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RESUMO - Capítulos 28-32 de Formação Econômica do Brasil

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Resumo/Fichamento
Formação Econômica do Brasil
 Celso Furtado
Capítulos 28 a 32
FURTADO, Celso. "28. A defesa do nível de emprego e a concentração da renda". In: Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 232-241.
Capítulo 28: A defesa do nível de emprego e a concentração da renda
O fluxo imigratório no Brasil reforçava a existência de uma reserva de mão de obra; isso permitia que os salários reais não crescessem e os aumentos de produtividade se convertessem em maiores lucros aos empresários do café, o que auxiliou na expansão da economia cafeeira
Os aumentos de produtividade se davam por intensificação das taxas de exploração, e não por melhorias tecnológicas do capital; como os salários não aumentavam por razão da reserva de mão de obra, não havia incentivo aos donos do café para converter seus lucros em capital fixo que aumentasse a produtividade da terra
A lógica, portanto, era de intensificar o uso do capital variável, e aplicar qualquer novo trabalho na expansão das terras, e não na melhoria do cultivo em terras já existentes
Se a quantidade de terras fossem escassa, a lógica do empresário seria de aumentar o investimento por quantidade de terra. A terra, porém, era tão abundante quanto a mão de obra, e fazia mais sentido investir o mínimo possível por plantio, e ter vastas propriedades
Quando a terra usada dava sinais de esgotamento, fazia mais sentido abandona-la e partir pra próxima
"(…). A destruição de solos que, do ponto de vista social, pode parecer inescusável, do ponto de vista de um empresário privado, cuja meta é obter o máximo de lucro de seu capital, é perfeitamente concebível. (…)" (p. 233-234)
Era mais eficiente e racional para o empresário ter vastas terras de plantio de café, onde individualmente cada canto da terra era ineficiente, mas em que o agregado produzia enormes retornos. Sem muito capital pré-acumulado, isso barateava o investimento e aumentava a receita.
Seria esperado que, em épocas de contração econômica, os lucros diminuíssem. Isso não acontecia, entretanto, por razões da taxa de câmbio e na balança comercial desequilibrada
Em períodos de expansão, os aumentos na produtividade do investimento se traduziam não em uma elevação de salários, mas sim em sua manutenção nominal, enquanto a elevação se dava nos lucros dos empresários de café
A procura por produtos importados era alta entre todas as classes sociais. Entre todas elas se partilhava uma procura alta e inelástica por produtos essenciais, como alimentação e tecidos; entre as classes mais altas, havia uma procura altamente elástica por importações de luxo
Nas épocas de contração, a demanda por importações se mantinha, tanto pela manutenção do nível de renda como pela necessidade de seus produtos; esse fator levava a balança comercial a se desequilibrar
A política cambial do Estado tinha o intento de benefício dos empresários de café: se desvalorizava artificialmente o poder de compra externo da moeda
Isso diminuía o preço de exportações brasileiras em moeda externa, o que tornava o café brasileiro mais competitivo
Ao mesmo tempo, os retornos em moeda nacional eram grandes para os empresários
Um efeito secundário, porém, dessa política, é de aumentar o preço em moeda nacional de produtos importados, dos quais a população tinha alta dependência
Comida e tecidos, mesmo inelásticos, eram então menos consumidos por sua alta de preço; enquanto produtos de luxo da elite, mais elásticos, deixavam de ser consumidos
Essencialmente, esse aumento dos preços prejudicava desproporcionalmente à população pobre; "socialização das perdas"
E com os altos lucros dos fazendeiros, também concentrava ainda mais a renda; "privatização dos lucros"
"(…), os empresários exportadores estavam na realidade logrando socializar as perdas que os mecanismos econômicos tendiam a concentrar em seus lucros. (…)" (p. 238)
Assim, ao contrário do que se observa em economias dos países centrais, a renda se concentrava ainda mais em épocas de expansão/crescimento econômico, e não se compensava por isso em épocas de contração
"(…). Pelas mesmas razões por que na alta cíclica os frutos desse aumento de produtividade eram retidos pela classe empresarial, na depressão os prejuízos da baixa de preços tenderiam a concentrar-se nos lucros dos empresários do setor exportador. (…)" (p. 238)
Furtado aponta:
Nos países centrais, a crise freia o progresso e diminui as taxas de lucros e os salários; essa parada possibilita um rearranjo econômico que elimina parte da competição e fortifica a restante para tornar seu processo mais eficiente
Nos países periféricos, a crise afeta de forma bem menor o capital variável para compensar pelo baixo ou nulo aumento dos salários em épocas de prosperidade; o que se freia, no entanto, é a produção e seu montante total: o capital fica estagnado
No caso do café e da economia brasileira, como vimos, logra-se para uma manutenção do nível de emprego, defesa dos lucros e socialização das perdas
FURTADO, Celso. "29. A descentralização republicana e a formação de novos grupos de pressão". In: Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 242-248.
