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Livro Especialização em Aprendizagem Motora

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Especialização em 
Aprendizagem Motora 
(Volume II) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Laboratório Sistemas Motores Humanos 
Departamento de Biodinâmica MCH 
Escola de Educação Física e Esporte 
Universidade de São Paulo 
Organizadores Luis Augusto Teixeira 
 
Victor Hugo Alves Okazaki 
Andréa Cristina de Lima 
Carla Ferro Pereira 
Sylvia Lúcia de Freitas 
Elke dos Santos Lima 
 
 ii 
 
 
Edição: Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo 
Capa: Luís Augusto Teixeira 
Editoração eletrônica: Andréa Cristina de Lima 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Reprodução 
O livro como um todo ou suas partes poderão ser reproduzidos de forma impressa ou 
eletrônica, desde que não se faça uso comercial de seu conteúdo. 
Endereço eletrônico: Este livro poderá ser obtido em arquivo eletrônico no seguinte endereço, 
http://www.usp.br/eef/efb/labsis/livros.htm 
 
 
 Especialização em aprendizagem motora / org. Luis Augusto 
 Teixeira et al. – São Paulo: Departamento de Biodinâmica do 
 Movimento do Corpo Humano da Escola de Educação Física e 
 Esporte da Universidade de São Paulo, 2009. 
 v, 164p. 
 
 Coletânea de trabalhos do Curso de Especialização em 
 Aprendizagem Motora, organizado por Luís Augusto Teixeira, Victor Hugo Alves 
Okazaki, Andréa Cristina de Lima, Carla Ferro Pereira, Sylvia Lúcia de Freitas e 
Elke dos Santos Lima. 
 
 
 1. Aprendizagem motora 2. Controle motor I. Teixeira, L.A., org. 
 II. Título. 
 
 
 iii 
 
Apresentação 
O conteúdo desta publicação traz os trabalhos de conclusão da segunda edição do Curso de 
Especialização em Aprendizagem Motora, promovido pelo Laboratório Sistemas Motores 
Humanos da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo. Este curso foi 
oferecido no formato à distância, com o propósito principal incrementar a qualificação 
acadêmica de profissionais atuantes em diferentes segmentos relacionados ao desenvolvimento 
de habilidades motoras em seres humanos, tais como aqueles graduados em Educação Física, 
Esporte, Fisioterapia, Psicologia e Dança. 
A seleção do conteúdo e a estratégia de ensino foram norteadas pelos seguintes objetivos: 
1. Favorecer o acesso ao aperfeiçoamento profissional, tornando mais acessível o conhecimento 
gerado e organizado na Universidade de São Paulo a profissionais residentes em regiões mais 
distantes da cidade de São Paulo ou com dificuldade de acesso físico. 
2. Proporcionar uma aprendizagem autônoma, a partir de uma proposta pedagógica visando ao 
desenvolvimento de indivíduos ativos em sua formação. 
3. Promover uma educação inovadora e de qualidade, buscando-se diversificar e ampliar as 
ofertas de estudo, com um sistema educativo inovador, por sua sistemática e recursos didáticos 
instrucionais e de multimídia. 
4. Incentivar a educação permanente por meio de estratégias e instrumentos adequados para a 
aquisição de autonomia na obtenção de informação, buscando-se desenvolver habilidades para 
posterior manutenção do aperfeiçoamento profissional independente. 
 5. Tornar mais eficiente o processo de aprendizagem, uma vez que o aluno pode estudar em 
períodos de sua maior conveniência, sem perda de tempo no deslocamento frequente ao local 
sede do curso. 
A fim de proporcionar uma sólida formação na área de comportamento motor, foi 
oferecido um amplo conjunto de disciplinas, divididas em três áreas temáticas: (1) Formação 
básica, composta pelas disciplinas de Estatística, Metodologia da pesquisa, Neurofisiologia do 
comportamento motor e Mensuração e avaliação do comportamento motor. (2) Controle motor, 
composta pelas disciplinas Funções sensório-perceptivas e atenção, Mecanismos de controle 
motor, Coordenação motora e Lateralidade. (3) Aprendizagem motora, composta pelas 
disciplinas Introdução à aprendizagem motora, Informação extrínseca e Efeito da prática. 
 iv
Uma parte importante dos resultados obtidos neste processo de formação superior poderá 
ser apreciada nos vários trabalhos de pesquisa apresentados nesta publicação. Estes trabalhos 
foram realizados como requisito para conclusão do curso, com foco em temas associados à área 
de comportamento motor. Cada trabalho de pesquisa foi orientado por um dos docentes do 
curso, o qual acompanhou o aluno/autor durante todo o desenvolvimento do curso como seu 
tutor. O resultado final deste processo educacional poderá ser conferido pelo leitor nesta 
publicação, na qual oferecemos uma série de resultados originais de pesquisa, com potencial 
para aprimoramento tanto acadêmico quanto das atividades profissionais relacionadas ao 
desenvolvimento da motricidade humana. 
 
 
Luis Augusto Teixeira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 v
SUMÁRIO 
 
Capítulo 1 Coordenação motora e prática de atividade física em crianças 
 Adriano Augusto Vivas Maia 
1 
Capítulo 2 Foco atencional na aprendizagem de padrões gráficos em crianças 
 Barbara Detoni Borba 
8 
Capítulo 3 Efeito da atenção sobre a preferência manual: Desempenho e 
aprendizado na tarefa de seqüenciamento de toque de dedos 
 Bruno Secco Faquin 
18 
Capítulo 4 Efeito da mudança de direção sobre a lei de Fitts na tarefa de 
traçar linhas 
 Camila Rodrigues Fiuza 
29 
Capítulo 5 Efeito da atenção sobre a preferência manual e assimetria 
interlateral no aprendizado em tarefa de rastreamento 
 Cristiane Regina Coelho Candido 
38 
Capítulo 6 Efeito do foco de atenção sobre o desempenho em habilidades 
motoras esportivas 
 Deborah Regina Freitas Dantas 
49 
Capítulo 7 Ginástica holística: Um caminho para a melhora da atenção 
 Fernanda Fonseca dos Santos Lopes 
60 
Capítulo 8 Idoso: dificuldades em uma tarefa motora com bola 
 Flávia Maria Roquette Ferreira 
71 
Capítulo 9 Análise da aprendizagem do saque manchete do voleibol em 
função do foco atencional 
 Kleber Augusto Ribeiro 
81 
Capítulo 10 Efeito da freqüência de conhecimentos de resultados na 
aprendizagem de uma habilidade motora em idosos 
 Marijane Alexandrino Boto 
91 
Capítulo 11 Efeito do uso da instrução verbal e demonstração por vídeo na 
aprendizagem de uma habilidade motora do judô 
 Mário Luiz Miranda 
100 
Capítulo 12 Tendência de oscilação postural e equilíbrio funcional em 
indivíduos com Doença de Parkinson 
 Natália Madalena Rinaldi 
110 
Capítulo 13 Efeito de instruções verbal e visual no aprendizado do salto triplo 
 Priscila Gabriel da Rocha Mateus 
122 
Capítulo 14 Alteração da preferência manual na tarefa de alcançar e agarrar 
em função de prática unimanual 
 Renato Passos Pereira da Silva 
133 
Capítulo 15 Interferência contextual em tarefa de contornar figuras 
geométricas 
 Roberta Regina Castellano Linhares 
141 
Capítulo 16 Assimetria intermanual em ações de velocidade-precisão e sua 
relação com a prática da tarefa 
 Vivian Bermudo 
154 
 
 1
Capítulo 1 
Coordenação motora e prática de atividade física em crianças 
Autor: Adriano Augusto Vivas Maia 
Orientadora: Andrea Cristina Lima 
 
Resumo 
O presente estudo teve como objetivo avaliar a coordenação motora em crianças em função do 
gênero e do tempo de prática. Participaram do estudo 40 crianças com 9 anos de idade de 
ambos os sexos. A coordenação motora foi avaliada com a bateria de testes KTK que 
compreende quatro provas: equilíbrio à retaguarda, saltos laterais, saltos monopedais e 
transposição lateral. Ao teste estatístico, somente o gênero foi significante graças ao 
desempenho superior das crianças do sexo masculino.Não foi observada relação entre o nível 
de coordenação motora e o tempo de prática de atividades esportivas. Com base nos resultados 
concluímos que o gênero masculino obtém vantagem em relação à coordenação motora. Porém 
não podemos afirmar, com base nos resultados encontrados que a prática de atividade física 
tem relação com a coordenação motora. 
 
