta qualida- de, que o dito as dirá com mais largueza, falaram nos franceses, zombando uns como outros de que percebeu bem o dito sujeito ser um ludíbrio de Por- tugal e um sujeito chamado Antônio Gonçalves dos Santos, que é ourives, este diz que a morte do rei de França fora justa porque foi falso ao juramen- to que dera fi assembléia e que se-lhe acharam vários papéis pilra generais para entregar o reino; isto ouviu um alferes de auxiliares do terço da Candelá ria chamado Bernardo Ferreira Braga e um ourives chamado Manoel Pinto; e me parece ter ouvido dizer que o dito dizia que desejava que a Fran- ,:a i'i",ISS,' (."111 " L\l1I11"'111 UI1I '1"'111'1111' das IIrdl'nall\i's, )n.;n de IVh-dl'irl1s Gomes, ouviu dizer ao dito Mnnocl Pinto. que foi quem primeiro me disse, D/ógv Francisco De~!í/lr1L1 ....;IW '-sa,g'essoas que puderam declarar mais algum segundo o que se-lhe tem ~"ouvido dizer: Agostinho Marfins é boticário morador na rua dos Ou- rives e com frente também à travessa da Alfândega. Este, falando eu a res- peito de religião, e me parece também a respeito dos franceses, ele me disse que haviam línguas que mereciam ser cortadas e não se declarou mais, E em outra ocasião me disse que os estudantes que iam estudar fora do reino, na sua opinião, se não deverão aqui consentir. É homem de boa nota e poderá descobrir, sabendo, alguns, O Capitão José Joaquim Perreíra Barbosa, que é dos fortes ou cais, vive de armador, mora na rua da Quitanda, quase defronte do cabeleireiro [oão Marques. O Galego, este tem dito ao alferes Bernardo Ferrelra Braga, do terço de auxiliares da Candelária, que tem tido vários ataques; mas não diz com quem e que já tem tido ocasião de ter alguma desordem e que "tomara que os franceses ficassem ma]", que há de Fazer uma que há de dar que falar, Também é homem de boa nota e.julga-se, poderá relatar a vários, E o mesmo dito alferes Bernardo Ferreira Braga diz que José dos Santos, cujo é calafate do contrato do azeite de peixe, também tem tido vários argumentos a respeito dos franceses e que poderá descobrir muitos e é homem de boa nota, Antônio Lopes, cujo é torneiro e tem praça de artífice, mora ao pé do Oratório da Senhora do Bom Sucesso, na rua de Sucoserarã. Este disse a ," 77 r:, Manoel Pereira Landim, que os já relatados Francisco Antônio e João da Silva Antunes eram a favor dos franceses; e outro da rua Direita, cujo nome o dito ignorava; este, se julga, poderá relatar mais alguns e é homem de boa nota. EAntônio Gonçalves de Oliveira, que foi mercador e morador na rua do Cano, este disse a Manoel Pereira Landim e ao Inãcío do Amarnl, falando- se a respeito dos franceses, que aqui havia muitos que mereciam que lhe cor- tassem as línguas. Éhomem de boa nota e pode relatar o que disse. Dio~roFrancisco De~rfl{io ~W ~~;:~S.!tlanoel Pereira Landirn estando para ouvir alguma cousa a respeito \;:~ de franceses, ouviu dizer a Munocl da Costa Santos, cujo j<i trouxe por sua conta o guindaste da Alfândega, lhe ouviu dizer no cais que todos os reinos tinham seus estatutos, assim como o reino de Portugal tinha as Leis de Lnrncgo, e quando tornavam posse, davam é juramento de conservarem os povo:; em boa pnz. E depois, pelo tempo adiante, o seu sl'nlidl1 é l(LlI'rL'n'lll se fazer senhores dos bens dos vassalos pelos maus conselheiros que tinham, pois os fidalgos, o que querem, ao depois, é puxarem tudo parn si, e que na Espnnhn já () rei tinha mandado e111um beija-mão matar a cadn UIl1 de pe!' si 1111 IÍ " '~ifill 011gl1S c' 1'''"111 I1S rrillll'''~;''s s;",o milis fi 1l11~;I' Ilójo '111 iSI'I"1I1\ ,llhOlI',I ,U', veio a dar na desordem que deu isto, conversou o dito sujeito com nutro homem que o dito Landirn não conheceu. EAntônio Lopes, o torneiro já relatado para testemunha, disse mais ao dito Manoel Pereira Landirn que um Aleixo, morador na praia, e um ne- gociante que tem negócio para o Rio Grande, cujo nome ainda se ignora, que estes dous eram muito da parte dos franceses assim como são dous já relata- dos pelo mesmo Antônio Lopes: João da Silva Antunes e Francisco Antônio. Estando Inácio do Arnaral em UI11 dia santo na porta da igreja do hospício, aonde se achava Manoel Inãcio, mestre da Retórica, e passando na cadeirinha o médico Estácio, o chamou o dito mestre da Retórica e, saindo o dito médico Estácio da cadeirinha, se puseram a conversar a respeito de uma casa de academia que pertendia pôr e mais lhe disse que, para isso, se tinha mudado para as casas donde morou o Coronel Antônio Joaquim e, convi- dando ao dito médico para também entrar na dita academia, o dito lhe disse que o disfarçasse disso e, depois da dita conversa acabada, lhe disse o dito Estácio: - O que diz Vossa Mercê dos franceses? Respondeu o dito Manoel ~ 781:. Ináclo: - Eu digo que, ao meu parecer, os inimigos ficam mal porquc, se as potências não desistirem, precisam que eles morram de um em um para le- varem a sua avante, pois eles pelejam de sua casa. A isto deu o médico uma rísadinha e, sempre mostrando que era pela nação portuguesa, pois disse que podia ser que fosse chegado o tempo em que a nação portuguesa mos- trasse agora o que foram em outro tempo, E a toda a conversa também a ouviu O músico Joaquim Bernardes, mas não falou nada, Indo ao cais, Manoel Pereira Landirn encontrou João da Silva Antunes, já relatado, argumentando com Francisco José, o lapldãrio, e ou- viu dizer ao dito Francisco José para o tal João da Silva Antunes que ele dito Antunes tinha alguma costela de francês ao que respondeu o dito que aque- les a quem a assembléia mandava justiçar era por serem traidores e não quererem observar as novas leis e terem eles tirado os vasos sagrados e as lâmpadas das igrejas, que isso não era novidade, porque EI-Rei D. Sebastião, quando foi p,lI'a África, fizera o mesmo em Portugal c que as guerras que os príncipes da Europa lhe têm posto não é por zelo da religião e só por deus interesses:o primeiro é livrarem-se que lhe não suceda o mesmo e o segundo é como faz o tesoureiro dos ausentes e o escrivão, quando vão a casa de algum dt'fl111 Io, Ql1L'Cilda IIIll faz por Furtar o que pode. EManocl Pereira Lnndim e Inácio do Amaral, cstundu na sl1<l1l1gia, entrando o Pe. José de Oliveira, que é o organista da Sé, lhe ouviram dizer que meio Rio de Janeiro estava perdido, que estavam libertinos. E, falando- lh •. I' diltll.illldilll a n':-;jwi!Cl do qUl' c-ru, !>(' ern a respeito de rdi!~iii(lou de lill<!rd.llk' dl~ Ir'IIH'L'Sl.'S,l'lL' dill1 I'adrl' dbsl' qlll' L'r.l 11I11;II.'l1\1Sat' llul r.i. Diogo Frn"CI~'C(1De(\',ldo ~-~ ~~ essoas que puderam declarar mais algumas, segundo o que se-lhe tem ~" ouvido dizer, Agostinho Marfins é boticário morador na rua dos Ou- rives e com frente também à travessa da Alfândega. Este falando eu a res- pei to de religião e me parece também a respeito de franceses, ele me disse que haviam línguas que mereciam ser cortadas e não se declarou mais. E em outra ocasião me disse que os estudantes que iam estudar fora do reino, na sua opinião, se não deverão aqui consentir, É homem de boa nota e poderá descobrir sabendo alguns. O Capitão José Joaquim Ferreira Barbosa que é dos fortes ou cais, vive de armador, mora na rua da Quitanda, quase defronte do cabeleireiro ." 