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OS FAXINALENSES DE MELEIRO, SUAS LUTAS PELA TERRA E RECONHECIMENTO DA IDENTIDADE DE SEU MEIO DE VIDA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ 
 
 
 
 
 
 
ANTONIO ALCIR DA SILVA ARRUDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS FAXINALENSES DE MELEIRO, SUAS LUTAS PELA TERRA E RECONHECIMENTO 
DA IDENTIDADE DE SEU MEIO DE VIDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os faxinalenses de Meleiro e suas lutas pela terra, e reconhecimento da identidade de seu meio de 
vida. 
 Antonio Alcir da Silva Arruda – abr/2016 
 
 
Introdução. 
 
 A proposta desse ensaio é retratar o povo tradicional faxinalense, mais especificamente o Faxinal de 
meleiro. Esse Faxinal foi visitado pelos alunos do curso de geografia apoiados pela UFPR e acompanhados 
pelo titular da disciplina de geografia rural, Prof. Dr. Jorge Ramón Montenegro Gomez em abril de 2016, 
onde tivemos oportunidade de conhecer um pouco do meio de vida dessa comunidade composta por cerca 
de 70 famílias, instaladas em área de preservação permanente distante 60km de Curitiba e situada no 
município de Mandirituba , Estado do Paraná. Também é proposição retratar e relacionar seu modo de vida 
aos vários temas relacionados nos debates da disciplina de geografia rural do curso de Geografia da UFPR. 
Tais como: conflitos de uso do território, identidade, luta pela terra e reforma agrária, agroecologia, politicas 
públicas entre outros. 
 
1) Conhecendo hábitos e costumes de meleiro 
 Os faxinais se formaram no Paraná a partir do século 18, quando as fronteiras ainda eram 
construídas e havia vastas áreas não colonizadas no estado. Além dos imigrantes brancos, consta a 
participação de negros e indígenas nos sítios. Os grupos estão concentrados na região Centro Sul do 
Paraná, próximo à fronteira com Santa Catarina. A melhor definição de Faxinal conforme NERONE,2015 
que transcreve a definição de Faxinal por um legitimo faxinalense da comunidade de Marmeleiro na região 
de Rebouças- PR. “Faxinal é um modo de vida, de viver de se organizar dentro de uma comunidade em 
contato com meio ambiente, respeitando o meio ambiente, a cultura, o modo de produzir, de criar animais a 
solto usando a terra em comum e os recursos naturais, como a água e medicinais, é um modo de vida 
camponês, com uma organização camponesa, do mutirão, e conhecimento popular”. Os povos faxinalenses 
se reconhecem e são classificados como povos tradicionais, caracterizados pelo uso comum dos recursos 
florestais, hídricos e da terra.. Os faxinalenses afirmam sua identidade não apenas na sua relação com a 
terra e com os animais, mas também na constante mobilização coletiva em defesa da modalidade do uso 
tradicional dos recursos. Muitas das várias famílias não possuem o título de propriedade de suas terras mas 
mesmo assim habitam o faxinal, Em geral, as únicas partes das comunidades que são cercadas são as 
lavouras e os terrenos mais próximos das residências, onde alguns moradores mantêm algumas hortas para 
consumo próprio. Entre as moradias, em diversas comunidades faxinalenses, há uma área de vegetação 
nativa onde pastam e circulam livremente as reses dos moradores. Chamada de “criadouro comunitário”, 
esta área é delimitada por “mata-burros”, que são valas escavadas sobre as quais são construídas pontes 
com traves, dispostas paralelamente e espaçadamente, para impedir que os animais possam sair da 
propriedade. Cada família possui seus próprios animais e suas próprias lavouras. A maior parte da produção 
é voltada à subsistência das famílias, com eventuais excedentes podendo ser comercializados. 
 
