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CICLOS BIOGEOQUÍMICOS: A MATÉRIA EM MOVIMENTO A circulação de matéria, no ecossistema, possui uma diferença radical com a de energia. Enquanto que o fluxo de energia é unidirecional; o da matéria é cíclico, graças a ação dos decompositores que a torna disponível para os produtores. Tratam-se de substâncias químicas (nutrientes) indispensáveis à síntese de matéria orgânica e ao funcionamento do organismo. Como existem em quantidade limitada no ambiente, devem, portanto, ser reciclados; o que torna obrigatória a troca recíproca e permanente de elementos químicos entre os seres vivos (biocenose) e o meio ambiente (biótopo). O movimento desses materiais pelo ecossistema é denominado ciclo biogeoquímico porque envolve compartimentos - que armazenam os materiais e o transferem para outros - de natureza biológica (seres vivos), e geológica (solo, atmosfera e mares), por onde passam substâncias químicas. São distinguidos em função do elemento (carbono, nitrogênio, oxigênio) ou substância (água) química que circula. Entre os compartimentos que compõem o ciclo biogeoquímico, há um que armazena a maior quantidade de nutriente, sendo chamado de reservatório; que, via de regra, não é de natureza biológica. Cada ciclo pode ser caracterizado pelo estoque (quantidade do nutriente existente em cada compartimento); pelo tipo de reservatório e pela taxa (velocidade) de movimento do nutriente entre dois compartimentos, chamada taxa de fluxo. Há dois tipos de ciclos biogeoquímicos: sedimentar e gasoso. O sedimentar ou local, no qual o reservatório é a crosta terrestre e que ocorre dentro dos limites de um ecossistema, tendo âmbito local, como ocorre com o enxofre e o cálcio. O ciclo gasoso ou global tem como reservatório a atmosfera ou os mares e seu âmbito é amplo, envolvendo todo o planeta. Tal é o caso da água, carbono, nitrogênio e oxigênio. O conhecimento da estrutura e dinâmica dos ciclos biogeoquímicos é de fundamental importância porque as atividades humanas introduzem nos ecossistemas, várias substâncias novas e com potencial efeito tóxico, que estabelecem padrões de ciclagem biogeoquímica, causando danos por onde passa. Outra conseqüência negativa da ação humana pode ser o bloqueio ou alteração dos ciclos biogeoquímicos naturais, tornando-os acíclicos. Com isso, há uma perda de recursos naturais deixando pobre os ecossistemas, ou mesmo, degenerando-os. A recuperação de ciclos biogeoquímicos em processo de degeneração, que exige transformar processos acíclicos em cíclicos, é aspecto prático de capital importância na Ecologia moderna. CICLO DA ÁGUA A água é o constituinte orgânico mais abundante nos seres vivos e, por isso, o mais essencial para a manutenção da vida. A própria biomassa dos ecossistemas é proporcional ao índice pluviométrico. Há muito mais água associada aos minerais das camadas geológicas mais profundas - e, portanto, indispensáveis aos seres vivos - do que no ciclo da água (ou ciclo hidrológico). Desta, 97% está no reservatório (os oceanos). O reservatório de água doce são as geleiras, que possuem 77% dela. O ciclo da água consiste na evaporação, formação de nuvens e precipitação sob a forma líquida (chuva, orvalho, nevoeiro) ou sólida (neve, granizo). A presença da vegetação atua mantendo a umidade atmosférica, regulando as chuvas e protegendo o solo da erosão. Já nas cidades e áreas desmatadas ocorre o fenômeno inverso. Além disso, estando o solo impermeabilizado (pela cobertura de asfaltos e construções), a água da chuva é rapidamente escoada e perdida para os rios. As atividades humanas são, agora, capazes de causar impactos significativos sobre o ciclo da água. O principal deles é a retirada da água dos rios e lagos para consumo humano - que seguiria para os oceanos. Estima-se que para o fim do século XX, 75% dessa água seja retirada, nos EUA. A conseqüência imediata disso seria uma maior taxa de evaporação continental e, em decorrência, um aumento sensível nas chuvas sobre áreas continentais. Acidente nuclear de Chernobyl e chuva radiativa 25 de abril de 1986. Data prevista para o inicio de trabalhos rotineiros de manutenção na unidade 4 da usina nuclear de Chernobyl próximo a Kiev, no sudoeste da antiga União Soviética. Houve, no entanto, uma pequena mudança no cronograma original, planejada com a antecedência de praxe nestes casos. Antes do desligamento da unidade, o engenheiro eletricista - que não dominava profundamente as peculiaridades deste tipo de reator - no comando da operação ordenou a execução de uma experiência, destinada a testar a melhor forma de reagir a uma queda na alimentação elétrica dos sistemas de controle e manutenção. A realização da experiência exigiu o desligamento do sistema de resfriamento de emergência e o uso de controles manuais, no lugar dos mais seguros mecanismos automáticos. O engenheiro responsável sentia-se seguro de si. Então, uma impressionante sucessão de equívocos se deu, sequer detidos diante dos disparos dos alarmes, ignorados pelo confiante engenheiro. O procedimento do teste continuou até a madrugada do dia seguinte. À 1:23 horas a