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O que é história em quadrinhos? - Sônia Maria Bibe-Luyten

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Prévia do material em texto

Pato Donaid, Mickey, S'Jper-Homem, 
t',sterix, Nf.í é' importa qual o idioma, I 
não irll)orta s(~ " ias são subHteratura,' 
ou não, A verdade é que, desde que 
surgiram '1a imprensa americana do 
começo do século, as histórias em 
quadrinhos são universais_ Fizeram â 
cabeça de diversas qer;:,qões e, nos 
j 1dS dS '10jé, -).(Ui98rTl UITI pÚbiico d(~ 
cfmtenas de milhões do pessoas em 
tvlo o rnu r; JO , Um público que sabe 
que a M2~Ja' ida é a plern :ô1 namorada 
cio Pato Don.:lld e quP. a Miriam Lane, 
um dia, ainc;-- 'f81 descobrir a 
verdade'ra Identidade do 
" 
lj 
I I II 
,...,1 INHOS 
cOlecão •• primeiros 
144 • _. _passos 
• 
• Cai o Império - República Vou Ver - Lmn M. 
Schwarcz/ Angeli 
• Da Colônia ao Império - Um Brasil para Inolôa Vw 11 
Latifundiário Nenhum Botar Defeito - UI/o M. 
Sc;hwarcz / Miguel Paiva 
Coleção Primeiros Passos 
• O que é Herói - Martin Cezar Feijó 
• O que é Indústria Cultural - Teixeira Coolho 
Coleção Tudo é História 
• Tio Sam Chega ao Brasil - A Penetração Cu ltUiol Al tlurlntl rl l1 
- Gerson Moura 
OQUEÉ 
HISTÓRIA 
EM QUADRINHOS 
1 ~ edição 1985 . 
2 ~ edição 
editora brasiliense 
DIVIDINDO OPINIOES MULTIPLICANDO CUlTIJRA 
1 9 B 7 
? 
• 
Copyrighl © Sonia M. Bibe·Luyten 
Capa: 
' Carlos Matuck 
Revisão: 
José W. S. Moraes 
Conceição A. Gab riel 
U F R J -AZe~-;;t~~nsfe~i ~5:_§CO·· 1 1 
Im (1~ FiJos'ofh c C'ências IIUm3llJS 
, . 
B3>.:tül>.:t51 36 
30.351 
Uu/', .' 
editora brasiliense s.a. 
rua general jardim, 160 
01223 . são paulo . sp 
lono 1011) 231·1422 
brftllllOll1l8 lolox: 11 33271 OBlM BR 
R EÇO 1'''0 (fi ./ o 
.-
ÍNDICE 
- Int rodução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 
- As HQ no mundo . , . , . . . . . . . . . . . . . . . . 16 
- A longa luta dgs quadrinhos brasi leiros . . . 60 
- Indicações para leitura . . . ... . .. . . . .... 87 
•• 
•••• 
I 
, 
INTRODUÇÃO 
Quantas vezes todos nós já levamos bronca dos 
pais, sendo pegos "em flagra" com uma revista de 
quadrinhos na mão e eles diziam: "Larga esse 
gibi! Não tem coisa melhor para ler?" . 
Preconceitos como esse ainda existem, mas 
estão ficando menos freqüentes. Hoje, a grande~ 
maioria das pessoas já está conscientizada da >J:' 
enorme importância que têm as histórias em Y 
quadrinhos. \ Tanto na área da educação como nas A 
de lazer e, ati!" nos camoos da orooaganda comer· -t 
cial e pol ítica.} _ 
Em todas as áreas temos, portanto, a possibili· 
dade de encontrar os quadrinhos. O que importa , 
porém, é d~ onde vêm essas históri as e quem as ' 
escreve, pois elas são excelente veículo de mensa·i,l1r~" ..L... 
gens ideológ[cas-e- d8-CLítica"social expl ícita ou 
implicitamente. , 
-
8 
-
Sonia M. Bibe-Luyten O que é História em Quadrinhos 
10 por isso; por exemplo, que elas foram proibidas 
durante a Segunda Guerra Mundial pelo Ei xo, e 
os países do bloco comunista se recusam a aceitar 
as historietas do Ocidente_ Por outro lado, a 
Ch ina Popular, na época de Mao Tsé-Tung chegou 
a criar seus próprios quadrinhos a fim de divulgar 
melhor a ideologia da "Revolução Cultural"_ 
l.t-pesar dessa sua força e ímpeto de comunicação, 
o quadrinho tem sofrido muito em matéria de 
desprestrgio por parte de intelectuais e educadores 
do próprio mundo ocidental _ Essa condição de 
subproduto de cultura que acompanha as HQ está 
em função da estrutura industria l de grande escala , 
envolvendo interessés econômicos que podem 
acabar, realmente, de compr0rTleter o relaciona-
mento mais dinâmico c·om a cultura 
-Mas não podemos nos esquecer dos inúmeros 
desenhistas que levaram à frente um pensamento 
mais amplo, c riando quadrinhos os quais souberam 
retratar, com esp írito- de crítica e humor, cada 
época, cada "instante do ser humano da maneira 
mais direta possível , captando tendências artísticas 
e cinematográficas para compor sua estética visual. 
Para não sairmos de perto, basta lembrar os persÕ= 
nagens de Henfil e Ziraldo, além da inesquecível 
Mafalda, de Quino, o mais famoso desenhista 
da.Argentina. 
Os quadrinhos marcam, sem dúvida, os aCQJlte.ci-
-mentoL.d_o_sé..~esta civl'lização da qual 
você é protago~i sta. Para cnegar à forma atual, as 
-" 
HQ acompanharam toda espécie de evolução e 
um incrível entrelaçado de influências da foto-
grafia e do cinema . Usaram também as inovações 
tecno lógicas para a reprodução das imagens. 
Além disso tudo, a influência que os quadrinhos 
exerceram nas pessoas , tanto no Ocidente como 
no Oriente, é considerável e, mesmo assilll! , não foi 
ainda avaliada em toda a sua extensão. Quantos 
escritores, pintores ou diretores de cinema já não 
confessaram terem se i nspirado na HQ, como uma 
leitura que dei xou , marcas bem profundas em sua 
formação intelectual? 
---Portanto, através de seu desenvolvimento, da 
formação de sua linguagem, da luta dos desenhistas 
brasileiros para conquistar seu espaço, vamos 
juntos acompanhar como se deu essa evolução, 
procurando dissipar mal-entendidos e compreender 
por que as Histórias em Quadrinhos deixaram, ou 
melhor, ultrapassaram a condição de instrumento 
de consumo para 1Qrnarem-se símbolo da civili· 
zação contemporâne~l 
Os ingredientes das HQ 
Antes de qualql!er definição, quero dizer que o 
quadrinho é um \ produto com ra ízes populares. 
E mais popular aincra foi a sua difusão. Como um 
meio de comun icação, ele nasceu nas empresas 
9 
" ... 
10 Sonia M. Bibe-Luyten O que é História em Quadrinhos 11 
jornalfsticas norte-americanas, no fim do sécu lo 
p ~sado ~ De~ o in fcio, sua característica foi a de comu-nicação de massa, uma vez que atingia um pú5fic o ./ enorljlJI Outro detalhe foi a exigência dos melhmes 
e mais modernos processos de impressão gráfica 
para a sua produção. Assim, o primeiro guadrinho 
norte-americano, o Ye//owKid (Moleque Amarelôl. 
ae cor amare la, OI justamente para testar essa cor 
que estava sendo usada pela primeira vez na im-
pressão de jornais. No Brasi l, a Editora Abril, o 
maior parque gráfico da América Latina, começou 
e se con~olidou com a impressão das revistas 
Pato Dona/d. 
A difusão dos quadrinhos fo i universal, mas em 
cada canto do mundo recebeu nomes diferentes ., 
Nos Estados Unidos, o nome comic strios 
(tiras cômicas) está mUito Vinculado com o con-
teú do, isto é, no infcio de sua popularização,....àS 
histórias tinham um caráte.r predominantememe 
humorCstico caticatur:esc "pesar · das novas 
modalidades surgidas postenormente, este nome 
continua até hoje: comic strips, comics, comix ou 
funnies (engraçados) - como designativo geral 
em pafses de I fngua inglesa. Para as revistas, adota-
.§e..o termo CJlmic books...... ' 
~ França chama-se bandes dessinéf1$, ou seja, 
bandas (tiras) desenhadas. Mas, na Itália, o nome 
derivou-se daquilo que é mais característico nos 
quadrinhos: ~umetti - fumacinhas, os ba lõezinhos 
que ~aem da boca dos personagens, indicando 
sua fala 
Na Espanha e no Brasil, ocorreu algo em comum 
quanto ao nome popu lar de rev istas em .quadrinhos . 
Uma revista infantil espanhola (que Iniciou-se em 
1917), chamada T B. O., ficou_ tão conhecida e 
famosa que seu nome ampliou-se até abranger 
todas as publicações de caracterfsticas semelhantes. 
Hoje em dia, na ESJ:lanha a pal~ " taheó" é 
eq uiva le lll!Lil_p_ala.ll(a..b(asileif.a~gip!,;J.-
Poucas pessoas se lembram de que a palavra 
"gibi"t significa "moleque". ~ que houve uma 
rev ista com este nome, nas décadas de 30 a 40, 
que, de tão difund ida, emprestou seu nome a todas 
-as revi stas de quadrinhos do p2fsJ 
Na América Espan.b.ola, .usa-se a Ila lavra "histo-
rieta'':'" nQ JaJ:lão, mangá, e em Por.111gal, "histórias 
aos quadradinhos". -
Como se estruturam as HQ 
E la~ são formadas por dois códigos de signosoráficos: a ilUagem e a li0B-ua9em escrita. ÕTãto 
tio os .quadrinhos terem nascido do conjunto de 
( 1 ~l as artes diferentes - literatura e desenho -
--- . I1 O os desme rece. Ao contrariO, essa funçao, esse 
I!lI ráter misto que deu in fcio a uma nova forma 
c/li manifestação cultural., é o retrato fiel de nossa 
12 Sonia M Bibe-Luyten O que é História em Quadrinhos 
época, onde as fronteiras entre os meios artfsticos 
se Inter Iam. 
IÕ infundada a crítica que se faz aos quadrinhos, 
pri ncipalmente aquela que os considerª s_ubli!era-
~ura ou "sub arte". Isso porque,-uma vez que os 
quadrinhos tenham se nutrido em fontes literárias 
ou pictóricas, não quer dizer que esses materiais 
conservem a sua natureza depois de adquirirem 
sua forma final. IÕ o que acontece com o cinema: 
depois de o roteiro passar para a linguagem cinema-
tográfica não é mais literatura e, Sim, uma nova 
e vigorosa modalidade artfstica. 
Entre os elementos que entram na composição 
dos quadrinhos, o que mais caracteriza e dá dina-
micidade à leitura são os balões . O balão é a marca 
registrada dos quadrinhos . Na sua forma 6em--
comportada, indica a fala coloquial de seuiJlerso-
n"agens. l'iIo entanto, quan o estes mudam de 
nu mor, expressando emoções diversas (surpresa, 
ódio, alegria, medo), os balões acompanham 
tipologicamente, participando também da imagem. 
As formas são muitas e bastante variadas. 
Parti~do-s~ do balão-f~>Jodemos.-encontrar- o 
oalão-pensamel'lto, balão-berro, balão-cochilo, balão 
-trêmulo (mado), bal1!o-transmissão (para t ransmitir 
Sõm de aparelhos elétricos ou elet rônicOs) balão-
Besprezo.balão-uníssono (mostrando a fal~ ú-nica 
d~ diversos personagens) , balão mudo e dezenas 
de formaç_éiê . diversas. Esses tipos e formas vão 
depender sempre da situação que se quer criar, 
ocasionando, aSSim, ótimos efeitos visuais e 
comu nicativos. 
