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UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FAAC – FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO DARG – DEPATAMENTO DE ARTES E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA FRANCINE DE OLIVEIRA SANTIAGO HQ’S – HISTÓRIAS EM QUADRINHOS; INTER-RELAÇÕES ENTRE ARTE, DESIGN E ENSINO Bauru 2014 1 UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FAAC – FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO DARG – DEPATAMENTO DE ARTES E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA FRANCINE DE OLIVEIRA SANTIAGO HQ’S – HISTÓRIAS EM QUADRINHOS; INTER-RELAÇÕES ENTRE ARTE, DESIGN E ENSINO Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação como parte dos requisitos para a obtenção do título de licenciatura em Educação Artística, habilitação em Artes Plásticas. Orientador: Profº Drº Olympio José Pinheiro Bauru 2014 2 FRANCINE DE OLIVEIRA SANTIAGO HQ’S – HISTÓRIAS EM QUADRINHOS; INTER-RELAÇÕES ENTRE ARTE, DESIGN E ENSINO Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação como parte dos requisitos para a obtenção do título de licenciatura em Educação ArtísticA, habilitação em Artes Plásticas. Banca Examinadora __________________________________________________ Orientador: Prof º Drº Olympio José Pinheiro Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) Universidade Estadual Paulista (UNESP/Bauru) __________________________________________________ Profª Drª Eliane Patricia Grandini Serrano Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) Universidade Estadual Paulista (UNESP/Bauru) __________________________________________________ Profº Drº José Marcos Romão da Silva Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) Universidade Estadual Paulista (UNESP/Bauru) Bauru, _____ de ______________ de 2014. 3 Dedico este trabalho a minha mãe por me mostrar o caminho a seguir, com paciência e amor, sem dúvidas da chegada. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço à minha mãe por toda a força e paciência durante esses anos de dificuldades. Docemente, disponibilizou seu tempo para longas conversas, todos os dias após as aulas, assim aliviando momentos financeiramente e psicologicamente difíceis, não importando a distância. Agradeço ao meu orientador, professor Olympio Pinheiro que me ouviu e me direcionou com tranquilidade. Ao professor Pedro Padovini que me apresentou ao desenho em 1996, dando um sentido especial à minha vida. Agradeço a Fernanda Ribeiro, a Dalila Diman e ao Marcelo Fernandes que dividiram comigo suas experiências acadêmicas. À Marcela Zaiden pela ajuda com o Abstract e à Ellen Momo pela ajuda na revisão. Aos diversos textos e scans enviados pelo Editor Sergio Peixoto Silva e pelo Paulo Langer, que enriqueceram meu trabalho. Agradeço ao meu companheiro Luiz Gustavo, por ficar ao meu lado durante os anos de estudos e confecção deste trabalho; acompanhou minhas dificuldades e momentos de fragilidade. Agradeço a todos que me ajudaram direta e/ou indiretamente. Muito Obrigado pela força! 5 “Viver é desenhar sem borracha”. Millôr Fernandes 6 RESUMO Este trabalho pretende identificar alguns pontos sigficativos para mim e mais importantes do desenvolvimento das HQs (Histórias em Quadrinhos) em sua trajetória, perante a história deste meio de comunicação e sua importância como meio informativo. Estes pontos são apresentados como arte e leitura, formadora de opinião no contexto da interdisciplinaridade, partem de temas diversificados, criam inúmeras propostas de ensino e alfabetização, com elementos básicos de uso artístico. Durante a pesquisa, foram encontrados inúmeros estudos de professores, alunos e artistas que descrevem as Histórias em Quadrinhos de forma embasada; expõem as diferenças, formas e estilos, a fim de incluí-los como conteúdo didático, ferramenta de informação, comunicação e arte. Os HQs também são designados como Comics, Mangás, Gibis, Manwas, entre tantos outros nomes, são estilos culturais que fazem parte da juventude atual e seu consumo aumenta a cada ano; abordam assuntos polêmicos tais como nazismo, temas históricos como a Revolução Francesa, culturais e sem prerrogativa, todos direcionados a públicos distintos, com narrativas visuais cinematográficas, adaptando-se ao público alvo. Palavras-chave: HQs; Narrativas Visuais; Mangá; Alfabetização Visual; Interdisciplinaridade. 7 ABSTRACT This paper intends to identify some significant points for me and the most important in the development of Comics in its trajectory, in view of the history of this means of communication and its importance as informative means. These points are presented as art and reading, opinion leader in the context of interdisciplinarity, come from diverse topics, create numerous proposals for education and literacy with basic elements of artistic use. During research, we found many studies by teachers, students and artists depicting Comics in grounded form; exposing differences, shapes and styles in order to include them as educational content, tools for information, communication and art. Comics are also designated as sequential art, graphic novels, Manga, Manwa, among many other names, are cultural styles that are part of today's youth and their consumption increases every year ; addressing controversial issues such as Nazism , historical themes as the French Revolution, cultural and without prerogative, all targeted to different audiences, with cinematic visual storytelling, adapting itself to the target audience. Key-words: comics; Visual Narrative; Manga; Visual Literacy; Interdisciplinarity. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Kanji Pictográfico, Dicionário Ilustrado Mnemônico Japonês – Português...........13 Figura 2 Frangmento da Tábua de Protat............................................................................15 Figura 3 Tiras de The Yellow Kid.......................................................................................17 Figura 4 Página de Nhô-Quim por Ângelo Agostini............................................................19 Figura 5 Almanaque Globo Juvenil e Gibi…………………....……………………..............22 Figura 6 Edições Especiais Turma da Mônica 50 Anos.......................................................23 Figura 7 Capa da edição especial nº 50 Turma da Mônica Jovem..........................................24 Figura 8 Fragmento de Chojugiga........................................................................................25 Figura 9 Fragmento de Genji Monogatari Emaki de Murasaki Shikibu................................26 Figura 10 Fragmento de Trabalho sobre Narrativa.............................................................27 Figura 11 A Grande Onda Kanagawa de Katsuhika Hokusai................................................28 Figura 12 Hokusai Mangá...................................................................................................29 Figura 13 Maurício de Sousa e Osamu Tezuka....................................................................32 Figura 14 Capa Edição 43da Turma da Mônica Jovem......................................................32 Figura 15 Capas das Revistas Conexão Nanquim e Popcake Magazine..............................34 Figura 16 Capitão América Comics e Filme.........................................................................37 Figura 17 Capas de Gen, Pés Descalços..............................................................................38 Figura 18 Retrato de François Jarjeyes e a Rosa de Versailles.............................................39 Figura 19 Vestes dos Guerreiros Samurais..........................................................................42 Figura 20 Capas Comparativas do Mangá Samurai X.........................................................45 Figura 21 Página 5 do Mangá Samurai X – Introdução à Obra...........................................49 Figura 22 Página do Mangá Samurai X – Sobre a Metralhadora Gatling............................50 Figura 23 Página do Mangá Samurai X – A Riqueza de Detalhes.......................................51 Figura 24 Homem de Ferro..................................................................................................53 Figura 25 Infográfico sobre o Reator Arc............................................................................54 Figura 26 Capas do Livro Seduction of th Innocent – Fredric Wertham.............................56 Figura 27 Capas do Gibi Detective Comics.........................................................................58 Figura 28 Foto da Queima de Quadrinhos...........................................................................59 Figura 29 Selo do Código de Ética dos Quadrinhos.............................................................60 Figura 30 Página Criada por Will Eisner.............................................................................66 Figura 31 Orientação de Leitura do Mangá de Sakura Cardcaptors.....................................67 Figura 32 Página de Apollo HQ...........................................................................................71 Figura 33 Comparação de Onomatopéias e Balões entre Quadrinhos.................................74 Figura 34 Onomatopéias nas Páginas de Capitão América..................................................75 Figura 35 Tiras Dominicais da Turma da Mônica................................................................77 Figura 36 Analíse da Interdisciplinaridade por Will