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Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 43 Capítulo 4 ALTERNADORES Esta aula apresenta os princípios de funcionamento dos alternadores, explica a razão de alguns dos seus detalhes construtivos e porque se utilizam freqüências padrão de 50 Hz e 60 Hz. Estrutura básica dos alternadores A maior parte da energia elétrica consumida em todo o mundo é gerada a partir de fontes primárias convencionais. Qualquer que seja o tipo da fonte primária - hídrica, fóssil ou nuclear - o processo de geração de eletricidade contém uma etapa intermediária na qual a energia primária é convertida em energia mecânica (movimento de um eixo) através de uma turbina. Essa energia mecânica proveniente da turbina é finalmente convertida em energia elétrica através de um alternador. Os alternadores são máquinas elétricas que geram eletricidade fornecendo tensão alternada (daí o nome) com forma de onda senoidal e pertencem à classe das máquinas síncronas, pois a freqüência da tensão senoidal gerada está acoplada (sincronizada) à velocidade de acionamento pela turbina. Todo alternador possui dois componentes principais: • Estator - conjunto de bobinas enroladas em núcleo de material ferromagnético (armadura), que não se movem (daí o nome), e onde se produz a tensão elétrica alternada senoidal; • Rotor - uma bobina com muitas espiras enroladas em núcleo de material ferromagnético (campo), que se move (daí o nome) acionada pelo eixo da turbina e onde se faz passar, por meio de anéis de cobre e contatos de grafite (escovas), uma corrente contínua proveniente de uma fonte CC externa. O desenho esquemático abaixo mostra a posição relativa do rotor e estator de um alternador acionado por uma turbina hidráulica (hidrogerador), cuja configuração é tipicamente encontrada em usinas hidrelétricas. A parte superior (trapezoidal) do desenho representa um gerador de corrente contínua acionado pelo mesmo eixo, uma solução freqüentemente usada no passado para fornecer a corrente contínua que o rotor necessita, tendo sido atualmente substituído por retificadores a diodos. Capítulo 4 - Alternadores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 44 Alternador elementar de dois pólos O princípio de funcionamento de um alternador pode ser melhor entendido considerando-se um gerador elementar com apenas dois pólos, o menor número possível. Sabe-se que um imã permanente possui dois pólos (norte e sul), assim como uma bobina percorrida por uma corrente (eletroímã) também possui dois pólos. O rotor de um alternador elementar de dois pólos contém uma bobina (enrolamento de campo) alimentada com corrente contínua, constituindo um eletroímã cujos pólos norte e sul não mudam com o tempo. Esse eletroímã produz um fluxo magnético no espaço em seu entorno, sendo mais intenso na direção do eixo da bobina, como ilustra a figura abaixo. Note que o núcleo ferromagnético não é simétrico, mas sim forma pólos salientes, que é a estrutura normalmente utilizada em alternadores de usinas hidrelétricas. Já a figura abaixo mostra um corte lateral do rotor de dois pólos salientes, ilustrando como se injeta corrente contínua, proveniente de uma fonte externa representada por uma bateria, na bobina de campo através de anéis e escovas de grafite. Capítulo 4 - Alternadores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 45 Por outro lado, o estator de um alternador de dois pólos contém apenas um enrolamento (armadura), como representado esquematicamente na figura abaixo. Observe que, quando o rotor gira acionado pela turbina em velocidade constante, o fluxo magnético produzido pela bobina de campo atravessa as espiras da bobina do estator de uma maneira não-uniforme. Quando os eixos magnéticos do rotor e estator estão alinhados o enlaçamento do fluxo pela bobina de armadura é sempre máximo, ora em um sentido ( ), ora em outro ( ). Quando os eixos estão em posição perpendicular, o enlaçamento é nulo ( ou ( )). Em outras palavras, o fluxo magnético que atravessa o estator varia à medida que o rotor gira e essa variação induz uma tensão na bobina do estator em obediência à lei de Faraday. Lembre-se que a lei de Faraday estabelece que se o número de linhas de força do fluxo magnético que passa por dentro de (enlaça) uma espira variar, então será induzida uma tensão nos terminais da espira. E mais, essa tensão induzida será proporcional à taxa de variação do fluxo total enlaçado, ou seja: Em resumo, o processo de conversão de energia mecânica