potência do reator começou a subir lentamente, além do previsto. Foi dada a ordem de desligá-lo, introduzindo todas as barras de controle. Mas elas ficaram bloqueadas no meio do caminho pela enorme pressão de vapor que percorria os tubos de circulação. Ouviu-se um estrondo não muito forte. O operador desligou os motores, movendo as barras na esperança de que caíssem pela força da gravidade. Mas isso não ocorreu; já haveria danos irreparáveis no núcleo do reator. À 1:24 horas ocorreram duas explosões em seqüência, espalhando no ar centelhas e pedaços de material incandescente. Peças foram lançadas até o telhado e a sala de operações. Iniciaram-se vários incêndios. A tampa de cimento do reator, de 700 toneladas, foi violentamente levantada e jogada fora. Com a força da explosão, a máquina de carga de combustível caiu sobre o reator, aumentando a destruição. O aquecimento excessivo da água do reator e reações químicas com o bloco de grafite produziram uma nuvem de vapor radioativo (com partículas de iodo, criptônio, xenônio, terúlio e césio) que escapou para a atmosfera. Até o final do dia, já haviam dois mortos e 132 hospitalizados, dos quais 29 faleceram dias depois. A nuvem de material radioativo atingiu logo uma altura de 1200 metros e seguiu em direção a Europa Central e Escandinávia. Dez dias depois já havia alcançado 12.000 metros de altura e se espalhando, também, pela Ásia. Esse vapor radioativo passou a integrar o ciclo hidrológico e desceu à terra por meio de precipitação, formando a chuva radiativa. Quando os produtores absorvem a água radiativa acumulam a radiação e passam-na para outros níveis tróficos, sendo máxima no último consumidor da cadeia alimentar, geralmente o ser humano. Uma das unidades de medidas usada para quantificar a dose recebida de radiação é o rad, correspondente a absorção de energia na ordem de 100 ergs por grama de tecido corporal. Efeitos de uma exposição aguda, alta dose em pouco tempo. Dose (rads) EFEITO CLÍNICO < 100 Redução no número de leucócitos 100 - 470 Hemorragias pelo nariz, náuseas, febre 470 - 1200 Morte da metade das vítimas em uma semana 1200 - 1400 Morte de todas as vítimas em uma semana 1400 - 2500 Morte a partir do 3º dia com lesões no sistema nervoso central Várias pessoas que estavam na usina no momento da explosão e bombeiros que acudiram o local para apagar os incêndios ficaram expostos a doses de 1200 a 1600 rads, vindo depois a falecer, como heróis nacionais. Num raio de dez quilômetros da usina, a radiaçãopermaneceu no valor de 870 rads durante algumas semanas. Depois do acidente, muitas pessoas na União Soviética apresentaram hipotiroidismo (queda na produção de hormônio da glândula tiróide) e câncer, principalmente na tiróide, órgão que acumula o iodo radioativo. As populações da quase totalidade dos países europeus não devem ter recebido doses de radiação significativamente maiores do que aquelas a que estão submetidas as populações brasileiras de nossas áreas de alta radiatividade natural como Araxá, Poços de Caldas, Guarapari e Morro do Ferro (MG). O mais grave acidente nuclear ocorrido no Brasil não teve as dimensões de Chernobyl. Tratou-se mais de uma tragédia familiar que serviu de lição a todos e de advertência às autoridades que precisam ser mais rigorosas no controle de material radiativo. ` Num ferro-velho de Goiânia, alguns sucateiros abriram uma velha e desativada bomba de Césio, retirada das ruínas do Instituto Goiano de Radioterapia. Sua cápsula possuía 19 gramas de cloreto de césio. Ao ser arrombada, o brilho suave e semelhante a purpurina fascinou as vítimas, principalmente as crianças que chegaram a passar pelo corpo para que brilhasse no escuro. Depois da festa, a tragédia. Dezenas de pessoas manifestaram os efeitos da radiação do césio-137: ulcerações, necroses, queimaduras na pele e perdas de dedos. Além de vários casos de invalidez, houveram muitos mortos. Este infeliz episódio deve fazer as autoridades responsáveis pensarem em como estocar o "lixo atômico" - gerado em laboratórios, clínicas radioterápicas e usinas nucleares -, de modo a não permitir o escape de radiação ou o seu manejo acidental e inadvertido. CICLO DO CARBONO O carbono é um elemento fundamental na formação de compostos orgânicos, como proteínas, carboidratos e lipídeos que compõem 30% do corpo humano. Na Terra, uma grande quantidade de carbono está armazenada nas rochas sedimentares, na forma de carbonato de cálcio e magnésio ou de combustível fóssil (petróleo e carvão). A atividade industrial humana, crescente desde o século XVIII, tem introduzido carbono destas fontes no ciclo, o que não ocorre naturalmente. Um aspecto importante dessa ação poluidora é a de que a queima de combustíveis fósseis e de matéria orgânica produz o gás monóxido de carbono (CO). Ele é extremamente perigoso pois além de ser dificilmente perceptível - é inodoro e incolor -, reage com a hemoglobina do sangue formando um composto estável. Deste modo, a hemoglobina não consegue mais transportar oxigênio e a vítima pode morrer lentamente, asfixiada. Entre os compartimentos do ciclo do carbono, são os oceanos que estocam em