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39 1.2.EFEITOS DE ELETRÓLITOS EM EQUILÍBRIOS 1.2.1. A PRESENÇA DE ELETRÓLITOS ESTRANHOS OU INDIFERENTES EM REAÇÕES QUE ATINGEM A “CONDIÇÃO DE EQUILÍBRIO” A presença de eletrólitos estranhos ou indiferentes em reações que atingem a “Condição de Equilíbrio” afeta de modo muito especial as concentrações das espécies envolvidas no equilíbrio. Se for considerado, como exemplo a precipitação de íons, a solubilidade de um sólido iônico pouco solúvel, geralmente aumenta quando eletrólitos estranhos são adicionados à água em que se forma a suspensão no processo de formação do precipitado. Este fenômeno é ilustrado pela Figura 2.1. a seguir, mostrando as curvas de solubilidade molar em função da concentração de KNO3 para três sais iônicos pouco solúveis. Efeitos semelhantes podem ser observados com outros sais como perclorato de sódio e brometo de lítio, sais solúveis que não contêm qualquer um dos íons que formam o precipitado. A B C Ba(IO3)2 (Mol L-1 x 104) AgCl (Mol L-1 x 104) BaSO4 (Mol L-1 x 104) Figura 2.1. Curvas de solubilidade molar em função da concentração de KNO3 para os sais iônicos pouco solúveis Ba(IO3)2, AgCl e BaSO4 (A) (B) Figura 2.2. Blindagem eletrostática de íons positivos (A) e negativos (B), durante a formação de precipitados Em Equilíbrio Químico, o EFEITO DE ELETRÓLITOS, é também designado de EFEITO SALINO. 40 O efeito tem como causa a atração de eletrostática entre os íons do eletrólito e os íons de carga oposta de cada caso de precipitação. A Figura 2.2 mostra uma representação da blindagem eletrostática responsável pelos efeitos de aumento de solubilidade. Considerando que as forças eletrostática estão associadas a todas as cargas dos íons, isoladamente, sua atuação é, aproximadamente, a mesma, e os três sais exibem efeitos essencialmente idênticos, no equilíbrio de precipitação. Assim, os íons indiferentes ou estranhos à reação de precipitação, alteram as características de cada íon, provocando um efeito sensível na solubilidade, fazendo com que, pela ação da “blindagem eletrostática”, ocorra um efeito de menor exposição das cargas iônicas, resultando no aumento da solubilidade do precipitado. Neste ítem do Capítulo 1, serão descritas condições sob as quais este efeito salino atua ,significativamente, como deve ser considerado, apropriadamente, em magnitude e, como podem ser feitas correções quantitativas para os efeitos de blindagem eletrostática. Não só em termos de Equilíbrio de Precipitação, mas para as diferentes situações características de estado de equilíbrio iônico, envolvendo reações ácido-base, óxi-redução e complexação. 1.2.2. VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM A MAGNITUDE DO EFEITO SALINO A situação de qualquer equilíbrio envolvendo a participações iônicas é influenciada pela carga dos reagentes e dos produtos e, por uma propriedade característica da solução designada por força iônica (). É questionável esta terminologia, que poderia ser poder iônico ou potência iônica, mas está aceita como a melhor caracterização da propriedade intrinsecamente associada à carga e concentração dos íons em solução. 1.2.3. O EFEITO DA CARGA DOS REAGENTES E PRODUTOS Estudos extensivos sobre a natureza de equilíbrios iônicos, revelam que a magnitude do efeito do eletrólito é altamente dependente das cargas dos íons participantes de um equilíbrio. Quando apenas espécies neutras estiverem envolvidas, a 41 situação de equilíbrio é essencialmente independente de concentração dos eletrólito. Com participantes iônicos, a magnitude do efeito eletrolítico aumenta com carga de dos íons envolvidos no equilíbrio e com a carga dos íons indiferentes ou estranhos ao equilíbrio iônico. Esta generalização é válida e é demonstrada pelas três Curvas de Solubilidade da Figura 2.1. Por exemplo, nota-se isso em uma solução 0,02 Mol.L-1 de nitrato de potássio. A solubilidade do sulfato de bário, com seu par de íons duplamente carregados, aumenta de um fator de dois, comparando-se com sua solubilidade em água pura. Esta mesma mudança na concentração de eletrólito aumenta a solubilidade do iodato de bário por um fator de apenas 1,25. No caso do cloreto prata, o aumento é de apenas 1,2. 