Vocês podem imaginar, agora , quantas palavras 
e expressões explicativas são economizadas, hoje 
em dia , pela simples colocação deste ou daquele 
tipo de balão. - - -
Da mesma forma que os balões, as onomato-
péias, palavras que rocuram re roduzi r ru ' dos 
e sons, ' completam a lin uagem dos guadrinhos 
e lhes dão efeito de grande beleza sonora. 
Numa comparação com o cinema, os quadrinhos 
tiveram a primazia de ser falantes desde o in ício 
(n ão se esqueçam de que o cinema foi mudo até 
a década de 20). Posteriormente, as HQ foram 
buscar a inspiração sonora . nas artes cinematográ-
fic as para exprimir os ru ídos não contidos nos 
balões. 
NOs quadrinhos japoneses, por exemplo, as 
onomatopéias têm uma função muito mais plástica 
do que visual ou sonora. Isto porque a escrita 
japonesa é formada por caracteres e as onomato-
pé ias inseridas nos quadrinhos dão um incrível 
movimento, equilíbrio e força ao som que estão 
ex primindo. 
Pode-se observar que a expressão dos ru ídos 
onomatopaicos tem muito a ver também com a 
I íngua inglesa . to que esta I íngua, por ser híbrida 
(houve ma is de dez idiomas na formação do 
Inglês atual , sobretudo o antigo holandês e o 
f'ra ncês normando), favoreceu melhor a escolha 
13 
14 Sonia M Bibe-Luyten O que e História em Quadrinhos 
definitiva de palavras para determinar as coisas_ 
Além disso, a fase de consolidação dos quadrinhos 
teve como local os Estados Unidos e daí partiu 
sua influência pelo mundo. 
A I íngua inglesa já é sintética e, por isso mesmo, 
reproduz o som com maior proximidade e freqüên-
cia / Assim, certas onomatopéias têm seu sentido 
na tradução lingü ística semelhante ao ru ído 
expresso. Vejamos alguns exemplos: 
r---
ONOMA- SIGNIFICADO 
TOPÉIA NO OUAORINHO TRADUÇÃO 
SLAM! porta batendo bater com força uma porta 
CRACKl objeto partindo-se quebrar; arrebentar ; rachar 
SNIFF fungar; cão farejando aspirar audivelmente pelo 
nariz 
SPLASHI pessoa ou objeto espirrar; esguichar 
caindo na água 
GULPI engasgo tragar; 
f ocar 
engulir; devorar; su-
Estas e mu itas outras onomatopéias, que já são 
dotadas de significado em inglês, quando são trans-
portadas para outras I ínguas, ficam apenas com 
uma função de signos visuais, isto é, passam a ser 
convenção na linguagem das HQ. 
Fui tradutora, durante a lguns anos, da página de 
quadrinhos do Jornal da Tarde, e sempre procurei 
respeitar a forma original das onomatopéias, 
justamente por esse motivo. Mais recentemente, 
porém, diversos desenhistas brasileiros, na criação 
de suas histórias, começaram a buscar e adotar uma 
grafia onomatopaica mais pertinente à nossa 
I rngua, trazendo, conseqüentemente, uma ass imi-
lação eficaz e um contato mais direto com o leitor. 
• 
•• • •• 
IS 
o 
AS HQ NO MUNDO 
Os pioneiros 
Por incr(vel que pareça, a~ns das HO estão 
"'\ justamente no in (cio da civilização, onde as inscri-
,,\\ ções rupestres nas cavernas pré-históricas já reve-
lavam a preocu[1a ãõOe na rar os acontecimentos 
através de desenhos sucessivos_ -
Durante o processo civilizatório, várias mani-
!festações aproximaram-se desse gênero narrativo: mosaicos, afrescos tapeçarias e ais EL-um'l 
dezena de técnicas foram utilizados para registrar 
a história por meio de uma seqüência de imagens, . 
No fim do século passado, com o aprimoramento 
das técnicas de impressão, as estórias em ir'Qagens 
foram largamente utilizadas nos livros e jornais, 
-Os pesquisadores, porém, convencionaram tomar 
como arco inicial para uma história das HO o 
o que é História em Quadrinhos 
Little Nemo, de Winsor McCay_ 
Sonia M Bibe-Luytel que é História em Quaarmnu~ 
aparecimento, emI1894, do Yellow_Kid, criação do 
norte-americano Richard -"F. Outcault para - o. 
ew York World, jornal sensaCIOnalista de pro-
priedade de Joseph Pu li t~ " 
ste ma rco é importante, pois os quadrinhos, 
_eLaIIL..e I a s somente em álbun QU 
livros assam a ser d ivu l ados or um veículo dL 
,comunicação_ d mas~jl.,~ndo_acessLveis_a um.. 
número bem maior de pessoas. _ 
O personagem Yellow Kid aparecia no suple-
mento dominica l em cores que, na época, era a 
principa l atração do jornal. "O Moleque Amare lo" 
tomou-se rapidamente uma grande atração. 
Depois disso, os quadrinhos passaraQ1 a ser 
fator determinante na vendagem dos jorna is, e seus 
autores, disputados pelos áv idos empr.;strios da 
notrcia. Tanto é que William Randolph Hearst, 
outro magnata das rotativas e arqui inimigo de 
Pulitzer,jiacou rapida mente de seu ta lão de cheques 
e levo R icha.Ld OlJtcal,llt- pa ra o seu New Y ork 
Journa, onde este criou o seu se undo personagem 
de sucesso: o garoto Buster Brown. 
A superva onzação das HO, devido à exigência 
dos leitores, mostrou aos empresários que os 
quadrinhos t inham o seu lugar assegurado, e eles 
"compreenderam" rap idamente o fenômeno sa indo 
à procura de autores cada vez me lhores, criando 
uma efervecência no setor. Logo, desenhistas de 
primeira linha traba lhavam freneticamente na 
construção de uma linguagem que já estava exp lo-
dindo em todas as direções. 
Outcault, no entanto, não inventou a história em 
quadrinhos. Na verdade, ela já ex istia em estad 
latente e convergia para o ponto de partida pelo 
trabalho e van os autores que es avam mais ou 
menos no mesmo momento criativo. O mérito de 
Outcau lt está no fato de ter sido ele uem Ilr'-
meiro rea lizou essa s{ntese e introduziu o balão, 
que é, sem dúvida, o elemento ue define a história 
em guadnnhos como tal. 
Com o aparecimento do balão, os personagens 
passam ~ f~r e a narrativa gan a um aVO<ltn'a",-c---1 
mismo, libertando-se, ao mesmo tempo, da figura 
do narrador e do texto de rodapé que acompanhava 
cada imagem. Com essa autonomia, cada qua-
drinho ganhou uma incr{vel agilidade, porque 
passou a contar em seu interior, integradas à 
Imagem, com todas as informações necessárias 
para o seu entendimento.Os personagens passam 
expressar-se com suas próprias palavras, e surgem 
os onomatopé ias acrescentando sonoridade às 
I age ns. 
Dois anos depo is do Yellow Kid, Rodolph @ 
Dlrks, um desenhis.ta_ pdocip.iante, .já ch~ava ã .H ..... 
larma definitiva da HO. ~us personagens, Thê 
Kotzenjammer Kids (Os Sobrinhos do Galtao , 
I O um exemplo completo de HO. Até o apare-
I!lmento dos Sobrinhos do Capitão, as estórias 
I r Im meio toscas, titubeantes. Ouase sempre um 
"li outro elemento básico das HO estava mal 
20 Sonia M Bibe-Luyte lo que é História em Quadrinhos 21 
resolvido. comprometendo a narrativa. deixando-a 
precária . Os gersonaoens de Dirks (vocês conhecem 
bem os dois garotos terdveis lu tando sempre 
contra as formas de autoritarismo simbolizadas 
pelo Capitão - e eles são publicados até hoje 
~.no Brasil ) são tiDOS pitorescos. com vida própria. encaixados direitinho no cenário. Com-ªsta obra. a "!) narrativa quadrinizada consegue. após várias expe-
V riências. realizar um trabalho vigor0iz e conso-
I I idar-s.eJ:le.tin.ithlamen.te-cu= linguaglt.m. 
Houve outras bis1ód.~ue ficaram f amosas 
pe las suas inovações. Um bom exemplo é Ji1t1e-
,Nemo in Slumberland (O pequeno Nemo no país 
dos sonhos). desenhado por Winsor McCay em 
1905. Apresentado no melhor estilo art-nouveau-
(modalidade artrstica em voga na época. com 
vegetais e flores estilizadas). McCay abriu para os 
quadrinhos um panorama vastrssimo. Ele atinge a 
condição de arte. e seus desenhos desempenham 
outro papel ao invés de ~e sucederem monoto-
namente emoldurando a acão. 
'-O que foi visto até agora. aconteciaJlos suple-
mentos domlDicais. que eram. na época. a parte 
mais procurada do jornal. com os leitores aguar-
dando ansiosamente o momento de reencontrar 
seus heróis. 
A partir de 1907 ocorria uma profunda modi-
1/ fi cação nesse esquema com o aparecimento da 
r primeira tira diária - ~ dailv stci!J.. Com isso. os 
~ / quadrinhos deixaram de ser um bloco isolado dp 
. 
conteúdo do jornal para ingressar nas páginas!:S 
internas e aparecer nos outros dias da semana A--
tornando-se uma prêSeiiÇa cotidiana na vida dos 
leitores. 
Essa- alteração implicou também uma mudança 
forma l. já que na página dominical as estórias 
ocupavam a sua tota lidade e. agora. viam·se com-
primidas numa tira. obrigando os autores a dar o se..!! /::. 
recado em três ou. no máximo. c inco quadrinhos. c1' r 
{'Estamos falando de Mutt e Jerr. criação de Bud ~ 
Fisher. consider<Ldu primeira tira diária. que vei~ ~v 
abrir novo espaço e tomolJ. incllJsive • ....Q lugar do,-
suplemento dom inical.' 
Completa-se. assim. o período de construção 
da linguagem. com flexibilidade suficiente para 
realizar uma grande alteração formal sem perder o 
que já havia conquistado. Um exemplo disso é o 
próprio "Mutt e Jeff". que surgiu já na sua forma 
defin itiva e ·continua sendo publicado incansa-
velmente. Apareceu . inclusive. até pouco tempo 
trás. no jornal O Estado de S. Paulo. 
A difusão do-;;;omiCS - os Sy:::Jes 
----- ----- .----
Como já vimos. o surgimento das tiras diárias na 
primeira década do século coincide com a exp losão 
11 I imprensa norte-americana. Em conseqüência 
do aci rramento da disputa pelo públ ico leitor. os 
I I 
22 Sonia M Bibe-Luy te, que é História em Quadrinhos 23 
editores saíram à PLOcura de novas fórmulas para 
aumentar as tiragens. E, nesse momento, os qua-
drinhos já haviam comprovado sua eficiência. 
Além das tiras cômicas, onde predominavam 
crianças endiabradas, inocentes trapalhões e 
an ima is humanizados, surgiu mais tarde um outro 
tipo de quadrinho: as tiras seriadas . Nessa nova 
modalidade, cada tira f uncionava como um cap í-
turo c:iTário de _ uma hisJória centra l. O último 
quadrinho continha a carga maior de informação 
'I ~ e--!uspense, remetendo o interesse [:lara o próximo 
" caprtu lÓ", à ve nda no dia seguinte em todas as 
bancas ... Essas séries duravam aprox imadamente 
seis semanas. 