79 ~ JOão Marques, O Galego, este tem dito ao alferes Bernard o Ferreira Braga, do terço de auxiliares da Candelária, que tem tido vários ataques mas não diz quem; c qua jn tem tido ocasião de ter alguma desordem e que "tornara que os franceses ficassem mal"; que há de fazer lima que há de dar que falar. Também é homem de boa nota e, julga-se, poderá relatar a vários. E o mesmo dito é o alferes Bernardo Ferreira Brilga, que diz que José dos Santos, cujo é calafate do contrato do azeite de peixe, também tem tido vários argumentos a respeito dos franceses e que poderá descobrir muitos c é homem de boa nota. Antônio Lopes, cujo é torneira e tem praça de artífice, mora ao pé do Oratôrio da Senhora do Bom Sucesso na rua de Sucoserará. Este disse a Manoel Pereira Landirn que os já relatados Francisco Antônio e João da Sil- va Antunes eram a favor dos franceses e, outro, da rua Direita, cujo nome ainda o dito ignorava, este, se julga, poderá relatar mais alguns e é homem de boa nota, E Antônio Gonçalves de Oliveira, que foi mercador e mora na rua do Cano este disse a Manoel Pereira Landim e ao Inácio do Arnaral falando- se a respeito dos franceses, que aqui haviam muitos que mereciam que lhe cortassem as línguas é homem de boa nota e pode relatar o que disse, Diogo Francisco DeZVflIlv q,'W" r.:;:;'\"'"~~\1J.?lanOel Pereira Landirn c o Inricio do Amaral, procurando ouvir do ~~ dito Francisco Antônio, que é cntalhador e já relatado, ouviram-lhe dizer que "os reis, é porem a carapuça na cabeça c n50 cuidarem em apren- derem dantes o como hão de governar" e que El-Rei de Espanha, receando- se dos seus, vendo que os não podia castigar, os mandou ii guerra de AfrÍl:il C 1,\os acabou: e quc "a mão nunca conhece que merece a forca", isto enten- deram os dous que o ouviram a respeito do rei da França c o que se fez em França foi bem feito, pois é o que deve ser a guerra que lhe fazem os mais reis não é por zelo, é por se livrarem do que lhes há de suceder pelo tempo adiante. E, entrando um preto com urna cruz na mão, ao mesmo tempo que os dous estavam ouvindo a conversa, dizendo o dito Landim que os reis, eram sagrados e dizendo-lhe mais que os reis eram os deuses da terra, pegou o dito Francisco Antônio na cruz e disse: "Esta é que é sagrada, que o rei é como qualquer de nós!", .;l 80 •.· E o dito Manoel Pereira Landírn, querendo ouvir ao Tenente Antô- nio Fernandes Machado a respeito de Jacó Miliete, disse-lhe o dito Tenente quc, achando-se ele e outros sujeitos em conversa, dissera °dito Jacó, falan- do-se a respeito de França, qlle o padecerem os povos de lá, e principalmen- te os da província de Leão, foi por serem realistas e não quererem seguir aos rcpubllcanos, t]w.!, enquanto fi gLIClTil que faziam os republicanos, era justa e que os reis da Europa todos eram uns ladrões. E mais disse o dito Antônio Fernandes Machado: que parte desta cidade estava minada; e não se expli- cou mais com o dito Landirn e que, considerando o dito Tenente Antônio Fernandes Machado, na conversa que teve com o dito Jacó, não pudera dor- mir toda a noute, considerando se houvera ir acusã-lo ao juiz intendente da polícia e que n50 o fizera não para causar novidade, E o dito Manoel Pereira Landim e o Inácio do Arnaral ouviram mais a Antônio Gonçalves de Oliveira que foi mercador em conversa qlle tive- ram com ele na caldeira falando-se a respeito de franceses disse que aqui haviam muitos que mereciam que lhe cortassem as línguas é bom para tcs- tem unha e é de boa nota, E acharam mais o dito Landim e o Inácio do Arnaral a Francisco José, cujo é lapidário e, tirando os ditos dele alguma cousa a respeito de fran- ceses pelo terem visto por detrás do chafariz conversar com o já relatado João da Silva Antunes e ao francês que foi criado do Major José Correia, disse o dito Francisco José que o dito João da Silva pune muito pelos france- ses qUl.' diz que a guerra que os ditos têm é justa c quando esta com o dito [rnncôs juntos e se fnln a respeito de França fica () francês alegre SC' é em abono dus ditos írunccscs, e se 0 contra fica como raivoso c diz o dito Fr,lI1- cisco José que o dito francês acompanha muito com o dito João da Silva Antuncs, c também disse o dito Francisco José que o dito João da Silva Antunes ele lhe ouviu dizer qtle a justiça que se fez aos homens de Minas ill!'.l injusln na SU'I opinião e o dito Francisco pil!'ecc ser bom p<lra relatar mais que souber. E li dito Lnndirn, sninclo da calçada pMa o cais, ji1 de noute cncon- trou com um pardo chamado José Fernandes Teixeira, cujo vive de arrumar contas. E, querendo ouvir dele alguma cousa a respeito de França, disso nada lhe deu notícias e, encaminhando-se os ditos para a rua Direita e chegando ao pé da botica nomeada do Arnarante, sem o dito Landirn lhe falar nela, ele lhe disse que naquela botica em casa de assembléia todas as noutes aonde se falava em toda a qualidade de governos e na religião e que em tudo ali se disputa, cujo mestre é o mestre do Grego, aonde se revolvem todos os casos e dúvidas cuja conversa dura até a meia-noute e uma hora, muitas vezes, e ':1811:- que das dez horas por diante cerram as porias e continua ,1 ditn nsscmbléiu e o dito José Fernandes Teixeira, alguns apontou de costume que vão à dita botica também urn josé Jacinto e o já nomeado J050 Pedra e o filho do defun- to Blscouto e um lavrante ou ourives; cujo é coxo de um pé chama-se Fran- cisco c, passando ao depois o dito Landim só pela dita botica, viu o mestre do Grego em pé e um sujeito que é oficial ou inferior do terço de auxiliares de S50 Gonçalo, cujo mora nas casas no Oratória de Nossa Senhora do Bom Sucesso que já lá o tem visto mais vezes e viu mais três sujeitos cujos não os conheceu e o sujeito já relatado no primeira papel que o Landim ouviu ao José de Oliveira que o dito Oliveira dizia morava na rua do Ouvidor, mas ignorava o nome cujo sujeito vem apontado com João da Silva Antunes e Francisco Coelho Estolano disse agora do dito Oliveira ao Landirn, que é o mestre da Retórica chamado Manoel Inácio. Disse mais o dito José de Oli- veira ao Landirn que o médico Jacinto é todo francês e muito camarada do tal mestre da Retórica. Dio,ro Francisco Delgado ~N' ;;:i~ iz Manoel Pereira Landim que ouviu dizer a um pardo chamado ~fb Gregório do Amaral, que tinha ouvido dizer a um alfaiate, também pardo, aonde costuma ir o médico Jacinto, que o dito médico tinha suas cartinhas de Lisboa de donde sabia melhor as novidades de França, cujas há alguma desconfiança não sejam de França. Anda-se nesta diligência. E umFrancisco Antônio, que foi soldado de artilharia e é entalhador, mora debaixo do Aljube. Este foi o que disse que a lei dos franceses era boa e que cá deviam fazer o mesmo. Disse-o na botica do Vitorino e disse mais: que o que eles deviam fazer era vir arrasar a terra. Isto contou José de Oli- veira, ourives, ao dito Landim, que lho tinha ouvido da dita botica. E o boti- cário disse que ele n50 está em si, admirando-se o dito Oliveira de seme- lhante dizer, ainda que o Landim diz que ele não bebe. VIi~'{cJ l-illll/·I:'·/'/) Ik~\'IIIIt1 ~'W -~182 r:- (.~i/..;?i/(I'-;Ik::oilo tlÚI.,; do 111<':;dI.' d/.'::.·I/J/JnJ rio 1IJ10tI/.' 11I/1 sd/XI·llft8 1/0i.',."II'" /' ~$lquatro nesta cidllde de São Seónsliiío do Rio de [aneiro e casas de rc...;liIàfl·ÚI di) DI:·.,·/'lIIbm;\'fldvr AIlIliIlIlJ DIi,i:: ti" Crus: I:Silr1t1, IltJlldl.' ct), e..;crt'.-.\;o Iitlflll'lIdl' 1'1m/ ('.'·Cl"t'i/I.'}" IIt'S'" dei/fls.'·", .li,,· uiudo, pnm t!/i!i/o dI! escreocr os di/o..: dtl..: kStl.'lIIl1J1/1I/31/lIt' li tlito Dt~o;t"lJIblll~flldor-C//{lIlcdt!r maudan tnr liSI!tI prt.'scfI{I/ n/till de serem peJglIll/adas nesta dctmssa, cujos nomes, cognotucs, idades, mora- dias, l!(ícÚJ, estado l' costnmes sâo os 'lJlt' ao dirlllle Si' S/!,.,?