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60015Resumo Aula1 P1Direito PenalParte Geral I Atualizado

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Direito Penal - Parte Geral 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários 
e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
1 
www.cursoenfase.com.br 
Sumário 
1. Indicações bibliográficas ......................................................................................... 2 
2. Características gerais do direito penal - Relação do Direito Penal com a 
Constituição - Princípios ............................................................................................................. 2 
2.1 Delimitação do Objeto de Estudo ......................................................................... 2 
2.2 Características do Direito Penal ............................................................................ 2 
2.2.1 Finalidade preventiva ..................................................................................... 2 
2.2.2 Subsidiariedade (“non omne quod licethonestum est”) - O Direito Penal 
mínimo ................................................................................................................................ 3 
2.2.3 Fragmentariedade (princípio da intervenção mínima) .................................. 3 
2.3 Função do Direito Penal ........................................................................................ 4 
2.3.1 Princípio da lesividade ou da ofensividade .................................................... 5 
2.3.2 Conceito de bem jurídico ............................................................................... 5 
2.3.2.1 Consequências do conceito de bem jurídico ....................................... 7 
2.3.2.1.1 Impossibilidade de punir penalmente condutas meramente 
imorais, mas que não afetem nenhum bem jurídico ................................................. 7 
2.3.2.1.2 Impossibilidade de punir a simples violação de um dever .............. 7 
2.3.2.1.3 Impossibilidade de proibições meramente ideológicas .................. 7 
2.3.2.1.4 Impossibilidade de punir um modo de ser ...................................... 7 
2.3.2.1.5 Impossibilidade de punir bens não fundamentais (bens jurídicos são 
somente dados de importância fundamental) ........................................................... 8 
2.3.2.2 Funções do conceito de bem jurídico .................................................. 8 
2.3.2.2.1 De garantia....................................................................................... 8 
2.3.2.2.2 Teleológica (interpretação dos tipos penais) .................................. 8 
2.3.2.2.3 Individualizadora (critério de medida da pena, levando-se em conta 
a gravidade da lesão ao bem jurídico/ desvalor do resultado) .................................. 9 
2.3.2.2.4 Sistemática: classificação das infrações ........................................ 10 
2.4 Bem jurídico e Constituição ................................................................................ 10 
 
Direito Penal - Parte Geral 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários 
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1. Indicações bibliográficas 
 Juarez Cirino dos Santos. Direito Penal - Parte Geral 
 Paulo Busato. Direito Penal - Parte Geral 
 Nilo Batista 
 Eugenio Zaffaroni 
 Cezar Roberto Bitencourt 
 Luiz Régis Prado 
 
Para quem está iniciando na matéria: 
 Rogério Greco 
 Fernando Capez 
 
2. Características Gerais do Direito Penal - Relação do Direito Penal com a 
Constituição - Princípios 
2.1 Delimitação do Objeto de Estudo 
O direito penal é o setor do ordenamento jurídico que define crimes, comina penas e 
prevê medidas de segurança aplicáveis aos autores das condutas incriminadas. (Juarez Cirino 
dos Santos) 
 
2.2 Características do Direito Penal 
São características do direito penal que distinguem esse ramo do direito dos demais: 
 
2.2.1 Finalidade Preventiva 
A finalidade/função principal do direito penal é proteger bens jurídicos, o que é feito 
através de métodos preventivos. O direito penal pretende trabalhar com a prevenção geral, 
que é o impacto da sua atuação na comunidade (as pessoas, de forma geral, quando veem a 
aplicação de uma sanção penal, deixam de cometer um crime por conta disso) e, também, a 
prevenção especial, que é o impacto daquela sanção/persecução no acusado/condenado. 
Prevenção geral – na comunidade. 
Prevenção especial – no condenado. 
 
Direito Penal - Parte Geral 
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2.2.2 Subsidiariedade (“non omne quod licethonestum est”) - O Direito Penal Mínimo 
O direito penal não é um remédio para todos os males, ele é um remédio sancionador 
extremo. Deve ser reservado para condutas de especial gravidade. Essa é a ideia de 
subsidiariedade. Não vai se usar o direito penal para qualquer problema, só para aqueles para 
os quais os outros ramos do direito se mostrem insuficientes. Essa resposta do direito penal, 
como é muito severa, tem que ser reservada para condutas de especial gravidade. 
 
