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Teoria Geral do Câmbio e Direito Cambiário

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TEORIA GERAL DO DIRETO CAMBIÁRIO 
 TÓPICOS 
 
 Crédito 
 Título de Crédito 
 Crédito X Título de Crédito 
 Histórico 
 Direito Cambiário 
 Atributos e Princípios 
Requisitos 
 
CRÉDITO 
O termo crédito vem do latim creditum, decorrente de 
credere, no sentido de confiar, ter fé. 
 
Economicamente, crédito é a negociação de uma obrigação 
futura. É a permissão de usar o capital de outrem (Stuart 
Mil). 
 
Juridicamente, crédito é a operação mediante a qual 
alguém efetua uma prestação presente, contra a promessa 
de uma prestação futura ( J. X. Carvalho de Mendonça). 
CRÉDITO 
O crédito possui 02 elementos: 
- confiança = que consistem na crença que o credor 
deposita no devedor de que ele preenche os requisitos 
morais básicos à efetivação do crédito e, a certeza de que o 
devedor possui capacidade econômico-financeira para 
pagar. 
- tempo = período entre o momento do cumprimento da 
prestação por quem concede o crédito e o momento da 
satisfação pelo beneficiário. 
 
O crédito pode ser: 
- Público = quando o devedor é a União, 
Estado, município ou DF. 
- Privado = quando é outorgado a 
particulares. 
TÍTULO DE CRÉDITO 
O conceito que melhor define título de crédito é de 
Cesare Vivante: "Título de Crédito é o documento 
necessário ao exercício do direito literal e autônomo 
nele contido". 
 
O art. 887 do CC reproduz este conceito ao dispor que 
Título de crédito é o documento necessário ao exercício do 
direito literal e autônomo, cujos efeitos estão subordinados 
aos requisitos legais. 
 
 O título de crédito é documento que 
corporifica um crédito, sendo considerado 
bem móvel (art. 82 do CC). 
Cambial é o título de crédito que encerra 
ordem ou promessa de pagamento, a 
prazo ou a vista. Representa um valor a 
ser realizado ou materializado em 
dinheiro (mercadoria universal), em 
moeda circulante, a ser exigida. 
TÍTULO DE CRÉDITO 
 
O emitente (sacador) do título obriga-se: 
 - contratualmente com o credor primitivo; 
 - unilateralmente com os demais credores (terceiros). 
No direito brasileiro a emissão do título de crédito é tida 
como declaração unilateral de vontade. 
 
TEORIAS DA OBRIGATORIEDADE QUANTO À 
FORMAÇÃO DO TÍTULO: 
1- Teoria da Criação – o direito deriva tão 
somente da criação do título, a partir do 
lançamento da declaração cambial originária, 
ou seja, a assinatura do seu emitente. Assim, o 
eventual desapossamento do título por motivos 
alheios à vontade do seu criador, seja em 
virtude de furto, roubo ou perda, não faz 
desaparecer a obrigação do subscritor. Subsiste 
a obrigação, mesmo que o título circule contra 
a vontade do emissor. 
 
TÍTULO DE CRÉDITO 
 
O Brasil adotou um meio-termo entre 
elas. No art. 905 do CC temos a teoria 
da criação, e no art. 909 a teoria da 
emissão. 
 
TEORIAS DA OBRIGATORIEDADE QUANTO À FORMAÇÃO DO 
TÍTULO: 
2- Teoria da Emissão – proclama que a simples 
assinatura do título não faz surgir vínculo obrigacional 
algum, ficando na dependência da sua colocação voluntária 
em circulação. Sem emissão voluntária não se forma o 
vínculo. Se o título foi posto fraudulentamente em 
circulação não subsiste a obrigação. Assim, se circula contra 
a vontade, pode ser reavido, só não do terceiro de boa-fé. 
 
CRÉDITO X TÍTULO DE CRÉDITO 
O crédito não serve como agente de produção, ele apenas 
transfere riqueza de uma pessoa (devedor) para outra 
(credor). 
 
O título de crédito é o documento que representa a 
obrigação pecuniária. 
 