Eisner...................................................78 Figura 37 Questões sobre HQs no Conteúdo do ENEM.......................................................80 Figura 38 Da Colônia ao Império! Um Brasil para Inglês Ver!............................................81 Figura 39 Planetinhas – Edição nº 11 da Turma da Mônica.................................................83 Figura 40 Tira: Lendo Rótulo e Reagentes Parte I................................................................84 Figura 41 Fanzine Idol............................................................................................................85 Figura 42 Fanzine da Autora (2004)........................................................................................86 Figura 43 Fanzine da Autora (2008)........................................................................................87 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................10 2 A EVOLUÇÃO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQs)....................................12 2.1 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO BRASIL..............................................................................19 2.2 ATRAVESSANDO O OCEANO: O MANGÁ................................................................................24 3 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS : DA REALIDADE À FICÇÃO..............................35 3.1 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS PARTICIPANDO DA HISTÓRIA...........................................35 3.2 COMICS VERSUS MANGÁS: SAMURAIS CONTRA MÁQUINAS..........................................40 3.3 SEDUZINDO O INOCENTE: A VISÃO DE WHERTHAM..........................................................55 4 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E O ENSINO ...........................................................63 4.1 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E O ENSINO DA ARTE..........................................................67 4.2 ALFABETIZAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E INFORMAÇÃO.......................................75 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................90 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................92 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.......................................................................................97 ANEXO 1 ..............................................................................................................................101 ANEXO 2...............................................................................................................................103 10 1 INTRODUÇÃO A Arte, em sua totalidade, é densa em valores, sentimentos e emoções para quem a cria e aprecia, assim, do mesmo modo expande os horizontes destes para diversos mundos do conhecimento e da fantasia; Cria-se, sempre uma nova vertente a ser apreciada. Entre criar e apreciar, encaixamos a diversidade de estilos em nosso repertório; estilos para escolhermos e degustarmos com a simples finalidade de Ser e Sentir a Arte assim explicando o foco deste trabalho: O Desenho apreciado demasiadamente pela juventude atual: as Histórias em Quadrinhos (HQs). A herança da necessidade de desenvolvimento do homem é extensa e valiosa. No campo das Artes e da Linguagem, o registro dessas experiências nas paredes das cavernas em que habitavam é a primeira narrativa gráfica conhecida do homem. Ao nos aprofundarmos nesta questão panoramicamente, é possível observar claramente o desenvolvimento das narrativas em todas as culturas. Desde seu início até a atualidade, sempre buscaram a perfeição e a união de imagens e escrita, como um norteador à interpretação, estética ou puramente como linguagem gráfica, como nos ideogramas orientais. Este desenvolvimento floreceu através de manifestações artísticas desde a Idade Média em iluminuras, tapeçarias, gravuras e outras manifestações artísticas. As Histórias em Quadrinhos é o resultado da união dos elementos básicos da arte e escrita, batizada de Sequential Art – Arte Sequencial pelo quadrinista Will Eisner, como forma de definir o termo sobre o conjunto de fotos ou imagens, narradas e dramatizadas. Esta manifestação artítica foi classificada como a “Nona Arte” por Riccioto Canudo, teórico e crítico de cinema. As HQs também conhecidas como Banda Desenhada (cor, palavra e imagem), atualmente é bem aceita entre públicos de todas as idades, adaptou-se ao cinema (a Sétima Arte) de forma natural, transformando suas páginas em sequencias realistas, com cenas cinematográficas e minuciosamente trabalhadas, como em Neon Genesis Evangelion, de Yoshiyuki Sadamoto (1995). Entretanto, antes do trabalho artístico requintado, como podemos ver nas páginas atualmente, as Histórias em Quadrinhos já foram o centro de discussões preconceituosas. Injustiçadas por estudos sem embasamento, as HQs se transformaram em verdadeiros vilões da ética e da moral. Motivo de disputas e desinteligências, as HQs foram consideradas uma http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Yoshiyuki_Sadamoto&action=edit&redlink=111 leitura prejudicial ao desenvolvimento do seu público, transformando-os em responsável pela principal causa de delinquência e retardo mental. No entanto, após a desmistificação do conceito, as HQs se tornaram a arte jovem, formador de leitores e opiniões. Ainda há quem interprete essa leitura como prejudicial, embasada em estudos equivocados, porém a utilização das Histórias em Quadrinhos em diversas áreas do conhecimento aumenta diariamente, inclusive seu ‘consumo’ particular. Atualmente há inúmeras pesquisas utilizam as HQs como ferramenta didáticas, ampliando o conhecimento dos educandos de diversos níveis escolares, mas especialmente durante a alfabetização. O material didático fornecido para as escolas estaduais pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) contém os Gibis e obras literárias com vista à democratização do acesso às fontes de informação para alunos e professores. Em seu programa pode ler-se: “O PNBE é composto pelos seguintes gêneros literários: obras clássicas da literatura universal; poema; conto, crônica, novela, teatro, texto da tradição popular; romance; memória, diário, biografia, relatos de experiências; livros de imagens e histórias em quadrinhos”. (FNDE. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaçao, Programa Biblioteca na Escola. In <http://www.fnde.gov.br/programas/biblioteca-da-escola/biblioteca-da- escola-apresentacao>; acesso em 12 de jun. 2013). Porém, para o uso dos quadrinhos como apoio didático, deve conhecê-lo basicamente para a obtenção de resultados satisfatórios. Durante o estágio supervisionado, pude observar e relacionar o uso dos quadrinhos e a interdisciplinaridade, juntamente com o auxílio de professores que se mostraram prestativos em apresentar os quadrinhos como ferramenta de alfabetização em sala de reforço, como um instrumento em seu uso efetivo com resultados satisfatórios. Deste modo, a pesquisa contribuiu para a minha formação e auxiliando-me na escolha das ferramentas didáticas mais eficientes para um ensino sucateado e conturbado como tem sido o do Brasil desde há uns cinquenta anos trás. http://www.fnde.gov.br/programas/biblioteca-da-escola/biblioteca-da-escola-apresentacao http://www.fnde.gov.br/programas/biblioteca-da-escola/biblioteca-da-escola-apresentacao 12 2 A EVOLUÇÃO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQs) É comum firmar que as HQs são uma arte atual, sem histórico e/ ou irrelevante é comum, sejam elas para o entretenimento, a educação ou para uma simples e descontraída leitura. Porém, a história da humanidade está ligada às narrativas desde os seus primeiros registros, contando com a presença de expressões artísticss, seja para a sobrevivência, para a comunicação, e com maior ou menor preocupação, a estética. As HQs são uma forma de narração figurada, podendo ser esculpida, pintada, gravada, desenhada, impressa ou fotografada, ampliando seu significado e consequentemente, afirmando sua participação na história, de forma evolutiva. Os desenhos evoluíram para sons, letras e linguagem fazendo com que os elementos gráficos se tornassem independentes, mas ao mesmo tempo coexistentes como em manuscritos iluminados (ANSELMO, 1975, p.32). Assim como toda evolução, as palavras escritas se tornaram mais elaboradas, especializadas e cada vez com menos figuras; estas que por sua vez se desenvolviam na direção oposta: menos abstratas e mais representativas (MCCLOUD, 1995, p. 144). Durante as pesquisas sobre as HQs, foram assinalados inúmeros momentos históricos onde a arte sequencial esteve presente; representações e evoluções linguísticas através de imagens representativas iniciadas por primitivos em cavernas como expressão da cultura humana primitiva. Inconscientemente, os homens pré-históricos estariam cedendo suas experiências de forma concreta para as gerações futuras, como um manual de instruções ou um guia de sobrevivência. Posteriormente, outras culturas como os egípcios continuariam a evolução narrativa através de sua escrita pictórica repleta de significados. Com o passar do tempo, os hieróglifos foram se adequando às necessidades de comunicação e sua evolução resultou na extinção dessa forma de escrita, já que o excesso de símbolos dificultavam a leitura. Ao contrário, os chineses que desde sua origem primitiva, seguiu evoluindo de simples imagens a um alfabeto extenso e enriquecido por estar sempre associado às situações reais e/ou abstratas, utilizando- se do dispositivo mnemônico1 para assimilação da língua (Fig. 1). Os ideogramas chineses cruzaram fronteiras, atingindo os países vizinhos – Coréia e Japão – de forma a influneciar seus alfabetos, a língua materna e a cultura. 