/lf!lII, de quefoz este termo de assentada. EII, JoãoManoe! Guerreiro de Amorim Pereira, escriuâo nomeado I'IIJ~I cscrcorr IIt'S'" dt.'t'lls.';!l l/fIt' o escreoi. ~~ li!. José Bernardo da Silveira Frade, natural do arraial de Raposos, comarcado Sabará e ora assistente nesta cidade, casado, que vive de advogarem algumas causas, de idade de trinta e seis para trinta e sete anos, testemunha a quem o dito Desernbargador-Chanceler deferiu o juramento dosSantos Evangelhos debaixo do qual prometeu dizer a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado. Esendo perguntado pelo conteúdo nesta devassa e mais papéis a ela juntos, disse que em casa de Manoel Inácio da Silva Alvarenga, mestre de Retórica, nesta cidade se costumava fazer uma academia e que, sendo esta proibida pelo Ilustríssimo e Excelentíssimo Vice-Reí deste Esta- do, o mesmo Manoel Inácio da Silva Alvarenga continuara a fazer nela as- sembléias particulares, aonde concorriam um bacharel chamado Mariano de tal, o médico Jacinto e João Marques, professor de Grego, os quais eram efetivos nas ditas assembléias. E além destes, concorriam mais algumas ve- zes nas mesmas: Estolano de tal, Manoel Ferreira, mestre de meninos, o mé- dico Vicen te Gomes e ele, testemunha, também algumas vezes, que nas di- tas assembléias sempre ouvira ele, testemunha, tratar do estado da França c sua rebelião com louvor, a tacando sempre nelas a religião, dizendo que a Escritura mentia quando afirmava que Moisés, descendo do monte derrete- ra um novilho de ouro e o dera a beber às tribos, o que ele, testemunha, res- pondera que se enganavam, pois que Moisés o não derreta, mas o fizera em pú, t) '1\11' "\\I11f1l"o\'al"a COIll ,IS palavras da Esrriturn "1·/1/1/ Iri,'I"/ 11,'·1/"1· I/ti 1'''/'-'''li·II/' c qUL' nessa mesma ocasião se nrrojnrnrn i1 murmurnr d,l justiça de Deus, quando mandara matar muitos mil homens por haverem adorado um novilho, exclamando principalmente João Marques, mestre do Grego, com ironia: "Olhem que justiça"; que também, na mesma ocasião, argüíram de falsa n mesma Escritura e a antigüidade da criação do mundo COI11as dinastiu« dos chinns que" dl'it,l\'i11ll a I1Ill tempo muito mais antcriorá d,I!.1 .·83 "" da criação do mundo que assina n dita Escritura: que em um dos ditos conventículos se leram vários papéis, que não sabe ele, testemunha, se eram gazetas, e só que eram escritas em folha de papel e na língua francesa, aon- de se tmtuva da revolução da França, e havia vários discursos sobre a sua liberdade, sobre os quaís fizeram os mesmos assistentes várias reflexões ten- dentes a fazer odiosas as monarquias, mostrando uma grande paixão con- tra elas e inclinação às respúblicas, encarecendo a felicidade que os povos goznlll nas mesmas e, rcplicando-lhes de, testcrnuuhu, q1lC'1 Iibcrdude qUl' SIJsupõe nas respúbllcas não em para os costumes c a nossa nação, que sem- pre fora costumada a obedecer a um só soberano, e que estes sempre foram pais da pátria e amaram os povos como seus filhos, lhe respondera o sobredito Manoel Iuãcío, ironicamente: "Vossa Mercê diz isso por máxima, Faz bem em o dizer assim, que é prudência". E tornando-lhe ele, testemu- nha, que o dizia por ser a própria verdade, começaram todos o cornbatê-lo e a sustentar 11 liberdade, E, então, leram uns artigos dos direitos ou leis nova- mente estabelecidas em França e depois principiaram a murmurar do go- verno e comportamento do príncipe nosso senhor, dizendo que depois da ausência de um francês ficara entregue à direção ce um frade e, cheio de fanatismo, de forma que mandara buscar água do rio Jordão para a prince- sa, nossa senhora, e que igualmente ordenara ao Arcebispo de Braga que desse conta do seu comportamento a um frade, de cujo nome ele, testemu- nha, se não lembra, mas lhe parecia terem dito se charnnra Frei Caspar, e declarou que o sobredíto discurso feito contra a augusta pessoa do príncipe nosso senhor fora feito pelo mestre de Grego João Marques, mas que os ou- ITOS circunstantes o apoiaram, acrescentando que o mesmo príncipe havia desterrado para a índia uns rapazes por queixas que deles haviam feito uns frades e que aí mesmo exclamara o dito João Marques que um rei fazia o gue queria, sem ninguém lhe ir à mão, o que não devia ser pois que logo que fizesse uma injustiça o deviam enfocar, Sabe mais, pelo ouvir dizer, Gregório José Biteucourt, que o referido João Marques, uma noite no cais entrara a discorrer e a louvar a liberdade, a que se opusera Bento Sanches, que hoje se acha em São Paulo, e o fizera calar, convencendo-o; que o mesmo Crcgório José dissera a ele, testemunha, que os sobreditos Manoel Inacio, [oão Mar- ques e Mariano de tal diziam que os réus da conjuração de Minas foram tratados como rebeldes porque não conseguiram o seu fim, mas que, se o conseguissem, seriam uns heróis; e que, igualmente, ouvira dizer" Dornin- gos Comes Rodrigues que, achando-se uma ocasião na porta da igreja do hospício, ouvira discorrer ao médico Jacinto, publicamente, com o bacharel José de França contra a religião, sustentando que não havia milagres c qllt' -:1 84 " os santos não tinham poder pal'a os fazer: que no dia que se seguiu à prisão do mesmo Manoellnácio, João Marques, Maríano e médico Jacinto entra- ram várins pessoas em casa dele, testemunha, entre as quais se lembra de Manoel Antônio Salgado, Domingos Gomes Rodrigues e o já mencionado Cregório José Bitencourt os quais todos faziam discursos contra os ditos pre- sos, notando-lhes a liberdade com que falavam nos seus ajuntamentos, dan- do graças a Deus e louvando °Ilustrfssirno e Excelentíssimo Vice-Rei deste Esladll pelos haver prlJSll~,pois l)u!.', de outra sorte, Iludiriam a muitos 0 :;c- riam a causa de os fazer padecer: e outros diziam que, vindo alguma arma- da francesa a esta cidade, eles seriam contra nós e capazes de concorrer para a sua entrega; que também ouvira dizer o Gregório José Bitencourt que cer- ta pessoa, que lhe não quis nomear, lhe dissera que alguns dos presos diziam que, passados anos, não haviam haver mais testas coroadas e que igual- mente dissera a ele, testemunha, o alferes reformado Jacinto Martins Pamplona, que o mestre de Grego João Marques falara em certa ocasião e em casa dele, testemunha, que então se achava doente, com grande soltura de língua, contra as pessoas dos nossos al.lgustos e defuntos monarcas; e que também ouvira dizer vagamente que os referidos presos se ajuntavam e con- versavam também em cousas de França em casa do advogado José de Fran- ça e em uma botica da rua Direita, aonde assiste um moço chamado José, meio calvo, aonde também concorria um Antônio Joaquim, escrevente do advogado Silvestre de Carvalho, e que, nas ditas conversas,José Teixeira, vulgarmente chamado o meirinho da igreja, combatia as opiniões dos mes- mos. mas que, apesar de tudo quanto tem deposto, não sabe ele, testemu- nha, que os sobreditos presos e seus aderentes tivessem formado algum pia- no ele conjuração ouentrassem na idéia de pôr em prática alguma rebelião e os seus discursos. E declarou mais: que naquela assembléia a que ele, teste- munha, assistiu, e em que se declamou contra o poder dos reis e a favor das repúblicas, não estiveram presentes nem o médico Vicente Gomes, nem Manoel Fcrreira, mestre de meninos, nem o mencionado Estolano, ainda que vagamente tem ouvido dizer que os dois acima excetuados Manoel Perreira e Estolano também sustentavam <15 mesmas práticas e discursos. E mais não disse. E só acrescentou que ouvira dizer ao alferes reformado Jacinto Marfins Pamplona que, no dia imediato às prisões lhe dissera um boticárlo que mora para o campo chamado Luís José, que publicamente ouvira dizer, nesta ci- dade, qu!.' os sobreditos presos diziam que em bem feito que viesse contra esta cidade uma armada francesa, já que eram tão tolos que se sujeitavam a um homem só, sendo melhor o plano dos franceses; e que ultimamente 50 lembra ouvir dizer a Gr('górin JnSl; Bitenc(lurl qUl' JOiil1 Mnrtin». com ilrlllil- .;& 85 0;' zérn na rua do Rosririo, lhe havia dito Ll11e,achando-se este em certa ocasião na igreja do hospício, lhe dissera um José Carvalho, por se acharem ambos juntos de alguns dos presos sobreditos: "Retiremo-nos daqui, que estes ho- mens (falando dos referidos presos) conversam com muita liberdade e hão de ser castigados". E mais não disse nem do costume. E assinou, depois de lhe ser lido seu juramento e o achar conforme ao que havia deposto com o dito Desernbargador-Chanceler. E eu, João Manoel Guerreiro de Amorirn Pereira, escrivão nomeado para escrever nesta devassa, o escrevi. ~/li)(l los(' Bernarda da S/lrk'lÍ'll Flildi' .