1.2.4.O EFEITO DE FORÇA IÔNICA Considerando-se uma reação representada pela Equação 1, a seguir, em que se caracteriza o estado de equilíbrio genérico: aA Za + bB Zb + cC Zc ... pP Zp + qQ Zq + rR Zr ... (1) [P Zp ] p [Q Zq ] q [rR Zr ] r ... Sendo KEQ = [A Za ] a [B Zb ] b [C Zc ] c (2) [P Zp ] p [Q Zq ] q [rR Zr ] r ... , [A Za ] a [B Zb ] b [C Zc ] c ...são as concentrações dos íons A Za , B Zb , C Zc ... , P Zp , Q Zq , R Zr ... com os respectivos Coeficientes Estequiométricos a, b, c, p, q e r..,: e Za, Zb, Zc, Zp, Zq e Zr ; as respectivas cargas dos íons. Estudos de Sistemáticos mostram que o efeito de eletrólito adicionado ao meio reagente, no equilíbrio, independente da natureza química do eletrólito, mas depende de uma propriedade da solução chamado a FORÇA IÔNICA. Esta parâmetro controlável de uma solução eletrolítica é definido como: FORÇA IÔNICA = = ½ {[A] Za 2 + [B] Zb 2 + [P] Zc 2 ...} (3) 42 Exemplo 2.1 Calcule a força iônica de uma solução (a) 0.1 Mol.L-1 de KNO3 e (b) 0.1 Mol.L-1 de Na2SO4. (a) Para a solução de KNO3, [K +] e [NO3 -] é 0.1 Mol.L-1 e: = ½ {[K+] 1 2 +[NO3 -] 1 2 } =1/2(0.1 x 12+0.1 X 12) = 0.1 Mol.L-1 (b) Para a solução de Na2SO4 [Na +] = 0.2n Mol.L-1 e [SO4] = 0.1 Mol.L-1. Então: = ½ {[Na+] 1 2 +[SO4 =] 2 2 } =1/2(0,2. x 12+0.1 X 22) = 0.3 Mol.L-1 Exemplo 2 Qual a força iônica de uma solução que 0.05 Mol.L-1 em KNO3 e, simultaneamente, 0.1 Mol.L-1 em Na2SO4? = ½ {[Na+]1 2 +[NO3 -]1 2 + [Na+]1 2 [SO4 =]2 2 } =½ (0.05x12+0.05x 12+0.2 x 12+0.1 x22) = 0.35 Mol.L-1 É fácil observar nestes dois exemplos, que a força iônica de uma solução de um eletrólito forte formado apenas por dois íons, igualmente carregados, com uma carga unitária, é idêntica à concentração analítica total do sal. Porém, se a solução contém íons com carga múltipla, a força iônica é maior que a concentração analítica total do sal. Para soluções com forças iônicas de 0.1 Mol L-1, ou menos, o efeito do eletrólito independe do tipo de íons e apenas depende da força iônica. Assim, a solubilidade de sulfato de bário é a mesma em iodeto de sódio aquoso, nitrato de potássio, ou cloreto de alumínio, desde que as concentrações destas espécies sejam escolhidas de tal modo que as forças iônicas sejam idênticas. Deve-se ressaltar que, esta independência em relação ao tipo de eletrólito (natureza do íon), só é válida para valores pequenos de força iônica desaparecendo para forças iônicas elevadas. A Tabela 2.1, descreve de modo bastante claro, os efeitos das cargas de eletrólitos na magnitude da força iônica. 43 1.2.5. A NATUREZA DO EFEITO SALINO O efeito de eletrólitos descrito anteriormente, é o resultado de forças eletrostáticas de atração e de e repulsão entre os íons de um eletrólito e os íons envolvidos em um equilíbrio. Estas forças causam um efeito de blindagem a cada íon do reagente dissociado que é circundado por uma solução contendo um pequeno excesso leve de íons de eletrólito,com carga de oposta. Por exemplo, quando um íon sulfato se precipita com bário, é equilibrado em um meio iônico contendo cloreto de sódio, cada íon de bário dissolvido, é cercado por uma atmosfera iônica que, por causa de atração e repulsão eletrostática, leva uma carga iônica líquida negativa, de pequeno valor, em média, devido à repulsão de íons sódio e uma atração de íons cloreto. Semelhantemente, cada íon de sulfato é cercado por uma atmosfera iônica que tende a ser ligeiramente positiva. Estas camadas iônicas carregadas provocam um efeito de “blindagem eletrostática”, tornando pouco a pouco, os íons de bário com carga menos