2.2.3 Fragmentariedade (Princípio da Intervenção Mínima) 
O direito penal é subsidiário, ele não vai proteger todos os bens jurídicos de toda e 
qualquer lesão. 
Exemplo: Se a Professora Ana Paula derrubar, sem querer, o computador do Curso 
Ênfase, ela causará uma lesão ao patrimônio do curso. Esse é um dano culposo, dessa lesão o 
direito penal não vai cuidar. 
Exemplo: Se a Professora Ana Paula pegar um empréstimo no banco e não pagar, 
também é um dano ao patrimônio da instituição financeira, mas o direito penal não cuidará 
disso. 
Sendo assim, dos fatos humanos indesejados se extrai o Princípio da Intervenção 
Mínima, o qual se divide em: 
a) Subsidiariedade: orienta a intervenção em abstrato. O direito penal só atua quando 
ineficazes os demais ramos do direito. “É a derradeira trincheira nos combates aos 
comportamentos humanos indesejados”. O direito penal atua como a ultima ratio. 
b) Fragmentariedade: orienta a intervenção no caso concreto. O direito penal só intervém 
no caso concreto quando houver relevante e intolerável lesão / perigo de lesão ao bem 
jurídico. Só devem ser protegidos penalmente os bens jurídicos em razão de certas 
formas de agressão. 
 
Direito Penal - Parte Geral 
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2.3 Função do Direito Penal 
A função do direito penal, na posição amplamente predominante no Brasil e no 
exterior (não é pacífica1), é proteger bens jurídicos relevantes. Essa proteção é subsidiária, 
uma vez que existem outros ramos do direito que também vão proteger aquele bem jurídico. 
Exemplo: o Direito Civil vai permitir que através de uma ação de cobrança se cobre 
uma dívida, mas o Direito Penal também vai proteger alguns bens jurídicos de forma 
fragmentária, só as condutas especialmente graves. 
Como dito, a posição no exterior não é pacífica. Isso porque na Alemanha há dois 
grandes penalistas, Roxin e Jakobs, ambos funcionalistas, que possuem essa divergência 
fundamental: Roxin acredita que o Direito Penal serve para proteger bens jurídicos. Já Jakobsnão acredita no conceito de bem jurídico, pois entende que o Direito Penal serve para 
fomentar a confiança que as pessoas têm na higidez do sistema, no funcionamento do sistema 
jurídico como um todo. Assim, na visão de Jakobs, não existe bem jurídico, ou seja, esse 
conceito não existe, razão pela qual o Direito Penal serve para que as pessoas acreditem que, 
quando a pena é aplicada, a norma é válida e o sistema funciona. 
Isso faz diferença porque o conceito de bem jurídico é uma forma de se fazer uma 
crítica de legitimidade de muitas normas penais. Se a norma penal não viola bem jurídico 
nenhum, ela não deve existir, ela é ilegítima. Jakobs não permite essa crítica. Todas as normas 
penais são legítimas e servem para manter a validade e a confiança das pessoas no sistema. 
Ele tem a ideia de que o direito penal está ligado, pura e simplesmente, à ideia de prevenção 
geral, a confiança que as pessoas têm no funcionamento do sistema e do próprio direito. 
 
1 No Brasil esse entendimento é quase pacífico, mas no exterior, um autor importante, que é o Jakobs, 
não entende dessa forma. 
Patrimônio 
Direito Penal - Parte Geral 
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Para a doutrina no Brasil e exterior (Roxin) - Exclusivamente a proteção de bens 
jurídicos. 
Jakobs: a missão do Direito Penal é a prevenção geral positiva, ou seja, buscar a 
estabilidade do reconhecimento social acerca da validade da norma. 
No Brasil se acredita que o Direito Penal só serve para proteger bens jurídicos e isso é 
o princípio da lesividade. Pelo princípio da lesividade (ou ofensividade) se exige que, para a 
aplicação do direito penal, haja a constatação de lesão ou perigo de lesão a bem jurídico, pois, 
do contrário, a intervenção do direito penal será ilegítima. 
 