1 Adj. Que se refere à memória; memorização. Disponível em <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues- portugues&palavra=mnem%F4nico> Acesso em jan 2014. 13 No Japão, os ideogramas passaram a ser parte da língua a partir do século VIII, depois de várias modificações fonéticas e significativas, que simplificaram o entendimento e a representação de sons na escrita. O kanji2 e seu grafismo são consequência de sistemas anteriores interessados em manter a língua nativa mesmo unidos à caracteres estrangeiros. Atualmente, os kanas são os sistemas de escrita em formato fonético que permite a simplificação da escrita dos kanjis, ainda utilizados, para a escrita simples e para o empréstimo linguístico. Figura 1 Adaptações utilizando o dispositivo mnemônico para maior absorção de conteúdo. (ROWLEY, 2004, p.28) A evolução linguística, desde o início da história até a atualidade proporciona inestimáveis informações culturais e artísticas, além da sensibilidade dos povos. Apresenta 2 Kanjis são ideogramas chineses inseridos no Japão de forma pura e modificada conforme a necessidade linguística. Disponível em <http://www.nj.com.br/kanji/historia_kanji.php> Acesso em jan 2014. 14 um processo criativo não que é restrito apenas à área artística, mas que se faz presente na necessidade do ser humano em criar constantemente, seja para a sobrevivência, para apreciação estética, comunicação e/ou auto-realização. Com o tempo, as palavras que até o momento eram representadas por figuras, foram se modificando, seguindo a evolução da humanidade e sua necessidade em se comunicar. A escrita antiga tornou-se abstrata e algumas linguagens sobreviventes mantiveram traços de sua herança pictórica, como o alfabeto oriental. Assim, a maior parte da escrita passou a ser representada apenas por sons, perdendo sua relação visual (MCCLOUD, 1995, p. 142). Durante este trajeto, as imagens também passaram por suas mudanças. Separadas da função comunicativa, as figuras passaram ser independentes quanto a sua linguagem. Na direção oposta, as figuras se tornaram menos abstratas ou simbólicas, mais representacionais e específicas (MCCLOUD, op.cit, p. 144). Mesmo separados, as imagens e os textos compartilhavam o mesmo espaço e importância em diversas obras de arte e de narrativas. Ao contar histórias, muitas obras se propuzeram a utilizar as duas linguagens para valorização estética e facilitar a interpretação, assim do ocidente ao oriente. Segundo Anselmo (1975) a Coluna de Trajano e vários outros monumentos trazidos do Egito pelos romanos, são verdadeiras Histórias em Quadrinhos em forma de espiral. A Coluna é composta de mármore esculpida em baixo relevo com trinta metros de altura, seis metros e trinta e oito centímetros de diâmetro; contêm dois mil e quinhentos quadros e sua leitura inicia-se a partir da base com vinte e três voltas na coluna, resultando em duzentos metros de narrativa – se posta de forma linear e extensa. Assim como a Tapeçaria de Bayeux que contém cinquenta e oito cenas de sequencia sucessiva bordadoem linho, narrando a conquista normanda da Inglaterra, o cotidiano nobre e a derrota anglo-saxã em 1066 d.C. Entretanto, o que diferencia as ilustrações e narrativas das histórias em quadrinhos são os itens dinâmicos como os balões, símbolos gráficos e onomatopeias. Estas são responsáveis pela composição completa de cada quadro como um prolongamento da imagem desenhada que, apesar de ser um item moderno, também pôde ser apreciado na Idade Média através das xilogravuras oriundas da China e de suas atividades religiosas. No século XIV, a xilogravura era a forma de propagação do conhecimento e A Tábua de Protat (1370 – 1380) é reconhecida como a primeira ilustração a conter um Filactéri, faixa de pergaminhos com escritas religiosas usadas por Judeus em suas orações, que junto à boca da personagem, indica fala, assim como os balões em Histórias em Quadrinhos (Fig. 2). 15 Figura 2 Tábua Protat (fragmento), artista desconhecido, Biblioteca Nacional da França, 1370 – 1380. (Fonte: <http://estudiorafelipe.blogspot.com.br/2012/04/paixao-de-cristo-e-os-quadrinhos.html> Acesso em 18 de ago. 2012) Em primeiro plano, um centurião romano aponta o dedo em direção à cruz e declara em latim Vere Filius Dei erat iste - Sim, em verdade este homem é o filho de Deus, comparando-se aos balões das Histórias em Quadrinhos que só chegariam a contê-los no final do século XIX. “Através dos séculos, gradativamente, surgiu uma nova forma de expressão que envolveu, por um lado, seqüências ilustradas como as da Tapeçaria de Bayeux e por outro lado o ‘filactério’ da Tábua de Protat. Esses dois elementos básicos, reunidos mais tarde, resultaram no aparecimento da HQ, relação dinâmica entre a imagem e o texto” (ANSELMO, 1975, p. 41). Já mais próximo às histórias em quadrinhos atuais, as Estampas de Épinal3 - material impresso no França, cuja popularidade se estendeu por todo o século XIX até a revolução, transformou-se em um negócio rentável aos irmãos Péllerin - os autores, mas que logo ganhariam o mundo ao adicionar às imagens meramente ilustrativas, textos e quadros sequenciais. A primeira estampa é datada de 1806 com a imagem de Napoleão Bonaparte. 3 Literatura de estampas de origem francesa. 16 Já próximo ao século XX, conforme Cagnin (CALAZANS, 1997) com elementos essenciais para a criação de uma HQ juntamente com as transformações do cenário americano, as Comic Strips4 originalmente, passaram a nutrir, a partir de 1890, uma nova forma de arte e literatura. Um motivo de orgulho para o norte-americano que aumentou depois da apresentação formal de The Yellow Kid aos americanos e ao mundo. Continuando a argumentação de Cagnin, Yellow Kid foi considerado o primeiro personagem do universo das histórias em quadrinhos, mas há questionamentos sobre o verdadeiro surgimento destas, gerando discussões e desconfortos. Quando nasceu nos Estados Unidos, em 1895, The Yellow Kid foi considerado o primeiro exemplar de histórias em quadrinhos, mas expôs possibilidades de questionamento ao que se refere como o primeiro HQ, já que para alguns estudiosos, este é somente uma ilustração proveniente de um erro gráfico, um teste de maquinário e de tinta que, juntamente com a oportunidade, fez com que o título The Yellow Kid se tornasse mundialmente conhecido. Mickey Doogan (Fig. 3), o Yellow Kid, nasceu em meio a diversas mudanças na sociedade americana no final do século XIX. As Comic Strips apareceram durante a explosão tecnológica e a emigração europeia em meio a diversos costumes introduzidos ao cotidiano americano. Para enfatizar o momento vivido, o personagem foi inserido em um contexto proveniente das mudanças: cenário pobre e seu modo de sobrevivência. De forma sedutora, a data da criação e a afirmação de que Yellow Kid seria a primeira História em Quadrinhos do mundo se concretizou deixando uma lacuna a ser preenchida pela própria história: “O Moleque Amarelo passou a ser o marco da criação do mundo novo das histórias em quadrinhos: “Exatamente no dia 5 de maio de 1895, um domingo”, exatamente o 1º dia da Criação, como ensina a sagrada Bíblia” (CALAZANS, 1997, p. 19). Joseph Pulitzer, proprietário do jornal sensacionalista New York World, contratou Richard Felton Outcault5 durante o drama que vivenciava após adquirir uma Rotativa Hoe 4 cores para tipografia e manifestações culturais do gênero narrativo (afrescos, mosaicos, tapeçarias). Sua intenção inicial era imprimir obras de arte famosas para publicação nas edições dominicais, porém o maquinário passou trabalhar para os Quadrinhos. Outcault e seu 4 Histórias em quadrinhos, tiras cômicas, cartum. 5 Criador de The Yellow Kid. 17 talento para o desenho humorístico trabalhariam arduamente depois da insistência contagiante do editor da página dominical (CALAZANS, 1997). O personagem de Outcault ganharia vida por um erro de impressão durante os testes de cores do maquinário. Em 1895, depois de muitas tentativas, o chefe do setor de impressão, resolveu utilizar a tinta amarelo graxa, de secagem rápida e escolheu os trajes do moleque; personagem de aparência estranha, cabeça e orelhas desproporcionais, morador de um cortiço em Nova York, ganhou a atenção mundial naquele domingo, 5 de maio de 1895; aquela página, com a única cor utilizada em suas vestes, foi o motivo pelo crescimento comercial do jornal, tornando-se indispensável para as demais edições. A cor amarela era o que faltava para esse BOOM na história da arte sequencial, pois a partir de seu ano de criação, a evolução dos quadrinhos passou a ser assinalada pelos estudiosos como o Período Inicial: 1895 a 1909. Figura 3 Tiras de The Yellow Kid, The Yellow Kid Gives a Show at Ryan's Arcade New York Journal/ The Yellow Kid’s R-R-R-Revenge: Or, How the Painter’s Son Got Fresh, New York Journal, Sunday, January 9, 1898, Richard Felton Outcault. (Fonte: <http://cartoons.osu.edu/yellowkid/1898/1898.htm> acesso em 10 de jul. de 2012) O público crescia, as editoras se sentiam seguras em publicar quadrinhos e o Moleque Amarelo havia se tornado sucesso gráfico e empresarial, ampliando horizontes para novas tiragens em diversos formatos. Com a existência dos Syndicates - agências