2) Conflitos de uso da terra, território 
 
 Segundo a definição de território encontrada no artigo de SAQUET “ O território lugar corresponde 
ao espaço-tempo onde o povo vive, sente, percebe, reconhece, anda, aspira, sofre, interage (local e extra 
localmente; social e social-naturalmente), reconhece, luta, resiste, degrada, preserva, é extorquido, 
explorado, subordinado etc., Assim, o território e o lugar contêm relações sociais e relações sociedade-
natureza; conexões e redes; enfim, vida, além da produção econômica, natureza, apropriação, mudanças, 
mobilidade, identidade e patrimônio cultural (DEMATTEIS; GOVERNA, 2005). 
 Através dessa definição podemos constatar a existência dessa territorialidade no Faxinal Meleiro 
pois ela é conforme artigo de CANGUSSU e TOMASONI, 2014 uma comunidade composta por cerca de 70 
famílias, que, apesar de possuir sua certidão de auto reconhecimento da identidade faxinalense, por 
problemas burocráticos com o município, não é reconhecida como sendo uma Área que Uso Especial 
Regulamentado (ARESUR), unidade de conservação a partir da qual seria repassado uma parcela do ICMS 
ecológico para a manutenção dos bens coletivos da comunidade. Desde 2009, a comunidade está inserida 
na Articulação dos Povos Faxinalenses, sendo que recentemente participou da formação da Associação 
Articuladora dos Faxinalenses da Região Metropolitana (ASAFAXIM), com o objetivo de fortalecer a 
mobilização das comunidades faxinalenses situadas próximas da capital do estado. 
 Ainda segundo CANGUSSU e TOMASONI, 2014. Suas terras são vizinhas às de outros dois 
faxinais: Espigão das Antas e Pedra Preta.. Por acordo comunitário, cada família pode cercar vinte por cento 
da área de sua propriedade e é responsável por manter livre de dejetos uma extensão de 50 metros desde 
sua casa, independentemente de quem produziu tais dejetos. Porém, apesar do acordo comunitário, há a 
presença de famílias que cercaram toda a extensão de suas propriedades. Esses indivíduos, conforme 
depoimento do representante dos faxinais da região Sr. Amantino Sebastião de Beija, 40 anos, sujeitos de 
fora do Faxinal, especialmente chacreiros, ou descendentes de faxinalenses que não se reconhecem na 
tradicionalidade do uso da terra, acabam por serem a causa e o início de um conflito de uso da terra de 
forma diferente da tradicional, pois esses chacreiros cercam a propriedade adquirida de forma diferente da 
tradicional usada pelo Faxinal, quebrando assim a característica fundamental do conceito territorial de uso 
desse lugar denominado Faxinal que na criação coletiva dos animais soltos vêm essência de seu costume. 
Conforme NERONE, 2015, outra característica que pode gerar conflitos é quanto ao método de cercamento 
das propriedades coletivas que podem ser feitos por portões, que são elementos vitais nos faxinais, 
assegurando a paz ou promovendo conflitos na comunidade, devido a problemática de abertura ou 
fechamento dos portões, ato que assume caráter de elevada importância, visto que protege as lavouras do 
ataque dos animais. Além disso, é importante lembrar que nas estradas principais e internas do criadouro 
comum as pessoas circulam a pé, a cavalo e outros meios de transporte como automóveis, caminhões além 
de ônibus que transportam escolares, passando pelos portões que devem permanecer fechados. Em 
Meleiro os portões das ruas principais de acesso as redes foram substituídos por “mata-burros” que nada 
mais são que pontes com traves, dispostas paralelamente e espaçadamente, para impedir que os animais 
possam sair da propriedade. Em Meleiro um desses mata-burros foi retirado pela prefeitura sem nenhum 
tipo de consulta ou aviso causando a fuga de animais do criadouro coletivo, gerando então mais uma luta 
contra o poder do estado que desrespeita o faxinalense em sua identidade e função social. 
 
3) Em busca do reconhecimento da identidade faxinalense. 
 