2.3.1 Princípio da Lesividade ou da Ofensividade 
De forma geral, os autores trabalham esses dois princípios (lesividade e ofensividade) 
como sinônimos. Bittencourt faz uma distinção, qual seja: 
a) Lesividade: seria exigir que exista algum bem jurídico protegido. 
Exemplo: A norma penal X protege o quê? O patrimônio. Isso é lesividade. 
b) Ofensividade: seria exigir que no caso concreto tenha havido uma efetiva lesão. 
Essa ideia de ofensividade está ligada ao princípio da insignificância. 
Exemplo: Furto. No furto há um bem jurídico protegido: o patrimônio. O Princípio da 
lesividade estaria atendido. Agora, se no caso concreto a Professora Ana Paula subtrair um 
copo de água do Curso Ênfase não haveria ofensividade. 
Se exige que, no caso concreto, haja uma lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico 
tutelado pela norma penal. 
De forma geral, os autores não fazem essa distinção e usam a lesividade e a 
ofensividade como sinônimos. 
 
2.3.2 Conceito de Bem Jurídico2 
“Dados fundamentais para a realização pessoal dos indivíduos ou para a subsistência 
do sistema social, compatíveis com a ordem constitucional” (Luís Greco). Trata-se de um 
conceito amplamente aceito, com o qual deve-se trabalhar para fins de prova. 
 
2 A Professora indicou, para fins de aprofundamento do tema, o artigo do Luiz Greco, publicado na 
Revista de Ciências Criminais e em uma coletânea de artigos, que se chama: “Tem futuro o conceito de bem 
jurídico?” 
Direito Penal - Parte Geral 
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“Realidades ou fins que são necessários para uma vida social livre e segura, que garanta 
os direitos fundamentais dos indivíduos, ou para o funcionamento do sistema estatal erigido 
para a consecução de tal fim” (Roxin). 
- Diferença de bem jurídico tutelado com objeto material do crime 
Direito penal serve para proteger bem jurídico. Isso vai ser um critério que vai ter que 
nortear a atividade do legislador e que vai permitir que os operadores do direito façam uma 
crítica ao trabalho do legislador. 
O âmbito de atuação do direito penal é delimitado, de modo que fora desse âmbito a 
atividade do legislador penal é ilegítima, sendo possível exercer um controle sobre ela. 
Não devemos esquecer que no sistema penal idealizado de Jakobs tal possibilidade de 
controle não existiria, uma vez que, como visto acima, referido autor não coaduna com a ideia 
de essencialidade do bem jurídico como fundamento de legitimidade para as normas penais. 
O direito penal serve para proteger bem jurídico, sendo, por isso, de suma importância 
delimitar o seu conceito. 
 O que é bem jurídico? 
Bem jurídico são todas as realidades da vida que permitem, a cada uma das pessoas, a 
sua realização pessoal e, também, toda a estrutura administrativa e governamental que 
permite a proteção dessas mesmas realidades. 
Basicamente, bem jurídico é todo aquele dado ou realidade da vida que é importante 
para a realização pessoal dos indivíduos (liberdade, patrimônio, tudo aquilo que precisa para 
se realizar e viver em sociedade). 
Além disso, existe toda uma estrutura que é montada pelo Estado para proteger esses 
bens: a administração pública etc. Essa estrutura também faz parte da ideia de bem jurídico. 
Essa ideia de bem jurídico tem a ver com a importância daquela realidade ou daquela 
finalidade para uma interação sadia entre os indivíduos e de tudo o que proteja essa interação 
sadia. 
Delimitar o âmbito de atuação do direito penal permite que se tenha uma postura 
crítica em relação ao legislador penal e possibilita afastar do sistema jurídico penal todas as 
normas que não sejam protetivas de bens jurídicos. As consequências disto são as seguintes: 
 
Direito Penal - Parte Geral 
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2.3.2.1 Consequências do conceito de bem jurídico 
2.3.2.1.1 Impossibilidade de punir penalmente condutas meramente imorais e que 
não afetam nenhum bem jurídico 
Exemplo: Até pouco tempo, na Alemanha, o homossexualismo era crime. Lá discutiu-
se muito sobre até que ponto relações sexuais entre pessoas maiores, adultas e capazes, 
podem interferir na forma como outras pessoas se realizam pessoalmente ou interagem 
sadiamente em comunidade e chegou-se à conclusão que aquela punição era ilegítima, 
revogando-se, então, a norma penal em comento. 
 
2.3.2.1.2 Impossibilidade de punir a simples violação de um dever 
Se tiver uma determinada ordem ou dever que não seja cumprido, mas que não leve a 
uma lesão a um bem jurídico; se for simplesmente uma mera desobediência, sem nenhuma 
repercussão em relação a um bem jurídico de terceiro, seria ilegítima a intervenção penal. 
 