Termos-chave: coordenação motora, teste KTK, atividade física 
 
Introdução 
A que se devem as diferenças de gênero quando falamos de desenvolvimento de ações 
motoras? A primeira é a diferença funcional. Em princípio, e consideradas as diferenças 
morfofuncionais típicas de cada sexo, deveria existir um fator intrínseco favorável ao sexo 
masculino para todas as ações em que a estrutura musculoesquelética tem papel não 
negligenciável: as ações que exigem mais força, mais rapidez, segmentos mais longos ou 
estruturas de suporte articular mais robustas. Ações como correr, saltar ou lançar estariam 
assim, de início, favorecidas no sexo masculino dadas as diferenças naturais nos fatores de 
execução. Sherif e Rattray (1976) mostraram que os professores e treinadores, quando 
confrontados com estas diferenças de gênero, as consideravam sobretudo como efeitos da 
biologia. Segundo Barreiros e Neto (2005), o grupo de variáveis biológicas, inclui aspectos 
como a morfologia, o índice de maturação, a composição corporal e muscular, e todos os 
fatores normalmente designados por fisiológicos. Outro grupo junta um conjunto complexo de 
variáveis: as influências genéticas e os valores de cada grupo social em cada momento. Um 
terceiro grupo, talvez o que tem maior incidência direta, é uma construção evolutiva lenta, feita 
com base nas experiências de movimento facultadas pelo envolvimento, e muito caracterizadas 
por um processo não orientado nas primeiras idades, a que se sucede um conjunto cada vez 
 2
mais estruturado de oportunidades, como as facultadas pela escola e outras instituições. Este 
conjunto de influências é correntemente designado por efeitos da prática. 
Um estudo sobre a diferença entre gêneros em atividades físicas foi elaborado por 
Pomar e Neto (2000). O contato físico e os jogos de interdependência envolvendo força, 
resistência e potência, com predomínio de ações de propulsão e em grupos sociais de maior 
dimensão, e com utilização extensiva dos espaços, são características dos jogos e atividades 
masculinas. O gênero feminino, por outro lado, privilegia as atividades de natureza estética, 
com movimentos finos e mais controlados, muitas vezes associados a atividades rítmicas, com 
poucos participantes e em espaços mais reduzidos. No sexo feminino predominam a 
comunicação verbal e não-verbal, o reduzido contacto físico e pouca agressividade. Só para 
ilustrar os extremos da estereotipia, atente-se que o futebol, basquetebol e surf são 
predominantemente masculinas, enquanto o elástico, os batimentos ritmados de mãos e o saltar 
corda são predominantemente femininos. 
Contudo, porque as diferenças de desempenho entre gêneros não são tão óbvias quanto 
às diferenças biológicas, porque essas diferenças não têm a mesma expressão em momentos 
distintos da história, e porque por vezes os resultados são contra-intuitivos e difíceis de 
explicar, tornou-se necessário equacionar o papel dos efeitos da prática esportiva nas diferenças 
na coordenação motora. De acordo com Magill (2000) a variedade de experiências de 
movimento e de contexto são ingredientes importantes para as condições de prática. Isso 
aumenta a capacidade do indivíduo desempenhar determinada habilidade com sucesso e 
principalmente de se adaptar às condições ainda não vivenciadas. 
Dentre os instrumentos utilizados para identificar os níveis de coordenação motora na 
infância e juventude, encontra-se o Teste de Coordenação Corporal para Crianças 
(Körperkoordinationtest für Kinder - KTK) desenvolvido por Kiphard e Schilling (1974). Gorla 
et al. (2003) desenvolveu um trabalho sobre o teste KTK em estudos da coordenação motora. 
O teste KTK é composto por quatro atividades: equilíbrio retrocedendo, saltos monopedais, 
saltos laterais e transposição lateral. Foram analisados os estudo feitos com o teste KTK por 
Rapp e Schoder (1972), Bianchetti e Pereira (1994), Smits-Engelsman et al. (1998), Fernandes 
(1999) e Santos et al. (1999). De acordo com os estudos citados anteriormente, Gorla obteve 
evidências concretas da sua validade. Verificou-se também que o teste mostrou-se eficiente 
dentro dos objetivos propostos pelos estudos, podendo, quando utilizado de forma correta, 
contribuir para a elaboração de programas específicos de Educação Física, diagnosticar 
problemas de coordenação motora global e verificar a aquisição de habilidade motora básicas. 
Os estudos sobre avaliação da coordenação e suas relações com idade, gênero e nível de 
atividade são escassos. Segundo Lopes et al. (2003) a insuficiência de coordenação refere-se à 
 3
instabilidade motora geral, que engloba os defeitos qualitativos da condução do movimento 
atribuído a uma interação imperfeita das estruturas funcionais subjacentes, sensoriais, nervosas 
e musculares, a qual provoca uma moderada alteração qualitativa dos movimentos e produz 
uma diminuição leve a mediana do rendimento motor. Esta insuficiência de coordenação pode e 
deve ser corrigida por medidas adequadas no contexto da Educação Física escolar. A avaliação 
da coordenação motora, então, se torna um elemento fundamental na elaboração de programas 
de educação física. Buscar um desenvolvimento ótimo de cada uma das crianças em uma aula 
de educação física demanda domínio na utilização de estratégias de ensino-aprendizagem. 
Associado a este domínio, é preciso que o professor conheça o desenvolvimento da 
coordenação motora e os fatores que influenciam seu desempenho, considerando a hipótese de 
que idade, gênero e experiência motora influenciam o desempenho da coordenação motora. Em 
uma aula de educação física em que crianças com variados níveis de experiência motora 
interagem, pode haver prejuízo no aprendizado se o professor não identificar aquelas que 
necessitam de estratégias de ensino diferenciadas. E dentro do contexto da educação física 
escolar isso é importante na elaboração de um programa de atividades o conhecimento sobre 
essas variáveis e suas correlações. 
O presente estudo tem como objetivo avaliar, através da bateria de testes KTK, o 
desenvolvimento da coordenação motora em crianças de nove anos de idade em função do 
nível de atividade física e gênero. 
 
Método 
Participantes 
 A amostra foi composta por 40 crianças de ambos os sexos com idade de nove anos. 
Todos os participantes eram alunos do ensino fundamental. Não puderam participar da pesquisa 
alunos com deficiência física ou mental diagnosticados, nem crianças com alterações cognitivas 
ou que estivessem fazendo uso de medicamentos que interferisse na atenção ou equilíbrio. O 
pai ou responsável por cada criança assinou um termo de consentimento livre e esclarecido, 
autorizando a participação do mesmo no estudo. 
 
Procedimentos 
Inicialmente foi encaminhado para os responsáveis das crianças um questionário sobre a 
freqüência e tipo de atividade física realizado pelas crianças. Este questionário teve o objetivo 
de identificar o nível de atividade física e experiências motoras vivenciadas pelas crianças. A 
pontuação está definida no questionário em anexo, mas não foi exibida no questionário enviado 
 4
aos pais ou responsáveis. Depois de recebidos os questionários, os participantes foram 
submetidos à bateria de teste de coordenação motora KTK. 
Antes do início da aula de educação física, o material para a realização do teste foi montado 
cada um em um local. Ao chegarem ao local, as crianças foram orientadas sobre a realização do 
teste. Cada uma das quatro atividades foi detalhadamente explicada e demonstradapelo 
professor ou estagiários de educação física que auxiliaram na realização do teste. Os alunos 
foram divididos em grupos, de forma aleatória, independente do gênero, cada grupo realizando 
uma atividade do teste. Enquanto um aluno realizava a atividade, os demais componentes do 
grupo ficaram em outro local aguardando a vez. Na aula seguinte os grupos mudaram de 
atividade, e assim sucessivamente até que todos os alunos terminassem o teste. Cada grupo teve 
um professor de educação física que fez a coleta dos dados. A pontuação total no teste KTK, o 
quociente motor (QM), foi a soma das pontuações do teste de equilíbrio retrocedendo, saltos 
monopedais, saltos laterais e transposição lateral. 
As variáveis dependentes foram o desempenho coordenativo (QM) e a experiência motora 
(escore do questionário). 
 
Análise 
Satisfeitas as exigências para normalidade, foi realizado o teste estatístico t para medidas 
independentes comparando as médias obtidas com relação ao gênero e ao tempo de prática. Foi 
realizado um teste de correlação entre os valores do questionário de atividade física e o escore 
final do teste KTK. O nível de significância foi definido em 0,05. 
 
Resultados 
Para a variável experiência motora, o resultado do teste t para medidas independentes não 
indicou efeito de gênero. O gênero masculino obteve pontuação semelhante ao gênero 
feminino, média e desvios-padrão. 
Para a variável desempenho coordenativo houve efeito de gênero. Este efeito foi graças a 
uma maior pontuação para os meninos (200,15±44,73) significantemente superior às meninas 
(154,81±34,50). 
Não foi encontrada, ao teste realizado, correlação entre experiência motora e desempenho 
coordenativo (r = -0,02 para o gênero feminino e r = -0,04 para o masculino). 
O quociente motor médio obtido no teste foi de 154,81(±34,50) para o sexo feminino e de 
200,15(±44,73) para o masculino. 
 