em eletricidade, realizado nos alternadores, consiste em utilizar energia mecânica para fazer as linhas de força de um fluxo magnético (produzido pelo rotor) atravessarem as espiras estacionárias do estator, nas quais aparece induzida uma tensão elétrica que irá alimentar as cargas. Afinal, um alternador é uma fonte de tensão, pois converte energia mecânica em energia elétrica. No caso do alternador de dois pólos, pode-se considerar que a distribuição do fluxo em função da posição relativa do rotor, descrita pelo ângulo na figura acima, seja: Capítulo 4 - Alternadores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 46 em que é o fluxo máximo constante na direção do eixo magnético do rotor. Desse modo, a tensão terminal do alternador, induzida na bobina do estator, será dada pela derivada do fluxo em relação ao tempo, ou seja: lembrando que, em termos gerais, e que usualmente define-se quando . Note que, nessas condições, a tensão de saída do alternador tem a forma senoidal, como ilustra a figura abaixo. O ângulo é chamado de ângulo elétrico da tensão gerada, sendo medido em radianos ou graus. A propósito, o que o ângulo elétrico tem a ver com a freqüência da tensão senoidal gerada? Pense nisso. Alternador elementar trifásico O alternador elementar apresentado anteriormente possui, no estator, somente uma bobina (enrolamento), cujas extremidades são conectadas à dois terminais entre os quais se estabelece a tensão elétrica gerada. Portanto, para se transportar a energia elétrica até uma carga são precisos dois fios: um chamado fase e outro chamado retorno ou neutro. Por isso, esse tipo de alternador é denominado monofásico. Todavia, os alternadores utilizados nas usinas hidrelétricas e térmicas possuem três bobinas no estator, sendo por isso chamados de trifásicos. A figura abaixo mostra esquematicamente os enrolamentos do rotor e estator de um alternador elementar trifásico de dois pólos, Capítulo 4 - Alternadores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 47 Observe que os três enrolamentos são iguais, independentes e distribuídos ao longo da periferia do estator (armadura) de tal modo que seus eixos magnéticos formem ângulos de entre si. O enrolamento do rotor (campo) é percorrido por corrente contínua, fornecida por uma fonte de tensão contínua externa através de anéis e escovas. O princípio de funcionamento de um alternador trifásico é idêntico ao de um alternador monofásico, ou seja, o rotor ao girar, acionado por uma turbina com velocidade constante, faz com que o fluxo magnético produzido pela bobina de campo atravesse progressivamente as bobinas do estator, induzindo em cada uma delas uma tensão com a mesma amplitude, de acordo com a lei de Faraday. Como os eixos magnéticos das bobinas do estator formam ângulos de , as tensões senoidais induzidas estão defasadas de elétricos ao longo do tempo, conforme ilustra a figura abaixo. Cada bobina do estator corresponde a uma fase do alternador trifásico, sendo que as fases serão designadas, neste texto, pelas primeiras letras do alfabeto a, b, c. As normas brasileiras, estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), utilizam as letras R, S, T, seguindo normas européias. A tensão induzida em cada enrolamento do estator é chamada de tensão de fase,sendo identificada pelo índice inferior correspondente a cada fase: Va, Vb, Vc. Os três enrolamentos (aa', bb', cc') do estator de um alternador trifásico são frequentemente conectados como mostrado na figura abaixo. Note que os terminais a', b', c' das bobinas foram ligados eletricamente a um ponto comum, acessível externamente Capítulo 4 - Alternadores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 48 através de um fio chamado neutro. Essa forma é conhecida como conexão Y ou estrela, por lembrar os respectivos formatos. Note que, para se extrair a energia elétrica gerada por um alternador trifásico, são necessários três fios no mínimo (o fio neutro é opcional, como será visto mais tarde). A conexão Y com neutro dos enrolamentos do estator estabelece dois tipos de tensão entre os fios terminais do alternador: um tipo corresponde às já definidas tensões de fase Van, Vbn, Vcn, existentes entre o neutro e cada respectivo terminal de fase; um outro tipo corresponde às chamadas tensões de linha Vab, Vbc, Vca, obtidas entre cada dois fios de fase. Será demonstrado mais tarde que as três tensões de linha também são senoidais e defasadas de elétricos entre si, do mesmo modo que as tensões de fase, embora existam, em