positivo e os íons sulfato, com carga menos negativa; do que tais íons exibiriam se eles estivessem na ausência de eletrólito. A conseqüência deste efeito de a blindagem eletrostática, é uma diminuição em atração global entre íons de bário e íons sulfato, e um aumento em solubilidade que aumenta com o número de íons totais de eletrólito na solução (aumenta em proporção direta com o aumento da concentração salina total). Isto significa que no meio iônico, a concentração efetiva de íons de bário e de íons sulfato decresce com o aumento da força iônica do médio. *c = Concentração do eletrólito em Mol.L-1 Tipo de Eletrólito Exemplo Força Iônica * 1:1 1:2 1:3 2:2 NaCl Ba(NO3)2, Na2SO4 Al(NO3)3, Na3PO4 MgSO4 c 3c 6c 4 Tabela 2.1. Efeitos da Carga Iônica na Força Iônica do meio 44 1.2.6. OS COEFICIENTES DE ATIVIDADE Para descrever a concentração efetiva de íons participantes de uma reação em equilíbrio, quantitativamente, para qualquer força iônica, emprega-se um termo designado ATIVIDADE IÔNICA, que, para uma espécie X é definida como: aX = X [X] (4) ... sendo aX a atividade da espécie X, [X] é sua concentração (em Mol.L -1), e é uma grandeza adimensional designada de fator de atividade ou coeficiente de atividade. O coeficiente de atividade e, do mesmo modo, a atividade de X, depende da força iônica do meio. Assim, ao se substituir a concentração ([X], em Mol.L-1) pela atividade iônica, AX, em qualquer expressão de uma constante de equilíbrio, o valor numérico da constante de equilíbrio, fica livre da dependência da força iônica. Para ilustração deste comentário, se XmYn é um precipitado pouco solúvel, a expressão de produto de solubilidade termodinâmica é definida pela Equação (5) KPS = aX m x aY n (5) Aplicando-se a Equação 4 resulta: KPS = X [X] m x Y [Y] n (6) KPS/X Y = KPS’ = [X] m x [Y] n (6.A) A atividade de uma espécie é uma medida de sua concentração efetiva. A comprovação experimental disto pode ser feita por meio de determinações de propriedades coligativas tais como o abaixamento do ponto de congelamento do solvente água, medidas por condutividade elétrica com solutos iônicos e pelo efeito da ação das massas e equilíbrios iônicos. 45 O KPS’, expressa o valor do KPS ou produto iônico de solubilidade para um dado valor de concentração constante de eletrólitos em solução. Se o KPS é a Constante Produto Iônico de Solubilidade Termodinâmico, o KPS’ é a Constante Produto Iônico de Solubilidade Condicional. Os coeficientes de atividade x e y , variam com força iônica de tal modo que, enquanto o KPS se mantêm numericamente constante, com um valor independente de força iônica, em contraste, o KPS’ depende da concentração dos eletrólitos que mantém uma determinada força iônica constante. Por este motivo o KPS’ é uma grandeza com valor condicional, dependente do meio iônico. De um modo geral, as constantes de equilíbrio condicionais, com magnitude dependentes da força iônica, são indicadas por uma marca característica para cada tipo de equilíbrio envolvido. Por exemplo, para o dissociação de água. 2H2O H3O + + OH - `(7) Pode-se escrever o produto iônico termodinâmico da água, como uma grandeza constante e independente da concentração de eletrólitos estranhos ao equilíbrio, como: KW = a H + x a OH - (8) Aplicando-se a Equação 4 resulta: KW = H + [H + ] x OH- [OH-] (9) KW/ H + OH- = KW’ = [H + ] x [OH - ] (10) Do mesmo modo que para o equilíbrio de precipitação, O KW’, expressa para a auto-protonação do solvente água, o valor do KW ou produto iônico de auto dissociação da água, para um dado valor de concentração constante de eletrólitos neutros no equilíbrio. Do mesmo modo o KA’, em Equilíbrio Ácido-Base, expressa a dissociação de um ácido fraco, KA ou Constante de Dissociação do Ácido Fraco para um dado valor 46 de concentração constante de eletrólitos. Vale o mesmo para bases fracas monoácidas ou poliácidas ou e para ácidos polibásicos de modo geral. 