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UNESP
 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
 “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
Faculdade de Ciências e Letras
Campus de Araraquara - SP
PCC
Janaína Carvalho P. da Silva – Noturno
Waldemar Mariano ( termine de escrever aqui) - diurno
O apoio mútuo é a obra mais representativa da personalidade intelectual de Kropotkin. Nela se encontram expressados igualmente o homem da ciência e o pensador anarquista, o biólogo e o filósofo social, o historiador e o ideólogo.
Kropotkin deixa claro a sua crítica à cruel competição por meios de subsistência entre os animais da mesma espécie como sendo o fator determinante da Evolução, ideia supervalorizada por vários darwinistas de sua época, embora nem sempre pelo próprio Darwin. Tal conceito de “luta pela sobrevivência” foi concebido com sentido estreito pelo economista Thomas Malthus, foi aplicado na biologia para explicar a Evolução e, mais tarde, na sociologia para justificar, por exemplo, os horrores de uma gruerra, o que Kropotkin considera abuso da terminologia de Darwin. Ele defende a importância do instinto de apoio mútuo como um dos principais fatores de Evolução progressista, tanto entre animais quanto entre seres humanos. É este aspecto que ele enfatiza nessa obra toda, não para desmerecer a autoafirmação (o qual vai muito além de simples individualismo), nem para criar uma idealização fantasiosa, e sim, para apresentar a importância da cooperação que é tão subestimada.
Kropotkin descreve a ocorrência do apoio mútuo desde nas sociedades de insetos, passando por grupos de animais da mesma espécie até chegar às sociedades humanas. O autor procurou demonstrar que, embora exista competição entre espécies e entre sociedades humanas, dentro de uma mesma espécie e uma mesma sociedade o apoio mútuo é a principal força a garantir a sobrevivência do grupo. Com isso, pretendia combater o darwinismo social, então prevalente na Europa.
Um exmplo muito forte citado no livro é a da formiga pois a força do formigueiro reside na coletividade. A formiga não possui uma carapaça protetora como um animal individual, sua cor não se camufla na floresta. Seus ovos são iguarias para diversos
animais, e sua picada quando única, não oferece perigo a outros animais. Ao citar o exemplo de Forel, que ao esvaziar um saco de formigas em um arbusto com diversas outras espécies de insetos e animais, observa grilos, gafanhotos, besouros, aranhas e
até ninhos de vespas serem abandonados diante o ataque coletivo, comenta:
“E se as formigas – sem contar o desenvolvimento ainda superior das térmites – está no topo de toda a classe dos insetos por suas
capacidades intelectuais, se sua coragem só é igualada pela dos
vertebrados mais corajosos e se seu cérebro – usando palavras de
Darwin – “é um dos átomos de matéria mais maravilhosos do mundo,
talvez mais ainda do que o cérebro humano”, isso não se deveria aofato de a ajuda mútua ter tomado inteiramente o lugar da luta de todos contra todos em suas comunidades? “(KROPOTKIN, 2009,
pg.28) 
Já em 1846 Marx e Engels diziam que "as idéias da classe dominante são em cada época as idéias dominantes [...], a classe que detém os meios de produção material a sua disposição tem ao mesmo tempo o controle dos meios de produção mental" e que portanto "as idéias dominantes são mais que a expressão ideal das relações materiais dominantes". A atual teoria da evolução denominada "teoria sintética da evolução", desenvolvida nos anos 30 do século passado, e renovada nos anos 80, não é mais que "a expressão ideal das relações materiais dominantes".
No início não se mostrou interessado diretamente pelo estudo da natureza, e tampouco havia desenvolvido então seus ideais. Ambas as coisas ocorreram paralelamente quando foi nomeado secretário de Geografia Física da Sociedade Imperial e enviado a Sibéria. Isto ocorreu em 1870. Em 1871 ocorreu a Comuna de Paris, influenciando-o definitivamente em suas idéias, e a experiência siberiana. Segundo suas palavras, a Comuna lhe serviu para dar-se conta que o paradigma Darwinista da luta de todos contra todos, simplesmente não era universal: "Kessler, Severtsov, Mensbir e Brandt, quatro zoólogos russos muito importantes, e também, Poliakov, um pouco menos conhecido, e por fim, seu servidor, sendo um simples viajante, enfrentamos a teoria de Darwin que superstima a luta dentro da mesma espécie. Aqui (na Sibéria) o que vemos é um campo de ajuda mútua, enquanto que Darwin e Wallace vêem somente a luta pela sobrevivência. Creio que tal fato pode ser explicado da seguinte maneira: os zoólogos russos investigaram enormes zonas continentais na zona de clima temperado, onde fica evidente e com maior clareza a luta da espécie contra as inclemências da natureza (clima frio muit o adiantado, tormentas de neve, inundações, etc.), enquanto que Wallace e Darwin pesquisaram majoritariamente as costas de países tropicais onde as espécies são mais abundantes".