 
 5
Discussão 
Graf et al. (2004) realizaram um estudo com 668 crianças de ambos os sexos a fim de 
estabelecer uma correlação entre o índice de massa corporal, hábitos de lazer e habilidades 
motoras. A análise da atividade esportiva mostra que as crianças com a maior prática do 
exercício conseguiram os resultados os mais elevados no teste de coordenação KTK. O gênero 
masculino conseguiu resultados significativamente superiores ao feminino. Porém, os 
resultados obtidos no presente estudo contradizem os resultados no que diz respeito ao nível de 
atividade física. 
 Com relação ao efeito de gênero, o presente estudo obteve resultados similares a outros 
realizados, como Deus et al. (2008), Lopes et al. (2003) e Bustamante et al. (2008). 
 De acordo com o trabalho de Barreiros e Neto (2005), as diferenças de gênero em 
termos de coordenação motora são detectáveis desde os três anos de idade, geralmente 
favoráveis ao sexo masculino, exceto em atividades como o saltitar, algumas medidas de 
equilíbrio, a flexibilidade, e tarefas que implicam coordenação motora fina. O que diz respeito 
ao equilíbrio foi observado nos resultados do presente estudo e nos trabalhos de Kiphard e 
Shilling (1974) e Bustamante et al. (2008). 
De acordo com Barreiros e Neto (2005) as diferenças de gênero em termos de 
coordenação motora são detectáveis desde os três anos de idade, geralmente favoráveis ao sexo 
masculino, exceto em atividades como o saltitar, algumas medidas de equilíbrio, a 
flexibilidade, e tarefas que implicam coordenação motora fina com maior peso da componente 
de habilidade digital (Broadhead & Church, 1985; Thomas & French, 1985). O estudo 
continuado mais robusto no sentido da caracterização do desenvolvimento da performance é, 
talvez, o Motor Performance Study, lançado por Vern Seefeldt em 1967. Neste estudo estão 
bem visíveis os efeitos de gênero na performance motora, essencialmente visíveis a partir dos 
sete anos de idade, mas notoriamente diferentes a partir da entrada na adolescência. Aos cinco 
anos de idade os meninos situam-se entre os 20 e os 40% da performance adulta, enquanto as 
meninas já estão posicionadas entre os 40 e os 60%. Este último dado é extremamente 
importante, pois define os potenciais de desenvolvimento atuais para os dois sexos logo desde a 
infância e espelha muito bem a margem de progressão concedida em termos probabilísticos a 
cada um deles. Isso explica os resultados obtidos neste e em outros estudos acima citados no 
que se refere à vantagem do gênero masculino sobre o feminino. 
Em relação à prática esportiva de crianças e adolescentes, espera-se que os mais ativos 
apresentem repertórios motores mais ricos e variados, além de melhores desempenhos em 
termos de coordenação e habilidades motoras. Deve ser considerado também que a qualidade e 
 6
a quantidade da prática de atividades físicas estejam adequadas às idades e ao desenvolvimento 
de cada indivíduo (Lopes, 2006). 
O trabalho feito por Collet et al. (2008) obteve resultados contrários ao obtido no 
presente estudo. O objetivo foi analisar o nível de coordenação motora de escolares da cidade 
de Florianópolis, considerando gênero, faixa etária, prática esportiva extraclasse e IMC. Os 
dados das variáveis gênero, idade e prática esportiva extraclasse foram coletados por meio de 
ficha de registro de dados preenchida pelos pesquisadores de acordo com a resposta fornecida 
pelos escolares. O nível de coordenação foi avaliado através do teste KTK. Os dados apontam 
diferenças estatísticas significativas no nível de coordenação motora ao considerar a prática 
esportiva extraclasse. 
Alguns estudos com crianças brasileiras (Elias et al., 2007) e portuguesas (Faustino et 
al., 2004; Maia & Lopes, 2007) sugerem ligeira influência dos níveis de atividade física nos 
valores de coordenação motora. Em contrapartida, estudo realizado por Lopes (2006) em 
Portugal, não encontrou associações entre a prática de atividades físicas habitual e a 
coordenação motora de crianças. 
Tal fato pode ser explicado, não pela ausência de atividade física diária, mas 
provavelmente pela falta de riqueza dessas atividades, visto que, segundo Maia e Lopes (2007), 
essa capacidade é largamente influenciada pela experiência motora, não só em termos de 
quantidade, mas também da qualidade dos estímulos motores a que os indivíduos são expostos. 
Com base nos resultados obtidos no presente estudo, fica aparente uma superioridade do 
gênero masculino em relação ao feminino, no que diz respeito às ações avaliadas. Já com 
relação ao fato de não ter encontrado relação entre a prática de atividade física e desempenho 
coordenativo, o resultado obtido indica que não existe essa correlação. Porém, temos resultados 
de outros estudos no Brasil e no exterior que contradizem esse resultado e outros que o 
confirmam. 
Nesse sentido, os resultados apresentados e a escassez de investigações sobre o nível de 
coordenação motora na realidade brasileira permitem sugerir a ampliação de pesquisas mais 
concretas e detalhadas, principalmente para proporcionar avanço científico neste campo de 
estudo. 
 
Referências 
Barreiros, J. & Neto, C. (2005). O desenvolvimento motor e o gênero. Disponível em: 
<http://w2.fmh.utl.pt/Cmotricidade/dm/textosjb/texto_3.pdf>. Acesso em 5 mar. de 2008. 
Broadhead, G.D. & Church, G.E. (1985). Movement characteristics of preschool children. 
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 7
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 8
Capítulo 2 
Foco atencional na aprendizagem de padrões gráficos em crianças 
 
Autora: Barbara Detoni Borba 
Orientadora: Andréa Cristina de Lima 
 
Resumo 
O efeito do foco atencional foi observado na aprendizagem de padrões gráficos em crianças na 
faixa etária de 10 anos (n=18). O objetivo da tarefa era contornar figuras geométricas 
visualizadas na tela de um computador utilizando um mouse invertido, de forma que o traçado 
realizado fosse o contrário do apresentado em tela. Os participantes foram aleatoriamente 
divididos em três grupos. O primeiro recebeu orientação para direcionar sua atenção na mão 
que realizava o movimento com o mouse (foco interno), o segundo focou a atenção no cursor 
do mouse apresentado na tela do computador (foco externo). O terceiro não recebeu instrução 
sobre foco de atenção (grupo controle). Os experimentos constaram de pré-teste, aquisição, 
pós-teste, retenção e transferência. A variável observada foi o tempo de movimento. Os grupos 
experimentais apresentaram resultados semelhantes nas fases do estudo, não havendo diferença 
entre os focos de atenção adotados. Efeitos de aprendizagem foram constatados na fase de 
aquisição, testes de retenção e transferência contralateral. O desempenho superior nas 
habilidades motoras é descrito na literatura quando executantes são instruídos a adotar foco 
externo de atenção em comparação ao foco interno, entretanto estas pesquisas se restringem ao 
público adulto. Do contrário, o presente estudo não encontrou diferença entre os focos de 
atenção adotados pelas crianças. Isto pode indicar que as crianças utilizam diferentemente as 
informações internas e externas ao seu corpo para aprender uma tarefa motora. Tal 
comportamento pode ser resultado da imaturidade do sistema de controle atencional. Estudos 
com crianças devem ser mais explorados a fim de identificar precisamente a influência do foco 
atencional na aquisição de tarefas. 
 
Termos-chave: foco atencional, criança, aprendizagem motora. 
 