1.2.7. PROPRIEDADES DO COEFICIENTES DE ATIVIDADE Os Coeficientes de atividade têm as seguintes propriedades: 1. O coeficiente de atividade de uma espécie é uma medida da efetividade com que aquela espécie influencia um equilíbrio em que é um participante. Em soluções muito diluídas, a força iônica é mínima e o efeito de blindagem, eletrostática é desprezível, sendo constante a efetividade da carga dos íons e seus efeitos sobre o equilíbrio. Assim em condições de muita diluição, e o coeficiente de atividade é unitário. Sob tais circunstâncias, a atividade e a concentração (em Mol L-1), são idênticas e o Produto Iônico de solubilidade é o termodinâmico, independente da concentração dos eletrólitos. Com o aumento da força iônica, porém, um íon perde alguma parte da efetividade de sua carga por blindagem eletrostática, com a conseqüente diminuição do coeficiente de atividade. Pode-se resumir estas características em termos de Equações (3) e (4). Sob condições de forças iônicas moderadas, X 1;0 . Porém, para soluções iônicas, com concentrações eletrolíticas que vão se aproximando da condição de diluição infinita, X 1;0 . Assim, pode-se afirmar que, na situação limite, CX 0; CX [X] e ax [X]. Assim, o KPS ’ KPS. Contrariamente, se as soluções estiverem sob condições de forças iônicas elevadas, ( 0.1 Mol.L-1), os coeficientes de atividade aumentam e, freqüentemente, podem ficar até mesmo maiores que a unidade. Por ser difícil a interpretação do comportamento de soluções nestes intervalos de maiores concentrações iônicas, todas as discussões estarão limitadas a regiões de baixas ou moderadas forças iônicas, ou seja, 0.1 Mol.L-1. A variação de coeficientes de atividade típicos como uma função de força iônica é mostrada em Figura 2.3 ilustrando o que foi comentado sobre as constantes de solubilidade. 47 2. Em soluções não tão concentradas, o coeficiente de atividade para uma determinada espécie só é dependente da carga e força iônica e sua magnitude independe da natureza do eletrólito. 3. Para uma determinada força iônica, o coeficiente de atividade de um íon afasta-se mais do valor unitário, quando aumenta a carga transportada pelo íon. Este efeito é mostrado em Figura 2 3. O coeficiente de atividade de uma molécula de descarregada é aproximadamente unitário, não dependendo da magnitude da força iônica. 4. Para qualquer dada força iônica, os coeficientes de atividade de íons da mesma carga são aproximadamente iguais. Pequenas variações observadas, podem ser atribuídas ao diâmetro efetivo dos íons hidratados. 5. O coeficiente de atividade de um determinado íon descreve seu comportamento efetivo em todo o equilíbrio no qual participa.Por exemplo, a uma determinada força iônica, um único coeficiente de atividade para o íon cianeto, descreve a influência daquela espécie em qualquer um dos seguintes equilíbrios: HCN + H2O H3O + + CN- (11) Ag+ + CN - AgCN(s) (12) Ni2+ + 4CN- Ni(CN)4 = (13) 1.2.8. A EQUAÇÃO DE DEBYE & HÜCKEL Em 1923, P. DEBYE & E. HÜCKEL, empregaram o modelo da atmosfera iônica e os efeitos de blindagem eletrostática descrito no Ítem 3, para derivar uma Figura 2.3. Coeficientes de atividades e sua dependência da força iônica do meio. 48 expressão teórica que permite o cálculo de coeficientes de atividade de íons, pelo valor de sua carga de seu tamanho médio. Esta expressão, passou a ser conhecida como Equação de DEBYE & HÜCKEL, tendo a seguinte fórmula: (14) Nesta Equação: x = coeficiente de atividade da espécie X Zx = carga da espécie X = força iônica da solução x = diâmetro efetivo do íon hidratado X em nanometros (10 -9 m) As constantes 0.51 e 3.3 são aplicáveis a soluções aquosas à 25°C e devem ser empregados outros valores para outras temperaturas. Na Equação de DEBYE & HÜCKEL Infelizmente, há uma incerteza considerável quanto à magnitude de termo x (Equação 14). Seu valor pode ser