especializadas em fornecer matérias e entretenimento, a aparição de novos desenhistas e a distribuição de novos títulos para todo o 18 país, fez com que esses pequenos quadros fossem chegando de pouco em pouco nas residências, tornando-se costume sempre dar uma olhadela nas tiras dos jornais e acompanhar histórias de personagens fantásticos resultando em um novo império americano. O sucesso do Moleque Amarelo inspirou o teatro de Veudeville, facilitou a venda de produtos e atravessou oceanos. Entretanto, a barreira cultural e linguística fez com que o Brasil, erroneamente, traduzisse o termo Comic Strips para Histórias em Quadrinhos ampliando o significado original. Strip não significa quadrinhos, e sim um tipo de quadrinhos, conhecido como tira. A tradução ampliou o significado original, gernado diversas interpretações (CAGNIN In CALAZANS, 1997, p.22). Tal amplitude fez com que um simples tira dominical se tornasse algo grandioso. A utilização da palavra História no singular enfatiza que o significado do termo enquanto linguagem - linguagem própria, sistema narrativo, figurativo e iconográfico específicos da comunicação por imagem, englobando qualquer outro tipo de tira já publicada. A partir desse equívoco, segundo Cagnin, a afirmação se faz persistente até a atualidade, porém uma indagação contrária à criação de Outcault assinala Yellow Kid como somente a primeira tira em quadrinhos colorida, o primeiro sucesso empresarial e primeiro personagem popular, mas não a primeira história em quadrinhos. Anos anteriores, trabalhandocom a mesma linha de criação, o ítalo- brasileiro Ângelo Agostini publicou Nhô-Quim e Zé Caipora (1869-1883). De acordo com Calazans, No dia 30 de janeiro de 1869, na revista Vida Fluminense, estado do Rio de Janeiro, o caricaturista Ângelo Agostini inicia a publicação por vários números da série com personagens fixos: NHOQUIM ou Impressões de uma Viagem à Corte. Esta HQ pioneira é anterior ao Yellow Kid de 1896 do jornal San Francisco Examiner da cadeia HEARTS nos USA. No Brasil hoje comemora-se o Dia do Quadrinho Nacional todo 30 de janeiro, recordando nosso pioneirismo que a propaganda norte-americana insiste em negar. (CALAZANS, 1997) Nhoquim (Fig. 4) preenchia todos os quesitos de uma história em quadrinhos moderna: quadro, imagem, sequencia e texto, sendo a primeira Graphic Novel6, com sequências verdadeiramente cinematográficas, verdadeiro storyboard7, criado anteriormente ao The Yellow Kid. Este por sua vez não é considerada uma história, mas sim uma grande 6 Traduzindo literalmente para o português, graphic novel é o romance gráfico, isto é uma história produzida em quadrinhos. 7 Série de imagens ou desenhos, em papel, que mostram a progressão de um vídeo ou animação. 19 cena; não é considerada quadrinhos por ser um grande cartum; não é strip por não conter balões e por fim, nem mesmo era amarelo (CALAZANS, 1997, p.26). Figura 4 Fragmento de uma página de Nhô-Quim para apreciação. (PATATI; BRAGA, 2006, p.13) 2.1 Histórias em Quadrinhos no Brasil Inúmeros estudos apontaram Ângelo Agostini como predecessor do estilo quadrinizado. Dividiu seu conhecimento e criações com os jornais brasileiros. Agostini estreou o folhetim Diabo Coxo, sendo o primeiro jornal ilustrado de São Paulo. Até seu falecimento em 1910, Agostini criou e publicou Nhô-Quim e cooperou com diversas publicações como O Arlequim e Zé Caipora. Há poucotempo, no ano de 2000, a editora Unesp e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo publicaram a segunda edição de Cabrião, semanário humorístico editado por 20 Agostini e outros autores, datado de 1867 e em 2002, a gráfica do Senado Nacional publicou As Aventuras de Nhô-Quim e Zé Caipora, datadas de 1883. A publicação mais recente (2005) conta a trajetória gráfica de Ângelo Agostini, publicado pela EDUSP. Como coloca Waldomiro Vergueiro: “[...] E, por fim, este ano, a Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP), em co- edição com a Academia Paulista de História e apoio institucional do Centro Integração Empresa-Escola (CIEE) disponibilizou outra obra de capital importância na trajetória gráfica de Angelo Agostini, o jornal O Diabo Coxo, editado em São Paulo entre os anos de 1864 e 1865. O volume surge como obra inaugural da coleção Ad Litteram: São Paulo em Fac-símile, criada pela Academia Paulista com a finalidade de fazer com que obras importantes da historiografia paulista, esgotadas e de interesse para a cultura do estado, tornem-se acessíveis a estudiosos, pesquisadores e interessados em geral”. (VERGUEIRO, Waldomiro. In <http://omelete.uol.com.br/quadrinhos/io-diabo-coxoi- de-angelo-agostini-agora-em-edicao-facsimilar/#.Ugqtb5LWTUU>; acesso em 13 de ago. 2013). As primeiras histórias nacionais impressas surgiram durante a segunda metade do século XIX, com cunho humorístico destinado ao publico adulto. Por se tratar de uma época patriarcal, tratavam de temas políticos e econômicos. Com as mudanças provindas da Abolição da Escravatura, Proclamação da República, processo de industrialização e a chegada de imigrantes ao país, a sociedade brasileira passou a atender a necessidade da publicidade e propaganda, direcionando os impressos a um público variado, sendo o Jornal da Infância o primeiro impresso direcionado às crianças, mesmo não contendo quadrinhos, mas exibiam matérias de entretenimento e de cunho educacional (SANTOS In VVAA, 2012, p.15). Porém, não existia uma linha nacional de produção de quadrinhos. A importação era o recurso utilizado por editoras seguindo o formato europeu e muitas vezes a cópia do conteúdo americano. Desenhistas brasileiros adaptavam-se aos personagens estrangeiros abrasileirando- os como o personagem Chiquinho, lançado na revista Tico-Tico em 1905 dando início à tradição das revistas em quadrinhos no Brasil. Contudo, encantado com o mercado editorial americano, Adolfo Aizen8 estudava as inúmeras possiblidades gráficas enquanto enviava matérias para os jornais O Globo, O Malho e Tico-Tico. Nesse período conheceu os Suplementos Literários que enriqueciam os jornais 8 Adolfo Aizen é conhecido como pai dos quadrinhos por ter sido o responsável direto pela introdução dos Comics no Brasil. 21 americanos, inclusive financeiramente. Os Comics, aumentavam significativamente a vendagem dos jornais locais. Aizen passou, juntamente com milhares de leitores assíduos, a acompanhar seus personagens preferidos (JUNIOR, 2004). Ainda espantado com o fascínio dos leitores, enviou cartas ao Diário Carioca pouco antes do seu retorno, descrevendo sua experiência, porém seu foco era o Editor Chefe do Jornal O Globo, Roberto Marinho, no qual acreditava ser o único que poderia ajudá-lo a publicar os suplementos no Brasil. Marinho, inicialmente, negou-se a concretizar o projeto (RAMOS, 2011, p. 599) contrariando-o com sua resposta “Ora, Aizen, isso é história para crianças...”. A recusa de Marinho levou Aizen a fazer proposta a outro jornal, A Nação, de João Alberto Lins de Barros. [...] A maior parte do material era importada dos Estados Unidos. Três meses depois, o cordão umbilical que os suplementos ao jornal foi cortado e as edições passaram a ser vendidas de forma autônoma. (RAMOS, 2011, p.499). O autor salienta ainda a mudança de Suplemento Infantil, no qual quadrinhos era voltado para crianças, e tornou-se Suplemento juvenil, com o mesmo sucesso de vendas. porém, o uso de suplementos circulava anteriormente pela A Gazeta, mantida por Cásper Líbero, e posteriormente tornou-se A Gazetinha. Ao se unir com o Jornal - A Nação, Aizen produziu inimigos e ameaças que puderam ser compartilhadas mais tarde com as declarações de Naumim Aizen em 2002. Contudo, continuou a apostar no setor até que Marinho resolveu impor a concorrência com o Suplemento/ Almanaque Globo Juvenil, posteriormente Globinho e GIBI como a versão final conhecida atualmente. Marinho começou sua empreitada a partir de publicações no jornal O Globo juntamente com tiragens do Globo Juvenil. Ambos necessitaram de tempo e investimento para atingir a vendagem desejada. Apesar da inexistente publicação da revista, o termo Gibi ainda é popular, mas esse nome, não foi aleatoriamente escolhido e sim devido ao personagem símbolo existente nos suplementos, sempre presente no canto superior esquerdo (Fig 5). O professor Nobuyoshi Chinen (VVAA, 2012) cita a possível escolha do nome como uma reação contrária ao Mirim, a revista de Aizen. Este serviria de inspiração para a revista de Marinho, além do significado semelhante. 22 Segundo o Aurélio: Gibi: S. m. Bras. 1. Gír. Meninote preto; negrinho. 2. Nome registrado de determinada revista em quadrinhos, infanto-juvenil. 3. P. ext. Qualquer revista em quadrinhos. 4. Publicação interna. Segundo o Caldas Aulete: Gibi: s. m. (Bras.) negrinho, moleque, // (Rio de Janeiro) Revista em Quadrinhos Segundo o Houaiss online: Gibi: Substantivo masculino Regionalismo: Brasil. Uso: informal. 