Introdução 
 Instruções ou feedbacks fornecidos por profissionais devem conduzir à melhora no 
desempenho e aprimoramento no processo de aprendizagem dos alunos. Dentre diferentes 
estratégias, pode-se salientar o direcionamento do foco atencional utilizado na execução de 
habilidades motoras. Focalizar a atenção refere-se à organização dos recursos atencionais 
disponíveis e o direcionamento para determinadas fontes de informação, durante uma situação 
de desempenho (Magill, 2000). O direcionamento da atenção pode estar relacionado a aspectos 
internos ou externos ao executante. No interno, o foco atencional é conduzido ao movimento do 
próprio corpo. O foco atencional externo conduz para determinado efeito do movimento do 
executante no ambiente, como o movimento de um instrumento (taco, raquete) manipulado 
pelo executante bem como a trajetória de um objeto batido ou arremessado. 
 9
O direcionamento da atenção do executante durante a prática influencia a qualidade e a 
precisão das habilidades motora (Beilock & Carr, 2001; Beilock, Carr, McMahon & Starkes, 
2002; Gray, 2004) bem como todo processo de aprendizagem. A velocidade com que a 
habilidade é a prendida e intensidade com que ela é retida são extremamente influenciadas pelo 
foco de atenção que o executante é induzido a focar pelas instruções ou feedbacks aumentados 
fornecidos a ele. (Wulf, 2007, para revisão). 
Estudos apontam que adotar um foco externo de atenção conduz a um desempenho 
superior comparado ao direcionamento interno ou mesmo sem nenhuma instrução de foco em 
diferentes tipos de habilidades (Shea & Wulf, 1999; Wulf, Höß, Prinz, 1998; Wulf, McConnel, 
Gärtner & Schwarz, 2002; Wulf, Shea & Park, 2001; Wulf, Weigelt, Poulter & McNevin, 
2003). Estes resultados podem ser explicados pela “Hipótese de Ação Constringida” (Wulf & 
Prinz, 2001; Wulf et al., 2004; Wulf, 2007 para revisão). De acordo com esta hipótese, focar a 
atenção no efeito do movimento (foco externo) permite que ele seja regulado de maneira 
automatizada, requisitando menos recursos atencionais. Desta forma o movimento é realizado 
de maneira mais eficiente e de forma rápida. Ao direcionar sua atenção para o movimento (foco 
interno) o indivíduo obriga o sistema motor a interferir com os processos naturais de controle, 
prejudicando o controle automático e tornando a realização do movimento mais lenta (Jacobs & 
Horack, 2007). Na aprendizagem, é natural que o indivíduo aloque mais atenção à execução da 
habilidade tornando o movimento mais lento graças ao envolvimento do processo neural mais 
complexo. 
As vantagens do foco externo de atenção na aprendizagem de habilidades motoras 
foram verificadas no estudo que conduziu os participantes a aprender corrida de esqui em uma 
máquina simuladora (Wulf et al., 1998, Experimento 1). Um grupo foi instruído para centrar a 
atenção na força empregada pelos seus pés (foco interno), outro grupo foi instruído parase 
focar na força exercida pelas rodas da plataforma, que eram posicionadas abaixo de seus pés e 
o terceiro grupo (controle) não recebeu nenhuma instrução. O grupo de foco externo 
demonstrou maior efeito de aprendizagem do que o grupo de foco interno e o grupo controle. 
Ademais, o grupo foco interno não foi melhor nem do que o grupo controle. Balançar em um 
estabilômetro foi a tarefa utilizada por Wulf, Höß, Prinz, (1998, Experimento 2) para verificar a 
influência do foco de atenção. O grupo foco atencional interno foi instruído a focar-se na 
manutenção de seus pés na plataforma e o grupo de foco externo foi induzido a focar-se nas 
marcas colocadas na plataforma do estabilômetro posicionadas na frente de seus pés. Apesar da 
mínima diferença de instruções, grupo com foco externo teve um aprendizado superior no 
balanço relativo observado através de teste de retenção. 
 10
Participantes sem nenhuma experiência em golfe receberam instruções básicas iniciais e 
foram divididos em três grupos para realizar tacadas de golfe (Wulf & Su, 2007). O grupo que 
recebeu instruções para focar a atenção no balanço do taco (foco externo) apresentou 
desempenho superior na acurácia das tacadas durante a prática e melhores resultados no teste 
de retenção comparado ao grupo que direcionou sua atenção no balanço do seu braço (interno) 
e ao grupo controle que não recebeu instruções sobre foco de atenção. 
A influência do foco de atenção foi verificada na oscilação postural com adultos e 
crianças de quatro a onze anos (Olivier et al. 2008). Os autores compararam as modificações do 
controle postural quando crianças e adultos eram instruídos a direcionar sua atenção na própria 
oscilação postural. O foco interno de atenção prejudicou a efetividade do movimento tanto para 
as crianças como para os adultos, verificado através do declínio da estabilidade postural, 
indicando que desde os quatro anos as crianças são capazes de direcionar sua atenção ao foco 
instruído. 
A adoção de diferentes focos atencionais tem sido utilizada no desempenho de 
diferentes habilidades motoras, níveis de habilidade e populações com déficit motor causado 
por doenças, tais como Parkinson ou derrame cerebral (Wulf, 2007 para revisão); entretanto 
ainda são escassas pesquisas que exploram os efeitos dos diferentes focos em crianças. 
Segundo Olivier et al., 2008, as crianças utilizam estratégias diferentes dos adultos para focar 
sua atenção e o processo direcional de atenção é melhorado com a idade. Achados sugerem que 
a eficiência da atenção seletiva (focar-se voluntariamente em estímulos e ignorar outros) é 
melhorada no decorrer da infância (Plude, Enns & Brodeur, 1994). Portanto, assim como 
sugere Wulf (2007), mais estudos são necessários para determinar a idade em que estes efeitos 
começam a ser manifestados. 
Este estudo tem como objetivo observar a influência do foco atencional com crianças de 
dez anos em na aprendizagem de habilidade de padrões gráficos de uma maneira nunca antes 
realizada (utilizando um mouse invertido), de forma que a ausência de experiência prévia não 
conduza a interferências significativas. De acordo com os achados expostos acima, a influência 
no foco atencional carece de pesquisas com diferentes populações e variações de habilidades 
motoras. 
 
Método 
Participantes 
Participaram deste estudo 18 crianças, de ambos os sexos, na faixa etária entre dez e onze anos 
(=10,9 ± 0,4), estudantes do ensino fundamental. Foram divididos em três grupos 
aleatoriamente, com seis participantes cada: foco interno (FI), foco externo (FE) e controle 
 11
(CO). Todos tinham preferência lateral direita para a escrita e desenho, verificados através da 
realização das tarefas escolares. Os participantes aceitaram a participação voluntária neste 
estudo, e foram autorizados por seus responsáveis por meio de assinatura no termo de 
consentimento esclarecido. Foram excluídos do estudo alunos que apresentasse qualquer 
dificuldade de aprendizagem. 
 
Equipamento e tarefas 
A tarefa consistiu no contorno de figuras geométricas com o cursor do mouse 
(Multilaser) utilizando o software Draw Task (v.1.0). As figuras eram visualizadas em uma tela 
de notebook da marca Acer com 14.1 polegadas. O tempo de movimento foi cronometrado por 
um relógio (NIKE). O objetivo da tarefa era contornar a figura com cursor, utilizando o mouse 
invertido de forma que o traçado na tela fosse o inverso daquele realizado manualmente feito 
pelo participante. Desta forma, movimentos feitos para a direita produziram deslocamento do 
cursor na tela para esquerda, com a mesma inversão ocorrendo no eixo vertical. A posição 
inicial do mouse era no vértice superior esquerdo da figura. O desenho deveria ser completado 
movimentando o cursor para a direita, para baixo, esquerda, para cima até chegar ao ponto 
inicial. As tentativas eram anuladas se durante o percurso o cursor perdesse contato com a 
figura ou se o participante não completasse todo o desenho. A figura utilizada para os todas as 
fases do experimento foi o quadrado, com exceção da fase de transferência na qual um 
retângulo foi utilizado (figura 1). A inversão do traçado fez com que a tarefa fosse inédita aos 
participantes, sendo possível observar a influência do foco atencional na aprendizagem da nova 
habilidade. 
 
 
 
 
Figura 1 – Figuras geométricas visualizadas na tela do computador. Quadrado utilizado no pré, 
pós-teste, aquisição e retenção (A) e o retângulo utilizado na transferência (B). 
 
B A 
 12
Procedimentos 
O objetivo e as condições da pesquisa foram explicados previamente às crianças durante 
período de aula. Em seguida foi entregue o termo de consentimento para que levassem ao 
responsável para autorizar a sua participação. Após o recebimento de todos os formulários de 
consentimento assinados, iniciaram-se as coletas. A divisão dos grupos e ordem dos 
participantes para a coleta foi estipulada por sorteio. 
O participante era conduzido individualmente a uma sala da escola que pertenciam 
destinada à coleta. Durante todo o experimento somente a criança e o experimentados 
permaneciam na sala. A criança deveria manter-se sentada em uma cadeira com os joelhos 
flexionados à aproximadamente 90° e os pés apoiados no chão. À frente da criança estava 
posicionado o computador em uma mesa distante aproximadamente 50 centímetros do eixo 
medial do participante. O mouse era posicionado ao lado da mão preferida do participante, de 
maneira que pudesse realizar os movimentos confortavelmente. 
Durante a fase de aquisição, os participantes do grupo foco interno receberam orientação para 
prestar atenção no movimento da mão que movimentava o mouse. As outras seis crianças do 
grupo de foco externo (FE) receberam orientação para prestar atenção no movimento do cursor 
do mouse. O grupo controle (CO), não recebeu instrução sobre foco de atenção. 
A coleta dos dados foi realizada em quatro fases: no primeiro dia após duas tentativas 
de familiarização, era realizado o pré-teste com os três grupos. Em seguida era realizada a fase 
de aquisição (somente FI e FE). Durante a fase de aquisição foram realizados seis blocos de 
quatro tentativas cada com intervalos de um minuto entre eles. Todos os grupos foram 
submetidos ao pré, pós-teste, retenção e transferências. O pós-teste foi realizado após o último 
bloco do período de aquisição, também composto por três tentativas. Após cinco dias foi 
realizado o teste de retenção, composto por três tentativas. Um dia depois foram realizados os 
testes de transferência ipsi e contralateral. Os participantes fizeram três tentativas com a mão 
ipsilateral e outras três tentativas com a mão contralateral. 
 