2.3.2.1.3 Impossibilidade de proibições meramente ideológicas 
São proibições que não fazem sentido, isto é, só fazem sentido à luz de uma 
determinada ideologia. 
Exemplo: Casamento inter-racial: proibir penalmente que um judeu se case com um 
não judeu. Isso só faz sentido à luz de uma determinada ideologia, pois não há um bem jurídico 
em jogo ou violado. 
 
2.3.2.1.4 Impossibilidade de punir um modo de ser 
O direito penal moderno é o direito penal do fato. Cabe ao legisladordescrever um 
determinado fato. 
 
É ilegítima a norma penal que puna uma personalidade ou forma de ser, que descreva 
características do agente exclusivamente como único pressuposto da punição. Isso pode 
parecer distante da realidade, mas não é. 
No Brasil existe, por exemplo, a contravenção de vadiagem, que é algo que está muito 
próximo de um direito penal de autor. 
Direito 
Penal
Do fato
Do autor 
Direito Penal - Parte Geral 
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A Professora fez uma pesquisa nos EUA, há alguns anos atrás, e observou que havia 
leis estaduais, que foram declaradas inconstitucionais pela Suprema Corte Americana, que 
puniam: ser bêbado, ser vagabundo, contravenções previstas. Isso era claramente uma 
previsão de direito penal de autor. 
Com efeito, o legislador tem que descrever um fato, porque só fatos são capazes de 
lesar bens jurídicos. 
Nos EUA também não se acredita no conceito de bem jurídico, isso porque o direito 
penal de lá é diferente do brasileiro. Essas normas foram declaradas inconstitucionais pela 
Suprema Corte com base no princípio da taxatividade. 
No Brasil pode-se usar o conceito de bem jurídico para dizer que essas normas, que 
representam um direito penal de autor e não um direito penal de fato, são também 
inconstitucionais. 
 
2.3.2.1.5 Impossibilidade de punir bens não fundamentais (bens jurídicos são 
somente aqueles dotados de importância fundamental) 
Só bens jurídicos fundamentais, isto é, especialmente importantes para a interação 
sadia entre as pessoas em comunidade, é que vão ser tuteladas pelo Direito Penal - Princípio 
da intervenção mínima. 
 
2.3.2.2 Funções do conceito de bem jurídico 
2.3.2.2.1 De garantia 
Sendo função do direito penal a proteção dos bens jurídicos mais relevantes, 
estaremos diante de um fator que possibilita o exercício de um controle sobre a atividade do 
legislador. 
Isso porque, se adotado o conceito de bem jurídico antes exposto, há a garantia de 
que o legislador não vai se intrometer nas condutas das pessoas se elas não forem lesivas de 
algum bem jurídico. 
Exemplo: Ana pode ter relação sexual com quem quiser, homem ou mulher, pois é 
adulta, maior e capaz. Isso não interessa ao legislador penal. Não há lesão a bem jurídico de 
terceiros. 
 
2.3.2.2.2 Teleológica (interpretação dos tipos penais) 
Trata-se de função muito importante na prática. 
Direito Penal - Parte Geral 
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Sempre que se for interpretar um tipo penal é fundamental avaliar qual é a finalidade 
da proteção, ou seja, qual é o bem jurídico ali protegido. 
Exemplo: art. 159, CP. 
Extorsão mediante seqüestro 
Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer 
vantagem, como condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. 
O Código Penal fala em “qualquer vantagem” e, então, surgiu na doutrina uma 
discussão sobre se essa vantagem seria patrimonial ou se poderia ser uma vantagem moral 
(Ex: sair na coluna social). A função teleológica do bem jurídico pode socorrer nesse caso. 
 Qual é o bem jurídico tutelado? 
Patrimônio. Então, é obvio que essa vantagem tem que ser patrimonial nesse crime. 
Se a vantagem não for patrimonial tem-se o crime de sequestro, do art. 148 do CP, 
eventualmente em concurso com outro. 
Seqüestro e cárcere privado 
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado: (Vide 
Lei nº 10.446, de 2002) 
Pena - reclusão, de um a três anos. 
Para ser o art. 159 tem que ser vantagem patrimonial, posto que estamos diante de 
um crime contra o patrimônio. 
Observação: A importância do princípio da insignificância nos crimes contra a 
Administração é bem menor do que nos crimes contra o patrimônio, porque lá o bem jurídico 
protegido (Administração Pública) está ligado a ideia de probidade no exercício da função 
pública e não à ideia de dano patrimonial ou vantagem patrimonial. Para fins de tipificação, 
se corromper por R$10,00 (dez reais) é tão grave quanto se corromper por R$ 1.000.000,00 
(um milhão de reais). Todavia, para fins de aplicação de pena pode ser feita uma consideração 
diferenciada. Essa não é a mesma ideia no patrimônio. 
A ideia de bem jurídico será muito importante para interpretar o tipo penal e depois 
vários outros institutos a ele ligados. 
 
