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A fragmentariedade do Direito Penal tem como consequência uma construção tipológica individualizadora de condutas que considera gravemente lesiva de determinados bens jurídicos que devem ser tutelados. A lei, ao definir crimes, limita-se, frequentemente, a dar uma descrição objetiva do comportamento proibido. Em muitos delitos, o legislador utiliza-se de outros recursos, doutrinariamente denominados elementos normativos do tipo ou subjetivos do tipo, que levam implícito um juízo de valor. A teoria do tipo criou a tipicidade como característica essencial da dogmática do delito, fundamentando-se no conceito causal de ação. Reconhecendo desde logo a unidade do delito (crime), destacamos a necessidade metodoglógica de distinguir suas características em tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade. Conjunto de elementos do fato punível descrito na lei penal, o qual exerce uma função limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes. É uma construção que surge da imaginação do legislador, que descreve legalmente as ações que considera, em tese, delitivas. TIPO é um modelo abstrato que descreve um comportamento proibido. Cada tipo possui características e elementos próprios que os distinguem um dos outros, tornando-os todos especiais, no sentido de serem inconfundíveis, inadmitindo-se a adequação de uma conduta que não lhes corresponda perfeitamente. Cada tipo desempenha uma função particular, e a ausência de um tipo não pode ser suprida por analogia ou interpretação extensiva. Operação intelectual de conexão entre os fatos possíveis da vida real e o modelo típico descrito na lei. Essa operação consiste em analisar se determinada conduta apresenta os requisitos que a lei exige, para qualificá-lo como infração penal, chama-se “juízo de tipicidade”, que cumpre uma função fundamental na sistemática penal. Quando o resultado desse juízo for positivo, significa que a conduta analisada reveste na tipicidade. No entanto, quando o juízo de tipicidade for negativo, estamos diante da atipicidade da conduta. Decorrência natural do princípio da legalidade (nullun crimen nulla poena signe previa lege), a conformidade do fato praticado pelo agente com a moldura abstratamente descrita na lei penal. Para ser adjetivado de típico, um fato precisa adequar-se a um modelo descrito na lei penal. A adequação típica pode se dar de forma imediata ou mediata: MEDIATA: quando o fato se subsume imediatamente no modelo legal, sem a necessidade da concorrência de qualquer outra norma – matar alguém. IMEDIATA: Exceção à regra. Necessita da ocorrência de outra norma, secundária, de caráter extensivo, que amplie a abrangência da figura típica. Nesses casos, o fato do agente não vem a se adequar direta e imediatamente ao modelo descrito na lei, o que somente acontecerá com o auxílio de outra norma ampliativa, como ocorre no crime omissivo impróprio (art. 13, §2º). Algumas funções são atribuídas ao tipo penal, dentre as quais destacam- se: Função indiciária: o tipo circunscreve e delimita a ação penalmente ilícita. A circunstância de uma ação ser típica indica que, provavelmente, será também antijurídica. A adequação do fato ao tipo faz surgir o indício de que a conduta é antijurídica, e essa presunção somente cederá ante a configuração de uma causa de justificação. Função de garantia: O tipo de injusto é a expressão mais elementar da segurança decorrente do princípio da reserva legal. O tipo cumpre, além de uma função fundamentadora do injusto, uma função limitadora do âmbito penalmente relevante. Função diferenciadora do erro: O autor somente poderá ser punido pela prática de um fato doloso quando conhecer as circunstâncias fáticas que o constituem. O eventual desconhecimento de um ou outro elemento constitutivo do tipo constitui erro de tipo, excludente do dolo, e, por extensão, da própria tipicidade, quando se tratar de erro inevitável. A proteção do bem jurídico como fundamento de um direito penal liberal oferece um critério material extremamente importante e seguro na construção dos tipos penais, porque, assim, será possível distinguir o delito das simples atitudes interiores, de um lado, e, de outro, dos fatos materiais não lesivos de bem algum. No estágio atual da teoria do delito, deve-se partir do ponto de vista de que no tipo somente se admitem aqueles elementos que fundamentam o conteúdo material injusto. O tipo tem a finalidade precípua de identificar o bem jurídico protegido pelo legislador. O bem jurídico pode ser definido como “todo valor da vida humana protegido pelo direito”. E, como o ponto de partida da estrutura do delito é o tipo de injusto, este representa lesão ou perigo de lesão do bem juridicamente protegido. Como o tipo penal abrange todos os elementos que fundamentam