Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
* Ciência Política e Teoria do Estado Prof. M.Sc. Fernando-Rogério Jardim * A política em Platão Os contexto da democracia ateniense. A aparição dos sofistas e da política. O problema da verdade e da justiça. O bem como contextual ou universal. A relação entre a política e a justiça. A relação entre cidadãos e governos. Tipologia e corrupção dos governos. * O surgimento da democracia O surgimento da democracia ateniense introduziu quatro aspectos decisivos para a aparição da reflexão sobre a política: a idéia da lei como expressão da vontade humana que decide por si mesma; o aspecto ordenado da cidade servirá de modelo para a ordenação do universo; o surgimento do espaço público para a troca de idéias estimulará a reflexão política; a modificação nos padrões de formação dos cidadãos, rumo a novas capacidades. * Filosofia e formação Na Grécia aristocrática (antes do século VI a.C.), o padrão de formação dos cidadãos valorizava o guerreiro virtuoso, o que incentivava as habilidades físicas. Na Grécia democrática (depois do século VI a.C.), o padrão de educação passou a valorizar a formação do homem público completo, do animal político. * O novo cidadão deveria saber: Discursar em público. Persuadir e dissuadir. Conhecer a si mesmo. Pensar, opinar, decidir. Harmonizar interesses. Argumentar racionalmente. Convencer seus opositores. Lidar com questões públicas. * A nova educação colocou como padrão a formação do bom político e do bom orador. o exercício da retórica e da oratória: é a arte de convencer as outras pessoas a respeito das suas posições; é a arte de defender sua própria opinião em público, numa assembléia. * A política torna-se uma alternativa profissional à juventude ateniense. Para dar à juventude essa formação profissional surgiram os sofistas. * Quem eram os sofistas Eram pensadores e professores itinerantes que ensinavam retórica e oratória em troca de salário. Como eram todos estrangeiros, pouco se importavam com os destinos políticos das cidades onde atuavam. Afirmavam que a mitologia estava repleta de falhas; e que ela era inútil para a vida prática e política das cidades. * Os sofistas Acreditavam que o mundo humano era feito pelos próprios homens, e não por deuses ou heróis míticos; sendo assim, o mundo poderia ser mudado pela política. Duvidavam da existência duma verdade absoluta e universal; para eles, as crenças e os valores eram inconstantes, convencionais, equivalentes e interessados. Não se preocupavam se um argumento era justo ou injusto, moral ou imoral; para eles, o importante era o argumento ser convincente e arrebatador na assembléia. Acreditavam não podermos jamais conhecer a verdade, mas apenas termos opiniões pessoais e sentidos variáveis sobre as coisas, pessoas, seres deste mundo. * Não confundir! * “O homem é a medida de todas as coisas.” Πρωταγόρας * Conseqüência n° 1 Uma vez que a medida de todas as coisas é o homem, seu conhecimento está limitado por suas opiniões e sentidos, os quais variam de pessoa a pessoa, de caso a caso. * Conseqüência n° 2 Se os homens variam, as medidas variam e, por isso, os valores morais também variarão: o que é moral para este, é imoral para outro. o que é justo para este, é injusto para outro. o que é belo numa época, é feio em outra. o que é bom para mim, é ruim para você. * Conseqüência n° 3 O que impera na política é a tentativa de convencer os outros da sua verdade e interesse pessoais, vencendo os inimigos ao trazê-los para o seu lado. Se não existem verdades, o que vale são as combinações provisórias entre os indivíduos, as quais variam com as circunstâncias e conveniências. * Por isso, na política, a palavra sofista ganhou o sentido de “demagogo charlatão” e a palavra sofisma ganhou o sentido de “argumento falacioso”. * Os principais sofistas foram: Protágoras de Abdera (Abdera, 480 a.C. - Sicília, 410 a.C.). Górgias de Leontini (Leontini, 480 a.C. - Tessália, 375 a.C.). Isócrates de Atenas (Atenas, 436 a.C. - Tessália, 338 a.C.). * Sócrates contra os sofistas Ao contrário dos sofistas, Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.), mestre de Platão, acreditava podemos conhecer a verdade e a justiça absolutas. * Podemos conhecer a verdade: Se olharmos para além da aparência desse mundo, rumo a sua essência; Se nos afastarmos das ilusões dos sentidos, que falseiam a realidade; Se ignorarmos as opiniões