'---"" AI Capp, o criador de Li', Abner (Ferdinando, 
no Brasil), satir izou essa situação criada pe las 
histórias de seqüência e o impacto que elas causa-
ram, mobilizando e cativando os lei tores ameri-
canos. Ele colocou seus personagens nas situações 
mais absurdas para conseguir a continuação da 
historinha. 
[Entretanto, a grande difusão das HQ foi real-
1...r7 mente consegu ida graças ao esquema dos syndicat~s 
-"r r ou-a§"ênclas distribuidora'S] (e não "sindicatos", 
como são erroneamente traduz idos). Essas agências 
distribu íam e continuam distr ibuindo centenas de 
hif !órias para ve ículos em todo o mundo. 
~ primeiro syndicate, criado por Hearst em 
1912, foi o International News Service, que mais 
tarde se tornaria o King Features Syndicate. 
Um dos primeiros personagens internacionalizados 
foi o Pafúncio (Bringing-,,-úather), criação de 
George MacMaõjJ... desenhado em rico est il o 
a~ tpéco (a moderna junção de retas e curvas). 
.;tO} syndicates funcionam com desenhistas<,~ 
co.ntratad~ Rara produw séries de bistórias?"" 
previamente apm1'a_dai que devem ser enviadas 
com grande antecedência para correções e padro-
ni zaç§ 
ReprotJuzidas em papel de boa qualidade, são 
enviadas para jornais e editoras que têm contrato 
assinado com O syndicate, geralmente, por doze 
meses. Cuidam também dos direitos autorais e do 
"merchand ising", isto é, a comercial ização dos 
personagens em camisetas, brinquedos e todas 
os as coisas. , 
O sistema de distribuição R,oss ibilita a grandes -:: <-
pequenos jornais e revistas do mundo inteiro Lf 
1I publicação dos autores e personagens mais 
romosos por um preco ab.Sllmo_de-.ba<.a.to.::UJucro 
do syndicate está na grande quantidade de tiras 
que são vend idas de uma só vez sem que se tenha 
quo redesen há-Ias. O esquema funciona até hoje, e 
II ca fácil imaginar como se sentem os desenhistas 
loca is (o caso do Brasil, por exemplo), ao tentar 
Ii OI1COrrer e encaixar seu material nos jorn,~) sJ 
I\lém disso, esses syndicates têm uma especie de 
"l1sura interna que obriga seus autores a nivelar 
11 conteúdo das histórias a fim de co locá-Ias em 
'1l1l1lquer sociedade, mesmo as mais moralistas. 
24 Sonia M Bibe·Luy t que é História em Quadrinhos 
Um brasileiro num syndicate - O nosso conhe· 
cido Henfil é o exemplo mais próximo que atesta 
a pobreza do esquema. 
Depois de um "vestibular" onde concorreu com 
uns dois mil desenhistas, conseguiu fec har contrato 
com os americanos para produzir os Fradim. 
Travestidos em The Mad Monks (Os monges 
doidos), começaram a ser publ icados em dez 
jornais americanos, alguns importantes como o 
Chicago Tribune . Não durou dois meses. Os leitores 
enviavam cartas reclamando contra o humor feroz 
e sádico de Henfil e os jornais cancelaram os 
contratos. 
A consolidação . 
Acredito que para se compreender bem o ritmo 
de produção dos quadrinhos é preciso se lembrar 
dos acontecimentos pol íticos e soc iais do in ício 
do século XX. Sobretudo, a(]écada de 30 é um 
prato cheio para estas observações, uma vez.,que há 
uma co ntra ão muito grande, tanto em aco 
cimentos como na produção de HQ. 
A mudança de uma deca a para outra foi muito 
rápida na América. O ano de 1929 marca o in ício 
de uma série de fatos ocasionados pela "quebra" 
da Bolsa de Nova Iorque, gerando uma crise sem 
precedentes no mundo inteiro. O crack liquidou, Tarzan, de Burne Hogarth. 
2S 
I('~~r - • " 26 Sonia M Bibe-Luyte que é His tória em Quadrinhos 27 
, 
. 
I, de um só golpe, o otimismo dos anos loucos da A história já t inha aparecido em forma de romance: 
I' era do jazz. Tarzan af the Apes, de Edgar Rice Burroughs, em 
i:'~llr , 
A nação americana havia crescido na segurança 1912_ Foster fez a adaptação do romance para as 
de um eterno mil agre econôm ico, e o decênio de HO, introduzindo realismonos quadrinhos. Foi 
20 caracterizou-se por um esbanjamento alegre e o desenhista- Hogarth, porém, que deu a Tarzan 
'" . insensato da burguesia rica das cidades. a majestade do senhor da selva. Conseguiu dar 
Logo, porém, veio o d il úvio'! A classe operária ao cenário uma exuberância fantástica e ao herói 
pagou os excessos da classe dirigente com milhões uma be leza de formas inspirada no próprio Mi-
de desempregados. Como conseqüência , o próprio chelangelo . 
I lazer das massas ficou aretaBO;-CheganBoa-ré- a Sal tando dos galhos da selva para o futuro, o / a l ter~h~b i tos e m,9dlfíCar o gosto das pessoa s flê nero ficção científica é o tema de três grandes 
:11 por dete.r:-m inadas cois'lli. "j" JJ. 2- - histórias: Brick Bradfard (de W_ Ritt e C. Grayl. 
E ta lvez por isso que se expl ica como o gênero Buck Ragers (de Nowlan e Dick Calkins) e Elash~ 
"Aventura" chegou ao auge e um turbilhão de Gardan J de Alex Raymondl. que obteve grande iP histórias surgllUJ.e.S!iLépo.ca, explorando ao máx i::- ucesso. As hero rnas de Alex Raymond foram 
mo esta nova mina de ouro. A aventura indica um I\1U ito avançadas para a época em que viveram e 
11 desejo de evasão e a criação de mitos, de heróis Ind os os seus personagens parecem sa ídos das te las 
, positivos. Reve la a necessiaaaeae novos modelos ti o cinema - são altos, loiros, com queixos e / 
nos quais se inspirar para a conduta humana. IIllrl zes para ninguém botar defeito. Flash Gordon 
- E a era de Tarzã (aventura na selva), Flash 11 I1 Ca rna o protótipo do mito ariano. Dotado deV 
Gordan (aventura de ficção científica) e do Prín- 11 m corpo perfeito musculatura inveiável, [1ossu í 
cipe Valente (aventurnno passado med'ieval). lodos os atributos de uma sUl)er-raça. No enredo, 1/'; como se os heróis - envolvidos nas histórias " passado, presente e futuro se entrelaçam, mas 
/' compe~assem as perturbações e inseguranças da 11 r 11 todas as épocas o bem sempre acaba ven-
triste realidade e todos resolvessem fugir para I lindo o ma l. 
, lugares desconhecidos. E " foi então ,que se deu a O passado reviveu toda sua alória com o PríncjQe 
consoJidaçJo dos quadrinhos: o volume de criacão V,I lonte, uma história na -qual cava leiros, dragões, 
e a boa qua lidade de materi~ . 1I t1l1 cesas, castelos e cenários majestosos sa iam 
,Tarzan surge no cenário desenhado por dois tl II pena de H. Foster, familiarizando o leitor com 
grandes mestres, Ha l Foster e Burhe Hogarth. I oorte do Rei Artur, os Cavaleiros da Távola 
-
-
, 
28 Sonia M Bibe-Luyt que é História em Quadrinhos 
Redonda e os vikings. Foster mostra uma visão 
norte-européia da Idade Média : uma era sem 
trevas mas de muitas lutas. E como ele era origina-
riamen te um pintor, as HQ ganharam ' muito na 
in trodu ção de paisagens nos desenhos. Foster, 
tendo vivido no Canadá, soube retratar e enri-
queceras quadrinhos com lagos, florestas e pan-
ta~is. 
~~a Europa, a aventura segue por outros caminhos, 
com a cnaçao de Tíntín (do belga Hergél que, ao 
invés dos jornais, publica suas histórias em álbuns 
< gue logo T oram traduzidos para outros idiomas, 
9tingindo,~slm , milhões _de leitores em todo o 
mundo. --
-[é om Tintin inicia-se a Escola de Bruxelas, um 
ntro criador de quadrinhos na Europa, de onde, 
ma'is tarde, surgiram out(êS histórias excepcionais 
como Asterix e Lucky LU.6!J 
No in ício dos anos 3D, na América, aparece um 
desenho animado que passou depois para as revistas 
de quadrinhos, e ficaram famosíssimos tanto o 
criador como a criação. Estou falando do Míckey 
Mouse, o ratinho Que deu origem ao imp-ér io 
i--. Disney e a In úmeros outros personagens corTiõ o 
! V Pato Donald, Tio Patinhas,_Margarida , Zé~Carioca, Minie, João Bafodeonça e assim por diante . ~Os qüa(frl n ~os d e Walt Disney,- no-s velhos 
tempos, exploraram ao máximo o tema aventura, 
tendo Tio Patinhas como herói principal que não 
poupava nada e a ninguém para descobrir uma nova 
mina de ouro em algum lugar do planeta . 
Disney , na produção de desenho animado, 
levou às telas alguns contos de fadas que as crianças 
s6 conheciam pelos livros. Hoje em dia, ao se 
fa lar, por exemplo, de Branca de Neve ou Cinderela, 
a meninada, com certeza, verá diante de SI a 
Ima,gem disneyana dos personagens. 
Esse lindo e poderoso império de revi stas em 
quadrinhos, desenho animado e parques de diversão 
'tremeu nas bases quando dois sociólogos no 
Chile, Dorfman e Mattelart, atacaram o mito mais 
badalado dos últimos tempos. A acusação principal \ 
toma as inocentes historinhas como dlfusoras do 
opitalismo amencano, que funCionam, há anos, 
oomo lava~em c~reb~~ de populações infanto- , 
Juvenis do mundo Intel~ 
As posições são bas: te radicais mas, pessoal-
l11ente, acho que no fundo os dois sociólogos não 
tloixam de ter razão, principalmente porque o 
I"odelo Disney é exportado para inúmeros pa íses. 
I as crianças do Brasil ou do Paquistão, sem 
II rom outros neróis naCionaiS nas tancas, vão 
lIIulm il andQ, em qllilddnho.s,._Ji.Ç..~. 
II lt ler lucro fácil sem oroduzir,-ªp.LQlLe.ltar,se das. 
illltlS fracos e a desprezar as sQ,c.i.e.dades pri mi.ti.vas_ 
M,IS' o grande mérito de Disney (e isso ninguém 
pl1do contestar) é ter dado às HQ um estilo elásti co , 
"'illlli b rado, que influenCI Ou desenb istas..do mundo.. 
1I IIIIIro, principalmente os franceses 
Mosmo nos Estados Unidos, porém, não faltaram 
29 
,. 
I. 
30 Sonia M Bibe-Luyt (Iu e é História em Quadrinhos 31 
autores que fizera m do quadrinho um meio de om seu dinossauro combatendo inimigos pré-
criticar a sociedade moderna de consumo. históricos. 