maiores quantidades; uma pequena parte na forma de gás carbônico dissolvido na água e, a maior parcela, na forma de íons carbonato e bicarbonato. Mas é na atmosfera, como gás carbônico, que o carbono se apresenta disponível para ser utilizado pelos vegetais, na fotossíntese, e assim transformar-se em alimento para o resto da cadeia alimentar. Ele retorna para a atmosfera pelos processos de respiração, bem como pela combustão de matéria orgânica. As florestas são as grandes fixadoras terrestres do carbono existente na atmosfera. Somente as florestas tropicais contêm cerca de 350 bilhões de toneladas de carbono, quase a metade do que possui a atmosfera, sendo que cada hectare retira da atmosfera, em média, 9 quilos de carbono por ano. No ambiente marinho o papel das florestas é desempenhado pelo fitoplâncton que, ademais, é responsável pelo processo conhecido como bomba biológica, pelo qual uma imensa quantidade de CO2 (cerca de 15% do carbono assimilado pelo fitoplâncton) é armazenada no fundo dos oceanos, já que a temperatura mais baixa e a densidade maior da água profunda impedem que se misture com as águas mais quentes das camadas superiores. Efeito estufa e as queimadas A partir do século XVIII, com o advento da Revolução Industrial, o homem introduziu um novo caminho no ciclo de carbono. Trata-se de sua introdução na atmosfera, pela queima de combustíveis fósseis, para obtenção de energia. Isso não tem sido compensado completamente por um aumento na taxa de retirada de CO 2 (gás carbônico) da atmosfera pela combustão de petróleo e carvão, lá permaneceram. Durante a década de 80 a taxa de emissão de carbono, pela atividade industrial, tem sido de, aproximadamente 6 bilhões de toneladas/ano. Há vários anos especula-se sobre os efeitos desse aumento de estoque de carbono na atmosfera. Em agosto de 1979, o cientista e escritor Isaac Asimov escreveu um artigo - pioneiro - comentando informações recentes sobre a atmosfera do planeta Vênus, com 95% de CO 2 e muito quente, e fazia uma advertência de que a poluição do ar estivesse provocando o aumento gradativo de temperatura terrestre, num processo semelhante ao que teria ocorrido, em condições naturais, em Vênus. Pela primeira vez, usou-se a expressão efeito estufa para definir o fenômeno. O efeito estufa é a reprodução, em escala planetária, do fenômeno de aquecimento que ocorre quando se deixa um carro fechado sob o Sol. A luz atravessa os vidros fechados, aquece o interior do veículo e o calor não consegue escapar, porque os vidros retêm os raios infravermelhos. Disso resulta uma enorme elevação de temperatura. Na atmosfera terrestre, o gás carbônico, o CFC, o óxido de nitrogênio (N 2 O) e o metano (CH 4 ) cumprem o papel do vidro do automóvel. Assim, uma parte do calor retido volta a superfície e outra permanece na atmosfera, desregulando a balança térmica planetária. A concentração de gases causadores do efeito estufa tem aumentado nos últimos anos e tendem a continuar no mesmo ritmo. Esse crescimento será menor (linha tracejada) se severas medidas forem tomadas. As conseqüências do efeito estufa tem sido motivo de debate - às vezes extremamente apaixonado e passional - entre cientistas e especialistas. Alguns garantem - os "catastróficos" - que o aumento da temperatura média, em apenas 2 o C, seria suficiente para provocar o derretimento das geleiras. Isso provocaria uma elevação no nível do mar de até dois metros, inundando vastas áreas, além de grandes transtornos climáticos. Por outro lado, os dados sobre elevação da temperatura terrestre são escassos e dúbios, já que foram tomados em poucos pontos do mundo - principalmente nas cidades, que são "ilhas de calor" - e por um período curto (nos últimos 120 anos). Mas há astrônomos que atribuem o aumento de 0,5 o C, nos últimos cem anos, a mudanças na atividade solar (aumento no número de manchas solares). Medidas sobre o nível do mar são contraditórias. Para alguns cientistas subiu 4 mm/ano entre 1920 e 1970; para outros abaixou, com o acúmulo de gelo na Groelândia. Uma coisa é certa; houve um aumento significativo, no último século, da concentração atmosférica de gases causadores do efeito estufa. Entretanto, isto não é um evento novo na história terrestre. Em eras geológicas remotas - como no Carbonífero (entre 255 e 50 milhões de anos atrás) - a atmosfera foi mais rica em gás carbônico do que atualmente, o que permitiu a existência de uma flora muito mais rica e abundante; bem como a formação de grandes depósitos de carbono fóssil (petróleo e carvão). A redução progressiva desse gás carbônico, pela própria atividade fotossintética, teria motivado o desaparecimento daqueles ecossistemas primitivos, dominados por samambaias gigantes. Durante a década de 80, a fronteira agrícola brasileira - praticamente saturada na Região Sudeste e conquistada a Região Centro-Oeste - avançam sobre a Amazônia, principalmente na Rondônia e Pará. Nestes estados instalou-se a pecuáriade corte; uma opção mais fácil e rendosa para se ocupar da terra, comprada a baixo preço. Conseqüentemente, os desmatamentos e as queimadas (método primitivo e barato para a retirada