--=~:~". 2!!Diogo Francisco Delgado, natural do Bombarral e <lgora assistente nes-ta cidade, aonde tem posto de ajudante do número do terço dos auxili- ares da Candclãrla casado, de idade de cincoenta e um anos, testemunha jurada <lOSSantos Evangelhos, à qual foi deferido pelo dito Desern- bargador-Chanceler, e prometeu dizer a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado: E perguntado pelo conteúdo no auto da devassa e mais papéis a ela juntos, disse que, sendo chamado pelo I1ustríssimo e Excelentíssiruo Vice- Rei deste Estado, e indo rt sua presençCl, o mesmo lhe dissera que o queria encilrregar de lima diligência a respeito dos jogadores e de outras pessoas que mereciam as línguas cortadas e que, refletindo ele, testemunha, sobre estas últimas palavras, logo lhe viera ao pensamento e respondera que lín- guas cortadas não podiam ser senão as das pessoCls que falavam publica- mente com paixão pela França. E então lhe dissera o dito Ilustríssimc e Excelentíssimo Vice-Rei: "Pois há pessoas que falam nisso?". E tornando- lhe ele, testemunha, que sim, lhe dissera o mesmo: "Pois então encarrego a Vossa Mercê dessa diligência e averiguação", que, em virtude desta ordem, entrara ele na pesquisa das pessoas que sustentavam estas práticas e lhe dissera Manoel Pereira Landim que, vindo uma noite recolhendo-se para sua casa, ouvira nas escadas da igreja do hospício uma conversa e, parando pnea melhor aperceber, viu e ouviu que o médico Jacinto e outro que lhe pareceu ser o mestre de Retórica Manoel Inácio e mais outro que julgou ser UI11 João Pedra, falavam sobre o socorro que de Portugal tinha passado fi Espanha e, disseram, constava de seis mil homens; mas que isto era uma ninhada de pintos que iam morrer todos nas mãos dos franceses, pois ainda ':1 tl(l':' que fora todo o reino, tudo era pouco pam os mesmos franceses; e que então dissera o médico Jacinto que desejava agora achar-se em França para tam- bém ser general, como o outro médico que lá se achava. Que ouvira mais ao dito Landirn que estando na sua loje de mcrceneiro junto com um seu oficial chamado Inácio do Amara! entrara nela um José de Oliveira, que é ourives, e dissera que na praia de D. Manoel, por detrás da caldeira, se falava a res- peito dos franceses com paixão, e que os que assim falavam eram um Ioão da Silva Antunes, merceneiro, e um Francisco Coelho Estolano, qlle é públi- co achar-se hoje preso, ainda que o seu verdadeiro apelido 0501<1110, e núo Estolano, como ele, testemunha, tem atualmente averiguado, e que o outro, que assistia nestes convcntículos, dissera, o mesmo Oliveira, qllt:.'em um sujei to que morava na rua do Ouvidor, sem lhe repetir o nome, e que o que llS lr<'s r<'pdiill1ll'lll suas COIlVl!rs,,<;':-ll'Sera que <1lei elos rrilllCL'Sl'S L'l'a jUSl,ll' santa, e que a liberdade, Deus a tinha dado aos homens, acrescentando o dito Olivelra que já estivera resoluto a denunciá-Ios, por ver a liberdade com que falavam; que dissera mais o dito Landirn a ele, testemunha, que, entran- do na sua loje um pardo chamado Gregório do Amaral, no tempo em que o sobredito Oliveira lhe estava contando o que acima fica exposto, o mesmo Gregório do Amaral se não admirara, por ter já ouvido o mesmo a um al- faíate, em cu]a casa entra o Dr. Jacinto, e que na mesma tem dito que a lei dos franceses é justa e santa porque é tirada da Sagrada da Escritura, e que assim corno os reis têm poder de matar os homens, podem 05 homens matar os reis; que Inãcío do Arnaral dissera também a ele, testemunha, que, estan- do um dia na igreja do hospício, ouvira uma larga conversação em que dis- corriam o médico Jacinto, Manoel lnácio. mestre de Retórica, um joão Pedra e um ad vogado de apelido o França; e diziam que os frades não eram neces- sários, clérigos alguns, e que o Santo Ofício só servia para refrear alguns estudantes rapazes, e que o mesmo havia perdido, por causa diminuta, a um estudante em Coimbra, e que depois disto entraram a falar largamente em várias matérias respectivas à França, zombando uns com outros (segun- do a inteligência do dito Inácio do Arnaral) do reino de Portugal; que tam- bém ouvira a um Tenente das ordenanças. chamado J050 de Medeiros, que um Antônio Gonçalves dos Santos, ourives, dizia que a morte do rei de Fran- ça era justa porq~le fora falso o juramento que dera na assembléia, e por se- lhe terem achado vários papéis em que ordenClvaaos seus generais que en- tregassem o reino, c que isto mesmo ouvira ele, testemunha, ao dito Manoel Pinto indo à sua casa pCll'aeste fim com o referido João de Medeiros, e que também o OUVifC1a Bernardo Ferreira Braga, alferes de auxiliares do terço da Cundclária dizendo-lhe este que o ouvira repetir ao sobrcdito ourives .:1 H71:- Antônio Gonçalves dos S'1I1tos. Disse mais: que ouvira a Manoel Pereira Landirn, que um pardo chamado Gregório do Arnaral repetia que um al- faiate também pardo, aonde costuma ir o médico Jacinto dizia que o dito médico tinha suas cartinhns de Lisboa, das quais sabia melhor os negócios da França, que o mesmo Landim lhe dissera que o já referido ourives José de Oliveira lhe havia contado que ele tinha ouvido na botica de um Vitorino de tal, assistente na rua do Cano, a um Francisco Antônio, soldado, que foi da artilharia e hoje é entalhador, repetir que a lei dos franceses era boa e que «1 deviam fazer o mesmo, e que o que os ditos franceses deveriam fazer era virem arrasar esta terra. Disse mais: q\ICo mesmo Manoel Pereira Landim e Inácio do Arnaral lhe disseram terem ouvido do dito Francisco Antônio que os reis, o que procuravam era porem as carapuças na cabeça e não cuida- vam em aprenderem antes o como haviam governar, e que o rei de Espanha, receando-se dos seus vassalos e vendo que os não podia castígar, os manda- m fi guerra eleÁfrica aonde os acabara, que a 111;10 nunca conhece que mere- ce n forca, cujas palavras interpretaram os dois ouvintes aludirem fi morte do rei de Frnnça: c que continuara mais o dito Francisco Antônio, LI iZL~nd()que o que se fez em França fora bem feito, pois era o cl' IC se devia fazer, e llue a guerra que moviam os outros reis àquele reino n50 era por zelo mas sim por se livrarem do que lhes havia suceder pelo tempo adiante, e que, entran- do nessa ocasião um preto em casa do mesmo Francisco Antônio no tempo que o dito Landim lhe dizia que os reis eram sagrados, o dito Francisco An- tônio pegara na cruz e dissera: "Esta é que é sagrada, que o rei é como qual- quer de nós". Que igualmente dissera o dito Landim a ele, testemunha, que o Tenente Antônio Fernandes Machado lhe havia contado que Jacó Miliete dissera na sua presença e na de outros sujeitos que o padecerem os povos de França, e principalmente os de Leão, fora por serem realistas e não quere- rem seguir aos republicanos, e que a guerra que estes faziam era justa, pois os reis da Europa eram uns ladrões; e que o mesmo Antônio Fernandes ha- via acrescentado a isto que parte desta cidade estava minada, e que não pudera dormir em toda a noite, considerando no que ouvira ao referido Miliete, e pensando se o deveria