- tJm rre"te-sfõlAI Caep, - através de Li '1 "há 400 anos", surgia, na se lva africana, 0-que, ' E , IAn~r (FerdioaodoL satirizou com mu ito humor, pri meiro grande her~ i das HO: o Fantasma. Tanto 
--- -
o meio em que vIvia. le como seus descendentes iam se casando, tendo 
Ele escolheu seus personagens inspirados nos novos Fantasmas para, aSSim, gerar a lenda da 
habitantes de pequenas loca lidades caipiras norte- Imorta lidade do "Eseírito-Oue-Anda". Criado por t-'" 
americanas. Assim, a partir de gente como Ferd i- Lee Falk, esta história teve uma trajetória diferente 
nando, Vio leta e Xu lipa Buscapé, com suas vidas, das outras HO. O Fantasma, que namorou Diana 
brigas e amb ições limitadas, é que AI Capp ridicu- Pa lmer mais de tr inta anos, fina lmente se...c_asa e_ 
lariza o modo de viver da civ il ização ocidenta l, do 10m filhos (gêmeos, por sina l) _p~ra continuar a/ IP a!!1erican wav af Ufe. (g le foi também uma das dinastia. 
primeiras pessoas a chamar a atenção das massas Isso não é muito comum_llils fjO. Norma lmente, Pttê problemas de defesa do meio ambienti:) os heróis parecem não ver o tempo passar. Passados 
A história que gerou ma is polêmica foi a dos quase cem anos, os Sobrinhos do Cap itão conti-
"Shmoos", seres que se transformavam em bife, lIuam moleques e endiabrados e a Margarida até 
ovos, le ite, enfim tudo aquilo que alguém quisesse hoje não se decidiu entre o Gastão e o Pato Dona ld. 
possuir. Imaginem só o desespero dos grandes Lee Falk CriOU também ou t ro personagem, 
capitalistas, que viam nos "Shmoos" uma ameaça Mondrake, um mágico com cartola e capa v~l ha 
para o sistema financeiro do mundo. O eróprio " preta, com seu criado, o gigante negro Lothar 
AI Capp foi muito _perseguido, sobretudo, na Esta história também se atualizou, mas no k 
aécada de 40, 12e lo senador McCarthy, da extrema-
"" nt ido social. De uma espécie de escravo, Lotbar_ 
direita america~ . -
"" tra nsforma em príncipe africano e também 
'1lI lI nja uma noiva, uma linda more~ Isso, com 
Outras histórias famosas 
"' Itoza, para :agrada r os milhões de leitores negros 
III São desta época também Papeye, o. marinheiro 1111 m'undo inteiro. Em todo caso, essas mudanças 
11 11 adaptações permitiram aos personagensde que ficava forte qLiãndo com ia espi nafre para I 'tJ Fa lk uma ace itação revigorada, ao passo que sa lvar a Olívia Pal ito das garras do Brutus . E o IIlIlItos outros heróis de HO simplesmente desapa-Brucutu, o homem das cavernas, sempre montado 
IIIlmam por se terem fossilizado. . 
-
J '---
, I 
11111 
I 
32 , Sonia M Bibe-Luy 
--::: _ Em todo caso, podemos dizer que a produção 
norte-amencana da época pré-guerra é"Tão forte 
que lOunda os jornais de tOda- a- Europa e do 
mündo inteiro. O sucesso foi devido tanto à 
qualidade dos desenhôs como ao eficiente sistema 
de , distribuição dos syndicates. Além disso fica 
-- . , 
L conso lidada também a própria composição dos 
qu~drinhos. Isto é, anteriormente, os personagens 
e figuras eram colocaâos ãe- forma ind iscriminada. 
Foi principalmente com Hoga rth, em Tarzã, que 
certas regras começaram a funcionar para dar 
movimentos equi'li5racros:-Maravilhosos jogos de 
~ com o aproveitamento máx imo do branco e 
preto foram conseguidos por Mil ton Caniff, em 
Terry e os Piratas. O uso de nanquim com pincel, 
obtendo uma persoectiva' elaboraaa, faz lembr ar 
, muito os efeitos cinematográficos. Os anos 30 
~foram para os qu.adr nhos o mesmo que Ho ll ywood para o cinema: foi a época da aventura e da invencão o misto de realidade e fantasia. Como resultado, temos que as HQ ficaram 
consagradas e todos liam quadrinhos. 
A crise - a utilização política das HQ 
Vamos chegando ao fim da década de 30 e 
podemos imaginar o astral das pessoas, principa l-
mente na Europa, onde a guerra começava a dar 
-
Ifle é História em Quadrinhos 33 
flI1YlIDfDAVB 1kD- A. -- 111 
.. ~ ,,'.'-. h~:- ..... n_ 
se us primeiros Sina iS. A tensão e o desespero 
'faz iam parte do dia-a-dia, num cI ima mais ou 
menos como os d ias de hoje. 
Em 1939 estoura a Segunda Guerra e o mundo 
80 divide. O futuro se torna uma grande nebu losa,.., 
No fim do decênio 30-40, quando Hit ler parecia 
Invenc íve l na Europa e a América se preparavã ',-. \ 
para combater, os heróis de aventura não eram mais 
Ruficientes. Contra o monstro nazista que se. 
Igígantava, a segurança coletiva e o inconsciente 
do um povo reclamavam alguma coisa a mais do 
que um hort]MO. 
E, de repente, neste cenário de conflito, apare-
110m dois jovens, Joe Shuster e Jerry Spiegel, com 
lima história e um herói diferentes de tudo aguilo / 
'Ille se havia feito em guadrinhos: uma figura de 
loupa colante no corpo, botas, capa voadora e gu~~LY" 
110 momento de neriaO~~Jl.eLPoderes P-ªU 
IIlvar a lguém. O Super-Homem estava em ação.L 
e incrfvel como se conseguiu juntar o clima de 
IlIns§o de uma guerra com um herói que levava a~\ 
111 soas para uma outra dimensão sunerirreal. 
I 11110 deu outra . Foi um sucesso! 
Quando os EUA entraram na guerra com solda- / d., e armas, os ,quadrinhos já estavam lutando ,~ 
1II IIIndo pelos ba lõezinhos divulnando suas mens<t-
IIIIIU de proe.aganda ide.o lógica. 
Nos aiÍos quarenta, a democracia americana 
'1' IIl1va-se ameaçada e, para levantar este moral, só 
111" mo superpoderes imediatos tiveram um efeito 
'!f .. 
'. 
II 
34 
... ..... . • • ft • 
Sonia M Bibe-Luy " ue e História em Quadrinhos 3S 
de impactiJ 
E os super-heróis eram exatamente isso: agiam 
para o bem das leis vigentes, em bora seus métodos 
não fossem nada legais. Tinham que matar pessoas 
a fim de preservar a paz. 
s quadrinhos até antes da entrada dos Estados 
Uni.aos na guerra, já estavam engajados numa 
posição pol ftic.a. O Principe Valente lutava contra 
o~ hunos, que, na gíria inglesa, queria dizer germa-
n ICOS. 
Dick Tracy e X-9 se voltam contra sabotadores 
até mesmo- o- Tarzan, na selva africana , luta 
cp tra orsoldaaos co loniaíSiiazistas. 
L ~as foio ~up?r-Homem mesmo a grande atração 
da epoca. Primeiro, porque deu origem às dezenas 
de super-heróis que conhecemos, como Batman, 
_ Capitão Marvel, Homem de Ferro, Hulk, Thor, 
- MJ1lher Maravilha e outr9§! 
lE, depois, com a publicação do Super-Homem é 
que os quadrinhos americanos passam a ser ed ita-
dos em revistas. E a era dos comicjJgpks. A revista 
Action Comics, que lançou esse super-herói, 
slmples'!1ente dobrou--sua circulação a partir 
dof~ ,. 
E o herol Q!.l.e..Le~ell.tQU.p-oLexç.clêllcj a oJ.dea I 
a.merl ~ano de "Ame rica for Americans" foi o 
~ue~relro Capitão América - o primeiro super-
nerOI a se declaraL P_ublicamente inimigo _dos 
\...~az l stas . Estava na cara! Ou melhor, na roupa dele: 
seu uniforme. listrado e estre lado representava a 
própria bandeira americana. Seu pior inimigo 
(a I éinCle!=tltl-er, é claro) étTIdo o que significa 
ameaça para a "democracia americana". 
O Capi tão América, depois de tanto lutar na -. 
guerra, foi, anos depois, um dos pioneiros a se 
questionar sobre a sua funçao na sociedade. Sua • 
cé leb re frase : "Talvez eu devesse lutar menos ... 
perguntar mals~des!lncadeou toda a oroblemá-
tlca existencial. d.?~ super-heróis. . ~ 
'lk:como oposlçao a este furor guerreiro, os qua- ' 
fiHnhos, n essa época. ãtinge m um ponto alto soR-
Ilspecto gráfico, com a criação de The ~Rilit.. 
(O Espírito), de Will Eisner. O que havia de dife-
I nte nesta história era a -técnica de iluminação. 
, to é, o aproveitamento ao máximo do branco e 
preto em contraste de luz e sombra e novos ângJJlos 
ti desenho, muito semelhante à técnica cinemato- ' -\-
uráfica.:.. O desenhista também inovou na abertura 
tllI história. Cada vez começava "The Spirit" com 
IIITI desenho diferente e sugestivo. 
Will Eisner marca o alto grau de sofisticação 
II cni ca conseguido pelos desenhistas norte-ameri-
I finos sem envo lver-se com problemas de cunho 
Itll 016gico, e esta tendência marca o.fim do apogeu 
tloH super-heróis. 
o que o período da Segunda Guerra nos deixou 
1111 uma boa lição de como os quadrinhos são um 
iIl'I'l lente veícul o ,para mensagens de cunho ideo-
'''lIlco. As HQ desempenharam seu e,apel na PLopa --t'b.t-
U,""lo ideológica antinaz ista . E bem fácil explicar-
36 
1 • 
iJI 
Sonia M Bibe·Lux I/fie é História em Quadrinhos 37 
por quê. Imagine um herói de quem você gosta 
muito mesmo. Com o passar do tempo, você 
estará imitando muitas de suas ações, e tudo o 
que ele disser será verdade para você. Assim é que 
as HO foram usadas, através dos heróis, para 
·transmitir o pensamento de quem comandava 
a guerra. 
No f inal do conflito ficou-se conhecendo as 
armas ideológicas dos que ganharam. Mas há pouca 
notrcia. de quadrinhos usados nas fileiras totali -
taristas. Mas eles existiram e foram utilizados para 
combater ou desmoralizar os aliados também. I 
Na Itália, Mickey Mouse, que lá se chama 
Topolino, foi substitu ído por um outro nome, 
"Tuffolino". Na França, na zona ocupada pelos 
alemães, teve-se notícia de uma revista que incluía 
quadrinhos com fortes mensagens contra os russos 
e os personagens tinham cara de fuinha e nomes 
alusivos como Orloff e Venine. 
o fim da guerra, a situação era bem ruim para 
os quadrinhos. Havia falta de papel, as histórias 
foram bastante reduzidas e, graficamente, fica ram 
bastante pobres. O conteúdo também sofreu 
mu ito. Era difícil mostrar otimismo depois que 
milhõ_es de pessoas de todos os países foram 
or.tas} . 
Começou-se uma campanha contra as HO. 
Muitos artigos e livros apregoavam que os qua-
drinhos eram maléficos para as crianças e que eram 
os culpados pela deli nqüência juvenil. O mais 
fa moso foi o livro A Sedução dos Inocentes, de 
Frederic Wertham. At ravés de uma se leção parcia l, 
procurava ele demonstrar que os responsáve is por 
todos os males do mundo eram os quadrinhos. 