São três as características que distinguem 
os títulos de crédito dos demais 
documentos representativos de direitos e 
obrigações: a) o fato dele referir-se 
unicamente a relações creditícias; b) sua 
facilidade na cobrança do crédito em juízo 
(não há necessidade de ação monitória); 
c) a fácil circulação e negociação do 
direito nele contido. 
HISTÓRICO 
Os títulos de crédito tiveram sua origem na Idade Média, 
provavelmente no século XIII, surgindo com a exigência de 
um documento para firmar acordos financeiros. 
Com as feiras de mercadores existentes neste período, foi 
necessário ter uma forma de trocar os vários tipos de 
moeda que circulavam, além de que na época os assaltos 
eram freqüentes. 
Havia dois tipos de câmbio: 
- Manual  troca entre diversas espécies 
de moedas  manutenção do dinheiro, 
implicando os riscos até sua troca 
efetiva. 
- Trajetício  este câmbio tornou a 
circulação de moedas mais segura, pois, 
difundiu o uso de carta, de “banqueiros” 
conhecidos, representando os valores da 
transação e servindo como moeda 
(moeda-documento-moeda). 
HISTÓRICO 
A partir do século XV, os títulos de crédito foram evoluindo 
em diferentes lugares da Europa, buscando satisfazer os 
interesses dos comerciantes da época. 
 
- Período Italiano: não tinha documento que provasse a 
existência dos títulos de crédito, mas neste período (até 
1673) o comércio funcionava com base na confiança, ou 
seja, usava-se do câmbio trajetício apenas para trocar 
documento por moeda. 
 
- Período Francês (de 1673 a 1848): os 
títulos de crédito passam a ser 
instrumento de pagamento, teriam que 
apresentar causa específica e provisão de 
fundos, ou seja, apenas com saldo 
disponível o título seria pago. 
 
 
HISTÓRICO 
- Período Germânico (de 1848 a 1930): surgiu o título de 
crédito propriamente dito. Nessa época, o título se tornou 
abstrato, não tinha causalidade e nem exigência de 
fundos, mas existia o aceite, dado pelo sacador, 
atribuindo responsabilidade de pagamento ao sacado. 
 
- Período Uniforme: realizadas conferências para elaborar 
uma legislação uniforme, realizadas na cidade de Haia, 
Suíça. 
 A uniformização das leis dos títulos de 
crédito aconteceu no período moderno 
(1930), nesta fase, os países se 
reuniram para criar uma legislação 
única, que foi denominada Lei Uniforme 
de Genebra. O Brasil incorporou esta lei 
apenas em 1966, através de dois 
Decretos, sendo que antes a nossa lei 
era pelo Decreto 2.044/1908. 
DIREITO CAMBIÁRIO 
O conjunto de normas que regem os títulos de créditos são 
chamados de DIREITO CAMBIÁRIO OU CAMBIAL, ramo do 
Direito Empresarial. 
Os títulos de crédito se diferenciam dos documento comuns 
em razão de suas características, sendo disciplinados no 
Título VIII do Livro I (Direito das Obrigações) da Parte 
Especial do CC (arts. 887 a 926). 
 
No nosso ordenamento coexistem leis 
próprias de cada título de crédito. 
ATRIBUTOS E PRINCÍPIOS 
Os títulos de crédito possuem 02 atributos: 
- negociabilidade = facilidade de circulação. 
- executividade = cobrança judicial facilitada. 
 
A simples documentação do crédito não teria maiores 
consequências, não fossem os princípios que regem os 
títulos de crédito, os quais permitem uma circulação rápida 
e simples de riquezas. 
 
Da definição de Vivante e do art. 887 do CC extraem-se 03 
princípios cardeais dos títulos de créditos: da literalidade, 
da cartularidade e da autonomia. 
Alguns autores colocam também: princípio 
da abstração, da solidariedade, da 
proteção ao portador de boa fé, da 
garantia de circulação, dentre outros. 
PRINCÍPIOS 
I – Princípio da Literalidade: A cambial é literal, porque 
sua própria existência, conteúdo e modalidade dependem 
exclusivamente do teor do documento ou da cártula, vale o 
que está escrito. 
O direito representado pelo título tem seu conteúdo e seus 
limites determinados nos precisos termos do título, vale 
dizer, somente o que está escrito no título deve ser levado 
em conta, sendo nulo qualquer outro documento apartado 
em relação ao portador do título. 
Todavia, somente terá natureza de título de crédito aquelas 
obrigações previstas no título e às quais a lei conferea 
natureza típica de direito cambial. 
Assim, não há obrigação fora do título e nem tudo que está 
no título terá automaticamente a natureza e eficácia 
própria dos TC. 
A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a 
sua validade como título de crédito não implica a 
invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem (art. 888 
do CC). 
 