considerado aproximadamente 0.3 nm para a maioria dos íons de carga unitária mais freqüentemente empregados em Química Analítica. Para estas espécies de íons, então, o denominador da Equação de DEBYE & HÜCKEL, se simplifica para aproximadamente: (15) Assim, a Equação de DEBYE & HÜCKEL se simplifica para: (16) Para íons com carga mais elevada, x pode ser tão grande quanto 1.0 nm. Este aumento em tamanho com aumento da carga, tem boa concordância teórica, pois quanto maior a carga de um íon maior o número de moléculas de água (polares) que serão aprisionadas como água de solvatação nas na esfera de influência das cargas sobre o íon. Adicionalmente, deve ser observado que o segundo termo do denominador 0.51 Zx 2 -log x = 1 + 3,3 x 1 + - log x= 0,51 ZX 2 + 1 + 49 da Equação de DEBYE & HÜCKEL é pequeno em relação ao primeiro para forças iônicas da ordem de, ou menores que 0,01 Mol.L-1. Assim, a incerteza no valor da força iônica causadas por algum tipo de erro ou falta de exatidão na previsão da magnitude de x, torna-se sem muito significado quantitativo em cálculos de força iônica. J. KIELAND (J. A. Chem. Soc., 59, (1937), p. 1675), publicou valores de x em meio aquoso, para vários íons, baseando-se em uma série de experimentos. Os melhores valores obtidos por KIELAND, para os diâmetros, em nanometros, estão listados na Tabela 2.1, apresentada a seguir. Tabela 2.1. Valores tabelados por KIELAND, para Diâmetros Efetivos de Íons para e Coeficientes de Atividades Iônicos. Nesta Tabela estão apresentados, também, os valores para os coeficientes A Tabela 2.1 apresenta, também, cálculos coeficientes de atividades iônicos, X , derivados a partir da Equação 14, empregando os parâmetros de diâmetro dos íons listados na Tabela 2.1. Íon Força iônica, (Mol.L -1) Diâmetro Efetivo 50 Trabalhos experimentais que descrevam cálculos de fatores de atividade, para íons, isoladamente, como nos casos descritos por KIELAND, lamentavelmente, são impossíveis, pois os métodos experimentais descrevem apenas os assim chamados “Coeficientes de Atividade Médios” para íons carregados positivamente ou negativamente, em meio aquoso. Em outras palavras, é impossível a determinação de propriedades individuais de íons, na presença de seu contra-íon, com carga oposta, e na presença de moléculas do solvente (efeitos de solvatação). Deve-se considerar, porém, que empregando os dados da Tabela 2.1, com os parâmetros descritos por KIELAND, é possível se obter valores de Coeficientes de Atividades Médios, concordantes com a experimentação. Para valores de (força iônica) inferiores a 0,01 Mol.L-1, 1,0 e a Equação 14 se transforma em: (17) Esta expressão corresponde à Lei de Debye & Hückel nas Condições Limites(“Debye & Hückel Limiting Law-DHLL”), ou seja, para a situação limite de força iônica 0,01 Mol.L-1, em que as forças iônicas podem ser consideradas suficientemente baixas, e a expressão mais simples de Debye & Hückel, pode ser empregada para se fazer estimativas de coeficientes de atividades iônicos. Exemplo 3. Utilizando-se a Equação de Debye & Hückel, calcule o Coeficiente de Atividade para o íon Hg ++ , em uma solução com força iônica 0,085 Mol.L-1, empregando Hg++ = 0,5 nm como diâmetro efetivo do íon mercúrico. Resolução. - log x= 0,51 ZX 2 + 1 + 0,51 x 22 + 0,085 1 + (3,3 x 0,5) 0,085 - log Hg++ = - log Hg++ = 0,4016 Pela Tabela 1, observa-se que: 51 O Exemplo 3 ilustra bem a concordância entre os valores de coeficientes de atividade calculados pela Equação 14 e pela Tabela 2.1, mostrando boa aproximação entre os dois resultados, para valores de força iônica próximos do limite de 0,1 Mol.L-1. Para condições de força iônica muito além desse valor, a Equação de DEBYE & HÜCKEL, mostra falhas, devendo-se empregar fatores de atividade médios, determinados experimentalmente. 