vil"denunciar, mas que o não fizera por não causar novidade; que igualmente ouvira aos sobreditos Manoel Pereira Landim e Inácio do Arnaral, que Antônio Gonçalves de Oliveira dissera em uma conversação que com eles tivera na caldeira, falando a respeito do Fran- ça, que nesta cidade havia muitas pessoas que mereciam Ihes cortassem as línguas; que lhe disseram mais os sobreditos que perguntando a Francisco José Lapidário, pelo terem visto conversar com o já referido João da Silva Antunes e um francês que foi criado do Major José Correia, quais eram as -,188 I'· matérias que tratavam naquelas conversas, o dito Francisco José lhe dissera que era a respeito dos franceses pelos quais punia muito o dito João da Silva, dizendo que a guerra que eles faziam era justa e que, quando o dito francês se acha nestas conversações e se rala nelas em abono dos franceses, se alegra muito e, pelo contrário, se enfurece quando se fala deles: e que também lhes dissera o dito Francisco JOSé que o dito João da Silva Antunes lhe havia dito que a justiça que se fizera aos conjurados de Minas, na sua opinião, fora injusta; que lhe dissera mais o dito Landim que, saindo da caldeira para o cais, j<ide noite e encontrando-se com um pardo chamado José Fcrnandes Tcixcira e,perguntando-lhe por cousas de França, este nada lhe dissera, mas que, caminhando juntos para a rua Direita e aproximando-se à botica cha- mado do Amarante, lhe dissera o dito José Fernandes que aquela botica era casa de assembléia, aonde todas ê1S noites se falava em toda a qualidade de governos e na religião, e aonde se revolviam todos os casos e dúvidas sendo o mestre o professor de Grego; que as ditas conversas duravam tê a mein- noite e, muitas vezes, até uma horn, que até às dez tinham "5 portas abertas c d.u 1..'111di'lIlle as cerrnvam, apontando-lhe "'gUIl1,lS pL'S~;(ln5entro .15llllais eram um José Jacinto, o já mencionado João Pcdro c o filho do defunto Bis- coito, chamado Mariano, e que é constante achar-se preso, e um lnvrante chamado Francisco, que é coxo de um pé; que lhe dissera mais o mesmo Landim: que depois de se apartar do dito José Fernandes Teixeira, tornando a passar pela mesma botica, nela vira o mestre do Grego em pé e um oficial ou inferior do terço dos auxiliares de São Gonçalo que mora nas casas do Orarório de Nossa Senhora do Bom Sucesso e ensina meninos, e mais três sujeitos que não conhecera: e lhe declara que o sujeito de quem acima se fala e se diz morar na rua do Ouvidor, sem se-lhe declarar o nome; e era um dos três da conversação de João da Silva Antunes, Francisco Coelho Estolano ou Solano, era Manoel Inácio, mestre de Retórica; que ouvira mel is o dito Manoel Pereira Landim: que um Manoel da Costa Santos dizia que todos os reinos tinham seus estatutos, e que o de Portugal tinha as Cortes de Lamego, e que os reis quando tomavam posse davam juramento de conservarem os povos em boa paz e, depois, pelo tempo adiante, o seu fim era quererem fazer-se senhores dos bens dos vassalos pelos maus conselheiros que tinham, pois os fidalgos, o que desejavam era puxarem tudo para si, e que em Espanha jeí o rei tinha mandado matar em um beija-mão muitos fidalgos, cada um de per si; e como os franceses eram mais finos e não se queriam albardar, veio o negócio a parar na desordem em que se achava; que outrossim lhe dissera o dito Landim que um Antônio Lopes, que é torneira, lhe havia dito que um Aleixo de tal, morador na Praia, a um homem CJuenegocia para o Rio Gran- ·lI 89 n· de, cujo nome se ignora, eram muito apaixonados pelos franceses assim como os já referidos João da Silva Antunes e Francisco Antônio; que lhe dissera mais o mesmo Landim que, indo em uma ocasião ao cais, encontrara os sobred itos João da Silva Antuncs argumentando com Francisco José, tarn- bérn já mencionado, e que este dizia ao Antunes que ele tinha alguma coste- Ia de francês, a que o mesmo respondera que aqueles a quem a assembléia mandava justiçar era por serem traidores e não quererem observar as novas leis, e que, se elas havia tirado os vasos sagrados e alâmpadas das igrejas, isso não era novidade, pois que El-Rei D. Sebastião fizera o mesmo em Por- tugal quando passara para África, e que os outros reis da Europa lhe faziam guerra não era por zelo da religião, mas por dois motivos: o primeiro era para que Ihes não sucedesse o mesmo e o segundo por fazerem o que fazem o tesoureiro e escrivão dos ausentes, quando vão fI casa de algum defunto: que cada um trabalha por furtar o que pode; que igualmente lhe disseram o mesmo Manoel Pereira Landim e Inácío do Arnaral que, estando na sua loje, entrando o Padre José de Oliveira, organista da Sé, lhes dissera que meio Rio de Janeiro estava perdido e libertino, e que, perguntando-lhe o dito Landim se estas palavras diziam respeito à religião ou à liberdade dos franceses, aquele Padre 1hes dissera que a uma e outra cousa. Disse mais: que Bernardo Ferreira Braga, alferes do terço da Candelãria, contara a ele, testemunha, que o Capitão José Joaquim Ferreira Barbosa lhe dissera que tinha tido vári- os ataques com algumas pessoas, sem lhe declarar quem elas eram, a respei- to dos franceses, c que já estivera p<Jfater alguma desordem e que desejava que os franceses ficassem mal para fazer uma que havia de dnr que l'll.H'; que o mesmo alferes Bernardo Ferreira lhe dissera que um calarate José dos Santos tinha tido também vários argumentos com nlgull1as pesso,ls apaixo- nadas pelos franceses, e que o sobredito Landirn dissera mais a ele, ícstcmu- nha, que, falando com Antônio Gonçalves de Oliveira a respeito dos france- ses, este lhe dissera que haviam muitas pessoas que mereciam as línguas cortadas. E disse, finalmente, que um Agostinho Marfins, boticário, mora- dor na rua dos Ourives, falando com ele, testemunha, a respeito da religião e da França, lhe repelira que haviam línguas que mereciam ser cortadas; e que, em outra ocasião lhe dissera que os estudantes que iam estudar fora do reino, se não deviam consentir neste continente, e que um homem que se acha incumbido de vender as gazetas nesta cidade, e tem por apelido o Castrcoto, lhe dissera, em uma ocasião, que Jacó Munier falava com muita paixão pela França e que tornando-lhe ele, testemunha, que se não admira- va disso pois que o mesmo era francês de nação o dito Castreoto lhe replica- ra que, sem embargo dessa rezão, não devia falar assim; e continuara que -l'J 90 lê" também vários sujeitos lhe haviam dito que a liberdade era amável e que as repúblicas nunca iam abaixo, e que os que assim falavam eram os mais pru- dentes; e que, tratando ele, testemunha, com um sargento do seu terço, cha- mado NUllOJosé Fcrrelra. a respeito destas disputas de religião (e não está bem lembrado se nelas incluiu também matérias públicas e de política sobre que geralmente se discorre), o mesmo Nu no José Fcrrciralhe respondera: "Vossa Mercê n50 sabe a metade do que vai"; mas que, sem embargo de tudo quanto tem exposto, ele, testemunha, n50 sabe nem tem notícia de que os que se mostravam interessados a favor da nação francesa e das repúbli- cas tenham formado algum projeto de rebelião e passassem além das dis- putas e discursos que publicamente faziam: e declarou que em tudo e por tudo se referia aos avisos que, por escrito, tinha dado ao I1ustríssimo e Excelentíssimo Vice-Rei deste Estado que, sendo-lhe mostrados, por se acha- rem autuados e juntos a esta devassa, reconheceu pelos próprios de que eu, escrivão, dou minha fé. E mais não disse nem do costume. E depois de lhe ser lido seu juramento, o assinou, pelo achar conforme ao que havia deposto com o dito Desernbargador-Chanceler. E eu, João Manoel Guerrei- ro de Amorim Pereira, escrivão