2.3.2.2.3 Individualizadora (critério de medida da pena, levando-se em conta a 
gravidade da lesão ao bem jurídico/ desvalor do resultado) 
A ideia de bem jurídico também vai ser relevante para se avaliar a lesão ao bem 
jurídico, a intensidade dessa lesão e o seu reflexo na pena. 
Direito Penal - Parte Geral 
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Isso é um dos critérios do art. 59 do CP - circunstâncias e consequências do crime. Para 
tanto será necessário o conceito de bem jurídico. 
Fixação da pena 
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à 
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem 
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente 
para reprovação e prevenção do crime: 
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; 
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; 
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; 
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se 
cabível. 
 
2.3.2.2.4 Sistemática: classificação das infrações 
Se for reparar na forma como os crimes são agrupados na parte especial, se verá que 
eles são agrupados tendo em vista o bem jurídico violado (Crimes contra a vida – arts. 121, 
122, 123, 124 e seguintes; Crimes contra o patrimônio – arts. 155 e seguintes etc). O bem 
jurídico tem também essa função sistemática. 
 
2.4 Bem jurídico e Constituição 
A fisionomia do conceito de delito é fortemente influenciada pelo tipo de Estado em 
que se insere legislador penal. 
Limitação material da função legislativa. 
O Direito Penal de um determinado ordenamento jurídico vai ter sempre o formato, a 
cara que lhe confere a Constituição. 
Uma Constituição mais liberal, terá um Direito Penal mais liberal. Uma Constituição 
menos liberal, com perfil mais autoritário, vai repercutir em um Direito Penal mais autoritário. 
Existe uma relação umbilical entre o Direito Penal e a Constituição e uma das pontes entre 
esses dois ramos é o conceito de bem jurídico. 
Foi visto que a principal função do conceito de bem jurídico é delimitar a atividade do 
legislador penal. Uma coisa é se dizer que a atividade do legislador em um determinado caso 
foi ilegítima, pode se fazer uma crítica a ela, uma crítica de lege ferenda. Outra é se poder 
extirpar aquela determinada norma penal do sistema dizendo que ela é inconstitucional. Para 
se poder fazer isso, essa ideia de bem jurídico e do controle da atividade do legislador tem 
que poder ser inseridadentro da Constituição. 
Direito Penal - Parte Geral 
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2.4.1 Constituição e Direito Penal 
Luciano Feldens, ex-Procurador da República, hoje advogado, discorre muito bem 
sobre o tema. 
Segundo ele, da Constituição decorrem: 
 Proibições de penalização, ou seja, situações em que não se pode usar o Direito 
Penal para punir (limites materiais ao direito penal). Quais sejam: 
a) Direitos constitucionalmente tutelados; 
Se existe uma proteção constitucional a determinados direitos (exemplo: direito de 
associação), o direito penal não pode punir aquela conduta que a Constituição permite e 
protege. Isso vai permitir uma releitura a partir das normas constitucionais das próprias 
normas penais, isto é, até onde elas podem ir a partir de Direitos constitucionalmente 
tutelados. 
b) Proibições que não afetem um bem jurídico; 
Pode ser encontrado na Constituição um respaldo para reconhecer a 
inconstitucionalidade de normas penais que não protejam bem jurídico nenhum, como se deu 
no exemplo da vadiagem ou como no caso do casamento entre raças. 
 Quando isso ocorre, além da ilegitimidade e da crítica, será que pode também 
ser reconhecida a invalidade daquela norma? 
Tal questão é muito controvertido, mas a tendência na doutrina é admitir isso, para se 
dar alguma eficácia a essa função de garantia. 
Existem duas formas de se trabalhar essa matéria, havendo uma divergência na 
doutrina. Alguns autores lançam mão do princípio da proporcionalidade, aduzindo que 
haveria uma intervenção desproporcional nesses casos. A Professora, por sua vez, prefere usar 