relação a estas últimas, diferenças em amplitude (valor eficaz) e fase. Um conjunto de três tensões senoidais de mesma amplitude e defasadas de elétricos entre si é denominado sistema trifásico. Tanto a geração quanto a transmissão e distribuição de energia elétrica utilizam normalmente sistemas trifásicos, visando explorar suas vantagens em comparação aos sistemas monofásicos, que são utilizados apenas nas instalações elétricas de baixa tensão (127 V ou 220 V). As vantagens de um sistema trifásico são de várias naturezas, que irão sendo compreendidas ao longo deste texto. Por ora, pode-se dizer que um alternador trifásico possui maior potência especifíca do que um alternador monofásico de mesma capacidade de geração. A potência especifíca de um equipamento, medida em W/Kg, fornece a relação entre a potência elétrica e a massa do equipamento. No caso de alternadores, dada uma certa massa de cobre e ferro-silício (que são os principais materiais necessários), quanto maior a potência específica maior será a potência gerada. Em outras palavras, um alternador trifásico é mais eficiente que um monofásico de potência semelhante. O mesmo fato se aplica a transformadores, linhas de transmissão e motores elétricos trifásicos. Relação velocidade-frequência em alternadores Em um alternador elementar com dois pólos, a tensão alternada senoidal gerada percorre exatamente um período da forma de onda enquanto o rotor completa uma rotação em torno de seu eixo. Diz-se, nesse caso, que o ângulo elétrico da tensão é igual ao ângulo mecânico que descreve a posição do rotor em relação a uma referência fixa no estator. Esse fato se deve ao número de pólos da máquina. Capítulo 4 - Alternadores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 49 Considere agora um alternador elementar com quatro pólos salientes, como ilustrado esquematicamente na figura que se segue. Note que o rotor tem quatro bobinas em série (a corrente é a mesma) formando o enrolamento de campo, enquanto que o estator possui duas bobinas aa' e bb' também conectadas em série. A estrutura de material ferromagnético do estator (armadura) não está mostrada na figura para simplificar o desenho. Nesse alternador de quatro pólos, quando o rotor completar uma rotação em torno de seu eixo, a tensão alternada senoidal gerada terá percorrido exatamente dois períodos da forma de onda e pode-se, desse modo, afirmar que o ângulo elétrico da tensão é igual a duas vezes o ângulo mecânico que descreve a posição do rotor em relação a uma referência fixa no estator. A figura abaixo ilustra a diferença entre as formas de onda da tensão gerada quando o alternador tem dois pólos (em azul) ou quatro pólos (em vermelho), supondo mesmo valor eficaz. Note que a freqüência da tensão no alternador de quatro pólos é o dobro da freqüência da tensão no alternador de dois pólos. Em um alternador com p pólos, pode-se afirmar que os ângulos elétrico e mecânico obedecem à seguinte relação: Derivando-se essa expressão em relação ao tempo, obtém-se uma relação semelhante entre a velocidade angular elétrica ( ) e a velocidade de rotação do rotor do alternador (n), ambas expressas em rad/s: Capítulo 4 - Alternadores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 50 Lembrando que , em que f representa a frequência da tensão gerada expressa em Hz, tem-se: Como usualmente exprime-se uma velocidade de rotação em rotações por minuto (rpm), é conveniente transformar essa unidade na equação anterior utilizando a regra de conversão e chegando a: Essa equação fornece a freqüência (em Hz) da tensão gerada por um alternador de p pólos acionado por uma turbina com velocidade de rotação n (em rpm). Observe que ela se aplica tanto a alternadores monofásicos quanto trifásicos, bastando neste último caso considerar cada tensão de fase ou cada tensão de linha individualmente. Embora muito simples, essa equação é extremamente útil, pois permite não só entender porque um alternador é uma máquina síncrona (a freqüência está diretamente relacionada com a velocidade de acionamento), como também justificar diversos aspectos geométricos e tecnológicos na construção dos alternadores. Porque hidrogeradores são largos e turbogeradores compridos Um hidrogerador é um alternador síncrono acionado por uma turbina hidráulica. As turbinas hidráulicas são por natureza formadas por grandes e pesadas estruturas metálicas, fato que, aliado à inércia de grandes massas de água, determina uma velocidade de rotação relativamente baixa, variando usualmente entre 