Capítulo 29: A descentralização republicana e a formação de novos grupos de pressão
A depreciação da taxa cambial, em seu efeito de concentração de renda, a redistribuía de várias formas
O setor de subsistência, que tinha sua produção dependente de importações, viu seus custos aumentarem; mas eles vendiam ao setor exportador por preços menores, de forma a não compensar os custos adicionais e beneficiar o setor exportador
Dentro do próprio setor exportador, os trabalhadores nas fazendas eram prejudicados pela taxa cambial; apesar de produzirem parte de seus próprios alimentos, recebiam salário nominal e ainda importavam, vendo seu salário real então descer
Os mais prejudicados foram as populações urbanas que, dependendo quase exclusivamente de importações para subsistências, tiveram a maior alta em seu custo de vida
As receitas das contas públicas também estagnaram por causa da desvalorização
A principal fonte de receita do governo eram as taxas sobre importações (ainda não havia imposto de renda)
Com a contração das importações, as receitas logo diminuíram, o que dificultava a operação das contas públicas
Assim, o governo começou a pagar seus déficits com emissão de moeda, o que puxou um processo inflacionário
Esse processo inflacionário foi um outro mecanismo de concentração de renda, ao prejudicar mais pesadamente as populações assalariadas
"(…), a depressão externa (redução dos preços das exportações) transformava-se internamente em um processo inflacionário." (p. 245)
Há um contraste enorme se compararmos as políticas monetárias descritas aqui com as do fim do império, apenas uma década atrás
O crédito no governo imperial era extremamente restrito, por vezes retraindo ao invés de expandir, restringindo meios de pagamento
Tal modelo era melhor compatível aos interesses de uma sociedade escravocrata; mas em suas últimas décadas, essa sociedade e essa política monetária já mostravam sinais de degradação e necessidade de modernização
Nos últimos anos do império, em que se transitava ao trabalho assalariado e milhões de imigrantes faziam entrada, ficou claro que: "(…). O sistema monetário de que dispunha o país demonstrava ser totalmente inadequado para uma economia baseada no trabalho assalariado. (…)" (p. 245)
Assim que o império desabou, o governo provisório da nova república já tratou de modernizar a política monetária. A quantidade de crédito praticamente quadruplicou nos primeiros anos
"(…). A transição de uma prolongada etapa de crédito excessivamente difícil para outra de extrema facilidade deu lugar a uma febril atividade econômica como jamais se conhecera no país. (…)" (p. 247)
Também nesse final de século XIX, há o crescimento de um poço cada vez maior entre as diferentes regiões do Brasil
Essas regiões, antes com organizações sociais e oliguarquiasde interesses alinhados, iam se distanciando
As diferenças se aprofundaram por razões econômicas: o sul se modernizou mais rapidamente com o trabalho assalariado, centros urbanos e pequenas propriedades agrícolas no extremo sul
Isso acarretou em uma república unificada sob um federalismo, com maior independência entre estados e o poder na mão de oligarcas regionais
"(…). A proclamação da República, em 1889, toma, em consequência, a forma de um movimento de reivindicação da autonomia regional. (…)" (p. 246)
Ao final do século XIX, os interesses claros da classe agro-exportadora enfrentarão desafios por novos grupos de pressão
Classe média urbana
Assalariados urbanos e rurais
Setor agrícola voltado ao mercado interno
Capital estrangeiro
Industriais nascentes
"Se por um lado a descentralização republicana deu maior flexibilidade político-administrativa ao governo no campo econômico, em benefício dos grandes interesses agrícola-exportadores, por outro a ascenção política de novos grupos sociais -- facilitada pelo regime republicano ---, cujas rendas não derivavam da propriedade, veio reduzir substancialmente o controle que antes exerciam aqueles grupos agrícola-exportadores sobre o governo central. Tem início assim um período de tensões entre os dois níveis do governo --- estadual e federal --- que se prolongará pelos primeiros decênios do século XX." (p. 248)
FURTADO, Celso. "30. A crise da economia cafeeira". In: Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 251-262.