PRINCÍPIOS 
II – Princípio da Cartularidade ou Incorporação: o 
título é o sinal imprescindível do direito, isto é, a posse do 
título é a condição mínima para o exercício do direito nele 
mencionado, só quem possui a cártula (o documento) 
pode exigir o cumprimento do direito documentado. O 
documento é pois, fundamental (necessário) para o 
exercício dos direitos nele mencionados. Art. 893 do CC. 
Tal princípio encontra inúmeras 
aplicações, dentre elas, a exigência de 
apresentação do original para instruir 
ação executiva. A apresentação de 
cópia autêntica não garante que o 
apresentante seja o efetivo possuidor 
do título. Além disso, quem paga o 
título deve exigir que o título lhe seja 
entregue, ou seja, inutilizado, a fim de 
evitar a circulação do crédito para 
terceiro de boa-fé, que terão o direito 
de cobrar-lhe a importância consignada 
no título. 
PRINCÍPIOS 
Sem o título não se exerce o direito nele contido, e, em 
regra, o pagamento é feito no domicílio do devedor. 
 
III – Princípio da Autonomia: As obrigações 
representadas em um mesmo título são autonomas e 
independentes uma das outras. 
Se qualquer delas estives viciada (for nula, anulável ou 
inexigível), o vício não compromete a validade e eficácia 
das demais obrigações. 
PRINCÍPIOS 
IV – Princípio da Abstração: É a separação do negócio 
original, da causa do título por ela originado. O título é 
abstrato não porque inexiste obrigação jurídica fundamental, 
mas sim porque desta se desligou. Por este motivo é que não 
deve ser feita qualquer alusão à relação jurídica que o 
antecedeu (empréstimo, doação, compra e venda etc). 
Há títulos que expressamente declaram 
a relação jurídica que a eles deu casa. 
Exemplo: duplicata. 
A duplicata só pode ser emitida em 
decorrência de uma venda de 
mercadorias ou prestação de serviços, 
mas, após ser colocada em circulação, 
torna-se independente do negócio. 
A abstração somente surge quando o 
título é colocado em circulação. 
PRINCÍPIOS 
V – Princípio da Solidariedade: está expressamente 
consagrado no art. 47 da Lei Uniforme. 
Na cambial pode haver solidariedade comum (ou civil – art. 
283 do CC) e solidariedade cambiária (também chamada 
de imprópria ou solidariedade solta). 
 
A solidariedade cambiária, vive em estrita consonância com 
o princípio da autonomia e o portador tem o direito de 
exigir o cumprimento por inteiro da promessa contida no 
título de qualquer obrigado, tenha este a posição que tiver, 
individual ou coletivamente. 
São devedores solidários perante o portador todos aqueles 
que se responsabilizaram cartularmente: sacadores, 
aceitantes, endossadores e avalistas. 
PRINCÍPIOS 
VI – Princípio da Proteção ao Portador de Boa fé: 
Portador de boa fé é o próprio credor ou o beneficiário 
imediato do título, que pensa ser este bom, assim como 
o é o terceiro beneficiário (geralmente endossatário), 
entendendo-se de boa fé não só o que desconhece a 
relação obrigacional que deu ensejo ao título (negócio 
fundamental), assim como aquele que, a despeito de a 
conhecer, a tem como lícita. 
Ao terceiro, a quem é transferido o 
título, não importam as relações 
anteriores, pois, com a própria 
transferência, passa ele a ser titular 
de relações distintas com os 
obrigados que o antecederam e seus 
avalistas e com o devedor principal e 
seus avalistas. A aparência do título 
sendo boa é o que basta. 
PRINCÍPIOS 
VII – Princípio de Garantia de Circulação: A garantia 
da circulação é benefício estabelecido em favor do credor e 
de todos os portadores que o sucederem.A cambial 
destina-se à circulação, desempenhando papel análogo ao 
dinheiro ou como veículo de crédito. 
O princípio geral é o da transferência 
por via de endosso (art. 11 da Lei 
Uniforme). 
 
 
REQUISITOS MÍNIMOS DE TODO 
TÍTULO DE CRÉDITO 
 
 
- Data de emissão; 
 
- Indicação precisa dos direitos que 
confere; 
 
- Assinatura do emitente;

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