Chegava a absurdos como o ·exemplo da moça que 
virou prostituta porque lia HO., 
Os ecos dessa campanha con t ra os quadrinhos 
ohegaram ao Brasil no começo dos anos 50 e, como ).r 
IlIntas outrascoisas, importaram-se os falsos 
t10nceitos moralistas. Muitos professores e pais, 
IlIfluenciados por essas idéias, começaram a proibir 
que as crianças lessem quadrinhos. Até hoje, 
IIluita gente ainda insiste em considerar as HO 
I mo nocivas e subproduto de cultura. 
Mas áinda bem que na Europa, lá pelos inícios 
dos a~os 60, alguns intelectuais franceses . e ~talia -
110 devolveram o bom conceito que os quadrinhos 
.lImpre tiveram. Foi o in icio dos estudos de Comu-
IIIt1oç§o de MasSã.. nos_quais ~passava a anall s'!:g--V 
11 f nômeno quadri nhos como um dos melhores 
1IIIIIos de informação e de formação de conceitos. 
I 1111 visão mais científica e imparcial foi logo 
1III Iorporada pe los americanos, e, desta maneira, 
rlll possível fazer-se uma reaval iação crítica e 
• 1111 trutiva de tudo o que se tinha produzido 
.111 hlrlórmente 
Multas calieças rolaram. Isto é, muitos heróis 
.hllll [l receram das tiras e das \listas. Outros 
li. IIlIm e muitos novos surgiram...Q que mudou, 
,,"I.lm, foi a conscientização dos autores, que não 
· 
38 
" 
I 
Sonia M. lJlt'e-L,uYI<II1C é História em Quadrinhos 
mais procuravam divertir por divertir mas, Sim, 
usar os quadrinhos para que servissem d,,-e..':!!.~@.:.., 1 
deiro mecanismo de veicu lação de idéias, Isso, 
geralmente, era feito de forma indireta ou imp l ícita, 
os resu Itados estão a í ate oJe e- m 
comprovados por vocês mesn~~tvejamos adi ==--.I 
A reconstrução 
"Levanta, sacode a poeira e dá volta por cima" . , , 
Isso é letra de samba mas, acredito, se alguns 
desenhistasam'ericanos morassem no Brasil , teriam 
usado essa frase para reconstruir a imagem negativa 
dos quad rinhos a partir do fim dos anos 40, 
Também não era para menos, Fim de guerra, o 
mundo destru ído,. sem muita - esperança! No 
entanto, no meio daquele cenário sombrio surgi u 
uma hi stória em quadrinhos Iflue veio modificar 
conteúdo das HQ americanas , Pago , de Walt Kelly, 
" nt go desenhista dos estúdiõs Disney, começa a 
abOrdar temas soc iais e 01 íticos de süa""'poca, 
Através de personagens an imais com cara de gente, 
as histórias seguiram por um rumo diferente da 
aventura e passaram a enfocar um 
ma is pensa~ 
No Brasl , Pago não teve mu ita repercussão . 
Não porque ficasse devendo aos grandes m"stl'es '. 
dos quadrinhos. Ao contrário
' 
W, Kelly era um 
;$~ ~I ~ t 
..Q' ~ l~~ 
!l1 1:.2 ~~ is 
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39 
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, I 
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40 Sonia M Bibe·Lu lI/c é História em Quadrinhos 
grande conhecedor de sua I íngua e brincava com o 
idioma inglês, inventando novas palavras a partir 
da junção de duas outras para . dar nomes aos 
personagens. E coitados dos tradutores para 
encontrar sinônimos à altura. 
Mas Walt Kelly encontra uma alma gêmea: 
Charles Schulz, que conseguiu revolucionar os 
quadrinhos dos anos 50 com uma história aparen-
..-')7te"mente inocente: Peanuts IMinduim ou Turma 
de Cfiar ie Brown em ortuguês). 
Seus personagens são muito conhecidos no 
Brasil: o próprio Charlie Brown, seu cãozinho 
Snoopy, LucYL a menina manaona do grupo e 
toda a turminha de crianças que falam e ques-
tionam- o mundo melhor do ue mu ito adurto. 
, Aliás, é isso que mais choca nos Peanuts. São as 
crian as que pensam e refletem sobre .o mundo, 
analisando psico oglcamen e a umanidade. O 
próprio autor, que é pastor protestante, fez muita 
gente passar a reacreditar na humanidade através 
dos balõezinhos de seus personagens mirins. 
O momento era propício para que este tipo de 
estória tomasse conta dos quadrinhos iniciados por 
Pago e Peanuts . A década de 50 ficou conhecida 
pela fase do quadrinho pensante e intelectual. 
As histórias não somente se modificaram no 
conteúdo mas vestiram roupa nova também. 
Se lembrarmos dós desenhos de aventura que 
fizeram época nos anos 30, do tipo Tarzan e 
Flash Gordon, dá pãra perceber os cenários glo-
rlosos e exuberantes . Cada quadrinho era uma 
vordadeira obra de arte onde a forma e o conteudo 
o completavam. 
Com os quadrinhos pensantes, o peso maior foi 
dodo ao conteúdo dos balõezinhos, isto é, a mensa-
11 m se destacava dos cenários simpl~iJ E: como SE 
lIlores representassem num teatro apenas com ur" 
IlI nd o branco no palco . 
Nesta linha, como sucessores doPeanuts, surgiram 
hl tóri as incríveis como Eeiffer, de Jules Feiffer, 
linde entra em cena o primeiro anti-herói dos 
quadrinhos. O autor consegue dar um clima mu ito 
IlI nso onde seus personagens transmitem fossa, 
111 ogurança e uma comunicação impossível de 
Id6las. Porém, através de cenários teatrais, os 
'illlldrinhos sã um bom exem lo de unidade 
"NlóticJL eles transmitem o estado . de espírito 
do , seu criador e revelam muito bem o clima 
dll anos 50. 
Dentro deste espírito, mas criado alguns anos 
111 111 tarde, Mata/da, de Quino, na Argentina, é 
li lll grito vindo da América Latina contra o mundo 
IlI lInbardeado de tanta maldade. Quino utl Iza 
hllll bém crianças para explicar o universo. Mas 
'" 111 a habilidade de transmitir tudo isso sob os 
" lh os da América subdesenvolvida. Seus persona-
Il'li l rep resentam a composição do povo argentino : 
Mll lnlda, a menina politi zada que dá lições de 
'li lologia e política para seus pais . Manolito, filho 
In 11 m merceeiro de origem espanhola, asp ira, 
41 
ri 
42 
Sonia M Bibe·Luy ,, ~tI História em Quadrinhos 
como imigrante, a ser muito rico e proprietário de 
uma caOeiããe Supérl"ITeTCaaos. Suzanita simboliza-
a mu lher que apenas quer casar·se mUito bem 
e ter fir ~ 
. -
Para certas pessoas, quando se fala em Mafa/da, 
vem automaticamente uma comparação com 
Charlie Brown. Porém, uma grande diferença 
ex iste entre ambos e suas visões de mundo. Charlie 
rsrown pertence a uma sociedade rica, a norte. 
ãmericana, e Malfada, ao mundo subdesenvolvido 
e, portanto, com pro lemas que nos tocam mais 
I ~p'erto. 
--18inda reagindo contra o realismo dos anos 40 
seguindo o novo estilo caricatura I - onde se torna 
importante o traço deCisivõ -, ohnny Hart cria 
S.C. (Before Christ), em português A.C. (Antes 
de Cristo). Situados num mundo pré.fíistór ico, 
onde os animais também falam, seus personagens 
não refletem o contexto em que vivem mas reagem 
e d iscutem problemas do nosso temp~ 
Uma história em quadrinhos do in rcio da década 
que não segue as novas diretrizes propostas é 
Pimentinha . Volta a linha de histórias de crianças e;;aiã5rada~, predominantes na década_ d_e...2.Q, e 
q!!: vem reforçar a imagem irresponsável e fe liz 
da classe média norte-americana. 
tQ conjunto de histórias dos anos 50 faz renascer 
as HQ americanas, que esta v m tão desacreditadas 
no final da Segunda Guerra. Mas, no resto do 
mundo, houve também uma reação positiva culmi. 
II Indo com uma consideráve l produção de cunho 
111 1 rnacional. 
Na França, a dup la R. Gosciny e A. Uderzo 
I II m Asterix , um gaulês ba ix inhoL inteligente e 
,11i gre que vive numat:Jnica aldeia resistente-;à 
I Il l1 quista romana. Apesar de Astenx ser o herol 
I li Il1cipal , ele .Jlli!!icamen.tELOão_sobr-evive- sem-seu 
III lle companhei o .... .O.be lix . E o ressurgimento da 
1I ola de Bruxelas, iniciada com Tin tin , de Hergé. 
1\ maio r inovação de Asterix está nos diálogos, 
' 11 111 jogos de alavras e caracteres gráficos que 
" primem determinada língua estran eira falada 
I ,,,I!ls personagens-,- . 
Nas histórias de Astenx, os gauleses sempre 
I 111 vitoriosos, e o folclore é mostrado cor!) u.<:!2 
111'11 de humor mul to particular: através do qual 
li loltor médio francês se Identifica com os feitos 
"" h ró i. Aliás, o segredo do sucesso de Asterix é 
Illiples: as histórias base iam·se nos estereótipos 
' 1111 todos os povos fazem de si mesmos e dos 
111 11 " 'S. Lá' vãoalguns exemplos: a fleuma dos 
111 11 nlcos, o temperamento fogoso dos espanhóis, 
I ",~I~tência , a teimosia e o apego às tradições dos 
111I 1C:OS9S. Gosciny morreu em 1977 e a ú ltima 
IV' IIllIra do gaulês foi "Asterix entre os belgas". 
IltI", tO tenta continuar com a série, mas com 
1111 II l1r sucesso. 
1'lIbll cados em álbuns e traduzidos para muitos 
" '11011 15 a aldeia gau lesa e a turma de Asterix 
, - -
'h " li" tao populares na França que sao pratica· 
43 
, I 
44 Sonia M Bibe.Lu II~ Ó lfistória em Quadrinhos 45 
mente o simbolo dos quadrinhos .franceses . E os 
romanos que se cuidem com a poção mágica 
(simbo lo da superioridade ga ttl.\tsa)! 
.Sem ,deixar a peteca cair, lo faroeste americano 
fOI satirizado pela produçãõ franco·belga com 
Lucky Luke, De autoria de Morris e Gosc in'Y! 
r~aptou uma parcela do público jovem europeu: 
L!,.ucky Luke é um anti·co.L1{boy acompanhado de 
seu fieI cã? Ran Tan Pia0.! (qualquer semelhança 
com Rm Tm Tm é mera co incidê~ia) e os eternos 
antiinimigos, ?s Irmãos Dalton, LE um herói soli. 
tárlo, uma parodia dos personagens lio llywood ianos, 
que sabe dosar com espirito humoristico o mito 
e( .J:ea lida?e do oeste americao 
Nessa epoca, houve também uma série de 
histórias que retratam o enfado e a monoton~ 
Neste aspecto, os mgleses tomam a dianteli'ã: 
Personagens como Bristow e, sobretudo, Andy 
Capp, se tornaram a dei icia do lazer dos burocratas, 
Falando giria londrina, Andy Capp ou o Zé do 
Boné, de _ Reg Smyth, mostra com perfeição àS 
crises de desemprego ~ quebra de valores. Andy 
Capp .é preguiçoso, dn lco e briguento, mas apanha 
d: Fio, sll.a_mulher que o sustenta. Dá tudo para 
nao trabalhar e, quando não joga futebol ou 
bilhar, cUida de seus pombos e bebe com os amigos 
(ou amigas) no bar. 