nomeado para escrever nesta devassa, que O escrevi. Silva Diaso Francisco De(ç;ado -=...:0 ...:....z.... G) (t Manuel Pereira Landim, naturnl do Couro de Santa Maria de Landim, '~i)- cornnrca de Barcelos e, agol'<1,assistente nesta cidade, com ofício de mcrccnciro, casado, de idade que disse ser de quarenta e sete anos, teste- rnunha, a quem o Dcsernbargador-Chanceler deferiu o juramento dos San- tos Evangelhos e prometeu dizer a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado. E perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo nesta devassa e mais papéis a ela juntos, disse que em urna noite, vindo ele, testemunha, reco- lhendo-se para sua casa e passando pela porta do hospício, "ira nela três homens conversando, um dos quais conheceu perfeitamente ser o médico jacinto, e outro um João Pedro, natural da Colônia, não podendo conhecer o terceiro; c que o médico Jacinto dizia, falando do socorro que de Portugal havia passado à Espanha, que os portugueses eram muitos poucos e os fran- ceses muitos, e que por conseqüência iam a morrer C0l110 uma ninhada de ",91 ;:. pintos pois que os mesmos franceses eram os que sempre tinham dado as leis iI todu u Europn.Dlssc muis lllll! CUSlLI 111.lI1d o eIL',testemunha, 1o.,,.;lS MiI- zelas em sua casa, em uma ocasião em que as lia e se achavam presentes José Pereira, alfaiate, e Gregório do Amaral, estes, ouvindo o que as gazetas continham, disseram que aquilo era mentira, e que tinham notícias mais certas por umas carrinhas que vinham ao médico Jacinto; e que o mesmo lhe dissera um homem chamado Estáclo, alfaiate e irmão do sobredito José Pe- reira, achando-se ele, testemunha, em.casa deste; que o referido Gregório do Amaral, entalhador, lhe dissera em certa ocasião, na laje dele, testemunha, e na presença de um seu oficial, chamado Inácio do Amnrul, 'ltle matar o rei não era pecado, e que a morte do rei de França fora justa. Disse mais que Francisco Antônio, enralhador, lhe dissera em sua casa, indo ele, testernu- nha, em companhia do dito lnácio do Amaral que matar aos reis não era pecado, pois que eles recebiam o poder dos povos e que o rei que era tirano devia padecer na forca, assim como outro qualquer malfeitor, porque en- quanto príncipes, o que desejavam era pôr as carapuças na cabeça e, depois de reis, flagelavarn e atropelavam o povo; o que o mesmo Francisco Antônio dissera a ele, testemunha, em casa de Antônio Lopes, mestre torneiro, pe- rante este e pOLlCOS dias antes da sua prisão, que os fidalgos de Portugal todos eram uns ladrões e o rei também, e que isto não levaria volta enquan- to não chegassem ao Brasil LlS novas leis da França, pois que estas eram san- tas e justas, fazendo os bens comuns e não admitindo fidalgos. Disse mais: que em certa ocasião, estando ele, testemunha, no cais, vira estar conver- sando um João da Silva Antunes, mestre rnerceneiro, com Francisco José, mestre Iapidãrlo, e ou Iras pessoas que ele, testemunha, não conheceu; e que o mesmo João da Silva dizia que os reis eram como os tesoureiros dos ausen- tes, pois assim como estes cuidavam só em ver se morria alguma pessoa para tomarem posse de seus bens, assim também o rei; enquanto príncipe, no quc cuidava era namorte do pai, pois que por ela, subindo no trono, se fazia senhor dos bens dos vassalos, e que a conjuração de Minas fora urnn tl'<1l11<1urdidn p<1rnse-lhe tornarem os seus bens, pois 'lue as pessoas conde- nadas eram ricas e que padeceram inocentes; e que Manoel dos Santos, mes- tre rnercenelro, dissera a ele, testemunha, que várias vezes havia corrido com o dito João da Silva Antunes de sua casa, dizendo-lhe que se fosse dali e o não perdesse por ver a liberdade com que falava a respeito da morte do rei de França e revolução dos franceses, e que o já mencionado Antônio Lopes lhe dissera também que tinha tido já algumas disputas com o mesmo João da Silva Antunes por ver a liberdade com que este falava a favor dos france- ses; e que ouvira dizer a Manoel da Silva, homem de negócio e que mora -:J 921:- para o campo, que o dito Antônio Lopes, pela mesma causa, havia chegado .\ll:; lIi11"i:l.l'S do rl'l°L'ridu Jo,in da Silva; l~que também lhe dissera o referido José de Oliveira, que por esta causa havia brigado no cais, junto il caldeira, com o mesmo João da Silva. Emais não disse. E sendo perguntado pelos referimentos que nele fez a testemunha número segundo, Diogo Francisco Delgado, disse que tudo quanto o referente jurou era a pura verdade e que, se ele, testemunha, omitiu algumas causas das que o referente conta em seu juramento ou alterou algumas das circunstâncias foi por não ter a memória fresca delas, por haverem já passado alguns meses depois de sucedidas, e que, agom, ouvindo-as ler, se lembra de ter d íto ao referente por ser verdade que na ocasião em que o médico Jacinto discorria na porta do hospício dis- sera também que desejava agora achar-se em França para ser também gene- ral como outro médico que li) se achava, cujo nome repetiu e dele se não lembra ele, testemunha; que também é certo ter dito ao referente que, estan- do na sua lo]e, junto com o seu oficial dito, Inácio do Amaral, entrara nela um José de Oliveira, oficial de ourives, e dissera que na praia de Dom Manocl se falava a respeito dos frõ1I1CeSeScom paixão por estes, sendo os rnantenedores das práticas o dito João da Silva Antunes e U\11 Francisco Coelho Estolano, ou Solano, e outro homem que assistia na rua do Ouvidor, sem lhe declarar o nome, e que ao depois soube ser o mestre de Retórica, Manoel Inácio Alvarenga, por assim lho dizer o mesmo José de Oliveira, e que as matérias sobre que os três discorriam eram a revolução da França e afirmavam que as novas leis francesas eram justas e santas, e que a liberda- de tinha sido dada por Deus nos homens; e que, entrando nessa ocasião na sua laje um pardo chamado Gregório do Amaral, este se não admirava cio que tratavam, por ter já ouvido o mesmo a um alfaiate, em cu]a casa entra o Dr. Jacinto, e que na mesma tem dito que a lei dos franceses é santa e justa por que é tirada da Sagrada Escritura, e gue os homens podem matar os reis, assim COlHOos reis podem matar nos homens; e que é certo também o haver dito <10 referente que um Cregório do Amaral dizia qLle o alfaiatc Estácio, morador na rua do Duvidar, repetia que o médico Jacinto tinha suas carrinhas de Lisboa, das quais sabia melhor a verdade, por ter assim pussa- do na verdade. E is to que o dito Gregório do Amaral lhe disse fora quando lhe trouxera uma gazeta que ele, testemunha, lhe hnvin emprestado, c de- pois de haver passado a prática que a este respeito houve em sua casa c de que ele, testemunha, depõe em seu juramento; que é igualmente certo ter contado no referente que o mencionado ourives José de Oliveira lhe tinha dito que na botica de um Vitorino de tal, assistente n ••rua do Cano, ouvira a um Francisco Antônio, que foi soldado de artilharia e hoje é entalhador, pro- fl931:0 ferir que a lei dos franceses era boa e que cá se devia praticar o mesmo, e que o CJue os ditos franceses haviam fazer era vir arrasar esta terra; llllcé igual- mente certo ter dito ao referente que os reis u que dcsejuvnm era plll'L'!l1 a campuçil na cabeça, e não cuidavam em aprender como haviam governar, e o mais que o referente declara a este respeito em seu juramento, só com a di fc 1'l'11 I;" de que cle.rcstcmunha, lhe não disscrn "que n mão nunca conho- ce que merece a forca" e só sim "que o mau nunca conhece que merece a forca"; c assim é certa também a circunstância de entrar nessa ocasião um preto com lima cruz e dizer o dito Francisco Antônio, pegando nela: "Esta é que é sagrada, que o rei é como qualquer de