o princípio da dignidade da pessoa humana, no seguinte sentido: 
 Qual é o significado mais reconhecido do princípio da dignidade da pessoa 
humana, sobretudo em matéria penal? 
Seria a ideia de que o Direito e o Direito Penal devem reconhecer o homem como um 
fim em si mesmo. O homem não pode ser instrumentalizado em prol de outros fins que não 
lhe digam respeito, isto é, o homem não pode ser “coisificado”. Essa é a ideia, o núcleo do 
significado da dignidade da pessoa humana que mais interessa ao direito penal. 
Quando se impõe uma pena privativa de liberdade a alguém em razão do cometimento 
de um crime contra o patrimônio, isso significa que se está punindo aquela pessoa para 
proteger um bem jurídico que é do interesse da comunidade e dele mesmo. Tem que ser algo 
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que interesse à comunidade e a ele mesmo, porque aquilo também é importante para a 
realização pessoal do próprio agente. 
Quando há, portanto, uma intervenção penal protetiva de um bem jurídico, não há 
uma coisificação, uma instrumentalização do autor do delito, pois aquele bem jurídico 
também interessa a ele. 
Caso alguém sofresse a ação da máquina do sistema penal sem que houvesse ocorrido 
a violação de um bem jurídico de interesse de toda a sociedade, bem como do próprio agente, 
estaríamos diante da ideia de coisificação e instrumentalização do indivíduo, razão pela qual 
seria possível valer-se do princípio da dignidade da pessoa humana como meio garantidor de 
direitos e corretor de ilegalidades. 
Esta seria uma das formas de se trabalhar a função de garantia do bem jurídico dentro 
da Constituição para além do mecanismo trazido pelo princípio da proporcionalidade. 
 Apenas bens constitucionalmente relevantes são passíveis de tutela? 
Isso é controvertido. No Brasil existem duas correntes: 
1ª corrente, defendida por Figueiredo Dias, Luis Régis Prado e Feldens: Sim, devem 
estar pelo menos implicitamente previstos na CF. Na visão de Luciano Feldens, quanto mais 
direta a previsão constitucional, maior será a legitimidade da penalização. 
Eles acreditam que todos os bens jurídicos que podem ser protegidos pelo legislador 
penal (e o são de forma muito severa – incidência de penas privativas de liberdade), devem 
estar previstos na Constituição. Esse seria o critério de legitimidade. 
2ª corrente, defendida por Luís Greco, Dolcini e Marinucci: basta que o bem jurídico 
eleito seja compatível com os princípios da Constituição, não precisando estar explícito no 
texto constitucional. 
Luís Greco, no artigo já citado, dá o exemplo da fé pública, sendo indiscutível a 
relevância desse bem jurídico para a interação social. Ocorre que ele não está na CRFB. 
 
Perguntas a serem analisadas: 
 Tendo em vista que a Constituição é explícita em relação à importância de 
alguns bens jurídicos (vida, liberdade, etc.), será que o legislador pode descriminalizar 
condutas que sejam lesivas a esses bens? 
 Se ele fizer isso haveria uma inconstitucionalidade dessa lei descriminalizadora, 
dado o princípio da proteção deficiente? 
 Pode estar obrigado o legislador a castigar lesões a bens jurídico-
constitucionalmente protegidos (ex. aborto)? 
Direito Penal - Parte Geral 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários 
e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
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 Se o Brasil optasse por descriminalizar o aborto de feto de até três meses, como 
existe em outros países, o âmbito de proteção penal ao direito a vida diminuiria, uma vez hoje 
em dia ele é total, ou seja, vedado contra o feto em qualquer fase gestacional. Será que essa 
lei penal, que descriminaliza condutas e, portanto, debilita a proibição àquele bem jurídico, 
pode ser declarada inconstitucional por proteção deficiente de um bem jurídico que está na 
Constituição? 
 Em outras palavras, a Constituição estabelece obrigações de tutela penal? 
(Consequência prática: considerar uma lei inconstitucional por proteção deficiente a um 
determinado bem jurídico).

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