Quando eu traduzia as ti ras do Zé do Boné para 
o Jornal da Tarde, em São Paulo, recebia muitas 
cartas de fãs do irrequieto personagem. Muitos se 
Idontificavam com a sua maneira de ser. Pensavam 
I/lÓ que era brasileiro! A única diferença é que ' 
I do Boné, mesmo não trabalhando, sempre 
" ,cobia uma ajuda·desemprego do governo inglês, 
Ilulaa que até hoje não se cogitou para os desem· 
111 gados brasileiros, 
Para os que trabalham em repartições públicas 
111 1 em escritórios empoeirados, há uma estória 
qll se tornou clássica no gênero: Bristow, de 
Il onk Dikens, que sintetiza todos os lances de uma 
IlItlna de tr~~alho através da figura patética de seu 
I" rsonagem.\..E Bristow, com um incurável otim is-
1110, procura fazer o melhor possivel de uma vida 
IIIon6tona, numa caricatura da sociedade mOder~J 
Entretanto, a grande reviravolta dos quadri ril'ios 
111 u·se em 1952, com o surgimento de um movi-
1111 nto que modificou commm.mente o estilo de 
Il llmor nos Estados Unidos. Estou falando da 
11 vista Mad, que, liderada por Harvey Kurtzman 
Ilomeçou a satirizar tudo que encontrava pela ' 
111 nte: filmes famosos, _program~ de TV e até 
1I10smo as próprias istóriaLe1D-quadrinhos. 
Através de jogos de palavras e a reconstituição 
;In tipos, não escapou ninguém. Só para terem uma 
11I,lla: Walt Disney foi travestido em Walt Dizzy 
( Ionto) , Princi e Va lente em Principe Violento e 
11 pr6prio Flash Gordon virQu Flesh Garden lí!L.. 
111m da Carne). Uma personagem bastante reacio-
lI ~rla dos anos 30, Littl e Orphan Annie, se traos-
IlIrma numa espetacular loura sexy, Little Annie 
46 
Sonia M Bibe·Lu) 'I''" é História em Quadrinhos 
Fanny, que só tem corpo, mas a cabeça é vaz ia 
de idéias. 
A Mad de ixou como legado uma série de outras 
do mesmo gênero, satirizando tudo e todos . Em 
outros países, como a França, a revista Hara.Kiri 
representou a mais importaClte tendência intelectual 
em moldes homorísticos. Bem posteriormente, no 
Brasi l, as revistas Crazy, Pancada, P/op, K/ik e 
Gripho, em que se destacam as colaborações de 
José Alberto Lovetro (JAL), traduziram o humor 
nilciona l daJru:truLbaslantej rneUgente, também I I 
Normalmente, quando se pensa nos anos 50, 
imediatamente vem a lembrança dos quadrinhos 
pensantes, dentro da linha psicológica e metafísica. 
Tudo berTI.'" l'IJo entanto, eu acredito que através"da 
sátira e do humor, tão bem representados pela 
revista Mad e outras semel hantes, é que se deu a 
I grande vá lvula de escape para o ranço provocado 
L. p~ guerra fria. 
.~riso, o escárnio, a gozação e a ironia bem 
dosados cumpriram também sua função de recons-
trução e do renascer de um mundo ainda embara-
çado nos resultados da Segunda . Guerra Como 
sempre, o espetácu lo tem que continuar~ 
A vanguarda 
1\ vanguarda feminina 
Dizem que as mulheres dos quadrinhos nos 
IIIIOS 60 puseram "as manguinhas pra fora". Eu 
dir ia que, na verdade, puseram muito ma is do que 
lu o. Cansadas de tanto aparecerem em seg~ndo 
plIlM, as mulher~pro,ta.gonistas do novo quadrlnh? 
" I) O s ímbolo da vitOria e~iill.ça do sexo feml-
111 11 0 sobre os homens. 
Desde a condenação dos quadrinhos, proc lama-
dll no início dos anos .50 como responsáveis pela 
di uradação fisio lóg ica do ser humano, l1}~ i ta água 
Inlo u. A distância de alguns anos,. onde~l,berdade 
dll ex pressão foi um fato adquirido, fez com que 
1/ 1 rot ismo reencontrasse seu devido lugar. 
8arbarella foi o carro-chefe das hera nas eróticas . 
Orlada em 1962 pelo francês Jean-C laude Forest, 
1111) misto de Mul her Maravilha e Little Annle 
I lInny, foi publicada na revista V-Magazine: Com 
IllIrba rella os franceses conheceram sua primeira 
II Q para adu ltos. 
Em 68 foi levada às telas com direção de Roger 
Vodin e J ane Fonda no papel pr incipal. Bem 
li lr rente das hera ínas submissas dos anos 30, 
I'omo Da le Arden (f lash Gordon), Jane (Tarzã) e 
Nnrda (Mandrake) .lBarbare lla queria mais é t irar 
IIl ovolto dos homens para as fi na l idades que 
47 
o,' ; , 48 Sania M. Bibe-Luyten 
ela comandav; 1 
A sua posIÇão é um reflexo da própria evolução 
da -mulher na sociedade moderna . Dentro do estilo 
ficção científica, Barbarella transita pelo espaço, 
ama a aventura, devora tudo que encontra pela 
frente, buscando sempre novas emoções. 
O sinal ficou verde e {0, trânsito livre para tantas 
outras almas gêmeas. Apareceu Valen tina , de 
Guido Crepax, heroína freudiana que se li berta dos 
problemas cotidianos através do mundo de son hos. 
Va lentina é enigmática, bela, sensua l mas de 
dif(cil leitura, pois leva ao extremo a linguagem 
cinematográfica nos quadrinhos. 
Ainda na Europa, Guy Peellae rt criou duas 
beroínas inspiradas nas musas da música francesa: ~del/e, a partir de Sylvie Vartan,. e Pravda, de 
Françoise Hardy. As duas hero ínas Introduziram a 
pop art nos quadriohos, misturando cenas míticas 
. com liberação sexuaU E surge Paulette no pedaço, 
uma heroína desbravada, com se ios enormes, 
uma criação genial da dupla Wolinsky e Plchard . \.!.. os franceses não pararam mais de produz ir 
belas mulheres : de Gigi e Moliterni surge Scarlet 
Dream, e da pena de Nicolas Devil, Saga de Xam, 
que, apesar da aparência violenta, é uma grande 
mensagem de amor e p.iZ1 
E a Itália não fica nada devendo à França em 
produção. À partir da revista Diabolik em 63, surge 
o moment~have de difusão de hero ínas. Juntam-
se a linha francesa e a italiana e o resu ltado foi 
o que é História em Quadrinhos 
I 
uma legião de mulheres belas, eróticas, como: 
Satanik, Isabel/a, Messalina, Jungla, Justine, 
, Walal/a, Odina, Lucifera e daí por diante. Essas 
heroínas representaram um momento da liberação 
sexual italiana, tornando-se assim, juntamente com 
os franceses, o símbolo dos quadrinhos adultos 
dos anos 6Ql 
Esta Influência conseguiu, também, furar o 
bloqueio dos pa íses comunistas, e uma mulher 
'enorme, grotesca, com uma estrela vermelha na 
testa e os seios à mostra, rasga a cortina de ferro 
parase tornar heroína única dos quadrinhos 
soviéticos (clandestinamente, é claro). 
O fato é singular mas Oktvabrina ou Octobriana 
' representa o verdadeiro espírito da Revolução de 
Outubro de 1917. Quem a criou foi um grupo de 
estudantes 'da_ Unille,rs idade de Shenshensko, em 
Kiev. Ela transita livremente no tempo e no espaço, 
mas está pronta a combater a opressão dos velhos 
regimes coloniais e a burocracia soviética con-
temporânea. 
Na distan te Ãfrica, em Moçambique, a mulher 
também conquista seu espaço, ap6s 1975, o ano 
da libertação, depois de cinco séculos de colonia-
lismo português. Seu nome é Xiconhoca. Ela é. 
revolucionária e líder dos idea is da FRELlMO 
(Fre nte de libertação de Moçambique).- Apesar 
de Xiconhoca ter sido criada nos anos 70 e não 
pertencer à linha erótica, seu autor coloca a mulher 
em primeiro plano na conquista de seus direitos. 
49 
r 50 Sonia M. Bibe-Luyten 
'i:.,. [Na verdade, as heroínas dos anos 60 , usa ndo o 
erotismo como escudo e os movimentos femin istas 
como arma, retratam bem os anseios de uma 
emancipação socia l, econômica e sexua l1 
Abaixo a ordem. Viva o underground! 
A grande difusão das HO americanas teve como 
base a organização eficiente dos svndicates. Mas, 
para que isso fosse possível, as histôrias preci-
savam ter certas regras para Q..ue pudessem e possam 
ser li das no mu ndo inteirol M ui to ligada à histó ria 
dessa difusão, está uma c~'nsura caminhando ao 
lado e tornando, assim, as HO de consumo muito 
"pasteurizadas". Isso significou uma espéc ie de 
censura a temas, imagens e texto. E: muito comum 
L-- ver nas HO certos sinais gráficos como cobras, 
lagartixas e caveiras, significando um palavrão 
não dito ou censurado. 
Nesta trajetória, a um certo momento, .lIDl 
grupo de estudantes da Ca lifórnia, liderado p_OJ:. 
obert Crumb, resolve quebrar certos tabus 
nos_quadrinhos. 
"\JLclima era propício . O mov imento underground 
dos anos 60 alastrava-se para todas as moda lidades 
art(sticas. Na verdade, é difícil definir o que foi 
/ o underground, po is pretendeu revol uc ionar todo 
o sistema vigente, o establishment, isto é, a ordem 
estabe lecida. O líder deste movimento foi Nervil le, 
que propunha uma so lução tendo como origem as 
o que é História em Quadrinhos 51 
. , 
, 
'./1 1 6 ,. , . 
, 
I ~ , 
52 Sonia M Bibe·Luyten 
comunas rurais e a mudança da concepção de 
família, peça·base da organização de uma socie· . 
dade. Isto provocou umª espécie de contracultura, 
uma cultura marginalizacJ!J 
Robert Crumb, vivendo e participando da 
juventude underground contestadora, cria um 
personagem que fez mudar os rumos da HQ: 
'Fritz the Cato Criado em 1967, é um gato estu· 
dante, contestador, poeta, revolucionário, român-
tico, terroriswe drogado. 10 caçador também. 
Mas não de ratos e, sim, de gatinhas, participando 
. de orgias e fUQindo semore da ,,-ºI ícia, 
- l\IIãis tarde, o mesmo Robert Crumb cria outros 
personagens. Mr. Natural, um baixinho careca 
de longas barbas brancas, ex-motorista de táx i 
do Afegan istão que resolve viver nos EUA. Ele 
prega a desobediência socia l, mas depois foge 
para as florestas e va i viver como erm itão. Apesar 
de velho, gosta de moças bonitas e apetitosas. 
Mas, no fundo, transmite uma !lfande fossa, pois, 
sempre que pode, deixa transpare1er que há poucas 
esperanças no mundo. 
Esses dois personagens foram editados na revista 
n' fundada pelo próprio Crumb. Com tudo isso as HQ sofreram grandes mu· anças. Os quadrinhos, no meio de toda essa 
contestação, ficaram livres dos modelos impostos 
pelos syndicates. O pa lavrão é dito mesmo, não 
há censura para as orgias e o desenho é mais 
livre. Além disso, não há regras para publicação. 
o que é História em Quadrinhos 
A reprodução passou a ser permitida sem problemas 
de direitos autorais. O sistema de vendas e distr i-
buição era feito "de mão em mão" nas portas 
dos teatros, nos jardins, nos bares, enfim, tudo 
ao contrário do sistema "certinho". 