Capítulo 30: A crise da economia cafeeira
Pelo final do século XIX, o Brasil encontrou favoráveis condições para a expansão da cafeicultura:
dificuldades de competidores asiáticos na produção de café, dando maior competitividade ao produto brasileiro;
mão-de-obra imigrante massiva e subsidiada pelo Estado (em particular de São Paulo);
inflação por abundância de crédito, abrindo novas terras de forma barata e desvalorizando o câmbio, elevando os preços em moeda nacional;
Com abundância de terras e mão-de-obra bem elástica, os empresários brasileiros escolheram produzir muito café por sua vantagem comparativa no mercado internacional. Pela produção então, e não pela procura, era inevitável o aumento da oferta de café no mercado
"(...). Os empresários das economias exportadoras de matérias-primas, ao realizarem suas inversões, tinham de escolher dentre um número limitado de produtos requeridos pelo mercado internacional. No caso do Brasil, (...) era o café. (...)" (p. 252)
Controlando por volta de 75% da oferta mundial, os cafeicultores brasileiros estavam em posições privilegiadas de controle de preço mesmo em épocas de crise. Podiam, por exemplo, manter os preços altos de forma artificial, retendo parte da produção e assim diminuindo a oferta
Esse controle da oferta ocorreria por parte dos estados, cada vez mais descentralizados, na república; eles comprariam os excedentes de café. Essas compras se dariam com empréstimos estrangeiros, que seriam pagos com tarifas de exportação
Não tardaria até que o governo federal se ajoelhasse aos interesses dos cafeicultores também, pelo menos até 1930
O maior problema desse esquema era que, ao passo que os preços eram mantidos ao alto pelo controle da oferta, o lucro também alto atraía ainda mais empresários para a cafeicultura, que por sua vez, só aumentava a produção e, portanto, puxava a oferta ainda mais
"(...), o mecanismo de defesa da economia cafeeira era, em última instância, um processo de transferência para o futuro da solução de um problema que se tornaria cada vez mais grave." (p. 256)
Essa bolha explodiria eventualmente com a crise mundial de 1929. De 1925 até 29, a produção de café praticamente dobrou; as exportações se mantinham estáveis
A procura no mercado internacional era bem inelástica - se contraía pouco nas depressões, e pouco expandia nos booms. Entretanto, crescia a passos lentos, mesmo com o crescimento significativo de renda real nos países centrais
"Existia, portanto, uma situação perfeitamente caracterizada de desequilíbrio estrutural entre oferta e procura. (...)" (p. 257)
A única solução, a curto prazo, era manter a política de retenção de estoques; e sem possibilidade de expansão que contornasse o problema a longo prazo, a situação era completamente insustentável
O problema, como agora é claro, está nas características ainda coloniais da economia brasileira: a oferta e procura se equilibram quando a procura encontra um mercado saturado, e a oferta tem todos os fatores de produção também saturados. Inevitavelmente, com a produção saturada, os preços caem, favorecendo o lado consumidor
Assim, o controle da oferta, ao criar um desequilíbrio entre oferta e procura, só aprofundaria os problemas presentes
Esses problemas só poderiam ser contornados com políticas que de-incentivassem a expansão da cafeicultura e, simultaneamente, incentivassem os lucros obtidos no café a serem investidos em outros produtos que tivessem igual rentabilidade
Como não existia tal produto, restaria ainda criá-lo artificialmente. Para tanto, alocando recursos usados na compra do café e estimulando as exportações
No entanto, essas são apenas ponderações, e não o que realmente aconteceu. De qualquer forma, não teria sido o bastante para evitar o problema da política do café, apenas teria o desacelerado
Os anos 1920 foram de excepcional prosperidade aos países centrais. Só nos EUA, por exemplo, viu-se um aumento de 35% da renda real em média
Mesmo assim, como já visto, isso não aumentou suficientemente a procura inelástica do café. Se isso não o fazia, nada faria
Os empréstimos externos que garantiam o subsídio da produção garantiram alta renda aos grupos cafeicultores. Esse aumento de renda monetária empurrou a pressão inflacionária, "(...) particularmente grande numa economia subdesenvolvida, (...)" (p. 261)
A maior parte das compras de estoques se deram entre 1927-29, período que também viu entrada de muitos capitais estrangeiros no país
Essa situação conjunta criou uma situação cambial favorável, estimulando, por parte do governo, uma política de conversibilidade
O problema dessa política de conversibilidade - que era subproduto da política de café - é que quando houve a crise de 1929 e a fuga de capitais, a moeda conversível possibilitou que todos esses capitais fugissem do país com todas nossas reservas em ouro
FURTADO, Celso. "31. Os mecanismos de defesa e a crise de 1929". In: Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 263-273.