80-300 rpm no caso de turbinas Francis ou Kaplan e chegando a 600 rpm no caso de turbinas Pelton . Como exemplo, veja na figura o rotor de uma turbina hidráulica Francis da usina de Itaipu. Essa turbina aciona um hidrogerador de Itaipu com a velocidade de 92,3 rpm. Como a frequência padrão no Brasil é 60 Hz, a relação velocidade-frequência, deduzida na seção anterior, impõe que o número de pólos do alternador seja igual a 78. Tal quantidade de pólos exige o uso de pólos do tipo saliente no rotor do alternador, bem como obriga seu diâmetro a ter grande dimensão. Torna-se então evidente porque os hidrogeradores possuem uma geometria mais larga que comprida. Observe na figura o rotor de um alternador da usina de Itaipu. que possui diâmetro de aproximadamente 16 metros. O que se vê em primeiro plano são as cabeças de cada pólo saliente, sendo que cada enrolamento de campo situa-se por trás em sentido Capítulo 4 - Alternadores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 51 longitudinal. O núcleo de material ferromagnético é laminado, ou seja, constituído por lâminas justapostas e isoladas por verniz a fim de diminuírem as correntes de Foucault. Os enrolamentos do estator, correspondentes ao mesmo número de pólos do rotor, situam- se distribuídos pela periferia de uma estrutura de material ferromagnético que envolve o rotor e, portanto, também possui grande dimensão diametral. Veja nas figuras a montagem da estrutura e a montagem dos enrolamentos distribuídos no estator de um hidrogerador. O núcleo de material ferromagnético do estator também é laminado. Veja ainda a ilustração mostrando um hidrogerador completo em corte, o que permite verificar os detalhes construtivos. Note, na parte superior, a pequena máquina elétrica (gerador CC), acionada pelo mesmo eixo, que fornece a corrente contínua para o enrolamento de campo no rotor. Por outro lado, um turbogerador é um alternador síncrono acionada por turbinas a vapor ou a gás. Uma turbina a vapor ou a gás tem o rotor constituídopor um grande número de palhetas montadas radialmente formando conjuntos chamados rodízios. Esses rodízios possuem diâmetros variados, sendo dispostos em paralelo e presos ao mesmo eixo, formando diversos estágios. O vapor ou gás de exaustão vai passando dos rodízios menores para os maiores à medida que a pressão for caindo, a fim de manter o torque aproximadamente constante. O eixo do rotor da turbina é sempre colocado na posição horizontal. Veja a figura mostrando os rodízios do rotor de uma turbina a vapor e a ilustração que apresenta a estrutura básica de uma turbina a vapor. Devido à sua estrutura, turbinas a vapor ou gás possuem velocidades de rotação relativamente altas (tipicamente 1800 ou 3600 rpm) e, portanto, um turbogerador precisa ter somente um pequeno número de pólos (4 ou 2) para gerar uma tensão com frequência padrão de 60 Hz. Essa reduzida quantidade de pólos permite que o rotor do turbogerador tenha um diâmetro relativamente pequeno e que se usem pólos lisos cilíndricos. Por essa razão, a geometria de um turbogerador é mais comprida que larga. A figura abaixo mostra como o enrolamento de campo é disposto em um rotor de pólos lisos com dois pólos. O rotor dos turbogeradores é maciço (não laminado) devido à dificuldade de manter agregadas as lâminas de material ferromagnético em altas rotações. Capítulo 4 - Alternadores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 52 Porque a freqüência é 60 Hz Os sistemas de corrente alternada trabalham, hoje em dia, com uma freqüência padrão para suas formas de onda senoidais. Isso significa que todos os alternadores do sistema devem gerar uma tensão senoidal com a mesma freqüência elétrica, independentemente do tipo de turbina de acionamento. O valor dessa freqüência padrão depende de cada país, sendo até mesmo considerado um dos símbolos nacionais, como a bandeira, o hino, a moeda. Atualmente, somente dois valores são utilizados: 60 Hz no Brasil, EUA e Canadá e 50 Hz nos demais países da América Latina e Europa. No Japão, parte do país usa 50 Hz enquanto outra parte usa 60 Hz, pois os sistemas são independentes. Por que é necessário ter uma freqüência padrão e como apareceram os valores de 50 ou 60 Hz? Quando os sistemas de corrente alternada começaram a ser utilizados, a partir de 1885, cada um deles adotava a freqüência mais conveniente à fonte primária (carvão ou hidráulica), ao conjunto turbina-gerador disponível e ao uso final da energia (carga). Isso era possível porque os sistemas operavam