O sucesso foi grande l Mas, de marginal que era, l 
foi engolido pelo sistem"ãj Surgiram revi~tas e " 
personagens semelhantes aos de Crumb. rF:oram 
industrializ~os, formando·se até uma ~itora 
undergroundl Seu criador, vendo tudo isso aconte· 
~ 
cer, abandona o mundo civilizado e vai criar cabras . 
O movimento underground nos uadrinhos, 
porém, rodou o mundo. No Brasil, Fritz the Cat 
e -Mr. Natural fiçaram conhecidos atrãVes da. 
revista Grilo, nos anos 70. E influenciou bastante 
o · uadrinhos marginais brasileiros. 
Foi uma etapa importante como forma de 
prCrtestar num período de bastante agi tação socialt 
Em 65, o Vietn1í. era cenário de guerra e as ãu~ 
potências do mundo, Estados Unidos e União 
Soviética, gastaram milhões em armamentos e 
a juventude teve que ir à luta. 
E os que ficaram ou vol tavam mutilados, berra· 
vam ao mundo "Paz e Amor". Os univerSitários 
pariSienses, na primavera de 68, se revoltam contra 
os sistemas arcaicos. Muito tumulto, agressão. Nos 
Estados Unidos, em Berckeley, Califórnia, apare· 
ciam os sneaks - jovens que t1ªEam a roupa em 
público em sinal de protesto. E os quadrinhos 
dessa época refletiram bem o clima de insegurança 
53 
( 54 
I 
I' 
I ' 
Sonia M Bibe-Luy tell 
e ~ forma de protesto foi pôr abaixo tudo aquilo 
que incomodava o2.jovens. JI:1em da Zap de Crumb, 
surgem Snappy Sammy 2 moot, do guerrilheiro 
revolucionário SkiQ Willi amson (1968) e Trashman, 
de Spain. RodrLgu@ 
Os temas abordados pelas revistas underground 
tinham em comum as comunidades marai!lais, a 
sexualidade, os hippies, a violência, a droga e a 
ecologia, dentro de um estilo realista e caricatural.. 
Os quadrinhos underground inspiraram-se em 
algumas histórias sadomasoquistas dos anos 40 e 50 
e também parodiavam os personagens da idade de 
ouro (anos 30), co locando os heróis como Tarzã e 
Flash Gordon numa intensa atividade sexual. 
Mao Tsé-tung ataca de quadrinhos 
Nessa mesma época, porém, do outro lado do 
mundo, os quadrinhos estavam servindo para 
propósitos bem diferentes. Se a gente se transportar 
para a China, nos anos 60, a cabeça vai ter que se 
reciclar para compreender o que estava aconte-
cendo lá e o que as histórias em quadrinhos desem-
penharam nesse pa(s. 
Nunca é demais recordar que os comunistas, ao 
conquistar o Qoder na China em 1949, já de cara 
desenvolve.!:am _uma grodução de quadrinhos como 
instrumento de educação e formação ideológica. 
Ficaram célebres os "Quadrinhos de Mao", onde 
gradualmente foi inserido o pensamento de Mao 
o que é His tória em Quadrinhos 55 
Tsé-tung. Jmpressos e distribuídos somente na /AL-b~ 
Ch in a, o Ocidente praticamente nãQJ.oro.ou..coQbeLX 
.Qmen!o_dessa...pGaer-eSil-ar-ff\a-i€leelég i€a~omente 
após 71, quando alguns intelectuais franceses e 
italianos como Chesceaux, Nebiolo e Umberto 
Eco p ublicaram um livro - I fumetti di Mao-, é 
que o bloqueio foi fu rado . c 
Nos anos 60, os mao(stas, .para reforçar a imagerTL 
do seu I (der (que estava perdendo terreno), fazem 
a "Revolução Cu lt ural" numa tentativa de trans-
formar o curso da po l ítica chinesa. 
Aí é que entram os quadrinhos - um ve ículo de -
fácil le itura e ca~ã - para cumprir uma função 
peaagógl~ Na verdade, é o texto que teiTl umar?" 
importância Ql:imordiãl. A figura adquire uma 
função de suporte para atrair a atenção do lêTtor. :...... 
Portanto, os quadrinhos de Mao refletem, na 
(iécada de 60, as contradições pol (ticas da China,~ 
no momento de rompimento com a União Soviét ica 
e em que se desemboca na Revolução Cultural.-
Seu grafismo revela dois estilos bastante diferentes: 
a natureza é pintada de forma tradicional, mas as 
figuras humanas são bem real istas. Com um acrés-
cimo: os maus e os tra idores dª-pátria são awes.e.o-
tados de forma caricatu[al~_____ 
~os ·Estados- Unidos, além do movimento 
un"derground há grande efervecência na produção 
dos novos super·heróiS":' 
~ Stan L",e é a gran e estrela entre os desenhistas 
americanos. São de sua criação numerosos ~uper-
I 
rrr 
56 
., 
I 
L' 
Sonia M Bibe·Luyten 
heróis, mas não do tipo tradicional. Apesar de a 
vestime ta ter muito em comum com os da década 
de 40, uas personal idades parecem ser mais 
normais, isto é, amam, odeiam, têm seus defei· 
~ 
tiflOos, etc 
Com Steve Ditko, Stan Lee criou O Homem· 
Aranha e Doctor Strange. E com Jack Kirby, os 
famosos Fantastic Four, grupo composto por 
quatro super·heróis: O Homem Elástico, A Mulher 
Invis/vel, a Tocha Humana e O Coi~ 
Hulk, o incr(vel Hulk, saiu da incrível pena de 
Stan Lee, e os anos 60 deram às HO o primeiro 
super·herói negro: 81ack Panther, que mudou O 
nome para 81ack Leopard para não se ligar ao 
movimento extremista com a mesma den om inação. 
Já na Europa, a França ataca os quadrinhos com ' 
a famosa revista Hara·Kiri, onde permitiu que 
mu itos desenhistas novos mostr~ssem seu talento 
e, em seguida, surge 8.-. famosa\ Pilote, estinada 
ao público adulto das H..9J 
E a Itália publica a revista Linus, introduzi 'ldo as 
novas tendências estéticas da década de 60, camo 
por exemplo Valentina, de _ o CrepaXl. 
-
. O que mudou nos anos 70 e 80 
Temas misturados com ficção científica, canções 
de cavaleiros mais a feitiçar ia medieval consti· 
o que e His/ória em Quadrinhos 
tu íram·se num gênero denominado fantasia heróica. 
Nos Estados Unidos, os quadrinhos mais.conhecidos 
com este assunto foram 8lackmark, um cavaleiro 
do mundo do pós·guerra atômica, onde a sociedade 
vo lta a ser primitiva. Além de Annikki, de Mike 
Rogers, uma hero (na bárbara, diferente ffifs eróticas 
do período anterior. 
A série Cinco Qor Infioirus.r de Esteban Maroto, 
também dentro do gênero fantasia heróica, ficou 
conhecida pelo público brasileiro através da Edição 
Monumenta l da EBAL, onde o desenho é primo· 
roso e muito bem elaborado. 
57 
Com um nome estranho e belo ao mesm"O" 
tempo, a França dá um grande passo na va nguarda 
dos quadrinhos em termos ed itoriais. Precisamente 
no dia 19 de dezembro de 1974, nascia a Editora '/ V 
Os Humanóides Associados, cuja grande atração e-
foi a revista Métal Hurlant. Seus fundadores, 
Druillet, Grot, Dionnet e Farka's, deram um passo 
gigantesco no mercado de quadrinhos, abrindo 
espaço para um novo pÚblicÕl 
Muitos desenh istas famusos entraram para as 
páginas de Métal Hurlant. Druillet, já conheci· 
díssimo através das aventuras de Lone Sloane, cria 
um novo t ipo de anti·herói: Vuzz, um personaqem 
mi'steríoso VInSlO de algum planeta perdido da .~ 
galáxia. ' 
Sob o pseudônimo de Moebius, o francês Jean 
Giraud não fica atrás e seiiTlpõe como um dos 
~ 
maiores expoentes da criação de histórias fasci· 
'tif 
S8 . Sonia M. Bibe·Luyten 
nantes. E o Brasil perdeu Sérgio Macedo, que 
ficou muito mãis ...konhecido no mundo pelas 
páginas do Métal Hurlant do .que em nosso pa ís. , 
, O editor da revista americana National Lampoon 
gostou tanto do estilo desses quadrinhos que quis 
publicar algumas histórias da Métal Hurlant. E em 
abril de 77, edita Heavy Metal nos Estados Unidos . 
No entanto, ao invés de comprar todo o material 
francês, inseriu histórias locais mais compatfveis 
If com o gosto americano. Com um acréscimo de 
material da Espanha e da Itália, também . Inclusive, 
l~' o desenho animado Universo em Fantasia, uma seleção de quadrinhos da Heavy Metal, foi todo 
:1 
feito com material americano. 
A produção dos anos 80 na América do Norte if es.tá voltadi;l Rara as minisséries,Jepresentando uma 
/ G:ra fase das HQ. O formato é de gibi, Rorém, a~ 
istórias são mais bem elaboradas. A capa e o 
I j papel interno são de melhor qualidade e existe 
III toda uma reformulação da narrativa com a intra· 
1 
~?ãO de novos personagens. . 
\ As minisséries lembram ~ouco as aotiga.§. 
j novelas e~rtuJ.os~~cada_uma de las contém de 6 a 12 números com hlstb rias completas . . 
I Na apresentação gráfica há influência do estilo 
do desenhista Will Eisner .tO ESDrrito, da década 
111 de 49, lem6ram·senllOjogo de luz, e a linguagem . 
cinematográfica aRarece a tooo vapor. E um 
. 
detalhe: o Ocidente vai buscar inspiração nas HQ 
Japonesas tanto em conteúdo como no e,st ilo, ~l I-- . 
-
o que é História em Quadrinhos 
1 
. 
, 
E neste intercâmbio quem está ganhando e o 
leitor da nossa década. 
i: muito difícil falar do momento histórico 
que se vive. Quem são os novos heróis, qual 
em 
a 
os preferência do público, que rumo vão tomar 
quadrinhos daqui para a frente? 
Vamos viver nosso tempo e saborear as pági 
dos gibis de maneira intensa, poi s elas passa 
nas 
rão 
para a história dentro de alguns anos. 
E, enquanto os heróis e heroínas cavalgam p elo 
na 
da, 
espaço em busca de novas aventuras, a vida 
Terra continua, mas eles serv irão, sem dúvi 
para novos temas de quadrinhos . 
e o mundo acabasse, tudo fosse destru íd 
somente sobrassem as revistas de histórias 
quadrinhos, algum ser extraterreno (se consegui 
o e 
em 
sse 
er, 
em 
decifrar a escrita de nosso planeta ) pode ria t 
com certeza, uma idéia adequada do mundo 
que, outrora , vive mos. 
. 
•• 
•• •• 
S9 
'r 
• 
ALONGA LUTA 
DOS QUADRINHOS BRASILEIROS 
Você, leitor, naturalmente não nasceu em 1929 
nem pôde acompanhar a criação de um personagem 
americano nessa época. Por outro lado, deve 
conhecer, com certeza, quem é o herói Mickey 
Mouse, de Walt Disney. Até hoje, ao longo desses 
anos todos, o pequeno camundongo ainda está 
perambulando pelo mundo, as páginas das revistas 
de HO ou em comercia is de algum produto. 
Por uma série de razões, o rat inho Mickey ficou 
famoso em seu país de origem e, depois, no mundo 
todo. E, assim, tantos outros heróis ou heroínas 
americanos, franceses ou italianos, formando um 
conjunto de produção de quadrinhos em seus 
respectivos países. 