1. Garoto negro; negrinho 2. Publicação em quadrinhos, ger. Infanto-juvenil (CHINEN In VVAA, 2012, p.37) Figura 5 Capas do Almanque Globo Juvenil (1937) e a Revista Gibi mensal (1939). (Fonte: <http://pipocaenanquim.com.br/wp-content/uploads/2011/09/Almanaque-Globo-Juvenil-1954-300x374.jpg> acesso em 31de jul. de 2013) Para conseguir o sucesso, Marinho obteve o direito de publicar grandes nomes dos quadrinhos através dos Syndicates. Flash Gordon, Batman e Superman seriam alguns dos títulos publicados no Brasil pelo suplemento e após a boa receptividade dos leitores, em 1952, a Editora Rio Gráfica passou a produzir todos os títulos até então sob o selo do O Globo. O Gibi encerrou sua trajetória em 1960, porém, mesmo quarenta anos depois, continuou sendo ícone, denominando as revistas do gênero. Atualmente, o uso das histórias http://pipocaenanquim.com.br/wp-content/uploads/2011/09/Almanaque-Globo-Juvenil-1954-300x374.jpg 23 em quadrinhos, ou Gibi, faz-se presente em editoras e escolas, mesmo que, em algum momento da história, este tenha motivado estudos desqualificados, mistificando situações diversas e negativas sobre seu conteúdo. O único momento onde Aizen e Marinho uniram forças para proteger seus empreendimentos. Como dissemos, a denominação Gibi não desapareceu e um exemplo atual para essa afirmativa é a Turma da Mônica do jornalista Maurício de Sousa, sendo o quadrinho mais publicado no Brasil e no mundo. Sua primeira publicação foi no Jornal Folha da Manhã com o ‘Cãozinho Bidu’ e os demais personagens apareceram nos anos seguintes. A Mônica tornou- se personagem principal apenas em 1970, publicada pela Editora Abril desde esta data até 1986. Atualmente, a Turma da Mônica é publicada pela Editora Panini, que, além das histórias tradicionais, publicam a versão jovem dos personagens – Turma da Monia Jovem em estilo mangá9. Seguindo a preferência nacional, os personagens cresceram, assim como seus leitores, que imaginavam os personagens crescidos e casados. Foi exatamente o que autor providenciou, em 2012, o casamento da Mônica com o Cebolinha na edição número cinquenta (Fig. 7); número que corresponde à mesma idade que a turma completou em 2013 e foi comemorada em grande estilo por diversos artistas (Fig. 6). Figura 6 Capas das edições especiais de aniversário. Astrounauta – Magnetar por Danilo Beyruth, Turma da Mônica - Laços por Vitor e Lu Cafaggi e Chico Bento – Pavor Espaciar por Gustavo Duarte. (Fonte: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=505118716223320&set=gm.1404917133056219&type=1&relevan t_count=1&ref=nf> Acesso em 13 de ago. 2013). 9 Mangá: histórias em quadrinhos japoneses. Sua leitura é diferenciada, sendo da direita para a esquerda (sentido oriental). https://www.facebook.com/photo.php?fbid=505118716223320&set=gm.1404917133056219&type=1&relevant_count=1&ref=nf https://www.facebook.com/photo.php?fbid=505118716223320&set=gm.1404917133056219&type=1&relevant_count=1&ref=nf 24 Figura 7 Capa da edição especial nº 50 Turma da Mônica Jovem (em estilo mangá), por Maurício de Sousa (Fonte: <http://extra.globo.com/noticias/rio/monica-cebolinha-casam-em-edicao-que-chega-nesta-quinta-as- bancas-6206255.html> Acesso em 13 de ago. 2013). 2.2 Atravessando o Oceano: O Mangá O Japão recebeu forte influência da China desde a antiguidade, em muitos aspectos da cultura, tais como a agricultura, a escrita e a religião. A arte do cultivo do arroz, o alimento mais consumido no Japão, chegou ao país nos séculos II e III A.C. iniciando-se a Era da Agricultura no país. Ambos mantiveram alianças durante séculos, através de seus imperadores, preservando a forte ligação cultural. O budismo se espalhou pelo país a partir do século XII. As primeiras imagens do que seria o Mangá atualmente foram descobertos em 1935, durante os reparos dos templos budistas Toshodaiji e Horyuji, considerados obras primas arquitetônicas. Datada do século VII, as imagens foram feitas por escribas e traziam proporções exageradas que implicavam, naquela época, na arte erótica japonesa. Em 1935, enquanto estavam sendo feitos reparos nos tetos e nas paredes desses templos, foram descobertos desenhos feitos a tinta e pincel, talvez por construtores e http://extra.globo.com/noticias/rio/monica-cebolinha-casam-em-edicao-que-chega-nesta-quinta-as-bancas-6206255.html http://extra.globo.com/noticias/rio/monica-cebolinha-casam-em-edicao-que-chega-nesta-quinta-as-bancas-6206255.html 25 escribas do final do século VII. O mais curioso é que eram desenhos profanos, caricaturas de animais e pessoas com traços exagerados e narizes de grandes proporções – que naquela época tinham uma implicação erótica na arte japonesa. Alguém com espírito de humor e irreverência deixou um grande marco, e são esses os exemplos mais antigos da caricatura japonesa (LUYTEN, 2000, p.91). Segundo Luyten (LUYTEN, 2011, p.214), os Ê-Makimonos10 foram responsáveis pelo início do Mangá no Japão; outros citam o Shohatsu11, mas ambos são descritos do mesmo modo. Os Ê-Makimonos surgiram no período Nara12, século VIII d.c., também herdada da China; Apresentavam-se no formato de pergaminhos com ilustrações e textos de modo sequencial, contando histórias à medida que as imagens apareciam em seu desenrolar, sendo a única forma de leitura e entretenimentos por quase oitocentos anos. Figura 8 Fragmento de Chojugiga, Kakuyu Toba, tinta e cores no papel, 30,5 x 812,1 cm. Presente da Fundação Robert Allerton, 1954. (Fonte: <http://www.appgrabber.com/app/animal-giga-scroll> acesso em ago. 2012) O Ê-Makimono mais famoso foi o conjunto Chojugiga13 (Fig. 8) criado por Kakuyu Toba, monge budista que viveu entre 1053 e 1140 e de valor artístico inestimável principalmente por suas técnicas, onde engajava os animais em atividades do cotidiano humano, como a prática de caça e pesca, arco e flecha, banhos, montaria e agricultura. Segundo Luyten, os sapos se vestiam como monges e as lebres como nobres, fato que faziam 10 Grandes rolos de papel contendo escrita e desenhos sequenciais. 11 Teatro de sombras. 12 Nara-jidai: de 710 a 794 D.C. Período marcado pela influência Chinesa. 13 Literalmente significa “caricatura de animal”. 26 com que alguns historiados encarassem essas obras como paródias da decadência da nobreza (2011, p.78). Como expressa Sonia Luyten: É um clássico famoso da arte cômica japonesa e tem seu reconhecimento na história mundial da arte em função do humor satírico aliado à técnica apurada de captação de formas. Nele, sapos, macacos, coelhos e raposas são humoristicamente antropomorfizados, satirizando as condições da época (LUYTEN, 2000, p. 92). Um pouco mais adiante na história dos ê-makimonos, o Conto de Genji14 (Fig. 9) é a obra que equivale ao romance mais antigo escrito por uma mulher, Murasaki Shikibu. O mais longo em extensão, composta por 54 rolos é como uma novela: possui personagens principais, secundários (por volta de quatrocentos personagens) apresentando o crescimento destes, fisicamente e moralmente, ao passar do tempo. O enredo é bem desenvolvido e direcionado ao publico feminino. Apesar da história complexa, o trabalho é bem detalhado e há o diferencial de que cada personagem que não possui um nome explícito, são nomeados pela função de acordo com o roteiro, e sempre utilizando nomes honoríficos15, costumes adquiridos no período Heian16, onde era inaceitável mencionar os nomes de maneira familiar, é utilizado até hoje, não na mesma proporção, mas como sinal de respeito. Figura 9 (Fragmento) Cap.48 Yadori (“Hera”) de Genji Monogatari Emaki, Murasaki Shikibu. Museu de Artes, Nagoya, Japão. 1937. (Fonte:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Genji_emaki_YADORIGI_2.JPG> Acesso em 20 de ago. 2012). 14 Genji Monogatari no original. 15 Adj. Que traz consideração. 16 A divisão histórica japonesa (794 a 1185). Período marcado pela cultura chinesa, budismo, poesia e literatura. 27 Figura 10 Fragmento do trabalho sobre narrativa para a disciplinade Texto & Imagem para a Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, UNESP Bauru, 2012. Autores: Francine Santiago e Tamires Fernandes baseado em Ê-Makimonos. Durante o Período Edo17, o Ukiyo-ê18 apareceu como estilo de xilogravura inicialmente monocromática e essencialmente filosófica até hoje estudadas e apreciadas. Criado por Hishikawa Moronobu (1681), o ukiyo-ê retratava atores kabuki19, lutadores de sumô e paisagens. Por ser xilogravura, cópias idênticas podiam ser produzidas em grande escala tornando-as acessíveis a todas as classes sociais. Katsuhika Hokusai foi o artista mais conhecido para este estilo e precursor do mangá atual. Suas gravuras eram inovadoras pelas cores, retratando suas viagens, flora, fauna, lendas e erotismo também resultantes do aumento da demanda do entretenimento e movimento monetário devido ao sistema feudal implantado pelo xôgun. Entre os expoentes do Ukiyo-ê, [...] Katsushita Hokusai (1790 – 1849) destaca-se para nosso estudo, pois ele foi a primeira pessoa a cunhar a palavra mangá. Ele trabalhou em muitos estilos e, no final de sua carreira, desenhou sua obra mais famosa, As 36 vistas do monte Fuji [Fugaku Sanju Rokkei], bastante conhecida no mundo ocidental. (LUYTEN, 2011, p.84). Sendo o primeiro artista a usar a palavra mangá, um de seus trabalhos foi assim nomeado. O Hokusai Mangá é o conjunto de quinze obras que retratam a movimentação do período Edo. É o espelho da vivência do autor que soube captar e ilustrar a vida como um 17 Conhecido como Período Tokugawa ou Xogunato. O país era governado por Xoguns da família Tokugawa até a restauração em 1868. 18 Estampas japonesas similares a xilogravura. 19 Teatro Kabuki. Teatro dramático japonês. 