Análise 
A variável analisada foi o tempo de movimento em segundos. O tempo de movimento 
aumenta conforme a necessidade de utilização de feedback para realizara tarefa com a acurácia 
determinada. A aprendizagem é verificada através do aumento da velocidade do movimento 
sem detrimento na precisão. 
A fase de aquisição foi dividida em 6 blocos de 4 tentativas cada. Em cada bloco foi 
calculado o tempo de movimento médio das 4 tentativas. O modelo estatístico utilizado na fase 
 13
de aquisição foi o de análise de variância de dois fatores 2 (grupo: FE x FI) x 6 (bloco) e 
medidas repetidas nos dois últimos fatores. 
A diferença entre os grupos FI, FE e CO no pré-teste, pós-teste e retenção foram 
verificadas através de uma ANOVA de dois fatores, 3 (grupo: FE x FI x CO) x 3 (teste: pré-
teste, pós-teste e retenção), com medidas repetidas no segundo fator. 
Os testes de transferência lateral foram avaliados por meio de uma ANOVA de dois fatores, 3 
(grupo: FE x FI X CO) x 3 (fases: pós-teste X transferência ipsilateral x transferência 
contralateral), com medidas repetidas no segundo fator. Contrastes discriminantes foram feitos 
por meio do teste Newman-Keuls. O nível de significância foi de 0,05. 
 
Resultados 
Fase de aquisição 
Os resultados da análise não apontaram diferença significante para o fator principal 
grupo F(1,10)=1,30, p=0,28 e interação F(5,50)=1,13, p=0,36. Foi encontrado efeito para o 
fator principal bloco F(5,50)=11,87, p<0,05. Esta diferença foi devido a um tempo de 
movimento maior no primeiro bloco em comparação ao último (figura2), indicando que houve 
aprendizagem em ambos os grupos. 
0
10
20
30
40
50
60
70
1 2 3 4 5 6
blocos
te
m
po
(s)
 
Figura 2 - Tempo médio de movimento e erros-padrão durante a fase de aquisição. 
 
Testes (pré-teste, pós-teste e retenção). 
Os resultados da análise apontaram efeito dos fatores principais grupo F(2,15)=9,43, 
p<0,001, teste F(2,30)=41,72, p<0,001 e interação F(4,30)=4,05, p<0,01. Os contrastes 
posteriores indicaram que o grupo CO apresentou tempo de movimento superior aos grupos FI 
e FE. Com relação aos testes, o pós-teste e a retenção obtiveram valores de tempo de 
movimento inferiores ao pré-teste. A retenção foi o teste que apresentou valores de tempo de 
movimento menores. Os contrastes posteriores da interação apontaram que o grupo CO 
 14
apresentou valores maiores do que os outros grupos somente no pós-teste. Não houve diferença 
entre os grupos FE e FI no pós-teste e na retenção (figura3). 
 
Transferências 
Os resultados da análise apontaram efeito dos fatores principais grupo F(2,15)=11,27, 
p<0,001, teste F(2,30)=12,26, p<0,001 e interação F(4,30)=10,05, p<0,01. Os contrastes 
posteriores indicaram que o grupo CO apresentou tempo de movimento superior aos grupos FI 
e FE. Com relação aos testes, as transferências obtiveram valores inferiores de tempo de 
movimento do que o pós-teste. Não houve diferença entre os testes de transferência. Os 
contrastes posteriores da interação apontaram que o grupo CO apresentou valores maiores do 
que os outros grupos somente no pós-teste. Não houve diferença entre os grupos FE e FI no 
pós-teste e interação (figura 4). 
 
0
20
40
60
80
100
120
140
160
pré pós ret
te
m
po
 
(s)
F I
F E
C O
 
Figura 3 - Tempo de movimento médio e erros-padrão no pré-teste, pós-teste e retenção. 
 
0
20
40
60
80
100
120
140
160
P ré P ós Transf D Transf E
te
m
p
o
 (
s
)
F I 
F E
C O
 
Figura 4 - Tempo de movimento médio e erros-padrão no pré-teste, pós-teste e transferência. 
 15
Discussão 
É essencial que as instruções fornecidas por professores ou treinadores determinando o 
foco de atenção contribuam para a melhora no desempenho ou na aprendizagem de habilidades 
motoras tanto em crianças como em adultos. Embora estudos apontem que utilizar o foco 
externo (foco no resultado do movimento) apresenta melhores resultados comparado a adoção 
de foco interno (foco no movimento) ou mesmo quando nenhum foco é instruído, (Wulf, Höß, 
& Prinz, 1998; Wulf, McNevin & Shea, 2001; Wulf, Shea & Park, 2001; Wulf, McConnel, 
Gärtner & Schwarz, 2002; Wulf, Weilget, Poulter & McNevin, 2003), pouco se sabe sobre 
estes efeitos na população infantil. 
Este trabalho teve como objetivo verificar se os diferentes focos atencionais induzidos 
interferiam na aprendizagem de habilidades gráficas em crianças, sendo que a aprendizagem de 
padrões gráficos utilizando o mouse invertido constituiu em uma tarefa inédita de forma que 
não houvesse interferência de outras habilidades. 
A hipótese de que os efeitos na aprendizagem em crianças e adultos em função do foco 
atencional adotado poderiam ser diferentes baseia-se no fato de que o cérebro infantil ainda em 
desenvolvimento passa por modificações estruturais até atingir a maturidade. Estas 
modificações por sua vez conduziriam a diferenças funcionais tal como a dificuldade em 
manter o foco atencional instruído, interferindo na aquisição da habilidade motora. 
Os resultados neste estudo apontaram que o tipo de instrução quanto ao foco atencional 
utilizado não interferiu em nenhuma fase da aprendizagem de padrões gráficos em crianças na 
faixa etária dos dez anos. Estes achados podem ter sido resultantes da dificuldade das crianças 
em manter o foco de atenção instruído devido à imaturidade do sistema de controle atencional. 
McCullagh e Weiss (citado por Andrade et al., 2004) apontam que antes do doze anos as 
crianças não estão completamente maduras na atenção seletiva, na velocidade de 
processamento visual e nos processos de controle. Focalizar a atenção no alvo instruído e 
persistir por um determinado tempo são aspectos da cognição que melhoram com a idade, 
como descrevem Andrade et al. (2004). Wulf et al (2003) destacam que indivíduos iniciantes 
não utilizam um único foco de atenção e que este varia de acordo com as exigências da tarefa, 
apesar das instruções para manter a atenção em um foco de atenção específico. 
Na fase de aquisição, embora não tenha sido encontrada diferença significante entre os 
grupos FI e FE, foi possível comprovar melhora no desempenho com a prática realizada, sendo 
observada nos blocos finais uma tendência ao platô, representada por um desempenho estável 
durante um período, característico do processo de aprendizagem (Magill, 2000). Os tempos de 
movimentos nesta fase também se tornaram mais consistentes. A efetividade do aprendizado 
 16
foi observada através do teste de retenção, no qual os tempos de movimentos foram inferiores 
ao pós-teste e pré-teste. 
Os resultados indicaram que a tarefa utilizada proporcionou transferência contralateral, 
já que o tempo de movimento para os membros ipsi e contralateral foram semelhantes e 
bastante inferior comparado ao pré-teste. Desta forma, a habilidade aprendida pelo membro que 
realizou a prática também foi aprendida pelo membro oposto que ficou em repouso durante esta 
fase. Segundo Magill (2000), a transferência contralateral se baseia na aprendizagem de 
aspectos cognitivos envolvidos na execução das habilidades que são semelhantes tanto para a 
execução com um membro quanto para o homólogo. Assim, funções cognitivas foram 
envolvidas na aprendizagem desta habilidade gerando um modelo interno, evidenciado pela 
melhora no desempenho do membro não efetor, na realização de tarefa semelhante e na 
consolidação do aprendizado verificado no teste de retenção. 
Os mecanismos da aprendizagem motora e os aspectos que a influenciam são interesse 
de diferentes áreas do conhecimento como Educação Física, Fisioterapia, Psicologia entre 
outras, que têm em comum o interesse em desenvolver estratégias que facilitem o aprendizado 
e potencialize sua aquisição. A instrução do foco atencional é um exemplo de estratégia, 
entretanto ainda faltam pesquisas que observem estes efeitos utilizando pessoas de diferentes 
faixas etárias e tarefas motoras, a fimde melhor compreender quando os efeitos do 
direcionamento de atenção começam a ser manifestados e a definição de focos de atenção 
“ótimos” para o desempenho e aprendizagem de habilidades. 
 