E do Brasil, você, de imediato, seria capaz de 
nomear cinco ou dez heróis de HO, desde o in (cio 
o que é Históna em Quadrinhos 
deste século, com ampla repercussão ri,acional ou 
internacional? Talvez sim. Talvez não. E ' muito 
mais para não do que para sim , não é verdade? 
E por que será que certos pa íses conseguiram não 
só criar heróis nacionais que continuam vivos 
(publicados) até hoje, como também fazê-los 
cr iar fama no mundo inteiro? 
61 
Como já vimos, há os esquemas de divulgação e 
de sustento de um personagem. Mas é preciso que 
ele seja criado e que viva o suficiente para consta-
tar-se se agrada ou não. Um bom exemplo para 
isso é Maurício de Souza . Após anos de lu tª.....ele 
conseguiu- impor os seus gersona ens e, hoje....em 
dia, suas revístas vendem mais do que as do mUl:II:!a-, 
Disney no Brasil. No entanto, o personagem que 
vem tomando vu lto nos últimos tempos LQ Cbico. -
Bento, justamente o que mel hor representa o 
brasileiro de nossos dias com seu sonhos nostálgico 
volta ao interioL 
Um caso bem diferente do Brasil, por exemplo, 
é a Argentina que, no resto, é igual a nós no que 
se refere à infl'uência estrangeira em todos os 
ângulos. No entanto, seus desenhistas e respectivos 
personagens são mundialmente famosos e expor-
tados para uma série de países, como a Maf,alda, o 
Patoruzú e o Isidoro, a lém de muitos outr~ 
Como é que pôde acontecer isso bem ao nosso 
lado? Bem, vo ltando alguns anos, na época de 
Perón e Evita,- houve pura e simplesmente uma 
proibição de se editar Quadrinhos estrangeiros na 
r~J 
62 Sonia M. Bibe-Luyten 
Argentina . Esta situação durou alguns anos. Tempo 
sufic iente para que os desenhistas argentinos se----
" organ izassem em uma poderosa escola cU Jos 
" resu ltados são sentidos ainda hoje. I , 
Atualmente, no Brasil, é difícil proibir-se qua l-
I quer COisa, ma is ainda cortar uma influência ali enigena tão arraigada no pa is. Por outro lado, 
porém, poderiam pelo menos dar um m ínimo de 
Q ondições de sobrevivência a nossos desen h istas. 
Uma dessas possibilidades é uma regulamentação 
da produção nacional por lei, de que falare i adia r1tê.l 
. ~ Até o momento, todas as nossas produções Cle' 
HQ, com exceção de Maur ício de Souza, não 
I : perduraram no tempo. Mu itos art istas de primeira 
I grandeza não puderam ser apreciados devi damen te 
pelo púb lico a quem desejavam oferecer o seu 
trabalho. Já houve diversos artistas que, não 
I obtendo o devido reconhecimento aqUi, foram 
I!' para outros paises, onde foram recebidos de braços 
I' abertos. Um desses exemplos é Sérgio Macedo, que, 
, no inic io dos anos 70, fQi..,:;Jara a França e lá 
passou a publi car seus traba lhos numa das revistas 
I mais importantes do momento, a Métal H tgkint. 
Iô importante sabermos como se deua evolução 
da HO nac l~ se~esen nistas e Rersonagens 
principa is nor dois ~ntivos : um deles, Rara ava liar 
a prQdução at ua l e suas tendências . A outra ,_ta.l1l8z. 
a ma)s importante : para tomarmos co~iência da 
própria cu ltura brasil eira gue nela se ref lete ._ 
I I Um povo que tive r' consc iência de suJLb istória, 
J 
• 
\ 
O que é História em Quadrinhos 63 
suas ra izes, se ja em que campo for: literatu ra,_ 
to. ci nema e, mesmo, quadrinhos, saberá, com mui 
maior precisão, tra c;:ar o futuro . 
Os quadrinhos brasileiros tiveram gran des 
expoentes e bons momentos. Muitos de les, poré m, 
foram a bafa dos oeJaLCi.cc u ns.tânc las.::e,-p~1f.1Gll'l a ·l· 
cla_ me nte, pela fa lta de consciência. Uma i::Qosi:: iêo 
cr7tica de quem Qublica, .ctLguem comllliLl' to , 
.tíém de quem faz. 
Quando se ana lisa o ,passado, a tendência é de 
er 
res 
se ressaltar o que de melhor ficou . Mas, em qual qu 
pais, em gua lguer él2oca, l2ara que os melho 
preva lecessem hOl.L\le mui.tB-.ptodução iosig o.ifi:... 
cante, também. 
Assim, a produção dos quadrinhos nasclon ais 
em 
rá, 
Je· 
_se 
ue 
deverá ser vista em função do que aconteceu 
cada época para poder ser ava liada . E este se 
portanto, um bom começo para se fa lar em tra 
tória das HO brasileiras . Uma trajetória que 
iniciou em mo ldes mu.itO-LllalS-lml.ta-t-J-ves el o q 
criativos. E por que isso? 
Um início modesto 
. 
i: bom lembrar do que ocorreu nos Estad 
Unidos no f im do século passado com os quadrinh 
os 
os: 
ais 
ta 
o sucesso alcançado pelos suplementos dominic 
dos . . partir do " Yellow Kid". Des Jorna iS, a 
64 Sonia M. Bibe-Luyten 
forma, os primeiros personagens norte-americanos 
logo alcançaram uma ampla repercussão, que 
chegou, inclusive, ao Brasil. 
Nossa primeira revista de HO chamava-se O Tico 
Tico e surgiu· áernT90o.Seu personagem priilcipal 
<õhamava-se Chiquinho, um menininho loiro de 
cabelos compridos. Na reáfidade era uma cópia de 
Buster Brown, criado por R. Outcault, o primeiro 
desenhista de quadrinhos americano, o mesmo 
aútor de "YeITOvVKid". -
- O Tico Tico era uma revista destinada às crianças, 
mas não como os gibis que conhecemos hoje em 
dia. Havia poucas páginas com quadrinhos. O resto 
;
' era texto. Geralmente, curi"bsida-de·s;-iábulas e 
-fatos sobre a história do Brasil. Ao longo dos anos, 
porém,-Ol lcO Tico foi se enriquecendo com 
grandes co laborações de desenhistas famosos. 
Um bom exemplo disso é a história de "Reco 
Reco, Bolão e Azeitona", de Luís Sá, que soube 
pôr no papel tipos bem brasileiros. O Azeitona é 
um negrinho sapeca que faz mUita agunça Coiii o 
c0l!12anhei o.-ll..olão., Úm meoino_ gor..ducho, e o 
R-eco Reco,Jjue tinha o cabelo todo arrepiado. 
Luís Sá continuou deseDbaodp~depois, inúmeras 
histórias,. e_ se estilo fo U llconfundível: quente, 
formas arredo dâd.as, um ve rdadeiro barroco 
brasileiro. Maccou época na HO nacional. 
Lembro-me bem, quando ele morreu há alguns 
anos, os jornais demonstraram pouca importância 
a este grande artista. No entanto, ele merece nossa 
o que é História em Quadrinhos 
, 
VOI) VlPE~I " fN· O L E O "I 
'A' ""<\.0. RO~A~ TALVrl Ot .,., 
CE RTO 
• 
PARA 
AMAelAR 
SEUS 
CABELOS 
TOOO MVNOO I 
os ME"U$ CABElOS, TE NHO 
DAR U,01 JEITO NflfS. 
" :, 
65 
7""1 
. 66 Sônia M Bibe-Luy ten 
admiração por ter dado ao quadrinho um sabor 
inconfundivelmente brasileiro. 
: til 
Outro grande valor dessa época foi J. Carlos. 
O volume maior de sua criação a rtfstica, porém, 
foram a charge e a nustração. Ele colaborou em 
quase todas as revistas importantes de seu tempo. 
' Nos quadrinhos, sua criação no O Tico Tico foi 
Jujuba, Carrapicho e Lamparina, que, além de 
I • primar_(:Ie lo lindo desenho, mostrava um conteúdo 
bem brasileiro. Soube captar a paisagem tropical,~ 
i i! burburinho subürbano, a conversa de muro e --também o sofisticado ambiente urbano. 
. 
Em 1960, O Tico rico' term ina sua jornada, com II 55 anos de publicação ininterrupta . Foi o fim de 
Ilit! I uma revista por onde passaram grandes desenhistas 
e funcionou como uma espéc ie de tubo de ensaio 
onde se ex perimentaram novas técnicas e novas 
histórias. Foi lido por mu itas gerações e' ensinou 
11' mu ita coisa para as crianças de diversas épocas. 
Os suplementos no Brasi I: 
Uma faca de dois gumes 
O Brasil viveu grandes momentos e mu itas 
transformações no campo artrstico e pol ítico nos 
anos 20 e 30. Na li teratura, Graciliano Ramos, 
José Lins do Rego e José Américo tornaram-se 
expoentes porque souberam utilizar temas ...brasi-
leiros. O mesmo aconteceu com a pintura, onde 
Portinari e o Grupo Santa Helena, na mesma 
l~~ 
(l que é História em Quadrinhos 
linha, se destacaram e todos se internacional izar am o 
0-O segredo estava começando a ser desvendad 
partir do nacional para o universa l. 
Na pol (tica, Getúlio Vargas dominou o cen ário 
de 
um 
tas. 
e se 
nho 
ade 
glO: 
em 
seu 
ção 
tos 
foi 
nte 
deu 
CIO-
ma 
nacional, tornando-se muito popu lar através 
ações como dom (nio da imprensa e outros. Foi 
dos governantes mais ca ricaturizados pelos artis 
Dizem que ele até gostava d isso. Getúlio, qu 
tornaria famoso por uma série de- reis de cu 
nacionalista, no entan to, perdeu uma oportunid 
muito boa de aumentar a inda mais o seu prestí 
não fez nada para abrasileirar as histórias 
quadrTilhõs:-Na Argentina, como já mencionei, 
colega de ditadura procurou concentrar a aten 
dos leitores argentinos em torno de assun 
nacionais de lá. E um dos passos decisivos 
nacionalizar os quadrinhos. Ali ás, ele simplesme 
proibiu as histórias estrangeiras e, com isso, 
campo aberto pa ra os argentinos fazerem as na 
nais. O resultado disso todos con hecem : u 
67 
vtr0rosa produção argentina. 
No Brasil, por essa época, estavam-se .con 
tU IITdo grandes monopólios jorna l rsticos em for 
de empresas bem est ruturadas, com eficie 
sti- l 
ma 
ntes 
sistemas de produção e de distribuição. Um de I les, 
ha, I 
i1FiõS 
A Gazeta, lança a Gazeta Infantil ou Gazetin 
que se caracte riza pela publicação de quadrin 
tanto estrangeiros como nacionãiS':"Dos Importa 
vale c itar o Gato Félix, Fantasm.l!JLl.iJ:tl.eJ'Jem 
Slumberland. Mas em suas páginas aparece tamb 
d~S' j O...lD 
ém 
. I 
lli 
11' 
68 Sonia M. Bibe·Luy ten 
HQ brasileira. Um desenhista que caracterizou a 
epoca fo i Be1monte. Ele foi outro exemplo de 
desenhista que soUbe capta r o gosto popular e 
transformá·lo em produção art(stica . O forte de sua 
"'-produção foi a charge, e o personagem QlJe o 
celebrizou foi Juca Pato (que também aparece 
em quadrinhos), o tipo comum das J1essoas qLJe 
sempre "pagam o pato" por

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