28 todo, caricaturando classes, sociedade e personalidades. Entretanto, este foi apenas o início do mangá atual, existindo vários artistas que seguiram o mesmo estilo que Hokusai em trabalhos populares ou não, como pequenas pinturas em amuletos budistas, os Otsu-ê (Desenhos de Otsu) que percorreram o país se tornando populares e evoluindo para livretos de cartuns (LUYTEN, 2011, p.84). No início do século XX, a absorção da cultura ocidental foi inevitável. O Imperador Meiji visava o desenvolvimento do país a partir da ocidentalização de um modo geral. Tratados ocidentais foram selados: armamento, roupas, mantimentos ocidentais foram introduzidos no país devido o interesse ocidental na pesca das baleias. A Era Meiji20 ou a Era Ocidental, foi promovida pelo Comodoro Matthew Perry, os ê- makimonos foram substituídos por livros e as estampas foram destinadas às ilustrações de textos. Porém, a evolução dos mangás seguiu seu próprio trajeto no Japão, assim como no mundo. A chegada dos cartuns europeus em terra nipônica, juntamente com as novas tecnologias, causou grande alvoroço assim como todo e qualquer produto ou costume ocidental pois, até então, o contato com o ocidente fora restrito e, no período Edo, praticamente nulo. Figura 11 A Grande Onda de Kanagawa, a mais famosa obra de Katsuhika Hokusai da série Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji (1823-1829). (Fonte:< http://nankinn.blogspot.com.br/2009/06/ai-ai-ai-ai-ai.html > Acesso em 20 de ago. 2012). 20 A Era Meiji, o início da Era Moderna (1868 – 1912). http://pt.wikipedia.org/wiki/1823 http://pt.wikipedia.org/wiki/1829 http://nankinn.blogspot.com.br/2009/06/ai-ai-ai-ai-ai.html 29 Figura 12 Imagem reconhecida como Hokusai Mangá, estudo de movimentos, sendo o trabalho precursor do mangá atual. (Fonte:<http://nankinn.blogspot.com.br/2009/06/ai-ai-ai-ai-ai.html> Acesso em 20 de ago. 2012). Em formato humorístico, a Japan Punch introduziu as charges no universo japonês. “Os cartuns jornalísticos eram um novo tipo de humor e arte para os japoneses e estes ficaram tão fascinados que até editaram uma versão traduzida do Japan punch.” Mas somente em 1877 o Japão criou uma revista própria ilustrada, a Marumaru Shinbum publicando charges, cartuns, ilustrações, caricaturas no estilo europeu, a partir de Charles Wirgman (1835 – 1891) e George Bigot (1860 – 1927), que utilizavam balões de fala e sequência em seus trabalhos. Poucos anos após, os japoneses voltaram seus olhos para os Estados Unidos e para Yellow Kid, o predecessor do gênero e seguindo o estilo, Rakuten Kitazawa (1879 – 1955) criou a primeira serie quadrinizada, porém, ainda sem balões. Em 1905, no meio da guerra Russo-Japonesa, ele formou sua própria revista, o Tokyo puck; a capa do primeiro número mostrava o czar mordendo seu umbigo em sinal de ilustração. O Tokyo puck, com uma circulação de mais de cem mil exemplares tornou Kitazawa rico e famoso, e ele prosseguiu editando outras revistas, bem como treinando jovens artistas. (SCHODT, 1983 apud LUYTEN, 2011, p.87) Traçando seu caminho através das dificuldades geradas pelo fim do feudalismo, a crise de 1929 até o início da Segunda Guerra Mundial, os mangás evoluíram de simples coleções http://nankinn.blogspot.com.br/2009/06/ai-ai-ai-ai-ai.html 30 de livros infantis para leitura direcionada. Ou seja, cada gênero ganhou um estilo próprio, mas não tão abrangente quanto no período pós-guerra. Durante esse período, os quadrinhos eram destinados ao público adulto, aos jornais, assim como o formato ocidental. Entretanto, com a mudança do público e publicações, enredos e estilos foram direcionados a vários gêneros: como Shounen (para garotos), Shoujo (para garotas), Seinen (para homens), Josei (para mulheres), Kodomo (para criança), entre outros. O formato se espalhou e se popularizou pelo país. Houve uma explosão de novos temas para canalizar a agressividade, como o boxe e a luta livre; focalizando esses esportes, a hostilidade seria descarregada de forma positiva (LUYTEN, 2011, p.19). O período pós-guerra foi decisivo nessa evolução de estilos, pois a guerra e outros fatores ligados aos enredos patrióticos despertaram o sentimento de mudança e o aparecimento de inúmeras crianças e desenhistas. Tornaram-se grandes mangakás21 para a atualidade como Keiji Nakazawa (sobrevivente da Segunda Guerra) e Osamu Tezuka, sendo o segundo participante do movimento Akai Hon (Livros Vermelhos) no qual pequenas séries quadrinizadas eram publicadas em material de baixo custo/ qualidade no pós-guerra devido à grande procura por entretenimento. Para entender o grande passo dos mangás no Japão, no Brasil e no mundo, podemos citar Osamu Tezuka como influência direta do estilo: os grandes olhos. Como descreve Francisco Sato: Osamu Tezuka é o "divisor de águas" da história do mangá e do animê. Nascido na cidade de Osaka em 1926, filho de uma família de classe média, ele logo revelou uma forte tendência para criar histórias e desenhar. Suas grandes influências vinham das tiras cômicas que eram publicadas nos jornais e dos desenhos animados do pioneiro Walt Disney. Aos 13 anos, ele já desenhava quadrinhos cômicos para seus colegas de escola. (SATO. In <http://www.culturajaponesa.com.br/htm/osamutezuka2.html>; acesso em 28 de jul. 2013). Ao se mudar para a cidade de Takarazuka, na província de Hyogo, aos cinco anos, o pequeno Osamu Tezuka conheceu o Teatro Takarazuka, um estilo teatral nascido pela mistura entre o Teatro Nô, o Kabuki e os costumes ocidentais, regido por mulheres para mulheres, ao contrário dos citados contendo temas românticos, sonhadores e fantasiosos. A inspiração para as criações surgiu das atrizes do Takarazuka que se apresentavam com os 21 Lit. desenhista de quadrinhos, cartunista. 31 olhos bem maquiados, aumentados e que, sob os refletores, pareciam conter uma estrela brilhante (LUYTEN, 2011, p.111). Mas isto não era única fascinação de Tezuka, que obteve contato com os clássicosDisney no pós-guerra e, a partir de seu sketchbook22 apareceram os olhos grandes e muitos personagens conhecidos. Todas as suas produções totalizam cento e cinquenta mil páginas divididos em setecentos mangás. Tezuka criou seu próprio estilo de desenho que influenciou diretamente os mangás da atualidade. Amigo de Maurício de Sousa, juntos ambicionaram unir os estilos em um único trabalho, porém Tezuka faleceu em 1989, antes de concluírem o projeto. Em entrevista para a revista Henshin número trinta, Mauricio de Sousa fala sobre seu relacionamento com o amigo nipônico e sobre seu trabalho. Explica que seu traço foi modificado com o tempo, a partir das contratações de japoneses para a produção da Turma da Mônica, o que deixou o traço mais refinado e parecido com mangás. Após seu primeiro trabalho publicado no Japão - o Horácio, Maurício passou a manter contatos com produtores e desenhistas japoneses, sendo o primeiro contato com Tezuka. Décadas após a sua morte (28 de Fevereiro de 2011), Maurício de Sousa publicou as edições quarenta e três e quarenta e quatro da Turma da Mônica Jovem (Fig. 14) que apresentam um crossover23 de seus personagens e de Tezuka. Anteriormente, Maurício de Sousa lançou um dos títulos mais conhecidos de Tezuka: A vida de Budah (2005). Tezuka e Mauricio estabeleceram uma profunda amizade na década de 1970 que perdurou até a morte do criador japonês, em 1989. Durante esse período, eles fizeram dezenas de planos, sempre com o objetivo de cruzarem suas criações, porém nunca deu certo. Hoje, mais de 2 décadas após a morte de Osamu, o sonho vira realidade. E em grande estilo, já que trata-se da primeira vez que os personagens do grande mestre são produzidos não só fora do Japão, mas também por outro estúdio. É uma vitória para Mauricio, que atesta a força que ele tem hoje no mercado internacional. (CALLARI, Alexandre. In <http://pipocaenanquim.com.br/quadrinhos/mauricio-de-sousa-e-osamu- tezuka-juntos-fomos-ao-evento-de-lancamento/>; acesso em 28 de jul. 2013). 22 Cadernos para esboços e rascunhos 23 Um crossover na ficção ocorre quando dois ou mais personagens de diferentes histórias e universos interagem um com o outro. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Crossover_(fic%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em jan 2014). 32 Figura 13 Foto e fragmento da caricatura de Maurício de Sousa e Osamu Tezuka. (Fonte:< http://pipocaenanquim.com.br/quadrinhos/mauricio-de-sousa-e-osamu-tezuka-juntos-fomos-ao-evento-de- lancamento/> Acesso em Julho de 2013). Figura 14 Capa da Edição nº 43 Turma da Mônica Jovem. Contém os personagens de ambos artistas. (Fonte:<http://pipocaenanquim.com.br/quadrinhos/mauricio-de-sousa-e-osamu-tezuka-juntos-fomos-ao-evento- de-lancamento/> Acesso em Julho de 2013). Apesar dos mangás terem atracado nos portos brasileiros junto com os imigrantes em 1908, tornou-se febre entre fãs de quadrinhos posteriormente, na década de 80, devido as animações made in Japan. Atingiu seu ápice com a chegada da internet e mídias. 