nós"; que é outrossim certo ler ele, testemunha, dito ao referente que o Tenente Antônio Fernandcs Macha- do lhe havia contado que Jacó Miliete dissera na sua presença, e na de ou- tros sujeitos, que o padecerem os povas de França e principalmente os de Leão fora por serem realistas e não quererem seguir aos republicanos, e que a gllerr<l que estes faziam era justa, pois os reis da Europa eram uns ladrões, e que o mesmo Antônio Femandes, correeiro e morador na travessa da Candelária, havia acrescentado a isto que parte desta cidade estava mina- da, e que não pudera dormir em toda a noite, considerando no que ouvira ao dito Miliete e se o deveria denunciar, mas que o não fizera por não causar novidade; que também é certo ter dito ao referente que Antônio Gonçalves de Oliveira, morador na rua do Cano, dissera em uma ocasião a ele, teste- munha, na presença de Inácio do Amara), falando a respei to da França, que nesta cidade haviam muitas pessoas que mereciam as línguas cortadas; que, da mesma sorte, é certo ter dito ao referente o que este conta por extenso a respeito da conversação de João da Silva Antunes com um francês que foi criado do Major José Correia, por assim lho haver dito Francisco José, lapidério: que também é certo haver contado ao referente que, encontran- do-se ele, testemunha, com um pardo chamado José Fernandes Teixeira, vindo lima noite do cais e caminhando juntos para a rua Direita, ao passar pela botica do Amarante, que se acha defronte do Carrno, lhe dissera o dito José Fernandes que naquela botica se falava com toda a liberdade na religião e governo, e que nela se decidiam todos os casos e dúvidas, sendo o presidente o professor de Grego; e o mais que o referente refere a este respeito, dizendo- lhe o mesmo José Fcrnnndes que os assistentes crnm um José J'll'into e suu irmão João Pedra, de quem já acima se falou, o filho do defunto Biscoito chamado Mariano de tal, e um lavrante chamado Francisco, coxo de um pé; e que igualmente disse ao referente, por ler passado assim na verdade, qlle depois dele, testemunha, se apartar do referido José Fcrnandcs Tcixcira, tor- nando a passar pela mesma botica, nela vira o professor de Grego em pé c -;1 941:- um oficial ou inferior do terço de São Gonçalo e que ensina meninos, como assim a haver-lhe dito que um dos três que conversavam na praia de D, Munoel. com juào da Silva Antunes c' Francisco Coelho em Mnnocl lmicio, professor de Retórica, o que assim lho afirmou pela rezão que acima expôs, e que igualmente é certo o ter dito ao referente a prática de Manoel da Casto. 5""t05, que o mesmo referente conta por extenso, cuja práticn sustentava o mesmo Manuel da Custa S••ntos com um homem du 1l\i11' que ele, Icslcmu- nha, não conheceu; que também dissera ao referente que Antônio Lopes, acima referido, lhe havia contado que um Aleixo de tal, morador na praia, e um homem que negoceia para o Rio Grande eram muito apaixonados pelos franceses: que tarubérn dissera ao mesmo referente o ter encontrado no cnis os sobrcditos João da Silva Antunes argumentando com Francisco José, tarn- bérn já referido, e qlle este dizia ao mesmo Antunes que ele tinha alguma costela de francês, a que o mesmo respondera que aqueles a quem a assem- bléia mandava justiçar era por serem traidores e não quererem observar as novas leis, e que, se a convenção havia tirado os vasos sagrados e alãmpadas das igrejas, isto não era novo porque EI-Rei D. Sebastião praticara o mesmo quando fora para a África; e que se os outros reis da Europa lhe faziam guerra não era por zelo de religião, mas por dois motivos: o primeiro era para que lhes não sucedesse o mesmo e o segundo por fazerem o que fazem o tesou- reiro e escrivão dos ausentes quando vão à casa de algum defunto, qlle cada um trabalha por furtar o que pode. O que, na' verdade, assim passou e de que melhor lembrado agora depõe, sendo estas as palavras que então profe- riu o dito Antunese não as qlle com alguma variedade expõe ele, testemu- nha, em seu juramento pela rezão já dita de haver passado muito tempo depois deste sucesso, Que também dissera o referente o que passara com o Pe. José de Oliveira, organista da Sé, como aquele relata e finalmente se re- sume, em qlle tudo o que o referente refere a respeito dele, testemunha, é a pura verdade, como já acima expôs; e disse mais: que ele, testemunha, nem sabe, nem tem ouvido dizer que as pessoas de que trata apaixonadas a res- peito da França tenham traçado algum projeto de revolução, Oll intentas- sem pôr em prática o que mostram desejar em seus discursos. E mais não disse, nem do costume. E assinou com o Desernbargador-Chanceler seu de- poimcnto, depois de lhe ser lido c o achar conforme ao quc havia deposto e declarado, E eu, João Manocl Guerreiro de Amorim Pereira, escrivão 110I11l'<I- do para escrever nesta devassa, o escrevi. 5-tl'-!I' ,',J,lIIod Pat.'Üíl Li/llt/i", "" 95 '" (..:;i:.~. t~.~Aos vinte e dois di~s do mês ,~edezell1~)~ode ll1.ilselccen~t)s noventa e :t quatro anos nesta Cidade de São Sebastião do RIO de Janc1I'0 e casas de residências do Descmbnrgudor Antônio Diniz da Cruz e Silva, Chu nccler d,1 Relação da mesma cidade aonde eu, escrivão nomeado para escrever nesta devassa, fui vindo pMa efeito de continuarem a inqpirir-se as testemunhas que na mesma haviam de depor, cujos nomes, cognorncs, morndins, estado, idades e costume são os que ao diante se seguem e eu, joão Munocí GUL'ITL·i- 1'0 de Amorim Pereira, escrivão nomeado para escrever na dita devassa, fiz este termo de assentada e o escrevi. Bernardo Ferrelrn Braga, natural da cidade do Porto e, agora, assis- tente nesta, alferes do terço da Cnndclãria, solteiro, de idade que disse ser de quarenta e cinco anos, testemunha, a quem o Desernbargador-Chancelcr deferiu o juramento dos Santos Evangelhos e prometeu dizer verdade do que soubesse c lhe fosse perguntado. E perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no aula da devassa e mais papéis a ela juntos, disse que há meses, falando com ele, testemunha, um Jacó Miliete, ou Munier, lhe dissera que Antônio Fernandes Machado havia dito, em casa de Manoel de Araújo Le- mos, que Antônio José Castreoto estava fazendo uma relação das pessoas apaixonadas pelos franceses para mandar para Lisboa, e que tivessem cui- dado no que falavam, e que quem comunicara esta notícia a ele, Miliete ou Munier, fora um oficial do dito Manoel de Araújo Lemos; que depois disto, passados alguns dias, um rapaz chamado Manoel Gomes Lisboa, que ele, testemunha, sustenta em sua casa pelo amor de Deus e está aprendendo o ofício de rnerceneiro com Manoel Pereira Landim, lhe viera dizer que o mes- mo Manoel Pereira havia dito, na laje, que estivera para dar com um pa LI em uns homens que estavam conversando a respeí to da França na rua do hos- pício, em uma noite, e l1ue, suposto então não soubera quem eram os ditos homens, porque o rapaz lho não disse, viera depois no conhecimento de que eram o Dr. Jacinto, Manoel Inâcio e o mestre de Grego, e que isto soubera por lho comunicar o seu ajudante, Diogo Francisco Delgado. Disse mais que em uma noite encontrara ele, testemunha, no largo do Carmo, a Antônio Gonçalves dos Santos, ourives e soldado do seu terço; e, perguntando-lhe que noticias havia de França, o mesmo lhe respondera: "Isso está o diabo. Mataram o Rei. Já por aí anda o modo como o mataram.E foi bem feito, segundo as suas leis. E aí andam também". E perguntando-lhe ele, testemu- nha, a rezão por que dizia que a morte fora bem feita, lhe respondera que a rezão era porque o rei havia pedido uma assembléia e que depois se arre- pendem de a haver pedido, por lhe representarem os encargos e penas a que "196 