rápida da floresta) começaram a se espalhar pela Amazônia. Em 29 de agosto de 1988, um editorial do jornal Norte-americano The New York Times acusou as queimadas brasileiras (descoberto pelo satélite NOAA devido ao seu grande número no inverno deste ano) de serem um dos principais responsáveis do efeito estufa, contribuindo com 10% do total de gás carbônico lançado na atmosfera. Estava aberta a temporada de caça aos poluidores do Terceiro Mundo, na qual jornais e entidades de todo o mundo nos culpavam pelo efeito estufa. Sendo resultado de uma herança cultural, a queimada é usada tanto pelo pequeno agricultor com pelo latifundiário. Com isso produz-se muito gás carbônico, agravando o efeito estufa, e destrói-se florestas tropicais. A verdade é que esqueciam-se dos verdadeiros e reais responsáveis por isso: as nações industrializadas. Com a queima de combustíveis fósseis para geração de energia, movimento de veículos e aquecimento doméstico produzem muito mais gás carbônico do que as queimadas, estimado em 200 milhões de toneladas por ano, apenas 3% do total. Somente o gás carbônico aumentou em 9%. Em termos de área destruída, a taxa média de desmatamento anual na Amazônia, entre 1978 e 1989, foi de 21.800 Km 2 . Até o inicio da década de 90, cerca de 8% da Amazônia legal havia sido desmatada, o que supõe uma área de 394.000 Km 2 , o equivalente aos Estados de São Paulo e Santa Catarina juntos. Entretanto, serve como um pequeno sina de esperança a diminuição no ritmo de desmatamento, observado nos últimos anos. No período de 1978 a 1979 foram devastados 21.135 km 2 /ano; entre 1987 e 89 foi 17.871 km 2 /ano e, finalmente, para o biênio 1989-90 reduziu-se a 13.818 km 2 /ano. Ainda que as queimadas amazônicas não contribuam muito para o efeito estufa, elas trazem conseqüências graves. A primeira delas é a perda de estabilidade no clima do Hemisfério Norte, pois 80 a 90% da energia solar que incide na Amazônia é utilizada para aquecimento do ar e produção de vapor d'água - graças a transpiração da imensa biomassa vegetal - que é transportado rumo ao norte, garantindo o aquecimento e as chuvas na América do Norte. Outro efeito negativo é a destruição do húmus, única fonte de nutrientes para as árvores. Sem ele o solo amazônico logo fica pobre e sem árvores, facilmente é arrastado pelas chuvas. Finalmente, a queima das florestas acelera o empobrecimento do patrimônio genético amazônico. Por estas razões as queimadas devem ser evitadas. Não só isso, convêm promover o reflorestamento das áreas destruídas como uma forma de absorver parte do excesso de gás carbônico, existente atualmente na atmosfera; o qual seria transformado em árvores reduzindo, assim, o perigo de um possível efeito estufa. CICLO DE OXIGÊNIO O oxigênio é importante para os seres vivos nos processos energéticos, uma vez que atua na respiração como comburente. Seu ciclo é estreitamente ligado ao do carbono por se combinar facilmente com esse elemento e por ter surgido na Terra graças à fotossíntese, que utiliza CO 2 como matéria prima. A principal evidência da origem biológica do O 2 é a ausência de minerais oxidados (óxidos de ferro) nas rochas sedimentares primitivas. O oxigênio atmosférico (reservatório utilizável pelos seres vivos) reage com os minerais do solo, oxidando-os; desta forma, fica indisponível aos seres vivos. A grande fonte de O 2 atual não são os vegetais terrestres, mas as algas marinhas que produzem de 80 a 90% do oxigênio atmosférico. Por ser muito reativo, o oxigênio encontra-se combinado com muitos elementos químicos. Além da oxidação, já comentada, ele reage consigo mesmo - na alta atmosfera, sob a ação dos raios ultravioleta - produzindo o ozônio (O 3 ). Com o processo de combustão de matéria orgânica e vulcanismo, ele combina-se com o carbono, formando CO 2 . A Camada de Ozônio A camada de ozônio (O 3 ) é uma das camadas da atmosfera terrestre, conhecida como estratosfera; que está entre 20 e 50 Km de altitude. A maior concentração de O 3 dá-se entre 20 e 25 Km de altitude. Essa camada surgiu há cerca de 400 milhões de anos, quando começou a se acumular na atmosfera uma quantidade suficiente de oxigênio (O2). Este reagia com oxigênio livre (O), estimulado e energizado pelas radiações ultravioleta (UV), logo abaixo da estratosfera, formando o O 3 . O seu aparecimento permitiu a evolução dos vertebrados terrestres pois ele absorve radiações UV, na alta atmosfera (e rompe suas ligações formando oxigênio livre). Se estas radiações chegassem com grande intensidade no solo, provocariam feridas na pele, câncer e mutações degenerativas; o que prejudicaria muito e evolução de novos seres vivos, além de tornar inviável a vida na Terra. O ozônio está, constantemente, sendo consumido e produzido - num permanente ciclo, associado ao ciclo de oxigênio -, num processo natural e com equilíbrio delicado. A atividade humana pode alterar esse equilíbrio. É o que parece estar ocorrendo ultimamente e foi descoberto através de fotos obtidas pelo satélite norte-americano Nimbus-7, em outubro de 1987. O buraco na camada de ozônio está sobre a Antártida (mancha negra) e variou