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 18
Capítulo 3 
Efeito da atenção sobre a preferência manual: Desempenho e 
aprendizado na tarefa de seqüenciamento de toque de dedos 
 
Autor: Bruno Secco Faquin∗ 
Orientador: Victor Hugo Alves Okazaki 
 
Resumo 
Este estudo objetivou analisar o efeito da atenção sobre a preferência, o desempenho e o 
aprendizado de uma tarefa motora de seqüenciamento de toques entre os dedos realizada 
concomitantemente com uma tarefa de rastreamento simulada em computador. A amostra foi 
constituída por 30 indivíduos do sexo masculino e feminino, com idades entre 20 e 30 anos, 
todos com preferência manual direita divididos em três grupos: prática principal (GP), prática 
principal e secundária (GPS) e controle (GC). A tarefa principal constitui-se em realizar 
movimentos de toques alternados entre o polegar e os demais dedos (mão não-preferida). A 
tarefa secundária foi perseguir um pequeno círculo em movimento aleatório na tela de um 
monitor de microcomputador com a ponteira do mouse (mão preferida). Foi verificada melhora 
no desempenho e no aprendizado dos grupos experimentais (GP e GPS) na tarefa principal. 
Tais resultados foram explicados pela capacidade flexível de alocação da atenção, em situações 
que necessitam da realização de duas tarefas concomitantemente. A prática também resultou na 
mudança de preferência específica para realizar a tarefa praticada, reforçando a idéia de que 
desempenho e preferência manual são componentes independentes em comportamento motor. 
A atenção não pareceu ser o fator determinante na formação de preferência lateral. Foi sugerido 
que a preferência manual geral seria a precursora das assimetrias de desempenho verificadas 
em diversas tarefas motoras, e não o contrário. 
 
Termos-chave: atenção, preferência lateral, assimetria de desempenho, seqüência de toques de 
dedos 
 
 
Introdução 
O termo lateralidade diz respeito a vários aspectos relativos aos lados direito e esquerdo 
do corpo. Um desses aspectos a ser destacado é o cognitivo, que consiste na formação de um 
sistema de coordenadas espaciais cujo referencial é a linha sagital mediana. Dentro do tema 
lateralidade, existe uma dimensão que se refere à freqüência de uso de um segmento corporal 
em relação ao segmento contralateral homólogo, este fenômeno é denominado preferência 
lateral. Um estudo conduzido por Brackenridge (1981) constatou que 90% da população 
 
∗
 Agradecimentos: A Deus por mais esta conquista, as mulheres da minha vida Fani, Evelyn e Cris, pela 
confiança, carinho e incentivo durante a realização do curso e, principalmente, ao meu orientador Prof. 
Dr. Victor H. A. Okazaki pelo ensino, incentivo, paciência, dedicação e orientação atribuída ao 
desenvolvimento da minha formação e realização deste trabalho. 
 
 19
mundial são classificados como destros para tarefas manuais. Tal predominância pela mão 
direita leva a acreditar que esse comportamento é devido a predisposições genéticas que 
produzem assimetrias estruturais no sistema nervoso central. Segundo esta idéia a lateralidade 
de um indivíduo já estaria definida ao nascer, exceto em casos de patologias neurais que afetam 
um único hemisfério cerebral ou através de excessiva prática unilateral o que poderia alterar a 
predisposição genética por necessidade de adaptação (Levy, 1976). Por outro lado, tem havido 
fortes indícios de que a preferência lateral também pode ser definida, ou fortemente 
influenciada, pela prática ou pelo ambiente/contexto. 
Ashton (1982) investigou as preferências manuais de mais de mil e oitocentas famílias 
havaianas, envolvendo pais, filhos e seus ancestrais, sugerindo que apenas de 10% a 20% para 
a participação genética na determinação da preferência manual, enquanto fatores ambientais 
responderam por 89% das preferências manuais. Porac e Coren (1981) observaram um alto 
grau de ambidestria em jogadores de basquetebol de alto nível, sugerindo que este fenômeno 
ocorreu devido às práticas e demandas específicas do desporto. Porac, Coren e Searleman 
(1986) analisaram seiscentos e cinqüenta adultos jovens com preferência lateral esquerda que 
passaram por situações nas quais seus pais ou seus professores os pressionaram para escrever 
com a mão direita. Estes autores mostraram que 11% dos indivíduos passaram por tentativas de 
mudança de preferência lateral e destes aproximadamente metade efetuou a mudança de 
preferência. Foi relatado também que esta alteração ocorreu por volta dos oito anos de idade e 
foi mais significativa na habilidade de escrever. Tais estudos em conjunto sugerem que há um 
efeito da prática sobre a preferêncialateral. 
Outro fator que também foi sugerido estar relacionado com a preferência lateral é o 
desempenho. Assim, quando houvesse melhor desempenho em uma tarefa realizada com um 
determinado lado do corpo, haveria uma maior preferência por utilizar este lado. Ou seja, o 
desempenho teria uma relação direta com a preferência lateral. Esta relação direta entre 
desempenho e preferência foi verificada por Petrie e Peters (1980) em bebês com idades entre 
duas e três semanas de vida. Foi permitido aos bebês que manipulassem um objeto com um 
sensor de força embutido. Então foi analisada a força de preensão e o tempo das manipulações. 
Os achados apresentaram que para ambas as variáveis, houve assimetria de desempenho 
favorável para a mão direita. Entretanto, estudos recentes têm sugerido que a assimetria manual 
de desempenho e a preferência manual são dimensões independentes do comportamento motor 
(Teixeira & Okazaki, 2007; Teixeira & Teixeira, 2007). Teixeira e Okazaki (2007) 
demosntraram que destros que praticaram toques seqüenciais entre os dedos com a mão não-
preferida apresentaram um desempenho no tempo de movimento similar para ambas as mãos, 
mas com mudança da preferência manual da tarefa para a mão não-dominante em função da 
 20
prática. Desta forma, o desempenho não demonstrou ser o fator determinante na definição da 
preferência lateral. Assim, faz-se necessária a análise de outros fatores que poderiam 
influenciar a preferência lateral, por exemplo, a demanda de atenção durante a realização da 
tarefa. 
Os estudos que analisaram a mudança de preferência manual possuem em comum o 
direcionamento da atenção para a tarefa desempenhada com o membro homólogo. Por 
conseguinte, a demanda de atenção destinada para a realização da tarefa poderia ser um dos 
fatores determinantes na formação da preferência lateral associada à prática/aprendizagem de 
uma tarefa. Nesta perspectiva, quando uma tarefa fosse praticada sozinha com o membro não-
dominante haveria uma mudança de preferência lateral marcante. Ao passo que, quando a 
atenção da tarefa fosse voltada para outra tarefa ou situação, não haveria uma mudança de 
preferência lateral. Entretanto, não têm sido foco o efeito da prática e o efeito da atenção sobre 
a preferência lateral em estudos de lateralidade. 
Neste ínterim, este estudo objetivou analisar o efeito da atenção sobre a preferência, o 
desempenho e o aprendizado de uma tarefa motora de seqüenciamento de toque de dedos 
realizada concomitantemente com uma tarefa de rastreamento simulada em computador. Este 
estudo tem potencial para compreender o efeito da atenção sobre aspectos de lateralidade ainda 
não explorados em comportamento motor, tais como a preferência lateral, o desempenho motor 
e a aprendizagem. 
 
Método 
Participantes 
A amostra foi constituída por 30 indivíduos com idade entre 20 e 30 anos (M = 24,3 
anos, dp = 3,32), dos sexos masculino (n=15) e feminino (n=15). Os participantes foram 
divididos pseudoaletoriamente em três grupos de 10 participantes cada, contrabalançando para 
o fator sexo: grupo prática principal (GP), grupo prática principal e secundária (GPS) e grupo 
controle (GC). Apenas sujeitos que apresentaram preferência lateral direita no Inventário de 
Edimburgo (Oldfield, 1971) foram utilizados no estudo. Antes do início dos testes todos os 
sujeitos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. 
 
Equipamentos e tarefa 
A tarefa principal foi a de realizar movimentos de toques alternados entre o polegar e os 
demais dedos na seguinte seqüência: indicador, anelar, médio e mínimo. Cada tentativa 
corresponde a desempenhar esta seqüência por cinco vezes com a mão não-preferida. O 
desempenho nesta tarefa foi medido através de filmagem, mensurando-se o tempo desde o 
 21
primeiro toque entre o dedo indicador e o polegar até o último toque entre dedo mínimo e o 
polegar no final da quinta seqüência de toques. Para a tentativa ser considerada válida não era 
permitido mais que dois erros por tentativa. A tarefa secundária foi perseguir um pequeno 
círculo (alvo com 20 mm de diâmetro, que mudava a sua trajetória a cada 800 ms ao passo que 
avançava 1 mm a cada 80 ms) em movimento aleatório na tela de um monitor de 
microcomputador com a ponteira do mouse, manuseando este com a mão preferida. O objetivo 
nesta tarefa era manter o cursor dentro da área delimitada pelo alvo circular durante todo o seu 
deslocamento pela tela do monitor. Nesta tarefa era permitido ao participante cometer no 
máximo 20 erros por tentativa. Os erros foram determinados pelo número de vezes em que o 
cursor saiu das delimitações espaciais do alvo. Esta medida do número de erros foi fornecida 
pelo software utilizado. Para a filmagem foi utilizada uma câmera filmadora digital da marca 
Sony e para a aplicação da tarefa secundária foi utilizado o software Tracking Task v.1.0 
(Okazaki, 2008), um laptop da marca CCE e um mouse óptico da marca Multilaser. 
 