Capítulo 31: Os mecanismos de defesa e a crise de 1929
Com a crise de 29, e com a produção AINDA crescendo devido as expansões até 29, a crise de superprodução era certa
Era impossível manter a política de retenção de estoques, pois não só nossas reservas estavam esgotadas, era impossível obter empréstimos no exterior, por razão da crise e pelo esgotamento conjunto dos créditos do governo
Quem pagaria a conta? Se abandonasse os cafezais, a conta cairia sob os empresários de café. Mas: "(...), conforme já vimos, a economia havia desenvolvido uma série de mecanismos pelos quais a classe dirigente cafeeira lograra transferir para o conjunto da coletividade o peso da carga nas quedas cíclicas anteriores. (...)" (p. 264)
Como a bolha explodiu, a oferta finalmente cedeu, e o preço do café caiu aceleradamente. Ao mesmo tempo, a procura extremamente inelástica não compensou a queda dos preços. Do lado da oferta e da procura, haviam duas crises interligadas
Isso tudo resultou em uma queda tremenda do valor externo da moeda, o que ajudou a aliviar um pouco o setor cafeeiro
O preço internacional do café chegou a cair 60%, e a moeda teve seu valor depreciado a 40%
"(...). O grosso das perdas poderia, portanto, ser transferido para o conjunto da coletividade através da alta dos preços das importações. (...)" (p. 265)
Mesmo aumentando as exportações, no entanto, não se aliviaria os problemas da superprodução, pois a demanda internacional continuava extremamenteinelástica
O câmbio também nada ajudaria; pois, ao passo que sua depreciação acarretasse em mais aumento da oferta, uma hora o câmbio cairia em ritmo menor que os preços, e a rentabilidade sumiria; nada poderia fazer para defender o dinheiro e interesses dos cafeicultores
A única forma era continuar com uma política de retenção de estoques, desta vez destruindo-os; e seu financiamento não poderia vir de empréstimos externos, mas de impostos internos
Durante os anos 1930, mesmo com a crise e a recuperação nos mercados internacionais, o café segurou-se em uma estabilidade surpreendente, enquanto outros produtos como o açúcar desciam e subiam; de novo, extremamente inelástico
Há de se observar fatos importantes sobre a política de café
Ao proteger o setor exportador, o Estado indiretamente manteve o nível de emprego; não apenas nos setores externos, mas de toda economia interna
"(...). Ao evitar-se uma contração de grandes proporções na renda monetária do setor exportador, reduziam-se proporcionalmente os efeitos do multiplicador de desemprego sobre os demais setores da economia. (...)" (p. 268-269)
A renda nacional também se recuperou da crise antes de muitos países centrais
"É, portanto, perfeitamente claro que a recuperação da economia brasileira, que se manifesta a partir de 1933, não se deve a nenhum fator externo, e sim à política de fomento seguida inconscientemente no país e que era um subproduto da defesa dos interesses cafeeiros. (...)" (p. 273)
FURTADO, Celso. "32. Deslocamento do centro dinâmico". In: Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 274-285.