1.2.9 CÁLCULOS DE EQUILÍBRIO EMPREGANDO COEFICIENTES DE ATIVIDADE Embora atividades iônicas e concentrações molares sejam dimensionalmente idênticas, [mol.L-1], ao se calcularem as atividades iônicas, são feitas as devidas correções quanto ao problema de cargas efetivas dos íons, na situação de equilíbrio. Assim, cálculos de equilíbrio, empregando constantes com atividades iônicas no lugar de simples concentrações molares, conduzem a valores que estão bem mais próximos da concordância em relação a resultados experimentais. Assim, sempre que possível, devem ser empregados em previsões e cálculos de equilíbrio, os fatores de atividade iônicos, a não ser que se especifique que as constantes de equilíbrio encontradas em tabelas sejam aquelas baseadas em atividades e são, por esse motivo, constantes de equilíbrio termodinâmicas. Os exemplos que seguem ilustram como são aplicados os coeficientes de atividade da Tabela 2.1 a tais dados. Exemplo 4: Ache o erro relativo introduzido negligenciando atividades iônicas calculando a solubilidade de Ba(IO3)2 em uma solução 0.033 Mol.L -1 de Mg(IO3)2. O produto de solubilidade termodinâmico para o Ba(IO3)2 é 1.57 x 10 -9. 0,100 - 0,50 Hg++ = 0,38 para = 0,050 Hg++ = 0,46 para = 0,100 0,38 + 0,100 - 0,085 (0,46 -0,38) Assim Hg++ = 0,404 0,40 Hg++ = 52 Resolução: Deve-se, primeiramente, escrever a expressão de produto de solubilidade em termos de atividades: KPS = aBa2+ x (aIO3-) 2 = 1.57 x 10-9 Nesta expressão, os termos aBa2+ e aIO3-, são as atividades dos íons bário e iodato. Substituindo nesta equação estes termos por coeficientes de atividade e concentrações de íons, resulta em: KPS = Ba2+ [Ba2+] x (IO3-)2 [IO3-]2 Nesta outra expressão, Ba2+ e IO3-, são os coeficientes de atividade para os dois íons. Reorganizando esta expressão, obtém-se: KPS / Ba2+ (IO3-)2 = KPS‘ = [Ba2+] x [IO3-]2 O KPS‘ é o Produto iônico de Solubilidade Condicional, expresso em termos de concentração iônica. A força iônica dasolução é obtida substituindo na Equação 3: = ½ {[Mg2+]2 2 +[IO3 -]1 2 } = ½ {[0,33]2 2 +[),66]1 2 } = 0.099 MolL-1 0.10 MolL-1 Calculando , considera-se que os íons que o Ba2+ e IO3- , em equilíbrio com o precipitado não afeta, significativamente, a força iônica da solução. Esta simplificação se justificada tendo em vista a baixa solubilidade de iodato de bário e a concentração relativamente alta de Mg(IO3)2. Em situações em que é impossível fazer tal uma simplificação, as concentrações dos dois íons podem ser calculadas aproximadamente, por avaliações de solubilidades molares, em que atividades e concentrações são consideradas iguais. Estas concentrações podem, então, ser introduzidas no cálculo, para que sejam obtidos melhores valores da força iônica. Tomando-se os valores da Tabela 2.1, para os íons envolvidos no equilíbrio para a uma força iônica 0,1 MolL-1, Ba2+ = 0,38 e IO3- = 0,78 Refazendo-se os cálculos, substitui-se os valores das forças iônicas encontradas na Tabela 2.1. obtém-se: 53 KPS / Ba2+ (IO3-)2 = KPS‘ = [Ba2+] x [IO3-]2 = 1,57x 10-9/(0,38 x 0,78) KPS‘ = 6,8 X 10 -9 A solubilidade do precipitado, com base no valor calculado é dada por: SMolL -1 = [Ba 2+ ]AQ. [IO3-] = 0,66 Mol.L-1 [Ba 2+ ][IO3-]2 = KPS’ [Ba 2+ ][0,66]2 =6,8 x 10-9 [Ba 2+ ] = 6,8 x 10 -9 / [0,66] 2 = 1,56 x 10 -6 Mol.L -1 Repetindo-se o cálculo, sem considerar o valor dos coeficientes de atividade: [Ba 2+ ][IO3-]2 = KPS [Ba 2+ ][0,66]2 = 1,57 x 10-9 [Ba 2+ ] = 1,57 x 10 -9 / [0,66] 2 = 3,60 x 10 -6 Mol.L -1 3,60 x 10 -6 - 1,56 x 10 -6 Erro real cometido ={ ________________________________ }x 100 1,56 x 10 -6 Erro real cometido = -77 % Se os dados para os fatores de atividade não estivessem presentes para os valores tabelados de força iônica, estes valores poderiam ser obtidos por interpolação, como demonstrado anteriormente, entre os valores próximos (superiores e inferiores, na Tabela. Os dados deste exemplo ilustram bem a magnitude dos erros cometidos sem se levar em consideração os fatores de atividades. 