Procedimentos 
 Inicialmente, os participantes assinaram um termo de consentimento e foi aplicado o 
Inventário de Edimburgo, para determinação da mão de preferência em tarefas motoras do 
cotidiano. Em seguida os participantes foram instruídos que mais de dois erros na tarefa 
principal a tentativa seria eliminada e na tarefa secundária não poderiam cometer mais que 20 
erros, também foi orientado ao grupo GPS que a tarefa de seqüenciamento de dedos era a 
principal e que deveria realizar as cinco seqüências o mais rápido possível sem cometer erros. 
Antes de iniciar a coleta de dados, era permitido aos participantes realizarem uma tentativa de 
familiarização com tarefa principal. 
A posição inicial para desempenhar as tarefas foi com o participante sentado, com os 
pés apoiados no chão, tendo o eixo sagital do sujeito alinhado com o centro da tela na altura 
dos olhos e distando 50 cm. O mouse ficou disposto do lado do teclado da mão ativa e o cursor 
do mouse no centro da tela. 
Na seqüência, foram implementadas as seguintes fases: (1) pré-teste com 3 tentativas 
práticas; (2) aquisição com 3 sessões em dias diferentes, em cada sessão foram realizados 3 
blocos de 20 tentativas com intervalo de 10 s entre as tentativas e 1 min. entre os blocos; (3) 
pós-teste com 3 tentativas; (4) retenção, após 72 h com 3 tentativas; e (5) transferência 
interlateral de aprendizagem com 3 tentativas, realizado após cada fase de teste, mas realizada 
com a mão preferida à tarefa principal. Era perguntado aos participantes no pré-teste, pós-teste 
e teste de retenção qual a preferência lateral específica para desempenhar a tarefa de toques 
alternados entre os dedos. 
 22
O grupo GP participou de todas as fases, porém, na fase de aquisição apenas praticou a 
tarefa principal. O grupo GPS participou de todas as fases, realizando na fase de aquisição a 
tarefa principal e a secundária simultaneamente. O grupo GC participou de todas as fases com 
exceção da fase de aquisição. 
 
Análise estatística 
Inicialmente foi calculada a média dos tempos de movimento na tarefa de 
seqüenciamento de dedos nas três tentativas de cada teste para cada mão e as médias dos 
grupos dos escores da preferência manual. Para análise das médias da preferência manual foi 
utilizado o teste ANOVA de Friedman pra verificar diferenças entres as fases e em seguida o 
teste de Wilcoxon pareado para verificar em que níveis a diferença ocorreu. Para as medidas do 
tempo de movimento na tarefa de seqüenciamento de dedos, foi utilizada uma ANOVA de três 
fatores, 3 (Grupo) x 2 (Mão) x 3 (Fase) com medidas repetidas nos últimos dois fatores. As 
comparações posteriores foram realizadas através do teste de Tukey. O nível de significância 
adotado foi de p = 0,05. 
 
Resultados 
Os resultados para preferência manual indicaram efeito significante de Fase para os 
grupos GP (XF2 = 12,28, p = 0,02)e GPS (XF2 = 15,20, p = 0,0005). Comparações pareadas 
entre fases para o grupo GP mostraram redução no escore de preferência manual do pré-teste 
em relação ao pós-teste (Z = 2,37, p < 0,05) e do pré-teste em comparação à retenção (Z = 2,20, 
p<0,05). O grupo GPS também apresentou redução no escore de preferência manual do pré-
teste em comparação ao pós-teste (Z = 2,80, p < 0,01) e do pré-teste em relação à retenção (Z = 
2,20, p < 0,05). A representação da comparação entre as médias dos grupos GC, GP e GPS foi 
expressa na Figura 1, em função das fases de teste. 
A análise do desempenho na tarefa principal apresentou efeito principal para o fator 
Fase (F= 48,51, p<0,0001), no qual menor tempo de movimento foi verificado no pré-teste dos 
grupos GP e GPS em comparação à retenção (p < 0,05), e do pós-teste em comparação à 
retenção (p < 0,05). Esses resultados indicaram o efeito da prática sobre o desempenho, 
independentemente do tipo de prática (com ou sem tarefa secundária). Entretanto, não foi 
verificado efeito nos fatores grupo (F = 2,01, p = 0,15) e mão (F = 0,05, p = 0,84). 
 
 23
 
Figura 1 – Escores de preferência manual dos grupos (GC, GP e GPS), em função da fase de 
teste (Pré-teste, Pós-teste e Retenção). 
 
 
Tabela 1 – Média de TM (s) e desvio padrão (entre parênteses) dos grupos GC, GP e GPS, em 
função das fases de teste. 
 
Grupo Pré-Teste 
Transferência 
Pré-Teste 
Pós-Teste 
Transferência 
Pós-Teste 
Retenção 
Transferência 
Retenção 
GC 6,94 (1,31) 7,14 (1,17) 6,33 (1,21) 6,11 (0,92) 5,69 (0,86) 5,66 (0,88) 
GP 7,85 (2,25)c 7,77 (2,28) 4,30 (0,71)c 4,98 (0,97) 4,15 (0,60)ab 4,51 (1,07) 
GPS 6,91 (1,32)c 7,29 (1,80) 4,38(0,61)c 5,03 (0,94) 4,26 (0,48)ab 4,43 (0,66) 
Diferente de aPré-teste, bPós-teste e cRetenção. 
 
A tarefa secundária foi analisada descritivamente através de sua média. Ao longo da 
prática o número de erros diminuiu, dando indícios de melhor desempenho na tarefa 
secundária. Por conseguinte, foi sugerido que a atenção também foi voltada à tarefa secundária, 
mesmo que outra tarefa (primária) estivesse sendo praticada concomitantemente. 
 24
Provavelmente, a tarefa principal foi processada em um nível subatencional à medida em que 
foi sendo praticada. Desta forma, a quantidade de atenção atribuída para as tarefas (primária e 
secundária) permitiu o melhor desempenho em ambas. 
 
 
Figura 2 – Tempo de movimento (s) na tarefa de toques entre os dedos dos grupos GC, GP e 
GPS, com as mãos direta e esquerda, em função das fases de teste (Pré-teste, Aquisição, Pós-
teste e Retenção). 
 
Discussão 
Os resultados apresentaram uma melhora no desempenho (pós-teste) e no aprendizado 
(retenção) para ambos os grupos experimentais (GP e GPS) na tarefa de seqüenciamento de 
toque de dedos. Desta forma, independentemente da presença de uma tarefa secundária, os 
sujeitos foram capazes aprimorar seu desempenho na tarefa principal proposta. Kahneman 
(1973) propôs a existência de uma alocação flexível de uma capacidade variável de atenção, ou 
seja, em situações de baixa demanda atencional para uma dada tarefa, a capacidade de atenção 
poderia ser distribuída entre as varias funções mentais, permitindo o desempenho de várias 
funções simultaneamente. Isto foi utilizado para explicar os resultados encontrados. Ademais, 
indivíduos que se tornam habilidosos apresentam esta característica de controlar 
 
 25
 
Figura 3 – Número de erros na tarefa (secundária) de rastreamento do grupo GPS, em função 
dos blocos na fase de aquisição. 
 