isoladamente, não havendo interconexão elétrica entre eles, mesmo quando pertenciam à mesma empresa. As freqüências de 125 Hz e 133 Hz eram as mais utilizadas para atender à carga de iluminação constituída por lâmpadas incandescentes, de longe o principal tipo de consumo na época. Um arranjo típico (Westinghouse, 1890) era um motor a vapor com velocidade de 2000 rpm acionando um alternador de 8 pólos para gerar a 133 Hz. Já para atender à carga industrial, constituída por motores elétricos, a freqüência mais usada era 25 Hz. Por exemplo, os hidrogeradores com 12 pólos da usina de Niagara Falls (EUA, 1895) geravam a 25 Hz ao serem acionados por turbinas hidráulicas de 250 rpm. A justificativa para se usar freqüência tão baixa deve-se ao fato que os motores elétricos empregados na época, embora alimentados com corrente alternada, eram na verdade motores de corrente contínua (provavelmente motores CC com excitação série, chamado hoje em dia motor universal, pois funciona tanto em CC quanto em CA) que funcionam melhor com freqüência mais baixa. Além disso, os motores CA de indução, inventado por Nikola Tesla em 1888 e que aos poucos ia substituindo o motor CC na indústria, precisavam ser alimentados com freqüência baixa para que sua velocidade de rotação fosse compatível com as aplicações industriais da época. Em um motor de indução, a velocidade é diretamente proporcional à freqüência da tensão de alimentação, como será visto mais tarde. Por outro lado, a freqüência de 25 Hz não é adequada para alimentar lâmpadas incandescentes, pois o comportamento pulsante em baixa freqüência da potência instantânea na lâmpada deixa visível ao olho humano o “acende-apaga” do filamento, ocasionando um efeito desagradável chamado cintilação. Quanto menor a freqüência, maior é o efeito de cintilação. Esses fatos levaram a uma situação muito confusa, pois as empresas precisavam fornecer energia em baixa freqüência para motores e alta freqüência para iluminação. Dependendo do local, cada empresa utilizava as mais diferentes freqüências variando de 16 Hz a 133 Hz. Por exemplo, nos EUA, a Westinghouse adotou, em 1892, a freqüência de 60 Hz para iluminação e 30 Hz para força (motores CA). Na Alemanha, a empresa AEG utilizava 50 Hz. Em Londres, por volta de 1925, coexistiam cinqüenta sistemas independentes Capítulo 4 - Alternadores Copyright_2001_ALMorelatoFranca. 53 utilizando dez diferentes freqüências. Essa situação começou a mudar quando ficaram evidentes as vantagens da operação interligada de sistemas elétricos antes isolados, pois se percebeu que o consumo de eletricidade segue diferentes padrões dependendo da região e da hora do dia. Com a interconexão seria possível transferir energia entre regiões com distintos horários de pico, por exemplo, permitindo uma utilização mais econômica dos equipamentos e propiciando negócios de compra e venda de energia. Porém, interligar sistemas elétricos de corrente alternada exige padronização da freqüência, já que todos os geradores precisam operar em sincronismo, ou seja, fornecer tensões com a mesma freqüência a fim de manter a forma de onda senoidal. Uma solução alternativa, mas antieconômica, seria usar equipamentos conversores de freqüência nas fronteiras da interligação. Diante disso, houve uma convergência paulatina para o padrão 60 Hz nos EUA e o padrão 50 Hz na Europa, cujos valores satisfaziam tanto às cargas de iluminação quanto às cargas industriais, que necessitavam de motores de indução mais velozes, bem como eram compatíveis com as velocidades usuais das turbinas. E' interessante lembrar que a Inglaterra adotou o padrão 50 Hz somente após a II Guerra Mundial. No Brasil, as duas freqüências padrão conviveram desde a construção das primeiras usinas hidrelétricas no início do século 20: em São Paulo e Minas Gerais usava-se 60 Hz e no Rio de Janeiro 50 Hz. Em meados da década de 50, os sistemas de São Paulo e Rio de Janeiro foram interligados através de um conversor de freqüências localizado em Aparecida do Norte. Essa situação perdurou até meados da década de 60 quando se estabeleceu o padrão 60 Hz para todo o País. A propósito, note que nos grandes aviões a jato os sistemas elétricos CA utilizam freqüência de 400 Hz, pois equipamentos eletromagnéticos de mesma potência são menores e mais leves quanto mais alta a freqüência. Por que, então, não se utilizam modernamente freqüências mais altas nos sistemas de fornecimento de energia elétrica ? Pense nisso.
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