de tamanho nos últimos anos. Em 1986 chegou a ter o tamanho dos EUA e a altura do Monte Everest. Poluentes, como o cloro, aumentam a velocidade de destruição de O 3 , alterando o equilíbrio do ciclo de ozônio. Átomos de cloro "roubam" átomos de oxigênio, liberando O 2 e monóxido de cloro. Este último reage com o cloro formando O 2 e cloro. Deste modo, o ciclo de destruição de O 3 continua indefinidamente. Anualmente, de dezembro a março, a camada de ozônio sofre pequenas reduções, provavelmente relacionadas com a atividade solar e com as mudanças climáticas. Mas a partir de 1987, a perda de O3 foi mais drástica, principalmente na Antártida. A redução na camada de ozônio permite a passagem de uma maior quantidade de raios UV. Isso pode provocar problemas no sistema imunológico humano (facilitando as doenças e o ataque de parasitas); deficiências genéticas e câncer de pele. Estima-se que a perda de 1% na camada de ozônio, levaria a 70.000 novos casos desse tipo de câncer. Culturas agrícolas, como ervilha, feijão e soja teriam a produtividade reduzida. Para evitar esses efeitos maléficos seria necessário evitar que o cloro chegasse à alta atmosfera, eliminando sua fonte. A principal fonte de cloro já foi identificada. É um gás chamado CFC (clorofluorcarbono), inventado em 1930 e usado como fluido refrigerante em geladeiras e em aerossóis, por não ser tóxico ao homem, nem inflamável e ser de baixo custo de produção. Entretanto, existe uma desvantagem muito séria. É muito estável; leva 139 anos para que o volume libertado diminua pela metade. Assim, ele tem tempo para subir lentamente até a estratosfera, onde começa o processo de destruição do O3 pela liberação de cloro. Além do mais, o CFC é um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, contribuindo em 17% para isso. O que foi feito para contornar este problema? Em setembro de 1987, por iniciativa do Programa das Nações Unidas para Proteção do Meio Ambiente, um grupo de 31 países reunidos no Canadá assinou o "Protocolo de Montreal", que determinava a redução pela metade na produção mundial de CFC até o ano 2000. Em junho de 1989 - quando o Brasil aderiu oficialmente ao "Protocolo de Montreal" -, todos os seus 81 integrantes decidiram interromper completamentea produção de CFC no final do século. No entanto, isso não parece ser o suficiente já que o "tempo de vida" do CFC na atmosfera é longo e quando o século terminar já poderá ser muito tarde, pelo acúmulo de muito CFC. Dai que entidades ambientalistas exijam a suspensão imediata da produção dessa substância. Além disso, há outras substâncias sintéticas - como tetracloro-carbono, clorofórmio metílico e dióxido de nitrogênio - que também destroem a camada de ozônio e não foi decidida a parada de sua produção. A indústria química multinacional DuPont - responsável pelo lançamento do CFC no mercado, em 1931 - apresentou, em janeiro de 1991 um substituto para ele: o Suva. Forma uma linha de produtos, combinação de vários gases, que exercem os mesmos papeis que o gás freon (nome comercial do CFC produzido pela Do Pont). O seu desenvolvimento exigiu investimentos de US$ 240 milhões e poderá chegar até US$ 1 bilhão no final do século, para implantação de novas indústrias que deverão produzi- lo. Além dessas medidas, de âmbito nacional, cada um pode colaborar para solução do problema evitando usar spray e rejeitando produtos (como hambúrgueres) embalados em espuma sintética, que também são feitos com CFC. Assim, você estará contribuindo a preservar a camada de ozônio e a proteger a sua saúde. CICLO DO NITROGÊNIO O nitrogênio é o elemento químico característico e fundamental dos aminoácidos (que formam as proteínas) e das bases nitrogenadas (que constituem os ácidos nucléicos, DNA e RNA). Sem proteínas e ácidos nucléicos, não há vida. Mesmo os mais simples seres vivos, os vírus, são formados por estas substâncias. Ainda que a atmosfera seja o compartimento que mais armazene nitrogênio, na forma gasosa (N 2 ), este não consegue ser assim assimilado pela grande maioria dos vegetais. As raízes somente conseguem absorver o nitrogênio, na forma iônica de nitrato, quando dissolvido na água. Este é o reservatório - no solo e no oceano - de nitrogênio disponível para os produtores. A atmosfera, sendo um grande depósito de N 2 , pode ser considerada, como uma válvula de segurança do ciclo. Na atmosfera também podem ser encontrados óxidos de nitrogênio (NO e NO 2 ), resultantes da reação do N 2 com O 2 quando aquecidos acima de 1100 o C, como acontece nos motores de veículos. O NO 2 (dióxido de nitrogênio) além de contribuir para a destruição da camada de ozônio, causa irritação nos olhos e dificuldades para a respiração no ser humano. Há dois processos biológicos pelos quais o nitrogênio torna-se disponível aos vegetais. O primeiro é a fixação biológica direta, realizada por algas cianofíceas do gênero Anabaena e Nostoc (no ambiente aquático); por bactérias de vida livre no solo - como a Azobacter e a Clostridium -; bactéria-púrpura fotossintetizante do gênero Rhodospirillum; e por bactérias simbiontes (Rhizobium) que vivem em nódulos nas raízes de leguminosas. Esses organismos produzem amônia, a partir do nitrogênio atmosférico (N 2 ). Estando já dentro do corpo do vegetal, a amônia é diretamente usada nos processos bioquímicos celulares. O outro processo é a nitrificação, realizado por bactérias quimiossintetizantes do solo, pelo qual a amônia é transformada em nitratos em duas etapas: 1 - Nitrosação: realizada por bactérias Nitrosomonas que produzem nitritos a partir da amônia. Como os nitritos são muito tóxicos para as plantas, ele não pode se acumular no solo e para isso é importante que seja eficiente a segunda etapa. 