variadas dos indivíduos, que são interessadas; Se evitarmos as distorções conceituais da linguagem cotidiana e seus erros. * Oposição entre opinião e conceito Opinião (sofistas) varia de lugar para lugar, de época para época. é influenciada pelos sentimentos e interesses individuais e coletivos. está baseada na aparência das coisas. Conceito (Sócrates) é imutável, atemporal, universal e necessário, independe dos sentimentos e interesses individuais ou coletivos, está baseado na essência verdadeira das coisas. * Diferenças entre Sócrates e os sofistas: Sócrates os sentidos são fontes de ilusão, de engano. existem as verdades universais e podemos conhecê-las na filosofia. falava em público e jamais cobrava por seus ensinamentos. seu método era a dialética, o diálogo. Os sofistas só podemos conhecer através dos sentidos. não existem verdades universais; somente opiniões pessoais. cobravam por seus ensinamentos, os quais eram particulares. usavam o método da oratória, da retórica. * Dilemas para a política Como a política é o império dos interesses (pessoais e coletivos), como fazer com que as decisões políticas não sejam viciadas por paixões e enganos? Como a política se refere à arte do bom governo das questões públicas, e como tais questões estão situadas no tempo e espaço, como torná-las universais? Como a política é um conjunto de saberes práticos acerca das sociedade e dos indivíduos, como saberemos se são verdadeiros antes de os pormos em prática? * Sócrates não deixou nenhum registro escrito. Tudo o que sabemos sobre sua biografia e filosofia devemos ao seu discípulo mais conhecido, o pensador Platão (428-347 a.C.). * O contexto histórico da política em Platão O fim do chamado “Século de Péricles”. O início da guerra entre Esparta e Atenas. A decadência da democracia ateniense. O esgotamento das virtudes políticas. O oportunismo, a demagogia, a corrupção. O julgamento e a execução de Sócrates. A progressiva degeneração da polis grega. O assédio dos macedônios sobre a Grécia. * Obras relacionadas à política Πολιτεία – A República – Todo o livro VIII e início do livro IX. Πολιτιkος – Político ou da Realeza – a partir do fólio 292-e. * Tese da Obra (Livros 8-9) A derrocada dos indivíduos e dos governos Os governos assemelham-se aos indivíduos porque são formados por eles. Quando os homens inclinam-se numa direção, arrastam tudo consigo. Há uma relação íntima entre a decadência dos indivíduos e dos governos: Timocracia - indivíduo ambicioso; Oligarquia - indivíduo avarento; Democracia - indivíduo impulsivo; Anarquia - indivíduo desordeiro; Tirania - indivíduo escravizado. * Da aristocracia à timocracia Aristocracia é o governo dos melhores guerreiros, sendo esses virtuosos e justos; Platão associa a virtude à eugenia, às características herdadas dos ascendentes; Mas os governos não controlam os fatores cósmicos e divinos que afetam a eugenia; Tudo o que nasce está sujeito à corrupção e à decadência, incluindo as gerações; Os virtuosos não necessariamente darão origem a descendentes virtuosos; * Da aristocracia à timocracia A timocracia conserva o caráter militar e rejeita o caráter filosófico do governo; A guerra serve apenas à satisfação das ambições ou materiais e narcisistas; O homem da timocracia é arrogante, ignorante e ambicioso de ouro e honra; Quanto mais os homens pensam em fortunas, menos cultivam as virtudes. * Aristocracia > Timocracia Timocracia Governo da presunção. Guerreiros desvirtuados. Militares mercenários. Princípio: ambição. Aristocracia Governo dos melhores. Guerreiros virtuosos. Militares pensadores. Princípio: justiça. * Da timocracia à oligarquia Os homens da timocracia estabelecem barreiras ao voto com base na riqueza; Nasce a oligarquia (governo dos poucos que nem sempre são virtuosos); A cidade se divide em facções inimigas: a dos milionários e a dos miseráveis; Na cidade, a absoluta opulência convive com a absoluta indigência; * Da timocracia à oligarquia A falência do homem timocrático dá origem ao homem oligárquico; O homem da oligarquia é avarento e põe o bem público em segundo plano; Dos miseráveis ou arruinados nasce uma classe de “zangões” e “pedintes”; Os miseráveis conspiram contra uma oligarquia que perdeu a virtude militar. * Timocracia > Oligarquia Timocracia Governo da presunção. Guerreiros desvirtuados. Militares mercenários. Princípio: ambição. Oligarquia Governo dos poucos. Proprietários