 CANGUSSU e TOMASONI, relatam em seu artigo de 2014 sobre o Faxinal de Meleiro que existem 
faxinalenses compelidos a buscar fontes de renda nas zonas urbanas próximas que, em virtude da 
expansão do agronegócio (plantações de soja, fumo e eucalipto), da especulação imobiliária e das 
dificuldades enfrentadas pela agricultura familiar.abandonam as atividades agropastoris queestavam 
acostumados, mas que continuam morando na comunidade. Continuam a descrição; Os moradores 
comercializam o excedente da lavoura e alguns animais, tanto internamente quanto para fora da 
comunidade, apesar das dificuldades por causa das restrições da vigilância sanitária em face da criação dos 
animais soltos, em áreas de uso comum. Parte da comunidade trabalha nas cidades próximas, notando se, 
em especial, uma tendência dos jovens em buscarem empregos nas zonas urbanas. Para tanto, enfrentam 
dificuldades na locomoção, visto que há poucas linhas do transporte coletivo metropolitano na região e 
poucos ônibus circulando. Para algumas despesas coletivas da comunidade são organizadas festas anuais 
e recebidas colaborações da Igreja Católica. A educação das crianças e dos jovens se dá em uma escola 
rural estadual em uma comunidade vizinha, o Espigão das Antas. Porém, segundo relatos dos moradores, 
há pouco de rural no conteúdo lecionado na escola e uma completa omissão acerca da cultura e história 
dos povos faxinalenses. A água potável é obtida por meio de um poço mantido pela associação de 
moradores e o acesso à rede telefônica é muito precário. Há poucas linhas e as novas têm sido barradas 
nos últimos anos. Quase não há acesso à internet e o sinal de operadoras de celular se limita a TIM (com 
qualidade ruim). O acesso à saúde pública requer que os moradores se desloquem até as cidades da 
redondeza. É dessa forma que é caracterizado o lugar dos faxineleneses de Meleiro que pode ser definido 
dessa forma. “O lugar é produto das relações humanas, entre homem e natureza, tecido por relações 
sociais que se realizam no plano do vivido, o que garante a construção de uma rede de significados e 
sentidos que são tecidos pela história e cultura civilizadora produzindo a identidade, posto que é aí que o 
homem se reconhece porque é o lugar de vida” (CARLOS, 1996, p. 29). Há elementos fundamentais, 
evidentemente, nessa concepção, tais como identidade, pertencimento, relações sociais, redes, sentidos, 
história e natureza, numa ampla concepção do conceito de lugar que, por sinal, possibilita-nos refletir sobre 
aspectos que nos interessam, por exemplo, sobre identidade cultural, conflitualidade e sobre as relações 
sociedade-natureza.” Dessa forma é possível afirma que lugar e território se relacionam mutuamente, no 
nível do pensamento e da realidade, um está no outro, Estão em íntima relação com o espaço, com a 
paisagem e com a região. Lugar e território têm significados distintos, porém, não estão descolados um do 
outro, do mesmo modo que há unidade dialética entre espaço e território (SAQUET, 2005, 2009 e 2011a). 
Num lugar pode haver territórios e num território podem existir lugares, e o cercamento do chacreiro dentro 
do Faxinal acaba por interferir nesses conceitos de território e lugar que deveriam ser por definição, apesar 
de distintos no conceito ocuparem o mesmo espaço no tangente a identidade. 
 Assim, conforme o artigo de Saquet define há uma rede de lugares: “O lugar é produto das relações 
humanas, entre homem e natureza, tecido por relações sociais que se realizam no plano do vivido, o que 
garante a construção de uma rede de significados e sentidos que são tecidos pela história e cultura 
civilizadora produzindo a identidade, posto que é aí que o homem se reconhece porque é o lugar de vida” 
(CARLOS, 1996, p. 29). Há elementos fundamentais, evidentemente, nessa concepção, tais como 
identidade, pertencimento, relações sociais, redes, sentidos, história e natureza, numa ampla concepção do 
conceito de lugar que, por sinal, possibilita-nos refletir sobre aspectos que nos interessam, por exemplo, 
sobre identidade cultural, conflitualidade e sobre as relações sociedade-natureza” e que se encaixa 
perfeitamente com essa relação rural urbana manifesta em Meleiro. 
 Continua o artigo de Saquet em sua definição de identidade; “As identidades não desaparecem 
totalmente, reproduzem-se material e imaterialmente: são construídas, desconstruídas e reconstruídas 
historicamente no processo de territorialização, desterritorialização e reterritorialização (RAFFESTIN, 1984 e 
2003; HAESBAERT, 1997; SAQUET, 2003 [2001] e 2007). Esse processo pode ser denominado de 
renovação da identidade (RULLANI, MICELLI e DI MARIA, 2000). Trata-se de uma problemática histórica e 
relacional, consoante também nos orienta Raffestin (1978, 1984 e 2003). Assumimos, portanto, uma 
compreensão ampla de identidade, conforme mencionamos em Saquet (2007), como produto histórico, 
relacional e condição para o desenvolvimento. A identidade significa unidade dialética (relacional) e saltos 
quantitativos e qualitativos (processuais) nos termos indicados por Lefebvre (1995 [1969]), envolvendo 
pessoas e relações econômicas, culturais e políticas sem descolamento da natureza, do lugar e do território. 
Na reportagem da Gazeta do Povo de 13/03/2013 é produzida a reportagem sobre a identidade dos 
faxinais. Relata a reportagem, que, quando alguém viaja para a região com o intuito de conhecer os faxinais 
localizados em Mandirituba e Quitandinha ao perguntar o endereço exato aos moradores da região ouvirá 
uma série de “ Não sei não, senhor” . Justifica-se pelo desconhecimento pela a maioria dos habitantes da 
região, que chamam as terras destinadas ao uso compartilhado dos agricultores de “criadouros”, ou 
simplesmente “criadores” e não Faxinal. O desconhecimento em relação ao nome revela um ponto 
fundamental da relação entre os grupos e o entorno. Embora o trabalho dos faxinalenses seja conhecido 
localmente, a importância histórica desse modo de produção ainda não possui nenhuma visibilidade para 
seus vizinhos. 
 