2 - Nitratação: realizada por bactérias Nitrobacter que transformam nitritos em nitratos. Este é então absorvido pelas raízes das plantas e depois transformado em amônia, para poder ser usado nas células. As fontes de amônia, importante para esse processo, são: os adubos nitrogenados, relâmpagos (o aquecimento do ar produz a reação do N 2 com o H 2 ), excreção de animais e a decomposição da matéria orgânica. Parte do nitrato do solo e do mar é "perdida" de volta para a atmosfera, transformada em N 2 , devido a ação de bactérias desnitrificantes (como algumas Pseudomonas) que fecham o ciclo do nitrogênio. Essas bactérias realizam a reação de desnitrificação como uma forma de respiração anaeróbia; isto é, sem oxigênio. São mais encontradas, principalmente, em ambientes pobres em oxigênio, como os pântanos. Há uma parcela de nitrogênio que sai do ciclo quando sais de nitrato depositam- se no fundo dos mares, formando novas camadas de sedimentos. Essa perda é compensada pelas erupções vulcânicas que liberam N 2 e amônia. Nitrogênio e agricultura O nitrogênio é um nutriente escasso na maioria dos solos agrícolas, sendo cara a sua adição por adubação química corretiva, além de que a indústria que a produz é uma séria fonte de poluição. Uma alternativa é o uso de adubos orgânicos, formados pela decomposição de seres vivos ou de seus excrementos. O mais comum é usar o esterco de currais ou de granjas, misturado com palha; também é chamado de composto. Em regiões costeiras, um bom adubo provêm das plantas marinhas apodrecidas. Também são excelentes adubos ossos moídos, resíduos de carne e peixe, guano (excremento de aves marinhas e de morcegos), sangue seco, bagaço de algodão e cana-de-açúcar. Nem todos esses adubos fornecem nitrogênio na quantidade suficiente, ainda que deixem o solo mais fofo e retenham muita água. Não se pode esquecer que os produtos agrícolas - freqüentemente ricos em sais minerais - são retirados da plantação e levados para outros locais (geralmente cidades), o que representa uma perda de nitrogênio. Como se sabe, o grande reservatório desse elemento é a atmosfera. Mas as plantas não conseguem assimilar diretamente o gás N 2 . A fixação biológica direta, realizada por algumas bactérias do solo não é um processo muito produtivo, gerando apenas de 4 a 6 quilos de nitrogênio/ha/ano; o que não satisfaz a necessidade de muitos vegetais. Ao longo da evolução, entretanto, uma família de plantas superiores especializou-se em ocupar solos carentes de nitrogênio, onde a competição era menor. As espécies dessa família - a das leguminosas - conseguiram isso graças à associação simbiótica com bactérias do gênero Rhizobium. Elas possuem uma produtividade bastante superior, fixando 350 Kg N/ha/ano. Esse fato fundamenta a prática - usada já há dois séculos - de cultivar no campo algum tipo de leguminosa (ervilha, feijão, trevo, soja, tremoço, alfafa, amendoim). Crescendo, ela fixa muito nitrogênio em seu corpo. Depois de feita a colheita, os restos são cortados e enterrados no solo. Este processo é chamado adubação verde. Um recente avanço na agricultura deve-se a descoberta de uma nova bactéria que vive no corpo de certos moluscos marinhos que se alimentam de madeira; rica em celulose e pobre em nitrogênio. Essas bactérias realizam no molusco o mesmo papel que a Rhizobium na leguminosa, com uma vantagem adicional: conseguem usar celulose (material abundante na madeira, no algodão e no capim seco) como fonte de carbono. Deste modo, elas podem enriquecer o solo com nitrogênio, dispensando a plantação de leguminosas, contanto que se acrescente capim seco. O desenvolvimento tecnológico dessa descoberta poderá, num futuro próximo, contribuir para uma agricultura mais produtiva e de menor custo. CICLO DO CÁLCIO O cálcio é um nutriente muito importante, mesmo em pequenas concentrações, para plantas e animais. Nos vegetais executa um papel proeminente na manutenção do equilíbrio osmótico das células, enrijece as paredes celulares e neutraliza os ácidos orgânicos prejudiciais as suas células, precipitando-os na forma de cristais.Para os animais, é um dos principais constituintes de esqueletos e outras estruturas rígidas de proteção e sustentação (conchas em moluscos, carapaças de crustáceos). Além de participar na transmissão de impulsos nervosos, nas atividades musculares e no mecanismo da coagulação sanguínea. A principal fonte de cálcio são as rochas que o tem na forma mineralizada. Pela erosão, pode tornar-se dissolvido na água do solo, em forma iônica, e assim ser absorvido