r:. ele ficava também sujeito, e que depois, tornando a pedir, a mesma o obriga- ra a prescntar um juramento paril observar as novas leis da assembléia, e fora perjuro a elas. Disse mais; que, passado tempo, encontram ele, testemu- nha, 11,1 rua dos Ourives, n Antônio Morais Silva, que foi boticário nesta ci- dade, o qual lhe dissera: "Venho louco de ouvir falar a respeito da França, na loje de Manocl José, relojoeiro ao Passageiro Bonito (que assim chamam a Antônio Gonçalves dos 5nn105, de quem ele, testemunha, acima falou), pois falou de forma que o dito Manocl José o correu pela SU,lporta forn, dizendo- lhe ali não tornasse mais". E, ponderando-lhe então ele, testemunha, que ° dito Antônio Gonçalves era um homem material e bronco, o mesmo lhe tor- nara que se engannva, pois que ele era um homem que falava em todas as matérins. Disse mais: que o já mencionado Jacó Milietc ou Muníer lhe disse- ra, em lima ocasião, que o filho do defunto Biscoito, chamado Mariano, lhe tinha mostrado um livro das leis da assembléia, dando-lho para ele ler; e que logo que o dito Munier vira o que ele continha, lho tornara a entregar, dizendo-lhe que o não podia ler, por ter a letra muito miúda, e mais não disse. E sendo perguntado pelo conteúdo nos referimentos que nele faz a testemunha, número segundo, Diogo Francisco Delgado, disse que os mes- mos referirnentos eram verdadeiros e que, quanto ao que passou com An tô- nio Gonçalves dos Santos, já ele, testemunha, o expôs em seu juramento com mais ou menos palavras; e que, pelo que respeita ao que o referente diz ha- ver ele passado com o Capitão José Joaquim Ferreira Barbosa e com o calafate José dos Santos, também é igualmente certo, porque ambos lhe disseram tudo o que o referente declara em seu juramento. E disse, finalmente, que ele nem sabe, nem tem notícia de que algumas pessoas nesta cidade tenham entrado no projeto de formarem alguma revolução. Emais não disse nem do costu- me. E assinou seu juramento com o dito Desernbargador-Chanceler, depois de lhe ser lido e o achar conforme ao que havia deposto e declarado. E eu, João Manoel Guerreiro de Amorim Pereira, escrivão nomeado para escre- ver nesta devassa, o escrevi. Si/Vil Benmrdo Ferreiro Brf{'{o .-õiiõa.... ~!!lnácio do Amaral, natural do Rio de Janeiro, solteiro, com ofício de t2J merceneiro, de idade que disse ser de cincoenta anos, testemunha, a quem o Desembargador-Chancelerdeferiu o juramento dos Santos Evange- lhos e prometeu dizer verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado. ';1 971:' E perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no auto da devassa e mais papéis a ela juntos, disse que sabe pelo ver que em certa ocasião, sain- do ele, testemunha, de ouvir missa da igreja do hospício, encontrara no adro dn mesma em conversação: o médico Jacinto, Manocl Inãclo.João Pedra, o 01'. França e um homem que lhe pareceu ser de negócio, os quais discorriam; e discorreram por largo tempo sobre matérias de religião e da revolução de França, falando como quem se compadecia dos franceses, o dito João Pcdro, mas de modo que bem se percebia que era por escárnio, pois lhe chamou uns coitadinhos, e que era uma nação só; mas isto, de um modo que bem 1110SII",]- va o contentamento da notícia que tinha chegado de um bom sucesso dos rralll:l'Sl.'Scuntrn os ullados, c qlW clns forma is palavras que dl'S l'nliin dissl'- rum nüo ~stll bem lembrado, 1'01' ter jil passado bastante tempo, ainda que imedlatamentc fora dar parte da mesma conversação e do que ela continha ao ajudante do terço da Candelária, Diogo Francisco Delgado, que logo as passal'ôl a escrito e que, sC'fiundo a sua lembrança, passando lima vez pcln sua foj!.'UI1I nlfninlc chnmudo [osé ['~rcira, c clizunclo-Ihe II mestre- ddL', u-s- tcrnunha, Manocl Pereira Landim, que dizia ele das gazetas que haviam chegado; o mesmo lhe respondera: "Eu sei; dizem que há por aí limas carrinhas que falam mais verdade". Disse mais: que não sabe nem tem notí- cias que haja pessoa alguma nesta cidade que tenha entrado no projeto de formar ou concorrer para alguma rebelião. E mais não disse. E sendo per- guntado pelo conteúdo nos referirnentos que nele fizeram as testemunhas do número segundo e terceiro, Diogo Francisco Delgado e Manoel Pereira Landirn, disse que tudo quanto eles continham em substância era verdade, porque, andando ele, testemunha, na averiguação das pessoas que falavam com paixão pelos franceses, logo que descobria alguma cousa ia dar parte disso ao referente Diogo Francisco Delgado, que o reduzia a escrito, como ele, testemunha, já declarou em seu juramento, e que, se nele omitiu alguma cousa destas, fora por esquecimento, em rezão de terem passado nove me- ses depois dos ditos fatos; por quanto em certo como agora se lembra que, estando ele, testemunha, na loje de seu mestre, Manoel Pereira Landim, en- trara nela o ourives José de Oliveira e contara a respeito das conversações que havla na praia de D. Manocl tudo quanto os referentes relatam e ele há aqui por expressado; que igualmente é certo tudo quanto o primeiro refe- rente diz que ele, testemunha, lhe dissera a respeito da conversa que tive- ram no adro do hospício o médico Jacinto, Manoel Inãcio Alvarenga, João Pcdro, um advogado de apelido o França e um homem que lhe pareceu ser ele negócio, que ele, testemunha, nem conhece bem, nem sabe aonde mora, parte de cujo fato já ele, testemunha, declarou em seu juramento e o n;10 -<l9S ". expôs com a específicação com que o referente o relata pelo ter perdido da memória e o referente o ter reduzido a escrito quando ele, testemunha, lho foi imediatamente contar; que igualmente é certo ter dito Francisco Antônio como os referentes juram na presença dele, testemunha, e na de seu mestre Manoel Pereira Ladirn, em certa ocasião, e na própria casa do mesmo Fran- cisco Antônio, que 05 reis o que procuravam era pôr a carapuça na cabeça e não cuidnrem em aprender como haviam governar, e o mais qlle relatam os referentes a respeito da prática sobredlta, com a circunstância de que o dito Francisco Antônio não dissera "que a mão nunca conhece que merece a for- ca" mas sim "o mau nunca conhece que merece forca"; e não está ele lem- brado :;l' LImcsmo Pnmcisco Antônio dis:;e nessu oCil:;i;10 "que (1que SL'fl'z em Frnnçil fora bem feito e era o que se devia fazer", 111<15que é certo o ler dito Lluea guerra que lhe faziam os reis confederados não ern por zelo, mas sim por se livrarem do que lhes havia suceder pelo tempo adiante; e que t.uulu-m I; rcrto o haver entrado l1('ssa ocnsiâo, c n h-mpo que SI'lI lllL'sll'l' rv1.lIllll'II'L'n'ira Laruluu dizia ao reieridu Franriscu Antônio que us reis SI.'III- prc eram sngrndos, um preto com 1I1lWcruz pilra aquele consertnr, L' ter en- tão pegado nela o dito Francisco Antônio e dizer: "Esta é que é sagrada, que o rei é como qualquer de nós"; que, pelo que respeita ao que o referente diz ter ouvido a ele, testemunha, de haver Antônio Gonçalves de Oliveira dito em uma conversação que tivera com ele, testemunha, e seu mestre Manoel Pereira Landim na caldeira, falando a respeito de França, que nesta cidade haviam muitas pessoas que mereciam que lhes cortassem as línguas, ele, testemunha, declara que o não ouviu ao mesmo Oliveira, mas sim ao seu mestre Landim que lhe dissera: "Não ouvistes o que agora disse Antônio Gonçalves a respeí to de pessoas que merecem as línguas cortadas?". A que ele respondera que não tinha ouvido e que com esta circunstância, era ver- dadeiro o referimento; que igualmente é certo o que os referentes dizem a respeito de ter dito Francisco José, lapldãrlo, que João da Silva
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