4) A agroecologia, agricultura familiar e a ameaça do hidroagronegócio 
 Cada família possui seus próprios animais e suas próprias lavouras. A maior 
parte da produção é voltada à subsistência das famílias, com eventuais excedentes podendo 
ser comercializados. No Faxinal de Meleiro as lavouras são basicamente voltadas para as sementes 
crioulas de milho e feijão, além de batata, se usada a palavra crioula, subentende-se a ausência de 
produtos químicos para alavancar a produtividade e dessa forma podemos afirmar que a produção agrícola 
faxinalense é totalmente agroecológica. Na visita que fizemos a essa comunidade não foi percebido ou 
discutido a presença do agronegócio interferindo no meio de vida dos faxinalenses,conforme 
MARCOS,Valeria – que explica a presença do agronegócio em outras regiões do Brasil como sendo 
sentidas de forma avassaladora.“Na agricultura modernizada a produção de alimentos se torna produção de 
mercadorias e muitos agricultores e camponeses, que antes produziam para o autoconsumo e 
comercializavam o excedente, perdem seu espaço para as empresas rurais. Neto (1990) reforça a 
afirmativa quando diz que: com este processo de transformação da agricultura, os chamados agricultores 
cuja principal determinação da produção é o consumo próprio da família trabalhadora, levando ao mercado 
apenas o excedente da produção – vão dando lugar ao surgimento das empresas rurais, capitalistas, onde 
as determinações do mercado e a racionalidade do lucro são os condicionantes fundamentais do processo 
de produção. (NETO, 1990, p. 26). O agricultor/camponês perde sua autonomia e sua produção é voltada 
para atender as demandas do mercado. Como o mercado tem pressa de obter lucros cria as condições para 
elevar a produtividade, o que é alcançado com o uso de fertilizantes, adubos químicos e venenos. Acontece 
que a produtividade pode até aumentar, mas a qualidade dos alimentos não é a mesma, e ainda, para ter 
como comprar todos esses agentes químicos o produtor acaba se endividando e, muitas vezes é obrigado 
até a vender sua propriedade. Diante dos efeitos socioambientais causados pela modernização da 
agricultura, o cultivo das sementes crioulas significaa recuperação da autonomia do camponês e também o 
resgate da sociobiodiversidade e da cultura das populações locais que estão sendo perdidas com o passar 
dos anos. As sementes não pertencem à indústria e, sim, ao homem do campo, como antes, quando os 
cultivos eram feitos de forma agroecológica. Se muitos pensam que a agroecologia é uma coisa nova, 
enganam-se, não é, com a introdução do capital e da agroindústria no campo é que essas práticas foram 
sendo induzidas ao esquecimento. Com a modernização, a transformação da agricultura foi tão intensa e 
agressiva que agora a agroecologia ressurge como alternativa de dias melhores para o trabalhador 
camponês, bem como para os consumidores, preocupados com uma alimentação mais saudável. Outra 
consequência da modernização da agricultura é o intenso uso de venenos os mais 
diversos nas plantações, denominados agrotóxicos e, para aqueles, que apostam no modelo monocultor 
agroquímico de “defensivos agrícolas”. O uso inadequado de agrotóxicos tem causado a morte de milhares 
de trabalhadores do campo por envenenamento. Essas substâncias significam um perigo para quem as 
manuseia e, também, para quem consome alimentos envenenados.“ 
5) Politicas públicas e mobilização das comunidades faxinalenses 
 A reportagem da gazeta do povo de 13/03/2013 ,continua; “Por causa da falta de visibilidade , os 
faxinalenses passaram a última década articulando organizações formais com o objetivo de firmar posição 
enquanto grupo e ganhar músculo para reivindicar o reconhecimento dos faxinais como comunidades 
tradicionais, o que permitirá a implantação de políticas públicas específicas para o segmento. Apoiadora 
desse movimento, a ONG Fundo Brasil de Direitos Humanos está investindo em um projeto de instrução 
jurídica para os agricultores comunitários. A partir de 6 de abril, eles passarão a ter aulas com professores 
de Direito, que abordarão desde a Constituição até a legislação específica para as comunidades tradicionais 
e agricultura familiar. Serão seis faxinais visitados neste primeiro convênio, nas cidades de Mandirituba e 
Quitandinha.” “Os faxinalenses precisam tomar conhecimento das leis que lhes amparam, para então saber 
do poder que têm. Ninguém vai lutar por um direito que desconhece”, aponta Amantino Sebastião de Beija, 
representante da coordenação executiva da Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses, que congrega os 
faxinais do Paraná. De acordo com a entidade, existem 227 grupos no estado, contra 44 cadastrados pelo 
Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Os agricultores estão concentrados principalmente na região centro-sul, 
em Prudentópolis, Irati, Mandirituba e Quitandinha, onde se reúnem até 50 mil faxinalenses. Com o apoio do 
Instituto Equipe de Educadores Populares, uma associação sediada em Irati, os primeiros faxinais 
começaram a se unir no Puxirão, que caminha a passos lentos, porém firmes. Trinta grupos estão 
oficialmente articulados, com alguns outros em vias de ser oficializados na entidade.“ 
 As reivindicações são diferentes, mas aproximadas. No caso específico do Faxinal Meleiro, a luta é 
ser reconhecido como Área Especial de Uso Regulamentado (ARESUR), o que permite à comunidade gerar 
o ICMS ecológico. Esse valor é repassado pelo governo estadual ao município, que tem obrigação de 
reinvestir parte do dinheiro em melhorias para a comunidade. Em nossa Visita o Sr. Amantino Sebastião de 
Beija pediu para ser lida uma carta enviada as autoridades onde solicita o reconhecimento do Faxinal de 
Meleiro. Uma das necessidades do Faxinal é o que se chama de cartografia social e nas palavras de 
Amantino Sebastião de Beija a justificativa da reivindicação “...tendo a cartografia, penso que é um 
documento a mais que vai, não só na nossa região...mas, isso vai se expandir para todas as partes do 
Paraná também...E daí vai ficar conhecido que em Mandirituba também existe o Faxinal...É um instrumento 
a mais em nossa vida em busca de nossos direitos” 
 Por outro lado em esfera federal os povos tradicionais podem contar com a,existência da Comissão 
Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT) tem como 
missão pactuar a atuação conjunta de representantes da Administração Pública direta e membros do setor 
não governamental pelo fortalecimento social, econômico, cultural e ambiental dos povos e comunidades 
tradicionais. Entre suas principais atribuições estão coordenar e acompanhar a implementação da Política 
Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo O 
Decreto nº 6.040/07. A CNPCT também propõe princípios e diretrizes para políticas relevantes ao 
desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais no âmbito do Governo Federal. Como 
resultado direto de atuação da instância, a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e 
Comunidades Tradicionais foi elaborada tendo como principal objetivo a promoção do desenvolvimento 
sustentável desses grupos com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos seus direitos 
territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, respeitando e valorizando suas identidades, formas 
de organização e instituições.
Considerações finais 
 