pelas raízes. Deste modo, o principal reservatório de cálcio disponível aos vegetais terrestres é o solo. Este pode perder o cálcio para a atmosfera, pelos ventos que carregam minúsculas partículas de solo e pela lixiviação; a "lavagem" do solo que as chuvas realizam, arrastando os nutrientes para os rios. Tanto os oceanos como os continentes recebem o cálcio da atmosfera, pelas chuvas, e das rochas que são erodidas. Os oceanos tem uma fonte adicional desse nutriente: os rios. Este ciclo desperta - entre ecólogos e ambientalistas - um particular interesse pois a ele associa-se o estrôncio-90, um material radioativo que entra na atmosfera com as explosões nucleares e com lixo atômico. Como o cálcio, ele incorpora-se nos ossos e leite dos animais. Possui efeito acumulativo, atingindo concentrações maiores nos consumidores do final da cadeia alimentar. Descobriu-se uma forte relação entre contaminação por estrôncio-90 e incidência de câncer nos ossos e leucemia. Um dos poucos estudos detalhados sobre o ciclo de cálcio em ambiente terrestre foi realizado, durante a década de 60, pelos ecólogos Bormman e Likens, numa floresta temperada em New Hampshire (EUA). Suas informações contribuíram muito para o que se sabe hoje sobre o ciclo desse nutriente. Notaram que a perda de cálcio para o ambiente, por meios de vento e da lixiviação, avaliado em 12 Kg/ha/ano, era superior ao ganho a partir da atmosfera e da erosão da rocha (total de 11,7 Kg/ha/ano). Isso significa um balanço de cálcio levemente negativo para esse ecossistema. Eles observaram, também, que a retirada da vegetação fazia com que essas perdas, principalmente através da lixiviação fossem até oito vezes maiores que o normal, acarretando numa acidificação e empobrecimento do solo. Calagem e aproveitamento do cerrado Os cerrados ocupam uma quarta parte do território brasileiro, espalhados principalmente na Região Centro-Oeste e constituem-se, atualmente, numa nova fronteira agrícola. Uma limitação, no entanto, para uso do seu solo reside no fato de serem muito ácidos, ricos em alumínio (que torna os sais minerais indisponíveis para as raízes) e atualmente lixiviados, o que os deixa pobre em fósforo, nitrogênio, enxofre e cálcio. O seu emprego em agricultura intensiva exige, além do emprego de fertilizantes, a neutralização da acidez e do alumínio do solo. Essa correção é feita com a mistura de calcário ao solo. Tal procedimento é denominado calagem. O calcário, obtido a partir do mineral dolomita, é rico em cálcio e magnésio. É importante observar que os seus efeitos benéficos ficam restritos a camada arável ou superficial do solo (primeiros 20 centímetros). Abaixo dessa camada, o solo continua ácido e inóspito ao desenvolvimento das raízes por limitar a absorção de nutrientes e água pelas plantas. Nos períodos de seca prolongada (estiagem), esse problema se agrava pois a água fica represada nessas camadas mais profundas. A incorporação do calcário em profundidades maiores do solo é uma opção possível, mas custosa e de difícil execução. A alternativa mais viável - estudada em algumas culturas - é o uso do gesso, que permite corrigir a deficiência do cálcio e o excesso de alumínio em profundidade, além de ser uma boa fonte de enxofre para as plantas. O gesso não modifica substancialmente a acidez do solo. O que ele faz bem é movimentar a cálcio, o magnésio e o potássio. Por isso, a solução é conjugar - na calagem - a aplicação do gesso com o calcário, em iguais proporções. Essa é uma técnica nova e recomendável. Necessita ser mais amplamente divulgada entre os agricultores para que melhor se aproveite o nosso solo, sem empobrece-lo desmedidamente. CICLO DO ENXOFRE O enxofre é um importante constituinte de alguns aminoácidos, como a cisteína, e portanto, não pode faltar para perfeita produção de proteínas. Em muitos seres vivos, moléculas com átomos desse elemento, atuam como cofator ("estimulador") de reações químicas promovidas por enzimas. Apresenta um ciclo com dois reservatórios: um maior, nos sedimentos da crosta terrestre e outro, menor, na atmosfera. Nos sedimentos, o enxofre permanece armazenado na forma de minerais de sulfato. Com a erosão, fica dissolvido na água do solo e assume a forma iônica de sulfato (SO 4 -- ); sendo assim, facilmente absorvido pelas raízes dos vegetais. Na atmosfera, o enxofre existe combinado com o oxigênio formando, cerca de 75% dele, o SO 2 (dióxido de enxofre). Outra parcela está na forma de anidrido sulfídrico (SO 3 ). O gás sulfídrico (H 2 S) - característico pelo seu cheiro de "ovo podre"- tem vida curta na atmosfera, apenas de algumas horas, sendo logo transformado em SO 2 . Esses óxidos de enxofre (SO 2 e SO 3 ) incorporam-se ao solo com as chuvas, sendo então transformado em íons de sulfato (SO 4 -- ). Podem, também, ser capturados diretamente pelas folhas das plantas, num processo chamado de adsorção, para serem usados na fabricação de aminoácidos. O único retorno natural do enxofre para a atmosfera é através da ação de decompositores que produzem o gás sulfídrico. As sulfobactérias realizam o processo inverso, com uma forma de obtenção de energia para