33 Em 1994, com a animação Os Cavaleiros do Zodíaco (Masami Kurumada, 1986 – 1991), televisionada pela extinta Rede Manchete, os mangás ganharam espaço permanente nas bancas, ao lados das comics e das primeiras revistas informativas sobre a cultura japonesa, animês e mangás. A partir dessas publicações, foi possível localizar os primeiros brasileiros a criar quadrinhos sob o estilo oriental como Erica Awano, formada em letras pela USP – SP. É mangaká desde 1996, já trabalhou com Leah Moore24 na adaptação de Alice no país das Maravilhas (2005) além de suas próprias criações; Erica Horita, e o famoso grupo de desenhistas, Studios Seasons, seguindo o estilo shoujo, assim como o grupo japonês CLAMP25, entre outros; Claudio Seto (1944 – 2008), Fabiano Dias. Os irmãos Paulo e Roberto Fukue e Fernando Ikoma são desenhistas mais experientes que retornaram com seus trabalhos no mesmo período através da a Editora Edrel (1966) e seu idealizador Minami Keizi. Atualmente, com a cultura japonesa e seus mangás mais difundidos no Brasil, é importante citar as inúmeras formas de apresentação das criações nacionais do gênero. Os fãs estão cada vez mais próximos das criações e vice-versa, pois, muitos destes, abandonaram a postura de leitores, apenas, para esboçar seus personagens preferidos e posteriormente, os personagens e roteiros de própria autoria. Em busca da criação perfeita, muitos se dedicam a cursos, sendo presenciais ou online, para a evolução do próprio estilo, buscam formas de propaganda e, enfim, uma possível publicação. Desenhistas independentes ainda buscam por sites de colaboração coletiva para a publicação solo de seus trabalhos, como no caso de Tools Challenge (2013), por Max de Andrade. No momento, o Brasil possui revistas exclusivas para histórias nacionais, mas as que se destacam são as revistas físicas Ação Magazine (Fig. 15) publicada pela Editora Lancaster e a Desenhe & Publique publicada pela Editora Escala. A revista digital Conexão Nanquim é o periódico com mais publicações feito de fãs para fãs; o mesmo grupo criou recentemente a revista Popcake Magazine (Fig. 15), pensando exclusivamente no público feminino. A autora deste trabalho de conclusão de curso participa do editorial da Popcake Magazine, assim como outros fãs; também criou personagens e buscou aperfeiçoamento do estilo além de participante de inúmeros concursos de ilustrações e mangás, possui menções honrosas e premiações. 24 Leah Moore, filha de Alan Moore, criador de Watchman e V de Vingança. 25 Studio CLAMP, grupo de desenhistas formado somente por mulheres, sendo seu principal foco, o Shoujo Mangá. 34 Segundo Sidney Gusman, atualmente, os mangás são os únicos formadores de leitores no Brasil, afirmando a partir de três pontos específicos, sendo o primeiro o ciclo completo da história, que geralmente apresenta começo, meio e fim, não importando o número de edições; a interação mangá, televisão e cinema promovidos pelos japoneses e o tratamento dos personagens relacionado ao aspecto humano, ganhando a simpatia do leitor (GUSMAN in LUYTEN, 2005). Gusman cita ainda que, devido ao hobby no qual os mangás se transformaram, o mercado editorial nunca passou por situações e números como agora, desde a chegada dos animês e de alguns exemplares de Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco às bancas. Porém é um hobby para poucos devido aos inúmeros títulos disponíveis e valores. Figura 15 Capa da revista digital Conexão Nanquim, edição nº 8 e Popcake Magazine nº1, ambas pela Editora Reação. (Fonte:< http://www.conexaonanquim.com.br/edicoes/>Acesso em Julho de 2013). 35 3 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: DA REALIDADE À FICÇÃO Enquanto narrativa e arte, as HQs, em suas diferentes formas de manifestação, acompanharam a evolução humana desde seus primeiros passos até a atualidade; acompanharam revoluções, guerras, emoções, vidas e mortes. Como instrumento comunicativo, assim como inúmeros movimentos artísticos, sua função, igualmente de seus criadores é expor incontáveis motivos para a criação, seja emocional, seja informativo, seja real, seja fictício ou ambos, não importando o meio no qual está inserido. A arte, acima de tudo, expõe o interior de seu criador. Os quadrinhos, assim como incontáveis obras artísticas, em algum momento demonstrou um fato vivenciado por seu criador, porém, as possibilidades de instrumentar diversas situações em sua narrativa o torna diferenciado, igualmente as possibilidades de reprodução em grande escala. Segundo Cirne (apud CASTRO, 1970, p.12), a técnica de reprodução dos quadrinhos beneficia-se de sua versatilidade, algo que nenhuma obra de arte experimentaria por ser não reprodutível, sendo consequência derelações tecnológicas e sociais. Essa característica específica dos quadrinhos é vantajosa na questão tempo e espaço, durante a criação. Seguindo este raciocínio, este capítulo demonstra a participação histórica, social e fictícia da nona arte na evolução de seu estilo, da humanidade e de conceitos incluindo seus próprios passos e dificuldades de evolução. Faz relações históricas e fictícias, unindo-as em narrativas diferenciadas, em vários aspectos, além do cultural. 3.1 Histórias em Quadrinhos Participando da História A história das histórias em quadrinhos foi dividida em seis períodos. O período mais turbulento está entre os anos de 1940 a 1948, denominado o período da crise, onde há a influência direta da Segunda Guerra Mundial. Com a entrada dos EUA na Guerra, a 8 de dezembro de 1941, os desenhistas de HQ colaboraram com o governo americano, transformando seus personagens e suas histórias em verdadeiras aras de propaganda. Joe Sopapo, Jim das Selvas, Dick Tracy, 36 Scorchy Smith, Charlie Chan, Tarzan, O Super-Homem, Terry e outros entraram em luta contra os japoneses, desfizeram intrigas inimigas, derrotaram espiões e sabotadores, estabeleceram bases secretas na África, enfim, tomaram parte ativa na Guerra. (ANSELMO, 1975, p.56) Dentre tantos, o Capitão América foi o mais reconhecido dos super-heróis nascidos sob o patriotismo americano e desapareceu logo após o conflito, ressurgindo novamente em Os Vingadores (Marvel, 1960). Um dos motivos seria o contexto no qual a personagem foi criada. Em 1940, os EUA não faziam parte da Guerra enquanto a Alemanha Nazista atacava a Europa. Precisavam de um motivo para participar do confronto com o apoio da população americana, então a propaganda foi o primeiro passo para as histórias do Capitão América em 1941. O personagem foi inserido no contexto da Guerra a fim de promover a união dos cidadãos americanos e conscientiza-los da necessidade do conflito em prol de um bem maior. Steve Rogers, um rapaz simples, franzino e sem maiores habilidades encontrou um jeito de servir aos Estados Unidos se submetendo a testes do exército para se tornar o “[...] heroico, atlético e incrivelmente forte e hábil Capitão América. Já na capa da edição inicial do gibi, lançado em março de 1941, o personagem aparece socando Hitler no rosto” (CARVALHO, 2006, p.65). Assim, na Segunda Guerra Mundial, os países envolvidos utilizaram os meios de comunicação para convencer o público que o inimigo era detestável e terrível, ao passo que as suas próprias forças eram boas e imbatíveis. Com os quadrinhos, em especial os de super-heróis, não foi diferente (CARVALHO, 2006, p.62). A história do Capitão Steve Rogers foi adaptada inúmeras vezes para o cinema; em 1944, 1979, 1990 e em 2011, onde a essência foi preservada e os traços da Segunda Guerra foram mantidos. Capitão América, O Primeiro Vingador (Paramount; Marvel, 2011) foi explorado e adaptado conforme as necessidades atuais (efeitos especiais) mantendo a mesma empolgação e expectativa que nos primeiro números dos quadrinhos, observada pelo banner do último filme (Fig. 16), comparando-a com a capa da primeira publicação. Sua participação nos quadrinhos não termina após a Segunda Guerra ou com o fim do filme. A Marvel26, responsável pelas publicações e produções dos filmes, introduziu o 26 Marvel Comics teve seu início em 1930 sob o nome de Timely Comics. 37 personagem em outras histórias e aventuras interligadas ou não à sua história, história geral e a um bem maior. Figura 16 Fragmentos de imagens para comparação: Capitão América em 1941 e o banner retrô do filme lançado em 2011 sob o mesmo contexto. (Fonte:< http://www.paraiba.com.br/2011/06/12/36026-cartaz-retro-de- capitao-america-faz-homenagem-a-primeiro-quadrinho-de-1941-compare> Acesso em Julho de 2012). Mas, enquanto o Capitão América participava de uma guerra, aos sete anos de idade, Keiji Nakazawa presenciava a guerra de maneira dolorosa perdendo toda a familia, menos sua mãe quando a sua cidade foi destruida pela Bomba Atômica. Em 1966, ao perder a mãe,começou a escrever histórias autobiográficas baseadas nas memórias de infância e, entre 1972 e 1973, foi lançado um de seus trabalhos mais conhecidos, Gen - Pés Descalços 27 (Fig. 17). Apesar de ter sido criado e publicado após a guerra, a história permite aos leitores ter uma visão ampla, o outro lado do conflito. O nome Gen foi dado ao personagem na esperança de que ele se tornasse a fonte de força para uma nova geração da humanidade (NAKAZAWA, 2003, p.15). 27 Gen é uma palavra japonesa que significa raizes ou fonte. É o nome dado ao protagonista da série quadrinizada. 