 Uma interpretação que rechaça justificações naturalistas do neo-liberalismo próprias da teoria sintética da evolução: "a fórmula biológica do territorialismo se traduz facilmente nos rituais da propriedade privada" ou "um código ético baseado no código genético, e por tanto justo, é esperável" ambas as frases do fundador da sociobiologia, Edward O. Wilson, "tratemos de ensinar a generosidade e o altruísmo, porque nascemos egoístas" frase escrita por Richard Dawkins em seu "Gen egoísta" (1976) e "os homens estão decidida superioridade sobre as mulheres em muitos aspectos" e que por eles "as faculdades mentais do homem estarão acima das faculdades das mulheres" escrita por Darwin em sua "Origem do Homem". Piotr Kropotkin rechaça profundamente estas interpretações, que seu coetâneo T. H. Huxley se encarregou de defender em sua época.
Kropotkin em nenhum momento rechaçou que pudesse existir uma "luta pela sobrevivência" e uma "sobrevivência dos mais aptos". O que fez foi expandir a teoria da evolução até uma área ainda em desenvolvimento. O próprio Darwin, até o final de sua vida, foi incorporando mais modos de evolução ante a constatação que mera "luta pela sobrevivência" não podia dar conta de todos os fenômenos observados. Kropotkin se encarregou de melhorar a teoria evolutiva da seguinte forma. Estabeleceu a seguinte dicotomia:
I) Organismo contra organismo no caso de recursos limitados, o qual nos levaria à competição ("luta pela sobrevivência") e,
II) Organismo contra ambiente, no caso de ambientes rigorosos, o que levaria à cooperação.
Em palavras do próprio Kropotkin: "a sociabilidade é uma lei da natureza como é a luta mútua".
Kropotkin diz que “os seres humanos foram sociáveis mesmo no “estado de natureza” e que foi a falta de conhecimento, e não a má índole natural humana, a responsável por levá-los a todos os horrores da história inicial.
Kropotkin descreve vários destes povos, os quais denomina de “selvagens”, para mostrar a vida social harmoniosa, as regras de conduta respeitadas, a identificação da vida individual com o da própria tribo e o conjunto de moralidade desenvolvido deles (amizade, gratidão, compaixão, lealdade, generosidade, etc). Portanto, para este pensador russo, Darwin estava correto quando viu, nas qualidades sociais do homem, um dos mais importantes fatores de evolução. Porém, os “selvagens” são incompreendidos pelos europeus por ações como o infanticídio, o parricídio e o canibalismo. Kropotkin explica que o primeiro ocorre apenas na impossibilidade de criar a criança, o segundo é muitas vezes um pedido honroso do próprio pai para evitar a escassez de alimento e o terceiro surgiu por causa de condições adversas e extrema necessidade. Muitas vezes, esses atos adquiriram caráter religioso e permaneceram como cultura e costume. E a vingança de sangue seria resultado da concepção de justiça deles, não se tratando de prazer pessoal. Ele defende a importância da unidade na tribo que teria sido desestabilizada apenas mais tarde com o surgimento de grupos separados dentro dela, como a classe dos feiticeiros, dos guerreiros e a família. No entanto,os desentendimentos e as guerras não seriam o estado normal da existência da maioria, pois paralelamente, a vida cotidiana seguia seu rumo.
Esta acusação contra Darwin é injusta por duas razões. Primeiro, a natureza (não importa quão cruel em termos humanos) não fornece qualquer base para nossos valores morais. (A evolução pode, no máximo, ajudar a explicar porque temos sentimentos morais, mas a natureza não pode nunca decidir por nos se qualquer ação em particular é certa ou errada.) Segundo, a "luta pela existência" de Darwin é uma metáfora abstrata, não uma declaração explícita sobre uma batalha sangrenta. O sucesso reprodutivo, o critério da seleção natural, opera em muitos modos: a vitória em batalha pode ser um caminho, mas a cooperação, a simbiose, e a ajuda mútua podem também assegurar sucesso em outros tempos e contextos. Em uma famosa passagem, Darwin explicou seu conceito de luta evolucionária (Origin of Species, 1859, pp 62-62):
Eu uso este termo e um sentido amplo e metafórico, incluindo a dependência de um ser sobre outro, e incluindo (o que é mais importante) não só a vida do indivíduo, mas o sucesso em deixar descendência. Dois animais caninos, em um tempo de escassez, podem realmente ser ditos lutar um com o outro por quem conseguirá comida e viver. Mas uma planta à margem de um deserto é dita lutar pela vida contra a seca... Como visco é disseminado por pássaros, sua existência depende de pássaros; e pode ser metaforicamente dito lutar com outras plantas frutíferas, a fim de tentar os pássaros a devorarem e, assim, disseminarem suas sementes, em vez daquelas de outras plantas. Nesses diversos sentidos, que passam de um para o outro, eu uso, por conveniencia, o termo geral luta pela existência.

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