a quimiossíntese. A contribuição das atividades vulcânicas para o acúmulo de enxofre na atmosfera é pouco significativa. Maior tem sido a introdução artificial e humana, por meio da atividade industrial. A queima de combustíveis fósseis que possuem enxofre em sua composição (3% no carvão e 0,05% no petróleo), produz SO 2 e SO 3, aumentando sua concentração na atmosferas das grandes cidades. Essa fonte é responsável por 80% da poluição por enxofre. Ambos são, nessas condições, fortemente irritantes para os olhos e pulmões; além de contribuir para a formação do smog - mistura de fumaça (smoke, no inglês) com neblina (fog) -, altamente tóxico, que surge durante as inversões térmicas. A chuva ácida O vapor d'água, ao se condensar para formar as nuvens, e depois as chuvas, dissolve várias substâncias e gases presentes na atmosfera fazendo uma autêntica "lavagem" do ar. A chuva, ao cair no solo, carregando as substâncias "lavadas" da atmosfera é ligeiramente ácida, com pH chegando até 5,7. A presença cada vez maior de poluentes atmosféricos - resultado do crescimento industrial nos últimos séculos -, tem tornado a água da chuva cada vez mais ácida; o que traz imensos prejuízos para a fauna e a flora. O primeiro registro sobre esse problema data de 1886, observado na Escócia. Seis anos depois, um químico inglês chamou de "chuva ácida" a esse fenômeno. São várias as substâncias responsáveis pela acidez da chuva. A principal é o ácido sulfúrico e também podem ser encontrados ácidos nítrico, nitroso e clorídrico. A primeira etapa da produção de ácido sulfúrico é acelerada pela presença de luz forte e NO2. A chuva ácida (quando possui pH inferior a 4,0) pode afetar, indiretamente, a saúde humana tornando a água de reservatório insalubre. Essa água pode dissolver o cobre dos encanamentos, provocando mais diarréias em crianças. No sul da Noruega foi descoberto que uma maior incidência de chuva ácida era responsável por presença dealtos níveis de alumínio na água potável. Isso parece estar ligado com uma incidência anualmente crescente de mal de Alzheimer; uma doença degenerativa do sistema nervoso que causa demência e paralisia. No solo, a chuva ácida, provoca a sua acidez, dificultando a absorção de nutrientes pela raiz, diminuição no crescimento, perda de folhas ou até mesmo a morte das plantas. Na Floresta Negra da Alemanha, metade das árvores morreram em conseqüência das chuvas ácidas. Mas os organismos mais sensíveis à chuva ácida são os peixes e outros animais aquáticos. Uma pequena redução no pH da água onde vivem, pode causar inúmeras mortes e alterações profundas nos ecossistemas aquáticos. Uma conseqüência também muito grave é a redução na produção pesqueira, com aconteceu em 1987 no Canadá, onde 14 mil lagoas estavam contaminadas. Não só os seres vivos são as vítimas da chuva ácida, mas também as obras de arte e monumentos arquitetônicos. O ácido sulfúrico dissolve tintas, amarelece os papeis dos livros e dissolve as rochas calcárias (como o mármore) usado em construções. Catedrais na Europa, como a de Notre Dame de Rouen (França), que conseguiram sobreviver aos bombardeios e incêndios da Segunda Guerra Mundial estão, agora, com as fachadas escurecidas e suas estátuas ornamentais perdendo detalhes. O que agrava e complica mais ainda o problema é o fato de que este é um tipo de poluição "transcontinental". Geralmente, o afetado não é o próprio causador da poluição, pois os gases que produzem a chuva ácida são transportados a até 2000 km de distância, antes de transformar-se em ácidos. Isso é o que acontece com a Escandinávia (Suécia e Noruega) que recebe a chuva ácida de poluentes vindos da Inglaterra, França e Alemanha. Algo equivalente acontece no Brasil. As termelétricas do Rio Grande do Sul produzem o enxofre que causa chuvas ácidas no Uruguai. E a poluição gerada em Cubatão e na Grande São Paulo aparece nas acidez das chuvas que caem no litoral norte da estado (Ubatuba), apresentando pH de 2,8, surpreendentemente baixo se comparados com as das fontes poluidoras (entre 4,5 e 5,0). Várias medidas - reunidas pela Inglaterra ao editar, em 1956, a "Lei do Ar Puro" - foram tomadas para reduzir a poluição atmosférica e acidez das chuvas. No Hemisfério Norte, onde é difundido o aquecimento doméstico, proíbe-se a queima de carvão natural em grelhas comuns e de resíduos de jardim em fogueiras. Procura-se, também, substituir o carvão por óleo diesel, com menos enxofre. As indústrias devem contribuir construindo chaminés mais altas (uma medida apenas paliativa), para que os ventos espalhem mais e diluam os poluentes e - o mais caro e importante - instalar desulforizadores; sistemas de filtros que retiram 90% do enxofre a ser emitido pela chaminé. A poluição causado por veículos automotores pode ser reduzida pela adoção de gasolina com menor conteúdo de enxofre; pela instalação de conversores catalíticos no escapamento (eles reduzem em 90% a emissão de óxidos de nitrogênio) - já obrigatório nos EUA, Canadá e Japão - pela regulagem do motor ou. finalmente, pela substituição da gasolina pelo álcool.
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