1.2.10. EFEITO DA FORÇA IÔNICA EM OUTROS TIPOS DE EQUILIBRIO A Figura 2.4 ilustra o efeito de força iônica em três tipos comuns de equilíbrio químico. Nesta Figura, a Curva A corresponde à distribuição de valores da Constante do Produto Iônico Condicional da água KW’(X 10 14 ), em função da força iônica do meio. A Curva B corresponde à distribuição de valores da Constante do Produto Iônico Condicional de Precipitação do Sulfato de Bário KPS’(X 10 10 ), em função da força iônica do meio. A Curva C corresponde à distribuição de valores da Constante de Dissociação Condicional do Ácido Acético Aquoso, KA’(X 10 5 ), em função da força iônica 54 do meio Em cada caso, a força iônica varia, tendo como eletrólito indiferente o cloreto de sódio. A Curva A mostra que para baixas concentrações (baixas forças iônicas), o KW’ independe da concentração de eletrólito e são igual a 1.00 x 10 -14 , com um valor igual ao Produto Iônico Termodinâmico da água (KW), ou constante de dissociação ou auto protonação do solvente. Uma correlação entre estes valores numéricos, mostra que H+ 1;0 e que OH- 1;0; o que caracteriza uma situação limite, podendo-se afirmar que, nestas condições de situação limite, CNa + 0; CCl - 0 e CH +[H+], bem como COH -[OH-] e, aH + [H+] e aOH - [OH-]. Assim, e KW’ KW. Isto significa que o KW‘ alcança um valor constante em função do parâmetro de concentração, com discrepâncias aproximando-se de zero. A tendência de assumir o valor do produto iônico termodinâmico, caracteriza a Lei de Debye & Hückel nas Condições Limites (“Debye & Hückel Limiting Law- Figura 2.4 Efeitos da concentração de eletrólito em constantes de Equilíbrio Condicionais 55 DHLL”), ou seja, para a situação limite de força iônica em que as forças iônicas podem ser consideradas suficientemente baixas, e a expressão mais simples de Debye & Hückel, pode ser empregada para se fazer estimativas de coeficientes de atividades iônicos. Considerações idênticas podem ser feitas para as outras constantes, KPS e KB. A variação vertical pronunciada da Curva B, Figura 2.4., representa a variação do KPS’(X 10 10 ), em termos da concentração de íons bário e íons sulfato (x 1010), em soluções saturadas de sulfate de bário. A baixas concentrações de eletrólitos atingem também situações limites, de 1,1 x 10- 10, que é o valor termodinâmico aceito da constante do produto de solubilidade KPS, para o sulfato de bário. A Curva C é o gráfico de KA’ (x 10 5), em função da variação da concentração do eletrólito, para o equilíbrio que envolve a dissociação do ácido acético, que age como ácido monobásico fraco. Aqui novamente, observa-se a tendência a aproximação de um valor limite que é a Constante de Dissociação Termodinâmica, KA, para ácido acético. As linhas tracejadas da Figura 2.4., representam o comportamento ideal dos solutos. Nota-se que existem diferenças significativas nos pontos de fuga do comportamento ideal. Por exemplo, no caso da Constante de Auto-Protonação da água, ocorre um aumento de 1.0 x 10-14 em pura água para aproximadamente 1.7 x 10-14 em uma solução 0,1 Mol.L-1 em cloreto de sódio. O efeito é mais pronunciado ainda para o sulfato de bário, em que o valor do KPS', em meio 0,1 Mol.L -1 de cloreto de sódio é mais do que dobro isso de seu valor limite. 1.2.11. A OMISSÃO DE COEFICIENTES DE ATIVIDADE EM CÁLCULOS DE EQUILÍBRIO Ordinariamente, os coeficientes de atividade são desprezados em cálculos de equilíbrio, empregando-se, simplesmente, concentrações iônicas em Mol.L-1. Esta aproximação simplifica muito os cálculos e torna muito menor o número de dados necessários. Para a maioria dos propósitos, não é suficientemente grande o erro introduzido supondo unitário os coeficientes de atividade, para que o resultado obtido conduza a falsas conclusões. Porém, como foi observado no Exemplo 4, o procedimento de considerar desprezível os Coeficientes de