 Quando fomos fazer a visita ao Faxinal de Meleiro, quisemos imaginar um lugar habitado por 
sitiantes, sem nenhuma ação social estagnada no tempo, e um ambiente por assim dizer desértico em 
função dos moradores estarem nas lavouras, e que essa visita seria de uma monotonia interminável. No 
entanto, no coração do Faxinal em seu salão rústico de encontro social com paredes laterais praticamente 
abertas e muito bem ventiladas, junto aos colegas universitários e com a presença do representante 
regional dos faxinalenses Sr. Amantino Sebastião de Beija, várias vezes citado nesse ensaio em função de 
sua importância para os povos tradicionais da região e arredores, percebemos que estávamos em uma 
complexa sociedade com acordos e tratos muito bem definidos apesar de não escritos e que a 
responsabilidade do meio de vida escolhido por eles, antes pelos seus ancestrais, são mantidos de forma 
quase totalitária nas cerca de setenta famílias que convivem na comunidade. Para o curso de Geografia na 
disciplina de geografia rural, a importância da visita a uma comunidade como essa é extremamente 
necessária para que o universitário tenha na educação do campo a chave do conhecimento da realidade 
que seria impossível ser transmitida na sua totalidade dentro da sala de aula. 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
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XXI ENGA-2012, p. 1-30, jun., 2014. 
 