o injusto, na descrição da ação típica está implícito um juízo de valor. O tipo penal não se compõe somente de elementos puramente objetivos, mas é integrado, por vezes, de elementos descritivos, normativos e subjetivos: Elementos objetivos-descritivos: podem facilmente ser compreendidos somente com a percepção sensorial. Referem-se a objetos, seres animais, coisas ou atos perceptíveis pelos sentidos. Matar alguém, ofender a integridade física... Elementos normativos: são aqueles para cuja compreensão é insuficiente desenvolver uma atividade meramente cognitiva, devendo-se realizar uma atividade valorativa. São circunstâncias que não se limitam a descrever o natural, mas implicam em um juízo de valor. Indevidamente (art. 151, §1º, II; art. 162; art. 192, I; art. 316, art. 317; art. 319, todos do CP); Sem justa causa: (art. 153; 154; 244; 246; 248, todos do CP); Sem permissão legal: (art. 292 do CP) Sem licença de autoridade competente (art. 166 e art. 253, do CP); Funcionário Público (art. 312; art. 331 e art. 333, do CP); Elemento subjetivo: São dados ou circunstâncias que pertencem ao campo psíquico- espiritual e ao mundo de representação do autor, constituídos pelo elemento subjetivo geral (dolo) e elementos subjetivos do injusto (que serão analisados no decorrer do semestre). A lei não regula as situações de concurso aparente de normas, devendo a solução ser encontrada através de interpretação, pressupondo, porém: a) a unidade de conduta ou de fato; b) pluralidade de normas existentes e; c) relação de hierarquia e dependência entre elas. A interpretação de que se utiliza o direito penal para encontrar soluções no conflito aparente baseia-se em princípios, quais sejam: Princípio da Especialidade, Princípio da Subsidiariedade Princípio da Consunção. Considera-se especial uma norma penal, em relação à outra geral, quando reúne todos os elementos desta, acrescido de mais alguns, denominados de elementos especializantes. A norma especial acrescenta elemento próprio à descrição típica prevista na norma geral. A regulamentação especial tem a finalidade, precisamente, de excluir a lei geral e, por isso, deve precedê-la. Há relação de primariedade e subsidiariedade entre duas normas quando descrevem graus de violação de um mesmo bem jurídico, de forma que a norma subsidiária é afastada pela aplicabilidade da norma principal. Frequentemente se estabelece a punibilidade de determinado comportamento para ampliar ou reforçar a proteção jurídico penal de certo bem jurídico, sancionando-se com graduações menos intensas diferentes níveis de desenvolvimento de uma mesma ação delitiva. A rigor, a figura típica subsidiáriaestá contida na principal. Pode ser tácita ou expressa: Expressa: quando a própria lei condiciona sua aplicação á não aplicação de outra norma mais grave, como o crime do art. 132, em que o legislador de forma explícita diz “se o fato não constituir crime mais grave”. Tácita: quando determinada figura típica funcionar como elemento constitutivo, majorante ou meio prático de execução de outra figura mais grave. Assim, o crime de dano (art. 163), é subsidiário ao de furto com rompimento de obstáculo (art. 155, §4º, I CP). A norma definidora de um crime constitui meio necessário ou fase normal de preparação ou execução de outro crime. Há consunção quando o fato previsto em determinada norma é compreendido em outra, mais abrangente, aplicando-se somente esta. As lesões corporais que determinam a morte são absorvidas pelo crime de homicídio. Há consunção quando o crime-meio é realizado como uma fase ou etapa do crime fim, onde vai esgotar o seu potencial ofensivo, sendo, por isso, a punição somente a conduta final do agente. Um fato típico pode não ser punível quando anterior ou posterior a outro mais grave, ou quando integrar a fase executória de outro crime. Um fato anterior ou posterior que não ofenda novo bem jurídico muitas vezes é absorvido pelo fato principal, não se justificando juridicamente sua punição autônoma. Podem ser lembrados como fato anterior impunível a falsificação de cheque para o delito de estelionato, e de fato posterior a venda que o ladrão faz do produto do furto a terceiro de boa- fé. Deve-se considerar absorvido pela figura principal tudo aquilo que, enquanto ação – anterior ou posterior -, seja concebido como necessário, assim como tudo o que dentro do sentido de uma figura constitua o que normalmente acontece. O ato posterior somente pode ser impune quando com segurança possa ser considerado com tal, isto é, seja um autêntico ato posterior e não uma ação autônoma executada em outra direção, que não se caracteriza somente quando praticado contra outra pessoa, mas pela natureza do fato praticado em relação à capacidade de absorção do fato anterior.
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