Atividade, pode resultar em um erro de 56 cálculo numericamente significante, para cálculos de equilíbrio: erro relativo de até cerca de -77%. Deve-se ficar muito atento para as condições em que se torna provável que a utilização de atividades por simples concentrações iônicas, sem se levar em conta a força iônica, conduza a um erro maior. Discrepâncias significantes acontecem quando a força iônica é elevada (0,01 ou maior) ou quando os íons envolvidos na situação de equilíbrio, tenha carga múltiplas (Tabela 2.1.). Com soluções diluídas (força iônica 0,01) de espécies não eletrolíticas, de íons com carga unitária, o uso de concentrações iônicas em um cálculo da Lei da Ação das Massas, resultam, freqüentemente, em previsões razoavelmente exatas, com pequenos erros relativos. PETER DEBYE (1884-1966) nasceu e foi educado na Europa, mas tornou-se Professor de Química, nos Estados Unidos, na Cornell-University em 1940. Foi um notável por seu trabalho em várias áreas diferentes da Química, incluindo-se soluções eletrolíticas e, Difração de Raios-X e, também estudo das propriedades de moléculas polares. Foi laureado em 1936 com o prêmio NOBEL de Química. 57 QUESTIONÁRIO E EXERCÍCIOS NUMÉRICOS1. Faça uma distinção entre: (a) Atividade e Coeficiente de Atividade. (b) Constantes de Equilíbrio Termodinâmica e Condicional 2. Desprezando-se quaisquer efeitos causados por possíveis variações de volume você espera que a força iônica poderia: - (1) Aumentar, (2) Diminuir ou (3) Manter-se constante- pela adição de uma solução de NaOH a soluções diluídas de: (a) MgCl2- [Mg(OH)2 (s) se forma]? (b) Ácido Clorídrico? (c) AgNO3? (e) Ácido Acético? (d) FeCl2? 3. Descreva as Propriedades dos Coeficientes de Atividades Iônicos. 4.Desprezando-se quaisquer efeitos causados por possíveis variações de volume você espera que a força iônica poderia: - (1) Aumentar, (2) Diminuir ou (3) Manter-se constante- pela adição de uma solução de Íons de Fe(III) a soluções diluídas de: (a) HCI? (d) NaSCN? (b) NaOH? (e) Na2CO3? (e) AgNO3? (f) SnCl2? 5.Porque a inclinação da Curva B na Figura 2.4. é maior de a inclinação da Curva A? 6.Qual é o valor numérico do Coeficiente de Atividade de uma solução de uma solução de NH3 (Aq.) para uma condição de força iônica 0,1 Mol.L-1? 7.Calcule a força iônica de uma solução que é (a) 0,040 Mol.L-1 em FeSO4. (b) 0,20 Mol.L-1 em (NH4)2CrO4 (c) 0,10 M in FeCI3 and 0,20 Mol.L -1 em FeCI2. (d) 0,060 Mol.L-1 La(NO3)3 e 0.030 M em Fe(NO3)2. 8.Use as Equações mostradas neste ítem 2.1 para calcular os coeficientes de atividade de (a) Fe3+ para = 0,075 Mol.L-1. (b) Ce4+ = 0.080 Mol.L-1. (b) Pb2+ para = 0.012 Mol.L-1. (d) Sn4+ para = 0.060 Mol.L-1. 9. Calcule os Coeficientes de Atividade para as espécies mencionadas no problema 8 empregando-se interpolação dos dados da Tabela 2.2. 10. Para uma solução com = 5.0 x 10-2 Mol.L-1, calcule KPS’ para: (a)AgSCN. (b)La(IO3)3. (c)PbI2 (d)MgNH4PO4. 11. Empregue Atividades Iônicas para calcular a solubilidade molar de Zn(OH)2 em solução: (a) 0.0100 Mol.L-1 de KCI. (b) 0.0167 Mol.L-1 K2SO4. (c) Uma solução resultante da mistura de 20,0 mL de solução 0,250 Mol.L-1 de KOH com 80.0 mL de solução 0,0250 Mol.L-1 de ZnCl2. (d) Uma solução resultante da mistura de 20,0 mL de solução 0,10 Mol.L-1 de KOH com 80.0 mL de solução 0,0250 Mol.L-1 de ZnCl2. 12. Calcule a solubilidade dos the seguintes compostos em uma solução 0,0333 Mol.L-1 de Mg(ClO4)2 empregando (1) atividades iônicas e (2) Concentração iônica em Mol.L-1: (a) AgSCN. (b) PbI2. (c) BaSO4. (d)Cd2Fe(CN)6 [Cd2Fe(CN)6 (s) 2Cd 2+ + Fe(CN)6 4- KPS = 3,2 X 10 -7] 13. Calcule a solubilidade dos seguintes compostos em uma solução 0,0167 MolL-1 de nitrato de bário empregando (1) atividades iônicas e (2) Concentração iônica em Mol.L-1: (a) AgIO3. (c) BaSO4 (b) Mg(OH)2 (d) La(IO3)3) PETER DEBYE (1884-1966) 58
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