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Luta por reforma agrária no Brasil contemporâneo: entre continuidades e novas questões – Medeiro, 
Leonilde Servolo de - Políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil / Organizadores Catia Grisa [e] 
Sergio Schneider. – Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2015. 
 
Trabalho e saúde no ambiente destrutivo do agro hidronegócio canavieiro no Pontal do Paranapanema, 
THOMAZ JUNIOR, Antonio - Revista Pegada – Vol 15 n2 São PauloBrasil - Dezembro/2014 
 
Sistema Faxinal – Terras de plantar, terras de criar -NERONE, Maria Magdalena, editora UEPG – Ponta 
grossa – PR 2015 
 
Artigo - O Faxinal do Meleiro perante os estudantes de direito – CANGUSSU,Kauan Juliano TOMASONI, 
Bruna Maria Wisinski - Universidade federal do paraná 2014 
 
http://www.mma.gov.br/desenvolvimento-rural/terras-ind%C3%ADgenas,-povos-e-comunidades-tradicionais 
acessado em 20/04/2016 
 
http://www.mma.gov.br/desenvolvimento-rural/terras-ind%C3%ADgenas,-povos-e-comunidades-
tradicionais/comiss%C3%A3o-nacional-de-desenvolvimento-sustent%C3%A1vel-de-povos-e-comunidades-
tradicionais - acessado em 20 de abril de 2016

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