38 Figura 17 Capas dos mangás de Nakazawa. (Fonte:< http://www.universohq.com/quadrinhos/gen.cfm> Acesso em 03 de set. 2012). Nakazawa transferiu toda a sua vivencia para os quadrinhos. O incrível é que, apesar de seu sofrimento, ele transmite uma mensagem sem rancores. A sua intenção é apenas alertar a humanidade sobre os horrores que uma guerra pode trazer. Por isso, para definir Gen, com absoluta precisão, basta acrescentar o sufixo “ial” ao seu título! Assim: GENIAL! (GUSMAN, Sidney. In <http://www.universohq.com/quadrinhos/gen.cfm>; acesso em 03 de set. 2012). Intencionalmente Mickey e Donald, personagens de Walt Disney participaram da ‘convocação’ dos HQs para a Guerra e, além do Capitão América, foram criados outros personagens como a Mulher Maravilha, cujo principal motivo de sua existência era a motivação feminina. Criada pelo psicólogo William Moulton Marson e desenhada por HG Peter. Diana, a Mulher Maravilha procurou inflar a moral e a força feminina nesse período onde as perdas, depressão e abandono atingiam diretamente as famílias americanas. A Amazona nascera em uma ilha onde toda mulher é uma guerreira. Sua primeira aparição foi na revista All Star Comics em dezembro de 1941. O Autor acreditava que as mulheres poderiam se igualar aos homens e/ou superá-los em vários aspectos então criou a personagem a partir da força interior feminina. Ainda considerando a força feminina, em 1972 foi lançado o título Versailles no Bara de Riyoko Ikeda, ambientada na Revolução Francesa e ganhou o mundo sob diversos títulos como Lady Oscar em território americano e A Rosa de Versalhes, tradução literal no Brasil. A https://pt.wikipedia.org/wiki/Riyoko_Ikeda 39 protagonista é uma mulher, a rosa em meio aos homens já que foi criada pelo pai, recebendo a educação masculina direcionada as forças armadas francesas. Seu nome, Oscar François de Jarjayes (Fig. 18), é curiosamente utilizado a partir de personagens reais, segundo fontes não reconhecidas. Curiosamente, inúmeros quadrinhos obtiveram destaque a partir da guerra. Com o mundo dividido, o patriotismo preencheu a identidade dos personagens e igualmente de seu público. No Japão não foi diferente. Personagens foram embasados sobre as dificuldades financeiras e políticas, sendo cômicos e otimistas, como Norakuro, um cão soldado (seguindo o estilo dos antigos Chojugiga28) que alimentou a imaginação das crianças e, mesmo depois de anos e evolução do personagem, muitos desenhistas decidiram sua vocação par o desenho o partir desse cãozinho (LUYTEN, p.96, 2001). Figura 18 Retrato de François Augustin Reynier de Jarjayes (esquerda), hipoteticamente pai de Oscar François, a personagem principal de Rosa de Versalhes (direita). (Fonte: < http://en.wikipedia.org/wiki/Oscar_Fran%C3%A7ois_de_Jarjayes> Acesso em 16 de jul. 2013. Outros títulos do mesmo gênero apareceram Bonen Dankichi (Dankichi, O Aventureiro), Kasei Tanken (Expedição a Marte) e, a partir do início da guerra e do surgimento do Capitão América (como força de propaganda),o aparecimento de Fuku-Chan (O Pequeno Fuku) se fez necessário. Os desenhistas foram obrigados a criar quadrinhos de guerra sob a pressão da censura como propaganda aliada voltada para o espírito combatente. 28 Idem referência 11. Literalmente significa “caricatura de animal”. http://en.wikipedia.org/wiki/Oscar_Fran%C3%A7ois_de_Jarjayes 40 Fuku-Chan foi usado para esse fim inúmeras vezes como contrapropaganda, uma vez que os desenhos ocidentais foram ineficientes pois não atingiam os japoneses (LUYTEN, 2001, p.102). O período pós-guerra fez com que o povo japonês repensasse sua conduta e derrota. Diante das dificuldades, os Akai Hon (livros vermelhos), pequenos livretos de mangás de baixo custo começaram a circular pelo pais, dividindo gêneros de leitura, como já foi citado. Mas, entre tantos títulos que contém a história como pano de fundo, podemos citar ainda Kakan no Madonna (Lit.: A Madonna Coroada ‘com flores’, 1992) falando sobre o Renascimento Italiano; Rurouni Kenshin (Kenshin, O Andarilho, 1994) abordando a Revolução Meiji; Sora wa Akai Kawa no Hotori/ Anatólia Story (Lit.: Onde o Céu e o Rio Vermelho se Encontram) aborda as antigas civilizações, o reinado Suppiluliuma I (Império Hitita) e do Faraó Tutancâmon, baseando-se na história real de diversos personagens e batalhas; Bronze no Tenshi (Lit.: Anjo de Bronze) representando a Rússia do Século XIX e os títulos americanos Batman (1932) e Watchman (1986) sob o contexto da Guerra Fria. 3.2 Comics Versus Mangá: Samurais Contra Máquinas Durante uma pesquisa mais específica, foi possível encontrar momentos da história presentes na realidade, assim como descrito anteriormente, mas também as situações que não só interligam a realidade à ficção, assim como interligam culturas e as demais formas de arte. A partir do estudo do mangá Rurouni Kenshin29, podem ser observados outros trabalhos específicos como o enredo do livro Xôgum30 e o filme O Último Samurai desenvolvido pela Warner Bros Pictures (2003) que interagem entre si. As ligações entre estes três itens não se mantém apenas no cotidiano histório, e sim refletido no material fictício, podendo criar uma associação com detalhes do enredo das Comics, citando Iron Man31. Contendo a junções proprositais ou não por parte de seus autores, este capítulo pretende 29 Rurouni Kenshin: O andarilho Kenshin. No Brasil: Samurai X, Crônicas de um espadachim na era Meiji. Criado por Nobuhiro Watsuki. 30 Shôgun no original, escrito por James Clavell em 1975. 31 Iron Man: No Brasil, Homem de Ferro. Criado por Stan Lee, Larry Lieber, Don Heck e Jack Kirby em 1963 para participar da liga de heróis da Marvel Comics tendo sua primeira aparição em Tales of Suspense #39 em março do mesmo ano. 41 avaliar o contexto histórico com início na era Samurai através do mangá, tendo seu final na era informatizada. É importante igualmente fazer uma análise e uma apreciação artística do material em questão, pois está relacionado aos costumes de um povo milenar cuja história está marcada com sangue em nome da honra, tradição e respeito, sendo estes dois últimos, encontrados na atualidade japonesa. Relacionado à honra, nada é mais explícito do que a história de um samurai dentro de costumes atípicos aos olhos ocidentais. Para a introdução, deve-se considerar o significado da palavra Samurai e suas origens para maior identificação e assimilação do conteúdo proposto. Apesar de ser uma história extensa, alguns pontos específicos devem ser citados para a análise do personagem Himura Kenshin32 no mangá em questão. A palavra “samurai” significa servir, aquele que serve; historicamente, a vida e conduta se baseiam em servir ao feudalismo e ao seu povo. São “policiais rurais”, cavaleiros de elite, servos fiéis na era medieval japonesa, entre o século X e XIX. A origem dos guerreiros é repleta de mitos e folclore, mas hipoteticamente, o aparecimento dos samurais foi do mesmo modo que os cavaleiros europeus, há mil anos aproximadamente. Sua função era proteger o senhor feudal em troca de terras, empregados e arroz, assim conquistando territórios em batalhas intermináveis e assim foi feito por 700 anos. Diferentemente dos cavaleiros ocidentais, os samurais usavam vestes de couro e seda (com a exceção do capacete), em várias camadas impermeabilizadas, pois necessitavam de leveza para o estilo de luta, geralmente sobre cavalos com o manuseio de arco e flecha (Fig. 19). A beleza da armadura era proposital, nunca feita exclusivamente para a guerra, mas como vestimenta fúnebre e para o desfile vitorioso, como explica Miura Miromichi (RIBEIRO. In: O Samurai <http://www.osamurai.xpg.com.br/>) artesão responsável por restaurar as antigas armaduras para museus. Lutavam, inicialmente com a montaria, mas posteriormente, adquiriram novas técnicas de manuseio de espadas e Naginatas33 e batalha campal, principalmente após a invasão dos mongóis, uma das poucas vezes em que o Japão foi violado. As espadas também evoluíram com o estilo de luta e seus guerreiros, ganhando uma curvatura própria, sendo eternamente considerada o “Espirito Samurai”. 32 Personagem principal do mangá Rurouni Kenshin. 33Lâmina aplicada em uma haste longa semelhante a uma alabarda europeia (Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=zblKGd0d61s> Acesso em: 4 jul. 2013). 42 Figura 19 Vestes do guerreiro Samurai no período Muromachi (1338 – 1573 D.C). (Fonte:< http://www.rusmea.com/2012/11/prontos-pra-luta-as-vestes-dos-samurais.html> acesso em 05 de jul. de 2013. O estilo de vida era baseado no Bushidô34, ensinamentos e vivência budista além do respeito, ética e honra, no qual, este último era extremamente zelado, tendo em vista o Harakiri ou Seppuku como proteção à honra do guerreiro. Ainda hoje podemos perceber a relação entre equanimidade (mente euqilibrada), meditação (prática) e arqueria em A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, de Eugen Herrigel. O Harakiri literalmente ‘cortar a barriga’ é um dos intrigantes aspectos do código de ética e honra, onde, o suicídio é previsto em situações em que o guerreio julga necessário. O Seppuku é um termo formal para o mesmo ato, porém acometido através de uma cerimônia específica. Esse ritual era de grande significado para o povo japonês. Os pilotos Kamikazes espelhavam-se na coragem samurai, além do significado do seu nome, vindo de um tufão, com o mesmo nome, durante a guerra entre samurais e mongóis em 1281 d.C. A lenda retrata a evolução das técnicas de luta e a segurança do povo japonês após o primeiro ataque mongol que gerou imensas perdas, além da derrota em campo de batalha por não haver condições igualitárias. Sete anos após, os mongóis retornaram com sua frota completa, mas encontraram guerreiros bem preparados e um gigantesco muro de proteção, na 34 Lit. ‘O Caminho do Guerreiro’. Budismo. (Disponível em: <http://www.osamurai.xpg.com.br/page.htm>. Acesso em: 15 jun. 20013. http://www.rusmea.com/2012/11/prontos-pra-luta-as-vestes-dos-samurais.html 43 praia, estendido por toda costa japonesa obrigando-os a permanecer em alto mar e consumindo os suprimentos. O Japão não ergueu a espada devido ao tufão Kamikaze, ou ‘Vento Divino’ que destruiu toda a frota mongol. Porém, apesar de tardio, existiram consequências políticas e sociais a partir dos ataques externos: a guerra civil ou The Age of the Country at War (1467 a 1568). Com as terras conquistadas, os senhores passaram a lutar entre si. Não havia mais riquezas e os samurais não poderiam mais receber por seus serviços. Assim, o poder passou a ser de um grupo de guerreiros e senhores de terras, chamados de Daimyos35, no início do século XVI, sobre
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