avarentos. Milionários e miseráveis. Princípios: avareza, temor da perda, aversão ao público. * Da oligarquia à democracia A sociedade oligárquica, dividida entre fortunas e misérias, é bastante instável; Qualquer pretexto exterior ou interior dá origem à revolução dos miseráveis; Essa revolução à origem à democracia; Os pobres matam, desterram ou destituem a oligarquia do seu poderio; A ausência duma classe dirigente dá origem à tal igualdade democrática. * Oligarquia > Democracia Oligarquia Governo dos poucos. Proprietários avarentos. Milionários e miseráveis. Princípios: avareza, temor da perda, aversão ao público. Democracia Governo do povo. O povo revolucionário. Fim das desigualdades. Princípio: liberdade. * Lembrando: causas da antipatia platônica à democracia A origem aristocrática do próprio Platão. A instabilidade da democracia ateniense. O surgimento de demagogos e oportunistas. Suas diferenças ideológicas com os sofistas. O julgamento e a condenação de Sócrates. * Da democracia à anarquia A igualdade e liberdade da democracia tornam o homem licencioso e impulsivo; As idéias e as modas são instáveis; A lei perde toda a força (insegurança); Os princípios políticos e morais tornam-se instáveis e deixam de ser seguidos; Aparecem aduladores e demagogos; * Da democracia à anarquia O homem da democracia é displicente, negligente, sem disciplina e impulsivo; O desrespeito às hierarquias e aos princípios atinge a família e o governo; A liberdade degenera numa anarquia; Todo excesso num sentido faz nascer um excesso no sentido contrário; O excesso de liberdade termina em excesso de servidão: nasce a tirania. * Democracia > Anarquia Democracia Governo do povo. O povo revolucionário. Povo no poder. Princípio: liberdade. Anarquia Ausência de autoridade. O povo desvirtuado. Liberdade sem limites. Princípio: licenciosidade. * Da anarquia à tirania A instabilidade gera luta de classes; Ricos e pobres são obrigados a se detestarem e defenderem mutuamente; Surgem falsos delatores e defensores; O tirano surge como protetor dos pobres contra as oligarquias restantes; A multidão dócil concede ao tirano guardas pessoais e todos os poderes; * Da anarquia à tirania Após proteger o povo, o tirano sem oposição passa a explorá-lo, oprimi-lo. O tirano fomenta guerras, aumenta impostos, saqueia templos e escraviza; O homem tirânico, obediente às tiranias exteriores, acostuma-se às interiores; As paixões, os vícios e a loucura são formas de tirania interior ao indivíduo. * Anarquia > Tirania Anarquia Ausência de autoridade. O povo desvirtuado. Liberdade sem limites. Princípio: licenciosidade. Tirania Ausência de liberdade. O tirano é senhor de escravos Os impulsos e os caprichos dominam dentro e fora. Princípio: submissão. * Tal cidadão, tal sistema O CIDADÃO Virtuoso Ambicioso Avarento Conspirador Impulsivo Licencioso Submisso O SISTEMA Aristocracia Timocracia Oligarquia Democracia Anarquia Tirania Vicioso * Críticas de Platão à democracia ateniense O trato das questões públicas exige uma série de capacidades e conhecimentos; Tais virtudes não são ensináveis ou acessíveis à grande maioria das pessoas; Não é possível, portanto, que essa maioria tenha poder político e se governe. Proposta: monarquia absoluta, por meritocracia ou aristocracia: rei-filósofo. * Críticas de Platão às leis Não é a ausência ou a presença das leis; não é o poder por imposição ou consentido; não é o número ou a condição dos que exercem a autoridade o que caracterizará o poder político, mas o conhecimento e a capacidade (virtudes políticas) dos que detêm essa técnica. * Críticas de Platão às leis O melhor governo não é o governo das leis, mas o dos homens que possuem as virtudes régias, porque: As leis são genéricas e necessitam sempre suma interpretação qualificada; As leis tratam os diferentes como iguais, produzindo injustiças e rebaixando os melhores; As leis desqualificam as pessoas em sua dignidade e privilégio, pendendo à demagogia; As leis não conseguem se adaptar às mudanças sociais, e quando o fazem, caem no ridículo; Nem tudo o que é justo está escrito nas leis e vice-versa. * O que vimos nesse bloco: Os contexto da democracia ateniense. A aparição dos sofistas e da política. O problema da verdade e da justiça. O bem como contextual ou universal. A relação entre a política e a justiça. A relação entre cidadãos e governos. Tipologia e corrupção dos governos.
Compartilhar