Capítulo 32: Deslocamento do centro dinâmico
Algumas observações:
A política de café mantinha nosso nível de emprego, e possuía efeito multiplicador em nossa economia, efetivamente aumentando a renda
Esse aumento da renda significa, em um país subdesenvolvido, um aumento no consumo de importações; porque não da renda interna? Pois em um país subdesenvolvido, a demanda de produtos internos tende a ser inelástica
Porém, esse aumento nas importações não poderia ser tão grande, pois a política de café gerava desvalorização da moeda; logo, essa desvalorização seria maior que o incentivo a comprar importações
Isso ajudava a manter nossa balança comercial favorável às exportações, ou seja, superavitária
"Dessa forma, a política de fomento da renda, implícita na defesa dos interesses cafeeiros, era igualmente responsável por um desequilíbrio externo que tendia a aprofundar-se. (...)" (p. 275)
Ao se comparar o poder aquisitivo da moeda brasileira entre 1929 e 1931, no exterior e interior, vê-se que diminui muito mais lá fora que cá dentro
Isso ocorria por pressão externa dos países centrais. Ao pressionar para baixo o valor da moeda nacional, aumentavam os preços das importações, o que pressionava o coeficiente de importações
Nessa pressão, espera-se que os preços das exportações brasileiras também se elevassem, assim alterando a balança comercial brasileira de forma deficitária, ou seja, nos interesses internacionais
"(...). Essa situação reflete, até certo ponto, o esforço feito pela estrutura econômica para corrigir o desequilíbrio externo criado pela manutenção de um elevado nível de atividade dentro do país. Que destino tomava essa renda, que, devendo ser despendida no exterior em importações, ficava represada dentro do país pelo mecanismo corretor da baixa do referido coeficiente? (...)" (p. 276)
Evidente, essa renda iria pressionar sobre os produtores internos; i.e. no capital nacional, e não no internacional; isso era contra os interesses do centro
Nos países periféricos, como foi no Brasil, épocas de depressão tendem a, com a diminuição da renda, diminuir as importações e aumentar a procura da produção interna. No Brasil, isso ocorreu de 1929 até meados dos anos 1930. Sabemos bem que nossa produção interna vai sim aumentar muito
Essa pressão na procura interna privilegia não o setor exportador, i.e. cafeicultores, mas a indústria, voltada ao consumo interno
Uma nova situação surge na economia brasileira, uma de acumulação interna de capital industrial, que não é possível numa hegemonia dos donos do café
"(...). A precária situação da economia cafeeira, que vivia em regime de destruição de um terço do que produzia com um baixo nível de rentabilidade, afugentava desse setor os capitais que nele ainda se formavam. (...)" (p. 277)
Parte desses capitais foi para outros setores exportadores, como os do algodão; mas a maior parte focou-se na indústria, que cresceu muito nos anos que se seguem, recuperando-se rapidamente da crise capitalista e ganhando alta rentabilidade nos anos seguintes
Consequência da expansão do mercado interno e da indústria é o aumento da demanda por bens de capitais (D1), o que acarreta na instalação de tal nascente setor no país
Em países periféricos, há enorme dificuldade de instalação de tal indústria: "(...), as indústrias de bens de capital são aquelas com respeito às quais, por motivos de tamanho de mercado, os países subdesenvolvidos apresentam maiores desvantagens relativas. (...)" (p. 279)
Normalmente, é mais fácil importar os bens de capital do que os produzir, gerando um ciclo vicioso
Entretanto, esse ciclo não ocorreu no Brasil: "(...). A procura de bens de capital cresceu exatamente numa etapa em que as possibilidades de importação eram as mais precárias possíveis." (p. 280) 
Mesmo com a depressão externa, nossa renda aumentou, as importações diminuíram, o D1 se formava com força, tudo muito bem etc.
"(...). Aqueles países de estrutura econômica similar à do Brasil, que seguiram uma política muito mais ortodoxa, nos anos de crise, e ficaram na dependência do impulso externo para recuperar-se, chegaram a 1937 com suas economias ainda em estado de depressão." (p. 281)
Que ocorreu aqui, que fez nosso país fugir do que se esperava acontecer, como era normal em países periféricos?
São resultado das catastróficas políticas cafeeiras, que satisfaziam uma oligarquia preocupada apenas com os próprios interesses, e que nada ligava se o Estado lhes comprava os estoques com dinheiro externo ou financiamento de crédito
Quando paramos de usar recursos externos e buscamos recursos internos, a procura interna aumentou; as indústrias pequenas já existentes foram aproveitadas, e as circunstâncias de importações excepcionais nos protegeram do ciclo típico de países periféricos
Consequência dos altos preços de produtos que antes importávamos foi a criação de indústrias destinadas a satisfazer essa procura i.e. "substituição de importações"
Em economias agroexportadoras, não há conflito ou concorrência entre os setores de exportação e produtores internos, e assim, a taxa cambial, mesmo que em momentos favorecessem um setor acima do outro, não era causa de mudanças ou conflitos estruturais
A partir do momento que os interesses de um setor conflitem com o outro, a taxa cambial regula uma mudança estrutural enorme na economia brasileira
"(...). Perdia-se, assim, um dos mecanismos de ajuste mais amplos de que dispunha a economia e ao mesmo tempo um dos instrumentos mais efetivos de defesa da velha estrutura econômica com raízes na era colonial." (p. 285)

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