voluntariamente dois ou mais movimentos simultaneamente (Kantowitz & Knight, 1976; 
Schneider & Shiffrin, 1977). Contudo, poderia ser questionado o fato de que o grupo com 
prática em tarefa dual (GPS) não teria voltado sua atenção para a tarefa secundária, ou teria 
apenas priorizado a tarefa primária sem destinar devida atenção à tarefa de rastreamento. Os 
dados de erros, entretanto, demonstraram que o grupo GPS também teria melhorado seu 
desempenho na tarefa de rastreamento (secundária), em função da prática. Por conseguinte, foi 
sugerido que, mesmo com prática na tarefa dual o grupo GPS foi capaz de aprimorar seu 
desempenho em níveis próximos ao grupo GP que realizou apenas a tarefa primária. Tais 
resultados demonstram a grande capacidade do sistema em adaptar-se dinamicamente às 
diferentes restrições, adaptando-se de forma a permitir níveis aprimorados de desempenho e de 
aprendizado. 
Em se tratando do desempenho entre as mãos, não foi observada uma assimetria após o 
período de prática. Essa simetria no desempenho entre os lados, após a prática unilateral, pode 
ser explicada pelo padrão de ativação bi-hemisférico cerebral sugerido por alguns autores e 
observado no desempenho desta tarefa específica (Haaland et. al., 2004; Solodkin et. al., 2001). 
Tem sido proposto que o desempenho na tarefa de toques seqüenciais entre os dedos é 
caracterizado por ativação cerebral bi-hemisférica (Solodkin et. al., 2001), com predominância 
do hemisfério cerebral esquerdo (Haaland et. al., 2004). Isto é, aparentemente ambas as mãos 
direita e esquerda compartilham uma parte importante do conjunto neural utilizado no controle 
 26
de movimentos seqüenciais. Assim, a prática com o lado não-dominante proporcionou 
melhoras no desempenho de ambos os lados, em função da transferência de aprendizado que 
ocorreu através deste compartilhamento de redes neurais. 
A melhora no desempenho e de aprendizado, em função da prática unimanual na tarefa 
principal, também ocasionou numa troca na preferência manual para a tarefa treinada. Ou seja, 
após o período de prática com a mão não-dominante, os participantes indicaram uma maior 
preferência em desempenhar a tarefa treinada com a mão que teve a prática específica. Estes 
resultados não estão em consonância com a proposição de Bishop (1989). Este autor propôs 
que o desempenho possui uma relação direta com a preferência manual. Ou seja, quando um 
lado do corpo tivesse um desempenho superior, existiria uma maior preferência para utilizar 
este lado. Por conseguinte, foi sugerido que a preferência manual e o desempenho entre os 
lados são dimensões independentes do comportamento motor (Teixeira & Okazaki, 2007; 
Teixeira & Teixeira, 2007). Assim, a escolha entre o lado preferido para realizar uma 
determinada tarefa não dependeria exclusivamente de seu desempenho. Alguns estudos 
também demonstraram desempenhos similares entre os lados, mas com uma preferência lateral 
definida em tarefas como: seqüência de toque de dedos (Teixeira & Okazaki, 2007; Teixeira & 
Teixeira, 2007), controle de força e posicionamento linear (Teixeira & Paroli, 2000), e 
arremesso (Teixeira & Gasparetto, 2002). Por conseguinte, foi levantada a hipótese de que a 
atenção seria um dos fatores que auxiliaria na formação da preferência lateral durante a 
aquisição de uma tarefa motora, ao invés apenas do melhor desempenho. 
Um ponto em comum nos estudos que verificaram a formação da preferência lateral 
para desempenhar uma tarefa com um dos lados do corpo é o foco de atenção voltado à tarefa 
aprendida. Por conseguinte, a demanda de atenção destinada para a realização da tarefa poderia 
ser um dos fatores determinantes na formação da preferência lateral associada à aprendizagem. 
Contudo, os resultados do presente estudo demonstraram que ambos os grupos experimentais 
(GP e GPS) apresentaram uma mudança de preferência manual. Assim, tanto o grupo GP que 
apenas praticou a tarefa principal, como o grupo GPS, que teve seus recursos atencionais 
divididos na tarefa principal e secundária, mudaram sua preferência manual para a mão não-
dominante que realizou a prática. Estes resultados refutam a hipótese de que a demanda de 
atenção seria um dos principais fatores na formação de preferências laterais. Todavia, pode teracontecido um aprendizado na tarefa secundária pelo grupo GPS, que não necessitou mais de 
tanta demanda de atenção para a tarefa de rastreamento, permitindo a este grupo também 
realizar uma mudança de preferência. O melhor desempenho na tarefa de rastreamento, em 
função da prática, fornece suporte parcial para esta redução na demanda de atenção para a 
tarefa secundária. Por conseguinte, são sugeridos outros estudos que aumentem a dificuldade da 
 27
tarefa secundária ao longo da prática na tarefa primária para tentar assegurar maiores níveis de 
atenção na tarefa primária para testar a hipótese de que a atenção também é fator determinante 
na formação de preferências laterais. Entretanto, os resultados do presente estudo sugerem que 
outros fatores também podem ter contribuído para a formação de preferência lateral específica 
para os grupos experimentais, tais como: a prática (repetições específicas da tarefa), 
segurança/confiança (adquirida com a prática), eficiência no desempenho (não apenas a 
eficácia) e experiência geral (experiência adquirida ao longo do tempo com um determinado 
lado). 
Este estudo objetivou analisar o efeito da atenção sobre a preferência, o desempenho e o 
aprendizado de uma tarefa motora de seqüenciamento de dedos realizada concomitantemente 
com uma tarefa de rastreamento simulada em computador. Foi verificado melhor desempenho e 
aprendizado para ambos os grupos experimentais (GP e GPS) na tarefa de seqüenciamento de 
toque de dedos, em função da prática unimanual realizada com a mão não-dominante. 
Explicada pela capacidade flexível de alocação da atenção em situações que necessitam da 
realização de duas tarefas concomitantemente (Kahneman, 1973). A prática também aproximou 
os níveis de desempenho entre as mãos dominante e não-dominante (maior simetria) e foi capaz 
de trocar a preferência manual específica da tarefa realizada nos grupos experimentais. Tais 
resultados apontam para dimensões independentes entre a preferência lateral e o desempenho 
motor (Teixeira & Okazaki, 2007; Teixeira & Teixeira, 2007). Foi sugerido que a preferência 
manual geral seria a precursora das assimetrias de desempenho verificadas em diversas tarefas 
motoras, e não o contrário. A hipótese de que a demanda de atenção destinada para a realização 
da tarefa seria um dos fatores determinantes na formação da preferência lateral associada à 
prática/aprendizagem não foi confirmada. Pois, aparentemente, a aprendizagem de ambas as 
tarefas podem ter diminuído o nível de atenção na tarefa secundária, explicando o fato de 
ambos os grupos (GP e GPS) apresentarem mudança na preferência manual. Portanto, para 
futuros estudos foi sugerido um aumento gradativo na dificuldade da tarefa secundária durante 
a prática da tarefa principal, a fim de garantir maior demanda atencional na tarefa secundária. 
Também, foram sugeridas análises de outros fatores que também poderiam estar associados à 
formação das preferências laterais, tais como: a prática (repetições específicas da tarefa), 
segurança/confiança (adquirida com a prática), eficiência no desempenho (não apenas a 
eficácia), experiência geral (experiência adquirida ao longo do tempo com um determinado 
lado). 
 28
Referências 
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unimanual practice. Brain and Cognition, 65, 238-243. 
 
 
 29
Capítulo 4 
Efeito da mudança de direção sobre a lei de Fitts 
na tarefa de traçar linhas 
 
Autora: Camila Rodrigues Fiuza 
Orientador: Victor Hugo Alves Okazaki 
 
Resumo 
 Este estudo objetivou analisar o efeito da mudança de direção sobre a lei de Fitts 
(relação inversa velocidade-precisão) na tarefa de traçar linhas. Para tanto, quinze adultos com 
idade entre 18 a 25 anos realizaram a tarefa de traçar linhas com o cursor de um mouse. O 
comprimento e a espessura das linhas foram manipulados para fornecer IDs de 4 até 7 bits. 
Estas diferentes condições de ID foram analisadas a partir de diferentes ângulos de mudança de 
direção na trajetória do movimento (45º, 90º, 135º, 180º e 360º). A análise de regressão foi 
utilizada para verificar a relação entre tempo de movimento e índice de dificuldade. Foi 
verificado r²= 0,9217 para o ângulo de 360°, r² = 0,9634 para o ângulo de 180°, r² = 0,967 para 
o ângulo de 135°, r² =0,9557 para o ângulo de 90°, e r² = 0,9182 para o ângulo de 45°. Por 
conseguinte, a lei de Fitts demonstrou ser robusta suficiente para predizer o tempo de 
movimento por meio do ID, independentemente da mudança de direção, na tarefa de traçar 
linhas. Entretanto, a análise de variância com medidas repetidas demonstrou menor tempo de 
movimento na condição em que não havia mudança de direção, em comparação com as demais 
condições em que havia mudança de direção na trajetória percorrida. Tais resultados sugerem 
que a restrição de mudança de direção também pode promover restrições sobre a magnitude do 
tempo de movimento, independentemente dos IDs da tarefa. 
 
Termos-chave: relação inversa velocidade-precisão, lei de Fitts, mudança de direção, restrição 
espacial, controle motor 
 
 
Introdução 
A relação inversa entre velocidade e precisão foi descrita pela primeira vez por 
Woodworth em 1899. Este pesquisador analisou a relação entre o tempo, a amplitude e a 
velocidade de movimento sobre a precisão da tarefa (Woodworth, 1899). Porém, apenas em 
1954 um pesquisador chamado Paull

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